Produção Textual

12
ALUNO (A): ___________________________________________________________ _ Chatear e encher Um amigo meu me ensina a diferença entre “chatear” e “encher”. Chatear é assim: Você telefona para um escritório qualquer na cidade. – Alô! Quer me chamar, por favor, o Valdemar? – Aqui não tem nenhum Valdemar. Daí a alguns minutos você liga de novo: – O Valdemar, por obséquio. – Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar. – Mas não é do número tal? – É, mas aqui não trabalha nenhum Valdemar. Mais cinco minutos, você liga o mesmo número: – Por favor, o Valdemar já chegou? – Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui? – Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí. – Não chateia. Daí a dez minutos, liga de novo – Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado? O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis. Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:

description

Lista de portugues 8 ano : cronica

Transcript of Produção Textual

ALUNO (A): ____________________________________________________________Chatear e encherUm amigo meu me ensina a diferena entre chatear e encher.Chatear assim:Voc telefona para um escritrio qualquer na cidade. Al! Quer me chamar, por favor, o Valdemar? Aqui no tem nenhum Valdemar.Da a alguns minutos voc liga de novo: O Valdemar, por obsquio. Cavalheiro, aqui no trabalha nenhum Valdemar. Mas no do nmero tal? , mas aqui no trabalha nenhum Valdemar.Mais cinco minutos, voc liga o mesmo nmero: Por favor, o Valdemar j chegou? V se te manca, palhao. J no lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui? Mas ele mesmo me disse que trabalhava a. No chateia.Da a dez minutos, liga de novo Escute uma coisa! O Valdemar no deixou pelo menos um recado?O outro desta vez esquece a presena da datilgrafa e diz coisas impublicveis.At aqui chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faa nova ligao: Al! Quem fala? Quem fala aqui o Valdemar. Algum telefonou para mim?(Paulo Mendes Campos).

Interpretao textual1. O que acontece nas conversas que provocam a impacincia de quem atende o telefone?________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Quais so as dicas dadasno texto para chatear quem atende o telefone?________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Quando a situao descrita deixa de chatear e passa a encher quem atende, segundo o narrador?________________________________________________________________________________________________________________________________________4. A situao descreve um trote por telefone. Explique com suas palavras o que um trote.________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Releia este trecho.O outro desta vez esquece a presena da datilgrafa ediz coisasimpublicveis.- Por que as coisas ditas por quem recebe o trote soimpublicveis?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. Onde no poderiam ser publicadas?_______________________________________________________________________7. O que a pessoa que recebia o trote estava sentindo naquele momento?________________________________________________________________________________________________________________________________________8. No incio da conversa pelo telefone as repostas de quem atende so educadas. No decorrer das ligaes essa relao se mantm ou se modifica? Por qu?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9. Cite um dos recursos que aparecem nessa crnica para provocar humor.________________________________________________________________________________________________________________________________________

O Homem Nu(Fernando Sabino)Ao acordar, disse para a mulher: Escuta, minha filha: hoje dia de pagar a prestao da televiso, vem a o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu no trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. Explique isso ao homem ponderou a mulher. No gosto dessas coisas. D um ar devigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigaes. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, no faz barulho, para ele pensar que no tem ningum. Deixa ele bater at cansar amanh eu pago.Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher j se trancara l dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um caf. Ps a gua a ferver e abriu a porta de servio para apanhar o po. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos at o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mrmore do parapeito. Ainda era muito cedo, no poderia aparecer ningum. Mal seus dedos, porm, tocavam o po, a porta atrs de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.Aterrorizado, precipitou-se at a campainha e, depois de toc-la, ficou espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu l dentro o rudo da gua do chuveiro interromper-se de sbito, mas ningum veio abrir. Na certa a mulher pensava que j era o sujeito da televiso. Bateu com o n dos dedos: Maria! Abre a, Maria. Sou eu chamou, em voz baixa.Quanto mais batia, mais silncio fazia l dentro.Enquanto isso, ouvia l embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televiso!No era. Refugiado nolanoda escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mos nervosas o embrulho de po: Maria, por favor! Sou eu!Desta vez no teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos l de baixo... Tomado de pnico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mo, parecia executar um balletgrotescoe mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o boto. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa,encetandoa subida de mais um lano de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do po.Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele comea a descer. Ah, isso que no! fez o homem nu, sobressaltado.E agora? Algum l embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, empelo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, comeava a viver um verdadeiropesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autntico e desvairadoRegime do Terror! Isso que no repetiu, furioso.Agarrou-se porta do elevador e abriu-a com fora entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentnea iluso de que sonhava. Depois experimentou apertar o boto do seu andar. L embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergncia: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergncia, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. Maria! Abre esta porta! gritava, desta vez esmurrando a porta, j sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrs de si.Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de po. Era a velha do apartamento vizinho: Bom dia, minha senhora disse ele, confuso. Imagine que eu...A velha,estarrecida, atirou os braos para cima, soltou um grito: Valha-me Deus! O padeiro est nu!E correu ao telefone para chamar aradiopatrulha: Tem um homem pelado aqui na porta!Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava: um tarado! Olha, que horror! No olha no! J pra dentro, minha filha!Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma l fora, bateram na porta. Deve ser a polcia disse ele, ainda ofegante, indo abrir.No era: era o cobrador da televiso.

Esta uma das crnicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extrada do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pg. 65GlossrioVigarice:Ato de trapaa; fraude.Lano:Parte de uma escada entre dois patamares sucessivos; o mesmo que lance.Grotesco:Ridculo, extravagante.Encetar: Iniciar, comear.Em pelo: Nu, pelado.Pesadelo de Kafka: Referncia ao escritor checo Franz Kafka, que criou histrias fantsticas com toques de terror e situaes incomuns. Muitas vezes, seus personagens se sentiam assustados e em agonia, como se vivessem um pesadelo.Regime do Terror.Referncia ao perododa RevoluoFrancesa compreendidoentre 31 de maiode 1793 e 27 de julhode 1794, em quemilhares de pessoasforam executadas na guilhotina por se oporemao governo e sideias de Maximiliende Robespierre.Estarrecida. Espantada, horrorizada, perplexa.Radiopatrulha. Veculo da polcia, equipado com rdio. INTERPRETAO DO TEXTO1.O ttulo da crnica O homem nu. Que outro ttulo voc poderia atribuir ao assunto do texto?2.O texto foi escrito no incio da dcada de 1960. Que fatos ou situaes nos permitem concluir que a histria no se passa nos dias de hoje?3.Por que o homem ficou nu?4.Por que a mulher no abriu a porta do apartamento quando a campainha tocou?5.No quarto pargrafo do texto, o homem afirma: No gosto dessas coisas. D um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhasobrigaes. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, no faz barulho, para ele pensar que no tem ningum. Deixa ele bater at cansar amanh eu pago.A atitude dele est de acordo com sua afirmao? Por qu?6.Por que a vizinha gritou que o padeiro estava nu?

7.No final da histria, o homem teve de encarar o cobrador da televiso. Escreva uma possvel desculpa que ele poderia dar para no pagar a prestao.8.Responda a estas perguntas sobre o textoO homem nu.a)Qual era o desejo do homem nu ao se ver trancado fora de casa?b)O que o impedia de realizar esse desejo?9.Assinale a alternativa que expressa o principal conflito do protagonista, isto , do personagem mais importante deO homem nu.A oposio entre o desejo e o que impede sua realizao chama-seconflito. Pode ser um choque de interesses, de opinies, de comportamento entre dois ou mais personagens, ou de um personagem com a natureza, ou at de um personagem consigo mesmo. por meio do conflito que seestrutura o enredode uma narrativa.a.()O marido quer tomar banho, mas a mulher j se trancou no banheiro.b()O cobrador vir receber a prestao, mas o devedor est sem dinheiro.c()O homem nu est do lado de fora do apartamento e no consegue entrar em casa.d()O elevador comea a subir e o homem nu pensa que o cobrador.

O momento da narrativa em que a sequncia de acontecimentosatinge omais alto grau de tensochama-seclmax.10.Qual o momento de mais tenso, de mais nervosismo no texto?11.Numere as aes, mostrando a sequncia dos acontecimentos.a.A porta do apartamento se fecha, deixando o homem para fora.()b.O marido pega o embrulho do po.()c.O marido pe a gua para esquentar. ()d.O marido entra no elevador e aperta o boto de emergncia.()e.A mulher vai para o banho.()f.A mulher abre a porta.()g.O homem e a mulher decidem fingir que no esto em casa.()h.A mulher desliga o chuveiro.()i.O elevador comea a subir.()j.O marido tira a roupa para tomar banho. ()k.O marido toca a campainha do apartamento.()l.O cobrador da televiso bate porta.()m.O marido grita e esmurra a porta, alertando os vizinhos.()12.Em vrios momentos, o autor criou suspense no texto. Localize dois trechos em que isso ocorre e cite os nmeros dos pargrafos correspondentes.

13.Retire do textoO homem nutrs palavras ou expresses que marcam o tempo na narrativa.

14.Releia esta frase do texto e faa o que se pede.Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro (...)a)Assinale a alternativa que explica o sentido do trecho sublinhado.() Expressa uma consequncia.()Indica uma causa.() Estabelece uma comparao.b) Reescreva essa mesma frase, substituindo a palavra como por outra palavra ou expresso de sentido equivalente. Faa as alteraes necessrias.CASO DE SECRETRIAFoi trombudo para o escritrio. Era dia de seu aniversrio, e a esposa nem sequer o abraara, no fizera a mnima aluso data. As crianas tambm tinham se esquecido. Ento era assim que a famlia o tratava? Ele que vivia para seus, que se arrebentava de trabalhar, no merecer um beijo, uma palavra ao menos!Mas no escritrio, havia flores sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abrao da secretria, que poderia muito bem ter ignorado o aniversrio, e entretanto o lembrava. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e eficiente, p-de-boi da firma, como at ento a considerara; era um corao amigo.Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borococh: o carinho da secretria no curava, abria mais a ferida. Pois ento uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada?Baixou a cabea, ficou rodando o lpis entre os dedos, sem gosto para viver.Durante o dia, a secretria redobrou de atenes. Parecia querer consol-lo, como se medisse toda sua solido moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amveis, e o ditado da correspondncia foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela. -O Senhor vai comemorar em casa ou numa boate?Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos uma droga, ningum gostava dele neste mundo, iria rodar por a noite, solitrio, como o lobo da estepe. - Se o senhor quisesse, podamos jantar juntos - insinuou ela, discretamente.E no que podia mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida - o pessoal l de casa pouco t ligando -, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que - reparava agora -era bem bonita.Da por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritrio. Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversrio, ele principalmente. Conteve-se, no prazer ansioso da espera. - Onde voc prefere ir? - perguntou, ao sarem. - Se no se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa. timo, pensou ele;- faz-se a inspeo prvia do terreno, e, quem sabe? - Mas antes quero um drinque, para animar - ele retificou.Foram ao drinque, ele recuperou no s a alegria de viver e fazer anos, como comeou a faz-los pelo avesso, remoando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do brao.No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse que o usasse sem cerimnia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, no precisava bater - e o sorriso dele, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.Ele nem percebeu ao certo se estava arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situao. Liberto da roupa incmoda, abriu a porta do quarto. L dentro, sua mulher e seus filhinhos, em coro com a secretria, esperavam-no cantando "Parabns pra voc".Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988. INTERPRETAO DO TEXTO1. Pelo contexto, qual o sentido de:Trombudo BorocochP-de-boi 2. A que gnero pertence o texto lido? Justifique3.O homem estava trombudo e borococh porque:( ) estava ficando mais velho.( ) odiava festa de aniversrio.( ) sua esposa e seus filhos no lembraram do seu aniversrio.( ) no gostou das flores que ganhou da secretria.4.Que histria o leitor imagina que ser contada?5. Que histria de fato contada?6. Que elemento do enredo permite perceber a diferena entre o que se diz na questo 4 e na 5, tornando interessante e envolvente a leitura do texto?7. O ttulo do texto sugere alguns sentidos. Quais?8. Depois de ter lido o texto, por que voc acha que a secretria lembrou-se do aniversrio do chefe?9. Com que inteno a secretria convidou o chefe para jantar? Como o chefe interpretou a ida ao apartamento dela?10. Como voc imagina a reao do homem ao ver a esposa e os filhos cantando Parabns a voc?