Processo de Ensino e Aprendizagem da Natação · 2018-04-30 · Educação, Filosofia, História,...
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PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO
Autor: Valber Vinicius França Clarimundo1
Orientadora: Profa. Dra. Ana Cláudia Saladini2
RESUMO
Este estudo foi desenvolvido no primeiro semestre do ano letivo de 2017, com a turma do 2º ano A, de um colégio estadual localizado na cidade de Jardim Alegre, estado do Paraná. Neste artigo apresentamos os resultados deste projeto, que é parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. O referido projeto apresentou uma proposta para o ensino da natação como um dos conteúdos das aulas de Educação Física no Ensino Médio, oportunizando aos estudantes das escolas públicas estaduais, situações de ensino e aprendizagem da natação. Para isso destacou como conhecimentos a serem ensinados: a história da natação, os estilos de nado, as principais provas e competições. Quanto à metodologia, foi realizada uma pesquisa qualitativa, já a implementação se deu em dois momentos: no período regular de aula (matutino) para o ensino dos conteúdos em sala de aula (Bloco 1) e no contraturno (verpertino) para as aulas na piscina (Bloco 2), esse processo se desenvolveu de forma concomitante. Atualmente, a maioria das Escolas Públicas Estaduais não possuem piscina, fato este que tem desmotivado o ensino da natação pelos professores de Educação Física. Sendo assim, os alunos perdem uma das poucas oportunidade de conhecer este que é o esporte aquático mais praticado nos dias de hoje. Como resultado, foi constatado que é possível sim ensinar o conteúdo da natação mediante os diferentes procedimentos, desde que o professor, na elaboração de seu plano de ensino, pense e planeje qual o conteúdo a ser ensinado, os objetivos que se pretende com os alunos e quais procedimentos serão aplicados para a conquista de uma aprendizagem que avance para além da execução dos gestos técnicos.
Palavras-chave: Educação Física. Ensino. Aprendizagem. Natação.
1 Professor, pesquisador PDE: Educação Física, Escola Estadual Cristóvão Colombo, Município de Jardim Alegre. Núcleo de Educação de Ivaiporã. E-mail de contato: [email protected] 2 Orientadora PDE – Professora Doutora do Departamento de Estudos do Movimento Humano, Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail de contato: [email protected]
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo é proveniente de uma pesquisa aliada à intervenção
docente, proposta e praticada no contexto da capacitação ofertada pelo Programa
de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE), na Universidade
Estadual de Londrina (UEL). Neste projeto apresentamos uma proposta de Ensino e
Aprendizagem da Natação nas aulas de Educação Física, com os alunos do 2° ano
A do Ensino Médio, de um Colégio Estadual localizado na cidade de Jardim Alegre –
Paraná.
O mesmo teve como objetivo oportunizar aos estudantes da escola pública
estadual, nas aulas de Educação Física, situações de ensino e aprendizagem sobre
a natação. Ao estudarmos esse fenômeno esportivo, queremos garantir o direito de
acesso e reflexão sobre essa prática no ambiente escolar, nas aulas de Educação
Física, para além do fazer, mas também compreender o que é feito como uma
produção humana.
Dessa forma, os alunos entenderam melhor a relação do ser humano com a
água, do domínio do meio líquido para sua sobrevivência (segurança e alimentação).
Além de conhecer outras atividades aquáticas e aprofundar seus conhecimentos na
natação: sua história, estilos de nado, principais provas e competições.
Somando-se a isso, os professores de Educação Física terão em mãos um
projeto para além do nadar propriamente dito, pois entendemos que há saberes
específicos da natação que podem e devem ser ensinados para os alunos,
independente do fato da escola possuir piscina. Entre estes saberes podemos
destacar: os aspectos políticos, sociais, históricos, econômicos, culturais e sua
relação com a saúde, além da convivência com as diferenças, na formação social
crítica e autônoma dos alunos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para compreendermos o processo histórico da Educação Física no Brasil,
precisamos rever os movimentos que outrora consolidaram-na como componente
curricular.
2.1 O Que se Espera da Educação Física Escolar?
A Europa teve grande influência na implantação das primeiras
sistematizações sobre as práticas corporais no Brasil. Segundo Palma et al. (2010),
o sistema alemão de Ginástica já havia comprovado a eficiência dos exercícios
físicos sobre o corpo e a mente. Surge então em solo brasileiro a Educação Física,
que a princípio era chamada de Ginástica, com o objetivo de difundir os benefícios
higiênicos da medicina e da formação física militar. Nesse contexto, a Educação
Física ganha espaço nas escolas, uma vez que o físico disciplinado era exigência da
nova ordem social em formação, o capitalismo.
“No final da década de 1930, o esporte começou a se popularizar [...], passou
a ser um dos principais conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física”
(PARANÁ, 2008, p. 40), pois os princípios que norteiam o esporte são os da
racionalidade, eficiência e produtividade, que são competências fundamentais para
manter a hegemonia burguesa capitalista. Neste momento confunde-se novamente
o conceito de Educação Física e sua real finalidade na escola. O que antes ocorrera
com a Ginástica, agora acontecia com o Esporte. Esses e outros equívocos
dificultam a compreensão do real papel social dessa disciplina em nossa sociedade,
mais especificamente em nossas escolas.
Com o fim da ditadura no Brasil em 1945, surgem outras tendências, tais
como: método natural austríaco, método da educação física desportiva generalizada,
dentre outros. A partir de 1970, novas interpretações começam a surgir sobre a
Educação Física com crítica à pedagogia tecnicista; é a visão humanista que se
caracteriza, pela presença de princípios filosóficos em torno do ser humano. E a
psicomotricidade, que se baseia na interdependência do desenvolvimento cognitivo
e motor, uma crítica em relação à visão dualista do homem. Com a psicomotricidade,
a educação do movimento passou a ser pensada de outra forma: a educação pelo
movimento. (PALMA et al., 2010).
Nos anos 80, a Educação Física passou por uma crise de identidade. Os
profissionais da Educação Física buscaram especializar-se em outras áreas como a
Educação, Filosofia, História, Sociologia, Antropologia, Psicologia, entre outras,
mudando assim a maneira de conduzir seus trabalhos, rompendo com os
parâmetros manipuladores da época de reparação, recuperação e manutenção da
força de trabalho. (SALADINI, 2006).
Segundo a mesma autora, a disciplina de Educação Física ainda hoje é
influenciada por esta prática que prioriza a técnica, o rendimento e o sucesso e que
percorreu o final do século XVIII, atravessou todo o século XIX e atualmente ainda
pode ser identificada nas escolas.
Atualmente a concepção da Educação Física está regulamentada pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de n° 9.394, de 20 de dezembro
de 1996. E em seu parágrafo 3° do artigo 26 esclarece que a Educação Física deixa
de ser uma área de atividade preconizada em legislações anteriores para se tornar
um componente curricular obrigatório. “Muito se tem refletido, discutido e proposto
sobre este assunto, tentando definir o que realmente seja a Educação Física, qual o
seu campo de conhecimento e os seus respectivos conteúdos, matéria de ensino no
contexto escolar. ” (PALMA et al., 2010, p. 45).
Entre 2004 e 2008, são elaboradas as Diretrizes Curriculares Estaduais da
Educação Básica e da Educação Física, fruto de profundas reflexões e discussões
coletivas, que envolveu os professores da Rede Estadual de Ensino. Encerrado esse
processo, o material elaborado foi enviado para diferentes universidades públicas
brasileiras, com o objetivo de realizar os ajustes finais dos textos, que agora se
apresentam como fundamentos para o trabalho pedagógico nas Escolas da Rede
Pública Estadual Paranaense. (PARANÁ, 2008).
No bojo dessas construções coletivas, as Diretrizes Curriculares Estaduais da
Educação Física (DCEs), enfatiza que apenas a legalização da Educação Física não
garante a efetivação dos processos de ensino e aprendizagem e muito menos sua
legitimidade. Durante o debate das mudanças teórico-metodológicas que ocorreram
no decorrer dos anos, percebeu-se que é necessário superar alguns dos principais
problemas da Educação Física atual, tais como:
A persistência do dualismo corpo-mente como base científico-teórica da Educação Física que mantém a cisão teoria-prática e dá origem a um aparelho conceitual desprovido de conteúdo real, dentre eles o conceito a histórico de esporte e das suas classificações; A banalização do conhecimento da cultura corporal, pela repetição mecânica de técnicas esvaziadas da valorização subjetiva que deu origem a sua criação; A restrição do conhecimento oferecido aos alunos, obstáculo para que modalidades esportivas, especialmente as que mais atraem às crianças e jovens, possam ser apreendidas na escola, por todos, independentemente de condições físicas, de etnia, sexo ou condição social; A utilização de testes e medidas padronizadas, não como forma de acesso aos conhecimentos oriundos do esporte de rendimento, mas com objetivos exclusivos de aferir o nível das habilidades físicas, ou como instrumentos de avaliação do desempenho instrucional dos alunos nas aulas de Educação Física; A adoção da teoria da pirâmide esportiva como teoria educacional; A falta de uma reflexão aprofundada sobre o desenvolvimento da aptidão
física e sua contradição com a reflexão sobre a Cultura Corporal; (PARANÁ, 2008, p. 50).
Estes são alguns pontos polêmicos que persistem no cotidiano escolar e que
nos impedem de compreender a Educação Física como área de conhecimento
socialmente relevante (PARANÁ, 2008). Diante dessa problemática as DCEs
propõem que:
A Educação Física seja fundamentada nas reflexões sobre as necessidades atuais de ensino perante os alunos, na superação de contradições e na valorização da educação. Por isso, é de fundamental importância considerar os contextos e experiências de diferentes regiões, escola, professores, alunos e da comunidade. (PARANÁ, 2008, p. 50).
De acordo com as DCEs é necessária uma reorganização na política
curricular em busca de oportunidades que sejam iguais para todos. Os conteúdos
disciplinares devem ser tratados de maneira contextualizada, para que estes
contribuam para atitudes críticas quanto a questões sociais, políticas e econômicas
presentes em nossa sociedade.
Nesse sentido, partindo de seu objeto de estudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educação Física se insere neste projeto ao garantir o acesso ao conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente histórico, social e cultural. (PARANÁ, 2008, p. 49).
A (LDBEN) expõem que “a Educação Básica tem por finalidades desenvolver
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”
(BRASIL, 1996, p. 17). Além disso, na seção IV do Ensino Médio em seu parágrafo
III, vê-se a preocupação com o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e o
pensamento crítico, que devem ser objetivos também da Educação Física que,
mediante sua intervenção pedagógica, deve garantir aos estudantes a
aprendizagem de seus conteúdos.
Vê-se que a responsabilidade social da escola e dos professores é muito grande, pois cabe-lhe escolher qual concepção de vida e de sociedade deve ser trazida à consideração dos alunos e quais conteúdos e métodos lhes
propiciam o domínio dos conhecimentos e a capacidade de raciocínio necessários à compreensão da realidade social e à atividade prática na profissão, na política, nos movimentos sociais [...]. (LIBÂNEO, 1994, p. 22).
Do mesmo modo, o ensino da Educação Física deve ser voltado para atender
os educandos, relacionando a teoria com a prática vivenciada por eles, para que
haja uma compreensão mais ampla e crítica em sua vivência no cotidiano. Além
disso, as aulas de Educação Física, precisam ser organizadas e oferecer situações
de ensino e aprendizagem que contribuam para que os estudantes compreendam a
sua motricidade.
Segundo Luckesi (1991, p. 118) “o educando não deve ser considerado, pura
e simplesmente, como massa a ser informada, mas sim como sujeito, capaz de
construir-se a si mesmo, através da atividade, desenvolvendo seus sentidos,
entendimentos, inteligência etc.”
A vista disso, as aulas de Educação Física devem ser expostas com
metodologias diversificadas, que proporcionam ao educando a capacidade de
aprender a pensar nas possíveis transformações necessárias para sua vida.
Na relação entre o ensinar do professor e o aprender do aluno é necessário
esclarecer as atribuições de cada um. Cabe ao professor expor os objetivos, a
organização e seleção dos conteúdos, além de analisar se os temas estão
adequados ao nível cognitivo dos alunos ou não. Já “o aluno tem de ativamente
refletir (no sentido de dobrar-se de novo e de novo-tanto quanto seja necessário),
para apropriar-se do quadro teórico objetivado pelo professor e pelo currículo no
processo de ensino. ” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002 p. 209).
De acordo com as autoras citadas,
[...] “para além do “o quê” e do “como”, deve-se ensinar também “a pensar”, aspectos que se determinam e se condicionam mutuamente, configurando ensino como atividade do professor e do aluno, acentuado na atividade do primeiro, e a aprendizagem como atividade do professor e do aluno, acentuada na atividade do segundo. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 208).
Nesse processo dialético o ensino e aprendizagem se efetivam pelo papel
condutor do professor e pela auto atividade do aluno na compreensão do objeto de
estudo em todos seus desdobramentos. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
Segundo Paraná (2008, p.15), a escola deve incentivar a prática pedagógica
fundamentada em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino,
aprendizagem (internalização) e de avaliação que permitam aos professores e
estudantes conscientizarem-se da necessidade de uma transformação
emancipadora.
De acordo com Morais (1986, p. 33),
[...] ensinar é desencadear conflitos, é tornar claro o choque entre ignorância e informação, entre alienação e consciência político-social, entre perplexidade e compreensão, entre o “feijão e o sonho” (o princípio do desejo e os limites da realidade) etc. Desvelar, juntamente com o educando, o embate da vida, sempre com a competência e o cuidado de respeitar os limites emocionais e intelectuais do aluno naquele ponto da sua existência.
Além disso, o professor tem que ter domínio do conhecimento científico e do
senso comum, para conduzir o aluno a compreender questões que estão presentes
na sociedade, mas que ainda não se manifestaram em seu cotidiano, e que é
necessário a assimilação dos mesmos, ao passo que, o papel do professor é fazer
com que o ensino e a aprendizagem ocorram no momento de sua relação com o
educando.
Sendo assim, a ação do educador não poderá ser executada de qualquer
maneira. Para ser bem realizada, deve ter um compromisso político que a direcione.
Por isso é impreterível que o educador tenha compreensão da realidade na qual
atua, exercendo o papel de mediador social entre o universo da sociedade e o
particular do educando. (LUCKESI, 1990).
Dessa forma, as DCEs enfatizam a importância dos conteúdos disciplinares e
do professor como autor de seu plano de ensino, possibilitando um embasamento
mais aprofundado sobre discussões curriculares e alteração na sua prática
pedagógica, alicerçando seu trabalho a partir dos conteúdos estruturantes de sua
disciplina. (PARANÁ, 2008).
Entende-se por conteúdos estruturantes os conhecimentos de grande amplitude, conceitos, teorias ou práticas, que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo/ensino. Esses conteúdos são selecionados a partir de uma análise histórica da ciência de referência (quando for o caso) e da disciplina escolar, sendo trazidos para a escola para serem socializados, apropriados pelos alunos, por meio das metodologias críticas de ensino-aprendizagem. (PARANÁ, 2008, p. 25).
“Por serem históricos, os conteúdos estruturantes são frutos de uma
construção que tem sentido social como conhecimento, [...] que é produto da cultura
e que deve ser disponibilizado como conteúdo, ao estudante, [...]” (PARANÁ, 2008,
p.25). Na disciplina de Educação Física, são elencados cinco conteúdos
estruturantes que abarcam a gama de saberes a serem ensinados e aprendidos na
educação básica, são eles: Esporte; Jogos e Brincadeiras; Ginástica; Lutas; Dança.
Estes cinco conteúdos estruturantes serão ensinados e aprendidos no
decorrer de toda Educação Básica, levando-se em consideração a faixa etária e o
desenvolvimento cognitivo dos alunos. Deverão ser abordados de forma crescente
em sua complexidade, porque em cada nível de ensino os alunos trazem consigo
múltiplas experiências relativas ao objeto de estudo, que devem ser valorizados no
processo educativo. (PARANÁ, 2008).
[...] dos conteúdos estruturantes organizam-se os conteúdos básicos a serem trabalhados por série, compostos tanto pelos assuntos mais estáveis e permanentes da disciplina quanto pelos que se apresentam em função do movimento histórico e das atuais relações sociais. Esses conteúdos, articulados entre si e fundamentados nas respectivas orientações teórico- metodológicas, farão parte da proposta pedagógica curricular das escolas. A partir da proposta pedagógica curricular, o professor elaborará seu plano de trabalho docente, documento de autoria, vinculado à realidade e às necessidades de suas diferentes turmas e escolas de atuação. No plano, se explicitarão os conteúdos específicos a serem trabalhados nos bimestres, trimestres ou semestres letivos, bem como as especificações metodológicas que fundamentam a relação ensino/aprendizagem, além dos critérios e instrumentos que objetivam a avaliação no cotidiano escolar. (PARANÁ, 2008, p.26).
Como esse projeto objetiva propor um processo sistematizado de ensino e
aprendizagem da natação, é preciso ter em mente que teremos como ponto de
partida o conteúdo estruturante (Esporte), pois nele encerra tanto as modalidades
coletivas como as individuais, entre elas para exemplificar o futebol e o tênis de
mesa. Sendo assim, a Natação como conteúdo básico do (Esporte) engajada na
proposta pedagógica curricular da escola, se efetivará no plano de trabalho docente
do professor, como conteúdo específico a ser ensinado no decorrer do ano letivo de
acordo com as particularidades de suas turmas e escolas de atuação. (PARANÁ,
2008).
Portanto, ao ensinarmos a natação enquanto conteúdo específico, queremos
garantir aos alunos o direito de acesso e de reflexão sobre este esporte, com uma
abordagem teórico e prática a partir de seus “aspectos políticos, históricos, sociais,
econômicos, culturais, bem como elementos da subjetividade representados na
valorização do trabalho coletivo, na convivência com as diferenças, na formação
social crítica e autônoma. [...]”. (PARANÁ, 2008, p. 62).
2.2 A Natação
Como ensinar a natação para os alunos das Escolas Públicas Estaduais, uma
vez que, a maioria delas não têm piscina? Esta é uma grande polêmica, no entanto,
entendemos que há saberes específicos deste esporte que podem e devem ser
ensinados para os alunos, independente se a escola possui piscina ou não.
Sendo assim, este projeto visa ser um auxílio para os professores de
Educação Física que querem ampliar seus conhecimentos com relação ao ensino do
conteúdo natação. Considerando a tarefa das aulas de Educação Física de auxiliar o
sujeito a construir e compreender a sua motricidade, nas aulas em que ensinamos
sobre a natação, para além do nadar (fazer) apresentamos outros saberes
importantes para que os alunos possam compreender essa modalidade, entre eles,
o histórico da natação.
Observa-se que para os alunos compreenderem a origem da modalidade
esportiva natação é imprescindível ilustrar o início da relação do ser humano com a
água, onde foi preciso que ele a dominasse para garantir a sua sobrevivência e,
posteriormente, o lazer, ambos relacionados à sua saúde.
Para apropriar-se do mundo, o homem relaciona-se com a natureza de diversas formas. E, nesta relação, ele se transforma, modificando a natureza, dentro das suas possibilidades e das condições oferecidas pelo seu meio ambiente. O planeta Terra, geograficamente, é cercado de água por todos os lados. Várias circunstâncias levam o homem a relacionar-se com o meio aquático. Seja através de atividades para nossa subsistência, como a pesca ou a utilização de embarcações e nas atividades terapêuticas, ou de lazer, como os banhos nas piscinas da Roma Antiga. Isto nos demonstra que sempre estivemos de alguma forma em contato com a água (MASSAUND, 2008, p. 41).
Na Grécia e Roma antigas, a Natação fazia parte do treinamento dos
soldados e da educação do povo, porém, durante muitos séculos seu progresso foi
prejudicado por estar associada a ideia de que ajudava a disseminar epidemias.
Com o passar dos anos a possibilidade de movimentar-se dentro do meio líquido foi
sendo desenvolvida e valorizada. Entretanto, somente no início do século XIX, o
movimentar-se dentro da água começou a transformar-se em prática desportiva,
criaram-se regras e a partir daí começaram a organizar competições. (MASSAUND,
2008).
Desde então, muita coisa mudou, a natação desenvolveu-se com o
surgimento de novos estilos, houve uma grande evolução em suas técnicas de nado
e outras formas de se locomover na água foram criadas transformando-se em
modalidades esportivas ou recreativas.
Atualmente, a natação é o esporte aquático mais conhecido e praticado no
mundo, fato este, que a tornou um esporte olímpico, ou seja, faz parte do coletivo de
esportes disputados em uma ou mais edições dos Jogos Olímpicos. Além dela,
existem outros esportes aquáticos que integram este evento, tais como: nado
sincronizado; saltos ornamentais, polo aquático e maratonas aquáticas, que utilizam
da natação como pré-requisito básico para a execução dos gestos próprios de cada
modalidade esportiva.
Temos também, algumas modalidades aquáticas muito praticadas que não
compõem o rol dos esportes em edições olímpicas, mas que igualmente, necessitam
da natação para garantir sua segurança durante a execução, podemos citar como
exemplo o surf e o mergulho, que são esportes não olímpicos.
A natação encontra-se organizada em quatro estilos: crawl, costas, peito e
borboleta, cada um deles foi criado em um momento específico e seu
desenvolvimento ao longo dos anos atingiu o nível que conhecemos hoje. O nado
crawl atual foi surgindo ao longo de quase um século de adaptações feitas por
diferentes nadadores em diferentes locais do planeta. Já o nado costas tinha sua
batida de pernas semelhante ao movimento da tesoura, este foi modificado nos
Jogos Olímpicos de 1912 por um nadador americano que adaptou a pernada tipo
crawl ao nado de costas. (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007, p. 142).
Já o nado peito foi o primeiro utilizado em competições e serviu de base para o desenvolvimento de todos os outros estilos de nado. Inicialmente, era feito com longos períodos de submersão, mas, em virtude da ocorrência de desmaios entre nadadores, algumas mudanças tornaram-se necessárias. Assim, o nado de peito passou a ser realizado com boa parte da prova na superfície. O nado borboleta surgiu tendo por base o nado de peito, quando, na década de 1930, alguns nadadores perceberam que podiam ganhar velocidade se projetassem seus braços à frente por cima da superfície da água, embora a pernada tipo golfinho só fosse surgir algum tempo depois. Finalmente, na década de 1950, o nado borboleta passou a ser considerado um estilo próprio, pois já era muito mais rápido que o nado de peito. (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007, p. 143).
Portanto, ao ensinarmos o conteúdo específico da natação nas aulas de
Educação Física, queremos garantir aos alunos o direito de acesso e de reflexão
sobre este esporte, com uma abordagem teórica e prática a partir de seus “aspectos
políticos, históricos, sociais, econômicos, culturais, bem como elementos da
subjetividade representados na valorização do trabalho coletivo, na convivência com
as diferenças, na formação social crítica e autônoma. [...]”. (PARANÁ, 2008, p. 62).
3 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA
Este estudo foi desenvolvido no primeiro semestre do ano letivo de 2017,
mediante uma pesquisa qualitativa, com o objetivo de ensinar sobre a Natação para
alunos da escola pública estadual do Ensino Médio no estado do Paraná, nas aulas
de Educação Física.
Sendo assim, pretendeu-se elaborar uma proposta pedagógica que
estimulasse a reflexão e o debate sobre os conhecimentos tidos como
indispensáveis para o ensino e a aprendizagem da natação. A turma de aplicação foi
a do 2º ano A de um colégio estadual, localizado na cidade de Jardim Alegre,
pertencente ao Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã.
Durante o período de inscrição para o Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), o professor de Educação Física, juntamente com a equipe
gestora da escola debateram sobre as fragilidades educacionais enfrentadas pela
comunidade escolar no que tange as aulas de Educação Física. Viu-se aí a
oportunidade de ensinar os conteúdos da Natação como um dos conhecimentos
relevantes para os alunos nas aulas de Educação Física.
Como nossa escola não possui piscina, foi necessário fazer uma parceria
entre nosso Colégio e a diretoria da Sociedade Esportiva e Recreativa de Jardim
Alegre (SERJA) para realizarmos as aulas na piscina. Ficou acordado que, os alunos
deveriam se submeter a exames médicos e trajarem roupas de banho, pois este é
um procedimento padrão desta associação.
Pelo fato das aulas na piscina ocorrerem no contra turno (vespertino), foi
solicitado pelo colégio a autorização dos pais por escrito. De posse das mesmas, o
professor tirou foto dos alunos e confeccionou as carteirinhas da “piscina” para que
os discentes pudessem fazer o exame médico e apresentar na portaria no início de
cada aula.
3.1 Apresentação do Projeto a Comunidade Escolar
No início do primeiro trimestre de 2017, durante a semana pedagógica, este
Projeto e a Unidade Didática foram apresentados para os agentes educacionais I e
II, professores, equipe pedagógica e direção, como componente obrigatório para
conclusão do PDE.
Nesta ocasião, o professor explicou que o projeto se efetivaria com a turma
do 2° Ano A do Ensino Médio no período matutino e alegou que a escolha dessa
turma foi o fato de que os mesmos já estavam mais acostumados com as normas e
conduta do Colégio, lembrando que a Natação exige muita disciplina, além de que,
teriam mais um ano para aprofundar os conhecimentos obtidos com o Ensino e
Aprendizagem da Natação.
Outro fator que contribuiu para a escolha dessa turma foi o fato deles
estudarem de manhã, possibilitando a realização das aulas na piscina no contra
turno (vespertino), o professor deixou claro que gostaria de finalizar o projeto antes
do inverno, devido as baixas temperaturas, já que a piscina não possui aquecedor.
Após dirimir algumas dúvidas referentes ao PDE e sua organização, Intenção
de Pesquisa, Projeto, Unidade Didática, Implementação, Grupo de Trabalho em
Rede (GTR) e Artigo Final, o professor concluiu a apresentação e prosseguiu com os
trabalhos de implementação do projeto.
3.1.1 Reunião com os Pais e Responsáveis de Alunos
No dia sete de março de 2017, realizamos uma reunião com os pais e
responsáveis de alunos, contamos com a presença da diretora, com o intuito de
apresentar como se daria o Processo de Ensino e Aprendizagem da Natação. Além
disso, o professor aproveitou a oportunidade para esclarecer que não haveria custo
algum para os mesmos com mensalidades, já que o projeto seria desenvolvido em
uma piscina particular pertencente a Sociedade Esportiva e Recreativa de Jardim
Alegre (SERJA), mediante parceria com o Colégio.
Alguns pais questionaram quanto a segurança dos filhos, fazendo perguntas
tais como: Qual a profundidade da piscina? O professor estará presente durante o
transcorrer das aulas? A diretora, em uso da palavra, garantiu a presença e
permanência do professor juntamente com os alunos durante o desenvolvimento do
projeto.
O professor esclarecer que, caso algum aluno viesse a desobedecer às
normas de segurança, o mesmo seria afastado imediatamente do projeto. Somando-
se a isto, o professor aproveitou para convidar alguns pais e responsáveis com
disponibilidade de tempo, para auxiliá-lo na observação dos alunos durante as
atividades aquáticas. Após sanar as dúvidas, os pais assinaram uma autorização
permitindo que seus filhos participassem do projeto. Ao final da reunião, lavrou-se
ata.
4 Desenvolvimento e Duração do Projeto
De posse da autorização dos pais e responsáveis, deu-se sequência a
implementação do projeto. A Unidade Didática utilizada compreende um total de 41
aulas, divididas em dois momentos: (Bloco 1) e (Bloco 2), sendo o primeiro bloco
composto por 17 aulas em sala de aula e o segundo por 24 aulas na piscina. As
aulas na piscina, ocorreram nas quartas e sextas-feiras, das 15h30 às 17h30,
totalizando um percentual de 4 horas semanais. O período de duração da
implementação foi de três meses, período esse estipulado pelo programa (PDE).
4.1 Início das Aulas
Para facilitar a leitura e compreensão do nosso trabalho, apresentaremos
primeiramente as aulas do (Bloco 1), as quais foram realizadas em sala de aula e,
na sequência o (Bloco 2) referente as aulas na piscina, convém lembrar que o
ensino dos Blocos aconteceu concomitantemente.
Nas aulas 1 e 2, realizadas em sala - o professor se apresentou a turma e
explicou que iria aplicar um Projeto denominado Processo de Ensino e
Aprendizagem da Natação e que o mesmo se constitui de saberes historicamente
construídos a serem ensinados e discutidos em sala de aula, esclareceu também,
que simultaneamente aconteceria as aulas na piscina no período contra turno
(vespertino). E que os alunos interessados em participar das aulas do (Bloco 2),
seria necessário fazer exames médicos e disponibilizar uma foto para a confecção
das carteirinhas de acesso a piscina.
Por meio do diálogo, o professor procurou identificar os conhecimentos
prévios dos alunos sobre a Natação, utilizando-se de indagações tais como: quem
sabe nadar? Quais estilos de nado vocês conhecem? Alguém já praticou natação?
Quem tem vontade de praticar? Quem não gosta ou tem medo de água? Por quais
motivos? Entre outros.
Percebeu-se neste momento que a maioria dos alunos não tinham
conhecimento sobre a natação, pois de forma generalizada a turma alegou nunca ter
estudado sobre este conteúdo nas aulas de Educação Física. Dois alunos disseram
saber nadar em caso de emergência, enquanto sobrevivência, mas afirmaram não
ter domínio algum de técnicas e gestos elaborados.
Outro aluno perguntou se tinha algum custo para utilizar a piscina, o professor
esclareceu que o Colégio havia feito uma parceria com o presidente da SERJA, e
que o único gasto seria com o exame médico no valor de cinco reais a ser pago
pelos alunos. Além disso, eles deveriam trajar roupas de banho nas aulas na piscina,
sendo, sungas ou shorts para os meninos e maiô para as meninas.
Em seguida, duas alunas solicitaram o uso de shorts por cima do maiô, o
professor percebeu que era devido a timidez em expor o corpo e permitiu, desde
que, fosse confeccionado em material que não prejudicasse a realização das
atividades aquáticas. Os alunos demonstraram grande empatia pelo projeto, porém,
os que não puderam participar das aulas na piscina por motivo de trabalho, se
lamentaram.
A partir desses relatos, o professor pôde identificar o atual nível de
conhecimento da turma e assim confirmar sua hipótese de que os alunos
desconheciam tal esporte. Esta turma era composta por 26 alunos frequentes de
ambos os sexos. Destes, 16 participaram integralmente do projeto, ou seja, das
aulas em sala de aula e na piscina, os demais apenas das aulas em sala de aula.
Quando questionados pelo professor o motivo pelo qual não queriam participar das
aulas na piscina, os mesmos justificaram sua ausência:
1 - Por orientação médica (epilepsia);
1 - Cuida de casa;
1 - Dificuldade com o horário e também alegou não gostar.
3 - Não gostam;
4 - Por motivos de trabalho;
Aulas 3 e 4 - Em sala de aula, com o auxílio de vídeos, foi ensinado sobre
algumas atividades aquáticas que, para sua execução necessitam dos
conhecimentos oriundos da natação, tais como: nado sincronizado; saltos
ornamentais, polo aquático e maratonas aquáticas. Por meio desses exemplos, o
professor salientou com relação aos perigos de se aventurar em qualquer atividade
no meio líquido, sem o domínio de alguns elementos da natação, pois a primeira
preocupação do ser humano dever ser com a sua segurança, e a partir daí, solicitou
aos alunos que pesquisassem em contra turno sobre outras manifestações
aquáticas que destacam a necessidade dos conhecimentos prévios da natação para
sua efetivação com segurança.
Aulas 5 e 6 - O professor solicitou aos alunos, que dispusessem suas
carteiras em círculo, para facilitar a visualização e exposição dos esportes aquáticos
pesquisados em contra turno na aula anterior, entre eles, foram citados o Surfe,
Body Board, Long Board, Kite Surf e Esqui Aquático. Após tal exposição, dividiu-se
os alunos em grupos de seis para a leitura e debate de alguns textos tais como:
Docência no ensino superior: construindo caminhos. Páginas 267 a 277. Dos
autores: Selma Garrido Pimenta, Léa das Graças Camargos Anastasiou e
Valdo José Cavallet.
Para ensinar educação física: Possibilidades de intervenção na escola.
Página 138 a 151. Dos autores: Suraya Cristina Darido e Osmar Moreira de
Souza Júnior.
Natação para Adultos: a adaptação ao meio aquático fundamentada no
aprendizado das habilidades motoras aquáticas básicas. Páginas 21 a 28.
Dos autores: Ester Francisca Mendes Bôscolo, Leandro Moraes Santos e
Sonia Lima de Oliveira.
Após a leitura, foram levantadas algumas questões sobre o atual contexto
social, político e educacional de nosso país, entre elas, a qualidade do ensino
público e da Educação Física em nossas escolas Estaduais e qual a relevância do
Processo de Ensino e Aprendizagem da Natação nas aulas de Educação Física.
Aulas 7 e 8 - Por meio do vídeo: O Homem e a Natureza a Procura de Água,
foram discutidos a relação do ser humano com a água, enquanto meio de
sobrevivência e alimentação, e a partir daí a evolução histórica da natação. Vídeo
disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=29jyu3pu2VQ
Aulas 9 e 10 – Com o auxílio do quadro de provas, utilizado nas olimpíadas
do Rio de Janeiro em 2016, o professor ensinou sobre os quatro estilos de nado:
Crawl, Costas, Peito e Borboleta.
Quadro 1 – Provas e estilos
M - MASCULINO F – FEMININO
M- 50m livre F- 50m livre
M- 100m livre F- 100m livre
M- 200m livre F- 200m livre
M- 400m livre F- 400m livre
M- 1500m livre F- 800m livre
M- 100 Costas, peito, borboleta F- 100 Costas, peito, borboleta
M- 200 Costas, peito, borboleta F- 200 Costas, peito, borboleta
M- 200 Medley F- 200 Medley
M- 400 Medley F- 400 Medley
M- Revezamento 4 X 100m livre F- Revezamento 4 X 100m livre
M- Revezamento 4 x 200m livre F- Revezamento 4 x 200m livre
M- Revezamento 4 x 100m medley F- Revezamento 4 x 100m medley
Fonte: Massaund (2008, p. 21)
Aulas 11 – Utilizando vídeos sobre a iniciação da natação, os alunos foram
instigados a destacar quais elementos eram considerados essenciais para
aprendizagem do ensino da natação, tais como: Adaptação ao meio líquido,
Flutuação, Deslize, Respiração, Mergulho, ondulação, saídas e viradas.
Aulas 12 e 13 – Nestas aulas, foi ensinado sobre o nado crawl e costas, com
o auxílio de vídeos educativos. No primeiro momento a braçada de crawl, respiração
e pernada, no segundo momento a braçada de costas, respiração e pernada.
Aulas 14 e 15 – Por intermédio de vídeos, o professor ensinou sobre o nado
peito: pernada, braçada, respiração, deslize, filipina e virada. Na sequência,
utilizando-se de bancos e colchonetes demonstrou como se efetivaria a progressão
desses movimentos simultaneamente. Os alunos aproveitaram o momento para
fazer algumas perguntas pertinentes ao estilo.
Aulas 16 e 17 – Nestas aulas, o professor concluiu a primeira etapa do
projeto, que foram as aulas teóricas (Bloco 1). Por meio de vídeos ensinou sobre o
nado borboleta e seus movimentos específicos, tais como; braçada, pernada,
ondulação, respiração e virada.
4.2 Aulas na piscina (Bloco 2)
As aulas na piscina, tiveram início no dia 15 de março de 2017, foi uma data
memorável, pois nesta tarde os alunos tiveram o primeiro contato com a água,
percebeu-se por parte deles uma grande alegria e certa ansiedade. Também ficou
nítido um certo constrangimento ao se apresentarem apenas com trajes de banho,
sentimento este, que logo foi superado ao fazer o reconhecimento da piscina,
andando em volta dela, observando sua largura, comprimento e profundidade, o
professor aproveitou o momento para relembrar as normas de segurança.
Aulas 18 e 19 – Deu-se início as atividades aquáticas por meio de exploração
do interior da piscina, andando em todas as direções, movendo os braços,
acelerando e desacelerando o ritmo das passadas, adaptando-se ao local. Após
esse primeiro contato com a água, o professor utilizou-se de atividades lúdicas para
ensinar a apneia e a respiração aquática.
Aulas 20 e 21 - O professor deu continuidade às atividades de interação com
o meio líquido iniciado na aula anterior, possibilitando aos alunos um maior período
de adaptação. Na sequência, ensinou a flutuação com diversas variações (decúbito
ventral e dorsal), utilizando-se de pranchas e espaguetes para maior segurança.
Aulas 22 e 23 – Nesta segunda semana, os alunos estavam mais seguros e
confiantes, podendo assim, iniciar a pernada do nado crawl, utilizando como apoio a
borda da piscina, e na sequência, com o uso da prancha e espaguete.
Aulas 24 e 25 – Foi revisado os exercícios de pernada da aula anterior, e
iniciou-se o deslize em decúbito ventral, dorsal e lateral com e sem o auxílio da
prancha. Nesta aula, o professor também ensinou a respiração frontal.
Aulas 26 e 27 – Retomados os exercícios de deslize da aula passada, o
professor avançou ensinando a respiração unilateral e bilateral do nado crawl, com o
auxílio da prancha, executando a pernada do nado.
Aulas 28 a 31 – Nesta semana, o professor reforçou os exercícios da aula
anterior: flutuação, pernada de crawl, respiração frontal e lateral. Na sequência,
iniciou a braçada do nado crawl, utilizando-se de diversos exercícios educativos com
e sem o auxílio de pranchas e flutuadores.
Aulas 32 e 33 – Foi ensinado, mediante demonstração na piscina, a
ondulação e o mergulho utilizado na saída do nado crawl. O professor aproveitou
para aperfeiçoar o nado, com educativos para pernada, braçada e respiração com e
sem utilização de material.
Aulas 34 a 37 – Nessas quatro aulas, foi revisado os exercícios de braçada e
pernada do nado crawl. Após finalizá-los, solicitou-se aos alunos que realizassem o
nado completo. Prosseguiu-se com a explicação sobre a pernada, braçada e
respiração do nado costas, desenvolvendo e demonstrando na piscina alguns
exercícios para os alunos.
Aulas 38 a 41 – Estas foram as últimas aulas do projeto, o professor enfatizou
especificamente o nado crawl e a coordenação da braçada e pernada do nado
costas. Os demais estilos (peito e borboleta), foram contemplados no Bloco 1, pois o
período de implementação de três meses estipulado pelo Programa PDE havia se
esgotado, desta forma, finalizou-se a segunda etapa do projeto (bloco 2).
4.3 Contratempos
Como citado no item 3.1 – As aulas práticas foram desenvolvidas em uma
piscina particular, onde era necessário a apresentação da carteirinha com foto e
exame médico para identificação dos alunos. Este fato atrasou o início das aulas na
piscina (Bloco 2), pois alguns alunos demoraram para fornecer a foto de
identificação, o professor fotografou os mesmos, e imprimiu a foto diretamente na
carteirinha, para acelerar o processo.
Outra questão foi o clima, enfrentamos duas semanas de frio e chuva no
decorrer da implementação, como a piscina não dispõe de cobertura e aquecimento,
acabou atrasando o término do projeto, motivo este, que obrigou a prorrogarmos as
aulas na piscina por mais duas semanas.
4.4 Impacto e Resultados da Aprendizagem
Durante esses três meses na piscina, ocorreram diversos fatores relevantes
que o professor pôde observar. Dentre eles, o fato de dois alunos demonstrarem
muito medo de água, principalmente nas atividades de respiração e deslize, o que
exigiu o dobro de atenção por parte do professor.
Conversando com esses alunos, o professor procurou incentivá-los e a partir
daí o ensino passou a ser dividido, os que estavam com dificuldades, fizeram as
atividades de flutuação em dupla, em um ritmo mais lento, garantindo assim, o
aprendizado com segurança.
Por outro lado, o grupo que praticamente não demonstrou medo, obteve um
grande progresso, aprendendo o nado crawl de forma rudimentar, com iniciação ao
nado costas.
Mas de modo geral, houve uma grande evolução em aquisição de
conhecimentos pelo grupo, pois além do nadar propriamente dito, puderam aprender
sobre a inter-relação do homem com a água, nos processos históricos da caça e da
pesca nas situações de sobrevivência. Nos dias atuais há uma grande relevância em
preservar o meio ambiente pelo uso consciente da água; outro fator preponderante
neste projeto, foi o debate das questões sócio culturais e políticas contemporâneas,
que obstaculizam o ensino de qualidade em nossas escolas públicas estaduais.
Segundo relato dos alunos, foi a melhor experiência que tiveram em suas
vidas na trajetória escolar até o presente momento e gostariam que o projeto
continuasse, pois apesar de cansativo, era uma atividade muito gratificante, que
superou suas expectativas. Outro fator significativo foi a apropriação dos
conhecimentos das aulas teóricas que embasaram e possibilitaram aos dez alunos
que não participaram das aulas práticas de aprenderem sobre a natação.
Relato dos alunos:
Aluno 1: “No projeto da natação, eu vivi uma das melhores experiências, pois foi fundamental
para que eu pudesse me soltar na água. Com a ajuda do professor, consegui alargar minha
visão sobre o mundo da natação...”/ Aluno 2: “O projeto da natação, foi algo novo para todos
os alunos. Foi um esporte novo e também desafiador, já que muitos de nós não sabiamos
nadar... o projeto trouxe bons resultados, muitos saíram de lá sem medo da água, aprendendo
a nadar, é um projeto que deveria ser incluído em vários colégios...”/ Aluno 3: “No processo de
Ensino e Aprendizagem da Natação, para mim foi uma experiência impressionante, eu
confesso que no começo eu tive algumas dificuldades, mas ao passar das aulas eu fui
evoluindo cada vez mais, agora eu tenho menos medo de entrar numa piscina, num rio, porque
eu aprendi coisas nesse processo que eu não ia aprender sem a ajuda do Projeto da
Natação...”/ Aluno 4: “... queria muito participar das aulas práticas na piscina, mas isso era
praticamente impossível para mim, já que eu sou morador da zona rural e trabalho no sítio
cuidando de diversos tipos de animais. Mas mesmo assim eu pude aprofundar no mundo da
natação, a importância dela na nossa saúde, os estilos de nado e a natação dentro dos
esportes olímpicos etc...”
Pudemos perceber nos relatos dos alunos, a importância deste projeto em
sua formação humana e a necessidade do professor de Educação Física em
transcender a organização educacional independente da falta de estrutura em que
se encontra as Escolas Públicas Estaduais, o que inúmeras vezes desencoraja os
professores e alunos a ensinarem e aprenderem sobre novos conteúdos nas aulas
de Educação Física.
Entendemos que esta disciplina contempla diversos saberes: esportes, lutas,
danças, ginástica, jogos e brincadeiras, cujos conteúdos precisam ser ensinados e
aprofundados, pois influenciam nos fatores intelectuais, sociais e culturais do
educando. Além disso, tais conhecimentos, ultrapassam a simples execução de
gestos técnicos, garantindo a aprendizagem para os alunos, os quais, terão a
oportunidade de compreender o que estão realmente realizando.
4.5 Socializando a prática com os professores da rede
Simultaneamente à implementação deste projeto que sucedeu no terceiro
período do Programa de Desenvolvimento Educacional entre fevereiro e julho de
2017, ocorreu a formação continuada do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), curso
este, que é ofertado aos professores das diversas disciplinas da rede pública
estadual, na modalidade a distância. O professor PDE assume a função de
Professor Tutor do seu Projeto, diante dos demais professores da Rede Pública
Estadual que se inscreverem para participar do mesmo.
Os professores inscritos no GTR tomam conhecimento das produções:
Projeto Pedagógico e Unidade Didática e a partir dele, apropriam-se dos conteúdos,
procurando evidenciar os pontos fortes e frágeis do projeto e implementar em sua
realidade escolar, fazendo as adaptações quando necessário. O grupo de trabalho
em rede, teve início no dia 10 de abril e se encerrou no dia 29 de junho.
Inscreveram-se 11 alunos, sendo que, apenas 8 concluíram. Este curso foi dividido
em três módulos, sendo eles:
Módulo 1 - Aprofundamento teórico, o qual tem como objetivo promover
o aprofundamento teórico.
Módulo 2 - Projeto de Intervenção Pedagógica e a Produção Didático
Pedagógica. Neste momento é feita a leitura do material indicado para
que seja analisado, discutido e gere contribuições.
Módulo 3 – Cujo objetivo é a análise da implementação do projeto de
intervenção. Este é o momento de refletir sobre teoria e a prática,
avaliar se os procedimentos previstos no projeto estão condizentes
com a realidade do ambiente educacional.
Foi valiosa essa troca de experiência, pois cada professor pôde apontar as
potencialidades e fragilidades deste projeto, que foi encarado de forma positiva para
o aperfeiçoamento do mesmo. Além disso, houve muitos apontamentos quanto a
precariedade das estruturas físicas dos colégios estaduais, assim como a falta de
compreensão do verdadeiro papel da Educação Física escolar por parte de alguns
professores. Abaixo apresentamos o relato de alguns professores.
Relato dos professores
Professor 1: “Eu vejo a Educação Física como um mapa do Brasil, e sempre uso esse exemplo
com meus alunos. Assim como a professora de geografia não deve deixar de mostrar o
Norte/Leste/Oeste porque moramos no sul, nós da Educação Física também não devemos
deixar de ensinar sobre o que não está completamente ao nosso alcance, todos os conteúdos
são importantes e deixar de passar qualquer um que seja, é de certa forma, subestimar nossos
alunos, temos que ter respeito com todos os conteúdos e tentar trabalhar com todos da
melhor forma possível...”/ Professor 2: “Trabalho na rede estadual desde 2015, e sempre
trabalhei o conteúdo de natação. Sou professora municipal também, e uma de minhas funções
no município é ministrar as aulas de natação no Centro da Juventude, o que facilita muito e
também me motiva a trabalhar o conteúdo, já que a escola em que eu trabalho não possui
piscina. Nas aulas em sala trabalho toda a parte histórica, diferenças de conceitos, tipos de
nados, orientações de segurança, cuidados necessários, vestimentas adequadas, entre outros,
por meio de apresentação de slides, imagens e vídeos. As aulas práticas são realizadas no
Centro em contra turno. Com base nessa experiência, muito positiva, posso dizer que é
possível trabalhar o conteúdo mesmo que na ausência da possibilidade de práticas...”/
Professor 3: “... Incentivo, essa é a palavra pois em uma escola alguns itens são essenciais
para o bom funcionamento e desenvolvimento da instituição como um todo, sendo assim,
planejar e organizar espacialmente de maneira correta a infraestrutura de uma escola pode
contribuir para um processo de aprendizagem com qualidade. Mas podemos identificar que,
muitas escolas possuem recursos materiais precários e utilizados de forma "adaptável" pelo
professor. Ainda sim, mesmo com a inexistência e/ou insuficiência tanto de espaço como
recursos didáticos, as aulas não deixam de ter influência na vida escolar do aluno, influência
essa que serve de alerta ao Estado para manutenção ou melhoria nos espaços e nos materiais
para um melhor desenvolvimento da disciplina Educação Física, componente curricular
obrigatório na educação básica...”/ Professor 4: “Conforme o Professor PDE sugere, o ensino
da natação como conteúdo específico, garantindo aos alunos o direito de acesso e de reflexão
sobre esse esporte... acredito que é um conteúdo de fundamental importância, pelas suas
variadas finalidades, seja social, esportiva, de lazer, de prevenção ou reabilitação. E o
conteúdo sendo disseminado mesmo que de forma apenas teórica, pode vir a contribuir de
forma significativa no aprendizado dos educandos. Se a prática fosse possível ser aplicada
paralelamente, enriqueceríamos ainda mais a fixação do conteúdo natação. Mas esbarramos
na infraestrutura precária, não apenas para a natação...”
Percebe-se que os professores, em linhas gerais, concordam em ensinar a
Natação, mesmo que seja apenas em sala, pois reconhecem a relevância deste
conteúdo, mas acreditam que se conseguirem mesclar o ensino em sala de aula
com as aulas na piscina, o ensino se torna mais significativo.
4.6 Materiais utilizados
Na escola: televisor, notebook, celular, colchonetes e banco escolar.
Na piscina: flutuador, prancha, aquatube, bola de volei e pedra brita.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos neste artigo, que o principal papel da Escola (Educação) e da
Educação Física, não se resume a mera formação de profissionais para manutenção
e preservação dos sistemas políticos, econômicos e sociais vigentes, mas que
engloba a construção da cidadania, pois é fundamental ofertar aos alunos novas
perspectivas culturais, que possibilitem ampliar seus horizontes e dotá-los de
autonomia intelectual, garantindo o acesso aos conhecimentos historicamente
construídos e a produção de novos conhecimentos. (BRASIL, 2013).
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de Educação Física, “a escola
deve incentivar a prática pedagógica fundamentada em diferentes metodologias,
valorizando concepções de ensino, de aprendizagem [...].” (PARANÁ, 2008, p. 15).
Neste sentido, tanto a Escola quanto à Educação Física tem a função de:
Formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade. (PARANÁ, 2008, p. 31).
Dessa forma, a Educação Física deve ter o compromisso de oportunizar
situações de Ensino e Aprendizagem que sejam relevantes na formação dos
educandos, “[...] o conhecimento escolar só poderá vir a ser um conhecimento
significativo e existencial na vida dos cidadãos se ele chegar a ser incorporado pela
compreensão, exercitação e utilização criativa” (LUCKESI, 1990, p.131).
Com base na implementação deste projeto, e nas discussões oriundas do
GTR, ficou evidente que é fundamental o ensino da natação, mesmo em situações
adversas. Para isto, é imprescindível que o professor na elaboração de seu plano de
trabalho docente, planeje qual o método de ensino que será utilizado para atingir tal
finalidade, assegurando aos alunos os conhecimentos esperados pela Educação
Física Escolar. Sendo assim, convidamos os professores que tiverem acesso a este
artigo, a desvelarem os conteúdos aqui apresentados.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-lei n° 9,394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, D.F., 19 de mar. 2015. Disponível em: <http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/proen/ldb_11ed.pdf>. Acesso em: 20 maio 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file>. Acesso em 03 nov. 2017.
DARIDO, Suraya Cristina; SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de. Para ensinar educação física: Possibilidades de intervenção na escola. 5. ed. Campinas: Papirus, 2007. 348 p.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 263 p.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1990. 183 p.
MASSAUD, Marcelo Garcia. Natação, 4 nados: aprendizado e aprimoramento. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. 220 p.
MORAIS, Regis de. O que é ensinar. São Paulo: EPU, 1986. 80 p.
OLIVEIRA, Thiago A. C. de. et al. Análise sistêmica do nado Crawl. Brazilian Journal of Motor Behavior, São Paulo, v. 4, n. 1. 2009. Disponível em: <http://www.socibracom.com/bjmb/index.php/bjmb/article/view/20/17>. Aceso em: 16 mar. 2016.
PALMA, Ângela Pereira Teixeira Victoria. et al. Educação física e a organização curricular: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010. 252 p.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Física. Curitiba, 2008.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das graças Camargo. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. 280 p.
SALADINI, Ana Cláudia. A educação física e a tomada de consciência da ação motora da criança. 2006. 224 fls. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2006.