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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA PRODUÇÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE UMA POLIGALACTURONASE DE Cylindrocladium pteridis RAFAELA INÊS DE SOUZA LADEIRA OURO PRETO MINAS GERAIS BRASIL 2013

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i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA

PRODUÇÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE UMA

POLIGALACTURONASE DE Cylindrocladium pteridis

RAFAELA INÊS DE SOUZA LADEIRA

OURO PRETO

MINAS GERAIS – BRASIL

2013

ii

RAFAELA INÊS DE SOUZA LADEIRA

PRODUÇÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE UMA

POLIGALACTURONASE DE Cylindrocladium pteridis

OURO PRETO

MINAS GERAIS – BRASIL

2013

Dissertação apresentada à Universidade

Federal de Ouro Preto como parte das

exigências do Programa de Pós-graduação

em Biotecnologia, para obtenção do título de

Magister Scientiae.

iii

Dedico este trabalho

A Deus

Aos meus pais

Aos meus irmãos

À Giries Tanus Àzar Júnior

“Se vi mais longe foi por estar de pé

sobre o ombro dos gigantes”

Isaac Newton

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir chegar até aqui me dando força, sabedoria e me

iluminando nos momentos difíceis.

Aos meus pais e irmãos pelo amor incondicional e por acreditarem no

meu potencial

Ao meu noivo Giries, pelo incentivo, apoio, compreensão e carinho.

À Universidade Federal de Ouro Preto e ao Programa de Pós-graduação

em Biotecnologia pela oportunidade e pelo suporte acadêmico.

À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Bioquímica e

Biologia Molecular por disponibilizar sua estrutura laboratorial para realização

dos experimentos.

A Capes pela bolsa concedida.

À minha orientadora Professora Valéria Monteze Guimarães, pela

confiança no meu trabalho, pela paciência, conselhos e amizade. Enfim, por ter

me motivado em todos os momentos.

Ao Professor Sebastião Tavares de Resende, pela co-orientação neste

trabalho.

Aos professores Ieso de Miranda Castro e Luciano Gomes Fietto, por

aceitar o convite de composição da banca e me auxiliar nas correções e

nas melhorias deste trabalho.

A todos os professores do Programa de Pós-graduação em

Biotecnologia da Universidade Federal de Ouro Preto, pelo conhecimento

compartilhado que tanto contribuiu para minha formação profissional.

Ao estudante de pós-doutorado Daniel Luciano Falkoski pela

disponibilidade e ajuda ao longo do mestrado.

À Petiane, pelo auxílio nos experimentos iniciais.

v

A todos os meus amigos do grupo de pesquisa coordenado pela

professora Valéria e pelo professor Sebastião, em especial a Rafaela Ventorim,

Larissa Trevizano e Maíra Nicolau, pelo auxílio constante, torcida e prazer da

convivência.

Aos amigos de laboratório Tiago Leal e Cristina Alves, pelo papel

fundamental na parte final dos experimentos e por tornar tudo mais leve.

Obrigada por tudo!

Aos amigos do Mestrado em Biotecnologia, especialmente à Rafa,

Thalita, Cris e Diogo por tornar a minha estadia em Ouro Preto mais agradável.

Foi um prazer conhecê-los.

Ao Josino, secretário do programa de pós-graduação em

Biotecnologia, por sempre me socorrer e retirar todas minhas dúvidas até

mesmo por e-mail.

Aos funcionários do Departamento de Bioquímica e Biologia

Molecular da Universidade Federal Viçosa, especialmente ao secretário

Eduardo Pereira Monteiro e ao técnico Jean, por se mostrarem sempre tão

solícitos.

À família de Ana Pimenta pela acolhida e suporte durante minha

passagem por Ouro Preto.

Às minhas amigas Brenda, Ana, Bel, Paola, Thábata e todas as amigas

de Coimbra por compreender a ausência durante esses dois anos.

A toda minha família, especialmente minha vó Dinah, que se fez

presente durante toda a minha vida. Agradeço suas orações!

A todas as pessoas que direta ou indiretamente torceram e contribuíram

de alguma forma, meu muito obrigado.

Agradeço a todos os gigantes presentes nessa caminhada!

vi

BIOGRAFIA

RAFAELA INÊS DE SOUZA LADEIRA, filha de Nilson Geraldo Ladeira e

Maria Terezinha de Souza Ladeira, nasceu na cidade de Coimbra, Minas

Gerais, em 28 de abril de 1987.

Em janeiro de 2011, graduou-se em Bioquímica pela Universidade

Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

Iniciou o Programa de Pós-graduação em Biotecnologia em março de

2011, em nível de mestrado, na Universidade Federal de Ouro Preto, Minas

Gerais, Brasil. Submetendo-se à defesa de dissertação em 18 de março de

2013.

vii

SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS E TABELAS ...................................................................... x

RESUMO........................................................................................................... xii

ABSTRACT ...................................................................................................... xiv

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 3

2.1. Parede celular de plantas ........................................................................ 3

2.1.1. Composição da parede celular ...................................................... 3

2.2. Pectina ..................................................................................................... 5

2.2.1. Elementos estruturais da pectina ................................................... 6

2.2.1.1. Homogalacturonana .......................................................... 6

2.2.1.2. Xilogalacturonana.............................................................. 7

2.2.1.3. Rhamnogalacturonana I .................................................... 7

2.2.1.4. Rhamnogalacturonana II ................................................... 8

2.2.1.5. Arabinana, arabinogalactana I e II..................................... 8

2.2.2. Função da pectina .......................................................................... 9

2.2.2.1. Funcionalidade na planta .................................................. 9

2.2.3. Aplicações da pectina .................................................................... 9

2.2.4. Degradação da pectina ................................................................ 11

2.2.4.1. Degradação química ....................................................... 11

2.2.4.2. Degradação enzimática ................................................... 13

2.3. Pectinases ............................................................................................. 13

2.3.1. Poligalacturonases ....................................................................... 15

2.3.1.1. Aplicações das poligalacturonases ................................. 17

2.3.2. Pectina metil esterase .................................................................. 18

2.3.3. Pectina liase e pectato liase ......................................................... 18

2.3.4. Endo xilogalacturonana hidrolase ................................................ 19

2.3.5. Pectinases que degradam a rhamnogalacturonana ..................... 19

2.4. Micro-organismos patógenos de plantas ............................................... 20

2.4.1. Cylindrocladium pteridis ............................................................... 21

2.4.2. Cylindrocladium pteridis e a infecção do eucalipto ....................... 21

viii

3. OBJETIVOS ................................................................................................. 23

3.1. Objetivos Gerais ..................................................................................... 23

33.2. Objetivos Específicos ........................................................................... 23

4. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 24

4.1. Reagentes .............................................................................................. 24

4.2. Micro-organismo .................................................................................... 24

4.3. Manutenção da cultura ........................................................................... 24

4.4. Preparo das fontes de carbono .............................................................. 24

4.5. Meio de cultura, cultivo do micro-organismo e produção enzimática ..... 25

4.6. Ensaios enzimáticos .............................................................................. 25

4.6.1. Poligalacturonase ......................................................................... 25

4.7. Determinação da concentração de proteínas ........................................ 26

4.8. Purificação da poligalacturonase de C.pteridis ...................................... 26

4.9. Determinação do grau de pureza ........................................................... 28

4.9.1. Eletroforese.................................................................................. 28

4.9.2. Coloração dos géis de eletroforese ............................................. 28

4.10. Determinação da massa molecular ..................................................... 29

4.11.Caracterização enzimática .................................................................... 29

4.11.1. Efeito do pH ................................................................................... 29

4.11.2. Efeito da temperatura .................................................................... 30

4.11.3. Estabilidade de pH ......................................................................... 30

4.11.4. Termoestabilidade e cálculo da meia vida da enzima .................... 30

4.11.5. Determinação dos parâmetros cinéticos ........................................ 30

4.11.6. Determinação da especificidade de substrato ................................ 31

4.11.7. Efeitos de íons, agentes redutores e açúcares .............................. 31

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 32

5.1. Seleção da melhor fonte de carbono para produção enzimática ........... 32

5.2. Purificação da poligalacturonase de C. pteridis LPF-59 ........................ 37

5.3. Determinação da massa molecular ....................................................... 41

5.4. Caracterização enzimática .................................................................... 42

5.4.1. Efeito do pH ..................................................................................... 44

5.4..2. Efeito da temperatura ..................................................................... 44

5.4.3. Análise da termoestabilidade ........................................................... 46

ix

5.4.3.1. Meia-vida da poligalacturonase ............................................... 48

5.4.4. Determinação dos parâmetros cinéticos .......................................... 49

5.4.5. Especificidade de substrato ............................................................. 50

5.4.6. Efeitos de íons, agentes redutores e açúcares ................................ 51

6. CONCLUSÕES ............................................................................................ 55

7. PERSPECTIVAS .......................................................................................... 57

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 58

x

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1. Esquema dos principais componentes estruturais da parede celular

primária e seu provável arranjo. ......................................................................... 4

Figura 2. Representação esquemática dos elementos estruturais da pectina ... 6

Figura 3. Estrutura química da pectina. .............................................................. 7

Figura 4. Comparação da composição em peso seco das biomassas ricas em

pectina e das biomassas lignocelulósicas ........................................................ 10

Figura 5. Principais modificações nas substâncias pécticas ........................... 12

Figura 6. Modo de ação das pectinases envolvidas na degradação da

homogalacturonana, rhamnogalacturonana I e xilogalacturonana ................... 15

Figura 7. Modo de ação da poligalacturonase ................................................. 16

Figura 8. Estrutura denominada “egg-box” formada pelas ligações dos íons

Ca+2 com o polímero de homogalacturonana na pectina ................................. 18

Figura 9. Sequências dos métodos utilizados para purificação da

poligalacturonase de Cylindrocladium pteridis ................................................. 27

Figura 10. Atividade de poligalacturonase (U.mL-1) no sobrenadante da cultura

de C.pteridis LPF-59 nas diferentes fontes de carbono. .................................. 32

Figura 11. Atividade específica de poligalacturonase (U.mg-1) no sobrenadante

da cultura de C.pteridis LPF-59 nas diferentes fontes de carbono. .................. 34

Figura 12. Atividade de poligalacturonase real (colorido) e teórica (preto) de

acordo com as diferentes fontes de carbono ao longo do tempo de cultivo. .... 36

Figura 13. Perfil cromatográfico obtido após a aplicação do extrato bruto

centrifugado em coluna de troca iônica DEAE–Sepharose. ............................. 38

Figura 14. Perfil cromatográfico obtido após a aplicação da fração ativa

concentrada, proveniente da troca iônica, em coluna de gel filtração Sephacryl

S-200. ............................................................................................................... 39

Figura 15. Eletroforese desnaturante (SDS-PAGE 12 %) corado com prata das

amostras com atividade de poligalacturonase de C.pteridis LPF-59. ............... 40

Figura 16. Determinação da massa molecular da poligalacturonase purificada

de C.pteridis LPF-59, a partir de SDS-PAGE. .................................................. 41

Figura 17. Efeito do pH na atividade da poligalacturonase purificada de

C.pteridis LPF-59 na temperatura de 50oC. ..................................................... 42

xi

Figura 18. Efeito do pH na estabilidade da poligalacturonase purificada de

C.pteridis LPF-59 após 60 minutos de incubação a 25oC em diferentes valores

de pH ................................................................................................................ 43

Figura 19. Efeito da temperatura na atividade da poligalacturonase purificada

de C.pteridis LPF-59 em pH 4,0. ...................................................................... 45

Figura 20. Efeito da temperatura na estabilidade da poligalacturonase

purificada de C.pteridis LPF-59. ....................................................................... 46

Figura 21. Valores de meia-vida estimados para poligalacturonase purificada de

C.pteridis LPF-59 ............................................................................................. 48

Tabela 1. Atividade de poligalacturonase detectada nos meios de cultura de

C.pteridis contendo diferentes fontes de carbono. ........................................... 35

Tabela 2. Resumo das etapas de purificação da poligalacturonase de C.pteridis

LPF-59. ............................................................................................................ 37

Tabela 3. Valores de KM, Vmax e Vmax.KM-1 obtidos para poligalacturonase

purificada de C.pteridis LPF-59, ....................................................................... 49

Tabela 4. Especificidade da poligalacturonase purificada de C.pteridis LPF-59

para os diferentes substratos na concentração final de 0,2% (p/v). ................. 51

Tabela 5. Atividade relativa da poligalacturonase purificada de C.pteridis LPF-

59 submetida aos diferentes efetores na concentração final de 2 mM. ............ 52

xii

RESUMO

LADEIRA, Rafaela Inês de Souza, M. Sc., Universidade Federal de Ouro Preto,

Março de 2013. Produção, purificação e caracterização de uma

poligalacturonase de Cylindrocladium pteridis. Orientadora: Valéria

Monteze Guimarães. Co-orientador: Sebastião Tavares de Resende.

Os objetivos deste trabalho foram selecionar diferentes fontes de

carbono indutoras da poligalacturonase em cultura submersa de

Cylindrocladium pteridis LPF-59, purificar e caracterizar a enzima para

identificação das propriedades funcionais interessantes para possíveis

aplicações biotecnológicas e industriais. Para produção da poligalacturonase, o

fungo foi cultivado por 168 horas em meio líquido composto por uma das seis

diferentes fontes de carbono: resíduo de viveiro de eucalipto antigo, resíduo de

viveiro de eucalipto novo, folha de eucalipto, caule jovem de eucalipto, caule

lignificado de eucalipto e farelo de trigo. A enzima produzida a partir da cultura

fúngica em meio contendo folha de eucalipto foi purificada por cromatografias

de troca iônica e filtração em gel. Ao final do processo, a poligalacturonase

apresentou um fator de purificação de 13,32 vezes, com rendimento de

18,91%. A massa molecular da enzima foi de aproximadamente 68 KDa

quando estimada por SDS-PAGE. A enzima apresentou atividade máxima em

pH 4,0 e na temperatura de 60oC. Os valores de meia-vida para a

poligalacturonase foram de 260 e 66 minutos, nas temperaturas de 50 e 60oC,

respectivamente. Os valores de KM e Vmax, utilizando o substrato ácido

poligalacturônico, foram 0,525 mg.mL-1 and 5,862 U.mL-1, respectivamente e

6,770 mg.mL-1 e 16,166 U.mL-1 para a pectina cítrica. A enzima apresentou

atividade hidrolítica para ácido poligalacturônico, pectina cítrica e PDA (potato

dextrose agar) . A atividade enzimática foi 97 % inibida por HgCl2 e 85 % por

SDS, e na presença de CaCl2, FeSO4, lactose e EDTA, a enzima ainda

manteve aproximadamente 50% da atividade original. A poligalacturonase

identificada neste trabalho apresentou propriedades adequadas para sua

possível aplicação em indústrias alimentícias, uma vez que sua atuação em

xiii

ambientes ácidos e em altas temperaturas indica que poderia ser utilizada no

processo de preparação e clarificação do suco de frutas.

xiv

ABSTRACT

LADEIRA, Rafaela Inês de Souza, M. Sc., Federal University of Ouro Preto,

March de 2013. Purification and characterization of a polygalacturonase

Cylindrocladium pteridis. Advisor: Valéria Monteze Guimarães. Co-

supervisor: Sebastião Tavares de Resende.

The objectives of this study were to select different carbon sources

induce polygalacturonase in submerged culture of Cylindrocladium pteridis LPF-

59, purify and characterize the enzyme to identify the functional properties of

interest for potential biotechnological and industrial applications. To

polygalacturonase production, the fungus was grown for 168 hours in liquid

medium composed of the six different carbon sources: old residue from nursery

eucalyptus, new residue from nursery eucalyptus, eucalyptus leaf, young stem

eucalyptus, woody stem eucalyptus and wheat bran. The enzyme produced

from the fungal culture in medium containing eucalyptus leaf was purified by ion

exchange chromatography and gel filtration. At the end of the process,

polygalacturonase had a purification factor of 13.32 times, with yield of 18.91%.

The molecular mass of the enzyme was about 68 kDa when estimated by SDS-

PAGE. The enzyme showed maximal activity at pH 4.0 and at a temperature of

60oC. The values of half-life for polygalacturonase were 260 and 66 minutes at

temperatures of 50 and 60 ° C respectively. The values of KM and Vmax, using

the substrate polygalacturonic acid were 0.525 mg.mL-1 and 5.862 U.mL-1

respectively and 6.770 mg.mL-1 and 16.166 U.mL-1 for citrus pectin. The

enzyme showed hydrolytic activity for polygalacturonic acid, citrus pectin and

PDA (potato dextrose agar). The enzyme activity was inhibited by 97% and

85% HgCl2 for SDS, and in the presence of CaCl2, FeSO4, EDTA and lactose,

the enzyme still retained approximately 50% of the original activity. The work

presented in this polygalacturonase identified suitable properties for their

possible application in the food industry, since his action in acidic environments

and at high temperatures indicates that it could be used in the preparation

process and clarification of fruit juice.

1

1. INTRODUÇÃO

A pectina é um dos principais constituintes da parede celular de plantas

e provavelmente um dos maiores complexos de macromoléculas existentes na

natureza (Voragen et al., 2009). A pectina é um complexo de polissacarídeos

composto principalmente de polímeros de ácido D-galacturônico unidos por

ligações α-1,4-glicosídicas (Jurick et al., 2009). Ao se complexar com a

hemicelulose se torna componente crítico para a organização tecidual da

planta, uma vez que fornece integridade para sua parede celular. Pelo fato da

parede celular das plantas serem uma estrutura dinâmica e heterogênea, sua

complexidade demanda um arsenal diverso de enzimas produzidas por micro-

organismos para degradar lignina, celulose, hemicelulose e pectina (King et al.,

2011). Dentre essas enzimas, as pectinases são as responsáveis pela

degradação das substâncias pécticas e são classificadas de acordo com o

mecanismo de ação. As metilesterases (EC 3.1.11.1) removem grupos metoxil

de galacturonana altamente ou parcialmente esterificada. As

poligalacturonases catalisam a hidrólise de ligações glicosídicas de forma

randômica (endopoligalacturonase EC 3.2.1.15) ou na porção final não-

redutora da homogalacturonana liberando resíduos de ácido galacturônico ou

digalacturônico (exopoligalacturonases EC 3.2.1.67 e EC 3.2.1.82). E as liases

clivam as ligações glicosídicas por trans-eliminação (pectato liase EC 4.2.2.2 e

exopectato liase EC 4.2.2.9) (Alkorta et al., 1998).

Muitos micro-organismos associados a plantas, tanto patogênicos como

saprófitos, que quebram a parede celular de plantas, possuem capacidade

genética para sintetizar essas enzimas. Pectinases fúngicas estão entre as

mais importantes enzimas industriais, uma vez que são amplamente aplicadas

em processos têxteis, na degomagem das fibras de plantas, em fermentações

de café e chá, na extração e clarificação de sucos de frutas, na extração de

óleos, na preparação de fibras de celulose para roupa e na manufatura de juta

e papel (Gomes et al., 2011). Esta enzima também tem sido identificada como

agente de patogenicidade no processo de infecção de plantas por fungos.

Muitos fitopatógenos contam com as enzimas que degradam a parede celular

das plantas (CWDE) para quebrar a barreira e obter nutrientes para sua

2

sobrevivência, enquanto subvertem as respostas de defesa da planta. Isso

sugere que esses patógenos produzem quantidades substanciais de enzima

com alta eficiência catalítica e de uma forma estritamente regulada e

coordenada (Donna et al., 2011).

A produção de enzimas pectinolíticas tem sido amplamente citada em

bactérias e fungos filamentosos (Mohamed et al., 2003). No entanto, há

interesse na descoberta de novas fontes dessas enzimas, que sejam eficientes,

robustas e tenham propriedades catalíticas mais adequadas para as aplicações

industriais.

Estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa indicaram que o fungo

fitopatogênico Cylindrocladium pteridis LPF-59, isolado de plantações de

eucalipto, foi capaz de secretar enzimas essenciais para degradação da parede

celular vegetal, sendo a poligalacturonase uma das enzimas mais ativas.

Portanto, a purificação e o estudo das propriedades da poligalacturonase

de C.pteridis LPF-59 podem contribuir para a compreensão do possível papel

desta enzima no processo de infecção de plantas. Por outro lado, esse estudo

pode revelar propriedades funcionais desta enzima que a qualifiquem para

utilização em possíveis aplicações industriais.

Considerando os aspectos discutidos, o objetivo deste trabalho foi

produzir, purificar e caracterizar a poligalacturonase de C.pteridis LPF-59. Para

isso, a enzima foi produzida a partir do cultivo do fungo C.pteridis LPF-59 em

meio líquido utilizando folha de eucalipto como fonte de carbono.

Posteriormente a enzima foi purificada e caracterizada visando a identificação

de propriedades funcionais interessantes para possíveis aplicações

biotecnológicas. Tanto na indústria de alimentos como para degradação da

biomassa lignocelulósica para produção de etanol.

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. PAREDE CELULAR DE PLANTAS

A função mais notável da parede celular nas plantas é a determinação

do tamanho e do formato das células (Taiz et al., 1984). A parede celular é o

primeiro obstáculo que um patógeno enfrenta na penetração da planta. Por ser

uma importante barreira entre a planta e o patógeno, milhões de anos de

coevolução foram necessários para que as plantas desenvolvessem

estratégias de proteção da sua parede celular e os patógenos por sua vez

criassem caminhos para driblar essas estratégias. Para isso, os patógenos

secretam inúmeras enzimas para degradar a parede celular das plantas e

assim utilizar seus componentes como fonte de nutritiva (Lagaert et al., 2009).

2.1.1. Composição da parede celular

A parede celular das plantas é uma estrutura dinâmica e heterogênea. A

parede celular primária das plantas é composta aproximadamente por 10% de

proteínas e 90% de polissacarídeos (Lagaert et al., 2009). A parede celular

vegetal possui como elementos básicos: celulose, hemicelulose, lignina e a

pectina (Gibson, 2012). A complexidade dos polissacarídeos existentes na

parede celular contribui para resistência à hidrólise, necessitando de um

conjunto de enzimas para sua completa degradação. Os principais

componentes estruturais da parede celular primária vegetal estão

representados na figura 1.

4

Figura 1. Esquema dos principais componentes estruturais da parede celular

primária e seu provável arranjo. As microfibrilas de celulose são revestidas com

hemicelulose, que podem ligar as microfibrilas entre si. As pectinas formam um

gel de matriz de ligação, interagindo com as proteínas estruturais (Brett e

Waldron, 1996).

A composição da parede celular difere de acordo com a linhagem da

planta (Sarkar et al., 2009). A parede celular das angiospermas e

gimnospermas contém microfibrilas de celulose embebidas em uma matriz de

pectina, hemicelulose, lignina e proteínas estruturais. O tipo de polímero e a

quantidade relativa de cada um na planta variam de acordo com a espécie da

planta e a maneira como a parede celular amadurece. De acordo com Vogel

(2008), à medida que a parede celular primária vai se transformando em

secundária, as quantidades de xiloglucana, pectina e proteínas estruturais

decresce enquanto a quantidade de xilana e lignina aumentam. Isso ocorre

tanto em monocotiledôneas quanto em dicotiledôneas.

5

É improvável que as diferenças na composição da parede celular entre

as monocotiledôneas e as dicotiledôneas determinem a especificidade da

planta hospedeira em relação ao seu patógeno. Porém, existem evidências de

que os fitopatógenos secretam diferentes quantidades de enzimas dependendo

do seu local de desenvolvimento em monocotiledônea ou dicotiledônea

(Cooper et al., 1988; Zalewska-Sobczak, 1985).

2.2. PECTINA

A pectina é definida como um heteropolissacarídeo composto

predominantemente de resíduos de ácido poligalacturônico. Embora o ácido D-

galacturônico seja o principal constituinte das substâncias pécticas, proporções

variáveis de outros açúcares, tais como D-galactose, L-arabinose, D-xilose, L-

ramnose, L-fucose também podem ser encontradas. O grau de esterificação, a

proporção de açúcares neutros e o grau de polimerização são características

responsáveis pela heterogeneidade das substâncias pécticas provenientes de

diferentes origens (Menezes, 2006). A representação esquemática da

composição dos elementos estruturais da pectina pode ser observada na figura

2.

6

Figura 2. Representação esquemática dos elementos estruturais da pectina

(Voragen et al., 2009).

2.2.1. Elementos estruturais da pectina

2.2.1.1. Homogalacturonana

É o tipo de pectina mais abundante na parede celular de plantas,

contabiliza aproximadamente 60% da quantidade total desse polissacarídeo

(Mohnen et al., 2008). A cadeia principal desse polímero consiste de resíduos

de ácido poligalacturônico (GalA) unidos por ligações glicosídicas α-1,4. O

comprimento mínimo dessa cadeia principal é de 72-100 resíduos para pectina

dos cítricos, da maçã e da beterraba sacarina. Geralmente, metade dos

resíduos de GalA dentro da cadeia principal pode ser esterificado no C-6 e/ou

O-acetilado no O-2 e/ou O-3. A metilesterificação da pectina tem ganhado

atenção especial dos pesquisadores, uma vez que é responsável por suas

propriedades físicas. É necessário ressaltar que não é só a quantidade de

metil-esterificação que é importante, mas também a distribuição desses ésteres

ao longo do polímero (Voragen et al., 2009).

7

Figura 3. Estrutura química da pectina. Cadeia principal linear de unidades

repetidas de α-(1→ 4)-D-ácido galacturônico, sendo que parte destas unidades

apresenta-se esterificada, com éster metílico (Hourdet et al., 1991).

2.2.1.2. Xilogalacturonana

É o polímero de homogalacturonana substituído nas cadeias laterais por

uma unidade de β-D-Xylp (1 → 3). O grau de xilosidação pode variar de 25%

(melancia) a 75% (maçã). Parte dos resíduos de GalA na xilogalacturonana

está metil-esterificado e os metil- ésteres estão distribuídos igualmente entre os

resíduos de GalA substituídos e não-substituídos (Schols et al., 1995) Embora

a xilogalacturonana esteja presente principalmente nos tecidos reprodutivos

como frutos e sementes, Zandleven et al. (2007) demonstraram a presença

deste elemento em vários tecidos de Arabidopsis thaliana.

2.2.1.3. Rhamnogalacturonana I

A cadeia principal da rhamnogalacturonana I (RGI) é composta de

unidades repetidas do dissacarídeo [→ 2)–α–L–Rhap–(1→4)-α-D- GalpA-

(1→]. Algumas células podem apresentar até 300 unidades. Os resíduos

rhamnosil da rhamnogalacturonana I podem ser substituídos na posição O-4

por açúcares neutros formando as cadeias laterais. A cadeia lateral é composta

principalmente de resíduos de galactosil e/ou arabinosil. A proporção de

8

resíduos rhamnosil ramificados varia de 20% a 80% dependendo da origem do

polissacarídeo (Albersheim et al., 1996). Os resíduos GalA da RGI são

provavelmente não-esterificados, pois a rhamnogalacturonana não é

degradada em condições de β-eliminação (Kravtchenko et al., 1992).

A RGI representa 20-35% da pectina, com alto grau de especialização

celular e expressão dependente do desenvolvimento, e varia quanto ao tipo e

número de açúcares simples e oligossacarídeos ligados a essa cadeia. A razão

para esse nível de variação em RGI não é conhecida, mas sugere diversidade

funcional (Canteri et al., 2012).

2.2.1.4. Rhamnogalacturonana II

A rhamnogalacturonana II (RGII) é uma estrutura altamente conservada

no reino das plantas e pode ser liberada pela ação da endopoligalacturonase. A

estrutura é caracterizada como uma região distinta dentro da

homogalacturonana (HG) por conter grupos de quatro diferentes cadeias

laterais. Essas cadeias laterais estão ligadas a um fragmento de

homogalacturonana de aproximadamente nove resíduos de GalA, dos quais

alguns estão esterificados (Ishii et al., 2001). A RGII é o segmento

estruturalmente mais complexo e compõe 10% da pectina (Canteri et al., 2012).

2.2.1.5. Arabinana, arabinogalactana I e II

A arabinana consiste de uma cadeia principal de resíduos α-1,5-L-Araf

que usualmente estão substituídos nas cadeias laterais com α-L-Araf-(1→2)-,

α-L-Araf-(1→3) e/ou α-L-Araf-(1→3)- α-L-Araf-(1→3). A arabinogalactana I

(AGI) é composta de uma cadeia principal de β-1,4-D-Galp com resíduos de α-

L-Araf ligados em O-3 de resíduos de galactose. A arabinogalactana II (AGII) é

composta de uma cadeia principal de β-1,3-D-Galp, contendo pequenas

cadeias laterais de α-L-Araf-(1→6)-[β-D-Galp-(1→6)]n, onde n=1, 2 ou 3. Os

resíduos galactosil das cadeias laterais podem ser substituídos com resíduos

de α-L-Araf-(1→3). Ela está associada principalmente a proteínas (3-8%),

também sendo chamadas de proteínas arabinogalactanas (AGPs). A maior

9

parte das AGPs, mais de 90%, é constituída de polissacarídeo (Voragen et al.,

2009).

2.2.2. Função da pectina

2.2.2.1. Funcionalidade na planta

A pectina está presente na lamela média, na parede celular primária e

secundária das plantas e é depositada nos estágios iniciais de crescimento

durante a expansão celular (Crombie et al., 2003). Esse polímero representa

35% dos polissacarídeos da parede celular primária das dicotiledôneas e

monocotiledôneas não-gramíneas. Já as gramíneas apresentam de 2% a 10%

de pectina (Mohnen, 2008).

A pectina atua estruturalmente na parede celular das plantas sendo

importante nos processos de crescimento, desenvolvimento, morfogênese,

defesa, adesão célula-célula e expansão celular. Ela influencia diversas

propriedades da parede celular das plantas como a porosidade, a carga da

superfície, o pH e o balanço de íons (Voragen et al., 2009).

Outra função está ligada aos mecanismos de defesa vegetal. O ácido

galacturônico, unidade básica da pectina, é um componente essencial de

elicitores ativos da parede celular, substâncias que provocam o acúmulo de

fitoalexinas com propriedades antibióticas nos locais de infecção vegetal

(Canteri et al., 2012).

2.2.3. Aplicações da pectina

A maioria da pectina aplicada na indústria alimentícia é proveniente da

casca de maçã e cítricos, e é extraída em pH baixo e alta temperatura. É

utilizada como agente estabilizante, de gelificação e no aumento da

viscosidade em produtos como geleia, preparações de frutas para iogurtes,

bebidas e sucos de frutas concentrados, sobremesas de frutas e leite, produtos

lácteos gelificados, produtos de confeitaria e produtos lácteos acidificados

diretamente ou fermentados. Dentre outras propriedades estão a prevenção de

10

flotação, a maciez a partir da melhoria da textura, a estabilização dos produtos

de panificação o aumento do volume (Canteri et al., 2012).

A biomassa rica em pectina é uma fonte abundante e amplamente

subutilizada e inclui resíduos como o bagaço de maçã, restos cítricos e a polpa

de beterraba sacarina. Todos esses tipos de biomassa são resíduos deixados

após a fruta ou vegetal serem processados para a produção de sumo ou

açúcar (Edwards et al., 2012).

As biomassas ricas em pectina apresentam alta concentração de

pectina, variando de 12% a 35% da biomassa seca. A parede celular de outras

biomassas que não são ricas em pectina apresenta apenas de 2% a 10% de

pectina (Mohnen 2008; Zhou et al., 2008).

Outra característica interessante das biomassas ricas em pectina é a

baixa concentração de lignina. A figura 4 compara a composição da biomassa

rica em pectina com outros tipos de biomassa.

Figura 4. Comparação da composição em peso seco das biomassas ricas em

pectina (bagaço de maçã, resíduo cítrico, polpa de beterraba) e das biomassas

lignocelulósicas (milho, pinheiro e gramínea) (Edwards et al., 2012).

O resíduo cítrico e a polpa de beterraba apresentam aproximadamente

2% do peso seco de lignina contra 26% de lignina existente no pinheiro. Esse

aspecto é significante uma vez que a lignina interfere na degradação

11

enzimática da celulose e hemicelulose e não é fermentável em etanol. A

presença de lignina na biomassa requer pré-tratamentos para quebrar a ligação

desse componente com os carboidratos da biomassa e assim viabilizar a

geração do etanol (Guo et al., 2009).

O custo estimado para produção de etanol a partir de resíduos cítricos é

maior que o custo do etanol de milho, porém é menor que o custo dos

processos de etanol lignocelulósico. Uma razão da maior viabilidade

econômica do etanol produzido a partir dos resíduos cítricos em relação ao

etanol de biomassa lignocelulósica é a geração do limoneno, co-produto

derivado dos cítricos. O limoneno pode ser vendido e assim ajudar nos custos

da produção desse tipo de etanol (Zhou et al.,2007).

As principais aplicações da biomassa rica em pectina são como

fertilizante animal e na produção de vinho, cera, ácido cítrico, butanol, metano,

vinagre de maçã, óleo de sementes e da pectina propriamente dita.

Atualmente, o uso mais comum desse tipo de biomassa é na ração animal.

Essa biomassa tende a apresentar baixo teor de gordura, proteínas e fósforo,

mas alto teor de fibras e cálcio (Edwards et al., 2012).

2.2.4. Degradação da pectina

2.2.4.1. Degradação química

As substâncias pécticas podem degradar-se por dois mecanismos

químicos principais, esquematizados em três tipos de acordo com a figura 5.

12

Figura 5. Principais modificações nas substâncias pécticas (Canteri et al.,

2012).

O primeiro tipo deles é a desesterificação, com liberação de metanol e

formação de pectatos. Em meio ácido (pH entre 1 a 3), em temperaturas

inferiores a 10 °C, predominam as desesterificações. O outro mecanismo,

denominado de despolimerização (diminuição do tamanho da cadeia

polimérica) pode acontecer por hidrólise (ácida ou enzimática) das ligações

α(1→4), ou ainda por reações de β-eliminação. Em temperaturas acima de 10

°C em meio ácido, são mais frequentes as hidrólises de ligações α - (1→4)

(Shingthong et al., 2004). Na β-eliminação, o hidrogênio em C5, mais ácido em

função do grupo éster metílico é atacado pelo íon hidróxido, resultando na

transferência eletrônica e levando à ruptura da ligação glicosídica e à

formação, entre C4 e C5, de dupla ligação conjugada com aquela da função

carboxílica. Essa reação pode ser acelerada pelo aumento da concentração de

produtos alcalinos e da temperatura ou na presença de íons tais como Ca+2,

Mg+2, K+, Cl-, citrato, malato ou fitato. Abaixo de 10 °C, o grau de metilação das

13

pectinas é suficientemente reduzido para impedir, por repulsão elestrostática, a

aproximação dos íons hidróxidos e essa reação não mais ocorre (Canteri et al.,

2012).

2.2.4.2. Degradação enzimática

As substâncias pécticas são degradadas igualmente por enzimas

sintetizadas por vegetais ou por micro-organismos. Nesse caso, a degradação

pode seguir duas vias principais: desmetilação preliminar pela pectina-

esterase, seguida da hidrólise ácida das ligações α - (1→4) pelas

poligalacturonases; despolimerização direta das pectinas por reações também

de β-eliminação sob ação das pectinas liases e pectato liases de origem

microbiana (Shingthong et al., 2004).

2.3. PECTINASES

As pectinases hidrolisam as substâncias pécticas. Elas representam

cerca de 25% da venda global de enzimas para alimentos e são uma das mais

amplamente distribuídas, estando presente em bactérias, fungos e plantas

(Thakur et al., 2010).

Atualmente, a maioria das pectinases comerciais são misturas de

pectinases produzidas por fungos filamentosos. Essas misturas são muito

empregadas na indústria de alimentos, pois além dos fungos serem potentes

produtores de enzimas pécticas, estas possuem um pH ótimo muito próximo do

pH dos sucos de frutas, entre 3 e 5,5 (Kant et al., 2013). Estes organismos são

muito eficientes na degradação dos polissacarídeos da parede celular vegetal e

utilizam um amplo conjunto de enzimas para convertê-los em açúcares

monoméricos. No entanto, a composição de enzima destes conjuntos difere

significativamente entre as espécies de fungos. Esse fato também é observado

para o subconjunto de enzimas pectinolíticas, por exemplo, Rhizopus spp.

secreta principalmente enzimas para a degradação da homogalaturonana,

parte principal da pectina, enquanto Aspergillus produzem enzimas para

hidrolisar todos os elementos estruturais pécticos (Benoit et al., 2012).

14

A produção de pectinas por fungos geralmente é influenciada pela

composição do meio de cultivo, particularmente pela fonte de carbono e

nitrogênio. É influenciada também pelas condições físico-químicas como pH,

temperatura e aeração, além do sistema de fermentação empregado. A

fermentação em estado sólido (SSF) e a fermentação submersa (SMF) são as

mais comumente empregadas para produção de enzimas em condições

laboratoriais utilizando resíduos agrícolas e agro-industriais (Gomes et al.,

2009).

Hoje, as pectinases são de grande importância nas indústrias de

alimentos e têxtil, de sacarificação de resíduos alimentares, bem como na

indústria de polpa e papel. Pectinases também desempenham um papel

importante na hidrólise de polpa de beterraba sacarina, aumentando o acesso

das celulases à celulose. Inúmeros estudos têm sido desenvolvidos para

melhor compreensão do sinergismo existente entre as pectinases e as

celulases. Dessa maneira, os benefícios dessa parceria poderão ser elucidados

(Zhang et al., 2013).

Pectinases acidófilas são usadas na preparação e clarificação do suco

de maçã, para facilitar a prensagem e extração de sumo. Além disso, essas

enzimas pécticas são utilizadas para reduzir a névoa ou gelificação do sumo de

uva na fabricação de vinho e para melhorar a qualidade de cidra de maçã que

varia entre amargo, doce ou azedo. Já as pectinases alcalinas também têm

várias aplicações industriais, tais como no tratamento de águas residuais, na

fabricação de papel, na extração de óleo, fermentação de café e chá,

processamento e degomagem de fibras vegetais (Kant et al., 2013).

Devido à grande variedade de pectinas existentes nas plantas, a sua

hidrólise é obtida pela ação sinérgica de um sistema pectinolítico (Martins et al.,

2007). As pectinases são classificadas de acordo com o substrato e com o

modo de ação no polímero de pectina. As principais pectinases estão

representadas na figura 6.

15

Figura 6. Modo de ação das pectinases envolvidas na degradação da

homogalacturonana, rhamnogalacturonana I e xilogalacturonana. (Voragen et

al., 2009).

2.3.1. Poligalacturonases

As poligalacturonases possuem domínios com cerca de 8 a 10 voltas de

folhas β-paralelas com regiões de duas curvas, formando um túnel para a

ligação do substrato. A sequência conservada indica que o sítio ativo da

poligalacturonase é composto por dois aminoácidos conservados, aspartato e

lisina no seu centro, que atuam como resíduos catalíticos. Argininas e lisinas

dão um potencial eletrostático no qual se ligam os substratos. Em algumas das

enzimas, uma histidina perto do sítio ativo atua influenciando a eficiência

catalítica. O aspartato conservado atua como base catalítica e doador de

próton no mecanismo enzimático (PickersgillI et al., 1998).

16

As poligalacturonases são as pectinases que catalisam a clivagem

hidrolítica da cadeia de ácido poligalacturônico, seu principal constituinte

(Rombouts e Pilnik, 1980).

As endopoligalacturonases (EndoPG; EC 3.2.1.15) clivam as ligações α-

1,4 existentes nos segmentos de homogalacturonana. A enzima ataca o

substrato de maneira randômica e libera ácido poligalacturônico. Geralmente

mostram maior capacidade para hidrolisar substratos não-esterificados e

apresentam decréscimo da atividade com o aumento do grau de metil-

esterificação (Voragen et al., 2009).

As exopoligalacturonases (ExoPG; EC 3.2.1.67) atacam o substrato a

partir da extremidade não-redutora e é capaz de remover resíduos de ácido

poligalacturônico na porção terminal da cadeia de homogalacturonana.

(Voragen et al., 2009). O modo de ação das poligalacturonases é exemplificado

na figura 7.

Figura 7. Modo de ação da poligalacturonase (Sathynayara e Panda, 2003).

A depolimerização enzimática da pectina enfraquece a parede celular da

planta e expõe os outros polímeros a ação das celulases e hemicelulases.

Quando o fungo cresce sobre a parede celular da planta, as pectinases são

invariavelmente as primeiras enzimas a serem secretadas, seguidas pelas

hemicelulases e celulases (D’Ovidio et al., 2004).

A contribuição das enzimas que degradam a parede celular das plantas

para a patogenicidade ou virulência do fungo tem sido estudada em vários

sistemas de infecção, e as pectinases estão sendo relatadas como fatores de

virulência para fungos fitopatogênicos (D’Ovidio et al., 2004).

17

2.3.1.1. Aplicações das poligalacturonases

O uso comercial das poligalacturonases está principalmente relacionado

à indústria de alimentos, sendo que sua maior aplicação encontra-se na

clarificação de sucos de frutas (Silva et al., 2005). No processamento industrial

de sucos de frutas, o objetivo principal do tratamento de clarificação é remover

componentes responsáveis pela turbidez e substâncias que causam turvação e

formação de precipitados após o envasamento do suco ou durante a

estocagem (Meyer et al., 2001). A adição de pectinases proporciona um

processamento mais eficiente da fruta, melhorando a sacarificação o que

confere ao suco um sabor mais adocicado, melhorando a cor e o aroma do

suco, prevenindo a formação de gel e aumentando o rendimento do suco

(Collet et al., 2005).

Na indústria de vinhos, elas são adicionadas durante o esmagamento

das uvas, antes da fermentação. Essas enzimas pectinolíticas são utilizadas

para conferir a estabilidade de vinhos tintos e melhorar suas características

visuais, como a cor e a turbidez (Revilla e Ganzalez-San Jose, 2003).

Já na indústria têxtil, as poligalacturonases são utilizadas juntamente

com as amilases, lipases, celulases e hemicelulases em diversas aplicações.

Na degomagem das fibras de algodão, elas podem substituir a soda cáustica,

que era utilizada anteriormente na remoção das impurezas não celulósicas, de

maneira segura e ecologicamente correta, sem causar efeitos negativos na

degradação da celulose (Hoondal et al., 2000).

Durante o processamento do papel, as poligalacutoronases podem

auxiliar a despolimerização das pectinas e, consequentemente, diminuir a

demanda de cloro utilizado no branqueamento da polpa celulósica (Reid e

Richard, 2004).

Silva et al. (2005) relataram a utilização de elevados níveis de

poligalacturonase na maceração de frutos e vegetais destinados à alimentação

de bebês . As poligalacturonases também têm sido citadas como aplicáveis na

extração de azeite de oliva e de óleos essenciais, uma vez que elimina as

propriedades emulsificantes da pectina, que interferem na extração dos óleos

vegetais (Jayani et al., 2005).

18

2.3.2. Pectina metil esterase (PME; 3.1.1.11)

A pectina metil esterase catalisa a demetilesterificação específica da

cadeia de homogalacturonana dentro da parede celular da planta, liberando

metanol e prótons. Essa reação gera grupos carboxil carregados

negativamente. O polímero de homogalacturonana demetilesterificado pode

formar ligações com Ca+2 promovendo a formação de uma estrutura

denominada “egg-box”. Essa estrutura pode formar géis ou tornar-se um alvo

para as demais enzimas pécticas de degradação, tais como as

poligalacturonases, que afetam a textura e a rigidez da parede celular. Assim, a

PME desempenha um papel importante na remodelação da pectina (Pelloux et

al., 2007).

Figura 8. Estrutura denominada “egg-box” formada pelas ligações dos íons

Ca+2 com o polímero de homogalacturonana na pectina (Morris et al., 1982).

2.3.3. Pectina liase (PL; 4.2.2.10) e pectato liase (PAL; 4.2.2.9)

A pectina liase é capaz de despolimerizar a região menos ramificada da

pectina por β-eliminação, resultando na formação de uma ligação insaturada

Δ4, 5 na extremidade não-redutora recém-formada. Essa enzima cliva entre

dois resíduos α-1,4-D-GalpA metil-esterificados. A atividade de pectina liase

muitas vezes aumenta à medida que o grau de esterificação da pectina cresce.

A pectato liase (PAL; 4.2.2.9) também atua na despolimerização da pectina por

19

β-eliminação. Assim como a pectina liase, a pectato liase forma uma ligação

insaturada Δ4, 5 na extremidade não-redutora. O que diferencia uma enzima

da outra, é que a pectato liase cliva entre dois resíduos α-1,4-D-GalpA sem

metil-esterificação. A pectato liase é geralmente ativa em pectina com um grau

moderado de metil-esterificação (0-50%). As pectato liases caracterizadas até

então necessitam de íons Ca+2 para melhoria da atividade, enquanto as

pectinas liases não. Essa é a única propriedade que distingue essas enzimas,

uma vez que a distinção entre a especificidade do substrato não é rigorosa

(Van Alebeek et al., 2002).

2.3.4. Endo xilogalacturonana hidrolase (XGH; EC 3.2.1.-)

A endo xilogalacturonana hidrolase hidrolisa as ligações α-1,4 da xilose

substituída por xilogalacturonana. A atividade enzimática aumenta por meio da

remoção de ligações ésteres da galacturonana por saponificação (Voragen et

al., 2009).

2.3.5. Pectinases que degradam a rhamnogalacturonana

Diversas pectinases degradam essa cadeia existente na pectina. A

rhamnogalacturonana hidrolase (RGH; EC 3.2.1.-) hidrolisa a ligação α-D-1,4-

GalpA-α-L-1,2-Rhap na cadeia de rhamnogalacturonana I liberando Rhap da

extremidade não-redutora. Dentro dos produtos formados, os resíduos de

rhamnose podem ser substituídos por unidades de galactose simples. A

enzima é intolerante para acetil-esterificação da cadeia de

rhamnogalacturonana. A atuação da rhamnogalacturonana liase (RGL; EC

4.2.2.-) ocorre através da clivagem eliminativa de α-L-1,2-Rhap-α-D-1,4-GalpA

da cadeia de rhamnogalacturonana I liberando um grupo de ácido

poligalacturônico insaturado, o 4-deoxi-β-L-threo-hex-4-enepiranosilurônico da

extremidade não-redutora. A atividade dessa enzima aumenta após a remoção

dos grupos acetil da cadeia principal. Já rhamnogalacturonana

rhamnohidrolase (RGRH) é uma exo-pectinase que possui a especificidade de

liberar resíduos terminais de rhamnosil ligados (1→4) a resíduos de α-

20

galacturonosil. A enzima é intolerante para substituições de galactose e ainda

não foi classificada dentro da família de glicosil hidrolases. Por sua vez, a

rhamnogalacturonana galacturono hidrolase (RGGH) é capaz de liberar o

motivo de ácido poligalacturônico conectado ao resíduo de rhamnose da

extremidade não-redutora das cadeias de rhamnogalacturonana I, mas é

incapaz de liberar ácido poligalacturônico da cadeia de homogalacturonana. A

classificação dentro da família das glicosil hidrolases ainda está sendo avaliada

(Voragen et al., 2009).

2.4. MICRO-ORGANISMOS PATÓGENOS DE PLANTAS

Os micro-organismos patógenos de plantas oferecem uma fonte única

para a descoberta de novas enzimas acessórias importantes para a penetração

no hospedeiro. Os fitopatógenos podem causar mais de 10000 diferentes

doenças nas plantas (Pennisi, 2001).

Os patógenos de plantas possuem a capacidade de adaptação às

plantas hospedeiras particulares. Alguns patógenos invadem e colonizam todos

os tecidos da planta, enquanto outros atacam apenas tecidos e órgãos

particulares, tais como folhas, raízes, caules, estruturas florais e sementes

(Gibson et al., 2011).

Os patógenos de plantas possuem uma relação íntima com seu

hospedeiro, exigindo a penetração da parede celular e a colonização do tecido

vivo. Muitos fungos patogênicos ativamente matam e degradam o tecido da

planta e utilizam os carboidratos liberados para o crescimento e reprodução

(King et al., 2011).

Pesquisas recentes têm revelado que fungos patogênicos de plantas são

produtores altamente competentes de enzimas que degradam a parede celular,

e os padrões de atividade enzimática refletem a especificidade do hospedeiro

(Gibson et al., 2011).

21

2.4.1. Cylindrocladium pteridis

O fungo Cylindrocladium pteridis é um micro-organismo patógeno de

plantas caracterizado por apresentar conídios cilíndricos a levemente curvados,

com as extremidades arredondadas possuindo predominantemente um septo.

Além disso, outra característica marcante da espécie é a presença de uma

vesícula clavada e estreitamente elipsoidal, com o diâmetro variando de 4 a 5

µm (Crous, 2002). O gênero Cylindrocladium possui espécies que são

importantes patógenos para espécies florestais como Eucalyptus, Pinus e

Acacia, para espécies agronômicas como amendoim, batata, ervilha, soja,

assim como para algumas espécies ornamentais (Crous et al., 1991).

As perdas em virtude das doenças causadas por esse patógeno são

relatadas com frequência em diversos países do mundo, como África, Brasil,

Costa Rica, Camarões, Índia, Malásia, Cingapura, África do Sul, Venezuela e

Estados Unidos (Alfenas, 1986, Crous, 2002).

No Brasil, esse patógeno foi descrito pela primeira vez em 1975 na

Bahia e novamente em 1986 no Pará, causando doença em Pinus caribaea

var. hondurensis. Em 1981, o fungo foi relatado por causar mancha foliar em

coqueiro (Cocos nucifera) no Maranhão. No mesmo ano ele foi isolado a partir

de amostras de solo coletadas de Crotalaria sp. no Distrito Federal (Graça et

al., 2009).

2.4.1.1. Cylindrocladium pteridis e a infecção do eucalipto

Várias espécies de Cylindrocladium infectam o eucalipto causando

doenças como podridão radicular, cancro da haste, desfolha e a mancha foliar.

As manchas nas folhas e a desfolha são as principais doenças que atingem o

eucalipto. A doença foi relatada pela primeira vez em 1995 na Bahia e no Pará,

em uma procedência australiana de Eucalyptus grandis. Nessa cultura houve

uma desfolha intensa do povoamento (Ferreira et al., 1995). Atualmente, a

doença está amplamente distribuída nos diversos países, afetando plantios a

partir de seis meses até a idade de corte (Alfenas et al., 2009).

Na maioria das espécies de eucalipto, C.pteridis causa manchas

inicialmente pequenas, circulares ou alongadas, de coloração cinza-clara

22

progredindo para marrom-clara, podendo ocupar toda folha, o que resulta na

desfolha em genótipos susceptíveis. Porém, em outras espécies de eucalipto,

como E. cloeziana, as manchas são marrom-arroxeada (Ferreira & Milani,

2002).

O conhecimento da patogenia desse fungo no eucalipto (penetração e

multiplicação), bem como os fatores que influenciam tais processos, são pré-

requisitos básicos para as investigações morfológicas e citoquímicas

necessárias para compreender os mecanismos da expressão de genes

envolvidos na resistência. De acordo com Graça et al. (2009), o genótipo do

hospedeiro, a concentração do inóculo, o período de umidade foliar após a

inoculação do fungo, a idade da planta e o estádio fenológico da folha afetam

significativamente a severidade da doença causada por C.pteridis no eucalipto.

23

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Produzir, purificar e caracterizar uma poligalacturonase do fungo

Cylindrocladium pteridis LPF-59.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar diferentes fontes de carbono indutoras da enzima em meio

líquido;

Purificar a enzima poligalacturonase por meio de técnicas

cromatográficas;

Caracterizar bioquímico-cineticamente a enzima purificada;

Identificar propriedades funcionais interessantes para possíveis

aplicações biotecnológicas e industriais.

24

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado nos laboratórios de Tecnologia Bioquímica,

Enzimologia Aplicada e Análises Bioquímicas da Universidade Federal de

Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

4.1. Reagentes

O ácido poligalacturônico foi obtido da ICN Biomedica, a pectina de

cascas cítricas da Sigma Chemical Company (St. Louis, MO, USA) e o PDA

(potato destrose agar) foi adquirido da Acumedia – Neogen do Brasil . As

resinas DEAE-Sepharose e Sephacryl S-200 foram obtidas da GE Healthcare

(Uppsala, Sweden).

Os demais reagentes utilizados para a execução deste trabalho

apresentavam procedência e grau de pureza analíticos.

4.2. Micro-organismo

O fungo Cylindrocladium pteridis LPF-59 cedido para este trabalho,

pertence à coleção de fungos do Laboratório de Patologia Florestal da

Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

4.3. Manutenção da cultura

O fungo mantido em placas de ágar foi ativado em novas placas também

contendo ágar e incubado em câmara de crescimento por 7 dias a 28oC. As

placas foram mantidas a 4oC e este estoque foi repicado para geração de

novas placas e padronização do inóculo.

4.4. Preparo das fontes de carbono

As fontes de carbono testadas foram o farelo de trigo, o resíduo de

viveiro de eucalipto, o caule jovem de eucalipto, o caule lignificado de eucalipto

25

e a folha de eucalipto. O farelo de trigo foi adquirido no comércio local. O

material proveniente do eucalipto foi coletado no setor de Fitopatologia da

Universidade Federal de Viçosa. Os ramos frescos do eucalipto foram

recolhidos e separados em quatro partes denominadas: resíduo do viveiro

(ramo inteiro), folhas, caule jovem e caule lignificado. As porções foram

depositadas em bandejas e colocadas na estufa a 70oC durante 2 dias. Após a

secagem, cada material separadamente foi triturado em moinho com peneira

correspondente a 20 mesh.

4.5. Meio de cultura, cultivo do micro-organismo e produção

enzimática

A enzima poligalacturonase foi produzida por fermentação submersa em

frascos erlenmeyer de 250 mL contendo 125 mL de meio mineral líquido

esterilizado composto por: MgSO4.7H2O (0,5%), KH2PO4 (1,5%), NH4NO3

(1,0%), CaCl2.2H2O (0,2%), extrato de levedura (1,5%), fonte de carbono

(1,5%) e MnSO4, FeSO4, ZnSO4.7H2O como elementos traços. Os frascos

contendo o meio foram autoclavados, inoculados com 1 disco da placa do

fungo C.pteridis LPF-59 para cada 10 mL de meio e incubados no shaker a 180

rpm , 28 oC durante 168 horas. Alíquotas foram retiradas a cada 24 horas,

centrifugadas a 10000 x g por 10 minutos e armazenadas a -20 oC para

análises posteriores.

4.6. Ensaios enzimáticos

4.6.1. Poligalacturonase

A atividade enzimática da poligalacturonase foi ensaiada em uma

mistura reacional contendo 100 µL do extrato enzimático e 400 µL de solução

de ácido poligalacturônico (0,25% p/v), previamente dissolvido em tampão

acetato de sódio 100 mM pH 5,0. Essa mistura foi incubada a 50oC durante 15

minutos em banho-mar. Após a incubação foi adicionado 500 µL de solução de

ácido dinitrosalicílico (DNS) e o ensaio foi submetido ao banho fervente por 5

26

minutos para paralisação da reação e desenvolvimento da cor . O conteúdo

dos tubos de ensaio foi transferido para microtubos e centrifugado a 16000 x g

por 10 minutos. O sobrenadante foi coletado, e adicionado 1 mL de água

destilada. Os açúcares redutores liberados foram quantificados pelo método de

Miller, (1956), usando glicose como padrão. Uma unidade de enzima (U) foi

definida como sendo a quantidade de enzima necessária para produzir 1 µmol

de açúcar redutor por minuto nas condições do ensaio.

4.7. Determinação da concentração de proteínas

A concentração de proteínas foi determinada pelo método de Bradford

(1976). Esse método baseia-se no desenvolvimento da cor em função da

ligação da proteína com o corante Coomassie Brilhant Blue G-250. A leitura foi

realizada a 595 nm e a absorvância foi convertida em concentração de

proteínas a partir da curva padrão construída com BSA.

4.8. Purificação da poligalacturonase

O processo utilizado para purificar a enzima poligalacturonase do fungo

Cylindrocladium pteridis está representado de forma resumida no fluxograma a

seguir:

27

Figura 9. Sequências dos métodos utilizados para purificação da

poligalacturonase de Cylindrocladium pteridis

O extrato bruto. foi centrifugado a 21350 x g durante 30 minutos a 4oC.

O material precipitado foi descartado e o sobrenadante foi transferido para

frascos identificados e armazenados a -20oC.

Uma alíquota da amostra centrifugada foi submetida à cromatografia de

troca iônica convencional em uma coluna (3,0 x 7,5 cm) de DEAE-Sepharose

previamente equilibrada com tampão acetato de sódio, 50 mM, pH 5,5. As

proteínas foram eluídas pela aplicação de um gradiente salino crescente

formado por 100 mL de tampão acetato de sódio, 50 mM, pH 5,5, e 100 mL do

mesmo tampão contendo 0,5 M de NaCl. Todo o processo foi realizado a 4oC,

com fluxo de 60 mL/h. Frações de 3 mL foram coletadas e aquelas que

apresentaram atividade de poligalacturonase foram reunidas.

O processo de ultrafiltração foi utilizado para concentração da amostra

enzimática proveniente da cromatografia de troca iônica. As frações foram

coletadas usando uma membrana de ultrafiltração Amicon® Ultra, Millipore

(Billerica, MA, USA) com um poro de exclusão de 3 kDa. O processo foi

28

realizado em centrífuga refrigerada Thermo Scientific a 6000 x g, por 1 hora, a

4 °C (rotor AM 50.14).

A amostra concentrada, proveniente da ultrafiltração, foi submetida à

cromatografia de filtração em gel em FPLC (Fast Protein Liquid

Chromatography) em uma coluna (16/60) de Sephacryl S-200 previamente

equilibrada com tampão acetato de sódio, 50 mM, pH 5,5. As proteínas foram

eluídas com o mesmo tampão com fluxo contínuo de 30 mL/h e foram

coletadas frações de 2 mL. As frações com atividade de poligalacturonase

foram reunidas.

4.9. Determinação do grau de pureza da enzima

4.9.1. Eletroforese

A eletroforese em gel de poliacrilamida (12%), contendo SDS e β-

mercaptoetanol foi realizada conforme descrito por Laemmli (1970). Os mini-

géis foram preparados a partir de solução estoque de acrilamida/N,N-metileno

bisacrilamida (bis) 30 % (p/v), tampão Tris/HCl 1,5 M, pH 8,6, para o gel

separador e tampão Tris/HCl 0,5 M, pH 6,8, para o gel empilhador, persulfato

de amônio 10 % (p/v), dodecil sulfato de sódio (SDS) 10 % (p/v) e, N,N,N,N-

tetrametil-etilenodiamino de sódio (TEMED). As corridas eletroforéticas foram

realizadas à temperatura ambiente, a 100 V, em placas do Sistema de gel Mini-

PROTEAN da Bio-Rad. As amostras submetidas à eletroforese foram,

previamente, precipitadas com ácido tricloroacético (TCA) 50 % (p/v), lavadas

com acetona gelada e adicionadas ao tampão de amostra desnaturante 3

vezes concentrado (0,19 M Tris/HCl, pH 6,8, 2,3 % p/v de SDS, 1 % v/v de

glicerol, 5 % v/v de β-mercaptoetanol e azul de bromofenol), fervidas durante 5

minutos e aplicadas no gel (Laemmli, 1970).

4.9.2. Coloração dos géis de eletroforese

As proteínas presentes nos géis foram reveladas com nitrato de prata,

conforme procedimento descrito por Blum et al.(1987). Após a corrida

29

eletroforética, os géis foram colocados em 50 mL de solução fixadora (metanol,

ácido acético glacial e água, na proporção de 50:12:38 em volume) por no

mínimo 2 h, seguido de 3 lavagens de 10 minutos com solução de etanol 50 %

(p/v). Os géis foram lavados, por 1 minuto, em solução de tiossulfato de sódio

0,02 % (p/v). Em seguida, os géis foram rapidamente lavados com água

destilada e incubados, por 30 minutos, em solução de nitrato de prata 0,2 %

(p/v), contendo 37 µL de formaldeído 37 % (v/v) e lavados 3 vezes, por 20

segundos, com água destilada. Posteriormente, os géis foram tratados com a

solução reveladora (carbonato de sódio 4 %, contendo 2 mL de solução de

tiossulfato de sódio 0,02 % e 50 µL de formaldeído 37 %), até a visualização

das bandas protéicas. A reação foi interrompida pela adição de ácido acético.

4.10. Determinação da massa molecular

Para a determinação da massa molecular da poligalacturonase de

C.pteridis foi utilizada a eletroforese em gel de poliacrilamida (12%). Os

marcadores de massa molecular utilizados foram os da Fermentas Life

Sciences, uma mistura de 14 proteínas altamente purificadas, com suas

massas moleculares pré-definidas. A massa molecular da poligalacturonase foi

estimada correlacionando-se, por meio de uma curva padrão, os perfis de

migração das proteínas padrão (distância percorrida no gel, em centímetros)

com o logaritmo das massas moleculares.

4.11. Caracterização enzimática

4.11.1. Efeito do pH

O ensaio para verificar o efeito do pH na atividade da poligalacturonase

foi o mesmo descrito no item 4.6.1 exceto que o ensaio foi realizado em

diferentes valores de pH utilizando-se tampões Mcllvaine (Mcllvaine, 1921), na

faixa de 2,6 a 8,0. O substrato ácido poligalacturônico 0,25% (w/v) foi

previamente preparado nos diferentes tampões McIlvaine 100 mM e seus

respectivos valores de pH aferidos.

30

4.11.2. Efeito da temperatura

Para o estudo do efeito da temperatura na atividade enzima, as

condições de ensaio foram as mesmas descritas no item 4.6.1 exceto que o

ensaio foi realizado em várias temperaturas compreendidas entre 20 e 80oC.

4.11.3. Estabilidade de pH

O efeito do pH na estabilidade da poligalacturonase foi testado pré-

incubando a solução da enzima na faixa de pH de 2,6 a 8,0, por 60 minutos a

25oC. A proporção da solução foi 100 µL da enzima pura para 400 µL de

tampão McIlvaine 100 mM nos valores de pH citados acima. Após o período de

pré-incubação, a atividade da enzima foi realizada conforme item 4.6.1.

4.11.4. Termoestabilidade e cálculo da meia vida da enzima

A estabilidade térmica da poligalacturonase foi avaliada a 50 e 60°C. A

amostra contendo a poligalacturonase purificada foi pré-incubada nas

temperaturas acima citadas, em tampão acetato de sódio 100 mM pH 4,0, por

diferentes tempos. Para o ensaio conduzido a 50oC, a atividade residual foi

avaliada até 12 horas. Já para o ensaio conduzido a 60oC a atividade residual

foi avaliada até 120 minutos. Após cada tempo de pré-incubação, uma alíquota

de 100 µL de amostra foi retirada e então o ensaio enzimático foi realizado

conforme o item 4.6.1.

Os valores de meia-vida da enzima foram calculados a partir do ajuste

de uma equação exponencial decadente, do tipo y=a.e-bx, a partir dos dados

obtidos no experimento utilizando o programa Sigma Plot.

4.11.5. Determinação dos parâmetros cinéticos

Para determinação dos valores de KM e Vmax para a poligalacturonase de

C.pteridis, os ensaios de atividade enzimática foram realizados utilizando-se

31

concentrações crescentes do substrato ácido poligalacturônico ou pectina

cítrica. Os ensaios enzimáticos foram conduzidos como descrito no item 4.6.1,

porém, as concentrações utilizadas foram de 0,02% a 0,2% (w/v) para o ácido

poligalacturônico e de 0,08% a 0,8% (w/v) para a pectina cítrica.

Os valores de KM e Vmax para a enzima foram calculados pela curva de

velocidade em função da concentração de substrato - Curva de Michaelis-

Menten, pelo programa Sigma Plot.

4.11.6. Determinação da especificidade de substrato

Ensaios enzimáticos foram realizados com diversos substratos com o

objetivo de determinar a especificidade da poligalacturonase purificada. Os

substratos testados foram o ácido poligalacturônico, a pectina de cascas

cítricas e o reagente PDA (potato dextrose agar). Os ensaios de atividades

foram realizados conforme o item 4.6.1.

4.11.7. Efeito de íons, agentes redutores e açúcares

Os efeitos de íons, agentes redutores e açúcares na atividade da

poligalacturonase, foram avaliados na concentração final de 2 mM.. Os

compostos testados foram: iodeto de potássio, nitrato de prata, cloreto de

potássio, fluoreto de sódio, cloreto de potássio, nitrato de sódio, cloreto de

manganês, sulfato de cobre, cloreto de zinco, cloreto de mercúrio, sulfato de

magnésio, cloreto de cálcio, sulfato ferroso, cloreto de cobalto, glicose,

galactose, lactose, sacarose, xilose, ureia, β-mercaptoetanol, ácido

etilenodiaminotetracético (EDTA) e dodecil sulfato de sódio (SDS). Após adição

de cada efetor, os ensaios da atividade de poligalacturonase foram conduzidos

conforme descrição no item 4.6.1.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

32

5.1. Seleção da melhor fonte de carbono para produção

enzimática

A atividade de poligalacturonase foi quantificada no sobrenadante da

cultura de C.pteridis LPF-59 , contendo as diferentes fontes de carbono.

Figura 10. Atividade de poligalacturonase (U.mL-1) no sobrenadante da cultura

de C.pteridis LPF-59 nas diferentes fontes de carbono. (■) resíduo de viveiro de

eucalipto antigo, (■) resíduo de viveiro de eucalipto novo, (■) folha de eucalipto,

(■) caule jovem de eucalipto, (■) caule lignificado de eucalipto e (□) farelo de

trigo.

Todas as fontes de carbono testadas foram capazes de induzir a

expressão de poligalacturonase por C.pteridis. Entretanto, o resíduo de viveiro

antigo, o resíduo de viveiro novo e a folha de eucalipto se destacaram na

indução da poligalacturonase em relação às demais fontes. Do conjunto de

fontes de carbono testadas, cinco foram constituídas de material proveniente

do eucalipto e uma foi composta por farelo de trigo, que é uma fonte de

carbono padronizada para secreção de enzimas por fungos que degradam a

parede celular de plantas.

33

Uma vez que o fungo C. pteridis LPF-59 é fitopatogênico e foi isolado de

plantações de eucalipto, era de se esperar que a utilização de diferentes partes

do eucalipto para indução da atividade de poligalacturonase promovesse

diferenças no perfil de atividade da enzima. .

O resíduo de viveiro compreende o ramo inteiro do eucalipto contendo a

folha, o caule jovem e o caule lignificado em diferentes proporções. A

proporção de pectina na parede celular de plantas varia de acordo com a parte

do vegetal, o crescimento e principalmente a idade da planta. Esse último fator

pode explicar a diferença de atividade da poligalacturonase obtida na cultura de

C. pteridis contendo o resíduo de viveiro antigo e o resíduo de viveiro novo,

uma vez que essas fontes de carbono foram recolhidas em épocas diferentes.

Além disso, pode-se citar a diferença na proporção de folhas e caules em cada

resíduo, o que consequentemente gera uma diferença na proporção de

substrato disponível para indução da enzima.

Tanto a folha de eucalipto quanto o resíduo de viveiro antigo se

destacaram como indutores da poligalacturonase em C. pteridis, tendo sido

detectado aproximadamente 38 U.mL-1 em 120 horas de cultivo. Porém, a

atividade para a folha de eucalipto aumentou, chegando a 42 U.mL-1 em 168

horas. Já para o resíduo antigo, a atividade permaneceu constante a partir de

120 horas de cultivo.

Uma vez que a folha de eucalipto foi a fonte que promoveu maior

atividade de poligalacturonase por C.pteridis, e sendo um material mais

homogêneo para utilização como fonte de carbono para o preparo do meio de

cultura, a folha de eucalipto foi selecionada como sendo o possível indutor para

os ensaios posteriores de produção da enzima por C.pteridis.

Quando a atividade da poligalacturonase de C.pteridis foi expressa em

função da concentração de proteínas, a atividade específica foi maior no

sobrenadante da cultura contendo o caule jovem de eucalipto e o caule

lignificado de eucalipto (Figura 11).

34

Figura 11. Atividade específica de poligalacturonase (U.mg-1) no sobrenadante

da cultura de C.pteridis LPF-59 nas diferentes fontes de carbono. (■) resíduo

de viveiro de eucalipto antigo, (■) resíduo de viveiro de eucalipto novo, (■) folha

de eucalipto, (■) caule jovem de eucalipto, (■) caule lignificado de eucalipto e

(□) farelo de trigo.

Caule jovem e caule lignificado de eucalipto promoveram a maior

atividade específica, próxima a 500 U.mg-1 com 96 horas de cultivo, enquanto a

atividade específica detectada no meio contendo folha de eucalipto, no mesmo

tempo de cultivo foi de aproximadamente 300 U.mg-1. Entretanto, pode ser

observado que a atividade específica nos meios contendo essas três fontes de

carbono se tornaram equivalentes com 168 horas de cultivo, apresentando

valores próximos a 370 U.mg-1.

A Tabela 1 contém os dados dos maiores valores de atividade de

poligalacturonase detectados nos meios contendo as diferentes fontes de

carbono e os respectivos tempos de cultivo.

35

Tabela 1. Atividade de poligalacturonase detectada nos meios de cultura de

C.pteridis contendo diferentes fontes de carbono.

Poligalacturonase

Fonte de carbono Atividade (U.mL-1

) Atividade específica (U.mg-1

)

Resíduo de viveiro antigo 39,54 ± 0,10 168*

387,06 ± 0,49 120

Resíduo de viveiro novo 32,53 ± 0,62 168

377,06 ± 0,31 96

Folha de eucalipto 42,28 ± 0,80 168

408,99 ± 0,29 144

Caule jovem de eucalipto 15,99 ± 0,72 96

532,94 ± 0,36 96

Caule lignificado de eucalipto 14,23 ± 0,71 96

506,09 ± 0,36 96

Farelo de trigo 14,00 ± 0,75 168

237,02 ± 0,38 168

(*) horas de cultivo apresentando maior atividade de poligalacturonase.

Visando a purificação da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 é

importante obter um extrato enzimático com alta atividade específica. Sendo

assim, partindo de uma amostra com alta atividade específica a purificação

tende a ser mais eficiente. Dentro dessa perspectiva, o caule jovem e o caule

lignificado seriam bons candidatos, pois induziram a maior atividade específica

em 96 horas de cultivo. Porém, a folha de eucalipto, apesar de induzir menor

atividade específica quando comparada ao caule jovem e lignificado,

apresentou com 120 horas de cultivo uma atividade específica considerável

(390 U.mg-1) e uma atividade em U.mL-1 aproximadamente 2,5 e 4 vezes maior

que o caule jovem e o caule lignificado, respectivamente.

Esse fator foi determinante para escolha da folha de eucalipto como a

melhor fonte de carbono para produção da enzima por C.pteridis, uma vez que

o fungo cultivado nessa fonte por 120 horas apresentou uma maior atividade

(U.mL-1) aliada a uma atividade específica também alta.

Assim, as etapas posteriores de produção enzimática por C.pteridis

foram realizadas em meio líquido contendo a folha de eucalipto como fonte de

carbono por um período de 120 horas.

A Figura 12 mostra as equações e as linhas de tendência (preto) obtidas

a partir dos dados de atividade de poligalacturonase de C.pteridis nos meios

com as diferentes fontes de carbono

36

Figura 12. Atividade de poligalacturonase real (colorido) e teórica (preto) de

acordo com as diferentes fontes de carbono ao longo do tempo de cultivo. (A)

Resíduo de viveiro de eucalipto antigo (B) Resíduo de viveiro de eucalipto novo

(C) Folha de eucalipto (D) Caule jovem de eucalipto (E) Caule lignificado de

eucalipto (F) Farelo de trigo.

37

5.2. Purificação da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59

A poligalacturonase de C. pteridis LPF-59 foi produzida a partir da

inoculação do fungo em meio líquido contendo folha de eucalipto como fonte de

carbono. Após 120 h de cultivo, o extrato enzimático foi então submetido ao

processo de purificação (Tabela 2).

Tabela 2. Resumo das etapas de purificação da poligalacturonase de C.pteridis

LPF-59.

Etapa Volume

(mL)

Atividade total

(U)

Proteína total

(mg)

Atividade específica

(U.mg-1

)

Rendimento

(%)

Fator de

purificação

Extrato bruto 40 1372,80 2,676 513,00 100 1

Troca Iônica 66 1055,34 0,390 2706,00 76,88 5,27

Ultrafiltração 11 477,40 0,072 6630,56 34,75 12,93

Gel Filtração 55 259,60 0,038 6831,58 18,91 13,32

Durante a cromatografia de troca iônica, DEAE-Sepharose, a eluição das

proteínas que aderiram à resina foi feita pela aplicação de um gradiente

crescente de NaCl, variando de 0 a 0,5 M. A eluição com o gradiente salino

permitiu a detecção de apenas um pico proteico contendo atividade de

poligalacturonase (Figura 13).

38

Figura 13. Perfil cromatográfico obtido após a aplicação do extrato bruto

centrifugado em coluna de troca iônica DEAE–Sepharose. Atividade

poligalacturonase (●); Proteína Abs 280 nm (○); gradiente salino (−).

O perfil cromatográfico da troca iônica também revelou a eluição de

grande parte das proteínas contaminantes antes da passagem do gradiente, o

que justifica o aumento da atividade específica. Sendo assim, a cromatografia

de troca iônica foi uma etapa eficiente no processo de purificação da

poligalacturonase, pois a atividade específica aumentou aproximadamente 5

vezes em relação ao extrato bruto, com um rendimento de 76%.

As frações ativas reunidas provenientes da troca iônica foram

concentradas por ultrafiltração, utilizando uma membrana com limite de

exclusão de 3 KDa. Esta etapa promoveu um grande acréscimo nos valores de

atividade específica das preparações enzimáticas, próximo a 2,5 vezes (Tabela

2), principalmente por promover a exclusão de fragmentos proteicos e de

peptídeos de massa molecular menor que 3 KDa.

Posteriormente, a amostra concentrada foi submetida a uma

cromatografia de filtração em gel, em uma coluna de Sepahcryl S-200. O perfil

cromatográfico da filtração em gel está representado na Figura 14.

39

Figura 14. Perfil cromatográfico obtido após a aplicação da fração ativa

concentrada, proveniente da troca iônica, em coluna de gel filtração Sephacryl

S-200. Atividade poligalacturonase (●); Proteína Abs 280 nm (○).

O perfil de eluição da cromatografia de filtração em gel também revelou

a presença de apenas um pico de proteínas com atividade de

poligalacturonase. As frações contendo atividade enzimática foram reunidas e

armazenadas.

A presença de apenas um pico proteico contendo atividade de

poligalacturonase ao longo das etapas do processo de purificação pode indicar

a expressão de uma única enzima pelo fungo C.pteridis LPF-59 nas condições

testadas.

Ao final do processo de purificação, a poligalacturonase de C.pteridis

LPF-59 apresentou um fator de purificação de 13,32 vezes, com rendimento de

18,91 % (Tabela 2).

Para confirmar a purificação da poligalacturonase as amostras com

atividade provenientes de cada etapa da purificação foram submetidas à

eletroforese em gel de poliacrilamida 12% em condições desnaturantes (SDS-

PAGE).

40

O perfil de migração das proteínas presentes nas amostras está

apresentado na figura 15.

Figura 15. Eletroforese desnaturante (SDS-PAGE 12 %) corado com prata das

amostras com atividade de poligalacturonase de C.pteridis LPF-59. (A) 1-

extrato bruto, 2 - fração enzimática proveniente da troca iônica, 3 - fração

enzimática proveniente da filtração em gel e 4 – marcadores de massa

molecular.

Confirmando os dados mostrados na Tabela 2, que indicam a eficiência

de cada etapa do processo de purificação, foi também mostrado que as etapas

de purificação renderam diminuição do número de bandas de proteínas, como

visto na Figura 15. A amostra proveniente da última etapa do processo de

purificação indicou a presença de uma única banda proteica. Esse resultado

mostra que o processo de purificação estabelecido foi eficiente.

Entretanto, para determinação deste protocolo de purificação, resinas

com diferentes princípios de fracionamento proteico foram utilizadas e

analisadas quanto à viabilidade de aplicação no processo de purificação da

poligalacturonase de C. pteridis. A recuperação da poligalacturonase em cada

41

etapa deveria ser a melhor possível, sem afetar drasticamente a atividade

enzimática e o seu rendimento.

5.3. Determinação da massa molecular

A massa molecular da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59, estimada

a partir do gel SDS-PAGE, foi de aproximadamente 68 KDa.

Figura 16. Determinação da massa molecular da poligalacturonase purificada

de C.pteridis LPF-59, a partir de SDS-PAGE. Distâncias percorridas pelos

padrões proteicos do marcador (♦) e pela poligalacturonase (●).

Valores de massa molecular próximos ao obtido neste trabalho, foram

descritos na literatura para poligalacturonase fúngicas, como 68 KDa para a

enzima de Sclerotinia sclerotiorum (Riou et al.,1992) e 60 KDa para

poligalacturonase de Cochliobolus carbonum (Scott-Craig et al., 1998). Outras

estimativas similares foram encontradas para duas isoformas da

poligalacturonase do fungo fitopatogênico Botrytis cinerea, uma com massa

molecular de 65 KDa e a outra com uma massa molecular de 52 KDa

(Cabanne et al. 2002). Duas isoformas da poligalacturonase de Penicillium

42

frequentans também foram identificadas nos estudos de Barense et al. (2001) e

as massas moleculares estimadas foram 63 KDa e 79 KDa.

5.4. Caracterização enzimática

5.4.1. Efeito do pH

O efeito do pH sobre a atividade da poilgalacturonase de C.pteridis LPF-

59 contra o substrato ácido poligalacturônico foi avaliado conforme o item

4.11.1. De acordo com a figura 17, a atividade máxima para poligalacturonase

foi determinada em pH 4,0. No pH 3,6, a enzima manteve atividade acima de

90%. Em valores acima do pH ótimo, a atividade decresceu continuamente,

sendo que acima do pH 5,0 a enzima não manteve mais que 20% de atividade.

Esse resultado indica que a poilgalacturonase de C.pteridis é uma enzima

ácida e que em valores de pH acima de 6,0, provavelmente ocorre alteração na

carga dos aminoácidos catalíticos presentes no sítio ativo da enzima, reduzindo

drasticamente sua atividade.

pH

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

0

20

40

60

80

100

Figura 17. Efeito do pH na atividade da poligalacturonase purificada de

C.pteridis LPF-59 na temperatura de 50oC.

43

A poligalacturonase de Penicillium solitum apresenta máxima atividade

quando incubada em pH 4,0, sendo que esta enzima mantém atividade acima

de 70% em uma faixa de pH compreendida entre 4,0 e 5,5 (Jurick et al., 2009).

Quiroga et al.(2009) determinaram que a poligalacturonase de Pcynoporus

sanguineus apresenta taxa máxima de hidrólise em pH 4,8.

A estabilidade da enzima após 60 minutos de incubação a 25oC em

diferentes valores de pH foi analisada conforme item 4.11.3. As atividades

residuais da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 são mostradas na figura

18.

pH

2 3 4 5 6 7 8 9

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

0

20

40

60

80

100

Figura 18. Efeito do pH na estabilidade da poligalacturonase purificada de

C.pteridis LPF-59 após 60 minutos de incubação a 25oC em diferentes valores

de pH . Efeito do pH na atividade da poligalacturonase (●) e efeito do pH na

estabilidade da poligalacturonase (○).

A enzima mostrou maior estabilidade quando incubada em pH 3,6 e 4,0.

Além disso, a enzima manteve mais de 70% de sua atividade máxima quando

incubada por 1h a 25oC em uma faixa de pH entre 3,6 e 6,0. Quando incubada

em pH 2,6 e 7,6 a enzima reteve ainda 40% de sua atividade máxima. Os

44

dados da estabilidade da enzima em diferentes valores de pH indicam que

mesmo após pré-incubação da enzima em valores de pH acima de 6,0, esta foi

capaz de renaturar e restabelecer parte da atividade. Entretanto a enzima

manteve apenas 20% de sua atividade máxima quando pré-incubada em pH

8,0, logo este valor de pH demonstrou ser mais drástico para a estabilidade da

enzima. Isso evidencia a habilidade da enzima para atuar em ambientes

ácidos, característica apreciada nas indústrias alimentícias.

Aminzadeh et al. (2006) analisaram a estabilidade de uma

poligalacturonase do fungo filamentoso Tetracoccosporium sp. em diferentes

valores de pH, concluindo que a enzima exibe mais de 80% de atividade

residual após 90 minutos de incubação a 25oC em uma faixa de pH

compreendida entre 3,0 e 7,0. Penicillium viridicatum RFC3 produziu uma

poligalacturonase que mantém mais de 70% de sua atividade máxima, após 24

horas de incubação a 25oC , em uma faixa de pH entre 4,0 e 6,0

Segel (1979) descreve que os efeitos do pH na estabilidade de uma

enzima devem ser levados em conta, uma vez que o pH interfere na ligação do

substrato e na catálise. Além disso, a curva para determinação do pH ótimo

não fornece informações suficientes a respeito do comportamento da atividade

enzimática acima e abaixo do pH ótimo. O declínio da atividade enzimática

abaixo ou acima do pH ótimo de atuação da enzima pode ser resultado da

inativação da enzima ou de uma forma iônica não adequada do substrato e da

enzima ou de um dos dois.

Logo, o declínio da atividade da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59

nas faixas de pH abaixo de 3,0 e entre 4,6 e 8,0 pode ser devido a uma

mudança conformacional não adequada da enzima, o que diminuiu sua

eficiência catalítica.

5.4.2. Efeito da temperatura

O efeito da temperatura sobre a atividade da poligalacturonase do fungo

C.pteridis LPF-59 contra o substrato ácido poligalacturônico foi avaliado

conforme o item 4.11.2 e está representado na figura 19.

45

Temperatura

10 20 30 40 50 60 70 80 90

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

0

20

40

60

80

100

Figura 19. Efeito da temperatura na atividade da poligalacturonase purificada

de C.pteridis LPF-59 em pH 4,0.

A enzima exibiu máxima atividade quando ensaiada a 60oC, sendo que a

55 e 65 oC a atividade da enzima foi maior que 70%. Atividades próximas a

60% foram observadas em 45 e 50oC. Nas temperaturas 40, 70 e 75oC, a

enzima exibiu aproximadamente 50% de sua atividade máxima. No entanto, a

enzima incubada a 80oC não apresentou atividade maior que 35%. Esse

comportamento também foi observado para temperaturas abaixo de 35oC.

Em temperaturas maiores que 60oC, a atividade da enzima diminui

continuamente, provavelmente devido às alterações estruturais na enzima

afetando a sua ligação com o substrato.

A poligalacturonase de Pyconoporus sanguineus estudada por Quiroga

et al. (2009) exibiu máxima atividade quando ensaiada em uma faixa de

temperatura entre 50 -60oC. O estudo de duas isoformas da poligalacturonase

do fungo Penicillium frequentans indicaram atividade máxima quando

incubadas a 50oC (Barense et al., 2001).

Algumas poligalacturonases apresentam atividade máxima em

temperaturas mais brandas, como a poligalacturonase produzida pelo fungo

46

Penicillium solitum. Estudos com essa enzima determinaram atividade máxima

nos intervalos de temperatura entre 20 e 37oC. Acredita-se que a máxima

atividade em baixas temperaturas possa facilitar a invasão e a colonização do

micro-organismo na planta hospedeira durante o período frio (Jurick et al.,

2009).

A máxima atividade da poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 a 60 oC é

uma propriedade importante do ponto de vista industrial, principalmente para

possíveis aplicações dessa enzima na indústria de sucos e bebidas. Na

maceração da uva para extração do suco, por exemplo, a incubação a 60-65

oC promove o rompimento da membrana e rupturas na parede celular do fruto,

facilitando a liberação do líquido e das antocianinas responsáveis pela cor do

suco (Gomes et al., 2007).

5.4.3. Análise da termoestabilidade

A termoestabilidade da poligalacturonase purificada de C.pteridis LPF-59

foi avaliada nas temperaturas de 50 e 60 oC como descrito no item 4.11.4.

Tempo (min)

0 200 400 600 800

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Figura 20. Efeito da temperatura na estabilidade da poligalacturonase

purificada de C.pteridis LPF-59. As amostras enzimáticas foram pré-incubadas

47

nas temperaturas de 50oC (●) e 60oC (). As atividades relativas foram

calculadas considerando-se a atividade sem pré-incubação como 100 %.

A poligalacturonase permaneceu com aproximadamente 90% de sua

atividade inicial nos primeiros 30 minutos de incubação a 50oC, entretanto, a

60oC, a enzima manteve 90% de atividade nos primeiros 20 minutos de

incubação. Após 60 minutos de incubação, a enzima manteve 44% e 77% de

sua atividade a 60oC e a 50o C, respectivamente. Após 120 minutos a 60oC, a

poligalacturonase apresentou 38% de sua atividade inicial, sendo que após

esse mesmo tempo de pré-incubação a 50oC a enzima ainda mantinha 69 %

de atividade residual. Gadre et al. (2003) descreveram uma

poligalacturonase de Mucor flavus que foi completamente inativada com 30

minutos de incubação a 55oC, entretanto a 45oC, a enzima retinha 80% da sua

atividade inicial após 4 horas de incubação. Já a poligalacturonase de Mucor

circinelloides apresentou 71% de atividade inicial após 2 horas de incubação a

42oC e após 7 horas ainda manteve 42% da sua atividade inicial. Porém,

quando incubada a 50oC sua atividade foi de apenas 22 % com 5 horas de

incubação (Thakur et al., 2010). Muitas poligalacturonases perdem

rapidamente a atividade em temperaturas acima de 50oC, devido à

desnaturação da enzima e consequente perda da eficiência de catálise.

A poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 se mostrou bastante

termoestável a 50oC. Essa característica a torna interessante para aplicação

industrial, visto que muitos processos biotecnológicos são conduzidos em

elevadas temperaturas. Para isso, essas enzimas necessitam manter a

estabilidade ao longo de todo processo. Sabe-se que altas temperaturas

favorecem a solubilidade dos substratos e dos produtos, aumentam as taxas de

reação devido à redução da viscosidade e ao aumento do coeficiente de

difusão dos substratos (Gomes et al., 2007). Além de aumentar a

produtividade, as reações conduzidas em temperaturas elevadas reduzem a

contaminação microbiana. Logo, poligalacturonases termoestáveis têm sido

objeto de inúmeros estudos envolvendo a elucidação de mecanismos de

desnaturação térmica e o desenvolvimento de estratégias para aumento da

estabilidade (Aminzadeh et al., 2006).

48

5.4.3.1. Meia-vida da poligalacturonase

Os valores de meia-vida da poligalacturonase purificada de C.pteridis

LPF-59 a 50oC e a 60oC foram de 260 e 66 minutos, respectivamente (Figura

21).

Tempo (min)

0 200 400 600 800

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

0

20

40

60

80

100

Tempo (min)

0 20 40 60 80 100 120 140

Ati

vid

ad

e r

ela

tiva (

%)

0

20

40

60

80

100

Figura 21. Valores de meia-vida estimados para poligalacturonase purificada

de C.pteridis LPF-59 em temperaturas de (A) 50 °C, (B) 60 °C.

A Y = 95,8660*e

(-0,0025x)

r2 = 0,9846

B Y = 102,8204*e

(-0,0108x)

r2 = 0,9036

49

Estudos realizados por Thakur et al. (2010) determinaram a meia-vida

para poligalacturonase de Mucor circinelloides de 2 horas a 50oC. Aminzadeh

et al. (2006) indicaram em seus estudos que a poligalacturonase do fungo

Tetracoccosporium sp. exibiu meia-vida de 63 minutos a 60oC, valor bem

próximo ao encontrado para a poligalacturonase identificada neste trabalho.

5.4.4. Determinação dos parâmetros cinéticos

O efeito da concentração dos substratos ácido poligalacturônico e

pectina cítrica sobre a atividade da enzima poligalacturonase do fungo

C.pteridis LPF-59 foi avaliado conforme item 4.11.5.

Os valores das constantes cinéticas KM, bem como os valores Vmax e da

relação Vmax.KM-1 obtidos para a enzima contra os dois diferentes substratos

testados pode ser observado na tabela 3.

Tabela 3. Valores de KM, Vmax e Vmax.KM-1 obtidos para poligalacturonase

purificada de C.pteridis LPF-59, determinados pela curva de Michaelis-Menten

para os substratos ácido poligalacturônico e pectina cítrica.

Poligalacturonase

Substrato KM (mg.mL-1

) Vmax (U.mL-1

) Vmax.KM-1

(U.mg-1

)

Ácido poligalacturônico 0,525 5,862 11,174

Pectina cítrica 6,770 16,167 2,388

Todos os parâmetros cinéticos apresentados neste trabalho foram

obtidos por ajuste da equação de Michaelis-Menten (V=(Vmax . [S]) . (KM + [S])-1)

a um conjunto de dados que relacionava velocidade de hidrólise vs

concentração de substrato.

Segel (1979), afirma que a constante cinética KM indica a

“adequacidade” relativa de diferentes substratos para uma determinada

enzima, ou seja, o substrato que apresenta o menor valor de KM possui uma

maior afinidade aparente para a enzima. Da mesma maneira, o valor da

relação Vmax.KM-1, pode ser utilizado como um parâmetro de comparação para

50

medir a eficiência catalítica de uma enzima para diferentes substratos , sendo

que, valores maiores da relação Vmax.KM-1 indicam uma maior eficiência

catalítica.

Sendo assim, a poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 apresentou

maior afinidade pelo substrato ácido poligalacturônico, comparada ao substrato

pectina cítrica. Esse comportamento é confirmado também pela relação

Vmax.KM-1, que indica uma maior eficiência catalítica da enzima sobre o ácido

poligalacturônico.

É frequentemente observado na literatura, que as poligalacturonases

apresentam maior afinidade pelo ácido poligalacturônico. Quiroga et al. (2009),

avaliando uma poligalacturonase produzida por Pyconopporus sanguineus,

determinaram um KM de 0,55 mg.mL-1 para ácido poligalacturônico, sendo que

o KM para pectina cítrica foi de 0,72 mg.mL-1. Além disso, a eficiência catalítica

(Vmax.KM-1) da enzima do P.sanguinueus demonstrou ser maior para ácido

poligalacturônico do que para pectina cítrica.

Análises dos parâmetros cinéticos da poligalacturonase de Mucor

circinelloides na hidrólise do ácido poligalacturôncio indicaram 2,2 mM e 4,81

U.mL-1 para KM e Vmax, respectivamente (Thakur et al., 2010). A

poligalacturonase de Penicillium viridicatum exibiu valor de KM para pectina

cítrica de 1,30 mg.mL-1 (Gomes et al., 2009).Para poligalacturonase produzida

pelo fungo Tetracoccosporium sp., Aminzadeh et al. (2006) determinaram

valores de 3,23 mg.mL-1 para KM e 0,15 U para Vmax quando o substrato

estudado foi o ácido poligalacturônico.

5.4.5. Especificidade de substrato

A enzima poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 foi avaliada quanto à

habilidade de hidrolisar o ácido poligalacturônico, a pectina cítrica e PDA

(potato dextrose agar). Os ensaios foram conduzidos de acordo com o item

4.11.6 e os resultados obtidos podem ser observados na tabela 4.

51

Tabela 4. Especificidade da poligalacturonase purificada de C.pteridis LPF-59

para os diferentes substratos na concentração final de 0,2% (p/v).

Substrato Atividade (U.mL-1) ± DP Atividade relativa (%)

Ácido poligalacturônico 4,14 ± 0,29 100

Pectina cítrica 2,12 ± 0,17 51,21

PDA 2,71 ± 0,09 65,46

A poligalacturonase estudada neste trabalho foi mais específica para a

hidrólise do ácido poligalacturônico do que para os demais substratos testados.

Poligalacturonase de Mucor flavus demonstrou maior especificidade

para o ácido poligalacturônico quando comparada a pectina cítrica. Acredita-se

que a extensão da hidrólise decresce com o aumento do grau de esterificação

da molécula. (Gadre et al., 2003). Logo, a menor taxa de hidrólise da pectina

cítrica pela poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 em relação ao substrato

ácido poligalacturônico pode ser explicada pela maior taxa de esterificação

presente na pectina.

Estudos de especificidade para poligalacturonase produzida pelo fungo

Mucor circinelloides indicaram uma maior habilidade de hidrólise do ácido

poligalacturônico, sendo que para a pectina cítrica e para o PDA, a enzima

manteve apenas 11 e 3,7 % da atividade relativa, respectivamente (Thakur et

al., 2010).

O PDA é um reagente composto de infusão de batata, dextrose e agar.

Por ser uma fonte nutritiva, incentiva a esporulação de micro-organismos sendo

muito utilizado como meio de crescimento de fungos e leveduras. A infusão de

batatas está presente na concentração de 4 g.L-1 e a batata apresenta pectina

como um polímero importante da sua parede celular. Assim, o fungo C.pteridis

LPF-59 foi capaz de hidrolisar esse substrato, com atividade de hidrólise

próxima a da pectina cítrica. Este resultado é bastante interessante do ponto de

vista industrial, uma vez que mostra a capacidade da poligalacturonase de

C.pteridis de atuar sobre diferentes substratos.

52

5.4.6. Efeito de íons, açúcares e agentes redutores

O efeito dos íons, açúcares e agentes redutores foi avaliado conforme

descrito no item 4.11.7. A concentração final dos efetores foi de 2 mM e a

atividade relativa foi calculada considerando a atividade da enzima sem efetor

como 100%.Os resultados obtidos podem ser observados na tabela 5.

Tabela 5. Atividade relativa da poligalacturonase purificada de C.pteridis LPF-

59 submetida aos diferentes efetores na concentração final de 2 mM.

Efetor Atividade relativa (%) ± DP

Controle 100 ± 0,17

KI 72,30 ± 0,26

AgNO3 54,17 ± 0,31

NaCl 65,40 ± 0,35

NaF 95,33 ± 0,83

KCl 94,22 ± 0,92

NaNO3 73,35 ± 0,02

MnCl2 35,39 ± 0,05

CuSO4 39,33 ± 0,08

ZnCl2 83,54 ± 0,17

HgCl2 3,88 ± 0,05

MgSO4 73,06 ± 0,12

CaCl2.H2O 57,87 ± 0,05

FeSO4 52,21 ± 0,13

CoCl2. 60,02 ± 0,08

Glicose 93,77 ± 0,29

Galactose 102,60 ± 0,09

Lactose 51,85 ± 0,05

Sacarose 87,35 ± 0,08

Xilose 101,98 ± 0,15

53

Uréia 98,49 ± 0,02

β-mercaptoetanol 88,71 ± 0,06

EDTA 58,46 ± 0,03

SDS 14,35 ± 0,04

A atividade da poligalacturonase não sofreu alterações significativas na

presença de NaF, KCl, Glicose, Galactose, Xilose, e Uréia. Dentre os açúcares

estudados, a lactose foi aquele com maior potencial de inibição, observando-se

uma atividade residual de aproximadamente 51%.

A atividade da enzima foi parcialmente inibida na presença de KI,

NaNO3, ZnCl2, MgSO4, sacarose e β-mercaptoetanol. Os íons Mn+2, Cu+2, Hg+

inibiram fortemente a atividade da poligalacturonase do fungo C.pteridis LPF-

59. O íon Hg+ é descrito como um forte inibidor de grupos tióis e apresenta alta

afinidade por grupos carboxil e imidazólico de histidina (Sundd et al., 1998).

Isso sugere que a inibição destes grupos pelos íons Hg+ pode causar a perda

da atividade enzimática quando estes se encontram no sítio ativo destas

enzimas.

Gomes et al. (2009) mostraram que uma poligaturonase de Penicillium

viridicatum RFC3 foi fortemente inibida por K+, Zn+2, Mg+2, Cu+2 e Hg+, porém

para os íons Na+ e Mn+2 os autores observaram o aumento da atividade da

enzima. Um estudo com poligalacturonase de Aspergillus niger MTC3323

indicou que Mn+2, K+, Zn+2, Fe+2 e Al+3 inibiam a atividade enquanto Mg+2 e

Cu+2 aumentavam a atividade (Kant et al., 2013).

A poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 na presença de SDS também

foi fortemente inibida apresentando apenas 14% de atividade residual. O

detergente aniônico SDS é um agente desnaturante de proteínas, logo na

presença desse composto muitas proteínas perdem completa ou parcialmente

suas funções devido á mudança de suas estruturas terciária e quaternária

(Lantz e Ciborowski, 1994).

Na presença do íon Ag+ a atividade residual da enzima foi de 54%. A

inibição de aproximadamente metade da atividade da poligalacturonase pode

ser atribuída a interações com grupos carboxil e/ou resíduos de histidina que

possam estar presentes no sítio ativo da enzima. A atividade residual da

54

poligalacturonase de C.pteridis na presença do agente quelante EDTA foi de

58%. O EDTA na concentração de 2 mM provavelmente foi capaz de atuar

diretamente na ação da enzima e/ou quelar íons importantes para a atuação da

enzima sobre o seu substrato.

Neste trabalho, a atividade da poligalacturonase foi inibida pelos íons

cálcio. Cabanne et al. (2002) indicaram que a poligalacturonase de Botrytis

cinerea perde 90% de sua atividade inicial na presença de Ca+2 . As atividades

das poligalacturonases de Penicillium solitum e de Aspergillus niger também

foram inibidas na presença desse íon (Jurick et al., 2009, Kant et al., 2013). Os

mecanismos pelos quais o cálcio reduz a taxa de hidrólise do ácido

poligalacturônico ainda não foram elucidados, porém acredita-se que este íon

dificulta a acessibilidade da poligalacturonase ao polímero interferindo no sítio

ativo da molécula.

55

6. CONCLUSÕES

- O fungo fitopatogênico Cylindrocladium pteridis LFP-59 foi capaz de secretar

uma poligalacturonase quando cultivado em meios contendo diferentes fontes

de carbono.

- A folha de eucalipto foi a fonte de carbono que mais se destacou na indução

da enzima, promovendo com 168 horas de cultivo uma atividade de

aproximadamente 42 U.mL-1.

- O protocolo de purificação desenvolvido apresentou rendimento final de

18,91% e um fator de purificação para enzima de 13,32 vezes.

- A poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 apresentou massa molecular de 68

KDa quando estimada por SDS-PAGE.

- A enzima apresentou máxima atividade em pH 4,0 e se manteve estável com

mais de 70% de sua atividade nos valores de pH compreendidos entre 3,6 e

6,0.

- A enzima apresentou máxima atividade a 60oC. A enzima foi bastante

termoestável, com meia-vida de 260 minutos a 50oC e de 66 minutos a 60oC.

- A poligalacturonase demonstrou maior afinidade pelo ácido poligalacturônico,

apresentando valor de KM menor quando comparado ao da pectina cítrica.

- Poligalacturonase de C. pteridis LPF-59 apresentou maior habilidade de

hidrólise do ácido poligalacturônico do que para a pectina cítrica e para o PDA.

56

- Os íons Hg+, Mn+2, Cu+2 e o detergente aniônico SDS inibiram fortemente a

atividade da enzima. O cálcio também influenciou negativamente a ação da

enzima.

57

7. PERSPECTIVAS

A enzima poligalacturonase de C.pteridis LPF-59 identificada e

purificada neste trabalho apresentou propriedades funcionais interessantes

para sua possível aplicação industrial e biotecnológica. Dentre as

características mais atrativas podemos destacar a máxima atividade em pH

ácido, em torno de 4,0 e razoável estabilidade térmica.

Esse comportamento ácido é bastante visado na indústria de sucos de

frutas e de fabricação de vinho. Além disso, os processos industriais deste

setor geralmente ocorrem em temperaturas elevadas. Assim, outra

particularidade importante para aplicação dessas enzimas na indústria é a sua

termoestabilidade. A poligalacturonase de C.pteridis, apresentou

termoestabilidade superior a várias outras poligalacturonases fúngicas. Sendo

assim, pretendemos testar a aplicação dessa enzima na extração e clarificação

de sucos.

58

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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