Produção Agroecológica - Irrigação às margens de açude nasce de sonhos e da conquista da...

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Foi com o sonho de viver dignamente no seu próprio pedaço de terra e construir dias melhores para seus filhos e netos, que seu Zé Félix, dona Joana e filhos se engajaram no processo de luta pela reforma agrária no alto sertão paraibano, no ano de 1989, onde começou os primeiros momentos dessa luta organizada pelo direito de terra para plantar, acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), entorno do açude público da comunidade de Bartolomeu, município de Bonito de Santa Fé – PB. Seu Zé Félix e dona Joana, estão casados há 38 anos, e juntos tiveram nove filhos, uma parte mora fora, e apenas duas filhas, Maria, a mais nova, e a mais velha, Josefa, divide com ele, cinco hectares de terra. Mesmo ainda não estando em situação regular, a família tem a posse da terra e vem há 18 anos produzindo a margem do açude, que corta parte da propriedade. O açude chega a ter aproximadamente a capacidade de 17 milhões de metros cúbicos de água, servindo para as 22 famílias que mora na área do assentamento. A história de seu Zé Félix e dona Joana se passa entre situações de coragem, e de desafios ao lado de muitas outras famílias. Mesmo assim encaram tudo com força e vontade, acreditando na luta, e no sonho de plantar e colher bons frutos. Por isso, mesmo numa terra pedregosa e arenosa seu Zé Félix e família conseguem dar vida a plantação, ao roçado, e sempre respeitando o meio em que vive mantendo as plantas nativas como: aroeira, pau ferro e o juazeiro. É nessa mesma terra, que aparentemente se mostra impossível de nascer qualquer coisa, que a família consegue cultivar principalmente hortaliças, como a: salsinha, pimentão, quiabo, couve, cenoura, batata doce, macaxeira, rabanete, alface e coentro. A família é pioneira na atividade de cultivar hortaliças, e tudo começou com uma doação de uma xícara de coentro feito por um amigo da família, que com sabedoria e aptidão multiplicaram e hoje tem a autonomia alimentar. Seu Zé Félix está a todo momento com um olhar voltado para a preservação do meio ambiente, com base nas experiências agroecológicas, coisas que ele aprendeu ainda de forma tímida a discutir no ano de 1999 junto às entidades da articulação do semi-árido brasileiro – ASA; espaço onde a troca do saber é passada de agricultores/as para agricultores/as. E foi nessa nova caminhada de participação em encontros sobre diversos temas como agroecologia e agricultura familiar, que o seu interesse aumentou cada vez mais por essas atividades, e daí começou a participar de reuniões inicialmente sobre banco de sementes comunitárias, onde era Ano I | nº. 1 | Junho | 2009 Aparecida - Paraíba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Produção Agroecológica “Irrigação as margens de açude nasce de sonhos e da conquista da terra” 1 Dona Joana e Seu Zé Félix Canteiros de hortaliças às margens do açude

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Foi com o sonho de viver dignamente no seu própriopedaço de terra e construir dias melhores para seusfilhos e netos, que seu Zé Félix, dona Joana e filhos seengajaram no processo de luta pela reforma agráriano alto sertão paraibano, no ano de 1989, ondecomeçou os primeiros momentos dessa lutaorganizada pelo direito de terra para plantar,acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra(CPT), entorno do açude público da comunidade deBartolomeu, município de Bonito de Santa Fé – PB.Seu Zé Félix e dona Joana, estão casados há 38anos, e juntos tiveram nove filhos, uma parte morafora, e apenas duas filhas, Maria, a mais nova, e amais velha, Josefa, divide com ele, cinco hectares deterra. Mesmo ainda não estando em situação regular,a família tem a posse da terra e vem há 18 anosproduzindo a margem do açude, que corta parte dapropriedade. O açude chega a ter aproximadamentea capacidade de 17 milhões de metros cúbicos de água, servindo para as 22 famílias que mora na áreado assentamento. A história de seu Zé Félix e dona Joana se passa entre situações de coragem, e dedesafios ao lado de muitas outras famílias. Mesmo assim encaram tudo com força e vontade,acreditando na luta, e no sonho de plantar e colher bons frutos. Por isso, mesmo numa terra pedregosa earenosa seu Zé Félix e família conseguem dar vida a plantação, ao roçado, e sempre respeitando o meio

em que vive mantendo as plantas nativas como:aroeira, pau ferro e o juazeiro. É nessa mesma terra,que aparentemente se mostra impossível de nascerqualquer coisa, que a família consegue cultivarprincipalmente hortaliças, como a: salsinha,pimentão, quiabo, couve, cenoura, batata doce,macaxeira, rabanete, alface e coentro. A família épioneira na atividade de cultivar hortaliças, e tudocomeçou com uma doação de uma xícara de coentrofeito por um amigo da família, que com sabedoria eaptidão multiplicaram e hoje tem a autonomiaalimentar. Seu Zé Félix está a todo momento com umolhar voltado para a preservação do meio ambiente,com base nas experiências agroecológicas, coisasque ele aprendeu ainda de forma tímida a discutir noano de 1999 junto às entidades da articulação dosemi-árido brasileiro – ASA; espaço onde a troca dosaber é passada de agricultores/as para

agricultores/as. E foi nessa nova caminhada de participação em encontros sobre diversos temas comoagroecologia e agricultura familiar, que o seu interesse aumentou cada vez mais por essas atividades, edaí começou a participar de reuniões inicialmente sobre banco de sementes comunitárias, onde era

Ano I | nº. 1 | Junho | 2009Aparecida - Paraíba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Produção Agroecológica“Irrigação as margens de açude nasce de sonhos e da conquista da terra”

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Dona Joana e Seu Zé Félix

Canteiros de hortaliças às margens do açude

incentivado e fortalecido na prática de selecionar earmazenar suas sementes adaptadas para o plantio doano seguinte; iniciou-se também em vários cursos aponto de atualmente levar uma vida voltada para osmovimentos sociais, onde participa da rede abelha, doscultivos agroecológicos, da rede de semente e hojecoordena o assentamento Bartolomeu I e a feiraagroecológica.Com as visitas de intercambio seu Zé Félix trouxe paradentro de sua realidade e propriedade o manejo deviveiros de mudas, de plantas forrageiras e de fruteiras,com resultados que se pode vê ao redor da casa:manga, graviola, laranja, mamão, caju, acerola,goiaba, pinha, umbu, coco e maracujá, tudo issoatravés do processo de irrigarão que ele faz asmargens do açude utilizando um motor que comproucom o projeto do pronaf B. Hoje cultiva os plantios e oscanteiros sem o uso de agrotóxicos, envolta dos canteiros plantam o gergelim, que ele tem a satisfaçãode dizer que serve como controle natural das pragas, além de utilizar defensivos naturais. Aesposa e osfilhos fazem todo o trabalho junto com ele, e se mostram orgulhosos por estarem levando a mesaalimentos que traz saúde e qualidade de vida.Dona Joana que compartilha todo o trabalho com o esposo, vendo a necessidade de criar uns bichinhose equipar a terra, fez o projeto do pronaf mulher e comprou uma vaca, que apartir de então foimultiplicando chegando hoje a cinco cabeças bovinas, e assim garantindo o consumo do leite para todaa familia, e ainda com o pouco que sobrou comprou um burro e um arado para ajudar na lavoura. Todo o

trabalha é dedicado a produção de hortaliças, asduas filhas, juntos com seus maridos e os filhosseguem o bom exemplo de seu Zé Félix, plantamhortaliças as margens do açude para sealimentarem e o excedente comercializa na feiraagroecológica em Cajazeiras, nas feiras livresnos municípios de Bonito de Santa Fé, SerraGrande e São José de Caiana. Segundo elas aprodução agroecológica é muito bem aceita oque é garantia certa para a venda dos produtos, ealém disso, são muitas as outras vantagens,vendem direto ao consumidor gerando umarenda em cerca de 200,00 reais por semana.Alguns resultados citado por Josefa são amelhoria na qualidade da alimentação, e narenda familiar. E uma das expectativas éaumentar o trabalho e o ganho para poder tersempre ao seu lado os filhos e ajuda-los para nãoterem que sair – “o que eu tenho é o maior medode eles querer ir para São Paulo e serem

influenciado a viver uma outra vida que não seja da minha vontade” se preocupa Josefa. Com o objetivode alcançar o desenvolvimento sustentável da sua terra e dos seus cultivos a família reunida segueacreditando que a agricultura familiar é o caminho para estarem sempre juntos, é o que afirma Maria -“daqui eu só saio para cemitério, melhor que aqui só no céu, não dar pra enricar, mas aqui dar pra viver,e viver bem”.

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Josefa e seus dois filhos

Maria e seu esposo

do Programa Uma Terrae Duas Águas Paraíba

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria deSegurança Alimentar

e Nutricional

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