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Processionária do pinheiro PROCESSIONÁRIA DO PINHEIRO (Thaumetopoea pityocampa Schiff.) DIAGNÓSTICO E MEIOS DE CONTROLO 2015

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  • Processionria do pinheiro

    PROCESSIONRIA DO PINHEIRO (Thaumetopoea pityocampa Schiff.)

    DIAGNSTICO E MEIOS DE CONTROLO

    2015

  • Processionria do pinheiro

    1 Introduo A processionria do pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff.) um inseto desfolhador, que pode parasitar todas as espcies dos genus Pinus e Cedrus.

    Os ataques variam de intensidade consoante o nvel populacional, o qual fortemente influenciado pela temperatura e insolao, pelo conjunto de inimigos naturais (insetos parasitoides, fungos, bactrias, vrus e pssaros) ativos em cada estdio areo ou subterrneo da praga e pela qualidade e quantidade de alimento, da qual depende a fecundidade das fmeas. Quando desfolhadas, as rvores exibem menores crescimentos e ocorre uma quebra na produo lenhosa. No entanto, exceo de ataques sucessivos em rvores jovens, estas geralmente recuperam e no morrem. Em termos de sade pblica, a processionria pode constituir um grave problema nos anos de fortes ataques e junto a locais habitados ou frequentados pelas populaes.

    Foto 1- Pinheiro jovem completamente desfolhado Foto: Ins Vasco

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    A eficcia do controlo de pragas florestais, mesmo quando em espaos urbanos, exige um conjunto de aes prvias de monitorizao da distribuio e status das populaes do(s) inseto(s) que possam estar ou vir a causar danos, permitindo elaborar um correto diagnstico e delinear a soluo mais adequada a cada situao especfica. Muitas vezes, intervenes precipitadas, tm resultados indesejveis, como sejam a ineficcia dos tratamentos por antecipao exagerada e desencontro com o inseto alvo, ou mesmo a inadequao das intervenes e consequentes problemas fitossanitrios, usualmente mais gravosos. O xito dos tratamentos fitossanitrios depende da adequao do tipo de tratamento ao estdio de desenvolvimento em que a praga que queremos controlar se encontra. de salientar, que os insetos apenas se tornam pragas quando se altera o seu equilbrio natural e este que se pretende readquirir atravs das intervenes fitossanitrias. Deste modo, sugere-se que previamente a qualquer tratamento efetivo seja levado a cabo um conjunto de trabalhos expeditos de monitorizao, que permitam uma melhor adequao das aes a realizar. Neste documento apresenta-se um conjunto de intervenes que podero ser levadas a cabo com o intuito de controlar as populaes de processionria. 2 Ciclo Biolgico da Processionria do Pinheiro No sentido de enquadrar as principais etapas do ciclo biolgico da processionria, com a possibilidade de atuao de modo a controlar as suas populaes, descrevem-se, de uma forma sucinta, as principais etapas do desenvolvimento destes insetos. Estes insetos so facilmente identificveis, sendo possvel observar:

    posturas nos raminhos dos pinheiros ou cedros, de fins de junho a setembro;

    tufos de agulhas vermelhas, ligadas por fios sedosos, nos ramos expostos ao sol, de julho/agosto a outubro/novembro, sendo visveis lagartas dos primeiro e segundo instares;

    a presena de ninhos grandes, em forma de bolses, constitudos por fios brancos e sedosos, na parte apical dos ramos expostos ao sol, a partir do Outono;

    lagartas agregadas, na parte do tronco exposta ao sol.

    O ciclo de vida da processionria varivel, dependendo da localizao dos ataques. No entanto, de um modo geral, pode dizer-se que as borboletas emergem ao crepsculo, nos meses de junho a setembro. Nas primeiras ecloses so mais abundantes os machos. As fmeas podem voar alguns quilmetros para selecionar um hospedeiro e a efetuarem as suas posturas. Como elas se dirigem para as silhuetas dos pinheiros, as posturas concentram se nas rvores de bordadura ou naquelas que se encontram isoladas.

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    A postura formada por vrias fiadas paralelas de ovos brancos que esto fortemente unidos entre si. A fmea geralmente deposita os ovos sobre as agulhas de uma mesma bainha, cobrindo-os com as escamas da extremidade do seu abdmen. Embora o conjunto tenha uma cor que contrasta com o verde das agulhas, o facto que se pode confundir com os gomos terminais e apicais ou com a bainha castanho-acinzentada dos pinheiros. Preferem para a postura a parte superior da copa e evitam as exposies a norte menos ensolaradas e mais frias. A longevidade das borboletas no ultrapassa os 3 ou 4 dias. O nascimento das larvas inicia-se no Vero, podendo-se prolongar at ao Outono, aps um perodo de incubao dos ovos que cerca de 30 dias. As lagartas recm-nascidas agrupam-se sobre a postura e comeam a alimentar-se sobre as agulhas onde se encontra a postura. Nesta fase, que dura aproximadamente 10 a 15 dias, constroem 3 a 4 ninhos provisrios de reduzida consistncia, cada um deles correspondendo a uma zona de alimentao. Possuem nesta fase uma alimentao diurna, comendo apenas a parte mais tenra das agulhas dos pinheiros. Durante a segunda idade, e com tempo favorvel, a colnia continua a alimentar-se de forma semelhante, aumentando a rea das zonas atacadas. Aps 15 a 20 dias, sofrem a segunda muda, passando ao terceiro instar. nesta idade que surgem os plos urticantes. Tecem casulos mais compactos e a alimentao passa a ser crepuscular e noturna, agrupando-se no ninho durante o dia. Alimentam-se das agulhas perto do ninho, comeando a destru-las totalmente. Quando os raminhos perto do ninho esto desfolhados, agrupam-se em colnias e deslocam-se para outros ramos no atacados,

    Figura 1 - Ciclo de vida da processionria Composio por: Ins Vasco

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    onde constroem um ninho novo. Este estado larvar tem uma durao varivel, sendo maior quanto mais frio for o clima.

    As quarta e quinta idades, desenvolvem-se durante o Inverno. As lagartas tecem um ninho de seda cuja compactidade tanto maior quanto mais rigoroso o clima. Possuem alimentao noturna, reunindo-se as colnias de vrias posturas, que se afastam dos respetivos ninhos ligadas por um fio de seda, que lhes permite voltar ao ponto de partida. Durante o dia permanecem no ninho que absorve o calor do Sol e lhes permite sobreviver a baixas temperaturas. Quando estas se mantm baixas durante um perodo longo, comeam a alimentar-se de dia, durante as horas de maior calor e se ocorre uma descida brusca de temperatura, cessam imediatamente a alimentao e refugiam-se nos ninhos.

    No quinto instar, as lagartas alimentam-se ativamente, comendo por completo as agulhas do pinheiro onde est instalado o ninho. Se aquele ficar completamente desfolhado (pode acontecer o mesmo nos estados anteriores) as colnias descem ao solo para depois treparem para outros pinheiros em busca de alimento.

    No fim do Inverno e durante a Primavera interrompem a alimentao por 1 a 3 dias, aps o que iniciam a conhecida procisso, encabeada por uma fmea, descendo para o solo, onde comeam a escavar, ainda agrupadas. Enterram-se a uma profundidade entre 5 a 20 cm, onde cada lagarta tece um casulo, transformando-se em pupa ou crislida.

    Foto 2 Ninho de inverno Foto: Ins Vasco

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    As pupas permanecem em repouso (diapausa) at ao incio de atividade dos adultos no Vero. No entanto, esta fase subterrnea do ciclo pode prolongar-se 1, 2 ou 3 anos o que leva a que, em cada ano, a populao anual possa ser adicionada de um contingente de indivduos sados de uma diapausa bienal ou trienal. Este um aspeto que se deve ter em conta quando da planificao dos tratamentos. A borboleta emerge para o exterior rompendo o solo com a placa crnea que possui na cabea, desde o Vero at incio do Outono.

    3 Meios de Luta

    So vrios os meios de luta que tm sido preconizados para combater este inseto. De uma forma geral todos tm as suas vantagens e inconvenientes, dependendo do local e estado dos povoamentos.

    3.1 - Trabalhos preliminares As aes de avaliao preliminar para o caso da Processionria do Pinheiro, so baseados na monitorizao com recurso a meios biotcnicos e observao direta, por tcnicos especializados, dos possveis locais de interveno. Como resultado destas aes determinam-se no s o incio de emergncia dos adultos, como tambm a presena efetiva do inseto e os nveis populacionais relativos.

    Os Meios biotcnicos passam pela utilizao de armadilhas iscadas com atraentes especficos de sntese (Feromonas). Os mtodos de Observao direta passaro pela visita aos possveis locais de ocorrncia, com vista observao dos sinais da presena da processionria. A partir da anlise dos resultados verificados nos trabalhos preliminares proceder-se- avaliao das necessidades de interveno, seu tipo e localizao, bem como definio de um cronograma de atividades e elaborao de um oramento

    ajustado. importante ter em conta a especificidade de utilizao dos diferentes espaos onde podero vir a ser realizadas intervenes, devendo-se agrupar os diferentes locais por tipo de utilizao. Isto , nos espaos cuja utilizao principal ocorra durante os dias teis, os tratamentos devero ser efetuados ao fim de semana, feriados ou perodo de frias (por exemplo nos espaos de ensino). Nos jardins pblicos ou outras reas urbanas os tratamentos podero eventualmente ser efetuados em dias teis.

    Foto 3 Armadilha iscada Fonte- EFN/INIAV.I.P.

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    3.2. Tratamentos Microbiolgicos http://www.dgv.min-agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?actualmenu=3665921&generico=3669837&cboui=3669837

    Devido s suas caractersticas, a aplicao de substncias base de Bacillus thuringiensis, apenas ser efetuada enquanto o inseto se mantiver no estado de ovo ou no primeiro a segundo instar de desenvolvimento (quando as maiores lagartas da colnia tenham cerca de 8-10 mm de comprimento), o que se prev ocorra entre setembro e outubro. A aplicao deste tratamento poder ser realizada por avio, ou com recurso a outros meios que possibilitem o tratamento da copa das rvores. 3.3. Tratamentos com Reguladores de Crescimento http://www.dgv.min-agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?actualmenu=3665921&generico=3669837&cboui=3669837

    A utilizao de inseticidas base de diflubenzuro, pertencentes ao grupo dos reguladores de crescimento de insetos, permite uma aplicao um pouco mais tarde no desenvolvimento dos insetos, podendo ser aplicada em finais de outubro incios de novembro. No entanto, no deveremos esquecer, que esta substncia apenas eficaz nos primeiros instares de desenvolvimento das lagartas, uma vez que atua sobre a formao de quitina Em reas com significativo nmero de rvores, de porte superior a 10 metros, a aplicao poder ser feita com recurso a meios areos (utilizao de avioneta). Em rvores isoladas a aplicao dever ser localizada, podendo igualmente ser efetuada com o auxlio de meios areos, atravs, por exemplo, da utilizao de um helicptero. 3.4 Tratamentos Mecnicos Quando as infestaes so pequenas, mas localizadas em reas onde habitual

    verificarem-se pululaes do inseto que originem desfolhas totais e se constitua perigo de virem a contaminar locais frequentados pelo pblico ou dificultar as operaes de explorao dos pinhais, muitas vezes preconizada a destruio dos ninhos de Inverno, durante o dia, quando as lagartas esto abrigadas. Estes mtodos s so aplicveis a infestaes inferiores a 100 ninhos por hectare e o pessoal encarregado destas operaes deve estar equipado com culos e com proteo na cabea e pescoo.

    Foto 4 Corte de ninhos. Fonte:DGRF/ICNF.I.P.

    http://www.dgv.min-agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?actualmenu=3665921&generico=3669837&cboui=3669837http://www.dgv.min-agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?actualmenu=3665921&generico=3669837&cboui=3669837

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    So vrias as formas usadas para essa destruio. O mtodo mais antigo consiste na aplicao de petrleo ou gasleo, tendo dissolvido ou em emulso inseticida, que, com o auxlio de um cabo suficientemente longo, se introduz no ninho de forma a impregn-lo. A remoo e destruio mecnica dos ninhos de Inverno da Processionria do Pinheiro relativamente fcil de realizar, quando estes se encontram em ramos situados at 10/15metros do solo. O custo de remoo dos ramos mais elevados das rvores de grande porte extremamente elevado, podendo ser substitudo por outras alternativas como a aplicao de cintas adesivas, em pocas posteriores. 3.5 - Captura de lagartas com cintas adesivas O mtodo de captura de lagartas na sua fase descendente, isto , quando atingem a fase de pr-pupa e iniciam a procura de um local apropriado para a transformao em

    adulto (borboleta), pode ser realizado por captura manual das lagartas no solo e tronco das rvores atacadas, ou basear-se na aplicao de cintas de captura com colas especficas inodoras, que mantm a sua capacidade adesiva durante largos perodos (por exemplo o poli-isolbutadieno). A aplicao deste ltimo mtodo requer uma manuteno frequente e apenas se aplicar nas situaes no abrangidas pelos mtodos utilizados nas fases anteriores ou nas quais estes no foram eficazes.

    4 Plano de Controlo e Monitorizao da Processionria O cronograma seguinte sintetiza a calendarizao das diferentes aes preconizadas para o controlo e monitorizao das populaes de processionria do pinheiro. Chama-se a ateno que esta calendarizao poder sofrer alteraes dependendo do estado de desenvolvimento biolgico que o inseto apresenta. Chama-se novamente ateno que a eficcia de um determinado tratamento, depende da adequao do tipo de tratamento ao estdio de desenvolvimento em que a praga que queremos controlar se encontra. Bibliografia: Ferreira, MC Manual dos Insectos Nocivos s Plantaes Florestais.1998

    Foto 5 rvore cintada Fonte:DGRF/ICNF,I.P.