SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS ESPRITAS - SBEE

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS ESPRITAS - SBEE

PROTO-ESPIRITISMO

A FASE PR-HISTRICA

Horizonte tribal e mediunismo primitivo

Rui Simon Paz

A mediunidade uma condio natural da espcie humana e os fatos espritas, ou manifestaes medinicas, so de todos os tempos. A Doutrina dos Espritos uma interpretao racional das manifestaes medinicas (A. Kardec).

O horizonte tribal caracteriza-se pelo mediunismo primitivo; so as prticas empricas da mediunidade.

A crena na sobrevivncia da alma universal, manifesta-se em todas as culturas chamadas primitivas.

Os povos primitivos afirmavam a existncia de uma FORA, que impregna os objetos, podendo atuar sobre criaturas humanas, chamada MANA ou ORENDA, que corresponde ao ECTOPLASMA. Os curandeiros polinsios consideravam trs formas de existncia dessa fora: a mais baixa era transmitida pelos corpos materiais; a mdia provinha da mente humana; e, a superior de uma espcie de centro espiritual da mente humana. Por exemplo, permitia ao homem prever o futuro, materializar e desmaterializar coisas.

Outra ocorrncia universal a existncia dos prprios espritos e de sua manifestao entre os humanos encarnados.

As primeiras fases so do ANTROPOMORFISMO, quando ainda interpreta as coisas em termos exclusivamente humanos. No entanto, a adorao - diferente de cultura para cultura - um sentimento inato no homem. Todo ser humano tm sinalizado em si a idia de Deus.

Num primeiro momento temos a LITOLATRIA, ou adorao de pedras; no segundo, a FITOLATRIA, ou adorao de plantas, flores, rvores, bosques; no terceiro, a ZOOLATRIA, que se refere a animais; e, somente, depois num grau mais elevado temos a MITOLOGIA, com sua forma clssica de POLITESMO.

Herbert Spencer, apesar do enfoque materialista prprio do Sculo XIX, enxergou que a crena na sobrevivncia decorre de experincias concretas do homem chamado primitivo, e no de cogitaes filosficas que podem ser encaradas como crendices.

Os sonhos premonitrios, por exemplo, inerentes ao seres humanos, demonstram por si ss a transcendncia de determinados fenmenos; levam o ser primitivo a deduzir a existncia de algo alm da matria tangvel.

Da selva chamada civilizao, as evidncias antropolgicas e histricas afirmam a crena universal na sobrevivncia do homem aps a morte e na possibilidade de comunicao entre encarnados e desencarnados.

HORIZONTE AGRCOLA:

ANIMISMO E CULTO DOS ANCESTRAIS

As formas sedentrias de vida social impem uma racionalizao ao animismo tribal. Animais so domesticados, instrumentos so fabricados, plantas so cultivadas, cria-se riqueza.

A racionalizao aprofunda a crena nos espritos, personalizando-os e envolvendo os aspectos e os elementos da natureza. O Universo encarado de duas formas: a Terra-Me e o Cu-Pai. Esta a fase da personalizao da natureza, denominada de FETICHISMO; depois, funde-se experincia e imaginao, e temos o mediunismo, a mitologia popular impregnada de magia. Finalmente, a religio antropomrfica, atravs do culto aos ancestrais. Nascem assim os deuses-lares, deuses-locais, etc.

A teogamia egpcia, por exemplo, influenciou a doutrina crist da trindade divina (Osris, Isis e Hrus). Os Faras eram portadores de dupla natureza, a humana e a divina, porque eram filhos da rainha e do deus solar. Este sistema vigorou at o IV sculo a.C., tendo seu auge em 1.500 a.C., com a rainha Hatsepshut.

interessante notar a alegoria de Osris, filho da Terra e do Cu, que cresce, viceja, esplende e, ento, ceifado, retalhado ou modo e, por fim, enterrado. O mesmo ocorre com o trigo. Esse processo d a idia de renovao permanente da natureza, atravs de foras divinas, algo que est por trs desse movimento cclico. (perma)

O mito agrrio essencialmente analgico, nasce do poder comparativo da razo. Da a idia de ressurreio, de que tudo nasce, vive, morre e torna a renascer.

A idia de DEUS de PRIMEIRA-MO. O deus Jeov, Osris, e outros constituem, em essncia, o mesmo Deus que conhecemos hoje como INTELIGNCIA SUPREMA. Apenas era encarado em cada horizonte cultural da maneira que os homens percebiam a experincia humana associada ao mediunismo.

A RELIGIO DOS NDIOS BRASILEIROS

De um modo geral, em todas as tribos indgenas h a crena de que todo homem possui uma alma. Embora a noo de alma difira de uma tribo para a outra, bem como da noo crist de alma.

Para os ndios Krah (Timbira), por exemplo, todos os seres, sejam animais, vegetais ou minerais, possuem alma. Cada ente compreende uma parte material e outra espiritual. Chamam a alma de KAR. Ela pode separar-se do corpo, vagar quando o homem dorme, ir aos lugares onde sonha, etc. A morte vem quando a alma se afasta definitivamente do corpo.

Os ndios Bororos denominam a alma de AROE. Acreditam que, depois da morte, a alma vai para outra morada. Acreditam que depois de algum tempo migram (transmigram) para corpos de animais.

Existe uma categoria de mdicos feiticeiros, denominados xams, que entram em estado de xtase e se retiram do corpo ou encarnam espritos. Os xams entram em contato com espritos chamados MAEREBOE, que so xams desencarnados.

Os Tupinambs sentiam-se rodeados por uma multido de espritos, que perambulam por toda parte. Alguns eram considerados benvolos, outros no. Para afastar os maus colocavam moures nas entradas das aldeias. Talvez por isso tenha sido fcil a adeso dos Tupinambs ao Cristianismo, pois os padres prometiam afastar os maus espritos com a cruz de madeira na entrada das aldeias.

Para os Tupinambs a alma permanecia aps a morte. Deslocava-se apara alm das montanhas, onde encontraria seus antepassados. Durante os funerais eram feitas recomendaes ao morto para que tomasse cuidado para no atravessar terreno inimigo, nem esquecer seus instrumentos onde dormisse, durante a viagem para a terra dos seus ancestrais.

HORIZONTE CIVILIZADO:

MEDIUNISMO ORACULAR

O horizonte civilizado comea com a separao entre poltica e religio, particularmente com os Persas. Esparta e Atenas herdam essa tradio persa. Esparta muito mais, pois submete a religio ao Estado. Atenas ainda mantm o Estado Teolgico. A separao, em Atenas, se acentuar com o advento da democracia.

No horizonte civilizado, a religio reflete o sistema poltico e social: politesta como um senado republicano. Os deuses representam foras da natureza, mas mais personalizados e dramticos.

Um novo esprito marcar esse horizonte: o esprito de civilizao. Caracteriza-se por trs funes especiais: a formulao de conceitos abstratos, de juzos ticos e morais, e de princpios jurdicos. Da comea a surgir o INDIVDUO, como sua mais bela afirmao. Se na organizao tribal, o homem se libertou da condio animal, na agrcola aprendeu a dominar a natureza e submete-la. No horizonte civilizado, ele comea a romper os liames da organizao social que o aprisionara no agrcola, para descobrir-se a si mesmo, tornar-se indivduo.

A organizao social permite ao homem superar a natureza, transformar-se em um ser moral que supera o ser social. A humanidade deixa de ser uma espcie para tornar-se um devir. O mediunismo primitivo, o animismo e o culto aos ancestrais se refundem e forjam o MEDIUNISMO ORACULAR.

Os orculos podiam ser as matas, as cavernas, um lugar sagrado. O importante que, no mediunismo oracular, acontece a transio para o culto individual dos espritos. H sempre a intermediao de algum no orculo (o mdium), na figura da pitonisa, por exemplo.

HORIZONTE PROFTICO:

MEDIUNISMO BBLICO

A organizao social, a individualizao do homem, a capacidade de abstrao e formulao de juzos ticos e religiosos, permitiram a INDIVIDUALIZAO DO PROFETA. Assim, vemos aflorarem a filosofia grega, o profetismo hebraico, o misticismo hindu e o moralismo chins.

Nesse perodo temos Moiss, Abro, etc. A culminncia desse horizonte se deve: 1.o) aceitao popular do monotesmo, pela primeira vez na histria; 2.o) acentuao dos atributos ticos de Deus; e, 3o) estabelecimento de ligaes diretas do Deus individual com o indivduo humano, atravs do Profeta.

A individualizao social produziu a individualizao medinica e esta, por sua vez, produziu a individualizao espiritual, atravs dos atributos ticos do Profeta.

BIBLIOGRAFIA

MELATI, Julio Csar. ndios do Brasil. Coordenada editora de Braslia Ltda. Braslia, 1970.

MTRAUX, Alfred. A Religio dos Tupinambs. Cia. Editora Nacional. So Paulo: 1979. 2a. Edio.

PIRES, J. Herculano. O Esprito e o Tempo: Introduo Antropolgica ao Espiritismo. Edicel. So Paulo : 1979. 3a. Edio.

MALINOWSKI. Bronislau. Os Argonautas do Pacfico. Col. Os Pensadores. Ed. Abril : So Paulo, 1980.

KARDEC. Alan. O Livro dos Espritos. Lake ; So Paulo, 1980.

Curitiba (PR), maro de 2.001.