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1 Produção de azeitona e de azeite em Agricultura Biológica GREENFOOD PROJECT 2010-1-ES1-LEO05-20948

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Produção de

azeitona e de azeite

em Agricultura

Biológica

GREENFOOD PROJECT

2010-1-ES1-LEO05-20948

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Conteúdo

1. Introdução................................................................................. 3

2. A produção biológica de azeitona .................................................. 4

2.1. Preparação e manutenção do solo ........................................... 5

2.2. Fertilização ......................................................................... 12

2.3. Protecção fitossanitária das plantas ........................................ 17

2.4. Colheita e transporte da azeitona ........................................... 26

3. A produção biológica de azeite .................................................... 28

3.1. Técnicas de produção ........................................................... 28

3.2. Embalagem, armazenagem, conservação e transporte .............. 29

3.3. Rotulagem .......................................................................... 31

4. Bibliografia e documentação ....................................................... 35

5. Glossário .................................................................................. 36

6. Auto-avaliação .......................................................................... 37

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1. Introdução

A produção de azeite em agricultura biológica (ou produção biológica de azeite) é diferente da produção convencional ou integrada, pelas práticas agrícolas seguidas no olival, sendo idêntica no processo de laboração no lagar.

Os princípios e as práticas da agricultura biológica em geral estão definidos na legislação comunitária em vigor, em particular o Regulamento (CE) nº 834/2007, do Conselho, e o Regulamento (CE) nº 889/2008, da Comissão. A produção biológica de azeitona e de azeite enquadra-se nestes regulamentos que abrangem todas as culturas agrícolas e ainda a produção animal.

Essa legislação também inclui as regras de controlo e certificação a que o produto tem de se sujeitar, de modo a que seja possível indicar o modo de produção (Agricultura biológica) e o Organismo de certificação, seja público, seja privado. No caso de Portugal e da maioria dos países comunitários são os organismos privados de certificação (OPC) a fazer este serviço. Esses organismos são aprovados pela Autoridade competente de cada Estado-membro e acreditados pelo organismo público de acreditação de cada país. O OPC tem de cumprir a Norma Europeia EN45011, que obriga, nomeadamente, a independência relativamente aos operadores (produtores, ou outros) e a não prestação de serviços de assistência técnica. O OPC deve ainda apresentar um plano de controlo que garanta ao consumidor que todo o processo produtivo, desde a parcela da cultura até ao embalamento e rotulagem, cumpriu as regras. Para além duma visita de controlo anual e com aviso prévio, o OPC deve fazer uma segunda visita não avisada de acordo com o plano de controlo elaborado anualmente. A não execução dessa visita não avisada e por isso mais dissuasora que a primeira, compromete fortemente a credibilidade do sistema de controlo e certificação. Em complemento às visitas de controlo, o OPC deve ainda proceder à recolha de amostras para análises que permitam detectar eventuais fraudes. No caso da azeitona e do azeite, as análises devem incidir em particular sobre os resíduos de pesticidas de síntese não autorizados em agricultura biológica. No caso do azeite devem ser pesquisados em especial os pesticidas lipossolúveis. Na azeitona e nas folhas das oliveiras deve ser feita uma pesquisa mais geral sobre as substâncias activas mais aplicadas em olival de produção “convencional” e “integrada”.

O azeite biológico é um produto de alta qualidade e por isso bastante valorizado, em comparação com o azeite doutros modos de produção. Essa valorização pode ultrapassar 100% e o mercado mais exigente paga essa

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diferença. Mas isso só é possível se a confiança não for quebrada, o que depende em grande parte dum sistema de controlo competente e credível. Muitas vezes os clientes mais exigentes, não se limitam a aceitar esse controlo, em parte pelas limitações do mesmo. Esses clientes vêm visitar os produtores, ou enviam seus representantes para conhecer os produtores e as unidades de produção e, geralmente, recolhem amostras para análise de resíduos (pesticidas e outros). Lembramos a propósito uma análise pedida por um cliente que detectou ftalatos no azeite, ainda que em pequena quantidade, provenientes das tubagens de plástico do lagar, o que obrigou à substituição do equipamento do mesmo. Os ftalatos são disruptores endócrinos e por isso perigosos para a saúde.

Para além de certificação biológica ao abrigo da legislação comunitária já referida, existe também um mercado para produtos de agricultura biodinâmica, mais selectivo e ainda mais exigente. As regras da agricultura biodinâmica são privadas e obrigam os produtores que as adoptarem a cumprirem um segundo período de conversão (da produção biológica para a biodinâmica), a usarem preparados biodinâmicos no solo e na compostagem, a não utilizar certos resíduos de origem animal como adubos, e a reduzir as doses máximas anuais de cobre em 50%, ou seja, 3Kg/ha em vez de 6Kg/ha.

2. A produção biológica de azeitona

A produção biológica de azeitona é possível em diferentes tipos de olival:

-Olival plantado já em agricultura biológica, o que permite certificar a primeira colheita;

-Olival convertido da produção “convencional” ou “integrada”, que tem de passar por um período de conversão de 3 anos.

Neste período de conversão já têm de ser cumpridas todas as regras da produção biológica, embora o produto final (azeitona ou azeite) não possa ser comercializado como tal. É o período mais difícil para o produtor e que requer mais apoio, quer técnico quer financeiro.

Quanto ao regime de produção mais ou menos intensiva, a legislação comunitária não proíbe qualquer dos sistemas, uma vez que todos são praticados no solo e não em cultura hidropónica. No entanto o sistema super-intensivo dificilmente se pode aplicar, pois contraria alguns dos princípios da produção biológica, como sejam, a utilização prioritária dos recursos da própria exploração, a manutenção e melhoria da fertilidade do

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solo, a limitação natural de pragas em vez dos tratamentos fitossanitários, a prevenção de doenças através de medidas profilácticas, como seja uma densidade de plantação que não provoque sombreamento excessivo. Podemos apontar para uma densidade máxima da ordem das 300 árvores por hectare, para um olival biológico que possa cumprir esses princípios (Figura 1).

Figura 1 - Olival novo semi-intensivo, com densidade próxima de 300 árvores/ha e terreno arrelvado para evitar a erosão (Serpa, 2008)

2.1. Preparação e manutenção do solo

Se o agricultor, com as suas práticas agrícolas, não conseguir manter e melhorar a fertilidade do solo, não está a praticar agricultura biológica, ainda que não aplique qualquer fertilizante ou pesticida proibido. Esse é um princípio de base, que também deve ser avaliado pelo OPC, o que nem sempre acontece.

Para a instalação e manutenção dum olival novo, devem pôr-se em prática os seguintes princípios e práticas:

1) O solo deve ser conhecido em profundidade (pelo menos até 1 metro) e caracterizado nos principais aspectos de fertilidade, o que obriga à abertura de perfis, para o observar e recolher amostras para análise;

2) O solo deve ser mobilizado em profundidade (cerca de 1 metro) mas sem revirar as diferentes camadas, e de acordo

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com a observação antes realizada, o que se consegue com a prática da ripagem, seguida de passagem com chisel ou escarificador, ou alfaia combinada de dentes e discos (caso do Polymag) (Figura 2);

Figura 2 – Alfaia combinada de dentes e discos para preparação do terreno com menos passagens e menos consumo de gasóleo e energia

3) O solo deve ser limpo antes da plantação das oliveiras das ervas infestantes de mais difícil combate sem herbicidas, em particular as ervas rizomatosas, como a grama (Cynodon dactylon (L.) Pers.), escalracho (Panicum repens L.), ou outras vivazes de difícil combate, como a junça (Cyperus rotundus L.), o que se pode conseguir com várias passagens de alfaias de dentes no Verão e/ou solarização do solo no caso da junça; pode ainda recorrer-se à utilização de porcos de montanheira, sem arganéis, de modo a poderem escavar e retirar essas ervas que lhes servem de alimento;

4) A fertilidade do solo deve ser melhorada desde o ano de plantação, através de correcção orgânica e mineral, sempre que os principais parâmetros de fertilidade se encontrem fora dos valores favoráveis (Quadro 1), o que se faz com a aplicação de um correctivo orgânico autorizado, de preferência obtido por compostagem, e com um calcário magnesiano (dolomite) ou de origem marinha como o lithothamne;

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Quadro 1 - Análise física e química do solo – valores e condições favoráveis à oliveira

Parâmetro Valor favorável

Condições favoráveis

Profundidade do solo

>0,8m Solos aráveis com mais de 1,20m são os mais adequados

Textura Franca, franco-limosa, franco-argilosa, franco-argilo-limosa

Drenagem Boa drenagem, sem acumulação de água estagnada

pH 5,5-8,5 pH óptimo: 6,0-7,5 Salinidade / condutividade

<2,7 dS/m Com 4dS/m há uma diminuição da produção da ordem de 10%, com 5dS/m 25% e com 8dS/m 50%

Matéria orgânica >1,5% Abaixo de 1,5% aumenta fortemente o risco de carências e de perda de fertilidade

Fósforo (P2O5) solúvel

>25mg/Kg

Potássio (K2O) solúvel

>50mg/Kg

Cálcio (CaO) solúvel

>100mg/Kg

Magnésio (MgO) solúvel

>20mg/Kg

Calcário activo <10%

5) A adubação verde (green manure) é uma prática prioritária na melhoria do solo e logo no primeiro ano deve instalar-se um adubo verde anual, com mistura de pelos menos uma espécie leguminosa e uma gramínea, de acordo com o tipo de solo e clima (Quadro 2);

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Quadro 2 - Adubação verde – consociações de Outono/Inverno para olival e para diferentes tipos de solo

Espécies Semente (Kg/ha)

Solo

aveia + ervilhaca-vulgar Avena sativa + Vicia sativa

100+50 pouco ácido a pouco alcalino; franco a argiloso

cevada + ervilhaca Hordeum vulgare + Vicia sativa

100+50 neutro a alcalino; franco a argiloso

cevada + fava miúda ou fava cavalinha Hordeum vulgare + Vicia faba var. minor

100+50 neutro a alcalino; franco a argiloso

cevada + ervilhaca + trevo-da-Pérsia Hordeum vulgare + Trifolium

resupinatum

50+40+10 Neutro a alcalino; pesado e difícil de trabalhar

aveia + cevada + ervilhaca + fava miúda Avena sativa + Hordeum vulgare + Vicia sativa + Vicia faba var. minor

50+50+25+25 pouco ácido a alcalino; franco a argiloso

centeio + tremocilha Secale cereale + Lupinus luteus

100+50 ácido, arenoso a franco bem drenado

centeio + ervilhaca Secale cereale + Vicia sativa

100+80 ácido, arenoso a franco bem drenado

aveia + tremocilha Avena sativa + Lupinus luteus

100+50 ácido, arenoso a franco bem drenado

aveia + tremoço Avena sativa + Lupinus albus

100+80 ácido a neutro, arenoso a argiloso, bem drenado

6) A conservação do solo é obrigatória, evitando todos os tipos de erosão e em particular a erosão hídrica, sendo a melhor prática para o conseguir, o arrelvamento do solo, seja com flora espontânea (Figura 3), seja com espécies semeadas (cover crops) adaptadas às condições edafo-climáticas (Quadro 3);

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Figura 3 - Arrelvamento natural do solo com flora espontânea à base de carrapiço (Medicago polimorpha L.), uma luzerna anual num olival na Régua (Douro), e bastante

comum por todo o país quando não são aplicados herbicidas (Régua, 2011)

Quadro 3 - Arrelvamento do solo, com espécies semeadas adaptadas às condições de solo argiloso e de pH neutro, ou solo ácido.

Solo neutro e argiloso Semente (Kg/ha)

Solo ácido Semente (Kg/ha)

Medicago polymorpha 3 Trifolium subterraneum 5 Medicago rugosa 3 Trifolium vesiculosum 2 Medicago scutellata 3 Trifolium incarnatum 2 Medicago truncatula 2 Trifolium balansae 3 Trifolium hirtum 2 Ornithopus sativus 3 Trifolium resupinatum 2 Ornithopus compressus 3 Trifolium subterraneum 5 Biserrula pelenicus 2 Dactylis glomerata 3 Lolium multiflorum 10 Lolium perenne 7 Total sementes 30 30

7) Um bom desenvolvimento da oliveira nos primeiros anos é importante para a boa produtividade do olival e a recuperação do investimento, podendo a eliminação parcial das ervas junto à linha contribuir para esse objectivo (Figuras 4 e 5);

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Figura 4 – Mobilização localizada junto à linha dum dos lados e a completar do outro – o método sandwich inventado para pomares biológicos de macieiras mas aqui aplicado num

olival novo no Alentejo (Serpa, 2009)

Figura 5 – Alfaia de discos em posição de transporte, desenvolvida na exploração para mobilizar junto à linha pelo método sandwich (Serpa, 2009)

8) Em olivais em plena produção o arrelvamento total será a

melhor solução, sendo a sua manutenção realizada através de cortes periódicos na Primavera até ao início do Verão, com destroçador de martelos (Figura 6) ou corta-matos de correntes ou facas.

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Figura 6 – Corte do arrelvamento (semeado + espontâneo), e trituração de rama de poda, com destroçador de martelos descentrado, num olival adulto no Alentejo (Serpa, 2011)

A necessidade da conservação do solo deve estar sempre presente em todas as práticas agrícolas aplicadas no olival e em particular em terrenos com mais declive, como são os da maioria dos olivais em Portugal e no Mundo.

A maioria dos autores que tem estudado o tema da erosão do solo está de acordo quanto à melhor solução para o problema. Trata-se de cobrir o solo com vegetação herbácea. Essa cobertura tem uma tripla função:

1) Reduzir o número e a intensidade dos impactos das gotas da água da chuva sobre o solo;

2) Aumentar a velocidade de infiltração dessa água no terreno;

3) Fixar carbono no solo através da fotossíntese e da posterior formação de húmus ou matéria orgânica estável.

O quadro 4 mostra o resultado dum ensaio feito com simulador de chuva em três modalidades de revestimento do solo em olival em que a única prática que evita a erosão é o revestimento com cobertura herbácea semeada no início do Outono.

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Quadro 4 – Três sistemas de manejo do solo em ensaio com simulador de chuva durante 15 minutos e medição da escorrência superficial e da perda de solo por erosão hídrica (adaptado

de Pastor Muñoz-Cobo, 1994).

Revestimento do solo Escorrência superficial (l/m2)

Perda de solo por erosão (g/m2)

Adubo verde à base de cevada (Hordeum vulgare) semeada no Outono

3 10

Não mobilização com herbicida total

25 485

Mobilização total, sem herbicida

24 1300

2.2. Fertilização

O arrelvamento do solo e a adubação verde, referidos no ponto anterior, são também práticas de fertilização. Caso não sejam o suficiente para uma boa fertilização do olival, pode ainda recorrer-se ao seguinte:

1) Como prática de base ou prioritária, a aplicação ao solo de resíduos orgânicos provenientes da exploração biológica, de possível uso como fertilizantes, como é o caso do bagaço da azeitona e da água ruça do lagar.

2) Em complemento, correctivos e adubos orgânicos e minerais autorizados embora não provenientes de produção biológica.

O bagaço da azeitona pode ser de 3 tipos – virgem de lagar de três fases, virgem de lagar de duas fases, e extractado. O primeiro e o terceiro têm valor comercial, seja para extracção de óleo, seja para usar como combustível depois de retirado o óleo. O bagaço de duas fases tem mais água (a água ruça) e por isso é em geral um custo e não uma receita para o lagar (Figura 7).

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Figura 7 – Bagaço de azeitona de lagar contínuo de duas fases e folha de oliveira da limpeza da azeitona (ao fundo) e carnaz, armazenados em nitreira impermeabilizada com tela e com

destino à compostagem (Torre de Moncorvo, 2004)

Está por isso mais disponível para usar em compostagem na preparação dum composto que sirva como correctivo orgânico e fornecedor de nutrientes (Figura 8; Quadro 5).

Figura 8 – Compostagem de bagaço de azeitona, engaço de uva e carnaz, para fertilizar o olival, num projecto de demonstração no Vale da Vilariça (Torre de Moncorvo, 2007)

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Quadro 5 – Composição de composto feito com bagaço de azeitona de lagar de duas fases (64%), engaço ou cango de uva (33%) e folha de oliveira (3%)

Fertilizante Humidade (%)

Mat. Org. (%) sms (1)

N-total (%) sms(1)

N-NH4+

(mg/Kg) sms(1)

C/N pH Condutiv. Eléctrica (ms/cm)

composto 26,27 53,70 1,04 26,50 25,8 7,46 0,77

Notas: (1) sms: sobre a matéria seca

O composto referido no quadro 5 tem um alto teor de matéria orgânica e um teor bastante substancial de azoto. Uma aplicação de 10t/ha já daria ao olival cerca de 100 Kg/ha de azoto, sendo que uma boa parte ficaria disponível nos primeiros dois anos.

Para conseguir um composto mais homogéneo e num prazo mais curto é conveniente revolvê-lo com alguma frequência, o que será facilitado por equipamento adequado para o efeito (Figura 9). Mais importante ainda que esse equipamento é juntar ao bagaço húmido um agente estruturante para compensar a falta de porosidade do bagaço (Cegarra et al, 2004). O sucesso da compostagem depende em primeiro lugar de saber juntar os diferentes materiais. Sem esse engenho corremos o risco de fazer silagem em vez de compostagem.

Figura 9 – Equipamento para revolver e arejar o composto (Torre de Moncorvo, 2004)

A adição de resíduos orgânicos mais azotados, como o carnaz (resíduos de curtumes sem crómio), permite obter um composto com teor mais elevado de azoto, até cerca de 3% sms, o valor acima do qual o correctivo orgânico passa a ser classificado como adubo.

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A pilha de composto deve ser coberta com uma manta geotêxtil adequada ao efeito, que deixa passar o ar mas não a água, e ainda protege a camada superficial da acção da luz do sol (Figura 10).

Figura 10 – Manta geotêxtil sobre pilha de composto para protecção contra a chuva e o sol (Torre de Moncorvo, 2007)

Assim se evita a lixiviação de nutrientes e de matéria orgânica e a consequente poluição dos aquíferos e/ou das linhas de água, bem como o empobrecimento do fertilizante. Evita-se também a secagem e a destruição dos milhões de microrganismos úteis que estão no composto. Ao fim de vários meses de compostagem obtém-se finalmente um composto de qualidade (Figura 11).

Figura 11 – Composto feito à base de bagaço de azeitona e engaço de uva, pronto para ser aplicado no olival (Torre de Moncorvo, 2007)

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A água ruça dos lagares de 3 fases (sejam os antigos mas já raros lagares tradicionais, sejam os lagares contínuos), pode ser poluente ou fertilizante conforme o local em que é aplicada. Numa linha de água a sua carga orgânica provoca a carência de oxigénio na água e consequente morte de peixes e outros animais aquáticos. Em solo agrícola essa carga orgânica é um fertilizante para a terra desde que não se ultrapassem certas doses. A riqueza da água ruça em matéria orgânica e potássio e, em menor grau, em azoto e fósforo, tornam este resíduo uma fonte barata destes nutrientes (Garcia-Ortiz, A . et al, 1995). Já no ano 160 a.C. Marcus Porcius Cato na sua obra “De agricultura”, reconhecia o valor fertilizante da água ruça! Os Serviços oficiais em Portugal só no ano 2.000 descobriram esse valor, já depois de terem mandado fechar muitos lagares tradicionais por não terem uma solução para este resíduo, embora muitos ensaios já tivessem sido feitos noutros países, principalmente em Itália, onde a lei 574/96 já permitia a aplicação ao solo (Tamburino et al, 1999).

A composição dos dois tipos de água ruça é indicada no quadro 6.

Quadro 6 – Matéria orgânica e macronutrientes de dois tipos de águas ruças de lagares de azeite (Fernandes R., 1995)

Parâmetro Lagar de prensas Lagar contínuo de 3 fases

Matéria orgânica (%) 10,5 2,60 Azoto (%) 0,20 0,06 Fósforo (%) 0,05 0,01 Potássio (%) 0,36 0,12 Magnésio (%) 0,02 0,004 pH 4,5-5,0 4,7-5,2

Em Portugal só no ano 2000 foi dada autorização oficial para aplicar água ruça no solo como fertilizante (Despacho conjunto dos Ministérios da Agricultura e do Ambiente, nº 626/2000). Para que o lagar possa aplicar a água ruça ao solo, é necessário pedir e pagar todos os anos uma licença aos Serviços regionais de Ambiente, ter um reservatório para o armazenamento temporário, corrigir o pH, aplicar de preferência entre Março e Novembro, aplicar só em árvores e arbustos e na dose máxima anual de 80m3/ha.

Com esta dose são aplicadas cerca de 8,4t/ha/ano (lagar de prensas) ou 2 t/ha/ano (lagar contínuo). Para este último caso o valor é baixo, devendo o valor máximo legal ser aumentado, tal como alguns investigadores italianos propõem para Itália, onde as doses máximas variam entre 50m3/ha/ano no sistema descontínuo de prensas e 80 m3/ha/ano no sistema contínuo (Tamburino et al, 1999).

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Um outro resíduo que interessa devolver ao solo e que muitas vezes é queimado, é a rama da poda (com diâmetro abaixo de 40mm). Esta rama deve ser triturada com destroçador de martelos e deixada sobre o solo sem enterrar. Para além da matéria orgânica que lentamente vai entrando na terra e produzindo húmus, são devolvidos ao solo, nutrientes. Por cada tonelada de rama com humidade de 50%, libertam-se 4Kg de azoto, 0,5Kg de fósforo, 4Kg de potássio, 5Kg de cálcio e 1 Kg de magnésio (Amirante et al, 2002). Assim também se reduzem as emissões de CO2 e outros gases com efeito de estufa, pois a quantidade de matéria orgânica e carbono em causa é muito alta. Estima-se que por cada 100Kg de azeitona colhida, se produzam 65 Kg de ramas e folhas e ainda 15Kg de madeira (com mais de 40mm de diâmetro).

A trituração da rama de poda serve também para combater o caruncho da oliveira como adiante se indica (2.3).

No caso de a aplicação destes resíduos enquanto fertilizantes não se mostre suficiente para suprir as necessidades da cultura, há que fazer uma adubação complementar. De entre os macronutrientes principais o azoto e o potássio são os mais necessários à oliveira, sendo as exportações anuais dependentes também da produção de azeitona. No caso duma produção da ordem de 3,5t/ha, as necessidades nutritivas são as indicadas no quadro 7.

Quadro 7 - Necessidades nutritivas da oliveira em NPK, para uma produção de 3,5t/ha (Warlop, F. 2002)

Produção (t/ha) Azoto – N (Kg/ha)

Fósforo – P (Kg/ha)

Potássio – K (Kg/ha)

3,5 100 50 150-200

2.3. Protecção fitossanitária das plantas

Na protecção do olival contra pragas e doenças devemos começar por medidas culturais de prevenção e pela criação de infra-estruturas ecológicas para aumentar as populações de auxiliares e, consequentemente, a limitação natural das pragas

As principais pragas em Portugal são, a mosca da azeitona (Bactrocera oleae), a traça-da-oliveira (Prays oleae), a traça-verde (Margaronia unionalis), e a cochonilha-negra (Saissetia oleae). Outras que pontualmente aparecem e causam prejuízos são, a euzofera (Euzophera pinguis), o algodão ou psila-da-oliveira (Euphyllura olivina), o caruncho-da-oliveira (Phloeotribus scarabaeoides).

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As principais doenças em Portugal são, a gafa (Gloeosporium olivarum), o olho-de-pavão (Spilocaea oleagina), e a tuberculose (Pseudomonas savastanoi). Mais recentemente têm surgido problemas com verticiliose (Verticillium dahliae) em olivais novos com a morte das árvores atacadas.

Nas medidas culturais destacamos a poda, que eliminando ramos doentes e/ou em posição mais interior e com maior sombra, previne algumas pragas, em especial a cochonilha-negra, que ataca preferencialmente esses ramos. A trituração da rama de poda serve também para combater o caruncho da oliveira. Isso consegue-se deixando a rama no solo o tempo suficiente para que as fêmeas façam as posturas triturando depois a rama e as larvas da praga. Outra prática a aplicar é a colheita sem varejamento, devidos às feridas provocadas pela vara que, para além de quebrarem os ramos do ano que iriam dar azeitona no ano seguinte, também transportam doenças como a tuberculose que entra facilmente pelas feridas. Em alternativa à vara, deve colher-se por vibração ou ripagem manual ou mecânica.

Também a adubação equilibrada, sem excesso de azoto, é fundamental para reduzir os ataques de pragas picadoras sugadoras como a cochonilha-negra e o algodão.

A limitação natural de pragas, resultante da acção dos organismos auxiliares, é muito importante na redução das populações dessas pragas e na redução dos prejuízos. Muitas vezes essa acção é suficiente e dispensa a aplicação de pesticidas. O olival possui um complexo de auxiliares rico e diversificado, que contribui de forma decisiva quer para reduzir os prejuízos causados pelas pragas, quer para impedir o desenvolvimento de novas pragas, através da regulação das suas populações (Gonçalves et al, 2004). De entre os auxiliares do olival, os insectos entomófagos são os melhor conhecidos e aos quais se atribui maior importância (Figura 12), embora trabalhos recentes apontem para o papel de outros artrópodes, em particular de aranhas e também exista informação embora escassa sobre a actuação doutros organismos, designadamente aves e pequenos mamíferos (Torres, 2006).

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Figura 12 – Coccinelídeo (Coccinela septempunctata) em folha de oliveira de olival biológico (Serpa, 2008)

A criação de infra-estruturas ecológicas destinadas a favorecer a acção dos auxiliares é fundamental, para fornecer alimento e/ou abrigo. O arrelvamento da entrelinha, a instalação de sebes arbustivas em bordadura dos olivais e/ou a manutenção de vegetação espontânea nos terrenos contíguos, são as principais infra-estruturas ecológicas a pôr em prática. Algumas das plantas mais favoráveis a diversos insectos auxiliares (coccinelídeos, crisopídeos, sirfídeos e himenópteros parasitóides), são as umbelíferas ou apiáceas, das quais destacamos o funcho (Foenicum vulgare ssp. piperitum) e a erva-coentrinha (Daucus carota ssp. maritimus). Tem sido observado que um solo arrelvado tem maior abundância e diversidade de auxiliares em comparação com olivais com solo descoberto, com herbicida ou com mobilizações (Torres, 2006).

Nos insectos auxiliares predadores destacamos os seguintes:

- crisopídeo Chrysoperla carnea, que pode destruir mais de 90% das posturas de traça-da- oliveira, para além de consumir outros insectos como a cochonilha-negra e o algodão-da-oliveira (Figura 13);

- antocorídeo Anthocoris nemoralis, que combate a traça-da- oliveira, o algodão-da-oliveira e a tripe-da-oliveira;

- o coccinelídeo Chilocorus bipustulatus, importante predador da cochonilha-negra;

- o sirfídeos Xanthandrus comtus, que combate a traça-da- oliveira e o algodão-da-oliveira.

Para além dos insectos, ácaros e aranhas são ainda importantes algumas aves insectívoras como a toutinegra Sylvia melanocephala, que combate a

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traça-da- oliveira, o algodão-da-oliveira, a cochonilha-negra e a mosca-da-azeitona.

Figura 13 – Ovos de crisopídeo agrupados sobre azeitona, donde nascerão as larvas com actividade predadora sobre as pragas da oliveira

Nalguns casos as medidas culturais e a limitação natural não são suficientes, pelo que as pragas de maior importância económica devem ser vigiadas e, se necessário, combatidas. Procede-se à estimativa do risco por observação directa dos órgãos atacados ou por captura em armadilhas. Comparam-se os valores observados com os níveis económicos de ataque (NEA) e aplicam-se os meios de protecção quando se ultrapassam esses níveis. Os NEA estão definidos para Portugal pela Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Felix et al, 2008), e são os mesmos que para Protecção Integrada (PI). No entanto, nalguns casos a experiência em Portugal da produção biológica no olival não confirma a possibilidade de adoptar em AB os parâmetros já testados em PI, nomeadamente em situações em que o produto fitofarmacêutico (PF) autorizado tem menor eficácia que outro autorizado em PI. É o caso do Bacillus thuringiensis, que na geração carpófaga da traça-da-oliveira não tem qualquer eficácia, pelo que não adianta existir NEA nessa geração.

Traça-da-oliveira (Prays oleae)

Estimativa do risco e NEA (geração antófaga)

Método A - Armadilhas tipo delta com feromona sexual:

- Armadilhas a pelo menos 50m de distância entre si e colocadas à altura de 1,50 a 2 metros, no interior da copa, no mês de Março

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- Contagem semanal de machos capturados: NEA = 15 capturas/dia/armadilha

Método B – Observação visual de 100 cachos florais

- Contagem semanal de cachos florais atacados: NEA = 10% (5% se a produção estiver muito valorizada)

Tratamento: Bacillus thuringiensis

- Dose: 0,4 a 0,6 Kg/ha;

- Eficácia: cerca de 60% mortalidade.

Em olivais novos pode justificar-se tratar também a geração filófaga, pois a destruição das folhas pode afectar com gravidade a árvore. Neste caso apenas se faz observação visual e o NEA é de 10% de gomos terminais atacados.

Traça-verde (Margaronia unionalis = Palpita unionalis = Palpita vitrealis)

Este lepidóptero com cerca de 30mm de envergadura de asas de cor branca semi-transparente, tem na fase larvar, lagartas de cor verde, que atingem na sua fase final de crescimento, 25mm de comprimento. Estas causam estragos nas folhas e frutos, não tendo significado económico nas árvores adultas (Torres, 2007). Em viveiros e em olivais novos, esta lagarta pode causar prejuízos e por isso nesses casos deve ser feita a estimativa do risco.

Estimativa do risco e NEA:

- Armadilhas tipo funil, ou tipo delta com feromona sexual para captura de machos adultos. Serve para detecção pois não há NEA definido.

- Observação visual de plantas atacadas: NEA= 5% .

Tratamento: Bacillus thuringiensis (o mesmo que da traça-da-oliveira).

Mosca-da-azeitona (Bactrocera oleae)

Nas regiões de clima mais temperado, mais próximo do mar, a mosca é a principal praga do olival, causando prejuízos pela perda de produção e pela diminuição da qualidade do azeite. Nas zonas mais interiores, mais quentes no Verão e mais frias no Inverno, as condições climáticas contrariam o desenvolvimento do insecto, como aconteceu em 2010, com temperaturas superiores a 40ºC durante vários dias, que destruíram os ovos.

Estimativa do risco e NEA:

- Armadilhas cromotrópicas com feromona sexual (Figura 14), uma armadilha sem feromona e outra com ela, distância entre armadilhas

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superior a 50m, colocadas na época de Março (Litoral) a Abril (Interior) (1 armadilha amarela com feromona com captura muito superior de machos indica actividade sexual)

- NEA para captura em massa: 21 moscas/armadilha/semana (3/dia)

Figura 14 - Armadilha cromotrópica e sexual para estimativa do risco da mosca da azeitona

Tratamento A: captura massiva com armadilhas alimentares.

As armadilhas mais usadas são as garrafas mosqueiras com fosfato diamónico a 5% (50 g/litro/armadilha), 50 a 100 armadilhas/ha conforme a intensidade do ataque. São colocadas no início do Verão, do lado Sul ou Sudeste, dentro da copa, à sombra, à altura dos olhos. Faz-se a reposição do atractivo em caso de evaporação (Figura 15).

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Figura 15 - Garrafas mosqueira tipo “Olipe” (Olivareros de Pedroches), com fosfato diamónico e água, para captura massiva da mosca da azeitona

Tratamento B – Pulverização parcial com spinosade + isco alimentar

Embora autorizado recentemente em agricultura biológica, este tratamento deve ser deixado para último recurso, uma vez que o spinosade é tóxico para alguns insectos auxiliares, que como já foi referido são importantes para combater as principais pragas da oliveira.

Cochonilha-negra (Saissetia oleae)

A cochonilha-negra é um insecto picador-sugador, que enfraquece a árvore e produz meladas que são fonte de alimento para a fumagina, fungo saprófita que também prejudica a oliveira pelo efeito de cobertura da folha diminuindo a fotossíntese.

Como medidas culturais com bons resultados na diminuição dos ataques, destacamos as seguintes:

- Poda que elimine zonas mais fechadas e sombrias da copa;

- Fertilização que evite o excesso de azoto.

Tratamento fitossanitário

Caso as medidas culturais não sejam suficientes, procede-se ao tratamento fitossanitário, com óleo de Verão, ou óleo de parafina (menos fitotóxico), nas seguintes condições:

- 1,6L/100L, com pulverização a alta pressão (jacto projectado ou transportado), sobre as larvas do 1º instar que são mais sensíveis (Junho-Julho);

- Não tratar se houver défice hídrico.

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A maioria das restantes pragas do olival, em geral não justifica tratamento fitossanitário. A praga que pontualmente ocorre com gravidade e que em Espanha é já considerada a terceira mais grave, é a Euzófera. Para luta directa não existem insecticidas homologados e autorizados em agricultura biológica. A confusão sexual que tem vindo a ser ensaiada em Espanha e em Portugal (Trás-os-Montes), com bons resultados, pode vir a ser uma solução com viabilidade técnica e económica a curto prazo.

As doenças da oliveira, provocadas por fungos e bactérias, causam avultados prejuízos quando não são realizados tratamentos fitossanitários, principalmente nas regiões de clima mais ameno.

Gafa (Gloeosporium olivarum)

No caso de olival novo a instalar e sendo uma região com condições climáticas favoráveis à doença, devemos escolher as variedades mais adaptadas e mais resistentes:

- Azeiteira, Blanqueta, Carrasquenha, Cobrançosa, Negrinha (de Freixo), Picual (Espanha), Verdeal de Serpa, Verdeal transmontana.

Em olivais já instalados e com variedades sensíveis, como a Galega, fazer a estimativas do risco e tratar sempre que as condições forem propícias à doença.

Condições meteorológicas (registar e medir):

- Precipitação pontual: possibilita infecção primária; precipitação prolongada: possibilita infecção secundária e agrava o ataque

- Temperatura (média, mínima e máxima): 10-30ºC: possível infecção; 20-26ºC: T óptima (a 23ºC sintomas visíveis em 2 a 3 dias)

Observação visual (primeiras lesões nos frutos)

NEA:

- Tratar sempre que ocorram condições meteorológicas favoráveis e sejam utilizadas variedades sensíveis, ou sempre que se observe qualquer sintoma na azeitona;

- Época crítica: Setembro/Outubro, às primeiras chuvas

Como medidas culturais destacamos:

- Variedades mais adaptadas e resistentes;

- Poda regular, mantendo copa arejada (mas sem eliminar a totalidade do interior);

- Evitar excesso de azoto;

- Compassos de plantação largos, evitando contacto entre as copas e o sombreamento

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Tratamento fitossanitário

- Fungicidas cúpricos: no máximo de 6 Kg/ha/ano de cobre elementar Cu (= 30Kg de calda bordalesa comercial): Sulfato de cobre com cal ou calda bordalesa, oxicloreto de cobre de preferência com molhante aderente, hidróxido de cobre, óxido cuproso

- Fertilizantes com cobre complexado: Gluconatos de cobre, formulações de cobre que não entram nos cálculos do limite máximo anual de cobre. Isto porque eles são absorvidos e têm alguns nutrientes e por isso são classificados como fertilizantes, não carecendo de homologação.

Olho-de-pavão (Spilocaea oleagina)

Esta doença é, nalgumas regiões e variedades, mais grave que a gafa, pois pode provocar uma queda intensa da folha da oliveira com consequente perda de produção. Ataca com mais intensidade no final do Inverno e início da Primavera, se as condições climáticas forem favoráveis:

-Precipitação pontual: possibilita infecção primária;

-Precipitação prolongada: possibilita infecção secundária e agrava o ataque;

-Tempo de folha molhada >=14 horas: permite infecção;

-Temperatura (média, mínima e máxima): 8-24ºC: possível infecção; 15ºC: T óptima (sintomas visíveis em 2 semanas).

As principais medidas culturais de prevenção são as seguintes:

-Variedades mais adaptadas e resistentes, como a Cobrançosa;

-Poda regular, mantendo copa arejada (mas sem eliminar a totalidade do interior);

-Evitar excesso de azoto;

-Compassos de plantação largos, evitando contacto entre as copas e o sombreamento.

Para fazer a estimativa do risco:

-Observação visual das folhas: 20 oliveiras x 5 rebentos x 2 folhas = 200 folhas;

-Detecção precoce das primeiras manchas: mergulhar em solução aquosa de NaOH a 5%, durante 30 minutos.

O tratamento faz-se assim que as condições meteorológicas estão favoráveis, ou logo que forem detectadas as primeiras manchas circulares nas folhas, de preferência usando a solução aquosa de hidróxido de sódio. Aplica-se os mesmos fungicidas cúpricos que para a gafa.

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Tuberculose (Pseudomonas savastanoi)

Esta bactéria penetra na árvore através de feridas e propaga-se entre ramos e árvores por contacto, em particular pela vara no caso dos olivais varejados.

A melhor medida preventiva é colher com ripador ou vibrador.

Algumas variedades são muito mais sensíveis (Cordovil) que outras (Cobarançosa, Verdeal), pelo que em olivais novos ter atenção a este aspecto, e observar bem as árvores no viveiro para detectar eventuais sintomas.

Os fungicidas de cobre dão alguma protecção mas não são suficientes em caso do uso da vara e em condições em que a doença esteja presente no olival.

A verticiliose (Verticillium dahliae) é a doença que nos últimos anos tem aumentado em Portugal causando o enfraquecimento e a morte de algumas oliveiras em olivais novos. Em caso de forte ataque devem arrancar-se as árvores infectadas assim que se confirme por análise a presença do fungo.

Um meio de luta possível é a solarização do solo, regando-o bem no início do verão e cobrindo-o à voltas das árvores doentes, com filme plástico transparente. Como o fungo é bastante sensível ao calor, basta um mês e meio de solarização para que seja eliminado.

2.4. Colheita e transporte da azeitona

Na colheita e transporte há alguns objectivos importantes a atingir:

-Não partir os ramos do ano que irão dar azeitona no ano seguinte;

-Não provocar feridas nos ramos que são portas de entrada para a tuberculose da oliveira;

-Não ferir as azeitonas para não provocar perda de qualidade do azeite;

-Colher a azeitona em bom estado de maturação, nem muito verde nem muito madura;

-Transportar de modo a não esmagar a azeitona nem a deixar aquecer/fermentar.

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Para atingir estes objectivos a colheita não pode ser feita por varejamento, que é a prática tradicional da apanha da azeitona. Em alternativa, existem as seguintes práticas:

-Ripagem manual em olivais de pequena dimensão;

-Ripagem com pente vibrador, eléctrico (a bateria) ou a gasolina, em olivais de média dimensão e em variedades de difícil queda apenas por vibração;

- Vibração dos ramos com vibrador a gasolina, em olivais de média dimensão e quando não seja viável a técnica anterior ou a utilização do vibrador do tronco (árvores antigas, difícil acesso do tractor);

-Vibração do tronco com vibrador ligado ao tractor ou máquina auto-motriz, para olivais de grande dimensão.

À colheita deve seguir-se o transporte imediato para o lagar de modo a fabricar o azeite no mesmo dia ou no dia seguinte. Para transportar nas melhores condições devem ser utilizadas caixas rígidas abertas e não sacos fechados ou transporte a granel com grande altura de carga. No lagar deve proceder-se à limpeza da folha e à lavagem da azeitona. O fabrico do azeite deve ser iniciado no prazo máximo de 24 horas após a colheita.

O armazenamento prolongado da azeitona provoca fermentações que ao quebrarem as ligações entre os ácidos gordos e o glicerol da gordura do azeite, levam ao aumento dos ácidos livres, ou seja, da acidez. Surgem também defeitos de sabor e cheiro (tulha, avinhado, mofo), que são facilmente detectados na prova e desclassificam de imediato o azeite em qualquer concurso.

Quanto à época de colheita, uma boa maturação corresponde ao momento que os frutos mais atrasados estão com cor violeta e os restantes já com coloração negra. Para mercados que apreciem azeite com mais sabor a verde e amargo, pode colher-se um pouco mais cedo, quando as azeitonas menos maduras estão na fase de transição da cor verde para violeta.

Se houver ataque de mosca deve colher-se também nessa fase de modo a evitar mais oxidações e eventual ataque de gafa. Em azeitonas atacadas apenas com mosca ainda é possível obter azeite com menos de 1% de acidez (Guillén et al, 1992). Com azeitonas atacadas por gafa isso já não é possível, pelo que estas azeitonas vão baixar fortemente a qualidade do azeite. Neste caso a laboração deve ser separada. O mesmo deve acontecer com a azeitona que estiver no chão em contacto com a terra e que se pretenda aproveitar.

Para assegurar uma boa qualidade sanitária é conveniente fazer tratamentos fitossanitários preventivos com cobre às primeiras chuvas de Outono, e de modo a que os frutos fiquem protegidos das infecções

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provocadas pela germinação dos esporos dos fungos, em especial da gafa (Figura 16).

Figura 16 – Azeitona em bom estado sanitário, tratada com fungicida de cobre para protecção contra as principais doenças (gafa, olho-de-pavão, cercosporiose, tuberculose).

3. A produção biológica de azeite

3.1. Técnicas de produção

O azeite virgem, ao contrário doutros óleos que são extraídos com solventes químicos, é obtido apenas por processos físicos, o que dá maiores garantias de qualidade alimentar. Para obter a máxima qualidade, para além do bom estado da azeitona, é necessário manter as características do azeite que está no fruto, evitando processos de oxidação ou de perda de compostos voláteis. Isto consegue-se com alguns cuidados ao longo das sucessivas fases de laboração no lagar.

A primeira fase após a lavagem é a moenda, onde se deve evitar moer demasiado fino (formam-se emulsões que diminuem a extracção e o rendimento em azeite) nem por demasiado tempo (oxidação por exposição da massa ao ar). Mas se for demasiado grosso, a rotura das paredes celulares da azeitona será insuficiente, o que também diminui o rendimento em azeite.

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A batedura, que se segue à moenda, é uma importante operação pois tem como objectivo juntar as gotícolas de azeite em gotas maiores que se separam mais facilmente do bagaço e da água ruça. A massa deve ser batida durante um período variável com o sistema de separação do azeite que se segue. Para a extracção por prensagem são 25 a 35 minutos de batedura e para sistemas contínuos de centrifugação são 40 a 60 minutos. A temperatura deve ser suficientemente baixa (25-30ºC) para evitar perdas dos compostos voláteis que dão os bons aromas ao azeite. A velocidade das pás da batedeira deve ser 14 a 18 rpm.

Depois da batedura segue-se a extracção do azeite que pode ser de vários tipos, conforme o lagar em causa e que permite separar as diferentes fases sólidas e líquidas. O sistema de prensagem, mais clássico, separa em três fases (azeite, bagaço seco e água ruça) e o mesmo acontece com o sistema contínuo de 3 fases. O sistema contínuo mais moderno separa em duas fases, azeite e bagaço húmido (com a água ruça incorporada). Há ainda o sistema de percolação (sinoleia), menos utilizado porque só permite retirar uma parte do azeite. Em qualquer dos sistemas de extracção é possível obter bom azeite, embora com algumas diferenças.

No sistema contínuo de três fases, após a batedura adiciona-se água à massa para facilitar a separação das fases (por centrifugação). Isto leva a que se percam algumas partes dos constituintes do azeite, em especial os corantes e os compostos fenólicos. Já no sistema contínuo de duas fases não se adiciona água à massa, obtendo-se por isso um azeite mais rico em antioxidantes.

A extracção por percolação ou filtração selectiva é realizada à temperatura ambiente e sem adição de água, sendo por isso o azeite obtido com todas as suas características naturais e alto conteúdo fenólico (Fragoso, et al, 2006).

3.2. Embalagem, armazenagem, conservação e

transporte

Após o fabrico, o azeite deve ser armazenado rapidamente ao abrigo do ar (oxidação) e da luz (foto-oxidação), em depósitos de material inerte, nomeadamente em aço inoxidável, altos e estreitos para diminuir a área de contacto com o ar. A temperatura adequada é de 15ºC, que permite uma boa sedimentação das impurezas do azeite sem que este sofra oxidação. As mudanças ou trasfegas levam à entrada de ar no azeite e contribuem para a sua oxidação. Os depósitos mais altos e tronco-cónicos facilitam a

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remoção das borras e evitam as trasfegas. A oxidação provoca o cheiro e sabor a ranço, que é um enorme defeito do azeite.

A qualidade do azeite e, em especial, a tendência a oxidar, também depende da variedade da azeitona. Os principais antioxidantes do azeite são os tocoferóis (vitamina E) e os polifenóis, cuja teor varia com a azeitona. A absorvância à luz ultravioleta a 270nm (K270) é um índice que mede a oxidação do azeite e que deve estar abaixo de 0,20. Os azeites mais finos, de melhor qualidade, de composição mais equilibrada, podem atingir índices inferiores a 0,10. O índice de absorvância a 225nm dá também uma indicação do amargo do azeite (mais amargo para valores mais altos).

No quadro 8 podem ver-se essas características para as principais variedades dos diferentes países mediterrânicos.

Quadro 8 – Compostos antioxidantes e índices de absorvância em azeites de diversas variedades de oliveira, representativas de diferentes países (adaptado de Guillén et al, 1992)

País Variedade Índice de maturação

Tocoferóis (vit. E)

Polifenóis K270 K225

Espanha Picual 2,80 322 790 0,19 0,31 Arbequina 1,84 237 195 0,10 0,16 Grécia Coronoeiki 1,16 321 637 0,20 0,54 Itália Frantoio 2,18 253 359 0,11 0,28 Marrocos Picholine

marocaine 2,94 260 791 0,21 0,30

Portugal Negrinha(1) 2,76 258 381 0,11 0,44 Tunísia e Argélia

Chetoui 1,28 510 1347 0,23 0,95

(1) A Negrinha, ou Negrinha-de-Freixo, não sendo a principal variedade portuguesa, é uma das poucas com dupla aptidão (conserva e azeite), com boa qualidade para ambos os fins, e que entra na composição de um dos melhores azeites biológicos nacionais, já premiado em concursos internacionais como o PremioBiol em Itália

Com base nestes dados podemos avaliar algumas características de prova do azeite e a sua estabilidade ao longo do armazenamento. Por exemplo, a variedade Arbequina, com origem na Catalunha (a mais cultivada actualmente nos olivais mais intensivos), produz um azeite de excelente qualidade (K270 baixo) e suave ao paladar (K225 baixo). No entanto o baixo teor de tocoferóis e polifenóis faz diminuir a estabilidade e capacidade de conservação. Será um azeite para consumir novo ou para misturar com outro mais estável. A variedade Negrinha, originária de Trás-os-Montes (NE de Portugal), produz um azeite fino e aromático, e embora com teores não muito altos de tocoferóis e polifenóis, tem uma estabilidade aceitável. O baixo valor de K270 confirma que se trata dum azeite de superior qualidade, embora possa ser um pouco amargo, como parece indicar o seu K225 algo elevado.

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É necessário também evitar a entrada de substâncias contaminantes durante o manuseamento. As tubagens plásticas devem ser evitadas pois libertam ftalatos para o azeite, o que pode ser detectado por análise. Os ftalatos são substâncias de síntese química com efeito desregulador hormonal no ser humano, pelo que é indesejável a sua presença em alimentos. As embalagens plásticas para o armazenamento e embalamento devem ser evitadas pelo mesmo motivo e ainda, no caso de plástico transparente, para evitar a foto-oxidação. Em polietileno transparente o azeite oxida rapidamente com aumento do índice de peróxidos até ao nível máximo legal apenas em 9 a 20 dias. No mesmo material mas à sombra esse índice é atingido aos 120-190 dias.

A embalagem final deve ser de vidro escuro, pois este é um material inerte que conserva bem o azeite durante mais de um ano. Os metais inoxidáveis também podem ser utilizados.

3.3. Rotulagem

Na rotulagem dum azeite de agricultura biológica devem ser indicados, para além dos aspectos comuns aos azeites em geral, os aspectos específicos do modo de produção biológico.

Um azeite biológico para ter uma qualidade aceitável deve ser “Virgem Extra” ou seja, extraídos apenas por processos físicos (virgem) e com as seguintes características analíticas:

-Acidez <= 0,8%;

-Índice de peróxidos (oxidação) <= 20 meq O2/Kg;

-Absorvância a 270nm <= 0,20;

-Análise sensorial: mediana do frutado > 0; mediana de defeitos =0.

Para além destas características comuns a outros azeites, num azeite biológico não devem estar presentes resíduos de pesticidas de síntese química, proibidos neste modo de produção, pelo que no processo de certificação devem fazer-se estas análises antes de certificar o produto final. A aplicação de certos pesticidas, em particular os insecticidas contra a mosca da azeitona, em olivais “convencionais” ou de “produção integrada” que se encontrem próximo dum olival biológico, pode, por contaminação acidental, provocar resíduos no azeite biológico. Este risco aumenta quando as parcelas de olival em agricultura biológica são de pequena dimensão, ou

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estão do lado oposto aos ventos dominantes nas épocas de tratamentos fitossanitários.

Devem ainda evitar-se a presenças doutros possíveis contaminantes como os ftalatos já referidos atrás.

As indicações específicas ao modo de produção e à certificação são as seguintes, de acordo com a legislação comunitária em vigor, em particular a seguinte:

- Regulamento (CE) nº 834/2007, do Conselho – Título IV – Rotulagem (Aspectos gerais);

- Regulamento (CE) nº 889/2008, da Comissão – Título III – Rotulagem (Logótipo comunitário);

- Regulamento (CE) nº 271/2010, da Comissão (Novo Logótipo comunitário).

1) Indicação relativa ao modo de produção (entre parêntesis os países mediterrânicos, produtores de azeite, que adoptaram a terminologia em causa):

- “produto biológico”, “produto de modo de produção biológico”, ou “produto de agricultura biológica” (Portugal, França, Itália, Grécia) , ou;

- “produto ecológico”, ou “produto de agricultura ecológica” (Espanha), ou;

- “produto orgânico”, ou “produto de agricultura orgânica” (Malta).

Podem também ser utilizados na rotulagem as abreviaturas “bio” e “eco”.

2) Indicação relativa à certificação:

O organismo de controlo e certificação tem de vir indicado no rótulo através do código atribuído pela Autoridade competente do país onde o produto foi produzido, embalado e rotulado.

Exemplo: PT-BIO-01 (PT - Portugal; BIO - Agricultura biológica; 01-nº de ordem atribuído ao OPC).

3) Logótipo de produção biológica da EU

Para mais fácil identificação pelo consumidor dum alimento de agricultura biológica, a Comissão europeia aprovou um novo logótipo para produtos pré embalados com pelo menos 95% de ingredientes biológicos. Isto é aplicável também ao azeite, uma vez que, apesar de transformado a partir da azeitona, é 100% azeite. O Regulamento (CE) nº 271/2010 traz

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esse logótipo e as características e condições de utilização, que passou a ser obrigatória (o anterior logótipo era de uso facultativo) a partir de 1 de Julho de 2010.

4) Logótipos nacionais ou privados

Podem também ser usados, em complemento ao logótipo comunitário, logótipos nacionais (quando existam, como no caso de França), ou privados, de associações ou de empresas.

5) Origem dos ingredientes

É obrigatório indicar no rótulo a origem geográfica dos ingredientes, ou seja se são produzidos na União europeia ou fora dela. A indicação do país é facultativa. No caso de produto da EU, deve indicar-se “Agricultura da UE” (ou do país da UE).

6) Alimentos em conversão

No caso de azeite proveniente de olivais em conversão (2º e 3º anos) é possível mencionar no rótulo “Produto em conversão para a Agricultura biológica”, com indicação do OPC (nº de código), mas é proibido o uso do logótipo comunitário.

Para exemplificar a embalagem e rotulagem, a figura 17 mostra uma garrafa de azeite biológico em vidro escuro (para evitar a foto-oxidação) com o logótipo antigo. Na figura 18 pode ver-se o logótipo novo, (neste caso a versão a uma cor) em embalagem metálica inoxidável e opaca à luz.

Figura 17 - Rótulo de azeite biológico com logótipo antigo, em garrafa de vidro escuro

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Figura 18 - Rótulo de azeite biológico com logótipo novo, na versão a uma cor, em lata inoxidável.

Em ambos os casos é um azeite produzido em Serpa (Baixo Alentejo), com base em variedades portuguesas, classificado em Novembro 2010 por um júri italiano como o melhor azeite biológico do ano de entre os muitos que foram apreciados, oriundos de 42 países (Oreggia, 2010).

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4. Bibliografia e documentação Amirante, P. & Pipitone, F., 2002. Utilización de los subproductos del olivar y la almazara. OLIVAE 93:27-32

Cegarra, J., Albuquerque, J.A., Gonzálvez,J. & Garcia, D. 2004. Tratamiento del orugo de oliva de dos fases mediante compostage. OLIVAE 101:12-17

Cunha-Queda, C. et al, 2005. Compostagem de resíduos agro-industriais para fertilização de culturas hortícolas e olival em agricultura biológica. V Congresso Ibérico de Ciências Hortícolas, vol. 3, APH, Porto

Fernandes, R., 1995. Sistemas de tratamento de águas ruças. A Terra e o Futuro 1 : 40-43. DRAAL, Évora

Felix, A.P. & Cavaco, M. 2008. Manual de Protecção Fitossanitária para Protecção Integrada e Agricultura Biológica. DGADR, Oeiras

Fragoso, R., Duarte, E., Gouveia, J., Cortez, N., Costa, B. & Matias, H. 2006. Produção de azeite virgem. Considerações técnicas e ambientais. ISA, Lisboa, 67pp.

Garcia-Ortiz, A . et al, 1995. El riego com alpechin. Una alternativa al lagunaje. Junta de Andalucia

Gonçalves, F. & Torres, L., 2004. A fauna auxiliar, base da protecção contra pragas em olivicultura biológica. O Segredo da Terra, 7 : 5-7. Edibio Edições

Guillén, J. H. & López-Villalta, M. C. 1992. Producción de aceite de oliva de calidad. Influencia del cultivo. Junta de Andalucia. Consejeria de Agricultura Y Pesca

Oreggia, M. 2010. Flos Olei 2011 – Guida ai migliori extravergini del mondo. 768 pp. (www.marco-oreggia.com)

Pastor Muñoz-Cobo, M. 1994. Sistemas de manejo del suelo en Olivicultura. In Olivicultura – Suplemento de Fruticultura nº 62 :41-53. Fudacion “La Caixa” e Editorial Agro Latino, Barcelona.

Regulamento (CE) nº 834/2007, do Conselho. Jornal Oficial da União Europeia L189, de 20.07.2007 (www.gpp.pt)

Regulamento (CE) nº 889/2008, da Comissão. Jornal Oficial da União Europeia L250, de 18.09.2008 (www.gpp.pt)

Tamburino, V., Zimbone, S.M. & Quattrone, P. 1999. Acumulación y vertido del alpechín en suelos agrícolas. OLIVAE 76 : 36-45.

Torres, L. 2006. A fauna auxiliar do olival transmontano e a sua conservação. João Azevedo Editor, Vila Real, 92pp.

Torres, L.2007. Manual de Protecção Integrada do Olival. João Azevedo Editor, Vila Real, 433pp.

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Warlop, F. 2002. L’olivier. In Produire des fruits en agriculture biologique, pp. 193-201, ITAB, Paris, 317 pp

5. Glossário AB - Agricultura Biológica, de acordo com a legislação comunitária em vigor (Regulamento (CE) nº 834/2007, do Conselho), também designada por agricultura ecológica e agricultura orgânica, consoante os Estados-membros.

CV - Produção convencional: produção não biológica nem integrada, com todos os adubos e pesticidas de síntese química de uso agrícola

OPC – Organismo privado de controlo e certificação, aprovado pela Autoridade competente do país onde actua (no caso português o GPP – Gabinete de Planeamento e Políticas) e acreditado/auditado pelo Organismo oficial de acreditação, no caso português o IPAC

PI - Produção integrada: produção com uso limitado de pesticidas de síntese química (listas positivas) e algumas restrições nas doses de adubo a aplicar.

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6. Auto-avaliação 1.A legislação comunitária em vigor para a Agricultura biológica é a mesma para todos os Estados-membros e abrange o seguinte:

a) Os princípios e as práticas de produção biológica de azeitona e de azeite, mas exclui as regras de controlo e certificação;

b) Princípios e as práticas da agricultura biológica onde se enquadra a produção de azeitona e de azeite, e ainda as regras de controlo e certificação;

c) Princípios de produção biológica em geral, regras de controlo e certificação, mas remete para a legislação nacional as práticas de produção e protecção fitossanitária (tal como na produção integrada).

R: b)

2.Para uma certificação mais exigente e credível, a entidade certificadora deve fazer o seguinte:

a) Fazer um controlo anual avisado e só em caso de suspeita uma visita complementar de controlo sem aviso prévio;

b) Fazer sempre análises, em substituição da visita de controlo não avisada.

c) Fazer sempre os dois tipos de visita de controlo, e complementar com pelo menos uma análise de resíduos de pesticidas;

R: c)

3. Para a instalação dum olival biológico, que tipo de densidades/compassos de plantação devem ser seguidos, de maneira a cumprir os princípios de agricultura biológica, em especial relativos à prevenção de doenças?

a) Olivais semi-intensivos com densidades da ordem de 300 oliveiras/ha;

b) Apenas o compasso tradicional mais extensivo, com cerca de 100 oliveiras/ha;

c) Olivais mais intensivos com 500 oliveiras/ha, ou mais;

R: a)

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4.Qual a melhor prática cultural compatível com a produção biológica, aplicada ao olival com vista a evitar a erosão do solo, problema muito grave em todas as regiões olivícolas?

a) Não mobilizar o solo e aplicar um herbicida biológico;

b) Não mobilizar o solo e cortar e triturar a erva e a rama da poda, deixando em empalhamento (mulching);

c) Mobilizar o solo na entrelinha.

R: b)

5. A adubação verde (green manure) pode ser feita no olival, mas só em determinadas condições. Quais?

a) Sempre em olivais novos;

b) Em olivais novos, desde que o risco de erosão seja baixo;

c) Sempre, desde que se façam misturas consociadas de leguminosas e gramíneas.

R: b)

6.Quais os subprodutos do lagar que podem ser aplicados no olival como fertilizantes orgânicos?

a) Todos (bagaços, água ruça, folha de oliveira), de preferência após compostagem;

b) Só a água ruça e até à dose máxima anual de 80m3/ha;

c) Só os bagaços e a folha.

R: a)

7. Na protecção fitossanitária do olival, quais dos insectos auxiliares referidos, são importantes no combate às respectivas pragas?

a) Ácaro fitoseídeo no combate a aranhiços da oliveira;

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b) Coccinelídeo de 7 pintas (Coccinela septempunctata) no combate à cochonilha negra;

c) Crisopídeo (Chrysoperla carnea) no combate à traça da oliveira.

R: c)

8. A mosca da azeitona pode ser combatida em agricultura biológica. Qual o método mais usado e que já provou ser eficaz?

a) Pulverização com insecticida spinosade;

b) Armadilhas cromotrópicas amarelas com feromona;

c) Armadilhas alimentares do tipo “garrafa mosqueira OLIPE”.

R: c)

9. Para combater as principais doenças da oliveira, para além das práticas culturais como a poda, que produtos fitossanitários são mais eficazes?

a) Enxofre;

b) Fungicidas de cobre;

c) Permanganato de potássio.

R: b)

10. Para a obtenção dum azeite de qualidade, qual o tempo máximo entre a colheita e o fabrico?

a) Uma semana;

b) Um dia (24 horas);

c) 12horas.

R: b)