PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ......Figura 12 – Estabelecimentos turísticos na Estrada...
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CAMPUS DO PANTANAL
RONAN XAVIER MACHADO
ROTEIRO INTEGRADO DE TURISMO FRONTEIRIÇO
CORUMBÁ – MS
2018
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RONAN XAVIER MACHADO
ROTEIRO INTEGRADO DE TURISMO FRONTEIRIÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços
da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, Campus do Pantanal, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre.
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento,
ordenamento territorial e meio ambiente
Orientador: Dr. Edgar Aparecido da Costa
Coorientador: Dr. Sergio Iván Braticevic
Corumbá – MS
2018
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ROTEIRO INTEGRADO DE TURISMO FRONTEIRIÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.
Aprovado em __/__/2018, com Conceito _________.
BANCA EXAMINADORA
________________________
Orientador
Dr. Edgar Aparecido da Costa
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)
___________________________
Coorientador
Dr. Sergio Iván Braticevic
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)
_____________________
1° Avaliador
Prof. Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/PPGEF)
________________________
2° Avaliador
Dr. Enrique Duarte Romero
(Universidade Federal da grande Dourados/UFGD)
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AGRADECIMENTOS
Buscar novos desafios e encará-los até sua concretude é o que usualmente se almeja. Contudo,
só quem toma a decisão de galgar novas condições de vida, sejam elas pessoais ou
profissionais, sabe o quanto pode ser difícil alcançar o objetivo.
Durante a caminhada do mestrado, que prolonguei muito para iniciar, foram diversas ocasiões
de entrave, algumas de natureza pessoal, muitas profissionais e até mesmo financeira durante
o processo. Mas ninguém está sozinho nesta vida... Eu, que tenho a certeza de ser um amado
filho de Deus, tive grandes apoios, alguns cruciais para que chegasse ao final desta
caminhada.
Por isso sou grato a minha família, a começar pelos meus pais, Amabílio e Terezinha,
exemplos de perseverança, inclusive nos momentos de dificuldade. A seguir, insiro meus
irmãos Rodrigo e Rossana, cada um com sua particular maneira de auxiliar neste processo
(como nos churrascos e risadas) e meu cunhado Raul, também meu companheiro de profissão,
que, ao enfrentar grandes percalços para concluir sua pós-graduação e, quando pensavam que
ele fosse “descansar”, iniciar seu doutorado, tornou-se para nós referência de persistência,
mostrando-nos a importância da busca de mais conhecimento.
Dirijo, aqui, um agradecimento especialmente fundamental à família que eu construí,
alicerçada em minha esposa Suzana, que me proporcionou à maior e mais completa alegria de
um homem: Ser pai.... Minha filha, minha dádiva de Deus. Tantos foram os finais de semana,
madrugadas, que precisei me ausentar de casa e dos momentos com elas, para pesquisar e dar
andamento ao mestrado e em todos eles, contei com o apoio e compreensão. Obrigado meus
amores!
Ao meu orientador que, somando compreensão pelas minhas ausências, nunca deixou de me
cobrar e nortear com excelência a conclusão deste trabalho.
Aos professores do curso, em cada módulo trouxeram conteúdo e discussões que agregaram
muito na pesquisa.
Ao Sr. Pedro Flores, agente de turismo na fronteira, fundamental para a elaboração da
proposta.
À professora Eulina, que não poupou esforços para me auxiliar na correção gramatical do
trabalho, mesmo com prazos curtos e muitas perturbações de minha parte.
Ao meu professor e amigo, Enrique Duarte Romero, que me acompanhou desde os primeiros
passos da graduação, especialização e me presenteou com a presença na banca de avaliação
deste trabalho.
Aos meus colegas do mestrado, pela troca de conhecimento no decorrer do curso.
A todos, meus sinceros agradecimentos!
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RESUMO
A fronteira é comumente entendida enquanto limite territorial entre dois ou mais espaços,
restringindo seu real significado. O espaço fronteiriço possui, em sua essência, a função de
comunicação, interação e estreitamento de pessoas e culturas, mas na maioria das vezes, a
falta de diálogo de cooperação acaba por (sub) desenvolve-la. A expressão da fronteira vai
muito além ao promover a comunicação biossocial fronteiriça e assumir a função de
dinamizar os espaços nela compreendidos. Esta pesquisa buscou demonstrar, como uma
fronteira pode integrar países, aproximando espaços e pessoas através do turismo de fronteira,
apresentando a importância da fronteira e do turismo como indutor de desenvolvimento
territorial. Com o objetivo de propor um roteiro integrado de turismo no espaço fronteiriço de
Corumbá-BR com a Bolívia, utilizou-se da análise das pesquisas realizadas pelo Observatório
do Turismo do Pantanal, ligado a Prefeitura Municipal de Corumbá, entre os anos de 2013 e
2016, bem como de revisão bibliográfica. Utiliza-se da pesquisa participante e da etnografia
como instrumentais de apoio metodológico. Estes procedimentos subsidiaram a coleta de
dados primários realizada na Estrada Parque Pantanal, em Corumbá e nos municípios e
povoados da Bolívia– do limite internacional até Santiago de Chiquitos. Propõe-se o roteiro
integrado de turismo fronteiriço perfazendo uma extensão de 340 km, tendo a cidade de
Corumbá como centro propulsor. Foram selecionados 7 empreendimentos na Estrada Parque
Pantanal, que atendem turistas estrangeiros e 7 no trecho boliviano. O estudo apresenta uma
proposta de roteiro dividida em dois trechos, um do lado brasileiro e o outro na Bolívia, no
total de 4 dias e 4 noites, priorizando a experiência turística em passeios e atrativos naturais,
culturais e gastronômicos.
Palavras-chaves: Desenvolvimento territorial, Fronteira, Integração, Roteiro turístico,
Turismo.
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RESUMEN
La frontera es normalmente entendida como el límite territorial entre dos o mais espacios,
restringiendo su real significado. El espacio fronterizo, contiene en su esencia, la función de
comunicación, interactividad e estrechamiento de personas y culturas, aunque muchas veces,
la falta de diálogo, de cooperación acaba por (sub) desenvolverla. La expresión de la frontera
es más extensa al promover la comunicación biosocial fronteriza e asumir la función de
dinamizar los espacios que en ella abarca. Ese estudio buscó demostrar, como una frontera
puede integrar países, aproximando espacios y personas por meio del turismo de frontera,
mostrando la importancia de la frontera y del turismo como inductor del desenvolvimento
territorial. Com el objetivo de proponer un itinerario integrado del turismo en el espacio
fronterizo de Corumbá-BR com Bolivia, se utilizó una análise de estudios realizadas por el
“observatorio del Turismo del Pantanal”, vinculado a la “Precectura Municipa de Corumbá”,
entre los años de 2013 y 2016, asociado con revisión bibliográfica. Se utiliza un estudio
colaborativo e la etnografia como instrumentos de apoyo metodológico. Estos mecanismos
alimentaron la colecta de datos primarios realizados en la “Estrada Parque Pantanal”,
(estrada=carretera) en corumbá y en los municipios y asentamientos de Bolívia- desde el
límite internacional hasta Santiago de chiquitos. Proponiendo un itinerario integrado de
turismo fronterizo abarcando una extensión de 340 km, teniendo la ciudad fe Corumba como
centro propulsor. Fueron selecionados 7 emprendimientos en la “Estrada (carretera) Parque”
Pantanal, proporciona atención a turistas extranjeros e 7 en el trecho boliviano. El estudio
apresenta una propuesta de itinerario dividida en dos trechos, uno del lado brasileño e otro en
Bolívia, en un total de 4 días y 4 noches, dando prioridad a la experiencia turística en paseos y
atractivos naturales, culturales y gastronómicos.
Palabras clave: Desarrollo territorial, Frontera, Integración, Ruta turística, Turismo.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fluxo de pessoas na Fronteira, em Corumbá-MS, no ano de 2016. 46
Tabela 2 – Origem dos turistas estrangeiros, em Corumbá-MS, no ano de 2016. 50
Tabela 3 – Destino acessado pelo turista ao sair de Corumbá-MS, em 2015 e
2016.
51
Tabela 4 – Destino acessado pelo turista depois de Corumbá-MS, em 2015 e
2016.
51
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Fluxo de turistas em Corumbá/MS,Brasil. 38
Gráfico 2 – Gênero do turista, em Corumbá-MS, entre 2013 e 2016. 48
Gráfico 3 – Nível de renda dos turistas, em Corumbá-MS, de 2013 a 2016. 49
Gráfico 4 – Origem dos turistas por região, em Corumbá-MS, de 2013 a 2016. 50
Gráfico 5 – Motivação da viagem do turista, em Corumbá-MS, de 2014 a 2016. 52
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa turístico de acesso e localização da Estrada Parque
Pantanal
41
Figura 2 – Fila no posto de Imigração da Polícia Federal em Corumbá-MS. 44
Figura 3 – Rotas aéreas ligando Corumbá e suas proximidades 55
Figura 4 – Roteiro Integrado na fronteira Brasil-Bolívia 56
Figura 5 – Percurso no trecho brasileiro do roteiro 58
Figura 6 – Início da MS 228. 59
Figura 7 – Travessia em ponte, pela MS 228. 60
Figura 8 – Vista panorâmica de uma das pontes na MS 228. 60
Figura 9 – Vista da margem direita do Rio Paraguai, no Porto da Manga. 61
Figura 10 – Travessia de balsa pelo rio Paraguai, na região do Porto da
Manga
62
Figura 11 – Casal de araras azuis, durante o percurso na MS 228. 63
Figura 12 – Estabelecimentos turísticos na Estrada Parque Pantanal, por tipo
de empreendimento, serviços oferecidos, localização e preço
médio individual.
64
Figura 13 – Ilustração do roteiro em Corumbá. 65
Figura 14 – Vista do redário de um dos meios de hospedagem da Estrada
Parque.
66
Figura 15 – Placa de sinalização na rodovia, passando o acesso a Puerto
Suárez
70
Figura 16 – Hotel em Yacuses, único meio de hospedagem do povoado. 71
Figura 17 – Posto de atendimento médico em El Carmen Rivero Torres 72
Figura 18 – Praça em El Carmen Rivero Torres, com vista para a igreja
matriz.
73
Figura 19 – Fervores de água no balneário Los Hervores, Águas Calientes. 74
Figura 20 – Infraestrutura do balneário El Playón. 74
Figura 21 – Água cristalina do rio Águas Calientes, na altura do balneário El
Playón com vista ao balneário Los Hervores.
75
Figura 22 – Antiga estrutura de captação de água no Balneário El Burriño. 76
Figura 23 – Camping e antigo equipamento da captação de água, Balneário
El Burriño.
76
Figura 24 – Ponte de madeira que dá acesso à ilha, no balneário El Puente. 77
Figura 25 – Meio de hospedagem em Águas Calientes. 78
Figura 26 – Majadito, servido no restaurante do hotel em Águas Calientes. 79
Figura 27 – Tabela de preços no restaurante do hotel em Águas Calientes. 79
Figura 28 – Acesso à Calvário, pela RN 4. 80
Figura 29 – Acesso à Calvário. 80
Figura 30 – Trajeto de acesso à Santiago de Chiquitos, com vista para
morraria.
82
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Figura 31 – Cemitério do povoado, na entrada de Santiago de Chiquitos. 82
Figura 32 – Rua de acesso ao povoado, na entrada de Santiago de Chiquitos. 83
Figura 33 – Fazenda dos missioneiros com vista para o atrativo. 84
Figura 34 – Entrada do atrativo, La Antesala Del Cielo. 84
Figura 35 – Trilha ecoturística La Antesala Del Cielo, estreita e íngreme. 85
Figura 36 – Vista do Valle Tucabaca. 86
Figura 37 – Vista de Santiago de Chiquitos, na primeira parada
contemplativa.
86
Figura 38 – Vista do segundo ponto de contemplação da trilha ecoturística 87
Figura 39 – Escalada em rochas para chegada do ponto mais alto da trilha
ecoturística.
88
Figura 40 – Formações rochosas no alto da trilha ecoturística Ante sala Del
Cielo.
89
Figura 41 – Entrada da Pensão El Achaicharú, Santiago de Chiquitos. 90
Figura 42 – Saltenhas bolivianas na pensão El Achaicharú. 90
Figura 43 – Praça de Santiago de Chiquitos e a Igreja Jesuíta. 91
Figura 44 – Instalações escolares dos jesuítas e seus sinos. 92
Figura 45 – Escultura na praça de Santiago de Chiquitos. 93
Figura 46 – Hotel em Santiago de Chiquitos, no antigo colégio evangélico 94
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11 1.1. Procedimentos metodológicos ........................................................................................... 16
2. TURISMO E FRONTEIRA ............................................................................................ 20 2.1. Contextualização do Turismo ............................................................................................ 20
2.2. Turismo de fronteira .......................................................................................................... 24
2.3. Turismo como indutor do desenvolvimento territorial ...................................................... 28
2.4. Diálogos e cooperação fronteiriça ..................................................................................... 33
3. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA FRONTEIRA BRASIL-BOLÍVIA ................................................................................................................. 39 3.1. Os turistas da Estrada Parque ............................................................................................ 40
3.2. Os turistas do posto de passagem no limite internacional ................................................. 43
3.3. Reflexões sobre o perfil dos turistas de Corumbá ............................................................. 47
4. PROPOSIÇÃO DE ROTEIROS INTEGRADOS ........................................................ 54 4.1. Corumbá e suas conexões .................................................................................................. 54
4.2. Roteiro integrado efetivo ................................................................................................... 55
4.2.1. O trecho em território brasileiro ............................................................................. 58 4.2.2. O trecho em território Boliviano ............................................................................ 68
4.3. Problemas a serem resolvidos para efetivação dos roteiros .............................................. 94
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 99 APENDICE ........................................................................................................................... 107
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INTRODUÇÃO
A fronteira entre o Brasil e a Bolívia acontece em diversos pontos no território
nacional, em uma extensa linha de contato que ocorre por terra e pela água, como aponta o
Observatório Geográfico da América Latina (2011):
A divisa entre Brasil e Bolívia tem uma extensão de 3.423 km, ou seja, 20% da linha
divisória continental do Brasil com os países vizinhos. Desse total, 751 km é
fronteira seca e 2.672 km de água (fluvial). A zona de fronteira formada pelos dois
países engloba faixas fronteiriças pertencentes a quatro estados brasileiros (Acre,
Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e três departamentos bolivianos
(Pando, Beni e Santa Cruz de La Sierra)
No Estado de Mato Grosso do Sul, uma importante aglomeração de fronteira se
destaca envolvendo a cidade de Corumbá, cuja fundação remete ao século XVIII, com
extensão territorial de 64.962.854 km² e população de 103.703 habitantes, de acordo com o
último censo, com os municípios do Departamento de Santa Cruz de La Sierra, Puerto
Quijarro e Puerto Suárez. Atualmente estima-se que 109.294 pessoas residem em Corumbá,
cidade que se destaca pela representatividade histórica enquanto as ocupações militares
durante a guerra do Paraguai, 1864-1870, bem como suas riquezas, que vão da cultura aos
minerais e as belezas naturais, sendo esta última de relevância substancial, haja vista que 60%
do seu território refere-se ao pantanal (IBGE, 2016).
Com atividade turística presente e potencial, conforme identificado por Mariani et al
(2014), em diversos segmentos como a pesca, ecoturismo e turismo cultural, tem ainda na
fronteira um potencial estratégico. Além da fronteira internacional com a Bolívia, no lado
brasileiro, faz divisa com o município de Ladário. Corumbá e Ladário, distantes a mais de 200
km da cidade brasileira mais próxima (Miranda/MS), podem ser acessados a menos de 10 km
pelos bolivianos, o que torna esta fronteira internacional de grande proximidade e
oportunidades, visto que conta com uma conurbação de, aproximadamente, 160 mil habitantes
(COSTA, 2013, p. 66).
Fronteira possui diversos entendimentos, haja vista sua condição de comunicação que
preconiza a definição de limite, esta última sendo a mais associada. Raffestin (2005) escreve
sobre a função exercida pela fronteira, que não se restringe às questões de divisa, elencando a
comunicação existente no território fronteiriço. Para ele:
A fronteira não é uma linha, a fronteira é um dos elementos da comunicação
biossocial que assume uma função reguladora. Ela é a expressão de um equilíbrio
dinâmico que não se encontra somente no sistema territorial, mas em todos os
sistemas biossociais (RAFFESTIN, 2005, p.13).
Para Grinsom (2000, p. 164) “Las fronteras son espacios de condensación de procesos
socioculturales”, envolvendo perspectivas com o Estado, onde “... ledan a las fronteras
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configuraciones políticas específicas que hacen que las relaciones con sus gobiernos sean
extremadamente conflictivas”.
A fronteira não se restringe a uma ou outra definição, nem mesmo a uma ou outra
função, como ponderam Benedetti e Salizzi (2011, p. 153).
Las fronteras, como los territorios, son entidades históricas, que se construyen por
las prácticas materiales y simbólicas de la sociedad. Por ello, emergen, se
transforman –con el tiempo cambian en su extensión, sus funciones y su fisonomía.
Outro aspecto relevante, entre tantos que uma fronteira pode apresentar, refere-se a
mobilidade dos agentes que se envolvem com a mesma, sendo estes residentes da
aglomeração fronteiriça, ou mesmo os que transitam por ela. A mobilidade é entendida como
uma mudança de localização de pessoas ou de seus bens, entre diferentes espaços, sendo essa
uma relação social entre os agentes, que pode ocorrer na fronteira. Benedetti y Salizzi (2011)
analisam a mobilidade sobre três aspectos: como estratégia de reprodução social, como
processo social e como categoria de análise. Nas suas palavras:
Los diferentes agentes sociales adoptan la movilidad como una estrategia de
reproducción social, para ocupar sucesivamente diferentes lugares, para controlar o
apropiarse de un área, para sostener o crear vínculos sociales entre grupos distantes,
para forjar identidades culturales (...) La movilidad como proceso social excede a la
mera relocalización, al viaje, a los desplazamientos, a los transportes, a los flujos y a
la circulación. La movilidad es una categoría genérica por excelencia para referir a
toda relación espacial entre localizaciones concretada mediante el movimiento de
bienes y personas (BENEDETTI y SALIZZI, 2011, p.154)
Assim, a mobilidade enquanto a ocupação de diferentes lugares, bem como pela sua
criação de vínculos sociais entre as pessoas, neutralizando o distanciamento geográfico
através do forjar de uma identidade, pode ser identificada nas fronteiras em movimento. É o
caso de Corumbá que apresenta, cotidianamente, um fluxo de residentes da conurbação que a
envolve, tal como aborda Paixão (2006, p. 100):
Por conta do distanciamento dos municípios que compõem essa região para com
seus centros administrativos e financeiros nacionais, houve uma situação de contato
maior entre os mesmos do que aquele estabelecido para com seus pares nacionais.
Mesmo hoje, com a evolução dos transportes e dos meios de comunicação, as
cidades bolivianas de Puerto Quijarro e Puerto Súarez, tanto quanto a de Ladário, no
Brasil, tem buscado em Corumbá os bens e serviços de que não dispõem.
Além do fluxo dos seus residentes, também apresenta uma demanda entre os turistas
que buscam o portão internacional para acesso ao Brasil ou a América do Sul.Este portão
internacional é reconhecido pelo governo brasileiro e é considerado como das variáveis que
inserem Corumbá entre os 65 destinos indutores do desenvolvimento turístico do Ministério
do Turismo, levando ao monitoramento constante pela Fundação Getúlio Vargas, ao menos
duas vezes por ano1.
1 Em http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/espaco_academico/destinos_indutores/index.html.
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A relevância desse portão internacional pode ser observada pelo fluxo de pessoas, que
segundo o Departamento de Polícia Federal, 109.040 pessoas passaram pela fronteira em
2013 e mais de 163.800 mil em 20162, sugerindo que, entre diversas funcionalidades, o
turismo se faz presente de maneira relevante.
Percebe-se, também, que a mobilidade retratada pelo fluxo migratório está relacionada
ao turismo, aproximando daquilo que descrevem Benedetti e Salizzi (2011, p. 159-160):
Además, diferentes tipos de movilidades son realizadas por un mismo sujeto. Para
construir la tipología de movilidades, hemos considerado cuatro escalas: 1. Local.
Relaciones horizontales entre aglomeraciones vecinas a ambos lados del puente; la
frontera es el espacio de vida, marcado por la cotidianeidad; 2. Extralocal en ambas
direcciones. Relaciones verticales entre ciudades y regiones interiores alejadas de la
frontera; la frontera tiene la función de zona de paso; 3. Extralocal en una dirección.
Conexiones entre las ciudades fronterizas con localizaciones distantes, en el propio
país o en el país vecino; la frontera es el destino de la movilidad; 4. Extralocal
articulado con local. Se refiere a movilidades que, en principio, surgen por la
vinculación de lugares distantes, pero que aprovechan organizaciones fronterizas; la
frontera es un recurso para la movilidad transfronteriza.
As tipologias de mobilidade na região de fronteira apresentam como o fluxo de
pessoas podem se relacionar com este local. Essa mobilidade é realizada por algum propósito,
conforme descrito por Benedetti e Salizzi (2011, p. 160):
Además, identificamos cinco propósitos: 1. Migraciones laborales; 2. Organización
de las prácticas pastoriles, trashumantes y cazadora/recolectoras; 3. Dinámica de la
vida cotidiana en las conurbaciones transfronterizas; 4. Comercio; 5. Turismo, 6.
Movimiento ilegal y criminalizado de bienes y personas.
O turismo corresponde a uma das seis motivações para a mobilidade de pessoas na
fronteira. No caso de Corumbá essa motivação é percebida para o turismo de compras, que
após a política econômica brasileira em meados da década de 1990 resultou em uma
valorização da moeda nacional (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR,
2002). Isso favoreceu a aquisição de produtos importados na Bolívia, trazendo mudanças para
este território fronteiriço, com destaque ao lado boliviano, cuja evolução foi significativa no
período, com a construção de empreendimentos e suas consequências para a economia da
localidade (PAIXÃO, 2006).
Ainda considerando o processo evolutivo e produtivo presente nas fronteiras, como
aborda Braticevic (2013) dos avanços de uma fronteira, ao autor apresenta as variações
presentes em territórios inicialmente orientados ao desenvolvimento agrário, pecuário, etc.
Deste modo, Braticevic prossegue apontando as transformações destes territórios dinâmicos,
cujas potencialidades se moldam, como no desenvolvimento pelo turismo e nas relações da
formação social das fronteiras.
2Dados obtidos no Departamento de Imigração da Polícia Federal.
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O turismo no espaço fronteiriço entre Corumbá e Puerto Quijarro não se limita ao
segmento de compras, principalmente quando consideramos a riqueza natural do Pantanal e
seus atrativos, que oportunizam o desenvolvimento de outros segmentos, conforme Moretti
(2000, p. 17):
A partir da “decadência da pecuária”, mas não como um processo de causalidade,
tem início o desenvolvimento da atividade turística no Pantanal em sua forma
empresarial, ou seja, a partir da década de 70, de forma incipiente, começam a ser
organizados os chamados “pacotes turísticos” no Pantanal, formando-se pequenos
grupos para desenvolvimento desta atividade na região (pescaria, contemplação e
ponto de passagem para turistas que se dirigiam a outros países da América Latina –
Bolívia, Peru e Chile – utilizando-se da ferrovia Noroeste Brasil).
Esse movimento turístico iniciado no século passado permanece e ganha novas
leituras, haja vista que a fronteira deixa de ser utilizada somente pelos turistas de compras,
mas também como um atrativo para turistas de lazer que visitam Corumbá anualmente.
O fluxo de turistas que utilizam o portão internacional de Corumbá e se dirigem para
outros países é corroborado com os dados da imigração da Polícia Federal, analisados pelo
Observatório do Turismo do Pantanal (trata como Demanda Turística Internacional)
abordando perfil, hábitos e percepções destes turistas. Muitos dos que visitam o Pantanal
seguem para outros destinos através da Bolívia (CORUMBÁ, 2014).
Estes turistas comumente consomem3 o Pantanal nos empreendimentos localizados no
meio rural, principalmente na Estrada Parque Pantanal, associando a eles o contexto de
turismo rural, ou ainda melhor, turismo no meio rural (PAIXÃO, 2006, p. 140).
Segundo dados levantados pelo Observatório do Turismo do Pantanal, através do
Documento Referencial do Turismo de Corumbá, no ano de 2014 estiveram em Corumbá
mais de 214 mil turistas, onde 3,1% tiveram como finalidade exclusiva de viagem o turismo
de compras na Bolívia, e 58,5% foram motivados pelo lazer. Desses, mais de 71 mil turistas
afirmaram ter realizado algum tipo de compra na Bolívia, ao consumir a fronteira como um
dos atrativos turísticos de Corumbá.
O Documento também descreve que, entre os visitantes, 13,7% são oriundos de outros
países e que desse total, quase 27 mil buscaram o turismo no meio rural, através dos
empreendimentos localizados na Estrada Parque Pantanal.
Entre os turistas do meio rural, após a experiência no Pantanal de Corumbá, mais da
metade segue para o município de Bonito, que oferece atrativos naturais. Porém, 13%, cerca
de 3.500 turistas, afirmaram seguir para a Bolívia em busca de experiências turísticas
congruentes, que encaixam ao perfil do mesmo (CORUMBÁ, 2014).
3A expressão consumir refere-se ao fato do turista que visita o destino, adquirir produtos e serviços que
subsidiam sua permanência para o lazer, estudos e demais finalidades.
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Isto posto, nos permite acreditar que existe um potencial turístico a ser explorado de
forma integrada/articulada entre Corumbá e as cidades próximas da fronteira, em especial as
bolivianas. Para tanto, observamos a necessidade de análise por meio de uma rota turística
integrada.
Sobre o entendimento de rota, o Dicionário online da Língua Portuguesa4descreve
como “Itinerário que se percorre para ir de um lugar a outro, especialmente por via marítima
ou aérea; caminho; direção, rumo”. Ainda, para analisar melhor o entendimento sobre rota, a
Camara Municipal de Sintra, Portugal, apresenta a seguinte análise explicativa:
Rota: Sinónimo de itinerários, em sentido restrito, em que a saída e a chegada não
são coincidentes no mesmo ponto. O conceito de Rota e Itinerário podem ser
considerados sinónimos embora seja de realçar o facto de Rota estar associada a uma
direcção, a um percurso dirigido. Por outro lado, o conceito de Rota tem sido usado
preferencialmente em termos institucionais e promocionais. Relativamente ao
conceito de Roteiro está quase sempre associado a uma descrição, mais ou menos
exaustiva, dos aspectos mais relevantes da viagem e, particularmente, dos principais
locais de interesse turístico (SINTRA, 2010,p. 2).
A rota está associada a uma direção como a que está sendo citada como existente no
espaço fronteiriço de Corumbá com a Bolívia. Conforme destacado por Sintra (2010), o
roteiro apresenta uma peculiaridade, se assim possa ser dito, visto que elenca os atrativos
turísticos existentes em determinada rota, o que não se encontra como opção para os visitantes
desta fronteira, onde expressa-se a observação para análise de um roteiro integrado de turismo
nesta fronteira.
Bahl (2005, p.3) aponta que “um roteiro turístico resume todo um processo de
ordenação de elementos intervenientes na efetivação de uma viagem, podendo estabelecer as
diretrizes para desencadear a posterior circulação turística”. O autor ainda menciona que um
roteiro tem possibilidade de idealizar trajetos “criando fluxos e possibilitando um
aproveitamento racional dos atrativos a visitar” (BAHL, 2005, p.3) logo, a proposição de um
roteiro turístico antecede ao da rota, tornando-a viável.
Essa rota, bem como seus demandantes, foi identificada por Paixão (2006) ao
descrever o turismo na província de German Buch5, quando menciona uma onda de
ecoturistas instalada na província, ressaltando a importância deste público para o
desenvolvimento do turismo.
Considerando os aspectos abordados, os atrativos de interesse do perfil turístico
existente, pergunta-se: como um roteiro integrado de turismo pode dinamizar o espaço
fronteiriço do Brasil com a Bolívia?
4Ver mais em: https://www.dicio.com.br/rota/
5 Composta por 3 seções municipais: Puerto Súarez (Capital), Puerto Quijarro e El Carmen Rivero Torrez.
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Assim, o objetivo geral desta pesquisa é propor um roteiro integrado de turismo no
espaço fronteiriço de Corumbá-BR com a Bolívia. Especificamente, se busca: a) analisar o
perfil da demanda turística no espaço fronteiriço de Corumbá com a Bolívia; b) descrever os
atrativos turísticos em Corumbá / na Estrada Parque Pantanal, e na Bolívia até Santiago de
Chiquitos, distante cerca de 220 km de Puerto Quijarro; c) propor um roteiro de turismo
integrado no espaço fronteiriço de Corumbá com a Bolívia.
1.1. Procedimentos metodológicos
Trata-se de uma pesquisa aplicada para o desenvolvimento, ordenamento territorial e
meio ambiente, que tem como público alvo os turistas que demandam o espaço fronteiriço
entre Corumbá e a Bolívia.
Godoy (1995, p.62), ao tratar sobre as possibilidades da pesquisa qualitativa, dialoga
sobre a destreza da mesma nos “estudos denominados qualitativos têm como preocupação
fundamental o estudo e análise do mundo empírico em seu ambiente natural”, defendendo
ainda o contato entre pesquisador e ambiente a ser pesquisado, como valorização do que será
estudado. A autora ainda salienta que “o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida
são a preocupação essencial do investigador” (GODOY, 1995, p.63).
Desta feita, esta pesquisa está balizada na pesquisa qualitativa, por meio da qual serão
observadas as variáveis necessárias para o alcance do objetivo.
Considerando a necessidade de conhecer as características dos visitantes que já
demandam os atrativos em Corumbá, propõe-se uma análise por meio de revisão documental.
Foram utilizadas as informações do Observatório do Turismo do Pantanal, Núcleo de estudos
e pesquisas da atividade turística em Corumbá, ligado à Prefeitura Municipal por meio da
Fundação de Turismo do Pantanal, que disponibiliza o perfil do visitante que demanda os
atrativos da Estrada Parque Pantanal, bem como os dados do último destino acessado e
posterior à Corumbá6. Analisou-se os documentos entre os anos de 2013 e 2016, período
monitorado pelo órgão.
Na análise documental estão considerados os dados disponibilizados pelo
Departamento de Polícia Federal, por meio da imigração, referentes ao período de janeiro a
dezembro de 2016, com intuito de comparar com os dados do Observatório, subsidiando uma
análise evolutiva do quantitativo de pessoas que utilizam o portão de acesso internacional,
6Ver em corumba.travel/#/downloads
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localizado na passagem de fronteira entre Corumbá e Puerto Quijarro, bem como os
respectivos países de origem.
A pesquisa bibliográfica foi fundamental para subsidiar os conceitos necessários para
o arcabouço textual, bem como o uso da pesquisa por levantamento de dados em campo, os
quais serão críveis para o alcance dos objetivos propostos.
Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. O levantamento de campo foi
realizado através de visita in loco a todos os empreendimentos localizados no percurso da
proposta de roteiro. Em Corumbá, foram visitados os empreendimentos turísticos localizados
na Estrada Parque Pantanal, MS 228, com extensão aproximada de 120 km. Foi priorizado o
acesso pela estrada a fim de facilitar a constituição das propostas de roteiro. São conhecidos
10 estabelecimentos com acesso ao longo da MS 228, onde as instalações para hospedagem e
alimentação, em sua maioria, distam poucos quilômetros do portão de entrada. Todos foram
visitados, mas somente selecionados para entrevistas aqueles que atendem ecoturistas, cuja
verificação foi realizada in loco por meio da identificação dos produtos turísticos oferecidos
(passeios). Assim, compuseram o roteiro proposto 7 estabelecimentos. Estão situados em três
áreas nucleares da Estrada Parque Pantanal: no porto da Manga, na curva do Leque e na
região denominada passo do Lontra localizada à margem direita do rio Miranda.
A pesquisa necessária para identificação dos destinos e empreendimentos que
poderiam compor o roteiro no trecho boliviano teve sua fundamentação na pesquisa
qualitativa. Para tanto, o método utilizado para buscar o referido detalhamento foi
preconizado na visão de Triviños (1987, p.121), que contextualiza a pesquisa qualitativa com
a etnografia, entendo que sua prática está “estabelecida em relação ao nível de conhecimento
da realidade em estudo ao qual aspiramos alcançar”. O autor ainda apresenta que a etnografia
“baseia suas conclusões nas descrições do real cultural que lhe interessa para tirar delas
os significados que têm para as pessoas que pertencem a essa realidade”.
Para alcançar o detalhamento necessário, buscou-se a observação direta pela
participação efetiva de um sujeito na pesquisa, atuando como depoente e participante durante
todo o trecho boliviano, guiando o pesquisador por ser um agente de turismo cadastrado no
Brasil e na Bolívia, com conhecimento dos destinos e atrativos no percurso determinado.
Noemi Marujo discorre em seu trabalho sobre a complexidade da pesquisa em
turismo, corroborando a necessidade da aplicação de métodos de interação e inter-relação do
pesquisador com o seu objeto. Em suas palavras, “A complexidade do fenômeno turístico faz
com que ele seja baseado em interações e inter-relações. Observar e analisar o fenômeno para
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compreendê-lo constitui um fator essencial para obter conhecimento sobre o turismo”
(MARUJO, 2012, p.2).
O método escolhido, balizado pelos conceitos etnográficos de Triviños, buscou a
determinação dos destinos e a descrição dos potenciais atrativos, visto que o método “obriga
os sujeitos e o investigador a uma participação ativa onde se compartilham modos
culturais (tipos de refeições, formas de lazer etc.). Isto é, em outros termos, o pesquisador não
fica fora da realidade que estuda” (TRIVIÑOS, 1987 p.121).
Desta forma, por meio da participação efetiva do depoente e da observação constante
do pesquisador, foram escolhidos os empreendimentos/destinos turísticos do lado boliviano
da fronteira. A intenção foi conhecer melhor o meio de acesso para a realização das visitas in
loco, buscar orientações quanto ao tempo de viagem entre um destino e outro na Bolívia, para
verificar os locais adequados para alimentação e pernoite.
Assim, para a pesquisa na Bolívia, o apoio técnico de um agente de turismo boliviano,
que atuou como depoente participante da pesquisa balizou a proposta de um produto turístico
que outros agentes poderão comercializar. Este agente indicou quais os destinos turísticos a
serem visitados até o povoado de Santiago de Chiquitos, bem como os tipos de serviços
oferecidos pelos empreendimentos existentes (se integram hospedagem, alimentação e
passeios, por exemplo). Foram visitadas 9 cidades e povoados ao longo dos mais de 290 km
na RN 4, denominada carretera, rodovia com início em Puerto Quijarro. Em
sequência: Puerto Quijarro, Puerto Suárez, Yacuces, El Carmen Rivero Torres, Santa Ana de
Velasco, Estancia Águas Calientes, Santiago de Chiquitos, Roboré até o povoado de Chochis.
Nos destinos acessados, os empreendimentos turísticos foram visitados para identificação da
capacidade de atendimento dos meios de hospedagem, alimentação e dos atrativos turísticos,
bem como a média de preço dos serviços oferecidos, além das percepções locais, como
melhor época de visitação e as observações do pesquisador.
Para o mapeamento dos atrativos, propôs-se o detalhamento de variáveis cruciais para
viabilização de um atrativo como produto da oferta turística, contida em um roteiro, elencados
a seguir:
a) Localização: descrição da localização geográfica do atrativo, bem como seu registro
fotográfico;
b) Acesso: identificação dos meios de acesso disponíveis para cada atrativo, terrestre,
rodoviário e/ou fluvial;
c) Meios de hospedagem e alimentação: identificação de quantos e quais são os meios
de hospedagem e alimentação disponíveis no atrativo ou próximo a ele;
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d) Potencialidades de atrativos: identificação e análise dos recursos do atrativo, pela
ótica do turismo, apontando quais as opções de lazer para o visitante, no contexto histórico,
cultural, aventura, natureza, etc.
Para levantar os dados relativos aos meios de hospedagem e alimentação, bem como
as atividades oferecidas nos atrativos turísticos, foram realizadas entrevistas baseadas em
roteiro previamente definido (Apêndice A), contendo indagações como: Qual a capacidade de
atendimento do estabelecimento (quantos leitos, caso seja hotel; quantos assentos, caso seja
um meio de alimentação). Também, qual a média de preço do estabelecimento e quais as
opções de lazer oferecidas (quando for o caso). Visando obter informações relevantes
quanto à rotina de atendimento e curiosidades, se questionou ao empresário ou responsável
pelo estabelecimento sobre qual a nacionalidade de maior demanda (nacional ou estrangeira)
e se há alguma dificuldade encontrada para o desenvolvimento do negócio que, na visão dele,
possa ser resolvida pelo poder público ou privado. Foi entrevistada uma pessoa (proprietário
ou gerente) por empreendimento, contemplando 100% do universo da pesquisa, dos
empreendimentos visitados.
Também foi utilizada a técnica da observação com apoio de material
iconográfico para incorporar as percepções do pesquisador durante o acesso aos
empreendimentos, o impacto visual, a sinalização, a sensação do atendimento ao turista etc.
A perspectiva de análise para o turismo, conforme aponta Marujo (2013)
ao escrever sobre a abordagem da pesquisa em turismo apresenta duas tendências
distintas, que são utilizadas nesta pesquisa: uma positivista, ligada a abordagem quantitativa e
outra mais flexível, ligada a qualitativa.
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2. TURISMO E FRONTEIRA
2.1. Contextualização do Turismo
A economia e suas relações evoluem constantemente por conta das variáveis que
fazem parte dela. Conforme Araújo (2005, p.18), “as variáveis econômicas são medidas
referenciais adotadas por um sistema econômico[...]objetivando o acompanhamento de cada
setor da economia ou crescimento econômico global”.
Os agentes econômicos são instrumentos na estrutura de mercado e, entre eles, estão
os segmentos, ao qual se refere à diferenciação do mercado pelos ofertantes, visando atender à
demanda. Como apontam Pereira, Martins e Carmo (2012, p.3) a segmentação ocorre quando
há “visualização de que a demanda poderia ser quebrada em diversas demandas”.
Pelo olhar da economia, a demanda, representada pelos consumidores, é motivada por
vários aspectos, mas, principalmente, são determinadas por algumas variáveis comuns como
preço do bem ou serviço, preço do bem substituto ou concorrente, preço do bem
complementar, quando for o caso, a renda do consumidor e o gosto ou hábito do demandante.
Este último é o de maior desafio para quem oferta produtos e serviços, visto que, de certa
forma, não possui controle pelo ofertante (VASCONCELLOS, 2004).
Para que os ofertantes possam obter ganhos frente à demanda, precisam lançar mão de
inúmeras estratégias de mercado como promoções e descontos. Ainda para isso, uma decisão
estratégica sucede ao levantamento de informações que subsidiam a tomada de decisão.
No turismo, entre tantos segmentos existentes no mercado, a necessidade de obtenção
de informações para auxiliar na tomada de decisão é ainda maior, haja vista que o mesmo se
destaca pelo caráter de inovação, relacionado à necessidade de adaptação constante ao perfil
dos consumidores. Nota-se isso pelos grandes avanços em pesquisas realizadas por órgãos
oficiais, visando alimentar o banco de dados, promovendo suporte a tomada de decisão dos
envolvidos no segmento, como aponta Borges (2016), ao expressar os trabalhos realizados
pela Organização Mundial do Turismo - OMT, ou ainda pelo próprio Ministério do Turismo
brasileiro, que oferece uma plataforma atualizada específica de estudos e pesquisas do
turismo7.
A OMT aponta como o turismo vem se destacando e crescendo, pela intensa
diversificação a qual está relaciona enquanto segmento de mercado, levando ao crescimento
7O Ministério do Turismo do Brasil disponibiliza uma plataforma online com estudos e pesquisas do turismo,
nomeada de dados e fatos. Ver mais em http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/.
http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/
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econômico, entre os quais que mais desponta entre os setores no mundo, com participação de
10% no PIB mundial (OMT, 2016).
Outros dados disponibilizados pela OMT (2016), que expressam a realidade do
turismo, posicionam o setor com um dos mais importantes do mundo, correspondendo a 1 em
cada 11 empregos, 30% das exportações em serviços e 7% do comércio internacional. Ainda
menciona que o volume de negócios do turismo, já supera as exportações de petróleo e
automóveis.
Em 2015, o turismo foi a terceira maior categoria de exportação em valores
comercializados, superada apenas pelos combustíveis e produtos químicos, respondendo por
7% das exportações mundiais de bens e serviços (OMT, 2016). As receitas do turismo
internacional aumentaram de US$ 495 bilhões em 2000 para US$ 1260 bilhões em 2015,
decorrente do grande volume de pessoas que viajaram no respectivo ano. O continente
europeu liderou o ranking no número de visitantes, foram 608 milhões em 2015, seguido da
Ásia e do Pacífico que juntos receberam 279 milhões. Em terceiro lugar está o continente
americano, que recebeu 193 milhões de turistas, seguido da África com 53 milhões e do
Oriente Médio com o mesmo quantitativo, aproximadamente. Juntos, foram 1186 bilhões de
pessoas (OMT, 2016).
A América do Sul recebeu 30,8 milhões de turistas, o que representou 2,6% dos
turistas visitaram as Américas. Em relação à receita gerada, em 2015 foram cerca de US$ 25,6
bilhões, dado curioso, pois em 2014 a América do Sul recebeu 29,1 milhões de pessoas, ou
seja, houve um crescimento de 5,8% entre os anos. Contudo, a receita gerada pelo turismo em
2014 foi de US$ 25,7 bilhões, ou seja, em 2015, mesmo recebendo um maior número de
turistas, a receita gerada foi 0,4% menor que 2014(OMT, 2016).
Nos países da América do Sul, Paraguai, Colômbia, Chile, Peru e Uruguai tiveram
crescimento no recebimento de turistas internacionais. Contudo, Brasil e Argentina, os dois
principais países em recebimento de turistas, apresentaram queda no período apresentado.
(OMT, 2016).
O Brasil recebeu mais de 6,3 milhões de turistas em 2015, 2% menos que no ano de
2014, quando registraram mais de 6,4 milhões de turistas no país (BRASIL, 2016). Tal
resultado pode ser visto como positivo, quando consideramos que no ano de 2014 o país
sediou a copa do mundo, um grande evento alavancador de fluxo turístico, que levou o país a
superar a marca de 6 milhões de visitantes, nunca anteriormente registrada, e que foi mantida
em 2015 (BRASIL, 2015).
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O Estado de Mato Grosso do Sul, que recebeu cerca de 62 mil turistas estrangeiros em
2014, apresentou uma redução de 8,7% em 2015, registrando a entrada de 56.601 visitantes de
outros países (BRASIL, 2016).
Já o município de Corumbá no ano de 2014, estimou cerca de 29.392 visitantes
estrangeiros, com crescimento de 39,5% em 2015, quando a estimativa foi de mais de 41 mil
estrangeiros (CORUMBA, 2016).
A expressão do turismo em números, como relatado, segue uma vertente
contemporânea que o entende enquanto uma atividade econômica, proveniente e intensificada
pelo fenômeno da globalização. Tal fenômeno, que é refletido na interação cultural das
pessoas, além das fronteiras físicas dos países, promove e estimula o turismo, tanto pela
oferta, representada pelas empresas privadas que investem nos diversos segmentos existentes
e também pela iniciativa pública que, muitas vezes, fica a cargo da adequação na
infraestrutura necessária; quanto pela demanda, que exige e suscita o turismo a se reinventar
constantemente, para preservar e despertar o interesse da experiência oferecida nos atrativos
(SEVERO SOARES, 2007).
Retomando o caráter de inovação, relacionado à segmentação de mercado, o turismo
apresenta uma diversidade de opções para seu desenvolvimento, para cada qual deve-se
considerar o potencial turístico de cada espaço, para depois considerar sua exploração.
O turismo já se consolidou enquanto importante atividade econômica, principalmente
pelos produtos e serviços que são acionados por ele. Para tanto, o processo evolutivo do
turismo caminha para a segmentação, como efeito da sofisticação do mesmo “em que,
entendida por suas parcelas, o mercado turístico potencial possa ser atingido por suas
necessidades específicas” (ALLIS, 2008, p.6).
Inicialmente, enquanto segmentação de mercado, Kotler (2009, p.279) apresenta
contribuições importantes em sua obra quanto a alguns critérios para definição de um
segmento, que “consiste em um grande grupo que é identificado a partir de suas preferências,
poder de compra, localização geográfica, atitudes de compra e hábitos de compra similares”.
Ainda, aborda sobre a captação de oferta que a segmentação acarreta, beneficiando a
demanda, já que “os segmentos são grandes e atraem vários concorrentes”.
Enquanto segmentos que o turismo pode apresentar, Ansarah e Netto (2010) discorrem
sobre quão recente é esta abordagem no turismo brasileiro. Somente na última década do
século passado, passou-se a discutir as frações de mercado do turismo na grade curricular dos
profissionais da área. Um contraponto, se considerarmos que em 1950 já se discutia a
temática da segmentação turística em âmbito mundial.
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Ansarah (1999), em sua obra que trata especificamente sobre a segmentação do
mercado turístico, apresenta oito segmentos: turismo de negócios; turismo de incentivos,
referente aos promovidos pela organização como premiação para os colaboradores,
resumidamente; turismo de eventos; os parques temáticos, este com uma demanda bastante
específica; turismo religioso; turismo no espaço rural; turismo para single, ou seja, para os
que viajam sozinhos e buscam experiências que incluem a socialização durante o percurso e;
o turismo GLS8.
Já com relação à segmentação pelo Ministério do Turismo, no ano de 2014, foi
apresentado o documento intitulado Marcos Conceituais, reunindo os segmentos turísticos
desenvolvidos no país. Em uma relação com maiores especificidades, o documento destaca
doze segmentos: turismo social, cultural, ecoturismo, esporte, rural, sol e praia, náutico,
negócios e eventos, aventura, estudos e intercambio, saúde e o turismo de pesca. Contudo,
como já mencionado anteriormente, o turismo está em constante inovação e até mesmo, em
adaptação, quando se consideram as preferências e potenciais da demanda.
Com efeito, a alternância no turismo pode ser entendida como uma verdadeira
adequação entre os agentes envolvidos, oferta e demanda, haja vista o atendimento dos
interesses comuns entre estes. Guimarães (2006) discute a evolução do setor que, mesmo
sendo contemporâneo, apresenta atualizações constantes decorrentes do influente processo
capitalista. Em suas palavras:
Isso significa que o turismo, assim como outros fenômenos estudados pelas Ciências
Humanas, tem sido analisado como tendo um “antes” e um “depois”, ou seja, o
turismo aparece como fenômeno da modernidade associado à industrialização e à
produção em massa, mas passa, na contemporaneidade, a sofrer modificações, como
reflexo das mudanças no processo produtivo capitalista mais global (2006, p.2).
Guimarães (2006) ainda apresenta considerações importantes que auxiliam no
entendimento do processo evolutivo do turismo, visto, por exemplo, na crescente
segmentação deste. Em sua análise acerca de Bauman9, a autora destaca o comportamento
humano no consumo do lugar, onde o turista busca uma experiência e quando essa se esgota,
parte em busca de outra que lhe remeta o mesmo sentimento de saciedade.
Neste sentido, podemos compreender o movimento da segmentação do turismo, haja
vista a constante necessidade em aprimorar as especificidades do turismo e adaptá-las ao
consumo dos turistas.
8Termo utilizado para especificar gays, lésbicas e simpatizantes.
9BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
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Exemplo disso é o turismo de fronteira, que vem sendo discutido pelo próprio
Ministério desde 2004, por meio do FRONTUR10
e que ganhou espaço nos últimos anos, pois
a fronteira e o turismo estão ligados intimamente, como será tratado em seguida.
2.2. Turismo de fronteira
O turismo, enquanto setor que está em constante movimento, como fora discutido
anteriormente, transfere tal característica aos seus segmentos, como podemos verificar no
turismo de fronteira. Para este entendimento, devemos, a priori, considerar as premissas que
uma fronteira carrega consigo, como argumenta Pesavento (2006) ao destacar o contato entre
dois ou mais espaços, como uma margem que as aproxima, proporcionando trocas e diálogos
entre os envolvidos.
Santos (1996) expressa à relação que a localização da fronteira contribui para que o
espaço esteja em constante mudança e formação, ainda que o dinamismo presente esteja
ligado às prioridades do capital, neste caso, ligado aos interesses da oferta sob à demanda.
A riqueza que envolve o espaço fronteiriço, desperta, intriga e convida para as
relações existentes e que possam existir, promovendo uma experiência demandada por
muitos, como discorre Cavalcante (2014, p.9):
Na região de fronteira a circulação de um país ao outro permite aos turistas a
convivência com o diferente, sendo este, muitas vezes, o maior atrativo turístico
dessas regiões. A diversidade cultural consome positivamente a ideia do
desconhecido, do novo, proporcionando aos turistas uma troca salutar de
informações que possibilitam integração entre diferentes culturas e um crescente po-
tencial a desenvolver nas regiões fronteira.
O turismo de fronteira pode ser encarado como a relação entre um espaço e um setor
pulsante, que se materializa em um segmento intimamente ligado a economia e seu
desenvolvimento, como aborda Santos e Ruckert (2014, p.1107):
Nos últimos anos, a questão sobre fronteira está sendo utilizada também no setor de
turismo. Onde, estes estudos surgem nas questões governamentais e acadêmicas
levando ao turismo a existência de uma nova modalidade, uma vez que o turismo se
desenvolve como uma atividade dinâmica. No entanto, foi com processo de
integração econômica que tais oportunidades começaram a surgir.
Os autores ainda conceituam o turismo de fronteira, em uma visão que o relaciona ao
movimento entre fronteiras, ou seja, a transfronteirização. Em suas palavras:
10
Referente aos Seminários Internacionais de Turismo de Fronteira, que ocorreram entre 2004 e 2010, cujas
discussões foram sistematizadas e publicadas. Ver mais em:
http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Frontur_2004
_2010_MTur_10_12_14_-_Ana_Luxsa_Figueiredo3.pdf
http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Frontur_2004_2010_MTur_10_12_14_-_Ana_Luxsa_Figueiredo3.pdfhttp://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Frontur_2004_2010_MTur_10_12_14_-_Ana_Luxsa_Figueiredo3.pdf
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Diante disso, a conceituação do turismo de fronteira está ligada a viagem aos
territórios transfronteiriços, entre países para poder aproveitar seus diferentes
potenciais turísticos, quer seja a paisagem natural, aventura, lazer, eventos culturais,
gastronomia entre outros tantos (FERREIRA; TAVARES, 2012, p.3).
Sobre a transfronteirização há diversos entendimentos apresentados por pesquisadores
da área. Ruckert e Gransland (2012, p.94-95) reuniram alguns desses, discorrendo sobre a sua
incorporação nas políticas dos países, promovendo uma mudança positiva aos territórios
transfronteiriços “mesmo em cenários de redobradas vigilâncias sobre as fronteiras, controles
tecnológicos e novas políticas de defesa externa”.
Por transfronteirização entende-se o conjunto de processos de utilização e da
importância dada a uma fronteira, e se materializa quando “los habitantes de ambos lados
transcienden La frontera (impuesta o heredada) y la incorporan en sus estrategia de vida
através de múltiples modalidades” (GUILBERT; LIGRONE, 2006, p.534)
Desse modo, podemos dizer que o turismo de fronteira se trata de uma curiosidade
individual pela cultura do outro, buscando através da experiência empírica, absorver uma
realidade diferente e, portanto, desenvolver um conteúdo de vida.
Para que o turismo de fronteira possa existir e se desenvolver, a integração entre os
territórios é necessária, inclusive enquanto meio de crescimento econômico e
desenvolvimento para o espaço, reforçando os benefícios que o segmento pode proporcionar.
Como discorre Ferreira e Tavares (2012, p. 3):
Sendo esta integração, um elo promotor do crescimento das atividades ligadas ao
turismo, a qual estará inserida em um contexto de desenvolvimento marcado pelo
crescimento econômico e sustentável dos lugares. Além disso, o processo de
integração permitirá aos turistas uma maior acessibilidade e mobilidade entre os
atrativos turísticos existentes nas fronteiras.
A fronteira é um espaço que proporciona e oportuniza o turismo. Isto pode ser
evidenciado nas características de uma fronteira, como apontam Castrogiovanni e Gastal
(2006, p.8), ao expressar que a fronteira é um “espaço de fixos (casas, lojas, praças,
monumentos...)”, mas salienta que é muito mais um “espaço de fluxos: moradores de lado a
lado, turistas, caminhoneiros, comércio, trocas...”. O fluxo de turistas é presente no espaço
fronteiriço.
Tão logo, percebe-se que o turismo de fronteira se constrói em algumas premissas.
Uma delas está ligada à população local, de ambos os territórios fronteiriços que, pelo
cotidiano, transformam o espaço constantemente, visualizando oportunidades, enfrentando
dificuldades, tudo no intuito de sanar suas necessidades, muitas vezes referentes à economia,
haja vista a amplitude de oportunidades que nascem incessantemente na fronteira. A outra
ainda está ligada à população local, mas com vias em atender aos não-residentes, ou seja, aos
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turistas que visitam um destino. Isto porque a fronteira proporciona, em maioria, a
oportunidade do seu desenvolvimento pelo turismo, que atrai visitantes pela dupla experiência
sociocultural em um espaço dinâmico, intrigante e específico.
Isto se dá pelo ambiente de complementaridade exercido pela fronteira, a qual se
adapta ao cotidiano da mesma e incorpora uma relação articulada independente dos centros
urbanos (ARAÚJO, B., 2016).
A complementariedade é, também, expressa na conveniência que a fronteira
oportuniza às pessoas, principalmente aos residentes, que escolhem utilizar as vantagens
proporcionadas pelo outro lado, diariamente (LAMOSO, 2016; ALLIS, 2008).
Casos onde a interação social abrange a econômica, por meio do turismo, têm maior
facilidade em ocorrer no caso das cidades gêmeas, ou seja, municípios que apresentam uma
verdadeira aderência e que se funde em uma zona urbana pulsante, separadas somente por
uma linha política que demarcam os territórios (PRADO,2014). Para efeitos de planejamento,
o status de cidade gêmea é dado a 32 municípios no Brasil, sendo 12 no estado do Rio Grande
do Sul, 7 no Mato Grosso do Sul, 4 no Acre, 3 no Paraná, 2 em Roraima e 1 no Amapá,
Rondônia e Amazonas, sendo que para estes ou qualquer outro espaço fronteiriço tenham
desenvolvimento, há necessidade de formulação de políticas públicas integradas, com diálogo
de ambos os lados (BRASIL, 2016).
Muitas vezes o diálogo ocorre de maneira insipiente, como apontado por Soares,
Scherer e Madruga (2016), ao discorrer sobre a questão da implementação da lei 12.723/2012,
também chamada de lei dos free shops. As autoras expressam a realidade de dois pares de
cidades gêmeas no Rio Grande do Sul, (Chui-BR com Chuy-UR e Jaguarão-BR com Rio
Branco-UR), onde os municípios brasileiros carecem de desenvolvimento, decorrente, em
partes, dos free shops localizados no lado Uruguaio da fronteira, que favorecem os gastos dos
brasileiros por seus produtos serem isentos de tributos, potencializando o turismo de compras
na fronteira. Nesta nuance, é provocada a ideia de que a ausência de integração e
complementariedade em territórios fronteiriços podem desfavorecer a equidade destes
espaços.
Contudo, o turismo de compras na fronteira, quando promovido para benefício do
território fronteiriço bilateral, pode ser um indutor de desenvolvimento ao contemplar
serviços turísticos de um lado (hospedagem, alimentação, transporte, etc) e os produtos
importados com preços atrativos pela isenção fiscal do outro lado da fronteira (além de
alimentação parcial, programas de lazer etc.) (ALLIS, 2008).
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Entretanto, quando há integração pelo turismo, os resultados, ainda que não sejam
ideais, agregam o espaço fronteiriço, como no caso da tríplice fronteira entre Brasil,
Argentina e Paraguai. Biesek e Palhares (2011, p.10) destacam o cenário turístico desenhado
pelo roteiro Iguassu Missiones, primeiro roteiro turístico do Mercosul, sendo “um excelente
espaço para mostrar a integração do Mercosul, e uma oportunidade única de fortalecimento
das relações entre os países e, consequentemente, de estímulo à integração entre seus povos,
na busca da melhoria da qualidade de vida”. As autoras afirmam, ainda, o caráter
desenvolvimentista do turismo para o espaço fronteiriço, o qual deve ser constantemente
construído pela visão integrada entre os países envolvidos.
Banducci Junior (2011), ao apresentar a integração do turismo de fronteira pela cultura
e a identidade entre o Brasil e o Paraguai, traz à discussão do turismo e seus efeitos quando
desenvolvido na fronteira. Em suas palavras:
O turismo, da mesma forma, na medida em que propicia o contato entre distintas
culturas, não apenas promove o encontro e o diálogo de identidades, mas cria
ambientes de negociações e conflitos sociais, de resistência e confrontos políticos
que advêm de condições históricas internas, assim como das contradições colocadas
pela situação de contato entre sociedades e culturas diversas (2011, p.10).
Nesta nuance, o diálogo e a integração propostos pelo turismo fronteiriço, despertam
discussões que devem ser trabalhadas em conjunto no espaço fronteiriço, convergindo para o
benefício comum, onde o “contato propiciado pelo turismo é uma circunstância de
permanentes negociações identitárias e políticas, um contexto marcado por uma linha tênue
entre o intercâmbio e o conflito de ideias e valores históricos, sociais e culturais”
(BANDUCCI JUNIOR, 2011, p.16).
Quando tratamos do turismo de fronteira, enquanto setor de desenvolvimento para o
espaço fronteiriço, não são poucos os exemplos de ocorrência, como no caso do Rio Grande
do Sul, o qual possui maior quantitativo de cidades gêmeas do país, cujo fluxo de chegada de
turistas internacionais foi de 1.080.478 turistas em 2015, 19,04% mais que em 2014, um
verdadeiro corredor de turistas, se compararmos com a entrada de turistas internacionais no
Paraná (758.973 turistas em 2015) e Santa Catarina (149.133 turistas em 2015), ambos na
região sul do país, ou ainda no Mato Grosso do Sul que foi o acesso escolhido por mais de
56.600 turistas em 2015, para entrar no Brasil (BRASIL, 2016).
O fluxo turístico fronteiriço é um movimento de soma e de busca, visto que a fronteira
ganha vida com os saberes e fazeres dos espaços envolvidos, como destacado por Biesek e
Palhares (2011, p.5) “As fronteiras são espaços de justaposição de referentes significados,
significa um espaço entre dois ou mais espaços estáveis que compreende uma grande mistura
cultural”.
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Allis (2008), em seu trabalho sobre o turismo de compras na fronteira do Brasil com a
Venezuela, destaca os atrativos que envolvem o espaço fronteiriço, ressaltando outras
peculiaridades do Estado Bolivar para a atração de turistas, como no acesso as praias
caribenhas. Contudo, ainda que variáveis econômicas como câmbio e isenções fiscais possam
ser de grande importância para o fluxo turístico fronteiriço, estes não são os únicos, pois a
fronteira em si, já desponta como grande atrativo, como destaca o autor.
No estado do Mato Grosso do Sul, os municípios considerados cidades gêmeas são
Bela Vista, Coronel Sapucaia, Corumbá, Mundo Novo, Paranhos, Ponta Porã e Porto
Murtinho. Entre estes, destacamos Ponta Porã cuja cidade gêmea é Pedro Juan Caballero no
Paraguai, com o turismo de fronteira consolidado pelas compras internacionais (PEREIRA et
al, 2014) e Corumbá, que faz fronteira com a Bolívia, cuja presença de turistas no espaço
fronteiriço apresentou crescimento superior a 6% nos últimos quatro anos(CORUMBA,
2016).
Como podemos perceber, conforme conceitos e dados expressos anteriormente, a
fronteira é um meio e não um fim. É um espaço de grande conteúdo e o fluxo existente mostra
sua dinâmica. Uma das dinâmicas existentes na fronteira se materializa pelo turismo, sendo o
turismo de fronteira um grande integrador dos territórios fronteiriços, podendo ser
compreendido como condutor de desenvolvimento, pelo acionamento econômico
proporcionado pela atividade, como será abordado no próximo item.
2.3. Turismo como indutor do desenvolvimento territorial
Para que possa observar o desenvolvimento em um espaço, há de se entender o que
isso configura. Diferentemente de crescimento, que está associado às variáveis quantitativas,
índices e números, o desenvolvimento é muito mais abrangente. No contexto econômico, por
exemplo, crescimento está relacionado ao resultado positivo que o produto interno bruto de
um país apresenta de um ano para outro, já desenvolvimento econômico ocorre concomitante
ao crescimento e proporciona mudanças sociais, sendo estas ligadas a melhoria da qualidade
de vida da população (SIEDENBERG, 2006).
Tão logo, podemos perceber que o desenvolvimento está ligado a mudanças mais
profundas e até mesmo específicas, quando nos deparamos a gama de desenvolvimentos
particulares como o sustentável, rural e o territorial. Lima (2012, p.173) aborda essa
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29
perspectiva multidimensional do desenvolvimento enquanto um avanço na noção
simplificada, sendo que pelo viés territorial:
[...]convida a valorização da dimensão espacial nos processos de planejamento das
políticas públicas, a partir do estreitamento da relação entre Estado Sociedade e do
olhar híbrido e multidimensional sobre o então chamado território.
Ainda enquanto a noção de território, e para o melhor entendimento do
desenvolvimento territorial, Saquet e Briskievicz (2009) tratam o território enquanto a sua
dimensão física, tamanho, localidade, e a territorialidade como o resultado dos processos
produtivos de cada território, efetivadas pelas relações sociais dos que ali habitam ou
transitam. Ou seja, “A territorialidade corresponde às relações sociais e às atividades diárias
que os homens têm com sua natureza exterior. É o resultado do processo de produção de cada
território” (SAQUET e BRISKIEVICZ, 2009, p.8).
Enquanto desenvolvimento territorial, Pecqueur (2005, p.12) define que:
O desenvolvimento territorial designa todo processo de mobilização dos atores que
leve à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na base de
uma identificação coletiva com uma cultura e um território.
O desenvolvimento territorial, apresentado por Pecqueur (2005), incorre da relação
de três afirmações, as quais envolvem o entrosamento dos atores locais envolvidos com
auxílio ou não de políticas públicas e ainda, que tal desenvolvimento seria uma consequência
da globalização, por meio de estratégias, que agiriam enquanto uma promotora das mudanças
no território. O autor sintetiza:
Trata-se de uma estratégia de adaptação na medida em que esse processo é reativo
em relação à globalização. Em outros termos, essa estratégia visa permitir aos atores
dos territórios reorganizarem a economia local face ao crescimento das
concorrências na escala mundial. (PECQUEUR, 2005, p.12)
No Brasil, o conceito de desenvolvimento territorial foi amplamente discutido com
ênfase ao ambiente rural. Kloster e Cunha (2014), ao realizarem um resgate histórico da
segunda metade do século passado, quanto aos movimentos de industrialização urbana e de
modificações das estruturas rurais brasileiras, apontam as políticas públicas que estimularam
o desenvolvimento territorial rural. Nesta nuance, pelo viés das políticas públicas, destacam as
variáveis que abarcam o desenvolvimento territorial, onde há necessidade fundamental de se
considerar os aspectos endógenos do território, bem como a integração do diálogo entre os
agentes envolvidos.
A concepção de desenvolvimento territorial procura valorizar as potencialidades
locais e regionais e observar as variáveis endógenas que podem explicar as
dinâmicas de desenvolvimento diversificadas, concretizadas em trajetórias
particulares destes locais e regiões (KLOSTER; CUNHA, 2014, p.10).
Lima (2012) ainda menciona a renúncia sobre a ação política verticalizada do Estado,
reforçando que o desenvolvimento de um território pode ser alcançado quando os diálogos,
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30
proposições e instituições de políticas públicas passam a ser, prioritariamente, realizados no
espaço, valorizando as peculiaridades existentes e acionando, de maneira endógena, as ações
de desenvolvimento.
Renato Maluf (2010), em sua palestra11
, adiciona a importância da valorização e do
reconhecimento do território, este enquanto construção social, como o resultado da
conformação que prioriza os atores sociais e as especialidades do território, para o alcance do
desenvolvimento territorial.
Para que haja o desenvolvimento territorial, além do estreitamento das tratativas
territoriais para a esfera local, há de se promover a descentralização de políticas públicas e da
tomada de decisão, onde a organização de grupos integrados deve agir como demandantes de
ações, agentes cobradores de soluções para o território, mas também sejam ofertantes
propositivos, colaboradores de soluções para o desenvolvimento territorial.
Ainda, para que ocorra o desenvolvimento territorial, é vital a interação e integração
do território compreendido, respeitando os agentes locais e sua história. Saquet e Briskievicz
(2009, p.15) sustentam que:
Desenvolvimento territorial significa considerar, tanto no nível teórico como no
real, os componentes do território e da territorialidade numa concepção renovada
histórico-crítica e o desenvolvimento como processo histórico de luta pela conquista
de melhores condições de vida, seja no campo seja na cidade.
A interação e o aproveitamento do território, enquanto suas potencialidades, está
ligada a diversificação das atividades que possam ser aperfeiçoadas no território, pois dessa
forma “surge a possibilidade de inovação com projetos de natureza estratégica, despertando os
potenciais locais que podem vir a gerar riquezas[...]surge a possibilidade da criação de novas
atividades econômicas não agrícolas como o turismo”. (KLOSTER; CUNHA, 2014, p.12)
Abella (2008, p.105), em sua tese sobre o turismo e o desenvolvimento territorial,
corrobora ao conceito das novas formas de uso do território, por meio das variáveis
endógenas, para o desenvolvimento, onde “las estrategias de desarrollo local, apoyándose en
una nueva conceptualización del espacio, hallanen el territorio un recurso y un potencial de
desarrollo endógeno”. O autor ainda contribui ao discorrer que o turismo passa a converter-se
em um fator de desenvolvimento de territórios antes excluídos, indo de encontro com a
demanda globalizada, estimulada por novos espaços.
Atingir o patamar de desenvolvimento, considerando um espaço fronteiriço, pode
apresentar sua complexidade, visto que o diálogo necessário para a obtenção deste patamar
precisa envolver todo o espaço fronteiriço, ou seja, ambos os lados do limite fronteiriço,
11
IV Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial
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31
sendo este um diálogo integrado no território, bem como a descentralização das proposições e
políticas públicas.
Nesta nuance, ainda que conceituando amplamente o tema, José Luis Coraggio
(1997, p.10) defende a integração necessária para o desenvolvimento, sem que haja a
necessidade de um novo setor socioeconômico, mas sim “de verlo como un eje-interactuante
con otros subsistemas económicos: la economía empresarial capitalista, la economía
públicadel desarrollo de la sociedad y la economía local en su conjunto”
O desenvolvimento do território está intimamente ligado as mudanças sociais que
promovem a construção e apropriação territorial. Essa visão, definida por Cammarata (2006),
coloca o turismo como gerador de efeitos sociais, e suas práticas “constituy em implicâncias
territoriales económicas, sociales y de modo de vida”. A autora ainda discorre que o
diferencial está no uso do território pelo homem, sendo que a atitude natural deste não é de
guardar coisas sem antes usar, mas sim de dar uma nova vida e reutilizar. Neste contexto, a
chave está no processo de utilização de um território e das atividades turísticas, “que éstas se
conviertan em herramientas para el desarrollo” (CAMMARATA, 2006, p.354).
Um espaço fronteiriço apresenta, por si só, ganhos de competitividade no
desenvolvimento, haja vista sua funcionalidade e oportunidades implícitas na
transfronteirização, acarretando vantagens para induzir ao desenvolvimento. Exemplo disso
foi destacado por Ruckert e Grasland (2012), ao abordarem conceitos sobre a pujança
constante da fronteira, que se reinventa com frequência, se abrindo e/ou fechando, garantindo
seu papel fundamental para o espaço fronteiriço12
.
Ser um indutor de desenvolvimento é entendido como ser um promotor deste,
proporcionando ganhos para si e para quem está próximo. No turismo, um destino indutor de
desenvolvimento tem a capacidade de atrair ou distribuir um fluxo de turistas para seu
entorno, por meio da infraestrutura básica e turística instalada e seus atrativos, granjeando
valências para todo o território (EMMENDOERFER et al., 2012).
Cabe ressaltar como o turismo vem sendo utilizado como meio de desenvolvimento
de diversos países, de grandes ou pequenas dimensões, como destaca Chicico (2012, p.14):
“O turismo é uma atividade que tem sido apontada como estratégica para impulsionar o
desenvolvimento tanto de nações hegemônicas, bem como das nações periféricas”. A autora
ainda contextualiza, por meio da revisão de literatura, a postura de diversos pesquisadores que
entendem o turismo enquanto um vetor de desenvolvimento, sendo este um produto que
12
AMILHAT-SZARY, Anne-Laure. Les frontières: peuvent-ellesêtre mobiles ...et comment? XIth BRIT
Conference. Geneva, Grenoble. 6-9 Septembre 2011.
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contribui significativamente no contexto da economia mundial, bem como sendo um meio de
melhoria social (CHICICO, 2012, p.36).
Para que um espaço seja compreendido enquanto desenvolvido, as variáveis
econômicas estão implícitas no processo, visto que a melhora na condição de vida da
população tem relação com a melhoria na renda e na cesta de consumo que possam adquirir
(ROSSETTI, 2010). Muitas vezes um setor pode promover saltos de crescimento, inclusão
social e envolvimento de outros segmentos, possibilitando o desenvolvimento através dele,
como o caso do turismo.
Kunz (2012, p.8-9) apresenta elementos que auferem ao turismo o potencial de
indutor de desenvolvimento, mencionando a ação includente da sua cadeia produtiva. Em suas
palavras:
O turismo tem sido apontado, desde há muito anos, porém com um vigor cada vez
maior, como um setor da economia dos mais promissores, tanto pela extensão da sua
cadeia produtiva, quanto pelo efeito multiplicador que desencadeia, configurando,
assim, importantes oportunidades de mercado e alternativa de desenvolvimento
econômico.
Como papel de indutor de desenvolvimento territorial, Beni (2007) entende que o
turismo segue como promotor, gerando fluxo de divisas em seu entorno. Para Moesch (2000,
p.100) pode ser um recurso estratégico e neutro, do ponto de vista político, resultando num
maior equilíbrio, no que tange ao nível de renda, infraestrutura, justiça social e qualidade de
vida da população envolvida. Em suas palavras, “o turismo seria capaz de “diluir divisores
físicos” e “limites políticos” e tem cumprido, além disso, o papel de “alavanca simbólica” de
desenvolvimento integrado, atuando, também, como “balizador da integração regional”.
Ainda cabe salientar que o turismo, enquanto indutor de desenvolvimento territorial,
proporciona uma gama considerável de empregos, diretos e indiretos, como exemplo do
período de 2002 a 2008, onde a taxa de crescimento anual das ocupações formais e informais
na cadeia produtiva do turismo foi de 3,6%, superando a média nacional de 2,6%, conforme
apontou o Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada-IPEA (IPEA, 2010, p.334).
Buscando retratar, de forma clara e precisa, a função desenvolvimentista e
integradora que o turismo tem capacidade de apurar, o próximo tópico tem a finalidade de
expor algumas tratativas coadjuvadas pelo turismo, com ênfase em espaços fronteiriços.
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33
2.4. Diálogos e cooperação fronteiriça
As discussões apresentadas, acerca da interação e o uso do território, convergem em
um fator principal: a necessidade de diálogo. Os diálogos entre territórios, fundamentais para
o pensar e o envolver, requerem algumas premissas críveis para sua efetividade. Costa e Costa
(2015) discorrem sobre o assunto, apontando o que já fora mencionado no item 2.3, acerca da
descentralização do estado na tomada de decisão, bem como reforça, corroborando com Fuini
(2012), quanto à necessidade de articulação dos agentes entre territórios, com destaque aos
territórios fronteiriços.
Costa e Costa (2015, p.1) ainda reforçam que essa articulação pormenorizada,
intensifica os processos para tomada de decisão, ancorados na gestão participativa “que
atendam as singularidades e particularidades de cada território”.
Ao se considerar a comunicação presente em um espaço fronteiriço, levanta-se
inquietações sobre de quais formas ela pode ocorrer. Para pensar em um desenvolvimento de
fronteira, deve-se pensar em inclusão, fundamentalmente, pois sem ela a fronteira poderá
pender o desenvolvimento para um só lado. Para este trabalho, consideraremos as
colaborações acerca da mobilidade na fronteira, enquanto premissa de diálogo e indutor para
o processo de desenvolvimento.
Pensar fronteira é pensar em mobilidade, como menciona Benedetti (2011, p. 3)
quando considera uma relação contraposta em que a existência da fronteira depende da
mobilidade que ela promove, pelo simples fato de existir, onde “existe, pues, uma relación
dialéctica entre movilidad y frontera: los lugares de frontera atraen movilidades y las
movilidades dan vida a esas localizaciones”. O autor ainda sintetiza que há fronteira caso haja
mobilidade, e que esta é condicionada ao interesse de se conectar com o que está do outro
lado da fronteira.
Contudo, vale ressaltar que muitas vezes, infortunadamente, a fronteira é associada e
resumida a espaços de tensão, desconforto, militarização e fiscalização, que restringem e
limitam o seu desenvolvimento (PAIXÃO, 2006).
Todavia, conforme os referenciais trazidos neste trabalho existem estudos e pesquisas
que retratam as potencialidades das fronteiras, tais como os interesses que surgem entre os
residentes no espaço, pelas oportunidades que se apresentam “do outro lado”. Neste contexto,
a amenização da hostilidade desenhada na fronteira, ocorre em uma verdadeira relação de
troca entre os lados, onde deve prevalecer o diálogo convergente ao desenvolvimento comum.
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Andreatta (2016) aborda o “vanguardismo da cooperação transfronteiriça” nas regiões
européias, que sofreram diversas transformações após a segunda guerra mundial13
. Nela, o
autor relaciona o uso dos territórios e os fluxos de materiais, recursos financeiros e
informacionais, os quais “desencadearam experiências de integração pacífica e voluntária,
sendo de longe, respostas significativas e de maior alcance em direção à concepção de
cooperação para o desenvolvimento” (ANDREATTA, 2016, p.47).
Este diálogo de cooperação fronteiriça ganhou força com o processo de globalização
mundial, que passou a provocar a aproximação entre os países na busca pelos seus interesses
(MARTINS, 2008). A autora relaciona a globalização e a aproximação, com a integração
entre os envolvidos, enquanto uma consequência dessa relação que, conforme Tomassini
(1988) provocou uma queda das prerrogativas nacionais, em vista de comunidade mundial.
Martins (2008, p.13) aponta que os diálogos de cooperação fronteiriça podem ocorrer
por dois estímulos econômicos:
[...] o das atividades comerciais, porque com a regionalização se conforma um
espaço protegido e seguro à realização das mercadorias dos países membros; os
investimentos, pois as regiões integradas tendem a aumentar a área de atuação das
empresas transnacionais, impulsionando com isso a estruturação de um mercado
regional.
Corroborando, Ferreira e Tavares (2012, p.2) discorrem sobre as oportunidades que
surgem nas fronteiras, que teve seu início “com o processo de integração econômica que tais
oportunidades começaram a surgir”.
É sabido que a economia está intimamente ligada ao desenvolvimento, e na fronteira
não é diferente. As diferenças de cultura, que normalmente já dinamizam a mobilidade entre
os lados, são potencializadas pela economia e os atrativos postos por ela em uma efetiva
relação de troca, como exemplifica Cavalcante (2014) ao estudar a fronteira de Pacaraima, em
Roraima (Brasil) e Santa Helena de Uairén, na Venezuela. No seu estudo, a autora apresenta o
consumo realizado pelos brasileiros no país vizinho, como serviços de táxi, por exemplo, com
taxas de serviço atrativas que auxiliam a manutenção da oferta do referido segmento, bem
como se beneficiam no consumo do combustível venezuelano, cujo valor é retratado como
insignificante pela autora, estimulado em determinadas épocas, pelas variações no câmbio.
Exis