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PROJETO RIO RURAL/GEF Consultoria para Levantamentos Rápidos de Biodiversidade (RAP’s) no tema “ANUROFAUNA (anfíbios)” nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba e elaboração de estratégias para conservação no âmbito da região do norte e noroeste fluminense. Processo Nº E-02/521/2007 Produto nº: 03 de 03 Consultor: ADRIANO LIMA SILVEIRA

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PROJETO RIO RURAL/GEF

Consultoria para Levantamentos Rápidos de Biodiversidade

(RAP’s) no tema “ANUROFAUNA (anfíbios)” nas sub-bacias dos

rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba e elaboração de estratégias para

conservação no âmbito da região do norte e noroeste fluminense.

Processo Nº E-02/521/2007

Produto nº: 03 de 03

Consultor: ADRIANO LIMA SILVEIRA

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Levantamentos rápidos de biodiversidade no tema “anurofauna

(anfíbios)” nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba e

elaboração de estratégias para conservação no âmbito da região do norte

e noroeste fluminense

Relatório Técnico Final

Adriano Lima Silveira

Rio de Janeiro, junho de 2008

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 4 1.1. Contextualização ........................................................................................................ 4 1.2. Anurofauna (Anfíbios) ............................................................................................... 5

2. METODOLOGIA.............................................................................................................. 7 2.1. Área de Estudo............................................................................................................ 7

2.1.1. Sub-bacia do rio Imbé ......................................................................................... 8 2.1.2. Sub-bacia do rio Muriaé .................................................................................... 13 2.1.3. Sub-bacia do rio Guaxindiba ............................................................................. 15

2.2. Levantamento Faunístico.......................................................................................... 18 2.2.1. Amostragem em campo ..................................................................................... 18 2.2.2. Consulta a coleção científica ............................................................................. 20 2.2.3. Levantamento bibliográfico............................................................................... 20

2.3. Análise de Dados ...................................................................................................... 20 2.3.1. Identificação taxonômica................................................................................... 20 2.3.2. Composição faunística....................................................................................... 21

3. RESULTADOS ............................................................................................................... 33 3.1. Composição Faunística de Anuros nas Áreas Amostradas ...................................... 33

3.1.1. Sub-bacia do rio Imbé ....................................................................................... 33 3.1.2. Sub-bacia do rio Muriaé .................................................................................... 36 3.1.3. Sub-bacia do rio Guaxindiba ............................................................................. 38

3.2. Composição Faunística de Anuros nas Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba....................................................................................................................... 39

3.2.1. Riqueza e lista de espécies................................................................................. 39 3.2.2. Similaridade faunística entre as áreas amostradas............................................. 42 3.2.3. Associação das espécies aos hábitats................................................................. 43 3.2.4. Espécies endêmicas da Mata Atlântica e do Estado do Rio de Janeiro............. 44 3.2.5. Espécies indicadoras de boa qualidade ambiental............................................. 45 3.2.6. Espécies invasoras ............................................................................................. 45 3.2.7. Espécies cinegéticas .......................................................................................... 45 3.2.8. Estado de conservação das espécies e taxocenoses ........................................... 46 3.2.9. Novos registros zoogeográficos ........................................................................ 46 3.2.10. Considerações taxonômicas e possíveis espécies novas.................................. 47

3.3. Bancos de Dados e Imagens Digitais ....................................................................... 49 3.4. Áreas Chave para a Conservação da Diversidade de Anuros nas Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba ............................................................................................. 49 3.5. Ações Estratégicas para Conservação, Uso Sustentável e Monitoramento da Diversidade de Anuros nas Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba ............... 51 3.6. Guia Fotográfico das Espécies de Anuros das Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba....................................................................................................................... 58

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 71

5. RESUMO ........................................................................................................................ 73

6. EQUIPE TÉCNICA......................................................................................................... 75

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

O presente relatório descreve as atividades realizadas e resultados obtidos no estudo

“levantamentos rápidos de biodiversidade no tema “anurofauna (anfíbios)” nas sub-bacias

dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba e elaboração de estratégias para conservação no

âmbito da região do norte e noroeste fluminense”, o qual compõe o Projeto de

Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas no Norte-Noroeste Fluminense - RIO

RURAL/GEF, em realização pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e

Abastecimento (SEAPPA) do Governo do Estado do Rio de Janeiro e financiado pelo

Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).

O Projeto RIO RURAL/GEF atua na complementação de ações em curso relativas

aos seguintes programas: Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas (Rio Rural),

Programa Moeda Verde, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF), Projeto de Assistência Técnica e Extensão Florestal aos Agricultores

Familiares da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro (Rio Floresta) e Programa Pró

Mata Atlântica. O projeto também objetiva fortalecer a organização comunitária na área

rural do Estado do Rio de Janeiro, disseminar tecnologias de baixo impacto ambiental e

criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de políticas, planos, normas e à

instituição de mecanismos financeiros voltados a sustentabilidade da agricultura

fluminense, de modo a contribuir para o alcance dos objetivos nacionais e internacionais na

busca do desenvolvimento rural sustentável.

O objetivo do projeto é promover a autogestão sustentável dos recursos naturais por

comunidades rurais, através da adoção das práticas de manejo sustentável de recursos

naturais, sob a abordagem de manejo integrado de ecossistemas. Para tanto, a micro-bacia

hidrográfica será utilizada como unidade fundamental de planejamento, de modo a

contribuir com a diminuição das ameaças à biodiversidade, a inversão do processo de

degradação das terras e o aumento dos estoques de carbono na paisagem agrícola em

ecossistemas críticos e únicos de importância global da Mata Atlântica do norte-noroeste

fluminense. Essas ações permitirão a melhora da qualidade de vida dessas populações

rurais do norte e noroeste fluminense.

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1.2. Anurofauna (Anfíbios)

Cerca de 350 espécies de anfíbios são conhecidas nos domínios da Mata Atlântica,

o que equivale a quase metade da diversidade registrada no Brasil (832 espécies). Da fauna

de anfíbios do bioma, mais de 250 espécies são consideradas endêmicas. Na Mata

Atlântica, os anfíbios estão representados pela ordem Anura (sapos, rãs, pererecas) em sua

maioria e por poucas espécies da ordem Gymnophiona (cobras-cegas) (Sazima, 2004;

SBH, 2008; Steinmetz, 2004).

São registradas 166 espécies de anfíbios no Estado do Rio de Janeiro (Rocha et al.,

2004). Apesar dessa grande riqueza, em poucas localidades do estado foram realizados

estudos sobre composição faunística de anfíbios, sendo que extensas áreas permanecem

desconhecidas quanto a essa fauna. Nas regiões norte e noroeste fluminense praticamente

inexistem estudos publicados sobre inventários de anfíbios realizados em longo prazo.

Novas espécies de anfíbios têm sido descritas frequëntemente e é provável que muitas

outras aguardem descrição formal.

Os anfíbios da Mata Atlântica estão cada vez mais ameaçados devido ao

desmatamento, poluição e assoreamento de cursos d’água, drenagem de áreas alagadas e

construções civis. A lista oficial das espécies da fauna ameaçadas de extinção no Brasil

inclui nove espécies de anfíbios da Mata Atlântica, incluindo uma espécie provavelmente

extinta, Phrynomedusa fimbriata, além de outras em iminente risco de extinção (Machado

et al., 2005; Sazima, 2004).

As áreas florestadas do Estado do Rio de Janeiro vêm sofrendo processo de

degradação ha cerca de cinco séculos de exploração humana. Como conseqüência, cerca de

84 % da cobertura original da Mata Atlântica foram removidos. O resultado da remoção de

áreas florestadas é a formação de um crescente número de fragmentos de diversos

tamanhos, o que causa o isolamento de grande parte das populações da fauna que ocorriam

na paisagem original (Rocha et al., 2003). Nas regiões norte e noroeste fluminense, restou

um único grande remanescente florestal, na região do Parque Estadual do Desengano, sub-

bacia do rio Imbé. Um único fragmento de tamanho médio é encontrado na Reserva

Ecológica de Guaxindiba, sub-bacia do rio Guaxindiba. Já na sub-bacia do rio Muriaé

ocorrem conjuntos de pequenos fragmentos relativamente conservados nas regiões de

Cambuci, São José de Ubá, Laje de Muriaé, Miracema, Varre-Saia e Porciúncula.

A potencialidade para abrigar elevada riqueza de espécies, com muitos endemismos

e a ausência de conhecimento sobre composição faunística de anfíbios nas regiões norte e

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noroeste fluminense, aliados ao atual estado de degradação dos ambientes naturais,

apontam para a necessidade urgente de realizações de inventários de anfíbios nos

remanescentes de vegetação natural dessas áreas.

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2. METODOLOGIA

2.1. Área de Estudo

O presente estudo foi desenvolvido na área das sub-bacias hidrográficas dos rios

Imbé, Muriaé e Guaxindiba, localizadas nas regiões norte e noroeste do Estado do Rio de

Janeiro. Essa região enquadra-se nos domínios do bioma Mata Atlântica, apresentando

fitofisionomias de floresta ombrófila densa, floresta estacional semidecidual e formações

pioneiras (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2008). Os remanescentes naturais

encontrados no norte-noroeste fluminense integram o Corredor da Serra do Mar, uma das

áreas mais ricas em biodiversidade, inclusive de espécies endêmicas da Mata Atlântica, e

considerada como prioritária para a conservação. A Mata Atlântica como um todo é

reconhecida como um dos hotspots mundiais, uma área crítica para a conservação devido à

grande riqueza biológica que possui e à alta pressão antrópica a que vem sendo submetida

(Myers et al., 2000).

A coleta de dados secundários (pesquisa bibliográfica e consulta a coleção

científica) considerou a fauna de anfíbios registrada nas áreas totais das três sub-bacias. Já

as amostragens faunísticas em campo foram realizadas em quatro localidades previamente

selecionadas (figuras 1 e 2). Para tanto, foram escolhidas aquelas áreas que apresentam

formações naturais de diversas fitofisionomias de Mata Atlântica em bom estado de

conservação e onde ainda não foram realizadas amostragens significativas de anfíbios. As

regiões norte e noroeste do Rio de Janeiro exibem um ambiente altamente alterado pela

ação humana, restando apenas alguns fragmentos de floresta. As localidades escolhidas

abrangeram a maioria das áreas com remanescentes florestais dessas regiões.

A escolha das localidades foi auxiliada através de análise de ecologia de paisagem,

utilizando-se o programa Google Earth (2007). Em todas as localidades amostradas foram

obtidas coordenadas geográficas precisas, com uso de um receptor de Sistema de

Posicionamento Global (GPS). Foi gerado um banco de imagens fotográficas digitais das

localidades amostradas no presente estudo, acompanhadas das respectivas coordenadas

geográficas; esse banco encontra-se em anexo ao presente relatório.

Foram selecionadas as seguintes localidades amostrais, nas respectivas sub-bacias

hidrográficas.

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Figura 1 – Localidades de amostragem da anurofauna no norte e noroeste do Estado do

Rio de Janeiro.

2.1.1. Sub-bacia do rio Imbé

Santa Maria Madalena

O Município de Santa Maria Madalena localiza-se no centro-norte do Estado do

Rio de Janeiro, na região da serra do Desengano, compondo a porção norte da serra do

Mar. Essa região apresenta o único remanescente expressivo de floresta ombrófila densa

do norte do estado, onde ocorrem as formações de floresta montana (acima de 500 m de

altitude) e sub-montana (até 500 m), cercadas por pastagens artificiais (Fundação SOS

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Mata Atlântica e INPE, 2008; Rocha et al., 2003). O relevo é acidentado; na serra nascem

alguns riachos e também são encontrados brejos associados a formações florestais ou

pastagens. A serra do Desengano abriga a principal unidade de conservação do norte do

estado, o Parque Estadual do Desengano, o qual se estende pelos municípios de Santa

Maria Madalena, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, por uma área de 22.400 ha. Essa

região permanece desconhecida quanto à composição da herpetofauna, mas é apontada

como potencialmente possuidora de uma elevada diversidade faunística (Rocha et al.,

2003). A área também se encontra classificada como de área prioritária para a conservação

da biodiversidade da Mata Atlântica, sob a categoria de importância extremamente alta

(Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2008).

As amostragens da anurofauna foram realizadas nas mediações da cidade de Santa

Maria Madalena, principalmente na localidade Rancho da Lelê, próximo ao Parque

Estadual do Desengano (figura 3, fotos 1-5). São listados abaixo os pontos amostrais

seguidos de descrição sucinta do hábitat, de coordenadas geográficas e das datas de coleta.

Figura 2 – Remanescentes florestais no norte e noroeste do Estado do Rio de Janeiro (em

verde) e região das localidades de amostragem da anurofauna (delimitadas em círculos

vermelhos). Fonte: adaptado de Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2008).

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Figura 3 – Pontos de amostragem da anurofauna em Santa Maria Madalena, RJ.

• Ponto 1 – Hotel Fazenda Suiss Vale: pastagem artificial próxima a floresta

secundária – 22°01’03,56”S; 41°59’58,98”O; 522m – 15/03/2008.

• Ponto 2 – brejo próximo da cidade: brejo em área alterada, próximo a floresta

secundária – 21°55’36,00”S; 42°01’01,30”O; 435 m – 15/03/2008.

• Ponto 3 – entorno da cidade: área alterada em margem de riacho – 21°56’18,31”S;

42°00’21,63”O; 548 m – 15/03/2008.

• Ponto 4 – centro da cidade: área urbana – 21°57’24,50”S; 42°00’31,00”O; 598m –

15/03/2008.

• Ponto 5 – Rancho da Lelê: fragmento de floresta secundária com riacho –

22°00’16,52”S; 41°55’10,59”O; 428 m – 16 e 17/03/2008.

• Ponto 6 – Rancho da Lelê: brejo próximo a floresta secundária – 22º00’42,29”S;

41°55’21,70”O; 443 m – 16/03/2008.

• Ponto 7 – Rancho da Lelê: brejo próximo a floresta secundária – 22º00’50,52”S;

41°55’58,07”O; 434 m – 17/03/2008.

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• Ponto 8 – Rancho da Lelê: sede, área alterada próximo a floresta secundária –

22º00’35,40”S; 41°55’18,02”O; 428 m – 17/03/2008.

Lagoa de Cima (Campos dos Goytacazes)

A Lagoa de Cima é uma lagoa natural de baixada litorânea, localizada no

Município de Campos dos Goytacazes, no norte do Estado do Rio de Janeiro, a qual abriga

uma vila de pescadores. A lagoa possui uma espelho d’água com 15 km2 de área e é

abastecida pela confluência dos rio Imbé e Urubu (Rezende e Di Beneditto, 2006). O

presente estudo foi desenvolvido em ambientes da porção oeste da margem da lagoa,

situados no Distrito de Morangaba. Essa área insere-se nos domínios da floresta estacional

semidecidual (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2008), sendo que a cobertura

florestal da localidade limita-se a pequenos fragmentos de floresta secundária ou floresta

em estágio inicial de regeneração. A sudoeste da lagoa, próximo à foz do rio Imbé,

encontra-se uma área pantanosa denominada localmente como lagoinha. Alguns trechos da

margem da lagoa são cobertos ainda por vegetação ripária arbustiva e macrófitas aquáticas

no espelho d’água. No período chuvoso, há um aumento do nível de água e conseqüente

alagamento de parte de suas margens. No entorno da lagoa ocorrem extensos brejos

densamente cobertos com macrófitas aquáticas, ao passo que córregos com floresta ripária

são praticamente inexistentes na área.

A Lagoa de Cima foi elevada a Área de Proteção Ambiental Municipal (APA) a

partir da promulgação da Lei Municipal nº 5.394, de 24 de dezembro de 1992. A área da

APA Lagoa de Cima foi definida como sendo o espelho d’água em seu leito maior, as ilhas

inseridas na lagoa, as margens da lagoa em uma faixa de 30 metros a partir do nível mais

alto da água, os remanescentes de vegetação nativa localizados nas margens da lagoa e os

leitos e margens dos cursos d’água afluentes e efluentes da lagoa em uma extensão de 500

metros a contar da foz ou nascente dos mesmos. Entretanto, mesmo constituindo uma

unidade de conservação há 15 anos, a Lagoa de Cima não conta com um Plano Diretor, o

qual seria a base para o estabelecimento de um plano de manejo sustentável (Rezende e Di

Beneditto, 2006).

Em 2006 foi publicado um Diagnóstico Ambiental da Lagoa de Cima (Rezende e

Di Beneditto, 2006). O levantamento faunístico realizado nesse estudo abrangeu aves e

peixes, não incluindo a fauna de anfíbios. Entretanto, foram citados registros ocasionais de

cinco espécies de anuros.

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A amostragem da anurofauna foi realizada em brejos próximos à lagoa, em áreas

alagadas na margem da lagoa e na lagoinha, em fragmentos de floresta baixa (capoeira)

próximos à lagoa (figura 4, fotos 6-11). São listados abaixo os pontos amostrais, seguidos

de descrição sucinta do hábitat, de coordenadas geográficas e das datas de amostragem.

Figura 4 – Pontos de amostragem da anurofauna em Lagoa de Cima, Campos dos

Goytacazes, RJ.

• Ponto 1 – margem da lagoinha, adjacente à Lagoa de Cima – 21°46’11,60”S;

41°32’41,70”O; 8 m – 05/04/2008.

• Ponto 2 – grande brejo próximo à Lagoa de Cima – 21°45’29,50”S;

41°31’45,50”O; 8 m – 05/04/2008.

• Ponto 3 – pequeno brejo próximo à Lagoa de Cima – 21°46’16,00”S;

41°32’08,00”O; 16 m – 05/04/2008.

• Ponto 4 – brejo próximo à Lagoa de Cima – 21°44’47,00”S; 41°29’49,60”O; 6 m –

06/042008

• Ponto 5 – vila da Lagoa de Cima, área alterada – 21°45’48,10”S; 41°31’22,80”O;

11 m – 06/04/2008.

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• Ponto 6 – grande brejo na região da Lagoa de Cima - 21°44’07,50”S;

41°29’41,20”O; 7 m – 06/04/2008.

• Ponto 7 – floresta baixa (capoeira) próxima à Lagoa de Cima – 21°44’58,20”S;

41°30’33,50”O; 25 m – 07/04/2008.

• Ponto 8 – brejo na região da Lagoa de Cima – 21°45’06,20”S; 41°32’39,20”W; 23

m – 07/04/2008.

2.1.2. Sub-bacia do rio Muriaé

Natividade / Itaperuna

Os municípios de Natividade e Itaperuna localizam-se no extremo noroeste do

Estado do Rio de Janeiro, próximo às divisas com os estados de Minas Gerais e Espírito

Santo. A vegetação da área é caracterizada como floresta estacional semidecidual

(Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2008) e, como a região passou por intenso

processo de alteração ambiental por ação antrópica, a floresta encontra-se representada

atualmente por pequenos fragmentos remanescentes. A grande maioria das áreas de

floresta ripária (da margem de rios e riachos) da região foi desmatada, restando apenas

formações florestais em topos de morros. Entre os morros são abundantes pequenos vales

alagados (brejos). Não existem unidades de conservação nessa área estudada, a qual

permanecia desconhecida quanto à composição da herpetofauna.

As amostragens da anurofauna foram realizadas em brejos e fragmentos florestais

próximos à rodovia que liga a cidade de Natividade e o Distrito de Ourânia, e à que liga

Natividade e o Distrito de Raposo no Município de Itaperuna (RJ 214) (figura 5, fotos 12-

17). Os pontos amostrados em Itaperuna situam-se próximos à divisa entre este município

e Natividade, assim, todos os pontos dos dois municípios são aqui analisados em conjunto,

compondo uma única área amotral. São listados abaixo os pontos amostrais seguidos de

descrição sucinta do hábitat, de coordenadas geográficas e das datas de amostragem.

• Ponto 1 – Itaperuna: brejo na margem da rodovia RJ 214, próximo a floresta

secundária – 21°05’20,24”S; 42°03’15,17”O; 219 m – 27 e 28/03/2008.

• Ponto 2 – Itaperuna: brejo na margem da rodovia RJ 214, próximo a floresta

secundária – 21°05’31,73”S; 42°02’43,63”O; 198 m – 27/03/2008.

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• Ponto 3 – Natividade: brejo próximo à cidade, à margem do rio Muriaé –

21°01’38,06”S; 41°59’47,56”O; 210 m – 27/03/2008.

• Ponto 4 – Itaperuna: Fazenda São Vicente: brejo próximo a floresta secundária –

21°05’09,02”S; 42°01’34,95”O; 212 m – 28/03/2008.

• Ponto 5 – Itaperuna: Fazenda São Vicente: fragmento de floresta secundária –

21°05’04,66”S; 42°01’25,79”O; 247 m – 28/03/2008.

• Ponto 6 – Itaperuna: Fazenda São Vicente: fragmento de floresta secundária –

21°04’57,56”S; 42°01’20,00”O; 331 m – 30/03/2008.

• Ponto 7 – Itaperuna: brejo na margem da rodovia RJ 214, próximo a floresta

secundária – 21°05’13,36”S; 42°02’05,40”O; 227 m – 28/03/2008.

• Ponto 8 – Itaperuna: brejo na margem da rodovia RJ 214, próximo a floresta

secundária – 21°05’38,88”S; 42°05’33,41”O; 210 m – 28/03/2008.

• Ponto 9 – Natividade: Fazenda Basiléia: brejo próximo a floresta secundária –

21°01’58,68”S; 41°54’14,09”O; 207 m – 29/03/2008.

Figura 5 – Pontos de amostragem da anurofauna em Natividade e Itaperuna, RJ.

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• Ponto 10 – Natividade: Fazenda Basiléia: fragmento de floresta secundária,

margem de córrego alterado – 21°01’45,40”S; 41°54’26,24”O; 235 m –

29/03/2008.

• Ponto 11 – Natividade: área urbana no centro da cidade, na margem do rio Muriaé

– 21°02’22,45”S; 41°58’49,08”O; 178 m – 31/03/2008.

• Ponto 12 – Natividade: Fazenda Coqueiro: pequeno açude próximo a floresta

secundária – 21°02’51,94”S; 41°56’03,82”O; 186 m – 31/03/2008.

• Ponto 13 – Natividade: Fazenda Coqueiro: brejo em pastagem – 21°03’04,90”S;

41°56’01,33”O; 175 m – 31/03/2008.

• Ponto 14 – Natividade: Fazenda Coqueiro: represa em pastagem – 21°03’12,08”S;

41°56’24,93”O; 179 m – 31/03/2008.

2.1.3. Sub-bacia do rio Guaxindiba

Estação Ecológica de Guaxindiba (São Francisco de Itabapoana)

A Estação Ecológica de Guaxindiba (EEG), localizada no Município de São

Francisco do Itabapoana, foi criada recentemente, pelo Decreto Estadual nº 32.576, de 30

de dezembro de 2002. A EEG abriga o maior remanescente contínuo de floresta estacional

semidecidual da porção norte do estado do Rio de Janeiro e encontra-se classificada como

área prioritária para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, sob a categoria de

importância extremamente alta (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2008; MMA/SBF,

2002). O fragmento florestal encontra-se mais conservado em termos regionais,

apresentando dossel alto e sub-bosque bem desenvolvido, e pode ser classificada como

secundária tardia, apresentando alguns elementos de floresta original. Esse fragmento é

margeado por grandes brejos, cobertos por densa vegetação aquática. São encontradas

também pequenas lagoas e represas no entorno do fragmento. Apesar de encontrar-se em

unidade de conservação, a floresta da EEG, conhecida localmente como Mata do Carvão,

vem sendo impactada por retirada de madeira. Durante as atividades de campo, foi

encontrado um grande número de árvores recém derrubadas e de tocos de árvores retiradas

há mais tempo, além de clareiras. Alguns troncos e tocos chegaram a mais de um metro de

diâmetro. A amostragem da anurofauna foi realizada em 12 pontos em ambientes de

floresta e brejo, distribuídos na EEG em seu entorno (figuras 6 e 7, fotos 18-24). São

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listados abaixo esses pontos amostrais seguidos de descrição sucinta do hábitat, de

coordenadas geográficas e das datas de amostragem.

Figura 6 – Pontos de amostragem da anurofauna na Estação Ecológica de Guaxindiba e

entorno, São Francisco do Itabapoana, RJ.

• Ponto 1 – Estação Ecológica de Guaxindiba: brejo na borda do fragmento de

floresta secundária – 21°24’58,14”S; 41°04’37,57”O; 16 m – 07/05/2008.

• Ponto 2 – Fazenda São Pedro de Alcântara II: brejo em canavial próximo à Estação

Ecológica de Guaxindiba – 21°26’02,41”S; 41°03’08,31”O; 7 m – 07/05/2008.

• Ponto 3 – Estação Ecológica de Guaxindiba: fragmento de floresta secundária,

próximo a brejo – 21°25’31,03”S; 41°05’09,89”O; 10 m – 08/05/2008.

• Ponto 4 – Estação Ecológica de Guaxindiba: poça próxima ao fragmento de floresta

secundária – 21°25’44,75”S; 41°04’55,69”O; 11 m – 09/05/2008.

• Ponto 5 – Estação Ecológica de Guaxindiba: fragmento de floresta secundária,

próximo a brejo – 21°25’46,01”S; 41°04’23,16”O; 1 m – 08/05/2008.

• Ponto 6 – Estação Ecológica de Guaxindiba: interior do fragmento de floresta

secundária – 21°25’20,10”S; 41°04’55,70”O; 28 m – 08 a 09/05/2008.

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Figura 7 – Estação Ecológica de Guaxindiba em São Francisco do Itabapoana, RJ. Fonte:

Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2008).

• Ponto 7 – Estação Ecológica de Guaxindiba: interior do fragmento de floresta

secundária – 21°22’38,03”S; 41°05’08,43”O; 33 m – 07/05/2008.

• Ponto 8 – Estação Ecológica de Guaxindiba: grande brejo na borda do fragmento

de floresta secundária – 21°22’17,57”S; 41°05’45,03”O; 10 m – 07/05/2008.

• Ponto 9 – Estação Ecológica de Guaxindiba: represa em grande brejo –

21°23’57,46”S; 41 °03’41,62”O; 14 m – 07/05/2008.

• Ponto 10 – brejo pequeno: brejo próximo à Estação Ecológica de Guaxindiba –

21°25’59,50”S; 41°05’37,40”O; 10 m – 08/05/2008.

• Ponto 11 – brejo grande: brejo próximo à Estação Ecológica de Guaxindiba –

21°27’12,60”S; 41°05’58,90”O; 5 m – 08/05/2008.

• Ponto 12 – mata de galeria: pequena mata de mangue próxima à Estação Ecológica

de Guaxindiba – 21°28’33,68”S; 41°04’02,23”O; 3 m – 09/05/2008.

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2.2. Levantamento Faunístico

2.2.1. Amostragem em campo

Inicialmente, foram obtidas as autorizações e licenças ambientais necessárias à

coleta de anurofauna, junto aos órgãos governamentais pertinentes. Junto ao Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), foi obtida

uma autorização para coleta de anfíbios em todos os municípios das sub-bacias dos rios

Guaxindiba, Imbé e Muriaé (Autorização para Atividades com Finalidade Científica nº.

14590-1). Essa autorização foi conseguida através do Sistema de Autorização e Informação

em Biodiversidade (SISBIO) / IBAMA, seguindo as normas da Instrução Normativa nº

154, de 01 de março de 2007. Junto à Fundação Instituto Estadual de Florestas do Rio de

Janeiro (IEF-RJ), foi obtida uma autorização específica para pesquisa com coleta de

anfíbios na Estação Ecológica de Guaxindiba (Autorização para Pesquisa Científica IEF/RJ

N° 013/2008), seguindo as normas da Portaria IEF/RJ/PR nº 227, de 18 de dezembro de

2007. Nos dois documentos foi considerada como instituição responsável pela pesquisa

científica a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento

(SEAPPA) do Governo do Estado do Rio de Janeiro, como pesquisador responsável

técnico o biólogo Adriano Lima Silveira e como instituição recebedora e conservadora de

material científico coletado o Museu Nacional, Rio de Janeiro.

Em cada localidade amostral selecionado para o levantamento faunístico, foi

realizada uma campanha de quatro dias de amostragem de anfíbios em campo. Em cada dia

amostral, foram empregadas cerca de 10 horas de esforço de coleta, sendo cerca de quatro

horas durante o dia e seis horas durante a noite, por uma equipe de quatro coletores. Assim

foi empregado um esforço total de cerca de 160 horas/homem/coleta em cada campanha.

Considerando as quatro localidades amostradas em todo o estudo, foi empreendido um

esforço de 640 horas/homem/coleta.

Foram amostrados (coletados) exemplares de anfíbios na natureza através da

metodologia de coleta direta por busca ativa em campo, em períodos diurno e

principalmente noturno, de acordo com Calleffo (2002) (fotos 25-28). A busca ativa foi

empregada nos microhábitats propícios à ocorrência de anuros, tais como margem de

corpos d’água, macrófitas aquáticas e vegetação ripária de brejos, folhiço de mata,

vegetação arbustiva de mata, abrigos sobre tronco caídos e seixos de pedra, interior de

bromélias, entre outros. Foram coletados principalmente anuros machos em atividade de

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vocalização em sítios reprodutivos. Quando necessário, foi utilizada a técnica de gravação

de vocalização e realização de play-back para atração de exemplares, sendo utilizado

gravador Panasonic RQ-L11.

Sempre que possível, foram coletados alguns exemplares testemunhos das espécies

de anuros encontradas, nunca excedendo o número de espécimes permitidos nas

autorizações de coleta; algumas espécies foram registradas apenas através de audição de

vocalização. Nas localidades inseridas nos limites da APA Lagoa de Cima, houve apenas

registros de vocalizações de espécies de anuros, não ocorrendo coletas de exemplares.

Coletas foram conduzidas nas localidades situadas fora dos limites da APA.

Adicionalmente, foi utilizado o método demarcação de plotes em ambientes

florestais com folhiço, como complemento da busca ativa. Esses plotes consistiram de

quadrantes de 25 m2 (parcelas) cercados com lona plástica afixada em vergalhões de aço e

com a porção inferior enterrada em canaleta. Após a instalação dos plotes, foi realizada

uma intensa busca ativa de anfíbios no interior dos mesmos, através de esforço

empreendido por quatro pessoas (foto 29). Na primeira localidade amostral, em Santa

Maria Madalena, foram instalados dois plotes no ponto 5, em um fragmento de floresta

secundária. O uso de plotes foi proposto no presente estudo uma vez que o mesmo permite

a aplicação de esforço amostral padronizado em diferentes localidades, possibilitando

melhor comparação dos resultados obtidos, além de ser bastante eficaz para a amostragem

de fauna de serrapilheira, especialmente de espécies de encontro raro. Entretanto, a partir

da segunda localidade amostral, optou-se pelo abandono dessa metodologia devido à

ausência de transporte adequado do material necessário a instalação de plotes até o campo.

Após as amostragens, exemplares de todas as espécies coletadas foram fotografados

utilizando-se máquina fotográfica digital (Sony Cyber-chot DSC-H). Essas imagens

destinaram-se a compor um guia fotográfico das espécies de anuros registradas no estudo.

Os anfíbios coletados foram acondicionados em recipientes apropriados (caixas e

potes com furos, sacos de pano, sacos de plástico) e transportados a laboratório de campo.

Em seguida, os exemplares coletados foram mortos, fixados e preservados, de acordo com

as metodologias propostas por Calleffo (2002). A morte foi induzida com a injeção

intraperitoneal do anestésico tiopental sódico ou imersão em solução de álcool 20%. Para a

fixação, os espécimes receberam injeção de formol 10% e permaneceram por três dias

montados em bandeja e cobertos com papel embebido com formol 10% (foto 30). Após

serem fixados, os exemplares foram conservados em álcool 70%. Todos os espécimes

coletados e preservados foram depositados na Coleção Herpetológica do Museu Nacional,

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Rio de Janeiro (MNRJ), como material testemunho do estudo.

2.2.2. Consulta a coleção científica

A Coleção Herpetológica do Museu Nacional, Rio de Janeiro (MNRJ) foi

consultada, com o objetivo de serem levantados os registros de anfíbios procedentes da

área estudada e depositados nessa coleção. Para tanto, foram considerados todas as

localidades inseridas nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba. O levantamento

dos registros foi obtido através de consulta aos livros-tombo e os espécimes localizados

foram analisados, para confirmação da identificação taxonômica. Os registros obtidos

foram utilizados para elaboração da lista de espécies de anfíbios de toda a área de estudo e

das listas das quatro localidades amostradas.

2.2.3. Levantamento bibliográfico

Foi realizada uma ampla consulta a bibliografia especializada, incluindo artigos

científicos, livros, dissertações, teses e publicações eletrônicas, com o objetivo de serem

localizados registros publicados de anfíbios procedentes da área de estudo. A consulta

incluiu visitas às bibliotecas do Museu Nacional e da Universidade Estadual do Norte

Fluminense.

2.3. Análise de Dados

2.3.1. Identificação taxonômica

Os espécimes foram identificados por taxonomista (responsável técnico), com

auxílio de literatura científica especializada e comparação com material de museu. Em

caso de táxons de identificação mais difícil, exemplares coletados em campo foram

comparados com exemplares já determinados depositados na Coleção Herpetológica

MNRJ, incluindo material. Em alguns casos, também foi necessária a análise de

vocalizações gravadas em campo e comparação com vocalizações descritas. A

nomenclatura adotada seguiu a sistemática proposta por Frost (2007) e SBH (2008).

Para a maioria dos táxons coletados, houve determinação conclusiva em nível de

espécies. No caso de táxons pertencentes provavelmente a uma espécie nova ainda não

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descrita, mas, muito semelhante a uma espécie já descrita, o nome desta última espécie foi

aplicado com o uso da expressão “aff.”. Quando um táxon correspondeu morfologicamente

a uma espécie descrita, mas, sua distribuição geográfica não foi condizente com a da

espécie ou sua correta determinação necessitaria de demais análises não possíveis no

momento (de morfologia ou vocalização), foi utilizado o nome dessa espécie descrita com

o uso da expressão “cf.”. Por fim, quando se determinou o gênero e não foi possível a

identificação em nível específico de um táxon, devido à coleta apenas de imagos (formas

recém-metamorfoseadas) ou ao registro de vocalização sem coleta de exemplares, foi

aplicada a expressão “sp.” no lugar do epípeto específico e, e quando foi possível

determinar a qual grupo de espécies o táxon pertence, foi usada a expressão “gr.” seguida

do nome do grupo.

2.3.2. Composição faunística

A partir dos dados obtidos através de amostragem em campo, consulta a coleção e

levantamento bibliográfico, foram conduzidas as seguintes análises:

• Confecção de lista de espécies e determinação da composição faunística e riqueza

de espécies de anfíbios anuros de toda a área estudada.

• Confecção de listas de espécies e determinação da composição faunística e riqueza

de anuros de cada localidade amostrada nas três sub-bacias.

• Análise de similaridade de espécies (índice de Sorensen) entre os pontos

amostrados e entre as sub-bacias.

• Elaboração de um banco de dados em formato de planilha eletrônica, contendo

registros georreferenciados das espécies levantadas na área de estudo.

• Associação das espécies registradas às diferentes fitofisionomias vegetais e hábitats

amostrados.

• Determinação de espécies de anuros endêmicas da Mata Atlântica e do Estado do

Rio de Janeiro, espécies invasoras, cinegéticas e ameaçadas de extinção (se

presentes). Foram adotadas as distribuições geográficas das espécies propostas por

Frost (2007), Izecksohn e Carvalho-e-Silva, 2001 e Union for Conservation of

Nature et al. (2006).

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• Determinação de novos registros zoogeográficos. Foram adotadas as distribuições

geográficas das espécies propostas por Frost (2007), Izecksohn e Carvalho-e-Silva,

2001 e Union for Conservation of Nature et al. (2006).

• Identificação de espécies de anuros possivelmente novas para a ciência.

• Determinação de espécies de anuros com potencial para uso sustentável.

• Indicação de áreas chave para a conservação da diversidade de anfíbios nas sub-

bacias estudadas.

• Indicações de ações estratégicas visando uso sustentável, conservação e

monitoramento da diversidade de anfíbios nas regiões norte e noroeste fluminense.

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Foto 1 Floresta ombrófila densa amostrada em Santa Maria Madalena

Foto 2

Floresta ombrófila densa amostrada em Santa Maria Madalena

Foto 3

Floresta ombrófila densa com riacho amostrada em Santa Maria Madalena

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Foto 4

Brejo amostrado em Santa Maria Madalena

Foto 5

Brejo amostrado em Santa Maria Madalena

Foto 6

Floresta estacional semidecidual amostrada em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

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Foto 7

Floresta estacional semidecidual amostrada em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

Foto 8

Brejo amostrado em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

Foto 9

Brejo amostrado em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

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Foto 10

Lagoa amostrada em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

Foto 11

Lagoa amostrada em Lagoa de Cima, Campos dos Goytacazes

Foto 12

Floresta estacional semidecidual amostrada em Natividade / Itaperuna

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Foto 13

Floresta estacional semidecidual amostrada em Natividade / Itaperuna

Foto 14

Floresta estacional semidecidual amostrada em Natividade / Itaperuna

Foto 15

Poça em floresta estacional semidecidual amostrada em Natividade / Itaperuna

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Foto 16

Brejo amostrado em Natividade / Itaperuna

Foto 17

Brejo amostrado em Natividade / Itaperuna

Foto 18

Visão aérea da Estação Ecológica de Guaxindiba exibindo o remanescente de floresta estacional semidecidual e brejos no entorno, São Francisco do Itabapoana (fonte: wikimapia.org)

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Foto 19

Floresta estacional semidecidual na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

Foto 20

Floresta estacional semidecidual na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

Foto 21

Floresta estacional semidecidual na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

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Foto 22

Grande brejo na borda de floresta estacional semidecidual na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

Foto 23

Grande brejo na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

Foto 24

Poça na Estação Ecológica de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana

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Foto 25

Amostragem de anfíbios através da metodologia de coleta direta por busca ativa – diurna em mata

Foto 26

Amostragem de anfíbios através da metodologia de coleta direta por busca ativa – noturna em brejo

Foto 27

Amostragem de anfíbios através da metodologia de coleta direta por busca ativa – noturna em mata

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Foto 28

Amostragem de anfíbios através da metodologia de coleta direta por busca ativa

Foto 29

Amostragem de anfíbios através da metodologia de plote

Foto 30

Método de fixação de espécimes de anuros coletados

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3. RESULTADOS

3.1. Composição Faunística de Anuros nas Áreas Amostradas

3.1.1. Sub-bacia do rio Imbé

Santa Maria Madalena

Em Santa Maria Madalena foram registradas 35 espécies de anuros, a maioria

pertencente à família Hylidae (18 espécies), seguida de Leptodactylidae (4),

Brachycephalidae (4), Bufonidae (3), Cycloramphidae (3), Leiuperidae (2) e Aromobatidae

(1) (quadro 1). A maior parte das espécies foi registrada através de coleta de exemplares

(24 espécies), enquanto que seis espécies foram registradas apenas a partir de audição de

vocalização em campo e outras cinco, a partir de análises da coleção do MNRJ.

A riqueza de 30 espécies registradas em campo foi bastante elevada para uma

amostragem rápida, abrangendo uma pequena área e no final da estação chuvosa. Isto

indica que um estudo em longo prazo, na época mais propícia ao registro de anuros e em

mais localidades certamente fornecerá uma riqueza ainda maior de anfíbios para a região

de Santa Maria Madalena, permitindo classificar essa área como possivelmente uma das

mais ricas em anfíbios anuros do Estado do Rio de Janeiro e do bioma Mata Atlântica.

A maioria das espécies registradas (18) é habitante dos brejos, sendo que algumas

dessas espécies dependem de florestas para seu desenvolvimento. No fragmento florestal

estudado em Santa Maria Madalena foram obtidas 10 espécies, o que representa a maior

riqueza florestal de todas as áreas amostradas no presente estudo (quadro 1). Entretanto, o

levantamento rápido realizado não permitiu satisfatória amostragem desse ambiente e

espera-se o registro de um número maior de espécies. Certamente a existência de um

riacho no interior do fragmento, com vegetação ripária relativamente conservada, contribui

para essa riqueza. Neste fragmento foram registradas espécies mais exigentes quanto à

conservação do habitat e, por isso, consideradas indicadores de boa qualidade ambiental;

são elas: Allobates cf. olfersioides, Ischnocnema parva, Zachaenus parvulus e

Aplastodiscus sp. Isto indica que essa mata encontra-se em bom estado de conservação.

Outras quatro espécies de hábito florestal, Brachycephalus sp., Ischnocnema octavioi,

Proceratophrys melanopogon e Bokermannohyla carvalhoi, registradas em Santa Maria

Madalena a partir da coleção MNRJ também são exigentes e indicadoras de boa qualidade

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ambiental. Ainda em Santa Maria Madalena oito espécies de anuros foram encontradas em

área urbana ou de pastagem artificial.

Quadro 1 – Espécies de anfíbios anuros registradas em Santa Maria Madalena

Família Espécie Nome comum Ambiente Registro Aromobatidae Allobates cf. olfersioides rãzinha FO C

Brachycephalus sp. sapinho-pingo-de-ouro FO M Eleutherodactylus binotatus rã-da-mata FO C Ischnocnema octavioi rã-da-mata FO M Brachycephalidae

Ischnocnema parva rãzinha-da-mata FO C Rhinella crucifer sapo-cururu FO, B, A C Rhinella icterica sapo-cururu FO, P, A C Bufonidae Rhinella pombali sapo-cururu P, A C Proceratophrys melanopogon sapo-de-chifres FO M Thoropa miliaris rã-da-pedra FO C Cycloramphidae Zachaenus parvulus rã-folha FO C Aplastodiscus sp. perereca-verde FO A Bokermannohyla carvalhoi perereca-da-mata FO M Dendropsophus berthalutzae pererequinha-de-x B C Dendropsophus elegans perereca-de-moldura B C Dendropsophus minutus pererequinha-de-

ampulheta B C

Dendropsophus pseudomeridianus

pererequinha B C

Hypsiboas albomarginatus perereca-verde B C Hypsiboas albopunctatus perereca-bode B C Hypsiboas faber sapo-martelo B C Hypsiboas semilineatus perereca-conversadeira B C Hypsiboas pardalis perereca-franjada B A Hypsiboas polytaenius perereca-listrada B M Scinax alter perereca B C Scinax cuspidatus perereca-bicudinha B C Scinax aff. eurydice perereca B C Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro A C Scinax sp. 1 (gr. catharinae) perereca FO A

Hylidae

Scinax sp. 2 (gr. catharinae) perereca B A Physalaemus signifer rã-chorona FO C Leiuperidae Pseudopaludicola cf. mineira rãzinha B C Leptodactylus fuscus rã-assobiadeira B, P C Leptodactylus ocellatus rã-manteiga B, P C Leptodactylus marmoratus rãzinha-assobiadeira P A Leptodactylidae

Leptodactylus (Lithodytes) sp. rãzinha-assobiadeira P A

Ambiente: FO – floresta ombrófila densa, B – brejo, P – pastagem artificial, A – área urbana.

Registro: C – coleta de exemplares, A – auditivo (vocalização).

A elevada riqueza de anuros obtida na região de Santa Maria Madalena, incluindo

espécies indicadoras de ambiente conservado, e o potencial para ocorrência de uma riqueza

ainda maior, indicam a importância dos remanescentes florestais e corpos d’água

associados da região para a manutenção da diversidade de anfíbios anuros. Fica evidente

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também que o conjunto de fragmentos florestais no entorno do Parque Estadual do

Desengano, nos quais se inclui o fragmento estudado, são ricos em espécies e importantes

para a manutenção da biodiversidade do grande remanescente de floresta ombrófila densa

do parque.

Lagoa de Cima (Campos dos Goytacazes)

Dezesseis espécies de anfíbios anuros foram registradas em Lagoa de Cima. Dentre

essas, a maioria pertencente à família Hylidae (10 espécies), seguida de Leptodactylidae

(3), Bufonidae (2) e Leiuperidae (1) (quadro 2). Dezesseis espécies foram registradas

através de coleta de exemplares e apenas uma, através de audição de vocalização.

Quadro 2 – Espécies de anfíbios anuros registradas em Lagoa de Cima (Campos dos Goytacazes)

Família Espécie Nome comum Ambiente Registro Rhinella crucifer sapo-cururu FE, B C Bufonidae Rhinella pygmaea sapo-pigmeu B C Dendropsophus bipunctatus pererequinha B C Dendropsophus elegans perereca-de-moldura B C Dendropsophus aff. oliveirai pererequinha B, FE C Dendropsophus pseudomeridianus

pererequinha B C

Hypsiboas semilineatus perereca-conversadeira B C Scinax alter perereca B C Scinax aff. crospedospilus perereca B C Scinax aff. eurydice perereca FE, B C Scinax similis perereca-de-banheiro B, A C

Hylidae

Sphaenorhynchus planicola pererequinha-verde B C Leiuperidae Pseudopaludicola cf. mineira rãzinha B C

Leptodactylus fuscus rã-assobiadeira B, P C Leptodactylus ocellatus rã-manteiga B C Leptodactylidae Leptodactylus cf. natalensis rã-borbulhante B A

Ambiente: FE – floresta estacional semidecidual, B – brejo, P – pastagem artificial, A – área

urbana.

Registro: C – coleta de exemplares, A – auditivo (vocalização).

Todas as espécies levantadas forma registradas em brejos, sendo que três espécies

também foram encontradas em floresta estacional semidecidual e duas espécies em área

urbana ou de pastagem (quadro 2).

Em Lagoa de Cima foi observada uma menor riqueza de anuros (16 espécies), em

comparação com as demais áreas estudadas: Santa Maria Madalena (35) e Natividade /

35

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Itaperuna (23). Entretanto, a riqueza de espécies de brejo em Lagoa de Cima (16) é muito

similar àquelas observadas em Santa Maria Madalena (17) e Natividade / Itaperuna (18),

sendo que a menor riqueza total naquela área deve-se provavelmente à menor riqueza de

espécies florestais. A cobertura florestal do entorno da grande lagoa encontra-se bastante

alterada, restando apenas pequenos fragmentos, a maior parte deles caracterizados como

capoeiras (matas baixas em estágios iniciais de regeneração), além de poucos trechos de

mata secundária. Assim, é provável que o estado de conservação desses fragmentos não

forneça condições para a manutenção de uma grande riqueza de anuros.

Apesar da região de Lagoa de Cima apresentar grande disponibilidade de ambientes

aquáticos, a quase totalidade desses é constituída por ambientes lênticos e quase não

existem córregos ou riachos (ambientes lóticos) com floresta ripária marginal.

Consequentemente, a totalidade das espécies de anuros registradas na área utiliza

ambientes lênticos para depósito de ovos e desenvolvimento de larvas, e não foram

registradas espécies florestais que se reproduzem em ambientes lóticos.

A partir do exposto, fica clara a necessidade de recuperação e conservação de áreas

florestais na região da Lagoa de Cima, especialmente aquelas marginais de córregos e

riachos, para a manutenção da diversidade de anfíbios anuros.

3.1.2. Sub-bacia do rio Muriaé

Natividade / Itaperuna

Em Natividade e Itaperuna foram registradas 23 espécies de anuros, sendo a maior

parte pertencente à família Hylidae (15 espécies), seguida de Leptodactylidae (2),

Bufonidae (2), Leiuperidae (2), Cycloramphidae (1) e Microhylidae (1) (quadro 3). Vinte e

duas espécies foram registradas através de coleta de exemplares, enquanto que uma foi

registrada apenas a partir de audição de vocalização.

Em Natividade e Itaperuna foi encontrada uma riqueza de anuros considerada

também elevada para um levantamento rápido, o que foi possível devido à ocorrência de

chuvas durante a amostragem (anuros tornam-se mais ativos em período de chuva).

Entretanto, essa área está inserida nos domínios da floresta estacional semidecidual e,

consequentemente, exibe uma maior sazonalidade nos períodos chuvoso e seco. Assim,

espera-se que uma grande parcela dos anuros da área exiba reprodução temporária

36

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associada ao início da estação de chuvas e, consequentemente, é esperado que a área

abrigue uma riqueza maior que a obtida na amostragem.

Quadro 3 – Espécies de anfíbios anuros registradas em Natividade e Itaperuna

Família Espécie Nome comum Ambiente Registro Rhinella crucifer sapo-cururu FE C Bufonidae Rhinella pombali sapo-cururu P, A C

Cycloramphidae Thoropa miliaris rã-da-pedra FE C Dendropsophus anceps perereca-rizadinha B A Dendropsophus bipunctatus pererequinha B C Dendropsophus decipiens pererequinha-de-moldura FE C Dendropsophus elegans perereca-de-moldura B C Dendropsophus minutus pererequinha-de-

ampulheta B C

Dendropsophus pseudomeridianus

pererequinha B C

Hypsiboas albomarginatus perereca-verde B C Hypsiboas albopunctatus perereca-bode B C Hypsiboas faber sapo-martelo B C Hypsiboas semilineatus perereca-conversadeira B C Phyllomedusa burmeisteri perereca-verde B C Scinax alter perereca B C Scinax aff. crospedospilus perereca B C Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro B C

Hylidae

Scinax sp. 3 (gr. catharinae) perereca B C Physalaemus signifer rã-chorona FE C

Leiuperidae Pseudopaludicola aff. falcipes

rãzinha B C

Leptodactylus fuscus rã-assobiadeira B C Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus rã-manteiga B, FE C Microhylidae Elachistocleis ovalis rã-grilo B C

Ambiente: FE – floresta estacional semidecidual, B – brejo, P – pastagem artificial, A – área

urbana.

Registro: C – coleta de exemplares, A – auditivo (vocalização).

Uma elevada riqueza, 18 espécies de anfíbios, foi registrada em brejos. Por outro

lado, em ambientes de floresta estacional semidecidual secundária foi encontrada uma

baixa riqueza de anuros, cinco espécies, e apenas uma espécie em área urbana ou de

pastagens (quadro 3). No fragmento florestal estudado nasce um córrego, mas quase toda a

sua margem encontra-se desmatada; assim, a maior parte do fragmento apresenta folhiço

com baixa umidade. Esse aspecto poderia explicar a pequena riqueza de anuros,

especialmente de espécies de folhiço, as quais dependem de elevada umidade para

sobrevivência. Outro fator que explicaria a riqueza seria a sazonalidade, sendo esperada

uma maior riqueza apenas no início da estação chuvosa.

37

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A riqueza de espécies encontrada em Natividade e Itaperuna (23), mesmo sendo

elevada, foi significativamente menor que a encontrada em Santa Maria Madalena (35).

Considerando apenas as espécies de brejo, a riqueza foi a mesma em ambas as áreas (18).

Então, a diferença na composição da fauna entra as duas áreas expressou a riqueza de

espécies florestais, a qual foi maior na área de floresta ombrófila densa (mais úmida) do

que na de floresta estacional semidecidual (menos úmida).

Em toda a região vistoriada em Natividade e Itaperuna não foram encontradas áreas

conservadas de floresta ripária (de margem de corpos d’água). Consequentemente, não foi

registrada nenhuma espécie de anuro florestal que se reproduza em córregos ou riachos.

Como muitas espécies de anfíbios da Mata Atlântica são especialistas desse tipo de

floresta, torna-se evidente a necessidade de restauração e conservação de floresta ripária

em Natividade e Itaperuna, para a conservação e manutenção da diversidade de anuros.

3.1.3. Sub-bacia do rio Guaxindiba

Estação Ecológica de Guaxindiba (São Francisco do Itabapoana)

Na Estação Ecológica de Guaxindiba (EEG) e entorno foram registradas 16

espécies de anuros, a maioria pertencente à família Hylidae (12 espécies), seguida de

Bufonidae (2), Leptodactylidae (1) e Leiuperidae (1) (quadro 4). A maioria (14) foi

registrada através de coleta de exemplares, enquanto apenas duas foram registradas na

coleção MNRJ. Em campo, apenas uma espécie (Scinax argyreornatus) foi encontrada em

ambiente florestal, enquanto as demais foram encontradas em brejos. Outras duas espécies

registradas em coleção (Aparasphenodon brunoi e Trachycephalus nigromaculatus)

ocorrem em florestas.

Foi encontrada uma pequena riqueza de anfíbios anuros na EEG e entorno, sendo

menor que a riqueza obtida nas demais áreas inventariadas neste estudo. As condições

amostrais explicam esse resultado, uma vez que o período de amostragem não coincidiu

com chuvas e a maioria das espécies de anuros está em atividade apenas em período

chuvoso e dificilmente pode ser detectada em época de estiagem. A região da EEG é bem

drenada por extensos brejos e a mata da EEG é relativamente estruturada e apresenta uma

significativa área em contato com brejo. Essas condições são propícias à manutenção de

elevada riqueza de anuros. Assim, espera-se que essa área abrigue uma riqueza de espécies

maior que o encontrado. Nas demais áreas inventariadas, as amostragens ocorreram

38

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concomitantemente com chuvas, o que permitiu a detecção de maior riqueza de espécies.

Essas diferenças nas condições amostrais não permitem comparações muito confiáveis

entre as riqueza obtida na EEG e nas demais áreas inventariadas. Esses resultados indicam

que a EEG encontra-se sub-amostrada quanto à composição da anurofauna e novas

amostragens em períodos de chuva tornam-se necessárias.

Quadro 4 – Espécies de anfíbios anuros registradas na Estação Ecológica de Guaxindiba e entorno

(São Francisco do Itabapoana)

Família Espécie Nome comum Ambiente Registro Rhinella crucifer sapo-cururu B C Bufonidae Rhinella pygmaea sapo-pigmeu B C Aparasphenodon brunoi perereca-de-capacete FE M Dendropsophus elegans perereca-de-moldura B C Dendropsophus aff. oliveirai pererequinha B C Dendropsophus pseudomeridianus pererequinha B C Hypsiboas albomarginatus perereca-verde B C Hypsiboas semilineatus perereca-conversadeira B C Scinax alter perereca B C Scinax argyreornatus pererequinha-da-mata FE C Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro B C Scinax similis perereca B C Sphaenorhynchus planicola pererequinha-verde B C

Hylidae

Trachycephalus nigromaculatus perereca-cabeça-de-osso FE M Leiuperidae Pseudopaludicola cf. mineira rãzinha B C Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus rã-manteiga B, P C

Ambiente: FE – floresta estacional semidecidual, B – brejo, P – pastagem artificial.

Registro: C – coleta de exemplares, M – coleção MNRJ.

3.2. Composição Faunística de Anuros nas Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e

Guaxindiba

3.2.1. Riqueza e lista de espécies

Em todas as áreas amostradas nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba

foram registradas 53 espécies de anfíbios anuros. Quarenta e quatro espécies foram

registradas a partir das amostragens realizadas em campo, enquanto que nove foram

registradas em análise da coleção MNRJ. Foi constatado que não existe qualquer

publicação que aborde a composição faunística de anfíbios das sub-bacias estudadas. A

maioria das espécies levantadas pertence à família Hylidae (30 espécies), seguida de

Leptodactylidae (6), Brachycephalidae (4), Bufonidae (4), Leiuperidae (4),

39

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Cycloramphidae (3), Aromobatidae (1) e Microhylidae (1) (quadro 4, figura 8). Essa

riqueza corresponde a 32,5 % do total de espécies conhecidas no Estado do Rio de Janeiro

(163 espécies; Rocha et al., 2004), uma significativa parcela da anurofauna do estado

considerando a pequena área relativa amostrada no presente estudo, e a 6,4 % do total de

espécies registradas no Brasil (832 espécies; SBH, 2008).

Esses números indicam que as sub-bacias do Imbé, Muriaé e Guaxindiba abrigam

uma elevada diversidade de anfíbios anuros, mesmo apresentando grande parte de suas

áreas alteradas por ação antrópica, o que ressalta a importância da conservação de seus

remanescentes de ambientes naturais para a manutenção dessa diversidade.

Quadro 4 – Espécies de anfíbios anuros registradas nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e

Guaxindiba, no norte e noroeste do Estado do Rio de Janeiro.

Família Espécie Nome comum Localidade Ambiente Registro

Aromobatidae Allobates cf. olfersioides

rãzinha SM FO C

Brachycephalus sp. sapinho-pingo-de-ouro

SM FO M

Eleutherodactylus binotatus

rã-da-mata SM FO C

Ischnocnema octavioi

rã-da-mata SM FO M Brachycephalidae

Ischnocnema parva

rãzinha-da-mata

SM FO C

Rhinella crucifer sapo-cururu SM, NI, LC, EG

FO, FE, B, A

C

Rhinella icterica

sapo-cururu SM FO, P, A C

Rhinella pombali

sapo-cururu SM, NI P, A C Bufonidae

Rhinella pygmaea

sapo-pigmeu LC, EG B C

Proceratophrys melanopogon

sapo-de-chifres SM FO M

Thoropa miliaris

rã-da-pedra SM, NI FO, FE C Cycloramphidae

Zachaenus parvulus

rã-folha SM FO C

Aparasphenodon brunoi perereca-de-capacete

EG FE M

Aplastodiscus sp.

perereca-verde SM FO A

Bokermannohyla carvalhoi

perereca-da-mata

SM FO M

Dendropsophus anceps perereca-rizadinha

NI B A

Dendropsophus berthalutzae

pererequinha-de-x

SM B C

Hylidae

Dendropsophus bipunctatus

pererequinha NI, LC B C

40

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Família Espécie Nome comum Localidade Ambiente Registro Dendropsophus decipiens

pererequinha-de-moldura

NI FE C

Dendropsophus elegans perereca-de-moldura

SM, NI, LC, EG

B C

Dendropsophus minutus pererequinha-de-ampulheta

SM, NI B C

Dendropsophus aff. oliveirai

pererequinha LC, EG B, FE C

Dendropsophus pseudomeridianus

pererequinha SM, NI, LC, EG

B C

Hypsiboas albomarginatus

perereca-verde SM, NI, EG

B C

Hypsiboas albopunctatus

perereca-bode SM, NI B C

Hypsiboas faber

sapo-martelo SM, NI B C

Hypsiboas semilineatus perereca-conversadeira

SM, NI, LC, EG

B C

Hypsiboas pardalis perereca-franjada

SM B A

Hypsiboas polytaenius

pererca-listrada

SM B M

Phyllomedusa burmeisteri

perereca-verde NI B C

Scinax alter perereca SM, NI, LC, EG

B C

Scinax argygeornatus pererequinha-da-mata

EG FE C

Scinax aff. crospedospilus

perereca NI, LC B C

Scinax cuspidatus

perereca-bicudinha

SM B C

Scinax aff. eurydice

perereca SM, LC FE, B C

Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro

SM, NI, EG

B, A C

Scinax similis perereca-de-banheiro

LC, EG B, A C

Scinax sp. 1 (gr. catharinae)

perereca SM FO A

Scinax sp. 2 (gr. catharinae)

perereca SM B A

Scinax sp. 3 (gr. catharinae)

perereca NI B C

Sphaenorhynchus planicola

pererequinha-verde

LC, EG B C

Hylidae

Trachycephalus nigromaculatus

perereca-cabeça-de-osso

EG FE M

Physalaemus cuvieri

rã-cachorro PO B M

Physalaemus signifer

rã-chorona SM, NI FO, FE C

Pseudopaludicola aff. falcipes

rãzinha NI B C Leiuperidae

Pseudopaludicola cf. mineira

rãzinha SM, LC, EG

B C

Leptodactylidae Leptodactylus fuscus

rã-assobiadeira SM, NI, LC

B, P C

41

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Família Espécie Nome comum Localidade Ambiente Registro Leptodactylus ocellatus rã-manteiga SM, NI,

LC, EG B, FE, P C

Leptodactylus marmoratus

rãzinha-assobiadeira

SM P A

Leptodactylus cf. natalensis

rã-borbulhante LC B A

Leptodactylus spixi

rã-de-bigode PO FE M

Leptodactylidae

Leptodactylus (Lithodytes) sp.

rãzinha-assobiadeira

SM P A

Microhylidae Elachistocleis ovalis

rã-grilo NI B C

Localidade: SM – Santa Maria Madalena, NI – Natividade/Itaperuna, LC – Lagoa de Cima

(Campos dos Goytacazes), EEG – Estação Ecológica de Guaxindiba e entorno (São Francisco do

Itabapoana), PO – Porciúncula.

Ambiente: FO – floresta ombrófila densa, FE – floresta estacional semidecidual, B – brejo, P –

pastagem artificial, A – área urbana.

Registro: C – coleta de exemplares, A – auditivo (vocalização), M – coleção MNRJ.

30

6

4

4

4

3 1 1Hylidae

Leptodactylidae

Brachycephalidae

Bufonidae

Leiuperidae

Cycloramphidae

Aromobatidae

Microhylidae

Figura 8 – Riqueza de espécies por famílias de anfíbios anuros registrada nas sub-bacias

dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba.

3.2.2. Similaridade faunística entre as áreas amostradas

Foi obtida realizada análise da similaridade faunística de anuros entre as quatro

áreas amostradas, aplicando-se o índice de similaridade qualitativo de Sorensen (Magurran,

1991) (Tabela 1). O maior índice foi obtido entre Lagoa de Cima e EEG, as quais são áreas

42

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com maior similaridade ambiental, uma vez que se situam na baixada litorânea e

apresentam floresta estacional semidecidual e grades brejos, compondo ecossistemas

considerados mais recentes. Valores intermediários foram obtidos entre Natividade /

Itaperuna e as demais áreas. Isto indica que Natividade / Itaperuna, uma área de floresta

estacional semidecidual de interior é tão similar às áreas de floresta estacional

semidecidual de baixadas (Lagoa de Cima e EEG), quanto à área de floresta ombrófila

densa (Santa Maria Madalena), ou seja, abriga elementos faunísticos de ambas as

formações. Os menores valores foram obtidos entre Santa Maria Madalena (floresta

ombrófila densa) e ás áreas de baixada (floresta estacional semidecidual), ou seja, entre

localidades com ambiente menos similares.

Esse resultado indica que há variação na composição da fauna de anuros nos

diferentes ecossistemas, e que há maior similaridade faunística entre ecossistemas com

fisionomias mais similares, nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba. Assim,

ações conservacionistas devem considerar cada ecossistema como uma unidade, com fauna

própria e parcialmente distinta.

Tabela 1 – Índice de similaridade faunística de anfíbios anuros entre pares das áreas

amostradas: Santa Maria Madalena, Natividade / Itaperuna, Lagoa de Cima (Campos dos

Goytacazes) e Estação Ecológica de Guaxindiba (São Francisco do Itabapoana).

Estação Ecológica de Guaxindiba

Natividade / Itaperuna

Santa Maria Madalena

Lagoa de Cima 0,687 0,561 0,353

Santa Maria Madalena 0,353 0,517

Natividade / Itaperuna 0,410

3.2.3. Associação das espécies aos hábitats

Considerando todas as localidades amostradas no presente estudo, os ambientes de

brejo abrigaram a maior riqueza de espécies (32), seguidas pelos ambientes de floresta

ombrófila densa (14), floresta estacional semidecidual (11), pastagem artificial (6) e áreas

urbanas (5) (figura 9). Em muitos casos, essa associação das espécies aos ambientes não

43

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ocorre de forma exclusiva. Assim, por exemplo, uma espécie pode desenvolver-se em

floresta e reproduzi-se em brejos.

32

14

11

6

5

brejo

floresta ombrófiladensafloresta estacionalsemidecidualpastagem artificial

área urbana

Figura 9 – Riqueza de espécies de anfíbios anuros registrada nos hábitats nas sub-bacias

dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba.

3.2.4. Espécies endêmicas da Mata Atlântica e do Estado do Rio de Janeiro

Dentre as 53 espécies registradas no presente estudo, 30 (56,6 %) são endêmicas do

bioma Mata Atlântica: Allobates cf. olfersioides, Brachycephalus sp., Eleutherodactylus

binotatus, Ischnocnema parva, I. octavioi, Rhinella pygmaea, Proceratophrys

melanopogon, Aparasphenodon brunoi, Zachaenus parvulus, Thoropa miliaris,

Bokermannohyla carvalhoi, Dendropsophus anceps, D. berthalutzae, D. bipunctatus, D.

elegans, D. aff. oliveirai, D. pseudomeridianus, Hypsiboas albomarginatus, H.

semilineatus, H. pardalis, Scinax alter, S. argyreornatus, S. aff. crospedospilus, S. aff.

eurydice, S. cuspidatus, S. similis, Sphaenorhynchus planicola, Physalaemus signifer,

Leptodactylus marmoratus, L. cf. natalensis.

Três espécies registradas, Ischnocnema octavioi, Zachaenus parvulus,

Bokermannohyla carvalhoi, são consideradas endêmicas do Estado do Rio de Janeiro

(Izecksohn e Carvalho-e-Silva, 2001; Rocha et al., 2004).

44

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3.2.5. Espécies indicadoras de boa qualidade ambiental

Sete espécies registradas são consideradas indicadoras de boa qualidade ambiental:

Allobates cf. olfersioides, Ischnocnema parva, I. octavioi, Proceratophrys melanopogon,

Zachaenus parvulus, Aplastodiscus sp. e Bokermannohyla carvalhoi. Essas espécies são

mais exigentes quanto à conservação do hábitat, ocorrendo somente em ambientes

florestais em bom estado de conservação. Allobates cf. olfersioides, I. parva, Z. parvulus e

Aplastodiscus sp. foram encontradas no fragmento estudado em Santa Maria Madalena, o

que indica que essa área encontra-se bem conservada. Esse fragmento apresenta floresta

secundária tardia associada a um riacho e nascentes afluentes, com elevado e denso extrato

arbóreo, sub-bosque desenvolvido e serrapilheira densa e úmida.

3.2.6. Espécies invasoras

Duas espécies de anuros, Hypsiboas albopunctatus e Scinax fuscovarius, foram

consideradas invasoras de Mata Atlântica. Hypsiboas albopunctatus foi registrada em

Santa Maria Madalena, Natividade e Itaperuna e Scinax fuscovarius, nessas três

localidades e na Estação Ecológica de Guaxindiba. Essas espécies apresentam uma ampla

distribuição pelos ecossistemas abertos do Brasil, especialmente ao longo do Cerrado, e

ocorrem em áreas originalmente florestadas e atualmente desmatadas de Mata Atlântica.

Hypsiboas albopunctatus habita exclusivamente os brejos, enquanto que Scinax

fuscovarius reproduz-se em brejos, mas exibe um grande deslocamento durante as chuvas

e, em períodos não reprodutivos, pode abrigar-se no interior de domicílios humanos.

3.2.7. Espécies cinegéticas

Espécies cinegéticas são aquelas que sofrem pressão de caça humana. Nessa

categoria pode ser incluída Leptodactylus ocellatus (rã-manteiga), a qual é comumente

caçada pela população rural para fins de alimentação. A espécie é muito comum na área

estudada e ocorre em abundância em quase todos os ambientes lênticos, inclusive em áreas

muito alteradas. Assim, a pressão da caça humana certamente não oferece grande ameaça à

conservação de Leptodactylus ocellatus na área de estudo.

45

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3.2.8. Estado de conservação das espécies e taxocenoses

Nenhuma das espécies de anuros registradas é considerada ameaçada de extinção

no Brasil ou no Estado do Rio de Janeiro, segundo as listas oficiais (Machado et al., 2005;

Rocha et al., 2004).

Dentre as áreas amostradas, apenas a região da Serra do Desengano pode ser

considerada como apresentando taxocenose de anuros em bom estado de conservação, uma

vez que em apenas um fragmento florestal e brejos de entorno foi registrada uma elevada

riqueza de espécies, incluindo relativa elevada riqueza de espécies florestais estritas,

espécies indicadoras de boa qualidade ambiental e representatividade de diversos guildas

de uso de hábitat (espécies que utilizam folhiço de mata, vegetação de mata, córrego ou

riacho em mata, poça temporária em mata e brejo).

Nas outras localidades, foi encontrada uma elevada riqueza de espécies de brejo,

mas uma pequena riqueza de espécies florestais. Isto indica que o ambiente florestal pode

ter passado por processo de perda de diversidade de anuros, em decorrência de degradação

ambiental. Entretanto, como o inventário realizado foi preliminar, os dados obtidos não

permitem uma segura avaliação do estado de conservação dessas taxocenoses, sendo

necessárias para tanto amostragens em longo prazo e abrangendo sazonalidade. Mesmo

que as taxocenoses de anuros nas áreas de floresta estacional encontrem-se menos

conservadas em relação à Serra do Desengano, essas áreas apresentam importância para a

manutenção da diversidade de anuros remanescente das bacias do Imbé, Muriaé e

Guaindiba, especialmente daquelas espécies de brejo.

3.2.9. Novos registros zoogeográficos

Os seguintes registros de algumas espécies nas localidades estudadas representam

significativas ampliações das distribuições geográficas conhecidas dessas espécies:

• Rhinella crucifer – coletada em Santa Maria Madalena, Natividade / Itaperuna,

Lagoa de Cima e Estação Ecológica de Guaxindiba. A espécie ocorre ao longo da

Mata Atlântica litorânea, do sul do Espírito Santo ao Ceará, estendendo-se para o

interior da Bahia. As novas localidades representam os primeiros registros da

espécie no Estado do Rio de Janeiro, assim como, o registro mais meridional

conhecido (Santa Maria Madalena).

46

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• Rhinella pombali – coletada em Santa Maria Madalena e Natividade / Itaperuna.

Espécie ocorrente na porção leste de Minas Gerais, com apenas um outro registro

no Estado do Rio de Janeiro. As novas localidades representam dois novos registros

para o estado.

• Ischnocnema octavioi – registrada em Santa Maria Madalena. A espécie ocorre nos

maciços florestais das regiões central e sul do Estado do Rio de Janeiro, o novo

registro constitui o limite oriental de sua distribuição.

• Proceratophrys melanopogon – registrada nas serra do Mar e da Mantiqueira nos

estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e serras do Brigadeiro e Ibitipoca em Minas

Gerais. O novo registro expande sua distribuição conhecida na Serra do Mar no Rio

de Janeiro.

• Dendropsophus pseudomeridianus – coletada em Santa Maria Madalena,

Natividade / Itaperuna, Lagoa de Cima e na Estação Ecológica de Guaxindiba.

Espécie conhecida para a região de baixada litorânea mais ao sul no Estado do Rio

de Janeiro e no sul do Espírito Santo. As novas localidades representam os registros

mais interioranos e em altitudes mais elevadas conhecidos para a espécie.

• Pseudopaludicola cf. mineira – coletada em Santa Maria Madalena, Lagoa de Cima

e na Estação Ecológica de Guaxindiba. Pseudopaludicola mineira é considerada

endêmica da serra do Cipó no sul da serra do Espinhaço, Minas Gerais. Se essas

populações do Rio de Janeiro corresponderem mesmo a P. mineira, esses novos

registros ampliarão a distribuição geográfica até a baixada do Rio de Janeiro,

sugerindo que a espécie possa ocorrer na faixa de Mata Atlântica a leste da porção

sul da serra do Espinhaço.

• Hypsiboas albopunctatus – encontrada em Santa Maria Madalena e Natividade /

Itaperuna. Espécie amplamente distribuída por áreas abertas do Brasil; não havia

registro da mesma para o norte e noroeste do Estado do Rio de Janeiro.

3.2.10. Considerações taxonômicas e possíveis espécies novas

Para algumas espécies registradas no estudo não foi possível a aplicação segura de

um nome específico, sendo então utilizados os recursos de aproximação de táxons através

do uso das expressões “cf.”, “aff.”, “sp.” e “gr.” (ver item 2.3.1). Algumas desses táxons

provavelmente correspondem a espécies novas, ainda não descritas.

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Foi coletado apenas um exemplar Allobates. O mesmo é semelhante a Allobates

olfersioides, a única espécie do gênero do Estado do Rio de Janeiro, mas exibe variação de

coloração e tamanho. Análises mais detalhadas são necessárias para confirmação da

identificação e no momento o nome Allobates cf. olfersioides foi aplicado. Há a

possibilidade de tratar-se de espécie inédita.

Foi registrada a vocalização de exemplares de Aplastodiscus, mas não foram

coletados espécimes de modo a permitir a identificação da espécie. Então, aplicou-se o

nome Aplastodiscus sp.

O nome Dendropsophus aff. oliveirai foi aplicado a uma diminuta espécie de

Dendropsophus, muito semelhante a D. oliveirai, mas possivelmente correspondente a uma

nova espécie, tal como assinalado por Izecksohn e Carvalho-e-Silva (2001). A distribuição

de D. oliveirai restringe-se ao Nordeste do Brasil.

O nome Scinax aff. crospedospilus foi aplicado populações de uma espécie nova,

atualmente em descrição, mas muito similar a Scinax crospedospilus.

Foram identificadas como Scinax aff. eurydice populações pertencentes a uma nova

espécie atualmente em descrição, a qual é muito parecida com S. eurydice.

Os nomes Scinax sp. 1 (gr. catharinae), Scinax sp. 2 (gr. catharinae) e Scinax sp. 3

(gr. catharinae) correspondem, respectivamente, a duas espécies de Scinax registradas

apenas por vocalização e uma espécie registrada a partir de imagos coletados. As mesmas

não puderam ser identificadas em nível específico, mas, seguramente são espécies do

grupo de Scinax catharinae.

Uma população registrada de Pseudopaludicola com afinidades com

Pseudopaludicola aff. falcipes, mas, exibindo variações morfológicas conspícuas, foi

determinada como Pseudopaludicola aff. falcipes e possivelmente corresponde a um

espécie inédita.

Foram coletados exemplares morfologicamente correspondentes a

Pseudopaludicola mineira, espécie endêmica da serra do Cipó, na porção sul Serra do

Espinhaço. Como o gênero apresenta taxonomia complexa, a determinação segura de

espécies exige análise de vocalização e a distribuição das populações da serra do Cipó e da

área do presente estudo são disjuntas, optou-se por utilizar o nome Pseudopaludicola cf.

mineira.

Leptodactylus cf. natalensis foi registrada apenas a partir de vocalização, a qual é

compatível com a de L. natalensis. Mas, como não foram coletados exemplares e outras

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espécies do gênero exibem vocalização semelhante, a identificação específica não pode ser

confirmada.

Foi ouvida a vocalização de um exemplar de Leptodactylus não coletado,

pertencente ao subgênero Lithodytes. Como a identificação específica exigiria análise do

exemplar, aplicou-se o nome Leptodactylus (Lithodytes) sp.

3.3. Bancos de Dados e Imagens Digitais

A partir de todos os registros obtidos nas amostragens em campo, foi gerado um

banco de dados digital, em formato de planilha eletrônica, contendo os seguintes dados

para cada registro em campo:

• Espécie

• Município

• Localidade

• Coordenadas geográficas e altitude (georreferenciadas)

• Hábitat / fitofisionomia

• Tipo de registro (coleta, vocalização, visual)

• Status da espécie: endêmica da Mata Atlântica e do Estado do Rio de Janeiro,

invasora na região, registro novo para a região, indicadora de boa qualidade

ambiental, cinegética, possível espécie nova, potencial para uso sustentável.

Também foi gerado um banco de imagens digitais dos diferentes ambientes das quatro

localidades amostradas, acompanhadas das respectivas coordenadas geográficas. Esses

dois bancos digitais obtidos encontram-se em anexo ao presente relatório.

3.4. Áreas Chave para a Conservação da Diversidade de Anuros nas Sub-bacias dos

Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba

A área das sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba, no norte e noroeste do

Estado do Rio de Janeiro, sofreu um intenso e contínuo processo de degradação ambiental

em longo prazo. Como resultado, a maior parte das áreas naturais foi bastante alterada e

atualmente a cobertura florestal existente restringe-se a fragmentos florestais isolados em

áreas de pastagens artificiais, agricultura ou ambiente urbana. A maioria desses fragmentos

apresenta pequena área e vegetação alterada e em estado inicial ou secundário de sucessão

ecológica. Apenas alguns fragmentos abrigam ainda elementos de floresta nativa original

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ou floresta pouco alterada. Os maiores e mais preservados desses fragmentos florestais

encontram-se na Serra do Desengano, compondo o Parque Estadual do Desengano e seu

entorno, em Santa Maria Madalena, São Fidélis e Campos dos Goytacazes. Essa área situa-

se na sub-bacia do rio Imbé e apresenta fisionomia floresta ombrófila densa.

O restante dos remanescentes de Mata Atlântica das três sub-bacias corresponde a

fragmentos de floresta estacional semidecidual. Na sub-bacia do rio Guaxindiba destaca-se

a Estação Ecológica de Guaxindiba, com o maior desses fragmentos, o qual é conhecido

localmente como Mata do Carvão. Na sub-bacia do rio Muriaé, destacam-se conjuntos de

fragmentos menores, mas próximos entre si, nas regiões de Porciúncula, Varre Saia,

Natividade, Itaperuna; Laje do Muriaé, Miracema e São José de Ubá; e em Cambuci.

Também tem desataque a região da Lagoa de Cima, na foz do rio Imbé, a qual apresenta

formações pioneiras com florestas ripárias e grandes brejos associadas ao ecossistema

lacustre.

Essas áreas destacadas são consideradas neste estudo como áreas chave para a

manutenção da diversidade de anuros nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba,

devendo ser prioritariamente preservadas. Entretanto, como a Mata Atlântica nessas sub-

bacias encontra-se bastante reduzida e fragmentada, todos os fragmentos remanescentes

apresentam importância para a conservação da biodiversidade ainda existente e também

devem ser considerados como áreas chave para a manutenção da diversidade de anuros,

ainda que em menor grau de importância em relação àquelas áreas destacadas. Os

remanescentes da Serra do Desengano na sub-bacia do rio Imbé apresentam uma maior

importância, uma vez que têm maior área contínua e mais conservada, e abrigam floresta

ombrófila densa, a qual á mais úmida e contém maior riqueza de anfíbios em relação à

floresta estacional. Ademais, em Santa Maria Madalena foi registrada a maior riqueza de

anuros deste estudo, incluindo o maior número de espécies estritamente florestais e

indicadoras de boa qualidade ambiental.

De acordo com a avaliação das áreas prioritárias para a conservação, utilização

sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira, realizada pelo

Ministério do Meio Ambiente (MMA/SBF, 2002), a região da Serra do Desengano

(compondo a Serra dos Órgãos), a região entre Porciúncula e Miracema (incluindo

Natividade e o Distrito de Raposo em Itaperuna) e a Mata do Carvão (Estação Ecológica

de Guaxindiba) foram consideradas como áreas prioritárias para a conservação da

biodiversidade da Mata Atlântica. A primeira área foi classificada como de importância

biológica extremamente alta e as demais, como de importância biológica muito alta.

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Considerando apenas o grupo dos anfíbios, a região do Desengano foi classificada como

insuficientemente conhecida mias de provável importância biológica. Essas três áreas

encontravam-se desconhecidas quanto à fauna de anfíbios e foram amostradas no presente

estudo.

Considerando apenas os registros faunísticos obtidos em campo neste estudo, as

quatro áreas inventariadas são consideradas como chave para a conservação de anuros,

uma vez que abrigam elevada riqueza de espécies ou apresentam potencial para abrigar

elevada riqueza. Dentre todas as localidades amostradas, destacam-se como mais

importantes as seguintes:

• Fragmento florestal e brejos de entorno do Rancho da Lelê, em Santa Maria

Madalena.

• Fragmento florestal e brejos de entorno da Fazenda São Vicente, em Itaperuna.

• Fragmento florestal e brejos de entorno da Estação Ecológica de Guaxindiba, em

São Francisco do Itabapoana.

• Lagoa de Cima e brejos e fragmentos florestais de entorno.

3.5. Ações Estratégicas para Conservação, Uso Sustentável e Monitoramento da

Diversidade de Anuros nas Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba

Conservação

As sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba permanecem ainda pouco

conhecidas em termos da fauna de anfíbios. Mesmo informações básicas não são

disponíveis, não havendo qualquer publicação sobre composição de espécies de anfíbios de

localidades na área. O presente estudo constitui a primeira análise da anurofauna dessas

sub-bacias. O levantamento rápido, mesmo preliminar, permitiu diagnosticar que os

remanescentes de ambientes naturais da área abrigam ainda grande diversidade de anuros.

Esses ambientes, no entanto, são reduzidos e estão sobre constante pressão antrópica.

Diante dessa ausência de conhecimento quanto à anurofauna e das ameaças aos

remanescentes de ambientes naturais, tornam-se necessárias as seguintes ações estratégicas

para a conservação nas sub-bacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba:

• Inventário da fauna de anfíbios – Conhecer a diversidade de anfíbios nos

remanescentes naturais é o primeiro passo para qualquer ação subseqüente que vise

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conservação. Inventários em longo prazo, incluindo sazonalidade, e utilizando

métodos adequados e grande esforço amostral devem ser realizados no maior

número possível de localidades, especialmente naquelas já indicadas como chave

para a manutenção da diversidade do grupo. A escolha de localidades deve

considerar o estado de conservação das áreas e a representatividade dos diferentes

ecossistemas. As localidades amostradas neste estudo também devem ser alvo de

inventários complementares. Recomenda-se a realização de inventários ao longo de

pelo menos um ano e utilizando métodos de busca ativa, armadilhas de

interceptação e queda e plotes. Dados resultantes de inventários bem feitos

fornecerão subsídios para demais estudos ou para ações conservacionistas.

• Combate aos processos de eliminação e perturbação de ambientes naturais – A

eliminação e perturbação de ambientes naturais é a principal causa de perda de

espécies em todo o mundo, o que também se aplica aos anfíbios. Os poucos

remanescentes de fragmentos florestais e brejos naturais da área de estudo têm sido

ainda perturbadas de várias formas pela ação humana, ou mesmo eliminadas, dando

lugar a outros usos do solo. Mesmo unidades de conservação de proteção integral

têm sido alteradas; na Estação Ecológica de Guaxindiba, por exemplo, foi vista

retirada recente de grandes árvores. Acabar com os processos de eliminação e

perturbação de ambientes naturais é a principal ação apara a conservação e

manutenção da diversidade de anfíbios nas sub-bacias estudadas. Essa ação requer

participação das autoridades ambientais competentes.

• Criação de unidades de conservação – Uma significativa área dos remanescentes

naturais não se encontra protegida em unidade de conservação e a criação dessas

unidades seria uma medida fundamenta para a conservação de remanescentes.

Devem ser priorizados extensos fragmentos florestais ou conjunto de muitos

fragmentos próximos entre si, com floresta em estágios mais avançados de sucessão

ecológica e especialmente os fragmentos com córregos ou riachos e circundados

por brejos. Nas unidades também devem estar representados os diferentes

ecossistemas das sub-bacias. É urgente a necessidade de criação de unidades na

sub-bacia do rio Muriaé, na região que abrange Porciúncula, Varre Saia, Natividade

e Itaperuna (Distrito de Raposo). A criação de unidades de conservação para

proteger os fragmentos florestais no entorno do Parque Estadual do Desengano,

contribuiria para a conservação da diversidade de anfíbios nesses fragmentos, assim

como, no próprio parque. Recomenda-se a criação de unidades de conservação de

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proteção integral. No caso de pequenos remanescentes em propriedades

particulares, é indicada a criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural.

• Recuperação de áreas alteradas - Os anfíbios dependem dos ambientes naturais

para sua sobrevivência e quanto mais alterado o ambiente menor será a diversidade.

Em muitos casos, a recuperação de ambientes alterados permite o restabelecimento

de ao menos parte da diversidade de espécies perdida. Nas localidades estudadas,

os fragmentos florestais mais alterados apresentaram menor riqueza de anfíbios,

principalmente aqueles com floresta ripária (nas margens de corpos d’água)

degradadas. É provável que esses fragmentos sofreram processo de perda de

espécies em decorrência da perda de ambiente, principalmente perda de espécies

especialistas em riachos ou folhiço úmido. A recuperação das matas ripárias nesses

fragmentos constitui uma importante medida para a manutenção e restabelecimento

da diversidade de anuros, especialmente para a proteção de espécies mais exigentes

e consequentemente mais raras e ameaçadas. As nascentes do entorno da lagoa de

cima e de Natividade / Itaperuna são indicadas como áreas prioritárias para a

recuperação de mata galeria.

• Diminuição da poluição em corpos d’água - Como a maioria dos anfíbios

necessita diretamente do meio aquático para seu desenvolvimento, a poluição dos

corpos d’água constitui grande impacto negativo sobre as populações, eliminando

espécies desses ambientes, especialmente aquelas mais sensíveis. Nas localidades

amostradas, foi diagnosticada uma riqueza muito baixa ou ausência completa de

anfíbios nos trechos de riachos e rios em áreas urbanas poluídos por dejetos

domiciliares e industriais, assim como, em brejos em áreas rurais poluídos por

dejetos pecuários. Assim, a diminuição do aporte de poluentes em corpos d’água

lênticos e lóticos é fundamental para a manutenção da diversidade dos anfíbios.

• Gestão das unidades de conservação existentes – A EGG e a APA Lagoa de

Cima abrigam remanescentes únicos e insubstituíveis em termos regionais.

Entretanto, nessas unidades não tem ocorrido ações direcionadas para a

conservação dos anfíbios. Mesmo o conhecimento básico, como composição de

espécies, não está disponível ou encontra-se tratado insatisfatoriamente. O

diagnóstico ambiental da APA Lagoa de Cima (Rezende e Beneditto, 2006)

apresenta uma lista de apenas cinco espécies de anfíbios para a área. É necessária a

realização de estudos que abordem diversos aspectos da biologia dos anfíbios

nessas unidades, tais como composição de espécies, história natural, ecologia e

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estado de conservação. Esse conhecimento permitirá que a gestão das unidades

inclua ações eficazes para a conservação de anfíbios.

• Planejamento de reservatórios de usinas hidrelétricas – A criação de

reservatórios d’água para abastecer usinas hidrelétricas tem sido freqüente no

Brasil, especialmente de pequenos reservatórios para Pequenas Centrais

Hidrelétricas. O barramento de rios alaga extensas áreas naturais, principalmente

florestas ripárias e brejos rasos e elimina populações inteiras de espécies de

anfíbios, especialmente daquelas mais sensíveis e raras, causando grande e

irreparável impacto. No norte do Rio de Janeiro tem sido construídos reservatórios,

como aqueles recentemente implantados no rio Itabapoana, próximo ao rio Muriaé,

então, o impacto de reservatórios constitui um risco potencial às áreas deste estudo.

A construção de reservatório deve ser planejada, incluindo escolha criteriosa das

áreas de modo e não serem alagados remanescentes florestais e brejos naturais.

Essa é uma medida preventiva para evitar-se a eliminação de populações.

• Prevenção de introdução de espécies exóticas - A introdução e estabelecimento

de espécies exóticas é uma das grandes causas de extinções de espécies. No Brasil,

assim como em outras partes do mundo, têm sido registrados focos de introdução

da rã-touro (Lithobates catesbeianus), inclusive no Estado do Rio de Janeiro. Esta

espécie é utilizada em criação comercial na ranicultura e muitas vezes os criadouros

não previnem corretamente a fuga de exemplares. Quando introduzida em

ambientes naturais, a rã-touro pode adaptar-se e reproduzir-se. A espécie possui

grande porte e alimenta-se de outras espécies de anuros, além de ocupar nichos de

outras espécies, o que pode causar grande impacto com eliminação de populações

de espécies autóctones. E uma vez no ambiente, seu controle populacional e

erradicação são quase impraticáveis. Muitas vezes, órgãos públicos estimulam o

desenvolvimento da ranicultura por comunidades rurais, sem se preocupar com a

prevenção de introdução acidental da espécie em ambientes naturais. Assim, essa

prevenção é importante para a conservação dos anfíbios na área do estudo.

• Criação de programas de educação ambiental – A conscientização da população

humana rural quanto à importância da conservação dos remanescentes naturais e da

fauna de anfíbios associada é uma importante ferramenta para obter-se a

conservação efetivamente. Assim, recomenda-se a criação e execução de

programas de educação ambiental que abordem a conservação dos anfíbios,

destinados aos moradores das áreas que abrigam remanescentes. Uma estratégia

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eficaz seria a divulgação de resultados deste estudo, em linguagem apropriada, ao

público escolar.

Uso sustentável

O conceito de uso sustentável significa o uso de algum recurso natural pelo ser

humano de modo a satisfazer tanto as necessidades humanas presentes quanto as futuras,

enquanto minimiza seu impacto sobre a diversidade biológica (modificado de Primack e

Rodrigues, 2001). Esse recurso natural pode ser uma espécie animal, por exemplo. No

Brasil, poucas espécies de anfíbios são usadas como recurso explorado pelo homem,

consequentemente, não se dispõe de estudos sobre uso sustentável de anfíbios silvestres

brasileiros.

Considerando as sub-bacias estudadas, o termo uso sustentável não se aplica às

espécies de anfíbios ocorrentes na área, uma vez que essas não são usadas como recurso

explorado pelo homem, com uma exceção. Apenas uma espécie de grande porte,

Leptodactylus ocellatus (rã-manteiga), é explorada como recurso alimentar pela população

rural. Entretanto, essa exploração ocorre mediante caça informal e ilegal. Como já dito, a

espécie é muito comum nas sub-bacias estudadas e ocorre em abundância em quase todos

os ambientes lênticos, inclusive em áreas muito alteradas. Assim, sua exploração

aparentemente não está oferecendo riscos à manutenção das populações naturais e à

conservação da espécie, ainda que a dimensão do impacto dessa exploração não tenha sido

estudada.

Outra espécie de porte ainda maior, Leptodactylus labyrinthicus (rã-pimenta), não

foi registrada nas amostragens, mas é esperada sua ocorrência nas sub-bacias estudadas.

Esta espécie também é consumida como alimento pelo homem, sendo ainda mais apreciada

que L. ocellatus. A rã-pimenta é menos comum que a rã-manteiga, não sendo encontrada

em grandes abundâncias. Também não se conhece o impacto que a exploração pelo homem

causa sobre as populações dessa espécie, mas é provável que haja um impacto negativo

significativo considerando sua biologia, em detrimento daquele causado sobre a rã-

manteiga.

Estudos que avaliem o impacto causado pela exploração humana sobre as

populações de rã-manteiga permitiriam avaliar se a espécie poderia ser legalmente

explorada e de forma sustentável. Existe também a possibilidade de exploração da rã-

manteiga em ranicultura, para exploração da carne para alimentação, assim como, da pele

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para a indústria de vestimentas e afins. Duas questões precisam ser consideradas com

atenção. Primeiro, a rã-manteiga apresenta glândulas secretoras de toxinas na pela, as quais

podem causar intoxicação humana. Assim, é necessário avaliar o risco oferecido por essas

toxinas. Segundo, o nome L. ocellatus tem sido aplicado a várias populações em uma

ampla distribuição geográfica, as quais provavelmente constituem um complexo de

espécies ainda mal definidas, e diferentes espécies apresentam diferenças em sua biologia.

As populações existentes no Estado do Rio de Janeiro provavelmente correspondem à

espécie nominal. Então, qualquer estudo que avalie o potencial de uso sustentável de L.

ocellatus deverá ser precedido por estudo taxonômico que avalie e identidade da população

em questão.

Monitoramento

O monitoramento de fauna pode ser aplicado a uma população de uma espécie em

uma determinada área ou a várias populações de várias espécies que compõe uma

comunidade de uma área. O monitoramento objetiva principalmente acompanhar

alterações de parâmetros das populações ou comunidades ao longo de um intervalo de

tempo, ou fazer um diagnóstico do estado de conservação de uma população ou uma

comunidade em uma área e em um determinado tempo. Geralmente, aplica-se o primeiro

objetivo quando da realização de alguma intervenção no meio ambiente potencialmente

causadora de impacto sobre a fauna, sendo necessária a avaliação desse impacto. Já o

segundo objetivo é mais aplicado à conservação de espécies ou comunidades ameaçadas.

São definidos a seguir alguns critérios a serem preferencialmente seguidos em caso

de implantação de programa de monitoramento da anurofauna nas sub-bacias dos rios

Imbé, Muriaé e Guaxindiba:

• Escolha de áreas – Proceder à escolha de áreas que apresentem potencialidades

para abrigar a maior diversidade possível de anuros. Essas áreas, via de regra, são

aquelas que têm a maior área territorial de ambientes naturais, maior

heterogeneidade desses ambientes, a cobertura vegetal em melhor estado de

conservação e em estágios de sucessão ecológica mais avançados, coleções d’água

mais conservadas e menos poluídas, áreas que sofrem menos intervenções

antrópicas e, no caso de fragmentos, que estão preferencialmente inseridos em

matriz de outros fragmentos proximamente localizados. A escolha também deve

abranger áreas dos diferentes ecossistemas das três sub-bacias, especialmente as

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seguintes unidades de paisagem: floresta estacional semidecidual e brejos de

baixada, floresta estacional semidecidual e brejos de interior, e floresta ombrófila

densa e brejos de altitude. As localidades mais indicadas são aquelas citadas

anteriormente como áreas chave para a conservação dos anuros nas sub-bacias

estudadas.

• Legislação / autorizações ambientais – As atividades de manejo de fauna

empregadas no monitoramento devem seguir a Instrução Normativa nº 154, de 1º

de março de 2007, do Ministério do Meio Ambiente, a qual fixa normas para o

manejo de fauna, especialmente quanto à coleta de espécimes. Autorizações para

captura e coleta de exemplares na natureza devem ser solicitadas ao

SISBIO/IBAMA. Caso seja realizado monitoramento em unidades de conservação

estaduais, deve-se seguir a Portaria IEF/RJ/PR nº 227, de 18 de dezembro de 2007,

da Fundação Instituto Estadual de Florestas, a qual versa sobre a realização de

pesquisas científicas em unidades de conservação estaduais e emissão de

autorizações para coleta de fauna. Autorizações são emitidas mediante declaração

de coleção científica interessada em receber material zoológico coletado.

Recomenda-se depósito de material testemunho na Coleção Herpetológica do

Museu Nacional, Rio de Janeiro.

• Metodologia de amostragem – A metodologia precisa ser cuidadosamente

planejada e adequada às condições disponíveis. O uso de vários métodos de

amostragem por uma equipe garante maior possibilidade de bons resultados.

Recomenda-se o uso dos seguintes métodos: coleta direta por busca ativa –

realizado em períodos diurno e principalmente noturno e abrangendo vários micro-

ambientes; armadilhas de interceptação e queda – uso de conjuntos de baldes de 64

litros eqüidistantes cinco ou 10 metros e cerca guia de lona plástica ou tela plástica

afixada em estacas de madeira ou bambu, mínimo de seis conjuntos de quatro

baldes dispostos em “Y” ou um conjunto de 30 baldes dispostos em linha por

localidade amostral, funcionamento das armadilhas por no mínimo cinco dias

consecutivos, sendo vistoriados uma ou duas vezes ao dia; plotes – quadrantes de

25m2 em folhiço de mata, cercados com lona plástica de um metro de altura afixada

em quatro vergalhões de ferro, uso de no mínimo cinco plotes por localidade

amostral. Em cada localidade, a amostragem deve ser realizada em longo prazo,

com campanhas de no mínimo cinco dias em intervalos de no máximo três meses,

distribuídas de forma a abranger a sazonalidade. As campanhas podem ser

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condensadas no início do período das chuvas. A logística das campanhas deve

prevê transporte adequado da equipe e do material.

• Material testemunho – A coleta e preservação de espécimes testemunhos é

fundamental para a correta identificação taxonômica, para garantir registro

testemunho da fauna amostrada e para fornecer dados secundários de coleção a

estudos futuros. Frequentemente estão sendo descobertas espécies novas de anuros

na Mata Atlântica, o que só é possível mediante coleta de material em amostragens.

Recomenda-se depósito de material testemunho na Coleção Herpetológica do

Museu Nacional, Rio de Janeiro.

• Análises – O monitoramente prevê, em síntese, análises de parâmetros de

populações ou comunidades ao longo de um tempo. Monitoramente de

comunidades são mais aplicáveis às sub-bacias do Imbé, Muriaé e Guaxindiba, em

detrimento do monitoramento de populações de uma dada espécie, devido à

ausência de conhecimento sobre composição faunística nessas áreas e à

possibilidade de obtenção de maior volume de conhecimentos sobre mais espécies

quando se estuda comunidades. Assim, sugere-se a análise primária dos seguintes

parâmetros sinecológicos: riqueza de espécies, diversidade de espécies (índices),

eqüabilidade, similaridade faunística entre áreas (índices qualitativos), abundância

relativa e sazonalidade. Devem ser analisadas também: associação das espécies aos

diferentes microambientes e identificação de espécies endêmicas, ameaçadas,

especialistas e raras. Os dados obtidos devem ser comparados ao longo do tempo

amostral, permitindo avaliação de alterações na estrutura da comunidade e

conseqüente avaliação de seu estado de conservação.

3.6. Guia Fotográfico das Espécies de Anuros das Sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e

Guaxindiba

O presente guia é composto por fotografias de todas as espécies coletadas em

campo, não incluindo aquelas registradas apenas por vocalização ou em consulta à coleção

MNRJ. As fotos apresentadas são de exemplares coletados nas localidades amostradas. As

espécies estão ordenadas por famílias e em ordem alfabética (fotos 31-65).

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Foto 31 Família: Aromobatidae Espécie: Allobates cf. olfersioides Nome comum: rãzinha

Foto 32

Família: Brachycephalidae Espécie: Eleutherodactylus binotatus Nome comum: rã-da-mata

Foto 33

Família: Brachycephalidae Espécie: Ischnocnema parva Nome comum: rãzinha-da-mata

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Foto 34 Família: Bufonidae Espécie: Rhinella crucifer Nome comum: sapo-cururu

Foto 35

Família: Bufonidae Espécie: Rhinella icterica Nome comum: sapo-cururu

Foto 36

Família: Bufonidae Espécie: Rhinella pombali Nome comum: sapo-cururu

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Foto 37 Família: Bufonidae Espécie: Rhinella pygmaea Nome comum: sapo-pigmeu

Foto 38

Família: Cycloramphidae Espécie: Thoropa miliaris Nome comum: rã-da-pedra

Foto 39

Família: Cycloramphidae Espécie: Zachaenus parvulus Nome comum: rã-folha

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Foto 40 Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus bertaelutzae Nome comum: pererequinha-de-x

Foto 41

Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus bipunctatus Nome comum: pererequinha

Foto 42

Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus decipiens Nome comum: pererequinha-de-moldura

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Foto 43 Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus elegans Nome comum: perereca-de-moldura

Foto 44

Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus minutus Nome comum: pererequinha-de-ampulheta

Foto 45

Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus aff. oliveirai Nome comum: pererequinha

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Foto 46 Família: Hilidae Espécie: Dendropsophus cf. pseudomeridianus Nome comum: pererequinha

Foto 47

Família: Hilidae Espécie: Hypsiboas albomarginatus Nome comum: perereca-verde

Foto 48

Família: Hilidae Espécie: Hypsiboas albopunctatus Nome comum: perereca-bode

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Foto 49 Família: Hilidae Espécie: Hypsiboas faber Nome comum: sapo-martelo

Foto 50

Família: Hilidae Espécie: Hypsiboas semilineatus Nome comum: perereca-conversadeira

Foto 51

Família: Hilidae Espécie: Phylomedusa burmeisteri Nome comum: perereca-verde

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Foto 52 Família: Hilidae Espécie: Scinax alter Nome comum: perereca

Foto 53

Família: Hilidae Espécie: Scinax argyreornatus Nome comum: pererequinha-da-mata

Foto 54

Família: Hilidae Espécie: Scinax aff. crospedospilus Nome comum: perereca

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Foto 55 Família: Hilidae Espécie: Scinax cuspidatus Nome comum: perereca-bicudinha

Foto 56

Família: Hilidae Espécie: Scinax aff. eurydice Nome comum: perereca

Foto 57

Família: Hilidae Espécie: Scinax fuscovarius Nome comum: perereca-de-banheiro

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Foto 58 Família: Hilidae Espécie: Scinax similis Nome comum: perereca-de-banheiro

Foto 59

Família: Hilidae Espécie: Scinax sp. 3 (gr. catharinae) Nome comum: perereca

Foto 60

Família: Hilidae Espécie: Sphaenorhynchus planicola Nome comum: pererequinha-verde

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Foto 61 Família: Leiuperidae Espécie: Physalaemus signifer Nome comum: rã-chorona

Foto 62

Família: Leiuperidae Espécie: Pseudopaludicola aff. falcipes Nome comum: rãzinha

Foto 63

Família: Leiuperidae Espécie: Pseudopaludicola cf. mineira Nome comum: rãzinha

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Foto 64 Família: Leptodactylidae Espécie: Leptodactylus fuscus Nome comum: rã-assobiadeira

Foto 65

Família: Leptodactylidae Espécie: Leptodactylus ocellatus Nome comum: rã-manteiga

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica período 2000-2005. Disponível em <http://www.sosmatatlantica.org.br>. São Paulo, Fundação SOS Mata Atlântica. Acesso em 20/06/2008.

Izecksohn, E. e Carvalho-e-Silva, S. P., 2001. Anfíbios do Município do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, Editora UFRJ. Google Earth, 2007. Image Nasa / Europa Technologies Image / TerraMetrics / Tele Atlas.

Boston, Free Software Foundation, INC. Machado, A. B. M.; Martins, C. S. e Drummond, G. M., 2005. Lista da Fauna Brasileira

Ameaçada de Extinção: incluindo as espécies quase ameaçadas e deficiente de dados. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas.

Magurran, A. E., 1991. Ecological diversity and its measurement. New York: Chapman

and Hall. 179p. Myers, N.; Mittermeier, R. A.; Mittermeier, C. G.; Fonseca, G. A. B. e Kent, J. 2000.

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Proteção Ambiental Lagoa de Cima. Rio de janeiro, Universidade Estadula do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Rocha, C. F. D.; Bergallo, H. G.; Alves, M. A. S. e Sluys, M. V., 2003. A Biodiversidade

nos Grandes Remanescentes Florestais do Estado do Rio de Janeiro e nas Restingas da Mata Atlântica. São Carlos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Instituto Biomas / Conservação Internacional do Brasil.

Rocha, C. F. D.; Bergallo, H. G.; Pombal Jr., J. P.; Geise, L.; Sluys, M. V.; Fernandes, R. e

Caramaschi, U., 2004. Fauna de anfíbios, répteis e mamíferos do Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil. Publicações Avulsas do Museu Nacional, 104: 1-24.

Sazima, I., 2004. Anfíbios. In: Steinmetz, S. e Martine, M. Animais da Mata Atlântica:

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Disponível em <http://www.sbherpetologia.org.br>. Curitiba, Sociedade Brasileira de Herpetologia Acessado em 21/04/2008.

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Atlântica: patrimônio natural do Brasil. São Paulo, Empresa das Artes. Pp. 13-20. Union for Conservation of Nature; Conservation International e NatureServe. 2006. Global

Amphibian Assessment. Disponível em <www.globalamphibians.org>. Acessado em 21/04/2008.

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5. RESUMO

Foram realizados levantamentos rápidos de anfíbios anuros das sub-bacias dos rios

Imbé, Muriaé e Guaxindiba, no norte-noroeste do Estrado do Rio de Janeiro, um estudo

que compõe o projeto RIO RURAL/GEF. A região das três sub-bacias insere-se nos

domínios da Mata Atlântica, um dos hotspots mundiais, e compõe o Corredor da Serra do

Mar, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e endemismos. Na sub-bacias do Imbé,

Muriaé e Guaxindiba são encontradas fitofisionomias de floresta ombrófila densa, floresta

estacional semidecidual e formações pioneiras. A maior parte da área encontra-se alterada

e os ambientes naturais estão restritos a remanescentes, principalmente fragmentos

florestais. Os maiores remanescentes de florestas encontram-se na Serra do Desengano,

compondo o Parque Estadual do Desengano e seu entorno.

Foram selecionadas quatro áreas para amostragem de anuros, as quais abrigam

ainda remanescentes naturais conservados: 1) Santa Maria Madalena –fragmento de

floresta ombrófila densa com riacho, e áreas de brejos, nas proximidades do Parque

Estadual do Desengano, sub-bacia do Imbé; 2) Lagoa de Cima (Campos dos Goytacazes) –

grande lagoa e brejos e fragmentos de floresta estacional semidecidual no entorno, sub-

bacia do Imbé; 3) Natividade / Itaperuna – fragmentos de floresta estacional semidecidual

e brejos, sub-bacia do Muriaé; 4) Estação Ecológica de Guaxindiba (São Francisco do

Itabapoana) – grande fragmento de floresta estacional semidecidual de baixada e grandes

brejos no entorno. Em cada área foram realizadas amostragens de anfíbios em várias

localidades, ao longo de quatro dias. Foram usados os métodos de coleta direta de anfíbios

por busca ativa e coleta em plotes, em períodos diurno e principalmente noturno,

resultando em um esforço amostral total de 640 horas/homem/coleta empreendidas.

Espécimes testemunhos foram coletados e depositados no Museu Nacional, Rio de Janeiro.

Também foram utilizados registros de material depositado na Colação Herpetológica do

Museu Nacional.

Nas três sub-bacias foram registradas 53 espécies de anfíbios anuros, das quais a

maioria pertence à família Hylidae (30 espécies), seguida de Leptodactylidae (6),

Brachycephalidae (4), Bufonidae (4), Leiuperidae (4), Cycloramphidae (3), Aromobatidae

(1) e Microhylidae (1). Essa elevada riqueza corresponde a 32,5 % do total de espécies

conhecidas no Estado do Rio de Janeiro e a 6,4 % das espécies registradas no Brasil. Em

Santa Maria Madalena foi encontrada a maior riqueza local, 35 espécies, das quais 10

foram coletadas em ambiente florestal. Em Natividade / Itaperuna foram registradas 23

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espécies, em Lagoa de Cima 16 e na Estação Ecológica de Guaxindiba também 16

espécies. Os diferentes ecossistemas analisados – floresta ombrófila densa com brejos em

serra, floresta estacional semidecidual com brejos em baixada e floresta estacional

semidecidual com brejos no interior – apresentaram fauna própria, parcialmente distinta

entre si, havendo maior similaridade faunística entre pares de ambientes com ecossistema

fisionomicamente mais similar. Considerando todas as áreas amostradas, os ambientes de

brejo abrigaram a maior riqueza de espécies (32), seguidas pelos ambientes de floresta

ombrófila densa (14), floresta estacional semidecidual (11), pastagem artificial (6) e áreas

urbanas (5). Dentre as 53 espécies registradas, 29 (54,7%) são endêmicas da Mata

Atlântica, três são endêmicas do Estado do Rio de Janeiro. Sete espécies, todas registradas

em Santa Maria Madalena, são indicadoras de boa qualidade ambiental, enquanto outras

duas são invasoras de áreas alteradas. Foram obtidas ampliações significativas da

distribuição geográfica de sete espécies, incluindo um registro novo para o Estado do Rio

de Janeiro. Cinco táxons registrados neste estudo possivelmente correspondem a espécies

inéditas. Apesar da grande riqueza constatada, esses resultados ainda são preliminares,

sendo necessários levantamentos complementares.

Foi diagnosticado que os remanescentes de ambientes naturais das sub-bacias do

Imbé, Muriaé e Guaxindiba abrigam uma elevada riqueza de anfíbios anuros. As áreas

amostradas foram indicadas como áreas chave para a conservação de anuros, além de

outros fragmentos florestais das três sub-bacias. Os remanescentes de Santa Maria

Madalena destacaram-se, onde se registrou a maior riqueza de anuros deste estudo,

incluindo o maior número de espécies estritamente florestais e indicadoras de boa

qualidade ambiental. A conservação desses remanescentes naturais é de grande

importância para a manutenção da diversidade de anfíbios das sub-bacias dos rios Imbé,

Muriaé e Guaxindiba.

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6. EQUIPE TÉCNICA

Responsável técnico:

Adriano Lima Silveira

Titulação: Bacharel em Ciências Biológicas e Mestre em Ciências Biológicas

(Zoologia).

Registro profissional de biólogo: CRBio 04: 44894/04-D

______________________

Assinatura

Auxiliares de campo:

Gesinaldo Moura da Silva

Rafael Cunha Pontes

Rodrigo Oliveira Lula Salles

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