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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISCURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

CERTIFICAO AMBIENTAL NA CONSTRUO CIVIL SISTEMAS LEED E AQUA

Vinicius Fares Leite

Belo Horizonte 2011

Vinicius Fares Leite

CERTIFICAO AMBIENTAL NA CONSTRUO CIVIL SISTEMAS LEED E AQUA

Monografia de Graduao defendida perante a banca examinadora, como parte dos requisitos necessrios aprovao na disciplina Trabalho Integralizador

Multidisciplinar III (TIM III) do Curso de Graduao de Engenharia Civil.

Orientador: Dalmo Lcio Mendes Figueiredo

Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2011

AGRADECIMENTOSAos meus familiares pelo amor incondicional, toda pacincia e carinho com os quais sempre contei. Sem este suporte nada disto seria possvel. A Carolina, companheira que sempre esteve ao meu lado e que mesmo distante me deu foras para nunca desistir e seguir sempre em frente. Sua dedicao e perseverana sempre foram uma fonte de inspirao para mim. A universidade representada pelo corpo docente e pelos vrios colegas e amigos que encontrei na UFMG. Os aprendizados e estudos foram fundamentais em todo o processo. Agradeo a todo os incentivos dos professores e ao companheirismo dos colegas principalmente nas horas dedicadas ao estudo dos diversos contedos. A caminhada foi plena e a vivencia vai deixar saudades. Ao meu professor e orientador, Dalmo Lcio Mendes Figueiredo, pessoa que esteve sempre presente quando precisei, abrindo portas que foram fundamentais a minha formao profissional.

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RESUMOO trabalho tem como objetivo entender o papel da certificao ambiental na construo civil, fazendo uso das duas certificaes ambientais mais utilizadas na construo civil brasileira, o LEED (Lidership in Energy and Environmental Design) e o Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental). Ser realizada toda a fundamentao do desenvolvimento sustentvel e como ele evoluiu at os dias de hoje, sendo apresentados conceitos relativos a construo sustentvel, Green Building, e sistemas de avaliao ambiental. Ser realizada a definio e compreenso do estrutura, metodologia de aplicao e fases das duas certificaes, servindo para uma comparao entre as duas. Sero apresentados dois estudos de caso, um representando a certificao LEED e outro a certificao Processo AQUA, o que resultar em uma anlise dos pro e contras de cada um dos certificados.

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ABSTRACTThe study aims to understand the role of environmental certification in construction, making use of the two most widely used environmental certifications in Brazilian civil construction, the LEED (Lidership in Energy and Environmental Design) Process and AQUA (Alta

Qualidade Ambiental). Will be held throughout the grounds of sustainable development and how it evolved to the present day, being presented concepts relating to sustainable construction, green building, and environmental assessment systems. Will be held the definition and understanding of the structure, methodology and phases of the

two certifications, serving for a comparison between the two. Will be presented two case studies, one representing the LEED certification and other AQUA, which will result in an analysis of pro and cons of each of the certificates.

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SUMRIOLISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................................... V LISTA DE QUADROS........................................................................................................................................ VI LISTA DE GRAFICOS ...................................................................................................................................... VI LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS ............................................................................... VII 1 INTRODUO E JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 1 1.1 1.2 2 3 EVOLUO DA CONSCINCIA AMBIENTAL ................................................................................................ 1 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................................... 4

OBJETIVO ................................................................................................................................................... 6 REVISO DA LITERATURA ................................................................................................................... 7 3.1 SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUO CIVIL .............................................................................................. 7 3.1.1 Introduo ....................................................................................................................................... 7 3.1.2 Construo Sustentvel ................................................................................................................... 8 3.1.3 Green Building ou Edifcio Verde ................................................................................................... 9 3.1.4 Boas Praticas de uma Construo Sustentvel ............................................................................. 10 3.1.5 Ciclo de vida de um Edifcio .......................................................................................................... 12 3.1.6 Tornando a construo Civil Sustentvel ...................................................................................... 13 3.2 SISTEMAS DE AVALIAO DA CONSTRUO SUSTENTVEL.................................................................... 18 3.2.1 Surgimento dos Instrumentos de Avaliao................................................................................... 18 3.2.2 Caractersticas dos Sistemas de Avaliao ................................................................................... 20 3.2.3 Objetivos dos Sistemas de Avaliao Sustentvel ......................................................................... 21 3.2.4 Vantagens da Certificao Ambiental ........................................................................................... 22 3.2.5 Metodologia de Avaliao da Certificao Ambiental .................................................................. 23 3.3 CERTIFICAO LEED .............................................................................................................................. 23 3.4 CERTIFICADO AQUA ............................................................................................................................... 27

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LEED X AQUA .......................................................................................................................................... 35 ESTUDOS DE CASO ................................................................................................................................ 38 5.1 CENTRO CULTURAL MAX FEFFER LEED .............................................................................................. 38 5.1.1 Iniciativas sustentveis .................................................................................................................. 38 5.1.2 Certificao ................................................................................................................................... 41 5.2 LEROY MERLIN EM NITERI AQUA ..................................................................................................... 41 5.2.1 Iniciativas sustentveis .................................................................................................................. 42 5.2.2 Certificao ................................................................................................................................... 44

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CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................................... 46

REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS............................................................................................................... 48 REFERNCIAS ELETRONICAS .................................................................................................................... 49 ANEXO ................................................................................................................................................................ 50

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LISTA DE FIGURASFigura 1- Evoluo dos Eventos relacionados ao Desenvolvimento Sustentvel ..................... 4 Figura 2 - Trip da Sustentabilidade........................................................................................... 7 Figura 3 - Qualidade de um Edifcio Verde ............................................................................. 10 Figura 4 - Construo Sustentvel Itaborai .............................................................................. 15 Figura 5 - Sistema de reaproveitamento de gua de chuva ...................................................... 16 Figura 6 - Cores de Identificao da Coleta Seletiva ............................................................... 17 Figura 7 - Manta sustentvel para piso flutuante ...................................................................... 17 Figura 8 - Gesto de Residuos no canteiro de obras................................................................. 20 Figura 9 - Niveis de certificao LEED ................................................................................... 24 Figura 10 - Aspectos relevantes do Sistema de Gesto do Empreendimento .......................... 30 Figura 11 - Energias renovveis e aproveitamento iluminao natural.................................... 32 Figura 12 - Sistemas economizadores de gua ......................................................................... 33 Figura 13 - Centro Cultural Max Feffer ................................................................................... 38 Figura 14 - Parede de Tijolo solo cimento e Estrutura em bambu e eucalipto do telhado ....... 39 Figura 15 - Parede Trombe ....................................................................................................... 40 Figura 16 - Sistema de iluminao de clulas fotovoltaicas e LED ......................................... 41 Figura 17 - Loja Leroy Merlin de Noteroi ................................................................................ 42 Figura 18 - sistema combate enchentes e Caixa dgua de armazenamento de agua da chuva . 43 Figura 19 - Painis fotovolver e Refletores com LED ............................................................. 43 Figura 20 - Fachada em vidros e quebra brisa .......................................................................... 44 Figura 21 - Coleta seletiva e Cartazes ...................................................................................... 45

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LISTA DE QUADROSQuadro 1- Principais reas Ambientais de Interveno para a Construo Sustentvel ......... 14 Quadro 2 - reas chave e Critrios da Certificao LEED ...................................................... 25 Quadro 3 - Categorias da certificao LEED ........................................................................... 26 Quadro 4 - Custo certificao LEED........................................................................................ 27 Quadro 5 - Beneficios do Processo AQUA .............................................................................. 28 Quadro 6 - 14 categorias do Processo AQUA .......................................................................... 31 Quadro 7 - Custo do Processo AQUA ...................................................................................... 34 Quadro 8 - Diferenas na estruturao do processo LEED e AQUA....................................... 35 Quadro 9 - Diferentes caracteristicas do processo LEED e AQUA ......................................... 36 Quadro 10 - Avaliao das 14 categorias do LEED da loja Leroy Merlin ............................... 44

LISTA DE GRAFICOSGrafico 1 Distribuio da gua doce no planeta .................................................................... 11 Grafico 2 - Ponderaes dos Sistemas de Avaliao ambiental ............................................... 21 Grafico 3 - Percentuais de certificaes LEED registradas at 09/11/2011 ............................. 26 Grafico 4 - Exigncia minima para certificao no Processo AQUA ...................................... 31 Grafico 5 - Ponderaes dos aspectos dos processos LEED e AQUA..................................... 37

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOSAsbea Associao Brasileira dos Escritrios de Arquitetura AQUA Alta Qualidade Ambiental ACV Anlise do Ciclo de Vida BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment Method BEPAC Building Environmental Performance Assessment Criteria CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CEF Caixa Econmica Federal CASBEE Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency Cal-Arch California Building Energy Reference Tool GBCB Green Building Council do Brasil GBCI Green Building Council Institute HQE Haute Qualit Environnemetale IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas LEED Lidership in Energy and Environmental Design LED Diodo Emissor de Luz NABERS National Australian Buildings Environmental Rating System ONU Organizao das Naes Unidas QAE Qualidade Ambiental do Edifcio SGE Sistema de Gesto do Empreendimento Secovi Sindicato da Habitao e Condominios USGBC U.S. Green Building Council UNCED Comisso Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente VOC Compostos Orgnicos Volteis USD Dlar Americana

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1 INTRODUO E JUSTIFICATIVA1.1 Evoluo da Conscincia Ambiental

Na idade das pedras, onde o ser humano vivia como nmade, o mesmo tinha no meio em que vivia tudo o que lhe era necessrio vida. Nesta linha de tempo o ser humano no altera o meio ambiente, apenas usa o que ele lhe oferece para sua sobrevivncia. Com o advento da agricultura e tcnicas construtivas que permitiram a substituio dos abrigos naturais por construdos pelo homem a vida em sociedade se desenvolveu. Adicionado a evoluo do pensamento e tecnolgica pode-se dar um grande salto de tempo alcanando a revoluo industrial. Relativo ao consumo dos recursos naturais a Revoluo Industrial no Sec. XVIII representa uma mudana significativa. A maquina a vapor, grandes reservas naturais de carvo mineral, desenvolvimento do ferro e ao, o desenvolvimento do comercio de produtos foram marcos da poca. No se consome mais recursos na velocidade do consumo humano e sim na velocidade de produo das maquinas. A sociedade voltou-se para produo e consumo, as tcnicas avanaram cada vez mais e o produtos tinham seus custos reduzidos favorecendo cada vez mais o aumento do consumo e comercio. Foi neste continuo crescimento do consumo de recursos que as sociedades se desenvolveram. Setores produtivos e publico tem sido exigidos em termos de maiores ndices de produo, de uso e descarte dos produtos. As conseqncias desta maneira de viver e pensar surgiram e algumas delas nos afronta at mesmo nos dias de hoje, como o aumento da poluio, degradao ambiental, xodo rural e crescimento desordenado das grandes cidades. Os primeiros relatos de problemas ambientais datam do Sec. XVIII, sendo processos localizados, considerados no importantes. Foi s na dcada de 70 que a questo ambiental comeou a ter destaque maior. Em 1962 o livro Silent Spring de Rachel Carson apontava os impactos dos desastres ambientais para o mundo e a vulnerabilidade da natureza diante da interveno humana. Surgiram neste perodo organizaes como o Greenpeace e o Friends of Earth, sendo vistos como fanticos e extremistas na poca (Gouvinhas R. P. et al).

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A questo ambiental se tornou verdadeiramente uma questo global na Conferencia de Estocolmo em 1972 na Sucia. Ela inseriu na agenda da poltica mundial o tema de forma definitiva uma vez que os fenmenos passaram a ser entendidos de forma global. Relativo ao impacto ambiental as aes que um pais toma podem afetar toda uma regio ou at planeta se levado em considerao o tempo de alcance das conseqncias ambientalmente irresponsvel. O aniversrio de dez anos da Conferencia de Estocolmo aconteceu em Nairbi, promovido pela ONU, e na poca foi constatado que o agravamento das questes ambientais globais indicava que a economia global j havia excedido em algumas reas a capacidade de assimilao da natureza (Gouvinhas R. P. et al). Em 1987 a Comisso Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente (UNCED) produziu relatrio conhecido como Nosso Futuro Comum ou Relatrio de Bruntland. Foi apresentado no Relatrio de Bruntland estudos baseados no equilbrio entre o desenvolvimento e a preservao dos meio ambiente que apontam para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentvel e os padres de produo e consumo vigentes. Neste documento surgiu o conceito de desenvolvimento sustentvel, alicerado na proteo ambiental, estabilidade econmica e responsabilidade social, sendo conceituado como:... desenvolvimento que satisfaz as necessidade atuais sem comprometer a habilidade das futuras geraes de encontrar as suas (Bruntland apud Lagerstedt, 2000)

de uma atitude

O impacto ambiental foi objeto de discusso mais significativo e real nos anos 90. Somente ento a sociedade em geral passou a discuti-lo, e no mais somente os chefes de estado, empresrios, grupos de ambientalistas e comunidade cientifica. Como conseqncia destas discusses e eventos que sucederam o Relatrio de Bruntland aconteceu em 1992 a Eco-92 ou Conferncia do Rio ou ainda Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD). Ela foi responsvel pela consagrao do desenvolvimento sustentvel, sendo a primeira vista, de grande interesse internacional, o que no se confirmou quando os EUA dificultaram a implantao do cronograma sobre emisso de CO2 e no assinaram a conveno sobre a biodiversidade. A Eco-92 gerou como documentos oficiais a Carta da Terra, Declarao sobre Florestas, Conveno sobre a Diversidade Biolgica, Conveno Quadro sobre Mudanas Climticas e a Agenda 21.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 2

A Carta da Terra ou Declarao do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento continha 27 princpios bsicos que buscavam uma nova e justa parceria global mediante a criao de novos nveis de cooperao entre os pases, envolvendo tambm setores mais importantes da sociedade e a populao. A Conveno Quadro sobre Mudanas Climticas tinha o intuito de estabilizar os nveis de concentrao dos gases causadores do efeito estufa. A Agenda 21 um amplo programa de ao com finalidade de dar efeito pratico aos princpios estabelecidos e aprovados na Declarao do Rio. Ela est estruturada em quatro sees: Dimenses sociais e econmicas (polticas), Conservao e gesto dos recursos para o desenvolvimento (Manejo), Fortalecimento do papel dos principais grupos sociais (Participao) e Meios de implantao (mecanismos financeiros e jurdicos). Outro evento que ocorreu ainda nos anos 90 com maior destaque foi o Protocolo de Kyoto para a Conveno das Naes Unidas sobre Mudanas do Clima, em dezembro de 1997. Ele representou o histrico ponto de redefinio dos padres de crescimento mundial ao incorporar a primeira definio oficial, baseada em dados cientficos, do conceito de desenvolvimento sustentvel (Gouvinhas R. P. et al). Aps dez anos da Eco-92 ocorreu o Rio+10, evento que teve como objetivo reavaliar as propostas apresentadas na Agenda 21 e redefinir as aes capazes de garantir as necessidades econmicas e sociais da humanidade. Prximo de acontecer h a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, apelidada de Rio+20. Ela busca discutir mundialmente meios de transformar o planeta em um lugar melhor. A Figura 1 traz resumidamente alguns dos mais importantes eventos relacionados a evoluo do desenvolvimento sustentvel, sedo alguns deles explanados de forma mais detalhada na parte introdutria do trabalho.

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Figura 1- Evoluo dos Eventos relacionados ao Desenvolvimento Sustentvel Fonte: CORACINI M. C., 2011

Toda esta mudana de pensamento em relao a utilizao do recursos naturais e formulao de propostas que visam concretizar o desenvolvimento sustentvel, levaram a uma evoluo que no tem mais volta. Em todos os pases existem rgos, comisses e conselhos especialmente voltados para a questo da implantao do desenvolvimento sustentvel, legislaes so criadas e regulamentadas, novos produtos so pensados de forma a eliminar ou minimizar o impacto ambiental, produtos so tratados considerando o seu ciclo de vida. H tambm um valor agregado ao produto dito sustentvel que tem sido cada vez mais valorizado no mercado.

1.2

Justificativa

A construo civil hoje um dos mais importantes setores da economia brasileira e seu crescimento traz consigo toda uma cadeia de empresas ligadas a produo dos insumos e servios. Consequentemente seu macrosetor responsvel por um grande consumo de materiais, emisso de gases, uso de energia e gua. Estima-se os processos de construo e manuteno de edifcios consomem 40% da energia mundial. Sendo assim a potencialidade de praticas sustentveis atingirem grandes escalas e se tornarem eficazes existe na construo civil.

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Dentro deste quadro a certificao ambiental um instrumento interessante que possui grande potencial de implementar melhores praticas sustentveis no setor. Ela cria e cobra condies dos empreendimentos os tornando sustentvel e atingem tambm os setores que servem de apoio. O Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel, criado em 2007 com o objetivo de difundir a utilizao de praticas sustentveis no setor da construo civil, trazendo qualidade de vida aos usurios, trabalhadores e ambiente em torno da edificao, reconhece a certificao como meio de contribuio para o desenvolvimento sustentvel no setor da construo civil. Verifica-se hoje no mercado da construo civil algumas praticas j incorporadas na direo da sustentabilidade. Praticas gerenciais que visam a reduo dos custos muitas vezes so tambm praticas que reduzem o consumo de energia. O que se observa depois de quase 20 anos da ECO-92 que a sustentabilidade vem sendo enxergada no s como medida conservacionista e ambiental mas tambm como uma oportunidade de combater o desperdcio, reduzir custos, aprimorar processos, inovar e desenvolver novos negcios. Dada a importncia da construo civil e sua grandiosidade no que envolve materiais, servios e pessoas, justifica-se a fundamental importncia na implementao e valorizao da certificao ambiental no setor. Desta forma sero analisadas e comparadas duas certificaes utilizadas no Brasil, LEED (Lidership in Energy and Environmental Design) desenvolvida nos Estados Unidos e AQUA (Alta Qualidade Ambiental) certificao brasileira baseada na francesa HQE (Haute Qualit Environnemetale). Conhecer as certificaes utilizadas na construo representa conhecer o que tem sido aplicado no mercado, e para onde est se direcionando o futuro, considerando o desenvolvimento sustentvel como inevitvel. O conhecimento e a comparao das duas certificaes utilizadas no Brasil tem como objetivo responder a perguntas como: O que se significa ter certificado ambiental? Qual certificao melhor adequada? Quais os ganhos diretos e indiretos da certificao ambiental? Quem ganha com a certificao ambiental?

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2 OBJETIVOO presente trabalho visa a compreenso do que representa a certificao ambiental de forma geral e especifica para o setor de construo civil. Entender a sua evoluo, qual a sua importncia e aplicabilidade. Ser realizado um estudo sobre as duas certificaes aplicadas no Brasil, a LEED e AQUA. Atravs dele se pretende num primeiro momento conhecer os parmetros e premissas de cada uma e assim fundament-las. Posteriormente uma comparao entre elas ser produzida, buscando reconhecer suas caractersticas divergentes e convergentes. Como forma de materializar toda pesquisa bibliogrfica que ser realizada sobre os fundamentos e as certificaes ambientais LEE e AQUA, estudos de caso de cada uma delas ser apresentado, possibilitando assim uma melhor instrumentao para o desenvolvimento de consideraes finais sobre o tema. Com todo este conhecimento adquirido pretende-se com este trabalho agregar conhecimento de forma a garantir a correta analise e aplicao da certificao ambiental. percebido que no mercado da construo civil a certificao ambiental tem sido cada vez mais valorizada e para a formao profissional plena a oportunidade de estudar e desenvolver o tema ainda na graduao muito valida.

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3 REVISO DA LITERATURA3.13.1.1

Sustentabilidade na construo civilIntroduo

A aplicao sistemtica do conhecimento cientifico na resoluo de questes praticas da industria, agricultura e medicina possibilitou nos ltimos 250 anos um desenvolvimento que dobrou a expectativa de vida e levou a populao mundial ao impressionante numero de 7 bilhes em 2011. fato tambm que houve alterao significativa do planeta, o que ameaa a sobrevivncia da humanidade. Mudanas climticas, aumento na camada de oznio, gerao de resduos, poluio do ar e escassez de gua so alguns dos problemas que se agravaram nestes ltimos 250 anos. Mesmo com todo o desenvolvimento alcanado cerca de 25% da populao mundial considerada pobre e dentro desta parcela cerca de um bilho e meio de pessoas vive com menos de U$ 1,25 por dia (ONU 2011), tambm 26% das crianas dos pases em desenvolvimento enfrentam problemas de subnutrio. Dentro desta tica compreendido que o desenvolvimento sustentvel deve abranger a questo ambiental, econmica, a melhoria das questes sociais. Este trip da sustentabilidade (Figura 2), representa o quo importante o tema uma vez que ele lida com questes relativas ao consumo, sade, recursos, custos, durabilidade, e outras aes fundamentais a manuteno da vida.

Figura 2 - Trip da Sustentabilidade Fonte: entropialivre.blogspot.com

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No que diz respeito ao enfrentamento do problema ambiental pode-se dizer que o mesmo acontecer a partir de uma mudana de pensamento, hbitos, padres de consumo e tcnicas produtivas. preciso implementar a sustentabilidade de forma a abranger cada vez mais setores de economia e atingir tambm a prpria populao. Infelizmente ainda so poucas as pessoas que perceberam que atos do dia a dia so bastante impactantes no que diz respeito a sustentabilidade. O fato de se optar por morar em uma casa menor, por um carro ou produto mais ambientalmente correto e de simplesmente desligar a luz quando a mesma no for mais necessria est relacionado diretamente a opo por um mundo mais sustentvel. Dentro deste quadro complexo onde se busca a proteo ambiental, viabilidade econmica e justia social, a construo civil tem talvez um dos papeis mais importantes. no setor da construo civil onde se emprega grande parte da mo de obra, se consome a maior parte dos recursos naturais, energia e gua.

3.1.2

Construo Sustentvel

Uma edificao vista em todo o seu ciclo de vida gera resduos, consome energia, materiais e produtos, emite gs carbnico na atmosfera, emprega, gera renda e impostos. Sendo assim tem um grande potencial no que diz respeito a implementao efetiva do desenvolvimento sustentvel. Construir sustentavelmente significa reduzir o impacto ambiental, diminuir o retrabalho e desperdcio, garantir a qualidade do produto com conforto para o usurio final, favorecer a reduo do consumo de energia e gua, contratao de mo de obra e uso de materiais produzidos formalmente, reduzir, reciclar e reutilizar os materiais. preciso pensar a construo no que diz respeito a sua questo econmica, social e ambiental de forma conjunta, s assim se atinge de fato a sustentabilidade. O aproveitamento da energia solar e gua de chuva, utilizao de ventilao e luz natural so boas praticas sustentveis que esto relacionadas com os trs campos. A utilizao da energia solar no deve ser vista somente como retorno de investimento capital, mas tambm como forma de contribuir para a conservao do meio ambiente e agregar valor social. Busca-se avaliar nas aes sustentveis todo o ciclo de vida do edifcio. Da escolha do local e concepo do projeto ate o produto final entregue, todos os envolvidos, incorporadores,Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 8

rgos pblicos, construtores, trabalhadores, fornecedores, consumidores e sociedade devem estar engajados no objetivo de garantir a vida para as geraes futuras. importante dizer que a diversidade relacionada as condicionantes de uma obra so infinitas e consequentemente no existe uma nica soluo para tornar real a construo sustentvel. Muda-se a localidade, condio climtica, disponibilidade de materiais, qualidade da mo de obra, situao econmica e deslocamentos de cada obra sem muita dificuldade. Logo a forma de garantir que no haja agresso ao meio ambiente planejar todas as etapas da construo buscando sempre reduzir os impactos e garantir a justia social dentro do oramento disponvel (JOHN, 2010). Analise de ciclo de vida, responsabilidade social e mudana climtica representa um novo vocabulrio oriundo de uma poltica de desenvolvimento social que j presente e inevitvel em uma gama de empresas e governos. A cada dia novas leis e regulamentos so criados, e novas tecnologias so desenvolvidas de forma a materializar os princpios da sustentabilidade. No setor da construo civil em especial, as exigncias de que empresas levem em considerao o impacto ambiental e social de suas atividades se acentua a cada dia. Pode-se dizer que a sociedade civil, investidores, financiadores e consumidores comeam a incorporar cada vez mais boas praticas ambientais em suas demandas. Neste cenrio observa-se que empresas e profissionais preparados para enfrentar os desafios envolvidos estaro certamente mais bem preparados para o futuro. Acontece tambm nas universidades e sociedade o aumento do grau do entendimento do tema e de aplicao de aes realmente efetivas em pro da sustentabilidade. Nas universidades a sustentabilidade tem evidente importncia, e projetos verdes so cada vez mais desenvolvidos e valorizados no meio acadmico e social. Estes projetos tem sido cada vez mais exigidos pelo rgos pblicos refletindo importncia do tema para toda a sociedade.

3.1.3

Green Building ou Edifcio Verde

Dentro dos conceitos da construo sustentvel, no que tange especificamente a construo de edifcios, o termo Green Building ou Edificio Verde utilizado para denominar edifcio que foram construdos dentro dos padres sustentveis.

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Estes edifcios tem como objetivo atender a desempenho ambientais relativos a cinco grandes temas: local sustentvel, eficincia de gua, eficincia de energia, conservao dos materiais e dos recursos, e qualidade ambiental interna, princpios mostrados na Figura 3.

Figura 3 - Qualidade de um Edifcio Verde Fonte: Nova Arquitetura, 2011

O Edifcio Verde tem como objetivo torn-lo sustentavel, e para isto organiza suas aes dentro destas cinco reas. Ests praticas sustentveis buscam a reduo dos impactos na fase de concepo, execuo do edifcio, operao, manuteno e demolio. Est organizao se traduz em planejamento que atua implementando tecnologias e praticas sustentveis na gesto da obra, no melhor aproveitamento dos recursos naturais, na eficincia energtica, gesto e economia de gua, gesto dos resduos gerados na construo e operao, na qualidade do ar e ambiente interior, e no conforto termo acstico.

3.1.4

Boas Praticas de uma Construo Sustentvel

A eficincia da construo sustentvel depende dos vrios atores do processo. Deve-se buscar a sustentabilidade em todo o ciclo de vida da construo. No contexto, o ciclo de vida do edifcio compreende as etapas desde o seu desenvolvimento e concepo, passando pela construo e uso, at o reaproveitamento ou demolio. No que tange o consumo de matrias primas e gerao de resduos a construo sustentvel requer que se construa mais utilizando menos materiais e reutilizando ao maximo os resduos, reduzindo assim a quantidade final de resduos gerados. Muito dos produtos utilizados na construo civil utilizam em sua fabricao e distribuio energia fssil e lenha sendo responsvel pela emisso de gases que, devido ao aumento daCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 10

emisso nos ltimos anos, vem causando mudanas climticas. Para se consumir com responsabilidade ambiental materiais de construo civil deve-se adotar aes para reduo da emisso dos gases do efeito estufa. Um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivncia da humanidade a gua doce. Somente 0,3% da gua existente no planeta esta disponvel para o consumo humano, como mostrado no Grfico 1 a seguir. A manuteno deste recurso passa pelo seu uso responsvel na agricultura e industria, aumento do ndice de tratamento de esgotos, reduo da impermeabilizao do solo nas grandes cidades e utilizao de equipamentos que permitem a reduo do consumo nos edifcios.

Grafico 1 Distribuio da gua doce no planeta Fonte: Adaptado de SRH (2000) por Boscardin et al. (2004)

A reduo dos impactos associados ao consumo de energia nos edifcios j praticada nos idas de hoje, haja visto o custo crescente da energia no pais. A economia de energia em edifcios e instalaes vai alem da economia de recursos, o que pode ser utilizado como justificativa de implantao do sistema, ela implica tambm em significativo ambiental, pois entre outras coisas menos gerao de energia ser necessria. A construo civil tem uma extensa responsabilidade social e uma importante questo passa pelo fato da maior parte de seu recurso humano, parcela elevada dos empregos no Brasil, viver na pobreza. Os baixos salrios esto ligados a baixa produtividade que conseqncia da tecnologia empregada. Alem da equipe de recursos humano a construo civil envolve tambm a vizinhana, fornecedores e a comunidade em geral dado a inevitvel mudana no ambiente onde a construo inserida. A situao social agravada pela informalidade, queCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 11

ganho

inclui o no cumprimento das obrigaes sociais da fora de trabalho e sonegao de impostos em toda cadeia produtiva, da extrao de matrias-primas, fabricao e comercializao de materiais, projetos, canteiro e manuteno (JOHN, 2010). Os padres de qualidade dos materiais e servios utilizados na construo civil so importantes fatores para o combate a informalidade. Um significativo impacto ambiental gerado pelo fato da competio desigual ocasionada pela presena do individuo ou produto que no apresenta padres compatveis. A sobrevivncia econmica dos envolvidos que respeitam as normas fica prejudicada, contribuindo entre outras coisas para a presena de produtos inadequados ao meio ambiente e as especificaes tcnicas, que consomem recursos em excesso, aumento do incentivo de agentes pblicos e privados se tornarem corruptores, reduo da capacidade financeira do estado em fornecer infra-estrutura coletiva e aumento como um todo da desigualdade social.

3.1.5

Ciclo de vida de um Edifcio

preciso analisar o ciclo de vida de um edifcio visando sempre a reduo de consumo de materiais, energia e impactos ambientais gerados. Concentrar esforos para que cada etapa seja executada dentro das normas, com qualidade e sem desperdcios, garante um produto adequado, sustentvel. O tempo em que um edifcio construdo representa uma pequena parte da vida til do mesmo e sendo assim construir sustentavelmente significa garantir que alem das fases de planejamento e implantao, a fase de ocupao, manuteno e demolio contribuam para gerar menos impacto. Ainda na fase de planejamento, onde a concepo do projeto acontece, considerado o inicio do ciclo de vida do edifcio, sendo realizados nesta etapa estudos de viabilidade, elaborao de projetos e especificaes, as praticas sustentveis j devem ser implementadas. A escolha do local da construo deve levar em considerao o entorno e dinmica da regio onde o mesmo ser inserido. Uma obra no pensada nestes termos pode posteriormente se tornar entre outras coisas invivel financeiramente. A especificao dos materiais, utilizao de iluminao e ventilao natural, sistemas de aquecimento de gua e ar condicionado, reciclagem de gua de chuva so consideraes realizadas na fase de projeto que trazem um enorme beneficio para tornar a construo sustentvel.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 12

A fase

de implantao do edifcio tem como objetivo colocar em pratica os projetos

desenvolvidos. Algumas praticas que visam a reduo do desperdcio de matrias e energia devem ser utilizadas contribuindo para o carter sustentvel do empreendimento e tambm com a reduo dos custos da construo. O uso do edifcio, fase do ciclo de vida que representa a maior parte da vida til do mesmo, se torna sustentvel ou no dependendo principalmente da forma como ele foi concebido. A estrutura edificada a condicionante principal do uso, os equipamentos, materiais e sistemas escolhidos e implantados definem a potencialidade da construo ser considerada sustentvel. Algumas mudanas podem ser realizadas com intervenes na fase de manuteno, fase onde realizada a reposio de alguns elementos e a manuteno de equipamentos e sistemas empregados, porem mudar a forma como foi concebido o projeto demanda maiores investimentos quando possvel fazer tal mudana. Chegado o fim da vida til do edifcio, realizada a demolio, muitas vezes para dar origem a outro empreendimento imobilirio e comear ento outro ciclo de vida. Demolir no significa jogar fora de forma desordenada e no pensada, mas sim praticar sempre possvel a reciclagem e reutilizao. Desta forma haver reduo dos resduos gerados na demolio, sendo que os mesmo devem ser dispostos em locais apropriados para receb-los.

3.1.6

Tornando a construo Civil Sustentvel

A Quadro 1 apresenta as reas a partir de onde so obtidas as informaes relevantes avaliao da sustentabilidade de uma construo. Os critrios relacionados levam em considerao impactos relacionados ao local, recursos, durabilidade e cargas produzidas. qualidade do ambiente interior,

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Quadro 1- Principais reas Ambientais de Interveno para a Construo Sustentvel Fonte: PINHEIRO, 2006

O primeiro ponto necessrio para que se produza uma construo sustentvel a adeso de todos os envolvidos, fazendo com que em cada uma das reas de interveno os parmetros exigidos sejam atendidos no maior grau possvel. Mais necessrio tambm que a industria de apoio, que alimenta a construo com materiais e bens tambm esteja envolvida, produzindo materiais ecolgicos que reduzam o impacto gerado na sua produo e distribuio. Simultaneamente tambm necessrio que as tecnologias evoluam na direo do desenvolvimento sustentvel. Sem o apoio dos fornecedores e fabricantes de equipamentos e o governo dando o incentivo necessrio, no haver como colocar em pratica a construo civil sustentvel haja visto que sem material no se constri nada. Pode-se ter a situao onde o produto considerado mais sustentvel no tem valor que o torne comercial ou no valorizado pelo mercado, levando o mesmo a extino. preciso tornar os produtos sustentveis competitivos e assim criar condies econmicas para que eles possam ser mais utilizados. H pouco anos atrs vasos sanitrios com caixa acoplada de 6 litros eram artigos de luxo, o que no se v hoje, pois houve uma adaptao dos fabricantes e mercado que permitiu a entrada do produto. Desenvolver novas tecnologias s possvel a partir de estudos e pesquisas. Parte da definio do desenvolvimento sustentvel trata da questo financeira, o produto em si deve ser vivel financeiramente de forma a garantir que a fabricao do mesmo atenda a requisitos tcnicos sustentveis e tambm possibilite a sobrevivncia digna do grupo de pessoas que daCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 14

fabricao dele dependem. Neste contexto a sociedade tem papel fundamental pois ela tem o poder de escolha e pode vetar ou no um produto na medida que decide ou no adquiri-lo. Na gesto da obra a analise do local, diretrizes de projeto e materiais, planejamento sustentvel, logstica de materiais e recursos em geral so atividades onde a sustentabilidade se aplica. Pode-se reduzir a gerao de poluio oriunda da queima dos combustveis fosseis a partir do planejamento da logstica e aproveitamento dos recursos mais prximos ao local da obra. Projetos como o de paisagismo tem a capacidade de aproveitar as caractersticas da flora e dos recursos naturais disponveis da regio integrando o empreendimento ao seu entorno e ajudando na preservao das espcies locais. O aproveitamento dos recursos naturais como sol, vento, iluminao, conforto termo-acustico e climatizao natural fomenta a criao de novos materiais e tecnologias. No projeto do Parque Paleontolgico de Itabora, mostrado na Figura 4 a seguir, o telhado verde, sistema de aquecimento solar, coleta de gua de chuva, vitrais em garrafa de vidro reciclados e ventilao natural so exemplos de tecnologias sustentveis que foram utilizadas.

Figura 4 - Construo Sustentvel Itaborai Fonte: tibarose.com

A produo de energia eltrica uma atividade que por si s envolve grandes investimentos e consome grandes reas, sendo renovvel ou no. Deve-se buscar a eficincia energtica, conservando e economizando energia a partir da gerao da prpria energia consumindo fontes renovveis como elica e solar. Os sistemas de aquecedor solar de gua so talvez um dos principais produtos que cumprem este objetivo, sendo ele acessvel a praticamente toda a populao.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 15

Usar o recurso gua com responsabilidade significa em linhas gerais reduzir o consumo, aproveitar fontes disponveis, utilizar gua de chuva e tratar os efluentes antes de devolve-los ao meio ambiente. A captao da gua de chuva representa bem esta questo e alem de ser uma pratica que torna o empreendimento mais sustentvel permite a economia do usurio com a reduo da conta de gua. Na Figura 5 abaixo est apresentado um sistema j industrializado da 3P Technik de captao de gua de chuva.

Figura 5 - Sistema de reaproveitamento de gua de chuva Fonte: 3P Technik do Brasil Ltda

As praticas sustentveis devem estar presente no s na fase de planejamento e implantao do projeto, mas tambm durante o seu uso. Para ser efetiva durante o seu uso deve haver a conscientizao dos usurios e da sociedade para que, por exemplo, a coleta seletiva de resduos seja implantada e funcione efetivamente. As lixeiras coloridas para materiais reciclveis so dispositivos que aliados a educao e acesso a informao sobre o assunto capaz de reduzir bastante o volume de resduo gerados em uma cidade que vai para um aterro controlado, por exemplo. As cores de identificao dos materiais reciclveis est mostrada na Figura 6 abaixo.

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Figura 6 - Cores de Identificao da Coleta Seletiva Fonte: not1.com.br

A qualidade do ambiente criado outro fator que torna o edifcio mais sustentvel. preciso criar condies para que a qualidade do ar e do ambiente sejam saudveis, que no prejudiquem a sade e segurana dos usurios. O conforto termo-acstico garante que o ambiente atendera a demanda do bem estar relativo ao nvel de rudos e temperatura. Pode-se adicionar vantagens uma vez que materiais utilizados para fornecer conforto termo-acstico podem ser desenvolvidos a partir de materiais reciclveis como por exemplo a manta natural de cortia e borracha reciclada para pisos flutuantes da empresa SilentCork mostrada na Figura 7.

Figura 7 - Manta sustentvel para piso flutuante Fonte: corkbrasil.com.br

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No duvida que a construo sustentvel traz inmeros benefcios para todos de uma forma geral. Uma forma do cliente e o mercado garantirem que realmente os pr requisitos da construo sustentvel foram atendidas atravs das certificaes. A etapa da construo pode ser certificada por rgos credenciados junto a grandes entidades normatizadoras nacionais e internacionais, desta forma se ganha credibilidade junto ao mercado e ao cliente, sendo tambm uma forma de valorizar e incentivar novas construes sustentveis.

3.23.2.1

Sistemas de Avaliao da Construo SustentvelSurgimento dos Instrumentos de Avaliao

Foi a partir dos anos 70 que a questo ambiental ganhou certos destaque na comunidade de forma geral, sendo que apareceram algumas iniciativas de avaliao ambiental focadas na questo energtica. No final dos anos 80 que as avaliaes ambientais comearam a acontecer de forma mais sistemtica de forma a identificar os impactos negativos e positivos, visando a reduo dos negativos e a valorizao dos positivos. Simultaneamente surgiu a preocupao com a avaliao das caractersticas dos materiais e produtos, levando a uma analise do ciclo de vida dos mesmos. O objetivo foi o de fornecer ferramentas para a tomada de deciso sobre a escolha dos materiais ambientalmente mais adequados. Se entende por ACV (Anlise do Ciclo de Vida):... a ACV constitui o procedimento que permite analisar formalmente, a complexa interao de um sistema que pode ser um material, uma componente ou conjunto de componentes com o ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de vida, caracterizando o que se tornou conhecido como enfoque do cradle-to-grave (bero ao tumulo). (PINHEIRO, 2006)

Como resposta s crescentes questes ambientais surgiram, pontualmente, critrios, abordagens e guias para melhorar o desempenho ambiental da construo, bem como indicadores e processos para o avaliar. O desenvolvimento de sistemas de avaliao ambiental na construo civil foi inicialmente um exerccio de estruturao de uma serie de conhecimentos e consideraes, numa abordagem pratica, evitando uma nova pesquisa (PINHEIRO, 2006). Na dcada de 90 o conceito de construo sustentvel surgiu juntamente com orientaes para sua implementao, avaliao e reconhecimento das caractersticas ambientais da construo.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 18

Em 1990 lanado no Reino Unido o BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), primeira tentativa de maior sucesso de estabelecer um objetivo e meios compreensveis de avaliar as consideraes ambientais contra critrios ambientais j conhecidos, criando-se um sumario de desempenho ambiental para edifcios. Um passo importante aconteceu quando foi gerado o consenso entre investigadores e agncias governamentais, de que a classificao de desempenho, associada a sistemas de certificao, cria mecanismos eficientes de demonstrao de melhoria continuada. Destaca-se ento a importncia da adoo voluntaria de sistemas de avaliao de desempenho e da possibilidade do mercado ser um impulsionador para elevar o padro ambiental existente (PINHEIRO, 2006). Desta forma chega-se a formatao de praticas para avaliar e reconhecer a construo sustentvel cada vez mais presentes em vrios pases sendo estruturada a partir de (1) orientaes ou guias para a construo sustentvel, com critrios de maior ou menor definio, (2) processos de avaliao e verificao desses critrios, (3) especialistas para o apoio ao seu desenvolvimento e avaliao (auditoria), e por vez at a (4) integrao em processos independentes de certificao (PINHEIRO, 2006). Alguns dos sistemas de so o BREEAM no Reino Unido, o LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) nos Estados Unidos, o NABERS (National Australian Buildings Environmental Rating System) na Australia, o BEPAC (Building Environmental Performance Assessment Criteria) no Canad, o HQE (Haule Qualit Environnementale ds Btiments) na Frana e o CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) no Japo. Os dois sistemas mais utilizados no Brasil so o LEED realizado pelo Green Council do Brasil e o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) que baseada no HQE e realizado pela Fundao. Vale destacar a importncia do Green Building Challenge, do qual resultou o GBTool, pois o que num primeiro momento era apenas um desafio entre pases, passou em pouco tempo a ser uma iniciativa de cooperao internacional em torno do tema. O GBTool uma ferramenta internacional de avaliao ambiental de edifcios resultante deste consorcio internacional, no possui um rgo certificador especifico, sendo uma ferramenta de discusso e aprimoramento de projetos (COELHO, 2010).19

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3.2.2

Caractersticas dos Sistemas de Avaliao

a partir de indicadores de desempenho que atribuem uma pontuao tcnica em funo do grau de atendimento a respectivos requisitos que a maioria dos sistemas de avaliao ambiental se baseiam. Os requisitos so relacionados aos aspectos construtivos, climticos e ambientais levando em conta no somente a edificao em si, mas tambm o seu entorno e a relao com a cidade e ambiente global. Os indicadores retratam os principais problemas ambientais locais e podem ter ponderaes explicitas ou no. Os aspectos conceituais dos diversos mtodos de avaliao ambiental de edifcios tem alguns pontos em comum (fonte: artigo Tchne avaliao ambiental) Impactos no meio urbano, representado por itens sobre incmodos gerados pela execuo, acessibilidade, insero urbana, eroso do solo, poeira e outros; Materiais e Resduos, relacionando-se com o emprego de madeira e agregados com origem legalizada, gerao e correta destinao de resduos, emprego de materiais de baixo impacto, gesto de resduos no canteiro e reuso de materiais (Figura 8); Uso racional da gua, sendo o objetivo maior a economia da gua potvel, obtido por uso de equipamentos economizadores de gua, acessibilidade do sistema hidrulico, captao de gua de chuva, tratamento de esgoto, etc.; Energia e emisses atmosfricas, analisando o sistema de ara condicionado, iluminao e outros; Conforto e salubridade do ambiente interno, considerando a qualidade do ar e o conforto ambiental.

Figura 8 - Gesto de Residuos no canteiro de obras Fonte: diriodonordeste.globo.com e sercpintoonline.blogspot.com

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As diversas instituies atribuem a um determinado aspecto maior ou menor importncia, refletindo diretamente na pontuao atribuda. O Grfico 2 compara as importncias e avaliando ento as diferenas entre as ponderaes dos sistemas BREEAM, LEED, HQE, CASBEE, GBTOOL e o mtodo proposto pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnolgicas) do Estado de So Paulo.

Grafico 2 - Ponderaes dos Sistemas de Avaliao ambiental Fonte: adaptado de Silva, 2003 apud Tchne, 2009

Cada um dos sistemas gera uma serie de referncias que iro estabelecer os parmetros e critrios de conferncia do processo de certificao. Estes certificados garantem ao cliente e do credibilidade ao empreendimento uma vez que sua avaliao afirma a adequao da construo as questes relativas ao meio ambiente, recursos naturais, usurios e sociedade.

3.2.3

Objetivos dos Sistemas de Avaliao Sustentvel

Uma vez que estes processos de conferencia so resultados de uma preocupao com meio ambiente que vem sendo estruturado desde a dcada de 70 pode-se dizer que o objetivo maior de uma certificao a conscientizao de todos os envolvidos no processo construtivo da importncia em reduzir o impacto ambiental gerado pelo empreendimento. Busca-se o envolvimento de investidores, projetistas, construtores e usurios com aes concretas queCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 21

permitam a reduo no uso dos recursos naturais, aumente o conforto e qualidade de vida dos usurios. H o impacto no custo inicial mas tambm a reduo dos custos operacionais, o que uma forma de valorizar o imvel e agregar valor de venda ao mesmo. A reduo dos custos operacionais reflete no aumento da qualidade de vida dos usurios e tambm do meio ambiente, pois a reduo do custo de uma famlia com condomnio pode representar o aumento do investimento em lazer ou alimentao, sendo o meio ambiente favorecido uma vez que h reduo do consumo de gua, energia e emisso de gases. O selo da certificao ambiental pode ser considerado um objetivo das empresas do setor, sendo que ele implica a adequao as normas e instrues propostas para a produo de uma construo sustentvel. Adotar a estratgia ambiental pode conduzir a vantagens competitivas de mercado para as empresas. Segundo DONAIRE (1995) as empresas adotam a estratgia ambiental por motivos como: sentido de responsabilidade ecolgica, requisitos legais, salvaguarda da empresa, imagem, proteo de pessoal, presso de mercado, qualidade de vida e lucro. tambm

3.2.4

Vantagens da Certificao Ambiental

A maioria dos benefcios obtidos a partir da certificao ambiental podem ser percebidos no longo prazo. A reduo do consumo de gua e energia atua no custo do usurio, sendo ele ento o beneficiado a longo prazo. No curto prazo h o aumento do custo inicial do empreendimento. O mercado tem exigido cada vez mais que os empreendimento sejam sustentveis, inclusive de forma condicional quando se fala de exigncias de financiamentos e contratuais publico e privada. Os benefcios de empresas certificadas ambientalmente so: empreendimentos diferenciados e mais valorizados, mais potencial de atingir novos mercados, reduo de custos de produo, maior visibilidade uma vez que a conscincia ambiental vem aumentando, aumento da credibilidade, reduo de custos devido a acidentes ambientais, reduo na utilizao de recursos naturais e reduo no custo com mo de obra qualificada.

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Outras vantagens que favorecem o cliente (sociedade) e o meio ambiente envolvem a conservao de recursos naturais, reduo da poluio, incentivo a reciclagem e uso de produtos e processos mais limpos

3.2.5

Metodologia de Avaliao da Certificao Ambiental

As tcnicas de avaliao de uma certificao podem acontecer levando em considerao anlise estatstica, baseados em crditos que geram ndices e baseado no desempenho. Cada uma apresenta implicaes diferentes dado a metodologia diferenciada. A tcnica da analise estatstica acontece a partir de uma grande quantidade de dados de edifcios de uma determinada populao que constitui uma determinada amostra. So criados ento valores estatsticos que servem como referencia para definio de uma nova marca de reduo de uso de energia. Tem-se como exemplos desta metodologia o Cal-Arch (California Building Energy Reference Tool) e o Energy Star (U.S. Departamento f Energy). Quando a metodologia se baseia em pontos, ou seja, crditos que geram ndices, acontece uma ponderao por categorias. A classificao ocorre em nveis de ambientalmente correto, sendo o sistema fornecedor de padres e diretrizes de projeto para poder medir a eficincia e sintonia com o meio ambiente. So exemplos desta tcnica de avaliao o LEED e BREEAM. A tcnica de avaliao pode tambm ser baseada no desempenho, visando mais a gesto e os processos empregados. dividido em categorias que devem apresentar por parte do empreendimento a ser auditado desempenho igual ou maior ao normalizado. Como resultado se classifica ou no o empreendimento com ambientalmente correto, no existindo nveis intermedirios. Como exemplo tem-se o HQE e NABERS.

3.3

Certificao LEED

O LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) foi desenvolvido pelo USGBC (U.S. Green Building Council), instituio que busca a promover edifcios sustentveis e lucrativos, bem como lugares saudveis para se viver e trabalhar. Em 2007 foi criado no Brasil o GBCB (Green Building Council Brasil), rgo no governamental vinculado ao USGBC que visa auxiliar o desenvolvimento da industria da construo sustentvel no pais.

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O sistema LEED baseado num programa de adeso voluntaria e visa avaliar o desempenho ambiental de um empreendimento. Leva em considerao o ciclo de vida e pode ser aplicado em qualquer tipo de empreendimento. O selo uma confirmao de que os critrios de desempenho em termos de energia, gua, reduo de emisso de CO2, qualidade do interior dos ambientes, uso de recursos naturais e impactos ambientais foram atendidos satisfatoriamente. A certificao acontece em nveis que quantificam o grau de proteo ambiental obtido no empreendimento. O mtodo de avaliao acontece atravs da analise de documentos que indicam sua adequao aos itens obrigatrios e classificatrios. Atravs de um sistema de pontos que pode variar dependendo da categoria de certificao, so definidos os nveis de certificao. H requisitos mnimos que devem ser atendidos ainda na fase de projeto, determinando ou no a possibilidade do projeto ser certificado. Independente das diferentes categorias o LEED oferece quatro nveis de certificao que dependem da pontuao total obtida na avaliao. So eles: Certificao Bsica (26 a 32 pontos), Prata (33 a 38 pontos), Ouro (39 a 51 pontos) e Platina (52 a 69 pontos), mostrados na Figura 9.

Figura 9 - Nveis de certificao LEED Fonte: GBCB, 2011

Para se obter aprovao no sistema LEED necessrio satisfazer um conjunto de critrios de desempenho em reas chaves determinadas apresentadas no Quadro 00. Estas reas chaves do origem a subdivises em reas especificas pontuveis, sendo que alguns critrios devem ter comprimento obrigatrio.

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Quadro 2 - reas chave e Critrios da Certificao LEED Fonte: USGBC, 2011

O certificado LEED se aplica a diferente tipos de construo, sendo ento subdivididos e categorias que representam est diversidade. Dado o carter diverso das

categorias/construes tem-se diferentes pontuaes e pr requisitos. As categorias do certificado LEED, representadas com uma breve descrio, so mostradas no Quadro 2.

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Quadro 3 - Categorias da certificao LEED Fonte: GBCB, 2011

Vale notar no Quadro 3 a abrangncia da certificao LEED, levando em conta o ciclo de vida da construo em diferentes etapas e tipos, residenciais, comerciais, pblicos, novos, j existentes, na manuteno e operao de edifcios existentes. Segundo o GBCB, at 09/11/2011, trezentos e oitenta e trs empreendimentos j foram registrados no Brasil, sendo as categorias com maior nmeros de registros a LEED NC e LEED CS. O Grfico 4 apresenta todos os percentuais.

Grafico 3 - Percentuais de certificaes LEED registradas at 09/11/2011 Fonte: GBCB, 2011

A obteno do certificado LEED acontece conforme um processo com etapas definidas e todo realizado por meio de uma plataforma online do GBCI (Green Building CouncilCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 26

Institute). Em um primeiro momento so fornecidos dados gerais do empreendimento e preenchida uma declarao de inteno, etapas concludas efetiva-se o registro do projeto que fica disponvel no LEED online. A partir dos dados gerais realizada analise preliminar determinando a viabilidade da construo sustentavel. Na seqncia a candidatura efetivada e toda a documentao necessria que apresenta todos os pr requisitos e crditos de cada etapa da obra. Este material adicionado na plataforma para se efetuar a pr analise da certificao. Na final da fase de construo, estando toda a documentao inserida na plataforma da fase de projeto e de construo corrigidas e atualizadas, acontecer a reviso final. definido aps est reviso final se ser ou no concebido o certificado ao empreendimento. A etapa de auditoria da fase de projeto dura em mdia trs meses e a fase de construo dura em media de trs a seis meses aps sua concluso. O aumento no custo de um empreendimento devido a certificao de 5% a 10%, sendo os custos diretos esto detalhados no Quadro 4.

Quadro 4 - Custo certificao LEED Fonte: COELHO, 2010

3.4

Certificado AQUA

O processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) de certificao a verso brasileira adaptada do HQE (Frana) que define a qualidade ambiental, segundo a associao HQE, como qualidade ambiental do edifcio e dos seus equipamentos (em produtos e servios) e os restantes conjuntos de operao, de construo ou adaptao, que lhe conferem aptido para satisfazer as necessidades de dar resposta aos impactos ambientais sobre o ambiente exterior e a criao de ambientes interiores confortveis e sos. (PINHEIRO, 2006)

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No Brasil a Fundao Vanzolini, instituio privada sem fins lucrativos, foi a responsvel pela implantao do processo AQUA. O processo visa garantir a qualidade ambiental de um empreendimento novo de construo ou reabilitao utilizando-se de auditorias

independentes. Segundo a Fundao Vanzolini, ele pode ser definido como sendo um processo de gesto de projeto visando obter a qualidade ambiental de um empreendimento novo ou envolvendo uma reabilitao. Os benefcios da certificao pelo Processo AQUA incluem melhorias que atingem o empreendedor, comprador e a questo scio-ambiental, sendo apresentadas detalhadamente no Quadro 5.

Quadro 5 - Beneficios do Processo AQUA Fonte: Fundao Vanzolini, 2011

O processo de certificao estruturado em torno dos aspectos relacionados a implementao do sistema de gesto ambiental (empreendedor), adaptao do ambiente a sua envolvente e ambiente imediato e informaes transmitidas pelo empreendedor aos usurios. A obteno do desempenho ambiental tem como fundamento o conceito de que uma dos mtodos mais confiveis de obter tal desempenho passa pelo apoio de uma organizao eficaz e rigorosa do empreendimento (Fundao Vanzolini, 2011). Desta forma o referencial tcnico de certificao estrutura-se em dois elementos: SGE (Sistema de Gesto do Empreendimento), avalia o sistema de gesto ambiental implementado28

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QAE (Qualidade Ambiental do Edificio), avalia o desempenho arquitetnico e tcnico do edifcio Esta estrutura utilizada permite que haja a organizao necessria para se atingir a qualidade ambiental desejada. O SGE define a qualidade ambiental, organiza e controlar os processos operacionais em todas as fases, do programa, passando pela concepo (projeto), realizao (obra) e Operao ou Uso (Fundao Vanzolini, 2011). Uma caracterstica do SGE uma apresentao de exigncias que se adaptam as diferentes formas de se organizar os papeis dos diferentes agentes de um empreendimento, cabendo a cada agente interpretar e atender as exigncias em funo das especificidades em cada fase. O seu referencial se organiza, segundo a Fundao Vanzolini, em quatro etapas descritas a seguir: Comprometimento do empreendedor, onde so descritos os elementos de analise solicitados para a definio do perfil ambiental do empreendimento e as exigncias para formalizar tal comprometimento, Implementao e funcionamento, no qual so descritas as exigncias em termos de organizao, Gesto do empreendimento, no qual so descritas as exigncias em termos de monitoramento e analises criticas dos processos, de avaliao da QAE, de atendimento aos compradores e de correes e aes corretivas, Aprendizagem, onde so descritas as exigncias em termos de aprendizagem da experincia e de balano do empreendimento. o empreendedor que define a organizao , competncias, mtodo, meios e documentao necessria para se atingir os objetivos e exigncias propostas. Assim tem-se na mo do empreendedor o papel principal do SGE, atuando na implementao, acompanhamento e melhoria do sistema. Mas estas escolhas deve acontecer sempre de forma justificada e coerente, sendo exigida a formalizao das analises, decises e modificaes. Toda soluo adotada no SGE deve levar em considerao os aspectos mais significativos para o empreendimento em questo, sendo os fatores que devem ser considerados: exigncias legais e regulamentadoras, funcionalidade, necessidades e expectativas das partes29

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interessadas, o entorno, custos e poltica do empreendedor, representados tambm na Figura 10.

Figura 10 - Aspectos relevantes do Sistema de Gesto do Empreendimento Fonte: Fundao Vanzolini, 2011

A integrao necessria para o comprimento do SGE demanda tempo e exige do empreendedor qualidades como organizao, rigor e capacidade de reao. Sendo bem executado o SGE, se tem um empreendimento bem gerenciado com maiores chances de se alcanar as metas definidas. O processo de avaliao QAE permite que seja verificado nas diferentes fases do empreendimento a adequao ao perfil ambiental definido. Ele expressado em 14 categorias as quais so desmembradas em preocupaes associadas a cada um dos desafios, que por sua vez so traduzidos em critrios e indicadores de desempenho. A certificao concebida ou no ao empreendimento, no havendo nveis intermedirios. O sistema baseado em desempenho, sendo classificado em trs nveis: Bom (praticas correntes, legislao), Superior (boas praticas) e Excelente (melhores praticas). Para se obter a certificao exigido que um numero mnimo de classificao Excelente e um numero Maximo da classificao Bom. Uma peculiaridade do sistema que o padro mnimo de exigncia remete ao que est normatizado e regulamentado. O Grafico 4 ilustra estas exigncias necessrias a concesso da certificao.

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Grafico 4 - Exigncia minima para certificao no Processo AQUA Fonte: Fundao Vanzolini, 2011

Estas 14 categorias devem satisfazer as exigncias relacionada ao controle de impactos sobre o ambiente externo e criao de um ambiente interno confortvel e saudvel. O conjunto de preocupaes pode ser reunida em quatro grupos: eco-construo, eco-gesto, conforto e sade. O Quadro 6 apresenta todas estas quatorze categorias agrupadas conforme os aspectos de cada uma.

Quadro 6 - 14 categorias do Processo AQUA Fonte: Fundao Vanzolini, 2011

Na relao do edifcio com seu entorno as exigncias abrangem caractersticas relacionadas a interao do empreendimento com o ambiente externo considerando as vantagens e desvantagens existentes, a criao de um ambiente externo agradvel (paisagismo, reas de lazer,...) e a reduo de impactos relacionados ao transporte (vias especiais para bicicletas e pedestres, estacionamento para portadores de necessidades especiais,...). A escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos visa garantir entre outras coisas uma maior durabilidade e qualidade do empreendimento, facilitar a manuteno eCurso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 31

conservao da construo e reduzir os impactos em toda a cadeia produtiva. Recomenda-se a opo de fabricantes que no agridam o meio ambiente e que no pratiquem a informalidade na cadeia produtiva. O canteiro de obras deve ser planejado de forma a reduzir o impacto gerado, sendo alguns dos aspectos que devem ser levados em conta so a gesto de resduos do canteiro, limitao dos incmodos e controle dos recursos de gua e energia. Relacionado a gesto de energia est o uso de energias renovveis (Figura 11), reduo do consumo de energia no renovvel, concepo arquitetnica que favorea iluminao natural (Figura 11) e a produo de gua quente.

Figura 11 - Energias renovveis e aproveitamento iluminao natural Fonte: dfrural.wordpress.com e pucrs.br

A gesto do recurso gua tem por objetivo a reduo do consumo de gua potvel e acontece por meio do uso de equipamentos e sistemas economizadores de gua (Figura 12) e do aproveitamento de guas pluviais para jardinagem, lavagem de automveis e utilizao em aparelhos sanitrios.

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Figura 12 - Sistemas economizadores de gua Fonte: Google image, 2011

A gesto dos resduos de uso e operao atua na adequao entre coleta interna e externa, controle de triagem de resduos e otimizao do sistema de coleta interna, sendo que todas estas aes visam a conscientizao do usurios atentando-os quanto ao problema do impacto gerado pelos resduos. importante que haja uma gesto de manuteno visando a minimizao dos problemas durante a fase de operao, estando ela relacionada com a qualidade dos sistemas instalados e informaes documentais passadas aos usurios. Acesso facilitados aos sistemas e a automao predial so ferramentas que auxiliam a gesto de manuteno sendo tambm itens avaliados no processo de certificao. De forma geral o conforto em um ambiente interno esta relacionado a uma concepo arquitetnica que possibilite o conforto durante todo o ano (higrotrmico), onde os rudos externos no gerem incmodos excessivos (conforto acstico), que aproveite ao maximo a iluminao natural utilizando quando necessrio iluminao artificial adequada, que valorize o acesso a vistas externas (conforto visual) e que aproveite a ventilao natural para gerenciar fontes de odores desagradveis e perigosas a sade (conforto olfativo). avaliado no processo de certificao a qualidade sanitria do empreendimento, seja ela do ambiente em si, do ar ou da gua. Relaciona-se com a qualidade da ventilao capaz de gerenciar fontes de poluio interna e externa, e a qualidade e durabilidade dos materiais utilizados na rede de gua, garantindo a sade do usurio.

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Para se obter a certificao necessrio num primeiro momento que o empreendedor faa contato com a Fundao Vanzolini e adeso a um dos referenciais tcnicos disponveis no site da instituio. Existem referenciais tcnico para escritrio e edifcios escolares, hotis e edifcios habitacionais (Fundao Vanzolini, 2011). O processo de certificao realizado a partir de auditorias presenciais seguidas de analise tcnica que verificam o atendimento aos critrios do referencial tcnico. Atendidos os critrios de cada fase, programa, concepo e realizao, os certificados so emitidos em at 30 dias. Na fase de programa, o empreendedor deve definir o programa de necessidades e o perfil de desempenho nas 14 categorias do QAE. Deve ainda assumir o compromisso e assegurar os recursos para obter o perfil programado, inclusive estabelecendo o SGE para assegurar o controle total do projeto, at a concluso da obra. A auditoria realizada mediante solicitao do empreendedor e um dossi completo, contendo o programa e a avaliao da QAE, enviado a Fundao Vanzolini. Na fase de concepo (projetos), o empreendedor utiliza o perfil de desempenho programado nas 14 categorias e os demais elementos do programa como entrada para os projetos. mantido o SGE e so produzidos os projetos, avaliando o perfil da QAE e corrigindo desvios percebidos. A auditoria tambm acontece mediante solicitao do empreendedor e o envio da avaliao da QAE ao final dos projetos feito a Fundao Vanzolini. Na fase de Realizao (obra), o empreendedor mantm o SGE, realiza a obra, avalia o perfil QAE e corrigi eventuais desvios. agendada a auditoria e feito o envio a Fundao Vanzolini da avaliao da QAE na entrega da obra. papel do auditor verificar em cada uma das fases a implementao do SGE e fazer a comparao da avaliao da QAE com os critrios de desempenho exigidos no referencial tcnico adotado. Ao final de cada etapa concluda com sucesso um certificado emitido. Os custos do processo esto apresentados no Quadro 7.

Quadro 7 - Custo do Processo AQUA Fonte: COELHO, 2010 Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 34

4 LEED X AQUAAmbos os sistemas LEED e Processo AQUA so enquadrados como certificaes ambientais. Sendo assim existem preocupaes comuns aos dois, como a gerao de resduos, preservao dos recursos naturais energia e gua, reduo da emisso de gases, interao com o entorno e conforto do usurio. Pode-se assim dizer que pelo escopo comum ambos pretende assegurar que um empreendimento realmente sustentvel, que efetivamente reduz os impactos ambientais. Sabe-se ainda que os dois sistemas possuem caractersticas diversas em sua metodologia, sendo a identificao destas diferenas importante para a escolha de qual sistema utilizar. A escolha correta possibilitara um ganho de desempenho do empreendimento se comparado aos tradicionais. O sistema LEED de origem americana sendo aplicado no Brasil pelo GBCB e o Processo AQUA uma adaptao do sistema de origem francesa HQE. Eles possuem diferentes estruturaes, mostradas no Quadro 8.

Quadro 8 - Diferenas na estruturao do processo LEED e AQUA Fonte: COELHO, 2010

As informaes que envolvem o empreendimento e o seu local de implantao devem ser levadas em considerao para a escolha do melhor mtodo, pois o mesmo tem a capacidade de ser melhor ou pior adaptado a situao em questo. Como resultado de uma melhor adaptao ao mtodo de avaliao ser obtido um melhor desempenho.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 35

Sendo o LEED baseado num sistema de pontos implicando no fato de no ser necessrio atender a todos os requisitos para se obter pontuao suficiente, um critrio pode ir muito bem e o outro muito mal sendo que a mdia dos dois suficiente. J o Processo AQUA baseado em desempenho sendo necessrio atender a todos os requisitos nos nveis determinados para se atingir a certificao, logo o empreendimento tem que apresentar real desempenho. Alm das diferenas relacionadas a estruturao dos dois sistemas, mais caractersticas so responsveis por sua diferenciao e consequentemente aplicabilidade. O Quadro 9 as apresenta de forma organizada.

Quadro 9 - Diferentes caracteristicas do processo LEED e AQUA Fonte: adaptado de MELHADO, 2009 apud VALENTE

Verifica-se que o sistema LEED de certificao ambiental abrange um numero maior de tipos de empreendimentos, se comparado ao AQUA. Outro ponto que relevante o fato do LEED ser preparado para a realidade norte americana, o que reflete nos critrios e pesos dado aos temas. Em contrapartida o Processo AQUA adaptado a realidade brasileira tendo maior possibilidade de garantir o desempenho desejado. Algumas organizaes brasileiras, como o Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel, a Asbea e o Secovi, entre outras, esto trabalhando na elaborao de um selo brasileiro no padro do LEED (PORTO, 2010).

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Outro ponto de discordncia o peso dado aos temas abordados nas avaliaes, mostrados no Grafico 5. Observa-se que o LEED d grande importncia para a questo energtica, o que compreensvel haja visto que o Estados Unidos tem um alto ndice de consumo de energia. O Processo AQUA j tem uma distribuio de pesos uniforme, tendo todos o mesmo valor.

Grafico 5 - Ponderaes dos aspectos dos processos LEED e AQUA Fonte: MELHADO, 2009 apud VALENTE

A certificao no Processo AQUA concebida em trs fases, programa, concepo (projetos) e realizao (obra). O certificado final valido por um ano no havendo possibilidade de renovao. A justificativa para a no renovao o fato de todos os elementos necessrios ao bom desempenho j se encontram na edificao. O certificado LEED concebido na concluso da obra, via auditoria que verifica se os prrequisitos e pontuao obtidas na fase de projeto se mantm. Este certificado o nico concebido e valido por dois anos, podendo ser renovado aps reavaliao que levam em considerao a fase de operaes.

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5 ESTUDOS DE CASO5.1 Centro Cultural Max Feffer LEED

O Centro Cultural Max Feffer (Figura 13) uma iniciativa desenvolvida no municpio de Pardinho SP, que visa implantar um modelo de desenvolvimento sustentavel no municpio. Ele foi construdo em uma rea de seis mil metros quadrados abrigando uma biblioteca, centro de incluso digital, palco com auditrio aberto com capacidade de 500 pessoas, museu do bambu, sala de exposies com mostra permanente em Memria a Max Feffer e sala de reunies com completa infra-estrutura. O complexo possui uma rea construda e mil seiscentos e cinqenta e um metros quadrados.

Figura 13 - Centro Cultural Max Feffer Fonte: Arcoweb, 2011

O projeto e a obra foram pautados para empregar o maximo de solues sustentveis e obter a certificao LEED NC. Entre os recursos adotados esto solues de baixo consumo de gua e de energia eltrica, tratamento de esgoto e aproveitamento de materiais reciclados.

5.1.1

Iniciativas sustentveis

O terreno onde o projeto foi implantado foi cedido pela prefeitura. A implantao foi definida garantindo a menor impermeabilizao possvel, e garantindo assim a maior permeabilidade do solo e rea livre para praa. O projeto arquitetnico teve como objetivo atender as regras da certificao LEED NC Platina, sendo utilizado como partida do projeto os critrios do nvel de certificao desejado.Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 38

Na etapa do projeto esteve presente o consultor do LEED, que acompanhou todo o trabalho e determinou diretrizes que podero fazer parte do processo de certificao. Na estrutura do telhado foi utilizado bambu vindo do Paraguai e toras de eucalipto da regio (Figura 14), oriunda de florestas de reflorestamento, ambos materiais renovveis. Nas telhas foram utilizadas fibras vegetais sendo pintadas de branco na superfcie superior para refletir os raios solares. A opo pelo bambu vindo do Paraguai aconteceu pelo fato de no ter sido encontrado a matria prima de qualidade necessria no Brasil. certo que o transporte gerou certo impacto uma vez que na maioria utiliza combustvel fssil para se locomover. Foram utilizados tijolos solo cimento (Figura 14) produzidos no local da obra. O tijolo solo cimento um material totalmente ecolgico que utiliza terra e fibras naturais para produzir um produto que no precisa ser queimado. Para acrescentar valor ao produto o seu assentamento ocorreu com os furos na horizontal, favorecendo a ventilao natural e o conforto interno.

Figura 14 - Parede de Tijolo solo cimento e Estrutura em bambu e eucalipto do telhado Fonte: Arcoweb, 2011

A obra utilizou madeiras e tijolos obtidos em demolies existentes na regio. Os portes do edifcio foram produzidos a partir chapas metlicas utilizadas na estamparia de peas metlicas. Barras de apoio utilizadas nos nibus do transporte coletivo foram utilizadas como corrimo em todo o edifcio. Bancos forma produzidos a partir de colunas de pias de banheiro obtidas em demolies e os bebedouros utilizaram rodas de arado desgastadas encontradas em ferro velho.

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Foi implantado um sistema que utiliza a gua da chuva e a gua cinza (das pias e chuveiros) nas bacias sanitrias. Esta gua coletada passa por um processo de pr filtragem com brita n2 e micro filtragem com carvo, finalizando com processo de desinfeco automatizado, e este volume abastece a caixa dgua superior responsvel pelo funcionamento dos aparelhos sanitrios. Ainda na gesto da gua foram utilizados vlvulas de acionamentos duplo, que consomem 3 e 6 litros de gua por descarga respectivamente, torneiras com acionamento hidromecnico e mictrios que no utiliza gua nem produtos qumicos. Utilizou-se uma fossa sptica no tratamento do esgoto criando uma zona de razes para tratar o efluente da fossa. O sistema foi calculado para vida til de 50 anos, sendo necessrio a substituio do solo contaminado para que se renove a vida til do sistema por mais 50 anos. A gua obtida da linha de razes toda utilizada na irrigao dos jardins, no sendo necessrio a ligao do edifcio com o sistema de esgotamento publico. Foi usada tinta a base de gua e baixo VOC (Compostos Orgnicos Volteis). Os VOCs so poluentes nocivos a sade humana sendo considerados cancergenos. Os vernizes utilizados tambm continham baixo nvel de VOC. Na face que recebe mais insolao foi instalada uma Parede Trombe (Figura 15), que consiste em um sistema composto por um vidro exterior com uma parede de elevada inrcia trmica (gabio). Este dispositivo acumula o calor do sol e favorece a circulao do ar quente para dentro do edifcio sem o uso de qualquer tipo de ventoinha.

Figura 15 - Parede Trombe Fonte: Arcoweb, 2011

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A economia de energia se deu pelo uso de sensores de presena nos banheiros, clulas fotoeltricas na iluminao externa, celular fotovoltaicas e iluminao com LEDs (Figura 16) alm de iluminao zenital.

Figura 16 - Sistema de iluminao de clulas fotovoltaicas e LED Fonte: Arcoweb, 2011

Todo o piso da praa drenava a gua para o sistema de filtragem. A ventilao natural foi muito favorecida ao se optar por um edifcio aberto. A reteno de gua no terreno aumentou com o plantio de 37 arvores e aumento do ndice de absoro com a instalao de drenos de garrafa pet nas periferias do canteiro. Foi feita a separao dos resduos da obra sendo os mesmos encaminhados para reciclagem ou foram utilizados na prpria obra.

5.1.2

Certificao

Com o intuito de alcanar o certificado LEED NC Platina, que exige uma pontuao mnima de 52, foi elaborado um processo que estava defendendo 54 pontos, dois a mais que o necessrio. Infelizmente ao final da avaliao no foi alcanado a pontuao necessria para receber o certificado no nvel desejado. Sendo assim o Centro de Convenes Max Feffer obteve o certificado LEED NC Gold.

5.2

Leroy Merlin em Niteri AQUA

A loja da Leroy Merlin, localizada em Niteri RJ (Figura 17), foi o primeiro empreendimentos comercial a receber o certificao do Processo AQUA. A loja passou por todas as etapas do processo de certificao: programa, concepo de projeto e realizao da obra. Foi a atravs do SGE (Sistema de Gesto do Empreendimento) que foi possvel a adequao aos critrios da QAE (Qualidade Ambiental do Edifcio).41

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A certificao AQUA foi a escolhida pela Leroy Merlin pela sua adaptao as necessidades brasileiras, elaborando critrios que atuam na avaliao dos projetos e da obra. O terreno onde se encontra a loja tem oito mil e quinhentos metros quadrados, onde foram desenvolvidas as atividades que possibilitaram a obteno do certificado.

Figura 17 - Loja Leroy Merlin de Noteroi Fonte: Leroy Merlin, 2011

5.2.1

Iniciativas sustentveis

Para cumprir com parmetros sustentveis a loja foi construda na zona norte de Niteri, regio conhecida por Barreto, com o objetivo de incentivar e ajudar o desenvolvimento econmico da regio. Houve um aproveitamento de todo o resduo produzido durante a obra, sendo este vivel a partir de um planejamento do canteiro que visou entre outras coisas, a separao dos resduos de construo. Toda madeira, metal, papel, pedras e sacos de cimento seguiram para a reciclagem ou foram reaproveitadas na prpria obra. Um exemplo de reaproveitamento a calada que d acesso a loja, que foi confeccionada com pedras retiradas na demolio. Pode-se perceber quanto importante o planejamento e organizao das aes permitindo que as aes de reaproveitamento dos resduos acontea. No aspecto da gesto da gua, foram tomadas aes como a utilizao de vlvulas de duplo acionamento nas bacias sanitrias, mictrios especiais que no utilizam gua,

desenvolvimento de projeto para minimizar riscos de enchentes da regio e no desperdiar o volume de gua da chuva drenado (Figura 18), e projeto de captao de gua de chuva posteriormente utilizada nas descargas, jardins e limpeza, com reservatrio de 150 mil litros (Figura 18)Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 42

Figura 18 - sistema combate enchentes e Caixa dgua de armazenamento de agua da chuva Fonte: Leroy Merlin, 2011

A economia de energia foi possvel a partir do uso de painis fotovoter (Figura 19), spots e refletores na fachada com LED (Figura 19), e com um sistema automatizado que controla o sistema de arrefecimento, no permitindo o ligar e desligar freqentes, evitando corrente de fuga. Com estas aes se conseguiu uma economia de 17%.

Figura 19 - Painis fotovolver e Refletores com LED Fonte: Leroy Merlin,2011

No paisagismo externo da loja foram utilizadas espcies de arvores que alem de propiciar conforto ao usurio, atraem espcies animais. No espao interno foi realizado um piso de concreto polido que no necessita produtos qumicos em sua limpeza. A acessibilidade aos deficientes fsicos garantida pela adoo de esteiras na entrada da loja, que facilitam tambm a entrada e sada de carrinhos no fluxo lojaestacionamento. O fato da fachada do prdio estar voltada para o oeste, recebendo a insolao direta durante toda tarde, e a soluo foi o uso de vidros e quebra sol (Figura 20) que permitem que a iluminao natural entre mantendo o calor do lado de fora. Esta soluo foi prevista ainda na fase de programa e concepo.

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Figura 20 - Fachada em vidros e quebra brisa ]Fonte: Leroy Merlin, 2011

5.2.2

Certificao

A loja da Leroy Merlin de Niteri conseguiu o certificado do Processo AQUA que foi entregue no dia da inaugurao da loja. A loja apresentou cinco nveis excelentes, seis nveis superiores e trs nveis bom. O Quadro 10 mostra o nvel atingido em cada categoria.

Quadro 10 - Avaliao das 14 categorias do LEED da loja Leroy Merlin Fonte: Leroy Merlin, 2011

A loja em questo ainda hoje pratica a reciclagem de resduos, e leva a proposta para o cliente por meio da presena de postos de coleta seletiva (Figura 20) por toda a loja. Atravs de cartazes (Figura 20) ela valoriza as aes sustentveis adotadas, como a captao a gua de chuva, incentivando a conscientizao ambiental e obtendo beneficio com o marketing positivo para a loja. Na mesma linha de ao ela tenta promover o consumo mais sustentvel identificando os produtos eco sustentveis (Figura 21).Curso de Graduao em Engenharia Civil da UFMG 44

Figura 21 - Coleta seletiva e Cartazes Fonte: Leroy Merlin

Por estas iniciativas e aes do dia a dia que a Leroy Merlin de Niteri recebeu recentemente o certificado AQUA da fase de operao.

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6 CONSIDERAES FINAISAps o desenvolvimento deste trabalho, pode-se dizer que o desenvolvimento sustentavel traz benefcios econmicos, ambientais e sociais fundamentais para o crescimento do pais. As praticas sustentveis tem como objetivo a reduo dos impactos ambientais, porem seu desenvolvimento e aplicao envolve praticas de planejamento e gesto, o que favorece o custo beneficio da obra, tornando-as entre outras coisas, mais produtivas, rentveis e evoludas tecnicamente e gerencialmente. Na certificao ambiental se encontram procedimentos, baseados em boas praticas e em dados da degradao que uma construo pode gerar, que tem a capacidade de direcionar as aes dos que procuram a certificao. Quando levado em considerao o ganho ambiental de uma obra certificada pelo selo LEED ou AQUA, no importando o motivo pelo qual as empresas decidem adotar tais praticas, seja por marketing, reduo de custos ou conscincia ambiental, a certificao sempre um grande passo na direo do desenvolvimento sustentvel. certo que algumas das praticas incorporadas na certificao j eram preocupaes dos arquitetos, projetistas e construtores, pois em muitos casos algumas praticas tinham valor no mercado, agregavam qualidade do produto final, valorizavam o empreendimento, e potencializavam o lucro. O processo de certificao vem ento organizar e direcionar estas aes para atender aos parmetros ambientais desejados e necessrios a sobrevivncia das geraes futuras. A certificao LEED foi desenvolvida nos Estados Unidos e por ser importada de outro pais, de outra realidade ambiental, social e econmica, pode gerar um desequilbrio nos pesos de cada um dos itens. sabido que um dos maiores problemas dos Estados Unidos o alto consumo de energia, e isto se traduz nas especificaes do LEED, sendo que no Brasil tem boa parte da produo de energia considerada fonte de energia renovvel. Em contrapartida o Brasil passa por problemas sociais e est nfase no muito pontuada na certificao LEED, gerando um desequilbrio no que seria mais importante para o desempenho da certificao no Brasil. A realidade brasileira j se apresenta com uma enorme diversidade, caractersticas internas de clima, costumes, desenvolvimento econmica e educao mudam46

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consideravelmente dentro do pais, e isto j justificaria uma adequao interna. Aliado a questo do LEED no ser adaptado a realidade brasileira, h o fato dele ser um sistema baseado em pontos, com seu resultado final baseado na pontuao total obtida, havendo o risco ento de no se alcanar o desempenho desejado. A certificao AQUA apresenta potencial maior de atender as necessidades brasileiras e por ter seu sistema baseado em desempenho onde todas os critrios devem ser atendidos pelo menos nos padres mnimos exigidos, no h como conseguir a certificao sem que realmente se esteja praticando sustentabilidade. Sua flexibilidade a torna melhor adaptvel a realidade do empreendimento, e isto pode representar ganho na eficincia e eficcia das praticas adotadas. Sendo fato os benefcios reais que ambas a certificaes produzem, minha opinio que o certificado LEED tem um maior reconhecimento, haja cisto o numero de certificao e a diferena de tempo de existncia das duas certificaes. Mais optar por uma delas representa a avaliao de qual melhor processo de certificao se adapta ao caso em questo, garantindo que alem da reduo dos impactos se obter os maiores benefcios sociais e econmicos. Ento em cada caso, determinar o que se pretende com a certificao ambiental t