PROFESSOR Contextualização histórica e...

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PROFESSOR EL10: 14.11 • Visão global; linguagem, estilo e estrutura: a epopeia – natureza e estrutura da obra, o conteúdo de cada canto, os quatro planos (viagem, mitologia, História de Portugal e reflexões do Poeta – sua interdependência), estrofe e métrica Nota A informação sobre os concei- tos de Renascimento, Huma- nismo e Classicismo deve ser retomada a partir dos textos apresentados na sequência an- terior. Leitura 1. 1.1 Trata-se da «consciência» de que Portugal estava a levar a ca- bo um grande empreendimento de descoberta do mundo, com a Expansão; este empreendimen- to é de caráter «épico», isto é, grandioso. 2. 2.1 Os versos de António Ferrei- ra expressam o desejo de que surja alguém capaz de cantar os grandes feitos dos Portugue- ses – de modo a sobreporem-se aos feitos dos antigos gregos e romanos. 3. 3.1 Trata-se de um contraste entre o presente e o passado: n’Os Lusíadas, encontramos a novidade das Descobertas em geral, o presente, mas também uma conceção medieval da guerra – os «valores cavaleires- cos», o passado. 3.2 Segundo a autora, esta coe- xistência de opostos radica no facto de Os Lusíadas juntarem o presente – a viagem de des- coberta do caminho marítimo para a Índia com as narrativas da história dos Portugueses – o passado. PowerPoint® Os Lusíadas (Contextualização histórica e literária) Os Lusíadas Estrutura e resumo dos episódios Contextualização histórica e literária Necessidade de um poema épico que cantasse as Descobertas Texto 1 Como já tem sido notado, os humanistas portugueses tinham consciência muito viva do caráter épico da história nacional e várias vezes aventaram o projeto de uma epopeia (caso de João de Barros, Diogo de Teive e particularmente António Ferreira, que, (…) pergunta a um confrade: Quando será que eu veja a clara história do nome português por ti entoada que vença da alta Roma a grã memória?). A. J. Saraiva, Luís de Camões, Lisboa, Publicações Europa-América, 1959, p. 118. Texto 2 O Renascimento, retomando os géneros clássicos, revaloriza a epopeia e excita nos poe- tas o desejo de realizá-la. Em Portugal, esse desejo é exacerbado pela consciência de haver o seu povo criado a matéria épica que urgia cantar. Os poetas estimulam-se reciprocamente a empreender a tarefa, sabendo-se cada qual sem talento para fazer soar a «tuba canora e belicosa» (Os Lusíadas, Canto I, est. 5). Luís Vaz de Camões, que até então só empunhara a «agreste avena ou fruta ruda» (Ibidem), irá levá-la a cabo, criando o maior poema épico dos tempos modernos. Os Lusíadas são o poema dos Descobrimentos, do desvendamento dos mares e das ter- ras, e da afirmação do poder do homem sobre os elementos, mas também da reafirmação dos valores cavaleirescos caracteristicamente medievais. Esta coexistência de valores de- ve-se aos dois tempos principais em que decorrem as narrativas que se encaixam, formando o poema: o tempo presente, da viagem à Índia; o tempo passado, da História de Portugal; e não se esqueça ainda o tempo futuro, previsto pelas profecias. Cleonice Berardinelli, Estudos camonianos, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000, pp. 319-320. (Texto adaptado) - - - - - - - - 5 - - - - 10 - - - 5 - - Leitura 1. O texto 1 refere uma «consciência» existente em Portugal no século XVI – relacionada com as Descobertas. 1.1 Explica de que «consciência» se trata. 2. Atenta nos versos de António Ferreira reproduzidos no mesmo texto. 2.1 Refere o desejo neles expresso. 3. Atenta no segundo parágrafo do texto 2. 3.1 Explicita o contraste nele apresentado. 3.2 Indica qual a explicação que a autora apresenta para a existência desse contraste. 208 6 Luís de Camões, Os Lusíadas

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P R O F E S S O R

EL10: 14.11

• Visão global; linguagem, estilo e estrutura: a epopeia – natureza e estrutura da obra, o conteúdo de cada canto, os quatro planos (viagem, mitologia, História de Portugal e reflexões do Poeta – sua interdependência), estrofe e métrica

Nota A informação sobre os concei-tos de Renascimento, Huma-nismo e Classicismo deve ser retomada a partir dos textos apresentados na sequência an-terior.

Leitura

1. 1.1 Trata-se da «consciência» de que Portugal estava a levar a ca-bo um grande empreendimento de descoberta do mundo, com a Expansão; este empreendimen-to é de caráter «épico», isto é, grandioso.

2. 2.1 Os versos de António Ferrei-ra expressam o desejo de que surja alguém capaz de cantar os grandes feitos dos Portugue-ses – de modo a sobreporem-se aos feitos dos antigos gregos e romanos.

3. 3.1 Trata-se de um contraste entre o presente e o passado: n’Os Lusíadas, encontramos a novidade das Descobertas em geral, o presente, mas também uma conceção medieval da guerra – os «valores cavaleires-cos», o passado. 3.2 Segundo a autora, esta coe-xistência de opostos radica no facto de Os Lusíadas juntarem o presente – a viagem de des-coberta do caminho marítimo para a Índia com as narrativas da história dos Portugueses – o passado.

PowerPoint®• Os Lusíadas (Contextualização histórica e literária)• Os LusíadasEstrutura e resumo dos episódios

Contextualização histórica e literária

Necessidade de um poema épico que cantasse as Descobertas

Texto 1

Como já tem sido notado, os humanistas portugueses tinham consciência muito viva do caráter épico da história nacional e várias vezes aventaram o projeto de uma epopeia (caso de João de Barros, Diogo de Teive e particularmente António Ferreira, que, (…) pergunta a um confrade:

Quando será que eu veja a clara históriado nome português por ti entoadaque vença da alta Roma a grã memória?).

A. J. Saraiva, Luís de Camões, Lisboa, Publicações Europa-América, 1959, p. 118.

Texto 2

O Renascimento, retomando os géneros clássicos, revaloriza a epopeia e excita nos poe-tas o desejo de realizá-la. Em Portugal, esse desejo é exacerbado pela consciência de haver o seu povo criado a matéria épica que urgia cantar. Os poetas estimulam-se reciprocamente a empreender a tarefa, sabendo-se cada qual sem talento para fazer soar a «tuba canora e belicosa» (Os Lusíadas, Canto I, est. 5). Luís Vaz de Camões, que até então só empunhara a «agreste avena ou fruta ruda» (Ibidem), irá levá-la a cabo, criando o maior poema épico dos tempos modernos.

Os Lusíadas são o poema dos Descobrimentos, do desvendamento dos mares e das ter-ras, e da afirmação do poder do homem sobre os elementos, mas também da reafirmação dos valores cavaleirescos caracteristicamente medievais. Esta coexistência de valores de-ve-se aos dois tempos principais em que decorrem as narrativas que se encaixam, formando o poema: o tempo presente, da viagem à Índia; o tempo passado, da História de Portugal; e não se esqueça ainda o tempo futuro, previsto pelas profecias.

Cleonice Berardinelli, Estudos camonianos, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000, pp. 319-320. (Texto adaptado)

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Leitura

1. O texto 1 refere uma «consciência» existente em Portugal no século XVI – relacionada com as Descobertas.

1.1 Explica de que «consciência» se trata.

2. Atenta nos versos de António Ferreira reproduzidos no mesmo texto.

2.1 Refere o desejo neles expresso.

3. Atenta no segundo parágrafo do texto 2.

3.1 Explicita o contraste nele apresentado.

3.2 Indica qual a explicação que a autora apresenta para a existência desse contraste.

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6 Luís de Camões, Os Lusíadas

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P R O F E S S O R

Leitura

1.a. Texto 1; b. Texto 2; c. Textos 1, 2 e 3; d. Texto 3; e. Texto 1; f. Texto 2

Textos de apoio

Cantigas de amigo

Texto 1Um sujeito lírico feminino; variedade do sentimento amoroso – relação da menina com a Natureza; a confidência amorosa

[Nas cantigas de amigo, o poeta] finge que é a mu-lher a expor as suas próprias penas. [Ela lamenta-se] pela ausência ou indiferença do amigo. (…) Simples e ingénua, sinceramente apaixonada e dolente, vul-nerável a qualquer desilusão, embora também sem-pre pronta a defender o seu próprio sentimento de qualquer interferência. A protagonista move-se num ambiente de Natureza que ela chama como teste-munha dos seus próprios sofrimentos (…). A mulher da cantiga de amigo entra direta ou indiretamente em contacto não só com o amigo mas também com outras personagens – elementos da Natureza (o mar, as árvores, a fonte, o cervo, o papagaio) ou seres hu-manos (a mãe, as amigas confidentes).

Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (Org. e coord.), Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa,

Lisboa, Caminho, 1993, p. 135.

Texto 2Variedade do sentimento amoroso – a psicologia da menina apaixonada

A cantiga de amigo (…) é um produto refle-tido de arte, um feixe de observações do mais alto valor sobre o feitio psicológico da mulher.

Toda a escala da vida amorosa da menina nos é comunicada com o mais vivo realismo: a timidez, o pudor alvoroçado e a inexperiência do amor, a garri-dice, a travessura, a alegria e o orgulho de amar e ser amada, os pequeninos arrufos, as tristezas e ansie-dades, a saudade, a impaciência e o ciúme, a cruel-dade e a vingança, a compaixão, o arrependimento e, finalmente, a reconciliação. Toda esta gama de emo-ções está representada em espécimes graciosos ou vibrantes de ternura e paixão femininas.

M. Rodrigues Lapa, Lições de literatura portuguesa – Época medieval, 9ª edição, Coimbra, Coimbra Editora, 1977, pp. 166-167.

Texto 3Variedade do sentimento amoroso; espaços medievais, protagonistas e circunstâncias; a confidência amorosa

A protagonista das cantigas d’amigo é sempre uma mulher, que lamenta a ausência do seu amigo que partiu ao serviço do rei, que espera o seu regres-so, que espera encontrá-lo na fonte ou no santuário, na romaria, que o censura pelo seu pouco entusias-mo amoroso, que fala com as amigas ou com a mãe, de quem recebe conselhos ou críticas a propósito da sua conduta para com o amigo. O seu ambiente é sempre marítimo ou campestre, com um cenário esquemático ou nitidamente caracterizado pela pre-sença do mar, do ribeiro, da fonte, das aves, das ár-vores e das flores.

Giusepe Tavani, Ensaios portugueses, Lisboa, INCM, 1988, pp. 42-43.

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Leitura

1. Relaciona as afirmações com o texto ou os textos de apoio lidos. Responde no teu caderno diário.

a. Nas cantigas de amigo, a Natureza pode assumir o papel de confidente da menina apaixonada e sofredora.

b. As cantigas de amigo revelam em profundidade a psicologia da jovem mulher apaixonada.c. O conjunto da produção poética designado como cantigas de amigo apresenta grande varieda-

de temática.d. O papel de confidente da menina apaixonada é frequentemente assumido, nestas cantigas,

pela mãe ou por amigas.e. O sujeito poético nas cantigas de amigo é feminino. f. O sujeito lírico das cantigas de amigo sofre e vive todas as alegrias e deceções do amor.

Cantigas de amigo

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5.4 Qual é a estrutura interna de Os Lusíadas?

O poema divide-se em quatro partes, seguindo, de modo geral, os modelos das epopeias da An-tiguidade Clássica e das renascentistas:

Proposição Canto I, estâncias 1-3 O Poeta indica o assunto que vai cantar: «o peito ilustre Lusitano», estância 3, verso 5, isto é,

os heróis Portugueses, a nobreza guerreira e os homens ilustres que se notabilizaram pela grandiosidade dos seus feitos.

invocação Canto I, estâncias 4-5 O Poeta pede inspiração a musas nacionais, as Tágides, ninfas do Tejo, para cantar os feitos

do «peito ilustre Lusitano».

dedicatória Canto I, estâncias 6-18 O Poeta dedica o poema a D. Sebastião, que reinava em Portugal no ano da sua publicação –

1572.

Narração Canto I, estâncias 19 e seguintes. Inicia-se in medias res, no meio da viagem, quando a armada

se encontrava já no oceano Índico.

5.5 Quais são os quatro planos de Os Lusíadas?

O plano da viagem, o dos deuses, o da História de Portugal e o das reflexões ou considerações do Poeta. Frequentemente estes planos são interdependentes: numa mesma estância, pode-se encontrar mais do que um.

5.6 Em que consiste a «sublimidade do canto» em Os Lusíadas?

Camões pede às Tágides, na Invocação, um canto marcado pela sublimidade, isto é, um canto de estilo grandioso, um canto sublime, pois os feitos dos Portugueses são também grandiosos.

5.7 O que são as «reflexões do Poeta»?

São reflexões que surgem principalmente nos finais dos cantos. Nelas, o Poeta reflete sobre assuntos tão variados como a fragilidade da vida humana, o poder corruptor do dinheiro, a ga-nância, o mau governo, a ignorância da nobreza, o seu desinteresse pela cultura em geral e pela Poesia em particular, etc. Por vezes, estas reflexões apresentam vincado caráter humanista, pois Camões censura, por um lado, e aconselha a mudança de atitudes, por outro.

5.8 Como se concretiza a mitificação do herói em Os Lusíadas?

O herói, Vasco da Gama, é mitificado pois supera, pelos seus feitos, a condição humana. Momento fulcral dessa mitificação ocorre quando Tethys desvenda a Vasco da Gama a Máquina do Mundo, fazendo-o assumir o conhecimento total. A mitificação ocorre também aquando da união dos Portugueses com as Ninfas, na Ilha dos Amores: através desta união eles transcendem, simboli-camente, a condição humana, aproximando-se dos deuses. A mitificação do herói está anunciada logo no início do poema, na estância 3, quando Camões apresenta os Portugueses como tendo superado a Antiguidade – os heróis gregos e romanos.

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4.12 O que é o tema da mudança?

O tema da mudança é um tema clássico e filosófico por excelência: tudo muda continuamente, tudo se renova ciclicamente, um ano sucede ao outro, uma primavera virá depois da atual; con-tudo, esta mudança não atinge o Poeta – que caminha inexoravelmente para o fim.

A poesia lírica de Camões: linguagem, estilo e estrutura

4.13 O que é a lírica tradicional?

É a lírica em que Camões segue a tradição poética peninsular que vem da Idade Média, da tra-dição trovadoresca, com formas poéticas como o vilancete ou as trovas, com versos de redon-dilha maior ou menor – sete e cinco sílabas métricas, respetivamente.

4.14 O que é a lírica de inspiração clássica?

É a lírica de versos decassílabos em que Camões adota formas poéticas recuperadas da Anti-guidade, como a epopeia, a écloga, ou novas formas poéticas, como o soneto, vindo de Itália.

4.15 Quais são as principais marcas do discurso pessoal/subjetivo presentes na lírica camoniana?

A presença forte da subjetividade marca as composições poéticas de Camões: os seus estados de alma podem influenciar a visão da paisagem, projetando-se nela, fundindo-se deste modo o interior subjetivo e o exterior objetivo.

4.16 Quais são as características formais do soneto?

O soneto é uma composição poética de origem italiana, introduzida em Portugal por Sá de Miranda, no século XVI. É composto por catorze versos divididos em duas quadras e dois tercetos. O seu esquema rimático é, normalmente, abba abba cde edc / cdc dcd / cde cde. O verso usado é o decassílabo.

5. Luís de Camões, Os Lusíadas

5.1 O que é um poema épico?

É uma narrativa em verso com origem na Antiguidade Clássica greco-romana na qual se exaltavam os feitos gloriosos de um herói mitológico, como Aquiles, na Ilíada,

e Ulisses, na Odisseia – ambas de Homero – e Eneias, na Eneida de Virgílio. Durante o Renascimento, vários poemas épicos foram criados na Europa à semelhança dos

Antigos, entre os quais se destaca Os Lusíadas de Camões. Este género literário exalta feitos excecionais e imortaliza heróis. O estilo é elevado, adequado à subli-

midade do assunto. O herói, embora individual, simboliza o seu povo. O assunto tem interesse universal.

5.2 Qual é a matéria épica de Os Lusíadas?

A matéria épica de Os Lusíadas é a narrativa da viagem de Vasco da Gama e da História de Portugal.

5.3 Qual é a estrutura externa de Os Lusíadas?

A obra está dividida em dez cantos, cada um com um número variável de es-tâncias ou estrofes. As estâncias são oitavas, apresentando o esquema rimático abababcc, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últi-mos. Os versos são de dez sílabas métricas, acentuados na sexta e na décima sílabas: versos decassilábicos heroicos.

O que é?

Educação literária (cont.)

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