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CO2 MANGUEZAL 1

CO2 MANGUEZALPROJETO

CONHECENDO OS MANGUEZAIS DE MARAGOJIPE, BAHIA

PROJETO CO2 MANGUEZAL

Patrocinio:

Conhecendo os manguezais de Maragojipe, Bahia

Apoio:Realização

Projeto CO2 Manguezal reúne técnicos, professores da UFRB, marisqueiras e pescadores, trabalhando firme pela recuperação das áreas de mangue de Maragojipe e São Francisco do Conde-Bahia.

SUMÁRIO

COORDENAÇÃO GERAL Rosiane Campos

EQUIPE DE TRABALHOAldo Gonzaga SilvaAnderson de Jesus FrançaBruno Barbosa de Jesus FerreiraCarlos André Souza de AndradeCarlos Antônio Santos de OliveiraEmanuel de Souza BarbosaJulião Messias de SouzaNanci Rita Caldas Quadros Ronaclélia Matos de JesusRonilda Prazer dos SantosRosiane CamposRutiléia Barbosa CamposWalter Francisco Ferreira

CONTRIBUIÇÕES Marcos Costa

EQUIPE DA PUBLICAÇÃO

Concepção: Rosiane Campos

Edição de Texto e Revisão: Hilda Fausto

Edição de Arte e Diagramação: Virginia Yoemi Fujiwara

Fotos: Equipe Técnica Carlos Gomes Filmes

Tratamento de Imagem: Marcelo Campos

ESTUDOS TÉCNICOS

Estrutura da comunidade arbórea e estimativa de armazenamento de carbono em área natural e área em processo de recuperação

Alessandra Nasser Caiafa

Camila de Jesus Luz

Bruno Barbosa de Jesus Ferreira

Carlos Antônio Santos de Oliveira

Avaliação microbiológica da água do estuário do São Roque do Paraguaçu, Maragojipe-Bahia

Norma Suely Evangelista-Barreto

Jessica Ferreira Mafra

Virginia Ferreira Marques

Caracterização pesqueira das comunidades sob influência do Projeto CO2 Manguezal

Marcelo Carneiro de Freitas

Alice Borba Baião

José Rodrigo Lírio Mascena

Saulo Pereira Lima Neto

APRESENTAÇÃO 07

O PROJETO Histórico 10 Área de Abrangência 11 Objetivos 11 Resultados 12

CONHECENDO O MANGUE CONHECENDO OS BOSQUES DE MANGUE - Estrutura da comunidade arbórea e estimativa de armazenamento de carbono em áreas natural e em Processo de Recuperação 19 Introdução 19 Objetivo 22 Metodologia 22 Resultados 27 Considerações Finais 31

CONHECENDO A ÁGUA DO MANGUE - Avaliação microbiológica do estuário de São Roque do Paraguaçu 33 Introdução 33 Objetivos 35 Metodologia 35 Resultados 39 Conclusão 40

CONHECENDO A PESCA NO MANGUE - Caracterização pesqueira das comunidades sob influência do Projeto CO2 Manguezal 43 Introdução 43 Objetivos 44 Metodologia 45 Resultados e Discussões 46 Conclusão 50

REFERÊNCIAS 51

DIRETOR GERAL Marcos Costa

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OO que o CO2 – mais conhecido por gás carbônico ou dióxido de carbono – tem a ver com manguezal? Este temido composto químico, que vem contribuindo com o aquecimento global, é fundamental para o processo de fotossíntese das plantas, que captam o CO2 da atmosfera e devolvem o oxigênio. Acontece que estudos já comprovaram que o manguezal tem uma concentração muito maior deste gás do que florestas densas na Amazônia, por exemplo.

Sabendo disso e da importância do manguezal na renovação do ar atmosféri-co, criamos o projeto CO2 Manguezal, que já reflorestou 80.000 metros quadra-dos de manguezal em Maragojipe e São Francisco do Conde e desenvolveu uma série de outras atividades educacionais e socioambientais.

É gratificante chegar ao fim de dois anos de projeto e ter a sensação de dever cumprido. Superamos desafios e metas. O NEA – Núcleo de Educação Ambiental – capacitou mais de 500 pescadores e marisqueiras e realizou aulas de educação ambien-tal para mais de 3.000 alunos do Ensino Fundamental 1, contribuindo com a forma-ção e atualização de professores e estudantes das redes municipal e estadual de ensino.

Com as atividades desenvolvidas pelo NEA junto aos pescadores e maris-queiras, nos envolvemos e dialogamos com as comunidades: Comissão, Baixinha, Capanema, Baixão do Guaí, Ponta de Souza, Avenida Sacramento, Atrás da Ilha, Largo São José e Porto do Açougue, no município de Maragojipe/Bahia; Caípe, Baixa Fria e Porto de Brotas, no município de São Francisco do Conde/Bahia. Dessa forma, pudemos entender e conhecer um pouco mais as necessidades e potencialidades destas comunidades, oportunizando o aprimoramento de futuras ações e projetos a serem desenvolvidos pela Fundação Vovó do Mangue.

APRESENTAÇÃO

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Perceber a curiosidade e espanto dos estudantes e visitantes de outros municípios que não possuem área de manguezal evidencia, também, a importância deste projeto para a transmissão de conhecimento. Ao longo desses dois anos, recebemos muitos visitantes que, além de conhecerem o trabalho, tiveram a oportunidade de saborear uma deliciosa mariscada preparada pelas marisqueiras do bairro da Comissão – onde está situada a sede do CO2 Manguezal –, como a filha de Nanã Cleide que, com sua simpatia e conhecimento, acolhe a todos nas dependências da sede do projeto.

Muita energia e compromisso foram os ingredientes utilizados pela equipe do Núcleo de Apoio Técnico, responsável pela condução das ações de reflorestamento, que incluem limpeza da área, plantio e monitoramento. E por falar em energia, esta turma contou com o reforço dos pescadores e marisqueiras, que não mediram esforços para a restauração deste importante ecossistema na vida dos tradicionais extrativistas.

Com as ações de restauração das áreas degradadas de manguezal na Baía do Iguape e São Francisco do Conde, executadas pelos pescadores e marisqueiras sob a coordenação de técnicos e pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), possibilitamos a troca de conhecimentos tradicionais e cientí-ficos, contribuindo para o processo de sustentabilidade, objetivo maior do CO2 Manguezal. O projeto gerou renda e oportunidades de aperfeiçoamento para ex-trativistas e técnicos da região, além do conhecimento das áreas recuperadas pelo projeto, através dos estudos que compõem este livreto, que servirá de norteador para as próximas ações do CO2 Manguezal.

Finalizamos com os nossos sinceros agradecimentos à toda equipe de trabalho que fez o projeto acontecer em cada ação de educação ambiental, recuperação de áreas degradadas e monitoramento.

Nosso agradecimento especial à Petrobras, que patrocina o Projeto CO2 Man-guezal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e aos nossos parceiros: Associação de Pescadores e Marisqueiras da Comissão e Baixinha, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Prefeitura de São Francisco do Conde/Bahia.

Rosiane Campos Coordenadora Geral do Projeto CO2 Manguezal

Com as ações de restauração das

áreas degradadas de manguezal na Baía do Iguape e São Francisco

do Conde, possibilitamos a troca de conhecimentos

tradicionais e científicos, contribuindo

para o processo de sustentabilidade,

objetivo maior do CO2 Manguezal

O PROJETO

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OO projeto CO2 Manguezal é reali-zado através do Programa Petrobras So-cioambiental e tem como principal meta recuperar áreas degradadas de mangue na Baía de Todos os Santos (BTS), estado da Bahia – municípios de Maragojipe e São Francisco do Conde. Os dois municípios sofrem ou já sofreram degradação em seus manguezais, principalmente pela expan-são urbana e ocupação desordenada do solo, além da instalação de parques indus-triais na região.

Em paralelo, aplica-se um amplo tra-balho de promoção da educação ambiental, envolvendo a realização de cursos, oficinas, palestras e distribuição de material educa-tivo, tendo como público alvo professores, lideranças comunitárias e estudantes. É aplicado também módulo, com conteúdo socioambiental, visando à sensibilização das comunidades tradicionais localizadas nas áreas onde o projeto atua, e promovi-dos cursos de capacitação para moradores das comunidades localizadas próximas à sua sede, com aplicação de técnicas para a produção de mudas de mangue e reflores-tamento de áreas degradadas.

Numa parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o projeto desenvolve ações de pesquisa,

visando obter o completo conhecimento das atuais condições das áreas que estão sendo recuperadas, através da realização de estudos e análises aprofundados do seu perfil estrutural (aspectos físicos, fauna, flora, captura de carbono e principais ins-trumentos impactantes).

O CO2 Manguezal possui parceria com o ICMBio (unidade de Maragojipe), Conselhos Gestores da APA Baía de Todos os Santos e da Reserva Extrativista Mari-nha Baía do Iguape, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Prefei-tura de São Francisco do Conde/Bahia e Associação de Pescadores e Marisqueiras dos bairros da Comissão e Baixinha.

O projeto é realizado através da Fun-dação Vovó do Mangue, que possui mais de 18 anos de atuação nas áreas de meio ambiente, desenvolvimento social, cultu-ra e educação, com reconhecimento na-cional. 

HISTÓRICO

OBJETIVOS Geral

Produção de mudas de mangue das três espécies mais encontradas na região da Baía de Todos os Santos (BTS), mangue branco (Laguncularia racemosa), mangue preto (Avicennia schaueriana) e mangue vermelho (Rhizophora mangle), no intuito de recuperar áreas degradadas dentro da APA Baía de Todos os Santos, implementando, como ação complementar, atividades de educação ambiental voltadas para a conservação de recursos naturais.

Mangue branco (Laguncularia racemosa),

META

Produção de 65.000 mudas de mangue

Recuperação de 8 hectares de manguezal

Capacitação de 10 pessoas da comunidade

Formação de 200 agentes multiplicadores ambientais

Realização de atividades de educação ambiental para 2.000 crianças do Ensino Fundamental I

Realização de estudo de áreas a serem recuperadas

Capacitação de 500 pescadores e marisqueiras com trabalhos de orientação socioambiental

Específicos

Mangue preto (Avicennia schaueriana) Mangue vermelho (Rhizophora mangle)

EÁREA DE ABRANGÊNCIA

Estado da Bahia, municípios de Maragojipe e São Francisco do Conde.

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SzProdução de 69.000 mudas de mangue das três espécies mais encontradas na região da BTS - Baía de Todos os Santos: Rhizophora mangle (mangue vermelho), Avi-cennia schaueriana (mangue preto ou siriúba) e Laguncularia racemosa (mangue branco);

zRecuperação de 8,5 hectares de áreas degradadas, dentro da APA Baía de Todos os Santos, sendo 4,5 ha no município de Maragojipe e 4,0 ha no município de São Francisco do Conde;

z10 pescadores e marisqueiras capacitados em Maragojipe e 8 em São Francisco do Conde em técnicas de produção de mudas de mangue em viveiro e reflorestamento/plantio em áreas degradadas, como alternativa econômica em época de defeso/desova, para trabalharem na produção das mudas e reflorestamento;

z308 agentes multiplicadores ambientais formados, com curso in-tensivo de educação ambiental, dentre professores, gestores e monitores ambien-tais, lideranças comunitárias e estudantes;

z3.044 estudantes do Ensino Fundamental 1 (escolas municipais), capacitados em atividades de educação ambiental, através de ações educacionais promovidas pela Jornada de Educação Ambiental;

zEstudo científico do ecossistema das áreas a serem recuperadas no município de Maragojipe;

zCapacitação de 524 pescadores e marisqueiras, com trabalhos de orientação socioambiental, sendo 410 em Maragojipe e 114 em São Francisco do Conde;

zRealização de amplo trabalho de promoção das atividades do projeto na sua região de atuação, fortalecendo um canal direto de comunicação entre a Fundação Vovó do Mangue e a comunidade beneficiada;

zIntervenção na estrutura física e nas instalações/equipamentos do projeto, visando a dinamização do espaço na produção e transmissão do conhecimento sobre o ecossistema de manguezal e na prática da educação ambiental.

Resultados

Superando metas, o Projeto CO2 Manguezal conseguiu resultados muito significativos em dois anos de execução, conforme tabela abaixo:

Mudas Produzidas x Hectares Reflorestados Ações de Educação Ambiental

69.000 mudas produzidas

85.000 m2 reflorestados

308 agentesmultiplicadoresambientais

524 pescadores e marisqueiras em capacitação socioambiental

3.044 estudantes atendidos em atividades de educação ambiental

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CONHECENDO O MANGUE

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CONHECENDO OS BOSQUES DE MANGUE

Alessandra Nasser CaiafaCamila de Jesus LuzBruno Barbosa de J. FerreiraCarlos Antônio Santos de Oliveira

Introdução

Local de transição entre os ambientes terrestres e marinhos, o manguezal é um ecossistema costeiro que ocorre nas regiões tropicais e subtropicais e representa cerca de 3% do total de florestas de mangue no mundo. Ca-racteriza-se por espécies de vegetais, algas e animais adaptados ao estresse salino, ao substrato inconsolidado e anóxico, devido à submersão provocada pelas marés, desempenhando um papel vital para muitas espécies marinhas e estuarinas, bem como para muitas populações humanas que habitam suas adjacências (Lugo, 1974; Schaeffer-Novelli, 1995; Alongi, 2002).

Os micro-habitats formados no manguezal são áreas importantes para um grande número de insetos, alguns répteis e anfíbios e várias espécies de mamíferos (Flores-Vergudo et al., 1993; Fernandes, 2000), além de um ótimo dormitório e área de forrageio para aves migratórias (Bridgewater e Cresswell, 1999). Estima-se, também, que cada hectare de floresta de man-gue pode abrigar, em um período de um ano, cerca de 750 kg de peixe, ca-marão e outros mariscos (Holguin et al., 2005). Além do mais, o substrato inconsolidado dos manguezais forma o ambiente adequado para abrigar uma grande variedade de invertebrados terrestres e marinhos (Robertson e Duke, 1987; Fernandes, 1997 e 2003; Weslawski et al., 2004).

Segundo Schaeffer-Novelli e colaboradores (2002), 6.786 quilômetros da costa brasileira são cobertos por manguezais, com exceção apenas do Rio

Estrutura da comunidade arbórea e estimativa de armazenamento de carbono em área natural e área em processo de recuperação

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Grande do Sul, onde a vegetação correlata em termos de local de ocorrência recebe o nome de marismas, e do Ama-pá, onde a vegetação de mangue é dominada por Avicennia, formando o que localmente recebe o nome de siriubais.

O mangue, como é chamado o conjunto de árvores do manguezal, é pouco diverso, com baixa riqueza de espécies arbóreas. Entretanto, a baixa diversidade específica revela que as espécies são bem adaptadas a esse ambiente restritivo, de-vido ao sedimento areno-lamoso quase sempre encharcado, com baixo teor de oxigênio e sujeito a ampla variação de sali-nidade (Amaral Zacagnini et. al., 2010). Esses mesmos auto-res citam que no Brasil são mais comuns as angiospermas dos gêneros Rhizophora, Avicennia e Laguncularia.

Em maré baixa, quando é possível perceber as estrutu-ras peculiares de um manguezal, como os pneumatóforos e rizóforos que ascendem o sentimento lodoso, a impressão que se tem é de um ambiente desorganizado, no entanto, existe ali um ambiente altamente adaptado e estruturado (Schaeffer-Novelli, 1991). O conhecimento da estruturação da comunidade arbórea permite avaliar o desenvolvimento do mangue, e isso é fundamental em estudos comparativos, pois possibilita a percepção de semelhanças e a delimitação dessas florestas de mangue (Schaeffer-Novelli e Citrón, 1986).

Outra questão chave em ecologia de comunidades é o entendimento da sua dinâmica, pois a base para as ações de restauração ecológica é o entendimento dos processos de revegetação naturais. A sucessão ecológica em mangue-zais depende de uma diversidade de fatores específicos que devem ser estudados com minúcia para cada área. Entre estes fatores estão a intensidade e frequência de tensores, estabilidade geomorfológica, taxa de decomposição das ár-vores mortas e diâmetro inicial das árvores (Bernini Elaine e Rezende Eduardo, 2003).

Nesse cenário atual de aquecimento global, via emis-são de poluentes como o dióxido de carbono (CO2), é

importante destacar o papel das florestas de mangue no armazenamento de carbono. Nessas áreas, os estoques de carbono se encontram no solo, sendo esse compartimen-to o que possui maior volume de carbono nos manguezais (Siikamaki et al., 2012) e na fitomassa epígea. É sabido que a literatura é farta em distintos ecossistemas florestais tro-picais, porém, até o ano de 2005, segundo Mattos-Fonseca (2005), os manguezais não eram inclusos nesses estudos.

Os bosques de mangue, como os demais ecossiste-mas florestais tropicais, atuam como grandes sumidouros de carbono. Segundo Silveira e colaboradores (2007), as florestas tropicais são fundamentais para o ciclo do carbo-no, pois via o processo fotossintético as florestas absorvem o CO2, para o seu crescimento, e atuam como grandes reservatórios desse elemento, pois o armazenam em sua fitomassa, tanto abaixo quanto acima do solo.

É importante salientar que o manguezal, além da grande importância ecológica destacada acima, também é fundamental para as populações humanas. Desde os pri-mórdios, há mais de 7.000 anos, segundo Field (1997), grupos pré-históricos já utilizavam os produtos fornecidos pelos manguezais de forma harmônica e limitada. Porém, paralelamente ao aumento populacional das regiões cos-teiras, ocorreu a necessidade de mais áreas habitacionais e maior produção de alimentos e, assim, rapidamente, foram devastadas grandes áreas cobertas por manguezais. Segundo dados da FAO (2007), os manguezais estão desaparecendo a uma velocidade de 0,7 a 2% ao ano, e para o Brasil este mesmo estudo cita que, nos últimos 25 anos, 50.000 ha de manguezal foram perdidos via pressão antrópica.

Apesar da importância ambiental dos manguezais, esse ecossistema está em risco, sujeito às mais variadas for-mas de perturbação antrópica, sendo as principais: extra-tivismo, aterros, drenagens, lixões, construção de portos, empreendimentos imobiliários, agricultura e poluição in-

dustrial e urbana (Amaral Zacagnini et. al., 2010). Estes ambientes, ao serem destruídos, poderão recom-

por-se naturalmente em condições propícias, longe da ação antrópica ou quando cessar o tensor responsável pela degra-dação (Panitz, 1997). Porém, nem sempre a regeneração na-tural é suficiente para sanar problemas ou salvar manguezais degradados. Segundo Schaeffer-Novelli (1995), “em muitos casos deve-se remodelar e/ou induzir a recomposição plan-tando espécies dominantes, através de semeadura ou trans-plante de mudas, na área que se pretende restaurar”.

Analisando especificamente os tensores de maior vul-to que atuam no Complexo Lagunar da Baía do Iguape, onde se encontra o município de Maragojipe, podemos destacar a construção de uma barragem para geração de energia elétrica, o despejo irregular de esgoto doméstico e sem tratamento, a supressão da vegetação pelo avanço das populações humanas para as áreas de manguezal e, mais recentemente, a construção de um polo naval.

Em 1985, entrou em funcionamento a Barragem e Hidrelétrica Pedra do Cavalo. A vazão do Rio Paraguaçu, a jusante da barragem, não foi mais a mesma, alterando a quantidade de água no lagamar, impactando na amplitu-de das marés, que não atingem os mangues que estão mais próximos dos apicuns, e na vegetação ecotonal próxima ao continente. Consequentemente, aumentou o teor de salinidade nas águas estuarinas da Baía do Iguape. Aliado a isso, o desmatamento da mata ciliar provocou um asso-reamento no sedimento lamoso do manguezal, provocan-do uma asfixia nos pneumatóforos dos mangues.

Não bastando os impactos provocados pela implanta-ção da Barragem de Pedra do Cavalo nos anos 80, mais re-centemente, em 2009, foi construído o polo naval na Baía do Iguape que, segundo Prost (2009), em estudo prévio, viria aumentar a urbanização nos municípios compreendi-dos pela Baía do Iguape, intensificando o despejo de lixo e

Comecei atuando no projeto como diarista, participando da produção das mudas e reflorestamento. Hoje, sou funcionária e faço parte da equipe de trabalho. Estou muito feliz e realizada! Tenho certeza de que o projeto CO2 Manguezal continuará rendendo muitos bons frutos para a comunidade

Nanci Rita, marisqueira

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Figura 1: Mapa de Localização

do Município de Maragojipe-Bahia,

evidenciando o Complexo Lagunar da Baía do Iguape e seus setores: central, norte

e sul

esgoto no manguezal. A instalação dos dutos obstrui o ca-nal de maré; quando esta é baixa, aumenta a poluição devi-do ao vazamento de óleo e gera grandes impactos na fauna local. No entanto, estudos mais aprofundados desse tipo de tensor precisam ser feitos na área para maior precisão dos efetivos impactos causados quando da operação do porto.

Objetivo

A pesquisa aqui apresentada teve como objetivo ca-racterizar estruturalmente dois bosques de mangue

no município de Maragojipe, pertencentes ao Complexo Lagunar Baía do Iguape, em estágios distintos de conser-vação, bem como estimar o carbono armazenado na fito-massa epígea nessas duas áreas de mangue.

Metodologia

Área de Estudo

O Complexo Lagunar Baía do Iguape localiza-se no extre-mo oeste da Baía de Todos os Santos e ocupa uma área de 76,1 km². É dividido em três setores: norte, sul e central (Carvalho, 2000). A baía é abastecida pelo Rio Paraguaçu no seu baixo curso, entre as latitudes 12° 35’ e 12° 60’ e entre as longitudes 38° 45’ e 39° 00’, no município de Maragojipe (Figura 1) (Fernando, 2006). Dentro da Baía do Iguape, encontramos o estuário do Rio Paraguaçu, que compreende uma área de manguezal de 28,3 km². Esses mangues são protegidos pela Resex (reserva extrativista marinha), criada nos anos 2000 para garantir preservação

Figura 2: Localização das áreas amostradas no estudo, sendo a área 1, mais próxima a urbanização, na Av. ACM, e a área 2, Ponta do Ferreiro, ainda com bom grau de conservação, Maragojipe-Bahia

e uso sustentável dos recursos ecológico e social encontra-dos na Baía do Iguape (Prost, 2010).

Os bosques de mangue estudados, denominados área 1 e área 2, localizam-se no setor sul do Complexo Lagunar da Baía do Iguape, em canais de largura média de 200 me-tros e profundidade de 10 metros ao longo de 7 quilôme-tros (Figura 2). A composição florística dos bosques consis-te nas espécies Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa, Avicennia schaueriana e Conocarpus erectus (apenas na área 2) como associado, mais próximo às regiões transicionais com a Floresta Atlântica. De acordo com a classificação proposta por Lugo e Snedaker (1974) e atualizada por Ci-trón et al (1980), quanto aos tipos fisiográficos de bosques de mangue, as áreas dessa investigação são do tipo ribeiri-nho, que acontecem ao longo do rio, sofrendo influência da maré e maior aporte de nutrientes (Figura 2). Mudas produzidas na sede do Projeto CO2 Manguezal

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Figura 3: Área de estudo 1, degradada, próxima à zona urbanizada do município, Maragojipe-Bahia

Figura 4: Área de estudo 2, Quilombo Salinas Putumuju, Ponta do Ferreiro, Maragojipe-Bahia.

O clima predominante no estuário do Rio Paraguaçu é quente úmido, com chuvas no outono-inverno, tem-peratura média anual de 24° C, com mínima mensal de 21°C e máxima de 26°C. A precipitação média anual va-ria de 1200 a 1400 mm. A variação da maré está entre 0,11m e 0,04m do mar aberto ao município de Naje, de regime semidiurno (Bahia, 1984).

A região de Maragojipe, mais especificamente o Com-plexo Lagunar da Baía do Iguape, carece de investigação pormenorizada de seus bosques de mangue, pois não são en-contrados, nas bases de pesquisas bibliográficas, artigos cor-relacionados. Porém, é notório que diferentes impactos vêm descaracterizando os bosques de mangue de Maragojipe.

A localidade estudada denominada área 1, em meio ao perímetro urbano, encontra-se nas proximidades da Avenida ACM, município de Maragojipe (Figura 3). Esta área foi restaurada em abril de 2004, no âmbito do Pro-jeto Viva o Mangue, também executado pela Fundação Vovó do Mangue. A área continua sofrendo forte inter-venção antrópica, em especial despejo e acúmulo de lixo em grande volume, principalmente o doméstico e resídu-os das conchas das marisqueiras, além de corte de todo o manguezal da margem para a construção de residências.

Com relação à restauração, a mesma foi precedida em 2004 numa área de 0,5 ha, que foi avaliada por amos-tragem agora em 2015, não havendo informações sobre espaçamento nem número de plantas por espécie. Mas sabe-se que foram plantados indivíduos das três espécies mais comuns na região: Laguncularia racemosa (mangue branco), Rhizophora mangle (mangue vermelho), Avicen-nia schaueriana (mangue siriúba ou mangue preto), con-forme relatado pelos funcionários mais antigos da Funda-ção Vovó do Mangue que participaram da ação de plantio.

A segunda área de estudo, situada na Ponta do Fer-reiro e denominada área 2 (Figura 4), é menos antropiza-

O Projeto favoreceu as marisqueiras, o que fez com que pudéssemos preservar o mangue, para que as gerações futuras continuem a tirar o sustento do manguezal. Se conservarmos hoje, amanhã nossos filhos e netos terão alimentos para seu sustento.

Leidejane da Conceição, marisqueira

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da e não apresenta sinais aparentes de degradação e explo-ração. Possui bosques mais preservados devido à distância de locais urbanos e ao difícil acesso, feito somente por meio de barco.

É importante salientar que a área 2 encontra-se den-tro dos limites do Quilombo de Salaminas Putumuju, reconhecido como comunidade quilombola em agos-to de 2012. Vale destacar que, nos últimos dois anos, a formação florestal atlântica limítrofe ao manguezal vem sofrendo pequenos desmatamentos que, se não freados, podem aumentar a erosão laminar do solo e descaracteri-zar o sedimento do mangue. Apesar de ainda incipiente, essa ação merece monitoramento.

Coleta de Dados

Nas duas áreas amostrais, foi seguido o mesmo procedi-mento. A coleta de dados para a descrição estrutural dos bosques e para a estimativa de carbono armazenado foi por meio da amostragem em grade de parcelas múltiplas de 10x10m. Foram estabelecidas 26 unidades amostrais (par-celas) de 100m2, totalizando 0,26ha, no centro da área res-taurada, na área 1, onde a degradação era menos aparente, e na área 2, no trecho onde não havia a presença de nenhum fator de degradação e com a Floresta Atlântica limítrofe a ele sem sinais de supressão. Os quatro vértices das parcelas foram delimitados com canos de PVC e as mesmas foram organizadas em uma grade, porém com o mesmo alinha-mento dado com o auxílio de uma bússola e uma cruzeta.

No interior de cada parcela, os indivíduos com altura de fuste (tronco) maior de 1,30 metro foram amostrados, e de cada um dos indivíduos foi registrado:1) Altura total em metros lineares, com o auxílio de uma

vara retrátil, com graduações a cada 0,5 metro;2) Perímetro à Altura do Peito, medido a 1,30 metro do

substrato (solo), com uma trena de aço temperado, com precisão de 1mm. Esses dados, posteriormente, foram transformados em PAP quadrático para as plan-tas perfilhadas, depois as medidas foram transformadas em Diâmetro à Altura do Peito (DAP≥ 1,30m).

3) Outros dados relevantes sobre os indivíduos eram ano-tados na planilha sob forma de observações.

Destaca-se que todos os indivíduos amostrados re-ceberam um número sequencial de identificação, a exa-tamente 1,30m do solo, e foram alocados virados para o centro de cada parcela. Assim, será possível a reamostra-gem desta área no intervalo de cinco anos para a observa-ção da dinâmica da comunidade arbórea dos bosques de mangue, bem como do incremento do carbono estimado. O grupo objetiva a continuidade das pesquisas e esclarece que o estudo aqui apresentado é o primeiro desta equipe de pesquisa do Laboratório de Ecologia Vegetal e Restau-ração Ecológica (Levre/UFRB), na região do Complexo Lagunar Baía do Iguape.

Análise dos Dados

Em posse dos dados brutos da vegetação e das transfor-mações de dados indicadas acima, seguiu-se com os cál-culos para estimativa de biomassa e carbono, bem como a descrição da estrutura da vegetação arbórea que com-põe os bosques de mangue pesquisados. Como a equa-ção preconizada pelo método de estimativa para aferição de biomassa e carbono, utilizado neste estudo (Chave et. al., 2005), só deve ser empregada em árvores com DAP ≥ 4,8cm, os indivíduos abaixo desse valor não foram inclu-sos nos cálculos.

Para descrever a estrutura da comunidade, foram afe-ridos os parâmetros: Frequência, Densidade, Dominância, absolutos e relativos, e Valor de Importância, de acordo com

o determinado por Muller-Dombois e Ellenberg (1974) também para o conjunto de dados com DAP ≥ 4,8cm.

Para a determinação da biomassa e estimativa de car-bono armazenado, optou-se pelo método não destrutivo, ou seja, método indireto de estimativa que se baseia em equações alométricas para cálculo de biomassa. As fórmulas adotadas para a estimativa da biomassa foram as propostas por Chave e colaboradores (2005), especificamente para mangue, e o valor de estimativa de carbono seguiu o proposto por Twil-ley e colaboradores (1992), que consiste da multiplicação da biomassa por 0,45, evidenciando que 45% da biomassa das árvores é carbono. Destaca-se que equações de Chave e co-laboradores (2005) têm ajustes específicos para cada espécie, pois utilizam a densidade da madeira das mesmas.

Resultados

Com relação à estrutura da comunidade vegetal da área 1, podemos destacar que apenas as espécies im-

plantadas foram catalogadas, a saber: Laguncularia race-mosa (mangue branco), Avicennia schaueriana (siriúba ou mangue preto) e Rhizophora mangle (mangue vermelho). Assim, o manguezal estudado possui uma riqueza de três espécies arbóreas.

Foram coletados 198 indivíduos, nos 2.600 metros quadrados amostrados. Os resultados de frequência relati-va, que informam a presença das espécies no conjunto das unidades amostrais, tiveram mangue branco em primeira posição (81,3%), siriúba e mangue vermelho, em segun-da e terceira posições, respectivamente. O mangue branco apresentou uma densidade relativa de 95,96%, seguida por

Participo da produção de mudas, reflorestamento e monitoramento das áreas plantadas. Um trabalho muito gratificante saber que, como pescador, estou fazendo a diferença para o meio ambiente.

Valter Francisco, pescador

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 2726

siriúba e mangue vermelho. A vegetação apresentou uma dominância absoluta total de 15,96 m2/ha. O parâmetro sintético valor de importância revela o papel destacado do mangue branco para a estruturação da comunidade, res-pondendo por 88,5% do total do parâmetro (Tabela 1).

Com relação aos dados de biomassa e carbono, para um melhor entendimento, os mesmos foram extrapolados para um hectare. A biomassa estimada na área de estudo 1 foi de 25,15 ton/ha, destacando-se Laguncularia racemosa com 21,12 ton/ha deste contingente. A biomassa restante de 4,04 ton/ha foi partilhada entre Avicennia schaueriana (2,72 ton/ha) e Rhizopora mangle (1,32 ton/ha). Nota-se que o melhor desempenho de L. Racemosa deveu-se ao elevado número de indivíduos em comparação com as outras duas espécies, bem como sua elevada capacidade de perfilhamento.

Sabendo-se que 45% da biomassa vegetal (peso seco) é carbono, segundo as observações de Twilley e colabora-dores (1992), podemos concluir que o bosque de mangue que já recebeu uma ação de plantio, com intuito de auxi-liar no processo de recuperação, pela Fundação Vovó do Mangue, há cerca de 11 anos, já estocou 11,32 tonC/ha. Mais uma vez, destaca-se o mangue branco estocando 9,5 toC/ha, seguido da siriúba com 1,22 tonC/ha e mangue vermelho 0,59 tonC/ha. Os motivos do sucesso do man-gue branco são os mesmos elencados anteriormente para o parâmetro biomassa.

O estudo da estrutura fitossociológica da comuni-dade existente na Ponta do Ferreiro, área 2, nos revelou a existência das mesmas espécies presentes no bosque de mangue analisado nas proximidades da Avenida ACM, demonstrando que, fora as diferenciações relacionadas à degradação acentuada e acelerada na área 1, tratavam-se, na origem, antes da antropização da área 1, das mesmas tipologias de bosques de mangue.

Na área 2, foram coletados 276 indivíduos, o que re-presenta 39% a mais em relação à área 1. Outro fato bas-tante preocupante é relacionado a uma tendência de homo-geneização do bosque na área 1, notada pelo baixo número de indivíduos de mangue vermelho (3) e siriúba (5). Já na área 2, essas espécies apresentam 29 e 23 indivíduos, res-pectivamente. Nota-se, assim, uma tendência de empobre-cimento da vegetação, que passará a funcionar como flo-resta equiana, ou seja, uma floresta de uma única espécie.

Em termos estruturais na área 2, a ordenação das espé-cies em valor decrescente de importância mostra uma alte-ração de posição entre Avicennia schaueriana e Rhizophora mangle, que na Ponta do Ferreiro assume o segundo lugar de importância, enquanto na Avenida ACM esta posição pertence à espécie A. schaueriana (Tabela 1 e Tabela 2). O bosque de mangue da Ponta do Ferreiro apresenta uma fre-

quência relativa onde também se destaca o mangue branco com 45,61% sendo, por conseguinte, o segundo e terceiro, o mangue vermelho e a siriúba. Em relação ao parâmetro de densidade relativa, a Laguncularia racemosa apresentou densidade relativa de 81,16%, seguida da Rhizophora man-gle e da Avicennia schaueriana (Tabela 2).

Com relação à quantidade de biomassa e carbono no bosque da Ponta do Ferreiro, este obteve quantitativo total de 78,2 ton/ha, sendo 45,77 ton/ha a contribuição da espécie Laguncularia racemosa, seguida da Rhizophora mangle (24,9 ton/ha) e Avicennia schaueriana (7,52 ton/ha). O quantitativo total de carbono alcançou 35,2 tonC/ha e, novamente, Laguncularia racemosa destacou-se com 20,6 tonC/ha, enquanto as demais espécies ficaram com 11,20 tonC/ha e 3,38 tonC/ha, Rhizophora mangle e Avi-cennia schaueriana, respectivamente. O recorrente desta-

TABELA 1: Parâmetros fitossociológicos analisados no bosque de mangue da Avenida ACM, Maragojipe-Bahia, no estuário do Rio Paraguaçu

Espécies Unidadeamostral

Numero de indivíduos

Frequência absoluta

Frequência relativa %

Densidade absoluta (ha)

Densidade relativa %

Área basal(m2)

Dominância absoluta (ha)

Dominância relativa %

Valor de importância %

Laguncularia racemosa

26 190 1 81,3 730,8 96,0 0,95 14,1 88,2 88,5

Avicennia schaueriana

4 5 0,15 12,5 19,2 2,5 0,09 1,3 8,4 7,8

Rhizophora mangle 2 3 0,08 6,2 11,5 1,5 0,04 0,5 3,4 3,7

Somatórios -- 198 -- 100 761,5 100 1,08 16 100 100

TABELA 2: Parâmetros fitossociológicos analisados no bosque de mangue da Ponta do Ferreiro, no estuário do Rio Paraguaçu

Espécies Unidadeamostral

Numero de indivíduos

Frequência absoluta

Frequência relativa %

Densidade absoluta (ha)

Densidade relativa %

Área basal(m2)

Dominância absoluta (ha)

Dominância relativa %

Valor de importância %

Laguncularia racemosa

26 224 1 45,6 861,5 81,2 1,2 17,1 67,3 64,7

Rhizophora mangle 16 29 0,6 28,1 111,5 10,5 0,4 5,5 21,8 20,1

Avicennia schaueriana

15 23 0,6 26,3 88,5 8,3 0,2 2,8 10,9 7,2

Somatórios -- 276 -- 100 1061,5 100 1,8 25,4 100 100

O projeto preserva o manguezal através do replantio de mudas. Para nós, o manguezal é rico, porque ele traz nosso sustento e pra nossa família. O pescador vai e joga sua rede no mar, e quando pensa que não já está com seu pescado dentro de casa, não só para se alimentar como para comercializar

Gildete Fialho, presidente da Associação de Pescadores e Marisqueiras da Comissão e Baixinha

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 2928

que registrado pela Laguncularia racemosa é devido à do-minância dessa espécie na área de estudo.

Quando os resultados da Avenida ACM são compa-rados a uma área de mangue sem perturbação como a exis-tente na Ponta do Ferreiro, temos um baixo estoque de car-bono, cerca de 35% do valor. Dessa forma, são notórios os efeitos negativos dos tensores como efluentes domésticos e desmatamento na capacidade de armazenamento do carbo-no na fitomassa sobre o substrato nos mangues avaliados, por este estudo, no Complexo Lagunar da Baía do Iguape. Evidencia-se, assim, a importância da ação de recuperação florestal realizada no bosque da Avenida ACM. Sem essa ação, pode-se especular que os valores de carbono pode-riam se encontrar mais baixos ainda.

Discussão

Durante o processo de revisão bibliográfica dos es-tudos fitossociológicos de bosques de mangue, no

Brasil, percebe-se que existem, porém ainda não bem espacializados pela área de distribuição da formação ve-getacional. Comparações ficam dificultadas, pois não há uma padronização nos critérios de inclusão. Caiafa e Martins (2007), para Floresta Ombrófila Densa Atlânti-ca, afirmam que diferentes critérios de inclusão causam mais variações nos resultados que o tamanho das parcelas. Pela observação dos dados de outras análises estruturais em mangues no Brasil, sugere-se que esse comportamento pode se repetir nos bosques de mangue, pois os resultados são variáveis, tanto entre trabalhos, quanto dentro de duas áreas de amostragem utilizando a mesma metodologia de

coleta. Por isso é necessária a cautela nas comparações, pois não há clareza se a uma possível variação pode ser pelo método de coleta de dados ou pelas características intrínsecas do bosque de mangue em avaliação.

Em Bernini e Resende (2004), avaliando bosques de mangue no estuário do Rio Paraíba do Sul-RJ, utilizando como critério de inclusão do menor indivíduo na amostra um metro de altura, encontrou, em seus diversos sítios, uma dominância por hectare variando de 35,3 a 14,5 m2/ha. Resultado similar a este estudo. Porém, a densidade variou de 3.400 a 1.920 indivíduos por hectare, mais alto que o apresentado na Ponta do Ferreiro, área mais con-servada. Silva e colaboradores, no estuário do Rio São Mateus-ES, utilizando como critério de inclusão Diâ-metro à Altura do Peito (DAP) maior ou igual a 2,5cm, analisando quatro distintos sítios encontraram densidade variando de 450 a 1.450 indivíduos por hectare, e a área basal variando de 7,21 a 31,10 m2/ha. No mangue do Rio Benevente, em Anchieta-ES, utilizando altura maior ou igual a 1m como critério de inclusão, teve como prin-cipais resultados 10,3 a 72,2 m2/ha de área basal e 700 a 7.866 ind./ha (Petri et. al, 2011). Nota-se que os traba-lhos citados apresentam mais de um sítio de coleta e a va-riação também existe dentro do próprio estudo. Os dados do presente estudo são acomodados dentro das variações possíveis para bosques de mangue.

Para o Brasil, não foram encontrados muitos trabalhos sobre estimativa de armazenamento de carbono. O único com metodologia distinta, que não permite a comparação direta, realizado na Lagoa de Itaipu, município de Niterói--RJ, apresentou valores de 152,19 ton/ha de biomassa e 76,09 tonC/ha. Porém, destaca-se que as equações não são as mesmas e os autores compreendem que 50% da biomas-sa é carbono (Cogliatti-Carvalho e Fonseca, 2004).

Além da diferenciação metodológica, ao longo da

distribuição global dos mangues percebe-se uma grande variação na biomassa epígea das florestas de mangue. Ko-miyama e colaboradores (2008), ao analisarem 23 publi-cações mundiais na área, observaram uma variação de 460 a 7,9 ton./ha. Os autores atribuíram essas variações prin-cipalmente à idade, espécies dominantes e localização.

Considerações Finais

Apesar dos resultados das pesquisas nas áreas em estudo apresentarem resultados similares aos disponíveis em

literatura, é importante destacar a condição peculiar e natu-ral do Complexo Lagunar da Baía do Iguape e seus bosques de mangue. É uma baía abrigada, o que dificulta a troca de água, tornando os mangues naturalmente menos robustos.

A região periférica de Maragojipe, mesmo depois de

anos de ação da Fundação Vovó do Mangue, ainda sofre graves pressões antrópicas, como despejo de efluentes di-versos e lixo doméstico que pode ser tóxico e deletério às árvores implantadas e degenerante para o mangue da Ave-nida ACM, dificultando o crescimento do mesmo. A su-pressão de vegetação, mesmo que bem menor, ainda pode ser notada nesta área, e talvez 11 anos não seja tempo sufi-ciente para essa vegetação se encontrar em estágios médio ou avançado de regeneração, e esse processual de retorno ao quantitativo de estoque de carbono similar ao encontrado no mangue da Ponta do Ferreiro seja lento e gradual.

Todas essas informações deixam claro que inicia-tivas como as do projeto CO2 Manguezal, patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e executado pela Fundação Vovó do Mangue, mesma fonte de recurso do presente estudo, se fazem necessárias, pois o volume de conhecimento dos manguezais de Maragojipe e de todo o estado da Bahia é bastante tímido, sendo essa a primeira iniciativa de estimativa de carbono no município e em todo o Complexo Lagunar da Baía do Iguape.

Equipe técnica em campo, fazendo a coleta de dados

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 3130

O

QUALIDADE DA ÁGUA

CONHECENDO A ÁGUA DO MANGUEAvaliação microbiológica da água do estuário de São Roque do Paraguaçu

Norma Suely Evangelista-BarretoJessica Ferreira Mafra Virginia Ferreira Marques

Introdução

O impacto das atividades humanas nos ecossistemas aquáticos tem pro-duzido uma contínua e inexorável deterioração da qualidade das águas e alterações profundas nos ciclos hidrológicos, ciclos biogeoquímicos e na biodiversidade. Esse processo de deterioração causa impactos econômicos e sociais e, em alguns casos, alterações permanentes e irreversíveis nos am-bientes aquáticos. Dentre as consequências que afetam o homem, podem ser citadas alterações nos regimes hidrológicos; aumento de doenças de veiculação hídrica, como a cólera, febre tifóide e paratifóide, gastroente-rite e salmonelose; contaminação química; presença de biotoxinas; erosão e assoreamento que impedem a navegação nos corpos d’água, além de efeitos de bioacumulação e biomagnificação de metais traços (Pompeu et al., 2005; Cabral, 2010).

Considerando que a maioria da população mundial vive em áreas costeiras e que a tendência é que este número continue a crescer, a pressão nesses ecossistemas tende a ser cada vez maior (Elofsson, 2003). No en-tanto, apesar de a necessidade de disposição e tratamento dos corpos hí-dricos ser reconhecida, a falta de recursos para essas ações costumam ser postergadas, provocando problemas de saúde nas populações e degrada-ção do meio ambiente (Zoratto, 2006).

De todas as doenças no país, 60% têm origem no uso de água de má

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 3332

qualidade, havendo a necessidade de exames rotineiros das mesmas para a validação e monitoramento de sua quali-dade do ponto de vista bacteriológico e químico (Lima et al., 2007). A água pode afetar a saúde humana por diversas maneiras: ingestão direta, preparo de alimentos, higiene pessoal, agricultura, pesca, higiene do ambiente, processos industriais e atividades de lazer (Brasil, 2008). Por isso, a utilização de diversos indicadores tem sido proposta para a vigilância dos problemas ambientais que afetam a saúde, considerando-se que é urgente a necessidade de mais estu-dos e conhecimento da ação desses impactos no ambiente.

As bactérias do grupo dos coliformes fecais ou termo-tolerantes têm sido utilizadas mundialmente como parâ-metros para se verificar a qualidade da água, juntamente com o grupo dos enterococos que, excretados por huma-nos em menor quantidade, ocorrem em maior número em animais homeotermos (Cabral, 2010). Zonta et al. (2008), ao avaliarem a qualidade das águas do Rio Alegre, Espírito Santo, evidenciaram que as águas a jusante dos municípios Celina e Alegre estavam com elevado nível de coliformes termotolerantes. Para Vieira et al. (2008), o estudo da po-luição microbiológica do meio aquático é relevante, uma vez que avalia a qualidade da água utilizada por uma deter-minada população. Reservatórios, cujos índices de colifor-mes totais e termotolerantes são altos, além da presença de contaminantes por fezes, concorrem para a disseminação de doenças, como infecções diarreicas e cólera.

A boa condição da água não se traduz apenas por suas características físicas e químicas, mas pela qualida-de de todo o funcionamento do ecossistema. O monito-ramento da água é medida fundamental na avaliação da eficiência dos sistemas de controle ambiental implantados em empreendimentos, principalmente para aqueles que utilizam a água como fonte de abastecimento para fins industriais (Lima, 2001).

Figura 5. Mapa do estuário de São Roque, indicando os pontos de coletas

Objetivo

Avaliação da qualidade microbiológica da água, usando como indicadores o grupo dos coliformes

e Enterococcus.

Metodologia

O estudo foi realizado no Rio Paraguaçu, estuário de São Roque, município de Maragojipe, em duas uni-

dades amostrais: Ponto P1, Rio Paraguaçu nas coordena-das S12°50.723’ W038°51.470’, e Ponto P2, na área de reflorestamento do mangue, nas coordenadas S12°51.183’ W038°51.771’, no período de janeiro a março de 2015, tota-lizando três análises em cada ponto (Figuras 5, 6 e 7).

Ponto P1

Ponto P2

Figura 7. Área de coleta no ponto P2 - Fazenda do Bispo

Figura 6. Área de coleta no ponto P1 - São Roque

Para mim, o projeto é de grande importância. Adquiri conhecimento, aprendi mais sobre o manguezal e suas espécies e tive a oportunidade de mostrar meu talento, preparando as deliciosas moquecas que são típicas da região.

Cleidemira Barbosa, filha de Nanã, marisqueira e quituteira

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 3534

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

12

ANEXO 2

3º DIA

CLS 35ºC / 48h

CBVB 35ºC / 48h

CEC 44,5ºC / 24h

5º DIA 4º DIA

Leitura dos resultados e cálculo do NMP/100ml

Leitura dos resultados e cálculo do NMP/100ml

10-1

10-2 10-3 10-4

225ml solução salina 0,85%

1º DIA

Amostra de água

As amostras foram transportadas em garrafas de vidro âmbar esterilizadas, com capacidade de 1000 ml, acondicionadas em caixas isotérmicas contendo gelo e encaminhadas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos e Ambiental (LABMAA), no Núcleo de Es-tudos em Pesca e Aquicultura (Nepa), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), para o imedia-to processamento.

Para a avaliação da qualidade da água, foram uti-lizados os bioindicadores coliformes totais e coliformes termotolerantes e o grupo Enterococcus spp., segundo a metodologia proposta por Silva et al. (2010).

Contagem do Grupo Coliformes

As amostras de água, ao chegarem ao laboratório, fo-ram homogeneizadas e retiradas alíquotas de 25 ml e adicionadas em 225 ml de solução salina a 0,85%, cor-respondendo à diluição 10-1 até a diluição 10-4. O Nú-mero Mais Provável (NMP) foi determinado por meio da técnica dos tubos múltiplos com uma sequência de cinco tubos em duas etapas distintas: prova presuntiva e prova confirmatória (Figura 8). Para o teste presunti-vo, inoculou-se 1 ml de cada diluição em Caldo Lauryl Sulfato (CLS), contendo tubos de Durham invertidos. Os tubos foram incubados a 35ºC/48 horas. Após o período de incubação, observou-se a produção de gás e turvação do meio, caracterizando reação positiva.

Os tubos que apresentaram reação positiva no teste presuntivo foram inoculados em tubos de ensaio conten-do Caldo Bile Verde Brilhante (CBVB), para a quanti-ficação de coliformes totais; incubados a 35ºC/48 horas e em caldo E.C., para a quantificação de coliformes ter-

Figura 8. Fluxograma de quantificação do grupo coliforme das águas, em duas unidades amostrais, no estuário de São Roque, Maragojipe-Bahia

motolerantes; e incubados em banho-maria a 44,5ºC/24 horas, ambos contendo tubos de Durham invertidos. A prova foi considerada positiva quando os tubos apresen-taram turvação do meio e produção de gás. A partir da combinação de tubos positivos, foi consultada a Tabela de Hoskins, para o cálculo do Número Mais Provável (NMP) por 100 ml (Silva et al., 2010).

Contagem de Grupo Enterococos

A contagem total de Enterococcus spp. (expressa em NMP/100 ml) foi determinada por meio da técnica de tubos múltiplos, utilizando Caldo Dextrose Azida. As amostras foram homogeneizadas e realizadas sucessivas di-luições (até 10-4). Para o teste presuntivo, 1ml de amostra foi transferido para tubos contendo Caldo Dextrose Azida

O projeto CO2 Manguezal está valorizando a nossa produção pesqueira e, com o trabalho de curso de manuseio de alimentos, as mulheres da região estão se qualificando.

Edvaldo dos Santos Borges, pescador e ajudante de pedreiro

““

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 3736

e incubados a 35ºC por 48 horas. Alíquotas dos tu-bos que apresentaram resultados positivos (crescimen-to no Caldo Dextrose Azida) foram estriadas em Ágar Bile-Esculina (ABE) e incubadas a 35ºC por 24 horas. Colônias características do gênero, ou seja, colônias

Resultados

A análise microbiológica da água nos pontos de estudo encontra-se na Tabela 3. De acordo com esta tabela,

observa-se uma carga microbiana baixa, com exceção da terceira coleta, para os indicadores coliformes totais e en-terococos. A carga microbiana baixa é explicada por se tra-tar de uma área afastada do centro urbano de São Roque, sem muita influência de esgotos domésticos, e porque as coletas foram realizadas em maré de enchente, que contri-bui para a diluição da água do Rio Paraguaçu.

Apesar de não haver limites para o grupo dos coli-formes totais na Resolução No 357 do Conama (Brasil, 2005), este grupo inclui micro-organismos de origem fecal e não fecal e, por isso, serve de parâmetro para ava-liar a qualidade das águas (Who, 2006). Neste grupo, encontram-se cerca de 20 espécies, dentre as quais bacté-rias do trato gastrintestinal de humanos e outros animais de sangue quente, bem como diversos outros gêneros, como Serratia e Aeromonas (Silva et al., 1997).

Para os coliformes termotolerantes, mesmo o núme-ro de amostragens tendo sido pequeno quando compara-do ao estabelecido na Resolução Conama (Brasil, 2005), que preconiza que o monitoramento das águas deve ser realizado bimestralmente durante o período de um ano,

as águas do estuário de São Roque não têm sofrido com a ação antrópica, apresentando baixa contagem de coli-formes termotolerantes, com contagem máxima de 1.100 NMP/100 ml no Ponto P2 na segunda coleta (Tabela 3).

Discussão

De acordo com o Conama (Brasil, 2005), as águas sali-nas ou salobras, classe especial (preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção inte-gral e preservação do equilíbrio natural das comunida-des aquáticas), não devem exceder um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% das coletas no mesmo local.

Evangelista-Barreto et al. (2013), ao analisarem as águas do Rio Subaé, em São Francisco do Conde, re-lataram elevadas contagens de coliformes totais (106

NMP/100 ml), embora em relação aos coliformes ter-motolerantes as águas se encontravam satisfatórias para a classe 1 (aquicultura e atividade de pesca) e classe 2 (re-creação de contato secundário).

O grupo enterococos, apesar de ser um grupo de bactérias usado apenas para balneabilidade (Brasil, 2000), destaca-se por apresentar alta tolerância às condições ad-versas de crescimento, capacidade de crescer na presença de 6,5% de cloreto de sódio, pH 9,6 e temperaturas de

Tabela 3. Quantificação do grupo coliforme e Enterococcus spp., em duas unidades amostrais, no estuário de São Roque, Maragojipe-Bahia

Coletas Coliformes Totais (NMP/100mL Coliformes Termotolerantes (NMP/100mL Enterococcus (NMP/100mL

P1 - São Roque P2 - Fazenda do Bispo P1 - São Roque P2 - Fazenda do Bispo P1 - São Roque P2 - Fazenda do Bispo

1ª 1,8 x 10² 1,8 x 10² 1,8 x 10² 1,8 x 10² 1,8 x 10² 1,8 x 10²

2ª 2,0 x 10² 1,6 x 10¹ 2,0 x 10² 1,1 x 10³ 1,3 x 10¹ 4,6 x 10¹

3ª 1,8 x 10² 2,7 x 104 1,8 x 10² 1,8 x 10² 2,1 x 10¹ 2,4 x 104

negras devido à presença de sais de ferro existentes no meio confirmavam a presença do grupo. A partir da combinação de tubos positivos, foi consultada a Tabela de Hoskins para o cálculo do Número Mais Provável (NMP) por 100 ml (Silva et al., 2010). (Figura 9).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

13

Figura 4. Fluxograma de quantificação do grupo coliforme das aguas em duas unidades amostrais no estuários de São Roque, Maragogipe, Bahia.

ANEXO 3

Figura 5. Fluxograma de quantificação do grupo enterococos das aguas em duas unidades amostrais no estuários de São Roque, Maragogipe, Bahia.

10-1

Amostra de água

10-2 10-3 10-4

225ml solução salina 0,85%

Caldo Dextrose Azida 35ºC / 48h

1º DIA

3º DIA

Ágar Bile esculina 35ºC / 24h

4º DIA Leitura dos resultados Cálculo do NMP/100ml

Figura 9. Fluxograma de quantificação do grupo

enterococos das águas, em duas unidades amostrais,

no estuário de São Roque, Maragojipe-Bahia

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 3938

10°C a 45°C. A maioria das espécies de enterococos é de origem fecal humana, embora possam ser isoladas de fezes de animais (Brasil, 2000).

De acordo com a Tabela 3, a maior presença de ente-rococos foi verificada no ponto P2, semelhante ao obser-vado para os coliformes totais. Ribeiro (2002), avaliando indicadores microbianos de balneabilidade, encontrou uma maior sensibilidade de detecção de contaminação fecal para os enterococos, quando comparado a E. coli e coliformes totais. Embora Paruch e Maehlum (2012) relatarem que Escherichia coli ainda é considerada a bacté-ria indicadora mais específica de uma contaminação fecal recente em água natural, solo e plantas, podendo indicar, ainda, a presença de micro-organismos patogênicos enté-ricos no ambiente. Ela está presente em 95% dos colifor-mes existentes nas fezes humanas e de outros animais. Sua introdução no ambiente se dá a partir de fontes fecais e não fecais, o que a caracteriza como melhor indicadora de contaminação fecal conhecida até o presente momento.

Outro fator que pode ter contribuído para o aumento da carga microbiana é a incidência de chuvas. O escoamen-to superficial durante o período de chuva é o fator que mais contribui para a mudança da qualidade microbiológica da água, e a existência de coliformes nas amostras de água de mananciais tem relação direta com a presença de chuva, de-vido ao arraste de excretas humanas e animais (Vasconcellos et al., 2006). Por outro lado, o aporte de água pode revolver o sedimento, aumentando o número de micro-organismos em suspensão na água (An et al., 2002).

pH e Salinidade

Os parâmetros físicos e químicos da água para o pH e salinidade estão dispostos na Tabela 4.

O pH, em todas as amostras, apresentou uma faixa

neutra, com tendência alcalina no ponto P1, área próxima à baía. A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos naturais está relacionada aos efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies. O efeito indireto é muito importante, podendo, em determinadas condições, contribuir para a precipitação de elementos químicos tóxicos como os metais pesados. Os critérios de proteção à vida aquática fixam o pH entre 6,0 e 9,0 (Cetesb, 2008).

Com relação à salinidade, esta variou de 20 a 35%, enquadrando-se em águas salobras e salinas (Brasil, 2005). A maior salinidade na área de reflorestamento se deve ao menor volume de água e maior evaporação.

Tabela 4. Parâmetros físicos e químicos (pH e salinidade) em duas unidades amostrais no estuário de São Roque, Maragojipe-Bahia

Coletas

pH Salinidade (%)

P1 São Roque

P2 Fazenda do Bispo

P1 São Roque

P2 Fazenda do Bispo

1ª 8,30 7,50 35 35

2ª 7,11 6,89 27 35

3ª 7,44 7,03 20 30

Conclusão

As águas do Rio Paraguaçu, no estuário de São Roque, nas duas unidades amostrais estudadas, não se apre-

sentam poluídas por dejetos de origem fecal.Esses resultados são parciais quando comparados aos

parâmetros estabelecidos na Resolução No 357 (Conama, 2005), em virtude do número reduzido de amostragens.

A formação de agentes multiplicadores foi importante para que a realidade do manguezal tornasse conhecida

por um número maior de pessoas

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 4140

AMarcelo Carneiro de Freitas

Alice Borba Baião

José Rodrigo Lirio Mascena

Saulo Pereira Lima Neto

CONHECENDO A PESCA NO MANGUECaracterização pesqueira das comunidades sob influência do Projeto CO2 Manguezal

Introdução

A pesca artesanal é uma das atividades mais antigas da humanidade, sendo a principal fonte de recursos para muitas famílias de diversas comunida-des, tanto no litoral, quanto no interior do país (Abdallah; Bacha, 1999). Em praticamente toda a extensão costeira e águas interiores do Brasil, é possível encontrar pessoas que utilizam a pesca artesanal como fonte de obter alimentos e renda. Mesmo expostos a uma série de fatores que acabam prejudicando sua profissão, como a poluição, degradação dos re-cursos naturais e a competição com atividades industriais, os pescadores artesanais persistem para assegurar sua sobrevivência e de sua atividade (Pasquotto; Miguel, 2004).

A produção mundial de pescado proveniente da pesca extrativa, em 2012, foi de 91,3 milhões de toneladas, sendo que a pesca extrativa mari-nha correspondeu a 79,7 milhões de toneladas (FAO, 2014). No Brasil, esta produção, em 2010, foi de 536.455 toneladas. Desse total, o nor-deste contribuiu com 195.842,1 t., sendo o estado da Bahia o principal produtor, correspondendo a 74.043,0 toneladas (Brasil, 2012).

O litoral da Bahia, com uma extensão de 1.188 quilômetros, repre-senta 14,5% de todo o litoral brasileiro, sendo sua produção total de pes-cado oriunda, em sua quase totalidade, da pesca artesanal (Brasil, 2008). Destaca-se, no litoral baiano, a região da Baía de Todos os Santos (BTS), com grande número de estuários, originando uma grande rede de man-

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Figura 10. Visão aérea da comunidade São Roque do Paraguaçu-Bahia. Fonte: Google maps

guezais de enorme potencial para o estudo de populações pesqueiras (Bahia Pesca, 2004).

Dados sobre a produção pesqueira local dos estados são escassos, entretanto, segundo Bandeira e Brito (2011), a produção de pescado, em 2003, realizada por 14 muni-cípios da Baía de Todos os Santos, foi de 14.413,45 tone-ladas, correspondendo a 33,8% da produção estadual. O município de Maragojipe se destacou com uma produção de 1.926,47 toneladas, fruto da pesca artesanal, ficando atrás apenas de Salvador.

Localizado ao fundo da BTS e situado à direita do estuário do Rio Paraguaçu, com uma área de 440 km², o município de Maragojipe possui cerca de 45 mil habitan-tes e um PIB percapta de 10.511 reais (IBGE, 2015). No município, está sediada a Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape, que tem como um de seus objetivos ga-rantir a exploração auto-sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis.

A inclusão de regras e direitos em comunidades pes-queiras e na política de manejos dos recursos da pesca de-pende de fatores como esforço de pesca e informações so-bre as características da frota e da tecnologia empregadas (Freitas-Netto; Nunes; Albino, 2002). Dentre as artes de pesca utilizadas no estado da Bahia, podemos destacar o uso de redes de cerco com apoio, das linhas, redes de espe-ra, armadilhas e arrasto de praia (Bandeira; Brito, 2011).

Identificar o modelo de atuação do pescador, enten-dendo suas estratégias de pesca, irá possibilitar avaliar se o modo de exploração seguido por uma comunidade é o mais adequado ou se ele deve ser alterado, oferecendo subsídio para possíveis medidas de mitigação com a cria-ção de regras de uso dos recursos pesqueiros nesta região em atividades futuras (Lopes, 2004; Silvano, 2004). O pescador artesanal pode ser definido como aquele que so-zinho, e ou com mão de obra familiar, explora ambientes

próximos à costa devido a limitações impostas pelo uso de embarcações e instrumentos relativamente simples, dimi-nuindo sua autonomia (Clauzet; Ramires; Barrela, 2005).

Apesar da importância histórica que a pesca artesa-nal representa na produção de alimento e renda para os pescadores e da escassez de informações sobre atividade pesqueira da região, é de extrema importância o levanta-mento de dados sobre as comunidades pesqueiras, anali-sando e catalogando os tipos de artes de pesca utilizadas, informações socioeconômicas, para que se tenha dados confiáveis a respeito da pesca artesanal e possa servir como subsídios para planos de manejo de pesca.

Objetivos

Geral

Caracterização da pesca artesanal de comunidades pes-queiras sob influência do Projeto CO2 Manguezal

Específicos

z Fazer diagnóstico socioeconômico dos pescadores ar-tesanais;

z Caracterizar as embarcações e artes de pesca;z Levantar as espécies de pescado capturado e identificar

o potencial de produção das espécies de maior impor-tância econômica;

z Analisar e comparar a atividade pesqueira e o conheci-mento ecológico local nas comunidades de pescadores.

Metodologia

O estudo foi realizado na comunidade de São Roque do Paraguaçu, localizada a aproximadamente 35

quilômetros do município de Maragojipe, no estado da Bahia, no período de janeiro a maio de 2015 (Figura 10).

A pesquisa teve uma abordagem qualiquantitativa de natureza exploratória, utilizando o método de amostra-gem intencional por cota, no qual a amostra é feita com um propósito, quase sempre buscando investigar um ou mais grupos pré-determinados na população, conforme utilizado por Melo et al., (2011).

O trabalho foi realizado em campo, baseado no mé-todo de pesquisa-ação, onde o entrevistador inseriu-se no mundo dos pescadores, promovendo a troca de conheci-mentos e estabelecendo uma relação de respeito e confian-

Técnicos em visita de conhecimento da área de estudo na comunidade São Roque do Paraguaçu-Bahia

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ça, com o intuito de obter as informações solicitadas no questionário utilizado (Trip, 2005). Foi feita uma entre-vista, com aplicação de um questionário, com pescadores escolhidos aleatoriamente (Figura 11). Entretanto, em razão da impossibilidade de se identificar de imediato os pescadores que atuam na pesca, a abordagem foi feita pelo método “bola de neve” (snow-ball), no qual se entrevistou um novo pescador a partir da indicação do anterior (Bal-din; Munhoz, 2011).

O questionário utilizado foi do tipo semiestrurado, composto de 40 questões relacionadas com a atividade pes-queira (artes de pesca, embarcações e espécies capturadas), aspectos sobre a legislação e etnoconhecimento da pesca, elaborado pelo Grupo de Estudos em Ciências Pesqueiras Marinhas e Continentais – CPMAC. Os dados obtidos fo-ram tabulados em planilhas excel, para serem analisados.

Resultados e Discussões

Caracterização Socioeconômica

Durante o período de estudo, janeiro a maio de 2015, foram realizadas 19 entrevistas com pescadores, em quase totalidade do sexo masculino, exceção a uma pescadora. A maioria dos entrevistados era casada (37%) e “amigada” (união estável ou informal) (37%), seguidos de solteiros (17%) e divorciados (10%). O mês de março ainda não teve os dados compilados.

Em relação ao nível de escolaridade, observou-se que a maioria possuía o 1º grau incompleto (70%) (Figura 12), fato semelhante verificado por Evangelista Barreto et al. (2014) e Silva; Oliveira e Lopes Junior (2013). A pesca era a única fonte de renda para a maioria

(68%), entretanto, alguns possuíam outra fonte de renda para o sustento da família (32%). Porém, a maior par-te dos pescadores recebia menos de um salário mínimo (58%), além disto, recebia, ainda, benefícios do governo, conforme relatou 53% dos entrevistados. Verificou-se, que dos pescadores entrevistados, só um dos indivíduos não vive em casa própria, e todos afirmaram que moram em casa de alvenaria.

Em relação ao lançamento de efluentes domésticos, houve uma equitabilidade, através de fossas sépticas (36%), rede de esgoto pública (32%) e lançamento direto na rua (32%). De acordo com Santos e Sampaio (2013), a ausên-cia de saneamento básico e a deficiência na coleta do lixo favorecem o lançamento de resíduos no ambiente aquático, um dos principais fatores de poluição na comunidade.

Os pescadores entrevistados, em sua maioria (53%), não eram cadastrados na colônia de pesca. Entretanto, al-guns faziam parte de uma cooperativa local. Quanto às em-Figura 11. Pescadores sendo entrevistados na comunidade Figura 12. Nível de escolaridade dos entrevistados

Figura 5. Redes de pesca utilizadas na captura de pescado na comunidade São Roque do Paraguaçu

Embarcações utilizadas nas pescarias da comunidade São Roque do Paraguaçu-Bahia

10 grau incompleto

70%

20 grau completo

12%

20 grau incompleto

6%10 grau completo

12%

Redes de pesca utilizadas na captura de pescado na comunidade São Roque do Paraguaçu-Bahia

CO2 MANGUEZAL CO2 MANGUEZAL 4746

barcações, a maioria dos pescadores entrevistados relatou possuir embarcações, e todos alegaram ter canoas, sendo de madeira ou de fibra, com comprimento variando de 6 a 10 metros, podendo acomodar de 1 a 4 pescadores. Essas embarcações pescam em torno de 21 pesqueiros, sendo os principais: Ilha do Medo, Farol, Gavião, Pedras, Pedra do Bom Jesus, Salamina e Ponta de Nossa Senhora.

As artes de pesca mais utilizadas na região são as re-des, principalmente as de emalhe, com suas variações de acordo com espécie alvo. Além desta, também utilizam artes de pesca com anzóis, como o espinhel, popularmen-te conhecido como grozeira.

As principais espécies de interesse econômico cap-turadas pelos pescadores foram: camarão, arraia, roba-lo, cabeçudo, cação, corvina, bagre, beijupirá, cavala, siri, pescada, tainha, xangó, lula, xaréu, curubina, sel-vagem, mirim, mututuca (Figura 13). O camarão, o beijupirá e o robalo foram os pescados que apresenta-ram o maior preço, variando de 15 a 25 reais por quilo. O pescado é comercializado no mercado popular e por meio de atravessadores. O período em que ocorrem as maiores capturas de pescado é no verão, compreenden-do de dezembro a março.

Figura 13. Exemplares de pescado capturados na comunidade São Roque do Paraguaçu-Bahia

Questionamentos Respostas

Qual fase da lua é boa de pesca?

Qual o período do ano que é bomde pescar?

Qual o peixe mais bravo?

Qual o peixe mais manso?

Sabe diferenciar uma espécie entremacho e fêmea?

Algum peixe faz barulho?

Conhece algum peixe que é parentede outro?

Você acha que tem algum pescadoreimoso?

47,4%Nova

79,9%Verão

57,9%Cação

31,6 %Robalo

84,2%Sim

89,5%Sim

94,7%Sim

94,7%Sim

94,7%Sim

52,6%Outras

20,1%Outros

42,1%Outros

68,4%Outros

15,8%Não

10,5%Não

5,3%Não

5,3%Não

5,3%Não

Etnoconhecimento dos pescadores artesanais da comunidade São Roque do Paraguaçu, Maragojipe-Bahia

Algum peixe prefere ficar em algumambiente?

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Conhecimento da Legislação

A principal lei de pesca que os pescadores entrevis-tados conhecem é a do seguro defeso*. Todos os entrevis-tados recebem o benefício e a maioria pesca outro tipo de pescado durante o período do defeso. 62% dos entrevis-tados revelaram ter presenciado fiscalização pelo Ibama.

Todos os pescadores entrevistados relataram que houve mudança na pescaria ao longo dos anos, apontando como principais motivos para a pesca estar sendo preju-dicada:z Muita água doce vinda do Rio Paraguaçu;z Grande número de redes atuando na pesca;z Desrespeito à captura de indivíduos com tamanho mí-

nimo;z Lançamento excessivo de água doce pela hidrelétrica

Pedra do Cavalo;z Pesca com bombas;z Eliminação de produtos químicos na água por algumas

empresas.

Conclusão

Os aspectos socioeconômicos dos pescadores artesa-nais de São Roque do Paraguaçu estão equivalentes

às demais comunidades nacionais, apresentando baixa escolaridade e renda, mas com a preocupação de que os filhos tenham um maior nível de instrução e consigam trabalhos menos desgastantes e lucrativos. Além disso, a preocupação com o meio ambiente foi uma questão evi-dente. Entretanto, há necessidade de melhoria na comu-nidade em relação ao lançamento de efluentes domésticos.

Na comunidade de São Roque do Paraguaçu, a pes-ca é predominantemente artesanal, utilizando canoas de madeira e artes de pesca com redes, sendo a principal a rede de emalhar, com uma grande variedade de pescados capturados. A partir dos dados obtidos, torna-se necessá-ria a coleta de exemplares para identificação taxonômica das espécies da região, além de um levantamento da pro-dução por espécie para estimar o potencial de pesca desta comunidade pesqueira.

Os saberes dos pescadores São Roque do Paraguaçu são semelhantes aos de outras comunidades artesanais e são coerentes com os aspectos ecológicos dos organismos, sendo importantes para conservação dos recursos natu-rais. O conhecimento sobre as comunidades pesqueiras tradicionais, além do valor cultural que representa para as populações que vivem da pesca, ainda pode contribuir com medidas de manejo.

* O seguro defeso foi criado em 2003 pela Lei Federal no 10.779. Trata-se de um benefício temporário, no valor de um salário mínimo, pago ao pescador artesanal durante o período em que as atividades de pesca são paralisadas para possibilitar a preservação das espécies.

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Zoratto, A.C. (2006). “A importância do tratamento de esgoto doméstico no saneamento básico”. In: Fo-rum Ambiental da Alta Paulista, 2, 2006. Resumos... ANAP. Disponível em:<http://www.amigosdanatu-reza.org.br/noticias/306/trabalhos/126.AU-8.pdf>. Acesso em 10 nov. 2012.

Estudantes visitam o viveiro de mudas do Projeto CO2 Manguezal, oportunidade em que vivenciam a educação ambiental.

As ações atenderam a 3.044 alunos do Ensino Fundamental 1.

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