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A interação dos professores com arte br Dra.Moema Martins Rebouças Programa de Pós-graduação em Educação da UFES Eixo temático: Educação e Linguagens. Categoria:Comunicação Palavras chaves: arte e educação; formação continuada; semiótica e ensino. 1.Justificativa Desde 2003, ocasião de lançamento de arte br 1 , Anamélia Bueno Buoro, Lucimar Bello Frange e eu, temos investigado a sua inserção no universo escolar a partir da sua proposição educativa. Destaco nessas pesquisas a preocupação em desvelar arte br, tomando-o enquanto um texto fundamentado e construído na e pela semiótica de linha francesa, portador de um modo de ver e propor a leitura da arte aos professores do ensino básico e a seus alunos, próprio. Nas pesquisas realizadas, tendo como referencial teórico essa semiótica optamos por investigar algumas questões que nos inquietavam como propositoras de um material educativo de tamanho alcance, (uma edição de 20.000 exemplares), distribuído a professores de arte e às escolas das várias regiões de nosso país. A primeira delas era de explicitar aos educadores os conceitos presentes no material tais como o de leitura, de obra de arte como texto visual, de percursos de leitura visual, de intertextualidade, da relação texto contexto, da discursividade, entre outros norteadores e presentes em arte br. Investigamos também a própria 1 arte br é um material educacional trabalhado por uma equipe composta por Anamélia Bueno Buoro, Moema Rebouças, Lucimar Bello Frange, Eliane Atihé, Bia Costa e Beth Kock, para professores de ensino fundamental e médio (através do Instituto Arte na Escola em São Paulo). Esse material está ancorado nas pesquisas de Anamélia, Moema e Lucimar, dentro do Atelier de Semiótica e Ensino das Artes Visuais, junto ao CPS/COS/PUC/SP.

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A interação dos professores com arte br Dra.Moema Martins Rebouças

Programa de Pós-graduação em Educação da UFES Eixo temático: Educação e Linguagens. Categoria: Comunicação Palavras chaves: arte e educação; formação continuada; semiótica e ensino.

1.Justificativa

Desde 2003, ocasião de lançamento de arte br1, Anamélia Bueno Buoro,

Lucimar Bello Frange e eu, temos investigado a sua inserção no universo escolar

a partir da sua proposição educativa. Destaco nessas pesquisas a preocupação

em desvelar arte br, tomando-o enquanto um texto fundamentado e construído na

e pela semiótica de linha francesa, portador de um modo de ver e propor a leitura

da arte aos professores do ensino básico e a seus alunos, próprio. Nas pesquisas

realizadas, tendo como referencial teórico essa semiótica optamos por investigar

algumas questões que nos inquietavam como propositoras de um material

educativo de tamanho alcance, (uma edição de 20.000 exemplares), distribuído a

professores de arte e às escolas das várias regiões de nosso país. A primeira

delas era de explicitar aos educadores os conceitos presentes no material tais

como o de leitura, de obra de arte como texto visual, de percursos de leitura

visual, de intertextualidade, da relação texto contexto, da discursividade, entre

outros norteadores e presentes em arte br. Investigamos também a própria

1 arte br é um material educacional trabalhado por uma equipe composta por Anamélia Bueno Buoro, Moema Rebouças, Lucimar Bello Frange, Eliane Atihé, Bia Costa e Beth Kock, para professores de ensino fundamental e médio (através do Instituto Arte na Escola em São Paulo). Esse material está ancorado nas pesquisas de Anamélia, Moema e Lucimar, dentro do Atelier de Semiótica e Ensino das Artes Visuais, junto ao CPS/COS/PUC/SP.

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estrutura do material que possui um curador, que reúne obras por temáticas,

entretanto são produzidas por artistas diferentes, em épocas e locais distintos,

assim como os diversos meios de expressão e suportes. Com tantas diferenças

quais as relações estabelecidas entre elas e como elas se apresentam ao olhar

leitor? Além destas, uma outra questão nos preocupava: se o objetivo do arte br é

a formação do leitor de imagens como o material propõe a leitura? Há um

argumento de autoridade, submetido a uma ocultação/dissimulação para cortejar e

manipular o leitor?

Os resultados dessas pesquisas foram apresentados em encontros de

pesquisadores como os da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes

Plásticas ( ANPAP) e do Centro de Pesquisas Sociosemióticas( CPS) entre 2001 a

2005, e as trocas realizadas com outros pesquisadores possibilitaram

aprofundamentos tanto no âmbito da pesquisa educacional como da

sociosemiótica. Considerarmos a pesquisa como processual, pois se manifesta de

maneira sempre incompleta e freqüentemente defeituosa nos discursos que

produz e, se considerarmos que todo fazer pressupõe um saber-fazer ( ou um não

saber-fazer ): o pesquisador em sua performance, embora dotado de um saber e

de um poder fazer é antes de tudo um sujeito em construção permanente.

Nas pesquisas citadas, tendo como objeto de análise o arte br, desvendou-

se a sua organização narrativa e o percurso temático da enunciação figurativizado

nas diferentes obras que compõem o material educativo. Na organização narrativa

estão presentes dois subtemas, o da produção e o da comunicação nos quais se

desenvolvem todas as atividades humanas2. O eixo da comunicação abrange a

ação do homem sobre outros homens e as relações intersubjetivas; o eixo da

produção, a ação do homem sobre as coisas transformando-as ou construindo-as.

O que propomos agora é a inversão das posições, do ponto de vista de

percepção do material educativo. Nos interessa analisar como os destinatários de

arte br, os professores, perceberam, interpretaram e se apropriaram dele. Para

tanto vamos analisar os discursos dos professores no Fórum sobre o material 2 Cf.Barros, Diana. Teoria do discurso. São Paulo: Ed.Atual, 1988.

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educativo arte br lançado em 2005 pelo Instituto Arte na Escola no site

www.artenaescola.org.br contendo duzentas e onze intervenções/”falas”3

suscitadas. Escolhemos as “falas” do fórum pela facilidade de acesso, exige um

computador ligado na rede; pela peculiaridade como instrumento de pesquisa pois

nele há uma espontaneidade, diferente da entrevista em que é o pesquisador

quem procura os sujeitos, aqui, não se trata de uma exigência, participa aqueles

interessados e dispostos a interagir com outros mediados pelo computador;pela

abrangência, pois contou com a participação de professores com diferentes

expectativas e experiências de docência, correspondendo desse modo a própria

inserção do material educativo e a sua destinação: professores que atuam no

sistema escolar e não especificamente aqueles que possuem formação de

licenciatura em artes. O que nos interessa aqui, são os profissionais da educação,

que ministram as aulas de arte no ensino básico, possuidores eles próprios ou

suas escolas, do material educativo em questão. Se tomarmos como referência o

estado do Espírito Santo, dados de uma pesquisa4 coordenada por mim e com a

participação dos alunos de graduação, junto aos professores de artes do nosso

sistema público em 2004, ( estadual e municipal), excetuando os municípios que

compõem a Grande Vitória, há nos demais uma média de noventa por cento (

90%) de professores que ministram as aulas de arte, contudo, não possuem

formação específica. Portanto, embora o que revela uma contradição com a

legislação vigente que exige para o ensino fundamental o professor graduado, o

que encontramos nos sistemas de ensino são professores sem formação na área

que lecionam Arte. Como a “realidade” do sistema de ensino do nosso estado não

se apresenta diferente de outros estados brasileiros, e como desde o projeto de

3 Fala ou vozes dos professores são termos que designam as opiniões, os envolvimentos, planos e descrições de ações de modo verbal escrito e que serão interpretados e analisados por nós. 4 A pesquisa é o “ Retrato do professor de artes do Espírito Santo” realizada com os alunos da Licenciatura

em Artes Visuais:Alexsandra Cristóvão,Elisandra Carvalho dos Santos,Julia Franco Emerich de Andrade e

Rosa Maria Pereira Bastos junto à aproximadamente 1400 professores do sistema público de ensino de todo o

Espírito Santo.

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arte br em 2001, a nossa pretensão era dar conta dessa problemática que permeia

o ensino da arte no Brasil, interessa-nos, sobretudo, dialogar com esse

profissional que atua nas salas de aulas desses “Brasis”. Retornamos a eles e às

suas “diferentes falas” que circularam no Fórum. Desse modo, a nossa questão

principal é investigar os regimes de interação nas práticas sociais,

especificamente nas “falas” dos professores sobre o arte br., como eles

descrevem as suas próprias experiências com o material educativo, as suas

“formas de falar” de si e do outro(incluindo aqui, os demais sujeitos que interagem

com ele, como outros professores, funcionários da escola e os seus alunos).

II.Objetivos iniciais

.O que falam os professores no fórum arte br?

.Quais as questões temáticas mais citadas pelos professores sobre arte br,

considerando sua apresentação gráfica, as obras presentes, a leitura proposta

pelos destinadores e os percursos visuais e de leitura?

.Como se dá a interação do professor com o material educativo?

III.Metodologia

Tendo como objeto de pesquisa as duzentas e doze (212) visitas5 no fórum

sobre arte br durante o ano de 2005 no site citado, pensamos em investigar,

inicialmente a “recepção” do material educativo e as questões apontadas pelos

professores, suas dúvidas, expectativas e experiências manifestadas durante as

suas participações no fórum. Qual caderno de estudo foi mais citado?Existe uma

motivação para a escolha de um caderno? A relação estabelecida entre o

professor e o material educativo é de qual ordem? Da liberdade ou do

direcionamento? Estas podem ser questões possíveis, entretanto, o objetivo do

estudo é justamente o de escutar as “falas” para delas extrair o sentido. A

5 Visitas é o termo usado para o sujeito que acessa um site/página eletrônica na internet.

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semiótica discursiva possibilitará com seu arcabouço teórico e metodológico a

realização das análises, “compreendendo a existência humana na linguagem, não

mediada pela linguagem, não possível através da linguagem, mas na linguagem

(...)”6. A metodologia de análise da semiótica recupera as coerções, as

possibilidades e impossibilidades, assim como a rebeldia e a recusa que

caracterizam a vida social. Se na escola há uma ordem e uma hierarquia de

valores aceitos e que devem ser seguidos, entre eles a imposição de uma grade

curricular que contempla mais uma disciplina do que outras, se o entre lugar é o

de Artes? Se os materiais educativos muitas vezes são impostos, pelo sistema de

ensino? Se as tentações, provocações e seduções são freqüentes e aceitas de tal

modo que definem os caminhos, as ações, moldam o modo de ver e perceber o

mundo, e, ainda que, ilusoriamente, pensamos que temos a nossa vida sob

controle. Se há, segundo Teixeira uma oscilação entre manipulações de diferentes

ordens, e nossa luta cotidiana não se dá entre o “, (...) bem e o mal, certo e o

errado como escolhas possíveis e objetivas mas é a luta de estar imerso em

linguagem e viver no entrechoque de redes discursivas”.7 É com este olhar, imerso

na aventura humana que se realiza nos textos que as “falas” dos professores

serão analisadas. Para tanto contaremos com a contribuição de vários

semioticistas como Eric Landowski e os estudos sobre os regimes de interação

nas práticas sociais, e os estudos sobre a enunciação desenvolvidos por José Luiz

Fiorin.

IV.Abrindo o Fórum: para participar você precisa se r cadastrado

O enunciado do subtítulo é o mesmo que antecede a entrada no Fórum, ou

seja, há uma exigência e uma primeira prova a ser vencida para a participação no

Fórum: você precisa ser cadastrado. Tal qual um programa narrativo, onde ocorre

uma sucessão de estados e transformações, de encontros, de rupturas e de

6 Teixeira, Lúcia.Fundamentos teóricos para um estudo da argumentação em semiótica. Anais do Congresso Internacional da ABRALIN, março de 2001. 7 Ib.dib.

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contratos em que um ou mais sujeitos em presença persuadem um ao outro, ou

outros a agir, esse enunciado mais que um convite impõe uma lei, uma regra que

tem de ser cumprida,para em um segundo momento, poder participar e

estabelecer as trocas com o computador e com outros sujeitos.

Primeiramente, ele precisa ligar o computador, plugar na internet no site

www.artenaescola.org.br e se não estiver cadastrado, resta a ele duas opções: a

de desistir ou de enfrentar e cumprir essa primeira prova. Nele a entrada do

tópico: Elaboração de projetos de Arte com apropriação do Material arte br e a

mensagem de boas vindas de Mônica Kondziolková aos visitantes,( para quem

não a conhece pessoalmente dos encontros anuais promovidos pelo IAE, encontra

informação sobre ela no site, lá em Equipe da Rede Arte na Escola): “Caros

professores, sejam bem–vindos a este fórum que dará continuidade ás discussões

sobre a elaboração de projetos de arte com apropriação do material arte br. Este

foi o tema da última conferência promovida no último 2 de setembro pelo Instituto

Arte na Escola e pela coordenadoria de Estudo e Normas pedagógicas da

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, através da Rede do Saber. (...)”.

Na mensagem da Mônica as marcas de actorialização, espacialidade e

temporalidade. A indicação de uma anterioridade, de uma proposta de

continuidade e de um fechamento no campo investigado: embora esteja na

internet, local de livre-acesso, o fórum destinou-se a determinados propósitos e

sujeitos, àqueles professores que estavam na videoconferência e que foram

diretamente convidados a “ trocar experiências, dúvidas, inquietações e para obter

dicas e sugestões das arte-educadoras, colaboradoras do IAE que estiveram na

Vídeoconferência do dia 2 de setembro(...)Elas estarão acompanhando as

discussões e animando este fórum(...)”.

De posse destas informações a exigência de um recorte nos sujeitos

investigados, pois o que nos interessa aqui são as “falas” dos professores,

deixaremos como possibilidade futura, em outra investigação o aprofundamento

das “falas” das colaboradoras do IAE.

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Iniciada a pré-leitura do material de análise, concluo que nas duzentas e

doze (212) visitas no fórum encontram-se diferentes sujeitos que desempenham

diferentes papéis: duas (02) pertencem à equipe do IAE, quatro (4) são as arte-

educadoras8 colaboradoras do IAE, e trinta e um (31) são professores. No

universo dos professores, temos vinte e seis (26) mulheres e cinco (05) homens. A

solicitação de identificação dos participantes/professores feita por Mônica (IAE) foi

do nome e da Diretoria de Ensino, constatamos então que, além daqueles

previamente convidados que assistiram à Videoconferência e pertencem ao

quadro de professores do estado de São Paulo, participaram duas professoras:

uma do estado do Rio de Janeiro e outra de Minas Gerais.

Continuando o nosso recorte, o número de visitas, realizado somente pelos

professores ao fórum totalizam noventa e sete (97). Alguns participaram

somente uma vez e, teve uma professora que participou quarenta e quatro (44)

vezes. Essas noventa e sete (97) visitas, que vão constituir o nosso corpus de

análise.

V.Interação?

Antes da entrada em nosso corpus, o esclarecimento de alguns conceitos

para a sociosemiótica como o de interação tal como aparece no Dicionário II9

:

“ Os sujeitos da interação são sujeitos modalizados, inquietos, tensos,

motivados que assinalam para objetos igualmente modalizados....”

“ A comunicação na interação se converte no lugar das manipulações

modais e cogniscitivas em que não há informação neutra, onde os

sujeitos competentes e modalizados tratam de persuadir-se e

interpretar-se mutuamente”

8 Denomino arte-educadoras distinguindo dos professores de arte, também arte-educadores a quem o fórum foi destinado. 9 Greimas, Algirdas&Courtés,J.Diccionário Razonado de la teoria del lenguaje.Madrid,E.Gredos,1991,p.142.

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“ A interação é uma transformação mútua e sucessiva da competência

modal e cogniscitiva dos sujeitos postos em presença, um do outro”

Daí, depreende-se, que a interação envolve uma transformação de estado,

que se dá no ato em que pelo menos, dois actantes são colocados em relação, um

é o operador e o outro o objeto do fazer transformador considerado10. Envolve

duas dimensões: a pragmática do fazer, figurativizada aqui pelo professor

modalizado para interromper suas ações cotidianas, que pode e quer ligar o

computador e acessar o site para interagir com o próprio computador e lá,

plugado, com outros. O computador assim, não é um mero objeto mediador entre

dois sujeitos quaisquer, mas apresenta-se ele mesmo, como dotado de valores

investidos por quem interage com ele, com dispositivos modais da ordem do

poder sentir e do fazer sentir , que podem englobar efeitos passionais como

medo, angústia, provocados pela espera de um contato, das dificuldades de

manuseio da informática, da própria novidade, ou ainda provocar outros estados

como alegria, por estar em contato com outros, pela facilidade de acesso, pela

possibilidade de conhecer e entrar em contato com outros professores, com as

colaborados. A segunda dimensão, que não exclui a primeira, é cognitiva

envolvendo as relações actanciais entre os parceiros e de seu universo contextual

comum enquanto espaço significante. Nela ocorrem as manipulações e as

transformações mútuas entre os actantes dotados de competências modais para

querer, dever, poder, fazer e o desenvolvimento de papéis temáticos. Como afirma

Landowski 11”(...) são essas determinações sintáxicas e semânticas que, uma vez

assumidas por ambas as partes garantirão aos sujeitos suas capacidades

respectivas de interação, ou de manipulação seu poder fazer fazer enquanto

seres de linguagem”.

Outra questão que precisa ser esclarecida aqui é a opção metodológica

pela sociosemiótica adotada nessa pesquisa.

10 Cf. Ladowski,Eric.A sociedade Refletida:ensaios de sociosemiótica. São Paulo:EDUC/Pontes,1992, p.149. 11 Op.cit,p.149.

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Embora tenhamos feito questões à priori interessa-nos aqui sobretudo, não

restringir-nos a uma análise textual considerando as “ falas” dos professores como

enunciados e neles, tal como uma análise do discurso apreender nas reiterações o

dito. O que buscamos aqui é o “discurso, enquanto ato de enunciação efetuado

em situação e produzindo sentido”12. Portanto, não poderíamos isolar as “falas” de

seus contextos, nesse caso uma interação entre diferentes sujeitos realizada e

mediada pela internet, nem tampouco postular uma relação determinista entre os

dados externos, ou como fala Landowski os “estados de coisas reais” como

possuidores de poderes explicativos. Para o pesquisador as “relações só podem

ser da ordem da determinação recíproca e dialética: um discurso só adquire

sentido enquanto reconstrói significativamente, como situação de interlocução, o

próprio contexto no interior do qual se inscreve empíricamente sua produção ou

sua apreensão”13. Ora, se retiramos as “falas” dos professores de seu macrotexto

“escola”, de um instrumental de pesquisa que são as entrevistas em que o

pesquisador dirige-se e desloca-se ao encontro dos sujeitos, e optamos por uma

outra via, talvez mais distanciada pois abrimos mão da proximidade física de um

procedimento de pesquisa anteriormente citado. Nos distanciaremos ainda mais

se considerarmos que não participamos da comunicação estabelecida entre os

sujeitos no fórum, optamos pelo acesso às discussões depois que elas ocorreram.

Não estaríamos mais distanciados ainda se desconsiderássemos as situações

contextuais de interlocução? Um fórum em que o espaço do encontro é o de um

computador plugado na internet, muda o seu sentido, ou os seus sentidos? Um

texto deslocado de seu contexto torna-se outro, em função do macrotexto que

ordena a cada momento uma certa maneira de ler essas falas ou de analisá-las?

Tais questões emergem de um regime de apreensão das coisas de situações

que condicionam a emergência dos efeitos de sentido específicos deste ou

12 E. Landowski.Presenças do outro: ensaios de sociosemiótica.São Paulo.Ed:Perspectiva, 2002, p.166. 13 Op.cit.p.166.

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daquele objeto. Sendo assim, o contexto semiotizado define-se como um

dispositivo gerador de significação, e que só se dá em ato, em situação.

Para debater e problematizar essas questões, Landowski nos trás como

observação exemplar o discurso da carta, aqui temos como objeto um fórum em

que não existe a obrigatoriedade na participação, mas é um modo desses sujeitos

encontrarem-se, esclarecerem suas dúvidas, inquietações, se apresentarem

fazendo de suas “falas” uma presentificação., um fazer ser entre sujeitos , ou

ainda fazer com que semioticamente se tornem presentes.

VI.Visitas e mais visitas 14.

Esclarecido o nosso referencial conceitual, retornamos ao nosso corpus

situando as “falas” dos sujeitos. O nosso recorte analítico, se dará inicialmente

pelo quantitativo: entre os trinta e hum (31) participantes do fórum, em suas

primeiras visitas ao site; oito(8) pretendiam esclarecer dúvidas como no

seguinte relato:” Oi, sou Adelaide e estou com alguns probleminhas, aí

vão(...)”;cinco (5) para solicitar informações tais como:” Infelizmente no dia da

videoconferência , eu estive com meus alunos na sala São Paulo para assistir ao

ensaio da orquestra, compromisso esse agendado desde o início do ano e

impossível de desmarcar.”; 10 (dez) para relatar experiência como a Belina, que

após apresentação de seu nome e escola escreve: “ Atividade desenvolvida com

duas turmas do 1º ano EM com uma média de 40 alunos por classe.” Oito ( 8)

contam da satisfação com a possibilidade de troca q ue o fórum possui para

eles , como : “Sou Roberta, professora de uma escola municipal do Rio de Janeiro

e estou muito satisfeita de participar deste Fórum e do trabalho que o Arte na

escola desenvolve.”

Após essa entrada em nosso corpus, com o objetivo de situar os nossos

possíveis leitores nesse outro universo, dos discursos dos professores, vamos

14 Os nomes usados aqui são fictícios e as “falas” estarão em itálico e entre parênteses.

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retornar aos quatro temas recorrentes e neles analisar as dimensões da interação

citadas aqui, os papeis temáticos desenvolvidos, e os dispositivos modais

presentes. Iniciaremos por um percurso que vai do mais superficial, ou seja

aqueles que restringiram-se a uma dimensão pragmática de visitantes do site,

sem envolverem-se num poder fazer uma transformação sucessiva e interativa

com o material objeto de criação do fórum que é o arte br; àqueles que numa

dimensão cognitiva aceitaram uma manipulação contratual , um fazer fazer que

passou pela troca actancial realizada por um fazer crer.

VI.1-Fazer parte.

Reunimos aqui, as “falas” daqueles que com o intuito de solicitar

informações e esclarecer dúvidas visitam o site, para eles mesmos tornarem-se

presentes. Em sua maioria seguem a recomendação solicitada por Mônica para a

realização de suas apresentações, agindo assim, aproximam-se dos demais

participantes, realizando nesse ato a sua identificação como integrante do grupo

destinatário, de participante da conferência, de recebimento do material, mas

contudo, não se aproximam um do outro, pois não é um e-mail entre amigos, ou

conhecidos, nem em um poder fazer. Cada discurso é realizado numa tripla

debreagem: actancial, contendo a sua identificação, seu nome; espacial, de onde

fala, de qual escola, setor e cidade e temporal, pois a data fica impressa acima da

“fala” antecedendo a apresentação. Outra característica destes depoimentos é a

sua única entrada/visita ao site e esse ato, atualiza os sujeitos nessa interação

que é o de participar, se há uma expectativa de retorno das colaboradoras, ela

não é atualizada em nova visita, em outras questões. Contudo, o tom é de euforia

e a maioria dos enunciados inicia com um Olá!, o que provoca um efeito de

intimidade ao outro. A seguir, algumas dessas “falas”:

“Olá, sou da DE e trabalho no CENEART. Estamos gostando muito deste

projeto. A pasta arte br é muito rica em conteúdo, até a próxima VC””

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Essa visita, inclui em anexo a foto dos participantes da Vídeo Conferência

em Osasco. Reitera assim a sua participação também pela visualidade e sua

inclusão num grupo local, de sua cidade.

Uma outra ao fim de seu depoimento diz: “ Agradeço imensamente a

oportunidade de estar aqui”.

“Oi pessoal, estou feliz em participar do Fórum e poder manter-me em

comunicação constante com vocês. Sou Maria, da DE de Assis e além de ter

participado das videoconferências, estive em São Paulo, nas férias, participando

de um curso sobre projetos-material arte br.Foi muito bom...”

“Caros amigos do arte br. Estamos muito entusiasmadas com esse maravilhoso

projeto e queremos logo que possível aplica-lo com os alunos”.

Ainda incluído aqui, como de uma interação pragmática, um dos

integrantes que nem mesmo cumpriu o programa de apresentação proposto pelo

IAE, sua comunicação aproxima-se daquelas cartas de negócios, em que

nenhuma intimidade pode existir na relação actancial entre os sujeitos que se

comunicam.

“Por favor como realizo a minha inscrição nos cursos gratuitos e onde serão

realizados?”

Abaixo o seu nome, e endereço eletrônico. Esse participante não está em

um Fórum de debate, encontra-se distanciado, simplesmente quer uma

informação e, como se plugasse num site deste tipo, a solicita.

2.Um fazer-parte no querer e no dever fazer.

Na dimensão cognitiva incluímos aqueles que encontram-se modalizados

pelo fazer, pelo querer e pelo dever-fazer e, no espaço/tempo do fórum ocorrem n

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as manipulações e transformações mútuas. Elas ultrapassam a dimensão

pragmática e nesse ato, acima de outras modalidades querem “algo” em troca,

diferenciando-se assim do primeiro grupo apresentado aqui anteriormente. Há

também nesses discursos uma apresentação de si, uma exaltação de suas

qualidades pessoais como a persistência, o engajamento nos projetos

institucionais, suas intenções e até seus sentimentos15.

As “falas” podem ser divididas incluindo, primeiramente, os que querem

participar, mas não estão incluídos, pois não possuem o material arte br, como as

seguintes:

“ Boa tarde a todos. Estou gostando de participar deste fórum, no entanto,

não participei de nenhum V.C. e não sei bem como trabalhar com o arte br, é no

site(...) lá estarão as imagens para ser trabalhada?”

Ou ainda uma outra professora que entra do Fórum sem ter participado da

V.C., pois é de Minas Gerais, e sem possuir o arte br, mas solicitando ajuda de

outros pares para a sua docência.

“Não sou habilitada, gostaria muito de algumas dicas, pois dentro do ensino

especial não encontro muitas novidades.(...) Espero contar com a ajuda de todos.”

E, entre aqueles que possuem o material arte br, mas demonstram uma

ausência de autonomia, expresso na insegurança demonstrada diante de uma

proposta educativa contida no material, talvez desconhecida e pouco familiar, ou

ainda, por um hábito de conviver com uma pedagogia que requer metodologias

fechadas pautadas no “como” fazer, tais como um programa proposto a ser

cumprido de modo mecânico, como os presentes em alguns livros didáticos que

possuem essa objetividade e diretividade. Agindo assim, na espera do outro e de

seu fazer transformador, esses sujeitos abrem mão de poder por si vivenciar a 15 C.f.Op.cit, 2002.

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descoberta. Aliam-se a um dever imperativo mais que a um querer fazer. Aqui é a

transmissão de um saber que é solicitada e não a construção desse saber.

Eles também restringiram-se a uma visita, a de suas solicitações, e não

retornaram nem mesmo atendendo às provocações das colaboradoras do IAE.

Esclareço aqui, embora não tenha prometido aprofundamento nas “falas” das

colaboradoras que, todas as questões dos professores foram respondidas pelas

quatro colaboradoras atendendo às solicitações, esclarecendo às dúvidas e

mantendo o tom eufórico e de crença no trabalho do professor e nas expectativas

no fórum como “lócus” de troca, como na “fala” que destaco a seguir de uma

delas:

“ É um grande prazer tê-las aqui conosco participando no fórum.Este

pretende ser um ambiente enriquecedor e cheio de perspectivas, para isso

precisamos da participação efetiva de pessoas interessadas e envolvidas como

vocês”

Abaixo uma das solicitações contendo a inquietação dos professores diante

da ausência de direcionamento do material, reiterada por um programa de

liberdade de uso presente no caderno introdutório (não possui um sumário linear e

hieráquico, nem a proposição de um começo, nem de um fim, tampouco sugere

uma ordenação entre as 12(doze) temáticas presentes, mas aponta a

possibilidade de criação de outros percursos, e convida o professor para junto com

seus alunos, re-propor as temáticas figurativizadas nas pranchas/reproduções de

obras de arte)16:

“Gostei muito do material arte br, mas como não fui na reunião na DE, estou

cheio de dúvidas.Como devo começar?Qual o ponto de partida/Que material devo

usar?Certo de que terei uma resposta, agradeço desde já.”

16 Cf Caderno introdutório de arte br.

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“ Gostaria de elaborar projetos dentro dos conteúdos de arte, mas que

contemplace, disciplinas como história, geografia, religião.(...)Assim, gostaria de

novas idéias para desenvolver em um projeto. Obrigada.”

3.Um fazer parte no outro.

Dividimos os integrantes em dois grupos. No primeiro estão incluídos aqueles que

apresentarem seus projetos, visitaram o Fórum várias vezes, dialogaram e

trocaram experiências, aprofundaram as relações, as trocas e a colocação de si,

de suas vidas pessoais, profissionais, suas dúvidas, inquietações, marcando esse

espaço como de interação de um querer fazer, um poder fazer e um saber fazer.

Assumem um papel de negociadores de sua própria prática docente, consultando

o outro sobre a sua autonomia de propositor de suas aulas e de seus projetos.

Estão incluídos aqui, nesse primeiro grupo os que assumem a distância actancial

entre os sujeitos da comunicação, mas, contudo, encontram nesse espaço de

troca, do Fórum um “(..)suporte para a construção de uma visão comum em

relação a um mundo-objeto no interior do qual cada um se inclui a si mesmo e se

põe em cena segundo uma perspectiva que visa integrar o ponto de vista do outro,

de seu interlocutor”.17. Desse modo, esses sujeitos apresentam os seus projetos,

como que aguardando, no retorno a aceitação, aprovação de sua prática, como

nos depoimentos a seguir:

“Então eu gostaria de saber, se sou obrigada a seguir as informações que a

pasta me passa sobre a imagem, ou se o projeto é unicamente em cima da

imagem e do entendimento que a classe tiver sobre ela? “

“(...)eu posso criar um mini-projeto com o material arte br e inseri-lo em um

projeto maior já em elaboração na escola?Posso acrescentar outras obras e

17 Op.cit,2002,p.171.

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mudar as atividades propostas, adaptando-as aos objetivos que vou propor ou

preciso seguir à risca as orientações? As idéias são muitas(...)”

No segundo grupo, estão incluídos os mais inquietos, que visitaram o

Fórum mais vezes, ( uma das professoras realizou (44) visitas, incluindo aí, os

relatórios de projetos desenvolvidos, envio de imagens dos trabalhos realizados,

de músicas e outros), extrapolando em alguns casos a colocação de si, ampliando

para o seu entorno, a escola e seus pares, como outros professores em projetos

interdisciplinares e seus alunos. Sem solicitar aprovação, apresentavam seus

projetos e sua prática docente e nela, o revelar de um estado passional. Podemos

incluí-los na tipologia proposta por Landowski para as cartas, no terceiro tipo, ou

seja, “cujo objetivo seria apagar também, ou talvez primeiramente a “diferença”

que a escritura instala entre si mesmo, que escreve, e si, escrito”18.

Normalmente iniciam suas “falas” com a apresentação de si e dos

resultados com a turma, ou as turmas. Falam da relação estabelecida com o

material arte br, justificam os temas dos cadernos para o professor escolhidos do

material que são (12) doze, cada qual com reproduções de obras de arte de 3

(três)diferentes artistas. Entre os (10) dez integrantes incluídos aqui, nos dois

grupos, curiosamente nenhum deles elegeu os temas pertencentes aos cadernos

Festa e Exclusão/inclusão social. Na ordem de preferência foram desenvolvidos

projetos com os seguintes cadernos temáticos: Natureza, Formação Étnica e

Trabalho ( três escolhas);Cidades(duas); e a seguir, cada qual uma vez, Infância,

Religião, Imaginário,Capital e trabalho, Subjetividade /alteridade e História.

Não esperam soluções, nem solicitam esclarecimentos, narram seus

fazeres, assumindo o seu saber docente, como o depoimento a seguir:

“ O resultado do trabalho foi muito bom, as aulas foram interessantes! Uma

classe escolheu: “Cicatrizes”, outra “Mundos Imaginados”.As classes foram

18 Op.Cit.2002, p,174.

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divididas em equipes, as atividades foram propostas contemplando várias

expressões artísticas”

.

Ou ainda, a mesma professora do relato acima, assumindo a sua

autonomia, reinventa esse fazer, propondo a união dos temas presentes no

material, e respeitando os percursos dos alunos, suas singularidades e suas

interações com o material educativo.

“Numa turma nós usamos espelhos e unimos os temas: Espelho no

espelho e De todos um pouco. (...)E olha que bárbaro, cada turma teve um

percurso diferente(..)”.

Em pesquisas anteriores investigamos a autonomia do material educativo

em questão, destaco a seguir algumas das considerações :uma delas é que o arte

br não se propõe a ser um material educacional de mediação entre professores e

alunos ou educadores em museus e visitantes, mas afirma a mediação com atos

de co-presenças, um regime de união entre relações somáticas e sensorialmente

vividas, experiências sensíveis co-partilhadas e co-construídas19. Sendo assim o

sentido para emergir exige uma reciprocidade, uma fusão, um encontro do sujeito

com a arte reproduzida nas pranchas do material, que possibilita por um lado,

caso não conheça os artistas e as obras, uma ampliação de seu repertório

plástico, sendo esta uma das críticas sobre a inserção da arte na escola, ainda

restrita ao modernismo sem alcançar o seu próprio tempo, o da

contemporaneidade. Se há uma apropriação dos conteúdos ali presentes, em seu

aspecto mais superficial, ou seja desconsiderando o aprofundamento das

propostas, metodologias e práticas sugeridas, presentes nos doze passos de cada

caderno, mas o de contato com obras e artistas, há um ultrapassar do hábito,

considerado aqui como o da repetição das mesmas práticas docentes, e a 19 Buoro, Anamelia, Frange,Lucimar e Rebouças, Moema.Semiotizando o ensino da arte: do fazer-saber ao fazer-ser.Caderno de Resumos do II Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos Semióticos, 2005.

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possibilidade de inserção de outras práticas. Abre-se então para a instauração de

um fazer-sentir um querer-querer, rompendo um contínuo dessemantizado em

práticas como as de releitura como cópias, reproduzindo situações que perpetuam

o ensino tradicional da arte, como na cópia de modelos e da mimeses ( romana),

que desconsideram as singularidades dos sujeitos envolvidos no ensinar e no

aprender. O fazer-sentir para que ocorra, tem de ser vivenciado como experiência

como as ações para um fazer-ser leitor de imagens instaurando, portanto, um

engendramento de presenças e co-construções de um sentido-sentido.

Na apropriação do material revela-se a autonomia do professor como

propositor de seus próprios modos de interação. Nela, o sentido é construído em

atos assumidos entre os demais sujeitos envolvidos nesse processo, como entre

ele e as obras em questão, e entre ele e os seus alunos, exigindo um a

reciprocidade, os ajustes, que se dão de modo relacional.

No relato abaixo, a autonomia do professor se dá no modo que ao se

apropriar do material, o faz ultrapassando as práticas apresentadas pelo primeiro

grupo. Manifesta-se em um querer-fazer e um poder – fazer suas aulas, a partir de

suas próprias inquietações e a de seus alunos, ambas tendo a arte como eixo

provocador.

Em seu depoimento, a professora enfrenta as dificuldades de diálogo com

os adolescentes, inclui o projeto num outro mais amplo, o da arte contemporânea,

anexando ainda, depoimentos dos alunos.

“Levei a idéia para um grupo específico de alunos, as minhas oitavas

séries, pois estes levantavam uma série de questões sobre a Arte

Contemporânea: suas funções e estranhamentos, o por que do distanciamento do

público, etc...após muita discussões, montamos um projeto que se chamou “

Linhas e Formas em Cândido Mota” ou “ Retalhos de nós”( como o apelidamos). A

estrutura foi mais ou menos esta, dividida em etapas que aconteceram quase que

simultaneamente, mas que ajudaram a organizar o trabalho.”

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No projeto apresentado a aula é espaço de troca, e nela o seu tempo é

marcado pela conjunção entre os sujeitos envolvidos, é construído em conjunto,

determinado por ações educativas desencadeadoras contínuas e sucessivas,

próprias da processualidade, e, como resultado a surpresa do seu próprio fazer, ,

relatada em tom eufórico pela professora.Destacaremos alguns destes momentos

vividos pelo grupo e relatados pela professora:

“(...) essa fase virou a maior polêmica, tivemos até de fazer um debate,

dividindo a sala de acordo com os argumentos, e nesse meio foi nascendo e se

infiltrando a fase C(...) “ O comentário avaliativo: “ Foi ótimo, a maioria dos alunos

teve um envolvimento além do que esperava, me surpreendendo com seus

argumentos”

Outros “falas” dos professores que apontam para a inserção do aluno como

protagonista serão sintetizadas abaixo. Destacamos também aqui, a escolha do

caderno temático do material arte br inserido num projeto anterior, que é o da

escola e de sua contextualização geográfica, social, cultural:

“Escolhi os temas “ De todos um pouco” e “ Colher o pão de todo dia”, há de

se ressaltar que o objetivo do projeto HIP HOP é “ estimular a conscientização e

provocar a discussão sobre os problemas sociais da atualidade despertando para

o exercício da cidadania” continuando o professor relata: “ (...) fui levado a escolha

desse tema por sugestão dos próprios alunos, muito apaixonados pela música,

dança, rap e pelo grafitte; abracei dessa forma uma outra causa muita discutida a

do aluno protagonista”

No relato a seguir, a integração da turma e da turma com o professor:

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“oportunidade de conhecer o outro lado do colega, percebendo seus

anseios, suas frustrações, as conquistas, e isso fez com que o grupo se unisse

mais aceitando as diferenças deles”

Em outras visitas, percebemos que destacam-se os projetos que abrem

possibilidades de trabalho com outras linguagens além da plástica, como as

cênicas e as musicais.Uma das professoras apresenta de modo bastante sintético,

suas proposições para duas turmas do Ensino médio, cada qual com 42 alunos

em média. Em outras visitas, provocada pelas colaboradoras do IAE, ela detêm-se

em cada uma dessas proposições, provocada e provocativa ela visitou

44(quarenta e quatro) vezes o fórum, e não se restringiu ao envio do projeto e sua

descrição, explicou detalhadamente a metodologia adotada, enviou fotos dos

trabalhos e dos alunos e arquivos das músicas produzidas na sala de aula:

‘“Contemplando várias expressões artísticas:painel colagem com tecidos e

materiais variados; roupas feitas de material reciclado;peça de teatro; história em

quadrinhos; painel com fotos de ídolos dos anos 60, 70, 80, 90 e atuais”.

Dentre os professores incluídos aqui nesse grupo, destacamos ainda a

inclusão de outras imagens àquelas presentes em arte br, e de outros percursos,

sem, contudo, distanciarem-se das temáticas dos cadernos, que tratam de

questões sociais e políticas que temos vivenciado como cidadãos brasileiros,

lembrando que em sua maioria são obras de arte produzidas na segunda metade

do século XX e algumas do século XXI. Apresento algumas das temáticas re-

propostas pelos professores: Preconceito, discriminação, exclusão; Nada se cria

tudo se transforma; Linhas e formas em Cândido Mota; Desvelando arte; Hip Hop

e outras.

Para concluir um depoimento da professora que tomamos a liberdade de

qualificar aqui, como a das 44 visitas, e seu prazer em estar participando do

fórum:

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“Esta questão do corpo vidente e visível envolve a todos nós que agora podemos

ser vistos por vocês que participam do fórum, n. é!!!Que interessante!Estão todos

acompanhando as emoções do processo passo a passo!!!!!”

Por ora, interrompemos o acompanhamento que será retomado e re-

vivenciado nas “falas” deixadas como marcas desse processo de apropriação e de

pesquisa constante, como as manifestadas em muitas ações educativas que

ultrapassam uma dimensão pragmática e envolvem as transformações entre os

sujeitos a partir de suas práticas docentes de professores /pesquisadores/

inquietos.Processos que envolvem uma reinvenção dessas práticas, no dialogar

com outras, com outras instituições educativas, espaços/tempos/sociais e

culturais, com os demais sujeitos envolvidos nelas e com eles conquistar

diariamente os seus espaços de emancipação.

IV.Referências bibliográficas

arte br. Instituto Arte na Escola.São Paulo, 2003

Barros, Diana. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Atual,

1988.

Buoro, Anamelia, Frange,Lucimar e Rebouças, Moema.Semiotizando o ensino da arte: do fazer-saber ao fazer-ser.Caderno de Resumos do II Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos Semióticos, 2005. ___________.Arte, cultura e educação: alguns pressupostos.Caderno de Discussão do Centro de Pesquisas Sociosemióticas, org.Oliveira, Ana Claudia. São Paulo: Editora CPS, 2002. ___________.Leitura da imagem: da teoria à prática, da prática à teoria.Caderno

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São Paulo: Editora CPS, 2003.

Fiorin, José Luiz. As astúcias da enunciação: as projeções de pessoa, tempo e

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Greimas, Algirdas &Courtés,J.Diccionário Razonado de La Teoria Del

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_____________Aquém ou além das estratégias, a presença contagiosa.

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Rebouças, Moema Martins. Aprendizagem pela mediação de um material

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Costa, Luís Edegar, Monteiro, Rosana Horio.(orgs).Goiânia:ANPAP;2005, v.2.

Teixeira, Lúcia. As cores do discurso: análise do discurso da crítica de arte.Niterói.

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