PROGRAMA: SPIRIT

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SPIRIT

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GÖTEBORGSOPERANS DANSKOMPANI Adolphe Binder direção artística NOETIC Sidi Larbi Cherkaoui coreografia ∙ Adolphe Binder dramaturgia ∙ Szymon Brzóska música original ∙ Antony Gomley cenário ∙ Les Hommes figurinos ∙ David Stokholm desenho de luz ∙ James O'Hara e Hélder Seabra assistentes do coreógrafo Estreia mundial GöteborgsOperans Danskompani, Ópera de Gotemburgo, 8 de março de 2014 METAMORPHOSIS Saburo Teshigawara coreografia, cenografia, figurinos e desenho de luz ∙ Rihoko Sato assistente do coreógrafo ∙ Tim Wright música original, desenho de som ∙ Olivier Messiaen e Maurice Ravel música ∙ Hiroki Shimizu assistente de luz Estreia mundial GöteborgsOperans Danskompani, Ópera de Gotemburgo, 8 de março de 2014 Mais informações: http://www.cnb.pt/gca/?id=1122

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SPIRIT

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Maiodias 30 e 31 às 21h

Junhodia 1 às 16h

Sidi Larbi Cherkaouicoreografia

Szymon Brzóskamúsica

Antony Gormleycenário

Les Hommesfigurinos

David Stokholmdesenho de luz

Adolphe Binderdramaturgia

James O’HaraHélder Seabraassistentes do coreógrafo

NOETIC METAMORPHOSISSaburo Teshigawaracoreografia, cenário, figurinos, desenho de luz

Tim Wrightmúsica original, desenho de som

Olivier Messiaen Maurice Ravelmúsica

Rihoko Satoassistente do coreógrafo

Hiroki Shimizuassistente de luz

SPIRIT

Estreia mundial

GöteborgsOperans Danskompani, Ópera de Gotemburgo, 8 de março de 2014

GÖTEBORGSOPERANS DANSKOMPANI

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A FUNDAÇÃO EDP

É MECENAS PRINCIPAL DA COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO

E MECENAS EXCLUSIVO DA DIGRESSÃO NACIONAL

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Descobri a palavra noetic [noético] nas minhas conver-sas com Adolphe Binder, dramaturga da obra e diretora artística da companhia. Fiquei apaixonado pelo seu conceito.Noetic [noético] provém do grego “noesis/noetikos” e significa sabedoria profunda, conhecimento direto ou compreensão subjetiva. Como coreógrafo, sempre me fascinaram as ligações naturais que perceciono à mi-nha volta, como as pessoas interagem e se ligam, como e porque e quando se desligam umas das outras… parece uma língua abstrata que todos falamos genuina-mente com os outros através de movimento, sem que alguma vez tenhamos aprendido as regras gramaticais.No estúdio tento focar-me em energias específicas, fa-zendo com que os bailarinos trabalhem a maior parte do tempo coletivamente, em vez de individualmente, com o intuito de manifestar esta partilhada inconsciência coletiva. O que se consegue é uma reação em cadeia de movimentos, um fluxo, como um bando de pássaros ou peixes na água: fluem através e em torno dos outros com à-vontade, elegância, mas também com paixão e convicção. Noutros momentos os bailarinos asseme-lham-se a peças de uma grande máquina, movendo as roldanas do tempo, cada um deles uma peça de um tra-balho complicado de relógio; os blocos de construção do funcionamento interno de uma sociedade. O mate-rial de dança oscila entre estas formas diversas; como se alterasse, constantemente, a sua própria forma de etéreo ao líquido, ao sólido.

Szymón Brzóska é o compositor do projeto. A sua músi-ca contemporânea é tão matemática, quanto é melódi-ca e emocional. Através de uma inteligente combinação da orquestra com a voz a solo [da notável cantora sueca Miriam Andersén], com o Kokyu [violino japonês], com a percussão e a flauta japonesas [todos tocados pelo talentoso Shogo Yoshii], Szymon desvenda um mundo repleto de questões e descoberta. O som é quase me-dieval – ou estaremos na Grécia Antiga, na Renascença ou no longínquo futuro?... a música de Szymón liga-nos a tão diversas eras. A harpa, as cordas, provocam um sentimento de mistério e exploração.Em Noetic, trabalho também com o artista plásti-co Antony Gormley. É a quarta vez que colaboramos desde o nosso primeiro encontro artístico em 2005. Desta vez a sua cenografia consiste em linhas longas que poderão ser ligadas umas às outras na criação de um longo curso. As linhas são feitas em policarbona-to e dobram-se naturalmente pelo peso da gravidade. Ao mesmo tempo, através duma conexão inteligente, cada linha liga-se a si própria formando um círculo per-feito. Aí reside o segredo do trabalho, percebendo o iní-cio e o fim, ligando-os, uma linha subitamente encontra a sua conclusão enquanto círculo e cumpre um novo objetivo, tem uma nova existência, uma nova forma.Geometria sagrada, vida citadina retratada como fun-ções mecânicas, microcosmo espelhado no macrocos-mo, interconexão através de todas estas estruturas fila-mentosas... Noetic tenta abordar, de uma forma poética, todos estes temas. Os bailarinos manipulam cuidadosa-mente o espaço, adaptam-no, interagem com ele.Tento, com esta obra, falar do nosso conhecimento in-terior, ligando o instinto e a causa e efeito. No meu próprio trabalho é como um cruzamento: colaboradores de há muito cruzam caminhos com a primeira colabora-ção com Adolphe Binder e os espantosos bailarinos da Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo. A mi-nha pesquisa pessoal por uma forma coreográfica que utilize a linguagem do universo, começou em 2012 com

NOETIC¯¯¯ Sidi Larbi Cherkaoui

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Puz/zle for Eastman, com o qual tentei que os bailari-nos ouvissem e dançassem com pedras. Continuei-a, no ano passado, com Génesis, um trabalho desenvolvido com a extraordinária bailarina chinesa Yabin Wang. Aí os bailarinos movem-se inspirados pela luz, por árvores e pelas suas óbvias formas geométricas, estando ro-deados por caixas de vidro e bolas de cristal. Noetic é o passo seguinte, investigando o conceito de que qual-quer linha direita é, na verdade, uma curva e que tudo pode ser associado através da forma de um círculo. No fundo, o conhecimento, as ações, a consciência estão já aqui, estão já presentes. —

MetamorfoseUma força da vida constantemente transformadora.Transformação não é uma forma, mas uma “transição qualitativa através do movimento”.É uma transformação da existência.Os seres humanos estão em constante transformação.Mas ainda há algo de desconhecido, escondido dentro de nós.Não atingimos, ainda, o ponto de destino.E nunca o faremos.Um contínuo organismo transformador. — 

METAMORPHOSIS¯¯¯ Saburo Teshigawara

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FOTO

GRAF

IA ©

BEN

GT W

ANSE

LIUS

Pascal Marty e Maxime LachaumeMetamorphosis

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Boa noite e bem-vindos à nova produção da Göteborgs- Operans Danskompani. Para o nosso programa Spirit, convidei dois dos mais fas-cinantes coreógrafos dos nossos tempos. Os trabalhos de Sidi Larbi Cherkaoui e de Saburo Teshigawara têm sido uma fonte de entusiasmo e inspiração desde que me apaixonei pela arte da dança. Ambos são verdadeiros mestres, ambos representam uma ideia de arte de palco, que não é fechada, mas sim híbrida, sensível, complexa.A aceitação de ambos em partilhar uma noite e criar tra-balhos originais para nós, seguindo a linha temática de Mind & Spirit [Mente e Espírito], abriu novos caminhos, processos estimulantes, colaborações e reflexões sobre um tema vasto. Mencionar a contribuição do escultor Antony Gormley num encontro com o universo visual de Teshigawara é mencionar apenas um deles, pois este projeto une a colaboração de um sem-número de notá-veis artistas, aos mais diversos níveis.O conhecimento é o privilégio de ser [um ser humano]. Podemos colocar o nosso conhecimento em qualquer coisa. Onde quer que o coloquemos mapeará o nosso destino.Os trabalhos originais desta temporada permitem uma profunda reflexão artística em como podemos pensar a vida, a consciência, a nossa visão de espírito e a essên-cia da nossa interconexão.O que é a inteligência que permite os batimentos do nos-so coração neste momento? Seremos uma matriz viva? Onde se inicia a matéria e termina o movimento?

Todos somos um sistema de informação. O qual não está inteiramente localizado nos nossos corpos. O nosso corpo e a nossa mente parecem estar constantemen-te ligados com informação dentro e fora de si. Existirá algo como padrões informativos que mantêm ‘nós’ e ‘ele’ juntos?Corpo. Espaço. O corpo demarcado.A área do corpo é um campo energético com padrões de informação. O corpo enquanto arena da interação. O corpo coletivo. Tarefas coletivas. Campos morfogé-nicos. Momentos em que algo encontra o seu próprio centro de equilíbrio. Matéria como energia comprimida. Cristalização. O espaço interior e o espaço intermédio.Para todos nós, os que temos um profundo interesse na intersecção entre essência, ciência inovadora, espiritua-lidade e ação transformadora, encontraremos alimento deslumbrante para o pensamento [e outros sentidos] nas peças Noetic e Metamorphosis.E momentos de tensão:O potencial da evolução em abstrato. Uma sensação de ambiguidade.O que significa isso para ser humano? Para ser intuitivo? Para transformar?Assumamos em conjunto, pelo menos ao longo destas duas horas que partilharemos, que nada no mundo é desligado e estático. Olhemos para o(s) nosso(s) mun--do(s) com um novo par de olhos. Comecemos de novo. Divirtam-se! —

SPIRIT¯¯¯ Adolphe Binder,

¯¯¯ Companhia de Dança da Ópera

¯¯¯ de Gotemburgo,

¯¯¯ Direção Artística

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O conceito por detrás do meu envolvimento com Larbi, no projeto Noetic, foi encontrar um elemento ou ferra-menta relacionados com o corpo que tendo uma geo-metria pura, quando ligado, pudesse criar linhas, arcos, anéis e esferas ou outras formas, através de uma mon-tagem entrelaçada. Estes elementos de policarbonato e resina transformaram o desenho numa forma física que proporciona diferentes reações corporais.Evoluindo da composição para a ferramenta e daí para o objeto independente, numa variedade de interações, a ideia foi permitir aos bailarinos estender e ampliar os movimentos naturais através do peso e extensão destas ‘varas flexíveis’; ser capaz de construir uma variedade de arquiteturas a partir de laçadas, arcos e linhas contí-nuas que ligariam corpos e os cercariam.A noção de como as formas esféricas interagem, liga-se com a cristalografia molecular: as valências dos áto-mos formam as moléculas de elementos puros e ligas. A geometria dos círculos tornou-se sagrada na Cabala, a tradição tântrica, arquitetura islâmica e muitas outras, nas quais as regras de numerologia dos sistemas biná-rios – triangulação, o quadrado, o pentagrama, etc. e a exploração de todas as relações poliédricas – estão integradas. Os modos pelos quais estas geometrias fundamentais existem na geometria pura, arquitetura prática e nas tradições sagradas, sugerem que essas formas são instrumentos para a alma e para o corpo.

Aqui são ferramentas para formas emergentes mais do que estruturas dogmáticas: permitem em vez de limita-rem. Como sempre, nas minhas colaborações com Larbi, preocupo-me bastante que os bailarinos descubram por si próprios as possibilidades que os elementos propor-cionam. Existe uma resistência e compressão à tração no material e nos três elementos quando estão unidos para formar um anel. Seis anéis podem ser combinados como uma bola. Faltará verificar como estas três formas – a linha ou bastão, o anel ou roda e a bola de tecido – serão articulados na própria dança e que movimentos precisos e formas evolutivas resultarão.Uma das alegrias de trabalhar com Larbi é a sua capa-cidade para usar instrumentos como estes, não como simples adereços, nem como cenário, mas para ação: integrá-los no desenvolvimento do movimento. Cada uma das minhas colaborações com Larbi teve um re-sultado diferente que deu uma certa sintaxe à dança. Com Zero Degrees começámos com o corpo; em Sutra fizemos uma caixa que estava em relação direta com a dimensão média dum monge Shaolin, que poderia ser um caixão, uma mesa, um barco ou uma banheira. Com BABEL, construímos um espaço-moldura arquitetónico que era extremamente mutável e podia ser usada das formas mais diversas para criar contextos e objetos. No projeto Noetic tentei liberar a própria linha para que seja simultaneamente rígida e dinâmica. Tanto quanto consiga, as evoluções potenciais da dança mostrar--se-ão pela interação entre tempo, espaço e corpo por intermédio destes instrumentos. —

NOETIC, ÓPERA DE GOTEMBURGO¯¯¯ Antony Gormley

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Existem origens muito antigas para uma visão cíclica da natureza, mas que é também suportada por descobertas científicas modernas. De acordo com o Gyushi, um volu-moso compêndio do século XVII sobre medicina tibeta-na, o microcosmo do corpo une perpetuamente mãos e dança com o macrocosmo do ambiente. A doença ocorre quando os seus passos estão fora do ritmo, ou não se encontram em harmonia com a fonte de energia que os move. A perspetiva de que a nossa vida é uma pequena mas integrante parte do grande fluxo do cosmos é tam-bém partilhada pelos japoneses.Poderá, contudo, parecer incompatível com a visão de vida, como o mecanismo dum relógio, que tem prevale-cido no Ocidente, desde Descartes. É, pois, interessante que um cientista germano-americano, Rudolf Schoe-nheimer, tenha sido o primeiro a descrever com sucesso o dueto executado por organismos com o ambiente, ao mais alto nível da resolução tornada possível por mo-léculas. Esta descoberta, com setenta e cinco anos, deverá ser encarada como uma revolução coperniciana na biologia.Schoenheimer foi um cientista judeu que fugiu ao cres-cente movimento nazi e viajou para os Estados Uni-dos, nos anos trinta do século XX. Concebeu a ideia, que marcou uma época, de utilizar isótopos estáveis para localizar moléculas de alimentos ao entrarem no organismo e descobriu o que lhes acontece durante o

SABURO:UM EQUILÍBRIO DINÂMICO¯¯¯ Dr. Shin-Ichi Fukuoka,

¯¯¯ Biólogo Molecular da Universidade

¯¯¯ Rockefeller, Nova Iorque

Fiquei radiante quando Sidi Larbi Cherkaoui me convidou para o acompanhar na sua nova criação, para a extraor-dinária GöteborgsOperans Danskompani.Fiquei muito feliz por mergulhar, uma vez mais, no bonito e emocionante mundo coreográfico de Larbi.Como esperado, Noetic, esta nova colaboração com Lar-bi, proporcionou-me uma viagem inspiradora e criativa.A música, escrita para orquestra e tocada pela Orquestra da Ópera de Gotemburgo, foi pensada como uma pale-ta de cores e contrastes, circundando os bailarinos por vezes como uma paisagem sonora, noutras seguindo-os com rigor.Fiquei especialmente feliz por trabalhar, nesta obra, com a cantora sueca Miriam Andersén, cuja maravilhosa voz nos transporta para lugares frequentemente mágicos e serenos, bem como com o músico japonês Shogo Yoshi, cujo tambor taiko, as flautas de bambu e o instrumento de cordas kokyu, adicionaram um sabor oriental e incom-parável à minha composição.Os textos latinos utilizados na obra são de Platão, pai da filosofia noética, e de canções de Horácio. A música segue-os num mundo dicotómico de contrastes: mente e alma, bem e mal, prazer e dor; eventualmente guiando--nos para uma simples verdade horaciana: carpe diem. —

NOETIC:SOBRE A MÚSICA¯¯¯ Szymon Brzóska

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metabolismo. Assumiu que a maioria das moléculas que compõem a comida queimar-se-iam no interior do corpo e seriam segregadas, mas as suas experiências revelaram uma imagem totalmente diferente. Ele desco-briu que o conceito de vida ser um ‘fluxo’ é mais do que uma metáfora. As moléculas da comida rapidamente se tornam moléculas componentes do corpo enquanto outras moléculas do corpo rapidamente são expelidas. Há indivíduos que acreditam na perceção de si próprios enquanto corpos sólidos separados do ambiente, mas ao nível microscópico o corpo é apenas um agregado pouco firme e mutante de moléculas, um lugar com re-lativa alta densidade onde o fluxo de vida refreou tem-porariamente.As moléculas que compõem um corpo vivo são, de modo relativamente rápido, substituídas por moléculas absor-vidas como alimento. Por isso todas as componentes mecânicas são continuamente renovadas. As molécu-las que constituem os nossos corpos transformam-se em algo totalmente diferente do que eram há alguns meses. No meio deste fluxo de vida, os nossos corpos mal conseguem manter um determinado estado ao sub-meterem-se a uma perpétua alteração. As células do cérebro não são exceção. Consequentemente a nossa identidade e memórias poderão não existir tão definiti-vas como nós as pensamos.Apesar da revolucionária natureza da sua descoberta, Schoenheimer tem sido quase esquecido. É raramente mencionado em livros de biologia ou história da ciência e, inesperadamente, poucas referências existem que facultem pistas para o seu carácter e personalidade. Suicidou-se em 1941, no auge da sua carreira como in-vestigador, mas a sua visão de vida como condição de um equilíbrio ativo, ainda tem grande importância ao ajudar-nos a compreender a questão contemporânea de como os seres humanos poderão relacionar-se melhor com o meio ambiente.Baseado nos resultados de Schoenheimer, gostaria de descrever a vida como um ‘equilíbrio dinâmico’.

Porque são os organismos orgânicos, flexíveis, resi-lientes, plásticos e sustentáveis? Porque estão num equilíbrio dinâmico. Como é que a vida se torna viva? O equilíbrio dinâmico torna a vida viva desfazendo-se da entropia de dentro para fora, num fluxo constante.Saburo Teshigawara e eu conhecemo-nos há muito e partilhamos interesses similares ainda que, aparente-mente, observemos campos e coisas muito diversas. Vi-o, e às suas obras, muitas vezes em Tóquio, Yokoha-ma, Civitanova e noutros lugares. Creio ver na sua dança o pas de deux cósmico, organismos, flexibilidade, resi-liência, plasticidade e sustentabilidade. Acredito que ele perceciona muito bem o que é a vida, ainda que de forma muito diferente dos cientistas. A sua dança pare-ce estar sempre num equilíbrio dinâmico. —

A arte de Saburo Teshigawara é profundamente pessoal, ainda que procure também incorporar e formar algo uni-versal – ele é um artista versátil, descrito como tendo “um sistema solar no interior de si mesmo”. Para Saburo Teshigawara dançar é algo simultaneamente físico e es-piritual – ele e a sua arte são como uma única entidade, ainda que simultaneamente se coloque a uma distância significativa da sua criação. “Existe um espaço natural entre o corpo e o espírito, e tenho uma atitude objetiva para com o corpo, enquanto crio”, refere. “Quando era novo, antes de começar a dançar, estava ligado à pintura e à escultura e, nessa altura, essa distância era enorme. Um desenho ou uma escultura podem ser surrealistas, nos limites da realidade, enquanto a dança significa usar

CALIGRAFIA DOCORPO¯¯¯ Astrid Pernille Hartmann

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o corpo como uma forma de arte - o corpo é sempre real e a dança é a melhor forma de entrar em contacto com a realidade”, diz.A versatilidade artística de Teshigawara é expressa não só pela sua criação de dança, desenho de cenários e de luzes, criação de obras de arte visual, etc. – ele próprio dança em muitos dos seus trabalhos. Durante os ensaios de Metamorphosis, na Ópera de Gotemburgo, explica o que pretende alcançar, não apenas num fluxo livre de palavras, mas por vezes com movimentos extremamente articulados com linhas em constantes e subtis mudan-ças. Como um prisma através do qual discursa; respira-ção e uma espécie de… sorriso cósmico são refratados.“O que torna a dança interessante é que o ar está sem-pre integrado nela. É o anfitrião da consciência”, escre-veu no programa de Air, que criou para o Ballet da Ópera de Paris, em 2003, um espetáculo quase totalmente em branco e luminoso, com alguns sopros ricamente colori-dos no cenário, com a forma de grandes pinceladas num pano branco.A escolha de música coral religiosa para Metamorpho-sis está ligada a esta respiração universal; um canto a cappella é como as cores das pinceladas na tela em branco daquela respiração. Quando lhe perguntam se é religioso, Teshigawara responde não acreditar em qual-quer poder central omnipotente, força ou deus, mas mais em algo que apelida de anjos, cuja presença – talvez como pessoas, animais ou até coisas – é constituído por uma espécie de pura inocência, algo de que não conse-guimos prescindir, uma proteção vital. É tudo acerca de um existencial profundo, fenómeno pré-social, uma pure-za e inocência de proteção, explica Teshigawara.Equilíbrio e controle são alguns dos outros temas recor-rentes de Saburo Teshigawara. “A minha aproximação à dança foi através do ballet clássico, pelo qual mantenho um grande respeito. Enquanto forma de expressão, con-tudo e pessoalmente, não me foi relevante. A técnica, tanto na dança clássica quanto noutras formas de arte, é acerca do controle, sendo limitada por alguma coisa”,

diz. “Do mesmo modo, as nossas vidas são limitadas pela lei da gravidade, tempo, espaço e pelas nossas con-dições específicas e gerais de viver. Contudo, e apesar de estarmos dominados e obrigados por eles, somos sempre livres de escolher”, enfatiza Teshigawara. Quan-do inquirido sobre a forma como a sua herança cultural japonesa tenha influenciado esta atenção ao controle, responde referindo o facto de que o mundo é composto por opostos, tudo poderá ser mesclado com o seu oposto. “Porém, não estão divididos em blocos, linhas retas ou algo desse tipo – pelo contrário, em conjunto os opos-tos constroem um todo, algo que é circular. É similar ao corpo”, afirma, “não existe uma única linha reta em todo o corpo, tudo é delimitado numa curva infinita. Estamos constantemente a perder e encontrar o nosso equilíbrio, articulando novas curvas.” Como arabescos em arte, “ou como na escrita árabe ou na caligrafia japonesa”. As cur-vas que unem opostos são todas sobre metamorfoses, as quais começam sempre por um desequilíbrio, até que um novo equilíbrio, movimento e direção se revelem. A vida é constituída por mudanças e metamorfoses, tal como as células são constantemente substituídas, no nosso cor-po, e tal como acontece com as alterações climáticas. —

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Sidi Larbi Cherkaoui, coreógrafo belga de ascendência marro-

quina, é conhecido pela elevada personalidade, dramatismo

e ecletismo dos seus trabalhos desenhados a partir de uma

vasta variedade de influências e explorando uma identidade

cultural, religiosa e étnica. Tem trabalhado com distintos tea-

tros, óperas e companhias de dança, de que são exemplo Les

Ballets de Monte-Carlo, o Sadler’sWells em Londres, o Grand

Théâtre de Genève ou Les Ballets C.de la B., onde iniciou a

sua carreira. Colabora, com regularidade, com outros coreó-

grafos entre os quais se destacam Akram Khan e Shantala

Shivalingappa. Em 2008, Cherkaoui estreou Sutra no Sadler’s

Wells. Esta galardoada colaboração com Antony Gormley e os

monges Shaolin tem percorrido o mundo com grande aclama-

ção da crítica. Após a primeira criação na América do Norte,

Orbo Novo e uma série de duetos tais como Faun e Dunas,

com a bailarina de flamenco María Pagés, em 2009 funda a

sua nova companhia Eastman, a que foi atribuído o título de

Embaixadora Cultural da Europa, em 2013. —

SIDI LARBI CHERKAOUICOREOGRAFIA

Adolphe Binder é Diretora Artística da GöteborgsOperans

Danskompani [Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo]

desde agosto de 2011. Anteriormente fora Diretora Artística

e Diretora Geral do Ballet da Komische Oper em Berlim, e

Consultora Chefe em Dramaturgia da companhia de dança da

Deutsh Oper, na mesma cidade alemã. Tem ainda sido Curadora

e Diretora de Programação de alguns festivais internacionais

de dança e da Expo 2000, realizada em Hanôver. Entre 2005 e

2010 Adolphe Binder respondeu pela produção e consultoria de

Binder + Partner Berlin, uma destacada companhia no panora-

ma da dança contemporânea internacional. Foi nomeada para

comissões em organizações da nova dança alemã, bem como

para júri em muitos festivais internacionais de dança. —

ADOLPHE BINDERDRAMATURGIA—

NOETIC

Residente em Antuérpia, o compositor polaco Szymon Brzóska

tem trabalhado com Sidi Larbi Cherkaoui em produções como

Sutra, com Anthony Gormley e os monges do templo Shaolin

na China, em 2008, Orbo Novo e Dunas, em 2009, Labyrinth,

em 2011, e m¡longa, em 2013. O peculiar interesse de Szymon

Brzóska na sinergia entre música, dança contemporânea, teatro

e cinema levou-o a participar em numerosos projetos que

abrangem diversas formas de arte e espetáculos de dança,

com os quais a sua música tem sido apresentada nos locais de

maior prestigio. Entre muitos outros tem colaborado com David

Dawson, María Pages e Vladimir Malakhov. —

SZYMON BRZÓSKAMÚSICA ORIGINAL—

NOETIC

Antony Gormley é amplamente aclamado pelas suas esculturas,

instalações e obras de arte públicas que questionam a relação

do corpo humano com o espaço. O seu trabalho tem desenvol-

vido o potencial criado pela escultura nos anos setenta através

do compromisso crítico entre o seu próprio corpo e o dos outros

num confronto com questões fundamentais sobre a colocação

do ser humano na relação com a natureza e o cosmos. Antes

de Noetic, Antony Gormley e Sidi Larbi Cherkaoui tinham cola-

borado nos projetos Sutra, Babel e Zero Degrees. O seu cenário

em Noetic permite aos bailarinos as extensões corporais e os

elementos construtivos para criar uma arquitetura latente para

a ação individual e coletiva. —

ANTONY GORMLEYCENOGRAFIA—

Page 13: PROGRAMA: SPIRIT

NOETIC

David Stokholm desenhou luzes para alguns espetáculos de

dança, entre os quais Tending to Fall, de Fernado Melo na Ópera

de Gotemburgo e Bate, do mesmo autor, para a Introdance, em

Amesterdão. Stokholm tem sido, ainda, responsável pela ilumi-

nação de muitas das digressões internacionais da Companhia

de Dança da Ópera de Gotemburgo. —

DAVID STOKHOLMDESENHO DE LUZ—

Tom Notte e Bart Vandebosch são dois estilistas belgas que,

em 2004, se conheceram e criaram a marca Les Hommes, após

a graduação na Academia Real de Belas Artes, em Antuérpia,

e da experiência de Tom Notte com Olivier Theyskens, reforça-

das por uma experiência económica e de moda. A combinação

dos seus talentos produziu uma coleção de moda, mas acima

de tudo criou um conceito de beleza construído na fusão de

contrastes fortes e na investigação continuada do casamento

perfeito entre inovação e classicismo. A marca tem a sua loja

principal em Antuérpia e mais de cem estabelecimentos em

dezasseis países.—

LES HOMMESFIGURINOS—

NOETIC

Shogo Yoshii, percussionista, é um músico que explora as

possibilidades ilimitadas de instrumentos como o taiko, tambor

tradicional japonês, as flautas de bambu ou o kokyu, violino

japonês. Desde 2007 é membro do centro musical japonês

Kodo, responsável pelo ensino e desenvolvimento da música

tradicional japonesa. Em 2010 ingressou no grupo musical da

produção Babel (words), coreografado e dirigido por Sidi Larbi

Cherkaoui e Damien Jalet. Ainda no mesmo ano participou

como diretor musical e intérprete no espetáculo Dojoji, pela

companhia de flamenco Arte y Solera. —

SHOGO YOSHIIPERCUSSÃO E FLAUTA—

Miriam Andersén é uma cantora e harpista sueca. Estudou

canto, harpa, notação medieval e interpretação musical na

Schola Cantorum Basiliensis, na Suíça. Especialmente voca-

cionado para a música tradicional sueca, o seu reportório

contempla géneros desde cantos gregorianos até à música

contemporânea. Para além dos seus próprios grupos Belladonna

e The Early Folk Band, atua com os grupos Sarband e Theatre of

Voices, com o qual realizou o primeiro espetáculo de The Little

Match Girl Passion, de David Lang, em 2007, no Carnegie Hall,

e que posteriormente foi distinguido com um Grammy, em 2010.

Em 2007 foi distinguida com a divisa de prata de Anders Zorn,

intitulada riksspelman, pela sua interpretação de cowhorn - um

instrumento musical primitivo sueco construído com chifre natu-

ral de gado - que partilha com alguns dos melhores intérpretes

suecos de música tradicional.—

MIRIAM ANDERSÉNCANTORA SOLISTA—

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Saburo Teshigawara iniciou a sua singular carreira de criador,

em 1981, em Tóquio, sua cidade natal, e após ter estudado

artes plásticas e belas artes. Em 1985 formou, com Kei Miyata,

a companhia de dança Karas, a qual foi convidada a atuar nas

mais importantes cidades mundiais. Teshigawara tem criado

para companhias como o Ballet da Ópera de Paris, o Ballet

Frankfurt, o Nederlands Dans Theater ou Ballet du Grand Théâ-

tre de Genève. Teshigawara tem recebido, ainda, um crescente

reconhecimento internacional na área das artes visuais, através

de exposições, filmes, vídeos, bem como pela conceção de

cenografias, desenhos de luz e de figurinos para todas as suas

criações. A sua sensibilidade escultural e sentido de composi-

ção, a organização de espaço e os seus decididos movimentos

de dança criam, em conjunto, um universo único. O seu profundo

interesse em diversos aspetos da música e do espaço tem-no

incitado à criação de obras site-specific, colaborando com uma

extensa variedade de músicos. —

SABURO TESHIGAWARACOREOGRAFIA—

METAMORPHOSIS

Tim Wright é um músico, compositor e videasta residente em

York, Reino Unido. É reconhecido como produtor de música

eletrónica para dança, assinando com o seu nome ou o pseudó-

nimo Tube Jerk. A sua música tem sido publicada por algumas

das mais marcantes etiquetas como Tresor, Novamute, Sativae

ou GPR e considerada como pioneira. A sua colaboração com

Teshigawara começou em 2000, na criação de Raj Packet,

Everything but Ravi, no Novo Teatro Nacional, em Tóquio. Ao

longo dos últimos cinco anos, Tim Wright tem sido responsável

pela operação de som nas digressões internacionais de Karas,

a companhia dirigida por Teshigawara. Em 2013 criou alguns

elementos musicais da criação Darkness is Hiding Black Horses,

de Teshigawara para a Ópera de Paris. —

TIM WRIGHTMÚSICA ORIGINAL—

METAMORPHOSIS

Page 15: PROGRAMA: SPIRIT

NOETICELENCO

Anna AltèsDelphine BoutetBrittanie BrownMai Lisa GuinooChiaki HoritaMicol MantiniAnila MazhariHeather TelfordHarumi TerayamaArika Yamada

Jubal BattistiJim De Block Matthew FoleyAviad HermanErik JohanssonToby KassellFan LuoLotem RegevIsaac Spencer

Mirian Anderséncantora solista

Shogo Yoshi percussão e flauta

Adolphe Binderdireção artística

DIGRESSÃO A LISBOAEQUIPA DE PRODUÇÃO

Eva Lindberg gestão do projeto

Pascale Mosselmans Tilman O’Donnelldireção de ensaios

Fredrik Englerdireção técnica

Hanna Östergrenassistente da direçãotécnica

David Stokholmdireção de luz

Niklas Ankarhemsupervisão de luz

Joachim Bohällengenharia de som

Helena AvanderJane Dotevallguarda-roupa

Berndt StenholmPeter Strandmotoristas

METAMORPHOSISELENCO

Astrid BoonsJenna FakhouryJanine KoertgeChiara MezzadriSatoko TakahashiDanielle de VriesIngeborg Zackariassen

Maxime LachaumePascal MartyJán SpotákLee-Yuan TuDavid Wilde

COMPANHIA DEDANÇA DA ÓPERADE GOTEMBURGO

Page 16: PROGRAMA: SPIRIT

BILHETEIRAS E RESERVASTeatro CamõesQuarta a domingodas 13h às 18h (01 nov – 30 abr)

das 14h às 19h (01 mai – 31 out)

Dias de espetáculo até meia-hora apóso início do espetáculo.Telef. 218 923 477

Teatro Nacional de São CarlosSegunda a sexta das 13h às 19hTelef. 213 253 045/6

Ticketlinewww.ticketline.ptTelef. 707 234 234

Lojas Abreu, Fnac, Worten,El Corte Inglés, C.C. Dolce Vita

CONTACTOSTeatro CamõesPasseio do Neptuno, Parque das Nações,1990 - 193 LisboaTelef. 218 923 470

INFORMAÇÕES AO PÚBLICONão é permitida a entrada na sala enquanto o espetáculo está a decorrer (dec. lei nº315/95 de 28 de Novembro); É expressamente proibido filmar, fotografar ou gravar durante os espetáculos; É proibido fumar e comer/beber dentro da sala de espetáculos; Não se esqueça de, antes de entrar no auditório, desligar o seu telemóvel; Os menores de 3 anos não poderão assistir ao espetáculo nos termos do dec. lei nº116/83 de 24 de Feverei-ro; O programa pode ser alterado por motivos imprevistos.Espetáculo M/6

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