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EDUCAÇÃO É NOTÍCIA. PARA MOBILIZAR AS COMUNIDADES ESCOLARES E ESTIMULAR O CONTROLE SO- CIAL, O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO APÓIA ATIVIDADES E A REALIZAÇÃO DE ESTUDOS QUE POSSAM AUMENTAR O INTERESSE DA IMPRENSA PELA EDUCAÇÃO E MELHORAR A COBERTURA DA PAUTA. A PESQUISA SOBRE A MÍDIA DOS JOVENS, PUBLICADA COM APOIO DO FUNDESCOLA, É IMPORTANTE PARA QUALIFICAR O TRABALHO DOS JORNALISTAS E FAZER COM QUE O COTIDIANO DE PROFESSORES, DIRETORES, PAIS DE ALUNOS E ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SEJA MELHOR RETRATADO PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. EMÍLIO MARQUES Diretor Geral do Fundescola Parceria com as revistas Educação e Imprensa permite que esta edição da pesquisa A Mídia dos Jovens circule gratuitamente para assinantes de ambas as publicações. Ao publicar a oitava edição da pesquisa A Mídia dos Jovens (anteriormente chamada Os Jovens na Mídia), renovamos nossa convicção de que os jornalistas e os meios de comunicação têm, no que se refere ao seu diálogo com as questões da adolescência, uma missão que transcende os limites do jornalismo. As revistas e os suplementos de jornais dirigidos ao público adolescente e jovem têm, mais do que nunca, a responsabilidade de equacionar informação + formação. São veículos que, pela característica de seus leitores (cidadãos em fase de desenvolvimento), desempenham papel fundamental na formação de novas consciências. EM 166 PAÍSES DO MUNDO, O UNICEF TEM INVESTIDO EM ESFORÇOS DE DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÃO PARA ADOLESCENTES. NO BRASIL, O UNICEF TEM O PRIVILÉGIO DE CONTAR COM O TRABALHO DA EDITORIA DE MÍDIA JOVEM DA ANDI. AO ACOMPANHAR E QUALIFICAR A COBERTURA DA MÍDIA DIRIGIDA AOS JOVENS, A ANDI FAZ CHEGAR DE- BATES SOBRE CIDADANIA, GÊNERO, SAÚDE, SEXUALIDADE, DROGAS, MEIO AMBIENTE A CENTENAS DE MILHARES DE ADOLESCENTES BRASILEIROS, TENDO COMO PARCEIROS JORNALISTAS SENSÍVEIS AOS TEMAS SOCIAIS. ESTE É UM ESFORÇO QUE ACREDITA, COMO NÓS DO UNICEF, QUE A CIDADANIA É UMA CONQUISTA COTIDIANA E UM DIREITO DE TODAS PESSOAS, NÃO IMPORTA SE ELAS TÊM UM, CINCO, 12, 17 OU 40 OU 72 ANOS. REIKO NIIMI Representante do UNICEF no Brasil GERALDINHO VIEIRA • ANDI VIVIANE SENNA • IAS JORGE WERTHEIN • UNESCO Nesse sentido, é animador revelar que entre os anos de 1997 e 2000 o índice médio de matérias publicadas pela Mídia Jovem sobre temáticas de Relevância Social cresceu dos 24,20% para nada menos que 44,26%. Agradecemos aos diversos amigos e parceiros que nos ajudaram a construir esta edição (Fundescola, Unicef, Coordenação Nacional de DST e Aids, Organização Mundial de Saúde, Instituto Nacional do Câncer, Área de Saúde do Adolescente e do Jovem do Ministério da Saúde). Com a pesquisa A Mídia dos Jovens, juntos esperamos contribuir para que os jornalistas e meios de comunicação possam ampliar ainda mais sua visão sobre o atual cenário para continuar exercendo um jornalismo com qualidade e responsabilidade social. Esse é o nosso objetivo. www.andi.org.br Versión en español Se puede encontrar un resumen de este informe en el sitio de ANDI en la Internet You can find a brief summary of this research on ANDI´s website English version Primeiras palavras

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Parceria com as revistas Educação e Imprensa

permite que esta edição da pesquisa

A Mídia dos Jovens circule gratuitamente para

assinantes de ambas as publicações.

Ao publicar a oitava edição da pesquisa A Mídia dos Jovens

(anteriormente chamada Os Jovens na Mídia), renovamos nossa

convicção de que os jornalistas e os meios de comunicação têm, no

que se refere ao seu diálogo com as questões da adolescência, uma

missão que transcende os limites do jornalismo.

As revistas e os suplementos de jornais dirigidos ao público adolescente

e jovem têm, mais do que nunca, a responsabilidade de equacionar

informação + formação. São veículos que, pela característica de seus

leitores (cidadãos em fase de desenvolvimento), desempenham papel

fundamental na formação de novas consciências.

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GERALD INHO V IE IRA • AND I V IV IANE SENNA • IAS JORGE WERTHE IN • UNESCO

Nesse sentido, é animador revelar que entre os anos de 1997 e 2000 o

índice médio de matérias publicadas pela Mídia Jovem sobre temáticas

de Relevância Social cresceu dos 24,20% para nada menos que 44,26%.

Agradecemos aos diversos amigos e parceiros que nos ajudaram a

construir esta edição (Fundescola, Unicef, Coordenação Nacional de

DST e Aids, Organização Mundial de Saúde, Instituto Nacional do

Câncer, Área de Saúde do Adolescente e do Jovem do Ministério da

Saúde). Com a pesquisa A Mídia dos Jovens, juntos esperamos

contribuir para que os jornalistas e meios de comunicação possam

ampliar ainda mais sua visão sobre o atual cenário para continuar

exercendo um jornalismo com qualidade e responsabilidade social.

Esse é o nosso objetivo.

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A oitava edição de A Mídia dos Jovens – Pesquisa

ANDI / IAS / Unesco é uma realização da Agência de

Notícias dos Direitos da Infância, do Instituto Ayrton

Senna e da Unesco em aliança à qual se unem ainda o

Unicef e o Fundescola – Fundo de Fortalecimento da

Escola. Integra a série Comunicação e Mobilização

Social, publicada pelo Instituto Ayrton Senna.

Com tiragem de 20 mil exemplares, pode ser adquirida

junto à ANDI. Circula gratuitamente para assinantes

das revistas Imprensa e Educação – veículos que se

somam ao projeto com espírito de parceria.

É uma contribuição ao aprimoramento da cobertura

jornalística dos temas relevantes para a promoção e

defesa dos direitos da criança e do adolescente.

A coleta de dados – notícias publicadas em 25

suplementos de jornais e 5 revistas dirigidos ao

público adolescente e jovem – é realizada diariamente

pela ANDI (única responsável pela fidelidade dos

dados e pelo conteúdo das análises).

A cada título – seja de capa, de matéria principal, de

boxes ou de artigos – é registrado o que

convencionamos chamar “inserção”. As notícias são

divididas em 21 temas (retrancas) que, por sua vez,

contêm sub-retrancas (veja ao lado) que permitem

uma avaliação mais detalhada das prioridades da

pauta jornalística voltada para as questões da

adolescência e da juventude. Destas retrancas, 18 são

consideradas de Relevância Social – ou seja,

contribuem para a formação cidadã do jovem leitor.

Foram analisadas 11.345 “inserções” – 100% das

matérias jornalísticas de todas as edições do ano

2000 dos veículos pesquisados (suplementos de

jornais e revistas). Foram 1.550 edições.

Não são computadas notas de colunas, assim como o

espaço dedicado pelos veículos às cartas dos leitores.

2

AidsCamisinhaDST

Atitudes e TendênciasConjuntura MundialConjuntura NacionalEconomiaEspiritualidade e ReligiãoOutros

Hip-HopLiteraturaOutras Linguagens

Maioridade PenalMedidas LegaisMedidas Sócio-Educativas: Meio AbertoMedidas Sócio-Educativas: Privação da

LiberdadeOutrosProcesso EleitoralQuestões de EtniaQuestões de Gênero

ÁlcoolAlucinógenosCigarroCocaínaCrack, Merla e InalantesInjetáveisMaconhaPrevençãoTráficoTratamento e Recuperação

Acesso à UniversidadeDireitos dos EstudantesEstudo e ComportamentoEventos EstudantisMovimento EstudantilOutrosPerfil de EducadoresQualidade de EnsinoReforma do EnsinoTemas Transversais e Atividades

Complementares

IrmãosOutrosPais e Filhos

AbortoCuidados Durante a GravidezMaternidadePaternidadePrevenção

* Aids & DST

* Atualidades

Comportamento

* Cultura

* Direitos & Justiça

* Drogas

* Educação

* Família

* Gravidez

*Informática & Internet

Sub-retrancasR E T R A N C A S

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3

Agenda e ServiçosAmenidadesÍdolos e PerfilLançamentos/Estréias

EducomunicaçãoErotização na MídiaOutrosPapel Social da MídiaViolência na Mídia

BazarBelezaModa

Inclusão na EscolaInclusão no Mercado de TrabalhoInclusão Social/Discriminação

Arte-EducaçãoConceitos GeraisFormação de Lideranças/Incentivo ao

ProtagonismoMídia/ComunicaçãoMobilização SocialOutrosVoluntariado

Disfunções OrgânicasDisfunções PsicológicasExercícios FísicosNutrição

AfetividadeIniciação SexualOutrosPrazerSaúde Reprodutiva e Sexual

Ensino ProfissionalizanteEstágio e Iniciação ProfissionalMercado de TrabalhoOrientação VocacionalPerfis das Profissões

AgenteEntre AdultosEntre JovensGangues e GalerasOutrosPrevenção à ViolênciaTrânsitoVítima

Lazer & Entretenimento

* Meio Ambiente

* Mídia

Moda & Beleza

* Pessoas com Deficiência

* Projetos Sociais

* Protagonismo Juvenil

* Saúde

* Sexualidade

* Trabalho

* Violência

* Retrancas de Relevância Social.

Sub-retrancasR E T R A N C A SE X P E D I E N T E

A MÍDIA DOS JOVENS • PESQUISA ANDI/IAS/UNESCO(ISSN 1519-5384) ANO 5 / NÚMERO 8 / JUNHO 2001AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA,INSTITUTO AYRTON SENNA E UNESCO

APOIOUnicef/Fundescola

ANDI

PRESIDENTEÂmbar de Barros

DIRETOR EXECUTIVOGeraldinho Vieira

DIRETOR ADJUNTOMarcus Fuchs

IAS

PRESIDENTEViviane Senna

SUPERINTENDENTEMargareth Goldenberg

COORDENADORA/ÁREA DE COMUNICAÇÃOMaria Helena Magalhães

UNESCO

REPRESENTANTE NO BRASILJorge Werthein

ASSESSOR DE COMUNICAÇÃOLuciano Milhomem

A MÍDIA DOS JOVENS • Pesquisa ANDI/IAS/UNESCO

REALIZAÇÃOANDI

COORDENADOR/EDITORVeet Vivarta

DISTRIBUIÇÃOAdélia Rondon

EDITORA DE MÍDIA JOVEMCarmen Moretzsohn

CLIPAGEM, CLASSIFICAÇÃO E GERENCIAMENTO DE DADOSDaniela Paiva, Gisliene Hesse, Jonas Valente, PatríciaOsandón e Cláudio Marques

ASSISTENTESAntônia Amélia, Eduardo Tavares, Neurane Lima, Rubenita Correa

PROJETO GRÁFICOCélia Matsunaga e Marcelo Terraza

FOTOGRAFIASMila Petrillo • Capa e seguintes projetos: Edisca – Escola deDança e Integração Social de Crianças e Adolescentes (Ceará)– p. 06, 09, 24, 38, 40; Projeto Axé (Bahia) – p. 03, 06, 07, 09,11, 17, 36; MIAC – Movimento de Intercâmbio Artístico-Cultural Pela Cidadania (Bahia) – p. 39; Projeto Cria – Centrode Referência Integral do Adolescente (Bahia) – p. 08, 21, 42.Almir Bindilatti • p. 44.

FOTOLITO E IMPRESSÃOEditora Segmento

TIRAGEM20 mil exemplares

A Mídia dos Jovens pode ser adquirida diretamente na ANDI: fone(61) 322-6508 ou [email protected] com Adélia Rondon. Esta ediçãocircula gratuitamente com a revista Educação e a revista Imprensa.

As opiniões e análises desta pesquisa são de responsabilidadeexclusiva da ANDI e dos autores dos artigos assinados.

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da InfânciaSDS, Ed. Boulevard Center, Bloco A, sala 101 • 70391-900 • Brasília, DFTelefone: (61) 322-6508 e Fax: (61) [email protected] e www.andi.org.br

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TablóidesAzul/Diário de CuiabáD+ • Gabarito/Estado de MinasFolhateen/Folha de S. PauloFor Teens/Meio Norte, PIGalera/O Estado do MaranhãoMegazine • Planeta Globo/O Globo, RJZep/Jornal da Divisa, SPZerou/Zero Hora, RS

StandardsFun/Gazeta do Povo, PRPop/O Popular, GOTribu/A Tribuna, SPZine/A Gazeta, MT

PáginasAdolescência/O Povo, CEAtitude/Hoje em Dia, MGFanzine/A Gazeta, ESPapo Cabeça/A Crítica, AMPlaneteen/A Notícia, SCQG/Folha de Londrina, PRTribuna Teen, AL/Tribuna

de AlagoasTribuna Teen, ES/A Tribuna, ESX-Tudo/Correio BrazilienseZap!/O Estado de S. PauloZona Teen, BA/A Tarde, BAZona Teen, PB/O Norte, PBZuêra/Correio da Bahia

RevistasAtrevidaCaprichoCaríciaQueridaTodaTeen

T A B A C O E Á L C O O LAdolescentes exigem novos hábitos editoriais

A I D S & D S T sEntre a precisão técnica e a prisão factual

E D U C A Ç Ã OA imprensa repensa a escola?

P O N T O F I N A LPor uma política de juventude

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Jornais

Total de inserções ¨ 8.840Relevância Social ¨ 50,05%

Revistas

Total de inserções ¨ 2.505Relevância Social ¨ 23,79%

Jornais + Revistas

Total de inserções ¨ 11.345Relevância Social ¨ 44,26%

R E L Ê V A N C I A S O C I A LDe alienado a cabeça-feita. Enfim a imprensa vê o jovem

T E M A S M A I S A B O R D A D O S

V E Í C U L O S A C I M A D A M É D I A G E R A L

V E Í C U L O S A B A I X O D A M É D I A G E R A L

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Desde meados da década passada a imprensabrasileira vem servindo de canteiro de obraspara a experimentação e construção das basesde uma nova vertente da cultura jornalísticacontemporânea. O processo, complexo e não-linear, ainda passa desapercebido pela maiorparte dos estudiosos da comunicação.Tradicionalmente vista na melhor das hipótesescomo insossa e, na pior, como pausterizadoradas mentes adolescentes, a chamada MídiaJovem paga o preço de haver nascido num berçoformatado mais pelos interesses mercadológicosdo que pela relevância da informação.Mas o fato é que hoje esse segmento da mídiavive um acelerado movimento de assimilaçãode variados elementos conceituais relativostanto à área de comunicação quanto à deeducação. E, em seu fazer cotidiano, vem setransformando no principal espaço deveiculação das idéias, interrogações e valoresde nossos adolescente e jovens.Esta oitava edição da pesquisa A Mídia dosJovens (anteriormente denominada Os Jovensna Mídia) registra, em detalhes, diferentesdimensões desse processo, por meio de análisesquantitativas e qualitativas do comportamentoeditorial de 30 suplementos de jornais e revistasdirigidos ao público adolescente ao longo doano 2000.A mais marcante delas é o crescimento, emrelação a 1999, de quase quatro pontospercentuais no volume de reportagens sobretemáticas que contribuem na preparação do

adolescente para os desafios da vida moderna(veja gráfico na p.7). Entre estas temáticas, ade maior evolução – mais do que triplicandoos números da edição anterior – é Atualidades,que concentra as reportagens sobre assuntosrelacionados à economia, à política e àconjuntura internacional (veja tabela na p. 11).Permanecem em posições privilegiadas, poroutro lado, as temáticas Educação e Cultura.Esta edição da pesquisa A Mídia dos Jovenstem como foco central as reportagens que ossuplementos de jornais e revistas dirigidos aopúblico adolescente e jovem desenvolveram apartir de questões relativas ao universo doTabaco e do Álcool. A partir da página 16, osresultados da análise dessas reportagensrealizada por um grupo de especialistas ejornalistas, evidenciam fortes desequilíbriostécnicos (jornalísticos e no tratamento deconceitos associados à saúde) na abordagem deambas as pautas. A análise deixa claro que éem áreas vitais para o jovem, como o uso dedrogas, a violência e a Aids (veja p. 38), que osprofissionais da Mídia Jovem mais necessitamaprimorar e aprofundar seu trabalho.Vale ressaltar que o objetivo da ANDI, doInstituto Ayrton Senna e da Unesco, aolançarem a pesquisa A Mídia dos Jovens, écontribuir para um diálogo profissional entrejornalistas, meios de comunicação e atoressociais (fontes de informação) relevantes paraa promoção e defesa dos direitos da criança edo adolescente.

V E E T V I V A R T A • C O O R D E N A D O R D A P E S Q U I S A

Uma mídia em construção

A Análise de Mídia sobre os

temas Tabaco e Álcool integra

as ações de prevenção ao uso

de tabaco entre crianças e

adolescentes, desenvolvidas

internacionalmente pelo Unicef,

com apoio da UN Foundation.

A MÍDIA DOS JOVENS

ANO 5, NÚMERO 8, JUNHO 2001

UMA PESQUISA

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( )( )R E L E V Â N C I A S O C I A L

relativo à segunda edição dapesquisa A Mídia dos Jovens(período maio-julho/97), quandoo índice foi construído pela ANDI.Esses dados refletem aconsolidação de um perfileditorial, por parte da maioriados veículos dirigidos aosadolescentes, afinado com osparâmetros do que vem sendochamado internacionalmente deeducomunicação: umjornalismo consciente do papelestratégico que lhe cabe noprocesso de preparação de seusjovens leitores para enfrentar os

desafios da vida contemporânea.Mais do que um expressivo eimportante crescimento nonúmero de reportagenssocialmente relevantes, taisíndices da atual edição dapesquisa A Mídia dos Jovenstestemunham, portanto, a maiormaturidade e qualificação detodo um segmento deprofissionais de comunicaçãoque até muito recentementetinha como principal – oumesmo única – referência ojornalismo de comportamento/entretenimento.

Em 2000, a ANDI computou5.021 inserções de matériasrelacionadas a temas deRelevância Social entre toda aprodução jornalística dos 25suplementos de jornais e cincorevistas analisados. Esses veículospublicaram um total de 1 mil 550edições no ano passado, comtiragem aproximada de 150milhões de exemplares.O Índice de Relevância Social de44,26%, agora alcançado,corresponde a um crescimentoacumulado de 82,89% emrelação aquele de 24,20%,

CABEÇA-FEITA.De alienado a

Desde 1997, quando a ANDI passou a analisar ocomportamento dos suplementos de jornais e dasrevistas direcionadas aos adolescentes e jovens, umatendência editorial vem regularmente se destacando:

o crescimento no espaço dedicado a reportagenssobre temáticas que contribuem não só para a

informação, mas também para a formaçãodesse público.

Também na atual edição da pesquisa A Mídia dos Jovens,que analisa o ano 2000, é significativa a evolução do

Índice de Relevância Social: atinge a marca dos 44,26%,praticamente quatro pontos percentuais superior ao número

registrado em 1999.

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Em pouco mais de três anos e meio de avaliação, o Índice de Relevância Social dos

suplementos de jornais e revistas da Mídia Jovem só deixou de crescer no período novembro/

98-abril/99, quando o impacto da recessão econômica atingiu as empresas de comunicação.

Suplementos foram extintos, outros tiveram o número de páginas reduzido e a maioria sofreu

cortes em suas equipes. Como resultado, também o espaço dedicado à cobertura das

temáticas que contribuem para a formação do adolescente terminou sofrendo pequena

contração. É importante notar que, ao final da crise, o Índice de Relevância Social volta a

subir significativamente: em média, quatro pontos percentuais ao ano.

Enfim, a IMPRENSA vê o jovem

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O mito da alienação( )

A construção desta nova Mídia Jovem passa,obrigatoriamente, pelo reconhecimento dafalência de um antigo estereótipo que associaa adolescência a um estado de completaalienação diante da realidade.Herança de um período marcado pela mais gravecrise política vivida pelo País no último meioséculo – a necessidade de enfrentar-se a ditaduramilitar levava a leituras sem meios tons, em quecada cidadão surgia como elemento plenamenteengajado na luta contra ou absolutamenteconformado com o status quo – nas décadas maisrecentes esse estereótipo de alienação serviuperfeitamente ao mercado brasileiro, ajudando aestabelecer as características da segmentaçãovinculada ao público jovem.A imagem do adolescente de classe média,encarado como o protótipo do “consumidorideal”, se desenhava segundo parâmetrosparalisantes: destituído de vontade própria e

de senso crítico, reunido segundo tribosfechadas, altamente vulnerável a modismosimportados ou gerados internamente, vivendouma existência rala – uma eterna Disneylândia– onde tudo gira em torno do lazer e doentretenimento.Quando, na segunda metade da década denoventa, começa a crescer substancialmenteo número de veículos na Mídia Jovem brasileira– tendo como público alvo precisamente oadolescente de classe média – não é deestranhar-se que as áreas maisfacilmente associáveis ao es-tereótipo da alienação ve-nham ocupar a maiorparte do espaço edito-rial: moda, beleza, bio-grafias e fotos de ídolos,rock’n’roll, games, testesde comportamento.Contribui também paraesse processo o fato de grandenúmero de jornalistas recrutadospara os novos suplementos de jornais erevistas ter como origem os cadernos culturais,onde rock e entretenimento são habitualmente

vistos como atividades ligadas à juventude.Mais: nas empresas de comunicação onde nãohá recursos ou interesse na veiculação de umsuplemento exclusivo para jovens, torna-secomum dedicar a esse público uma página

semanal, encartada precisa-mente no caderno

cultural.

( ) Protagonismo Juvenil parecia no mínimoimprovável.Hoje, estas ações que têm no adolescentenão um mero participante, mas sim umagente criativo e um gerente do próprioprocesso de implementação do projetoprotagonístico, se impõem como uma daspoucas saídas comprovadamente eficazes deque o Brasil dispõe para encarar os desafiosresultantes da maior “onda jovem” de suahistória – são mais de 30 milhões de garotose garotas entre 15 e 24 anos.A importância do Protagonismo Juvenilcresce ainda mais diante do fato de nossoPaís não haver se preparado para esta “ondajovem”. A ausência de políticas públicasclaramente definidas para o universo daadolescência e da juventude é o maisimpactante retrato deste descaso. Aindahoje, a maior parte das açõesgovernamentais direcionadas a esse públicopossui um caráter meramente paliativo.

possibilidades sociais e culturais. Distantetanto do estereótipo da alienação quantodaquele do adolescente rebelde/violento/problemático, o perfil do protagonista juvenilcontribuiu de forma decisiva para que aMídia Jovem – e, diga-se de passagem, asociedade brasileira como um todo –passasse a ampliar sua perspectiva emrelação ao universo da adolescência.Aos setores da sociedade assustados ouconformados diante de dados queapontavam o crescente desinteresse dosjovens pelos caminhos convencionais departicipação política (vinham caindodrasticamente, por exemplo, as solicitaçõesde títulos de eleitor por parte de adolescentesde 16 e 17 anos, a quem é facultado o direitode voto), a multiplicação das iniciativas de

À medida que a Mídia Jovem brasileira seconsolida e profissionaliza, o mitodominante do “adolescente enquantoconsumidor” começa a perder força.Exemplos de um jornalismo maisinvestigativo e socialmente responsável,como o praticado em meados da décadapassada pelos suplementos Folhateen (Folhade S. Paulo) e Zap! (O Estado de S. Paulo),serviram de inspiração a editores erepórteres de outros estados.É neste período, também, que o conceito deProtagonismo Juvenil começava a deixar asfronteiras das instituições responsáveis peloseu desenvolvimento/implementação, dandovisibilidade às ações de jovenscomprometidos com a busca de novas

O protagonismo em cena

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Se o processo de consolidaçãomercadológica da Mídia Jovem pode serencarado como um dos muitos fenômenosrelacionados a essa onda demográfica, já aconstrução de uma linha editorial cada vezmais centrada em temáticas de RelevânciaSocial é resultado do despertar dosjornalistas para as complexidades quecercam qualquer atividade que envolvadiretamente o adolescente.Os profissionais de Mídia Jovemdescobriram, ao longo dos últimos anos, queabordar questões relativas à educação,saúde, direitos, sexualidade, formaçãoprofissional, violência ou meio-ambiente nãoafastava os leitores. Ao contrário do queprescreviam as fórmulas dominantes, dejornalismo “light”, fugir da realidade nãoparece ser o maior sonho alimentado pelosadolescentes de hoje.Vale lembrar que os próprios meios decomunicação – e para o público da MídiaJovem pode-se incluir aqui a Internet –levam diariamente para dentro das casasdesses garotos e garotas retratos bastantedramáticos do que se passa em nosso País eno mundo. Mas se a grande maioria dessesjovens está consciente dos desafios que

)Doses de realidade(

No Brasil de hoje, portanto, a definição doperfil editorial de um suplemento dirigido aopúblico adolescente não se restringe ànecessidade de garimpar boas pautas sobre ouniverso da adolescência. É também elementocentral desse processo a descoberta dalinguagem adequada – acessível aoadolescente, mas com real substânciainformativa – para o tratamento de boa partedas questões que também estão presentes emoutras editorias do jornal.Os veículos impressos dirigidos paraadolescentes e jovens, analisados pelaEditoria de Mídia Jovem da ANDI ao longodo ano 2000, certamente falam para umpúblico privilegiado, de classe média. Mas

deverá enfrentar, por outro lado se sentemuito pouco preparada para isso.Assim, ao oferecer em suas páginas apossibilidade de se discutir assuntos demaior densidade, os veículos da Mídia Jovemvêm responder a um anseio de seu público. Eo quadro registrado pela presente edição dapesquisa A Mídia dos Jovens deixa claro queos temas focalizados, embora em suamaioria tratem de áreas relacionadasdiretamente à juventude, cada vez maisabordam também problemas que importamà sociedade como um todo.

muitos destes jornalistas têm encontrado meios deconvidar seus leitores a refletir sobre as contradições deum País imerso em uma dívida social histórica, reflexo deuma das distribuições de renda mais desiguais do planeta,que leva parcela considerável de nossos jovens asobreviver sem ter acesso sequer a seus direitosfundamentais.Ao ampliar dessa maneira seu leque editorial, a MídiaJovem brasileira aposta no potencial criativo eparticipativo do jovem enquanto agente de soluções, enão como sinônimo de problemas. Além do que ensaianovas possibilidades de exercitar os recursos daeducomunicação, de maneira que a informação e aformação possam cada vez mais caminhar de mãos dadas(veja mais sobre Educomunicação na 3ª capa:“Construindo o bom jornalismo de Mídia Jovem”).

( )Para além do universo adolescente

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( )Um excelente exemplo do quanto vem se diluindo junto àmídia produzida para jovens o antigo predomínio doestereótipo do adolescente alienado da realidade está nastransformações que aconteceram na telenovela Malhação,produzida pela Rede Globo.Quando nasceu, em abril de 1995, como primeira soap operabrasileira – e dedicada prioritariamente ao públicoadolescente e jovem – Malhação situava sua trama numaacademia de ginástica da Zona Sul carioca, a partir depersonagens cujos principais interesses se reduziam a atingirum corpo perfeito e a acumular conquistas amorosas.Pouco mais de um ano após a estréia, já era possívelacompanhar nas colunas especializadas em televisão asdificuldades da emissora em encontrar o tom certo paraexpandir e fidelizar o instável público da novela,reconhecidamente adepto da prática do zapping.

Posteriormente, passou-se a questionar a própria sobrevivênciade Malhação, responsável por baixos índices de audiência.Em meio a diversas mudanças na direção, na equipe deredação e no perfil dos personagens, a atração veio encontraruma primeira resposta francamente positiva por parte dopúblico ao redirecionar, em outubro de 1999, o foco da tramada academia para uma escola.Essa guinada rumo ao universo de maior Relevância Social foisendo consolidada por outras intervenções igualmente bemrecebidas e que alcançaram momento marcante no final de2000, quando uma personagem chamada Erika se descobriasoropositiva. Ao focalizar o amplo leque de questõesassociadas à prevenção e ao tratamento do HIV, Malhaçãoviu crescer consideravelmente o interesse do público – o quese refletiu inclusive na extensão da participação dapersonagem, programada inicialmentepara apenas alguns capítulos.

Os programas para adolescentese jovens continuam firmandoespaço nas emissoras de canalaberto. A maioria deles faz fartouso do recurso “roda de debates”,onde um determinado tema édiscutido com a presença dejovens e especialistas – em certoscasos com sucesso (os principaislimites desse formato jornalísticosão discutidos na p. 26).Entre as atrações maisinteressantes do ponto de vistada educomunicação sedestacam o Altas Horas, de

Malhação, um casode relevância

apresentadora, erampreparadas antecipadamentepela produção.Na área de muitoentretenimento e reduzidaconsistência cultural,apresentadores como LucianoHuck, Otaviano Costa, AdrianaGalisteu e agora LucianaGimenez repetem fórmulasmuito pouco criativas, quepraticamente não se diferenciamdos programas de auditório paraadultos.

Serginho Groissman (RedeGlobo), o RG, de SoninhaFrancine (Cultura) e o CadernoTeen, comandado pelo jovemLeonardo Almeida (TVE).Na MTV, Jairo Bouer continuafazendo um trabalho importanteà frente do Erótica. Em 2000, eleesteve também junto à equipedo Vinte e Poucos Anos e esteano ganha um novo programa,com pauta mais ampla, o TodoMundo. A MTV tambémproduziu, ao longo do anopassado, alguns eventostemáticos de enfoque social, queocupavam um dia inteiro de suaprogramação, com ótimosresultados.Bem menos consistente temsido o Programa Livre, com Babià frente (SBT). A atração andouenvolvida em sérios conflitoséticos: as perguntas feitas pelosjovens, denunciou a própria

Um projeto piloto visando analisar comprofundidade a programação televisivabrasileira direcionada para o adolescente e ojovem está sendo desenvolvido em parceriapela ANDI, Escola de Comunicação e Artes daUSP e TV-USP, com apoio do Unicef.

( )Uma tv entre o debatee o entretenimento

A T V Q U E S E V Ê

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As prioridades editoriais da MídiaJovem ao longo de 2000 estãoregistradas na tabela de Temasmais Abordados (ver acima).Entre as temáticas socialmenterelevantes, Educação ocupa oprimeiro lugar, a exemplo do queocorre desde a segunda ediçãoda pesquisa A Mídia dos Jovens(maio-julho/97), quando o Índicede Relevância Social começou aser medido. Bom volume deinserções também volta a firmaras retrancas Cultura e Profissão(anteriormente denominadaFormação Profissional) naspautas dos veículos.Evoluções acima da média sãoregistradas nos temasSexualidade e Mídia.Por outro lado, uma retranca degrande importância – Violência –surge pedindo atenção especial

5.021Inserções emRelevância Social

Quando analisadas conjuntamente, essas duas tabelas irão apontar a

predominância dos três temas não considerados socialmente relevantes

sobre os demais: Lazer & Entrenimento (responsável por nada menos de

42,07% de todas inserções veiculadas no período) ocupará a primeira

posição , seguido de Comportamento. Moda & Beleza ficará em quinto,

bem à frente de 16 temas de Relevância Social. Entre esses, apenas

Educação e Atualidades garantem maior volume de inserções.

11.345Total de inserções

44,26%Relevância Social(Percentual sobre o total)

por parte dos editores daspublicações para adolescentes.Ao longo de 2000, o tema sofreugrande redução no volume deinserções. Embora não tão grave,a contração na cobertura dastemáticas associadas a Direitos &Justiça e Protagonismo Juveniltambém exige cuidados.Já entre os temas quetradicionalmente encontrammaiores dificuldades deestabelecer-se nas pautas daMídia Jovem – Gravidez, MeioAmbiente e Pessoas comDeficiência – é possível assinalarum razoável crescimento novolume de inserções, embora osnúmeros absolutos continuemretratando médias de no máximoduas ou três inserções porveículo ao ano.

O mapa da mina( )

T E M A S M A I S A B O R D A D O S

COM OS PÉS NO CHÃO

É extremamente significativo o crescimento verificado no contexto dotema Atualidades, que engloba uma série de assuntos de interessegeral, como política e economia: do sétimo lugar, entre as retrancas deRelevância Social em 99, passa agora para o segundo – e com númerode inserções não muito distante daquele acumulado por Educação. Aotrazer para suas páginas a tradução do “mundo dos adultos”, numalinguagem acessível ao aos adolescentes – uma prática, por sinal, cadavez mais popular também entre os tablóides infantis – a Mídia Jovemconsolida ainda mais seu perfil educomunicador.

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Um total de 16 veículos

integravam o gráfico dos

com “Índice Acima da Média

Geral” na edição anterior da

pesquisa A Mídia dosJovens. Apenas não volta a

destacar-se a página

GerAção (Correio Popular,

SP), que deixou de circular.

A maioria dos veículos

expandiu seu Índice deRelevância Social,contribuindo para o

acentuado crescimento da

média geral, que agora

atinge 44,26%).

Volta a chamar a atenção o

fato de que seis dentre os

sete veículos editados na

Região Nordeste se

encontram entre os que

realizam melhor cobertura

das questões socialmente

significativas.

Mesmo entre os veículos

com “Índice de Relevância

Social Abaixo da Média

Geral” a tendência é de

expansão no volume de

reportagens sobre temas

socialmente significativos.

Além disso, subiram

consideravelmente de

posição, deixando de

integrar a tabela ao lado, o

suplemento standard Fun e

o tablóide Megazine

(antigo Planeta Globo).

Merece destaque, também,

o bom índice alcançado

pela Carícia, inédito entre

as revistas.

OS VEÍCULOS ACIMA DA MÉDIA GERAL • JAN A DEZ 2000

R E L E V Â N C I A S O C I A L • V E Í C U L O S M A I S AT U A N T E S

OS VEÍCULOS ABAIXO DA MÉDIA GERAL • JAN A DEZ 2000

MEGAZINE/O GLOBO • 11/07/00

FOLHATEEN/FOLHA DE S. PAULO • 10/07/00

ZUÊRA/CORREIO DA BAHIA, BA • 27/05/00

CAPRICHO • 02/01/00

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Os doze meses do ano 2000 viram diversos veículos da Mídia Jovemconsolidarem definitivamente sua opção por uma linha editorialcomprometida com temas que contribuem na preparação de seusleitores para a vida. A tabela que relaciona os Veículos com ÍndiceAcima da Média Geral (ver p. ao lado) pela primeira vez registraíndices superiores a 90%, como é o caso das duas publicaçõesmelhores colocadas – as páginas Papo Cabeça (A Crítica-AM) eAdolescência (O Povo-CE).Embora com pequena redução em relação a 99, o tablóide D+ (antigoGabarito, Estado de Minas) também tem presença marcante, assimcomo a página Planeteen (A Notícia-SC), a estreante Atitude (Hoje emDia-MG) e a página dupla Zuêra (Correio da Bahia).Mudanças editorias de grandes proporções, há muito necessárias,levaram o Fun (Gazeta do Povo-PR) e o Megazine (antigo PlanetaGlobo, O Globo) a integrarem pela primeira vez a relação dos Acimada Média Geral, tendo mais do que dobrado seus Índices deRelevância Social entre os anos de 1999 e 2000.Merece foco, por outro lado, o fato de um veículo reconhecidamentepioneiro no tratamento das questões socialmente importantes, como oFolhateen (Folha de S. Paulo), haver sofrido inesperada queda em seusnúmeros. O problema é de fácil identificação: uma editora altamentecomprometida com o perfil da nova Mídia Jovem deixou seu cargo,cedendo lugar a um jornalista movido ainda pela interfacejuventude-rock.Vale destacar, porém, que a fórmula do jornalismo de entretenimentonão emplacou por muito tempo no Folhateen – o tablóide entrou em2001 já com um novo editor.

Consolidando abordagens( )

Perdas no período( )

Novos ares

Apesar do impacto dessasperdas, as nuvens parecem serpassageiras nos céus da MídiaJovem. Quando do fechamentoda presente edição, um novosuplemento tablóide – o Tribo –surgia no jornal O Imparcial,de São Luís. E A Tarde, deSalvador, colocava em práticao acalentado projeto deexpandir sua página ZonaTeen, BA: desde abril de 2001o espaço dedicado aos jovensassumiu o formato tablóide,com o nome de Dez!.Enquanto isso, no universo dasrevistas, a MTV entrava emcampo com os primeirosnúmeros de uma publicaçãoinovadora, onde a pautacentrada em temas decomportamento não impede aveiculação de informações dequalidade nem abordagensque levam à reflexão.

Se 1999 foi claramente um anofavorável à expansão das açõesdos suplementos de jornais e dasrevistas dirigidos ao públicoadolescente, 2000 observou baixasimportantes no número deveículos em circulação.O segmento mais atingido foi odas revistas, com Carícia eQuerida deixando as bancas emfunção do retorno poucosatisfatório. O problema vinhasendo radiografado há algumtempo: além de dependerem dapublicidade, as revistas dedicadasàs garotas têm sofrido com aconcorrência em banca de

inúmeros outros veículos parajovens, onde com frequênciainformação não é propriamente onegócio.Tradicionalmente a revista maiscomprometida com as temáticassocialmente relevantes – elanovamente se destaca nográfico que reúne as cincopublicações dedicadas àsgarotas (ver p.15) – a Caríciaprocurava nos últimos dois anosampliar seu leque de pautas, a fimde atingir de forma mais direta asmeninas da classe C. É uma penaque a editora Abril não tenhainvestido de maneira mais

persistente nessa linha editorial.Já a Querida, em nova fase desdeabril de 1999, vinha conseguindoalcançar boas marcas deRelevância Social.Já a página Tribuna Teen, AL, emcirculação desde 1995, encerrousuas atividades quando o jornalTribuna de Alagoas foi vendidopara um outro grupo empresarial.Seu perfil editorialmenteconsistente pode ser reconhecidopelas posições ocupadas narelação dos Veículos Acima daMédia Geral em 1999 e em2000: 2º e 4º lugares,respectivamente (ver p. anterior).

A S F O N T E S D E I N F O R M A Ç Ã O

* OS PERCENTUAIS SÃO CALCULADOS DIVIDINDO O

NÚMERO DE REPORTAGENS QUE CONTAM COM A

PARTICIPAÇÃO DAQUELE DETERMINADO TIPO DE

ATOR PELO NÚMERO TOTAL DE MATÉRIAS

VEICULADAS EM 2000. COMO UMA REPORTAGEM

PODE OUVIR MAIS DE UM ATOR, O TOTAL DESSE

GRÁFICO SUPERA OS 100%.

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Aspectos de ordem regional frequentementecontribuem na definição das pautas dossuplementos de jornais dirigidos ao públicoadolescente e jovem.A região Norte é um caso à parte, pois conta comapenas uma publicação, que optou por um perfileditorial totalmente centrado nos debates semanaiscom jovens, sobre assuntos socialmentesignificativos. A marca inédita na história da MídiaJovem, de 95,88%, teve como destaque as retrancasAtualidades, Diretos & Justiça e Mídia.Nos demais segmentos, as diversas edições dapesquisa que a ANDI vem editando desde 1997 sehabituaram a mostrar o Nordeste à frente doranking de Relevância Social por Regiões (vertabela abaixo) – posto que agora cede ao Sudeste.Os números do Nordeste são resultado de umcomportamento editorial que destaca Atualidades,Educação, Cultura e Protagonismo Juvenil, entreoutras temáticas que contribuem para a formaçãosolidária do adolescente. O gráfico da regiãoevidencia também seis entre sete veículos comÍndice de Relevância Social acima da média geralda Mídia Jovem em 2000, que é de 44,26%.O bom desempenho da região Sudeste, que pelaprimeira vez ultrapassa a faixa dos 50%, se baseiaem praticamente os mesmos temas do Nordeste,porém com Educação no papel de área social maisabordada. Da forma idêntica, os númerosalcançados pelo Centro-Oeste – que tambémchegam pela primeira vez a mais de 50% – sãopuxados por Educação e Atualidades.Já a região Sul se beneficia da mudança na linhaeditorial do suplemento standard Fun e do bomtrabalho da página Planeteen para começar adistanciar-se do modelo rock/entretenimento quepredominou ao longo dos últimos três anos.

A cor local( )A S R E G I Õ E S

R E L E V Â N C I A S O C I A L • Í N D I C E S P O R R E G I Õ E S

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Entre o momento em que a pesquisa A Mídia dos Jovens passou aclassificar as temáticas de Relevância Social (edição maio-julho/97)e a presente edição, o comportamento editorial de alguns gruposde veículos evoluiu sensivelmente.Entre todos eles, o caso mais significativo é o das Páginas, quepartindo de apenas 12,30% de inserções socialmente relevantes(ver tabela abaixo), atinge agora a marca de 48,02%.As Revistas não conseguiram melhorar seu desempenho no ano2000, enquanto os Tablóides mantiveram marca superior aos 50%(esses números são construídos a partir de uma pauta que valorizaEducação, Atualidades, Cultura e Trabalho). Além disso, valedestacar o fato de seis entre os oito Tablóides contarem comíndice acima da média geral conseguida pela Mídia Jovem em2000, que foi de 44,26%.Os quatro temas socialmente relevantes mais abordados pelossuplementos Standards diferem dos Tablóides apenas quanto àcolocação: Atualidades tem o maior número de inserções. Já asPáginas incluem Protagonismo Juvenil entre os de maiorcobertura, em lugar de Trabalho.

Revistas

Desde 1997, o índice de Relevância Social das Revistas oscila nafaixa dos 20%, enquanto as demais categorias já trabalham entre45 e 50%. O fator principal, aqui, é um perfil voltado basicamentepara os temas Lazer & Entretenimento, Moda & Beleza eComportamento. Áreas socialmente significativas tem umacobertura que, além de muito reduzida, é bem diferenciadadaquela dos suplementos e páginas de jornais.As Revistas são hoje referência fundamental no que se refere aassuntos de Sexualidade para muitas jovens que não contam comsuficiente espaço de diálogo em casa – o que é reforçado pelotrabalho que desenvolvem nas Colunas de Consulta, seções ondeespecialistas respondem às perguntas enviadas pelos adolescentes(ver p. 41). Capricho, Atrevida e Todateen, as três publicaçõespara garotas atualmente em circulação, tem trabalhado comconsistência técnica, visual atrativo e boa diversidade temática assuas Colunas de Consulta.

A forma e o conteúdo( )

A S C A T E G O R I A S D E V E Í C U L O S

RELEVÂNCIA SOCIAL • ÍNDICES POR CATEGORIAS DE VEÍCULOS

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De maneira geral, as reportagens sobre os temas Tabaco e Álcool veiculadas nas publicações dirigidas

aos adolescentes e jovens são fundamentadas em conceitos tecnicamente corretos e fazem amplo

uso de dados estatísticos e de pesquisas bastante atuais, além de se mostrarem nitidamente

comprometidas com a promoção da prevenção.

Apesar disso, a grande maioria delas evidencia muita dificuldade em encontrar o caminho adequado

para sensibilizar de maneira mais direta o público adolescente: para a equipe de jornalistas e técnicos

de saúde reunida pela ANDI para análise dessas reportagens (ver p. 25), o principal equívoco dessas

matérias é precisamente o uso de uma abordagem editorial que pouco se diferencia – a não serpelo generoso e importante espaço dedicado aos depoimentos de jovens – daquela da cobertura

regularmente realizada pela mídia brasileira sobre o uso de drogas lícitas.

Em síntese: se quase sempre podem ser encarados como exemplos de bom jornalismo na área de

prevenção ao Tabaco e ao Álcool junto à população adolescente, por outro lado esses textos

demonstram criatividade limitada enquanto produtos específicos de Mídia Jovem. Suas características

principais os definem como reportagens sobre adolescentes, mas raramente para adolescentes.

A cobertura de temas relacionados ao uso de drogas não é uma tarefa

fácil para os profissionais da mídia que fala diretamente a

adolescentes e jovens. Manter distância tanto de uma postura

repressiva quanto da permissivdade é sempre mais difícil quando se

enfoca o universo das substâncias ilícitas. Mas o perfil editorial das

reportagens sobre o consumo de cigarro e de álcool por parte de

adolescentes e jovens também encontra sérios limites de ordem cul-

tural/social e dificuldades técnicas diversas, além de apresentar – e

não há aqui como evitar o trocadilho – alguns vícios preocupantes.TA

BA

CO

E

Á

LC

OO

L

A D O L E S C E N T E S

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exigem novos hábitos editoriais

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PALAVRAS SEM FOGO

Diversos estudos envolvendo adolescentesdemonstram que as seguintes abordagenssimplesmente não funcionam:

Aterrorizante: centrada nos problemas desaúde gerados pelo tabaco ou pelo álcool,descrevem em detalhes riscos como amorte por câncer de pulmão ou por cirrosehepática.

Diagnóstico: impressiona o jovem, mas nãoconsegue fazer conexão com suaexperiência pessoal, pois ele e os colegasque fumam/bebem contam com plenasaúde e vitalidade.

Moralista: apela para uma linha deargumentação que condena o uso dotabaco e do álcool como comportamentoanti-social ou autodestrutivo, nãoadequado a uma juventude saudável e feliz.

Diagnóstico: não sensibiliza o jovem, quealém de experimentar o cigarro e a bebidacomo fontes de prazer, têm neles meios deafirmação junto a seu grupo de amigos.

Técnico-científica: utiliza basicamentedados e estatísticas, comprovando osmalefícios do cigarro e do álcool e avulnerabilidade do público jovem asituações de dependência química e/oucomportamental.

Diagnóstico: não é atraente para o jovem;aqueles que se dão ao trabalho de ler ouassistir a este tipo de reportagem sãogeralmente os que não fumam nem bebem.

Policialesca: utiliza argumentos dequalquer uma das abordagens anteriores,porém carregando sempre no discurso decunho repressivo, que não raro sugere aproibição pura e simples do tabaco e dabebida por parte de pais e/ou escolas.

Diagnóstico: acaba tendo o efeito contrárioao desejado, firmando junto ao jovem aimagem do cigarro e do álcool comosímbolos de contestação e rebeldia.

UM CASO DE CONSCIÊNCIA

Mudar alguns comportamentos editoriais torna-seum desafio para a Mídia Jovem, em função dopapel estratégico que os suplementos de jornais eas revistas – além, é claro, dos programas de rádioe televisão para jovens – podem desempenharjunto aos esforços preventivos ao consumo desubstâncias licitas implementados hoje no País.A exigência é mais contundente quando seenfoca o contexto da nicotina: estudos mostramque 90% das pessoas dependentes de cigarrocomeçaram a fumar na adolescência. E mais:dentre os adolescentes que resolvemexperimentar o tabaco, aproximadamente 70%irão desenvolver a dependência.A esses números, é importante somar duasinformações que já são de senso comum – a deque é extremamente difícil parar de fumar e a deque o uso continuado do cigarro leva a sériosprejuízos para a saúde, podendo inclusive matar.Embora não conte com números tão gritantes, aquestão do Álcool não pode ser menosprezada.Os terríveis impactos sociais e humanosderivados do consumo abusivo de bebidasalcoólicas até agora não mereceram, seja porparte do governo federal, seja dos demais setoresda sociedade brasileira, uma ação ampla e eficazde enfrentamento, similar aquela orquestrada – ecom inegável sucesso – em torno do Tabaco. E étambém no período da adolescência – a iniciação,por sinal, vem se dando cada vez mais cedo – quecomeçam a estabelecer-se os hábitos deconsumo de Álcool que posteriormente definirãoum quadro de dependência.Se por um lado a Mídia Jovem conta com oprivilégio de falar diretamente a este que é osegmento populacional mais vulnerável a ambasas substâncias, por outro é exigida ao máximo noexercício de sua inventividade para cativar oadolescente.As reportagens devem evitar um tratamento“adulto” da questão – enfoque pouco lúdico, tomprofessoral, excesso de informação. Algunsveículos já mostraram saber o caminho: existemexemplos de reportagens escritas num tom tãoamigável e convidativo, que certamente oadolescente terá sido motivado a refletir sobre ouso do Tabaco e do Álcool.

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Construindo saúde • um processoAlguns dos problemas localizados nas reportagens sobre Tabaco eÁlcool publicadas nos veículos direcionados ao público adolescentepodem ser atribuídos a uma percepção distorcida do trabalhopreventivo, cuja característica principal é a de ser um processoeducacional a médio e longo prazo, mais do que uma intervençãoinstantânea e definitiva.A Mídia Jovem, contudo, não opera dessa forma por acaso. Elasimplesmente reflete a ansiedade que predomina no discurso dasociedade, quando apresentada aos indicadores que retratamexpansão sempre crescente do consumo do cigarro e das bebidasentre a população jovem.A intensa utilização de estatísticas sobre doenças e mortes – maiscomum na abordagem das questões relacionadas ao Tabaco – sãoum bom exemplo de como esta reação excessivamente emocional seexpressa nos suplementos de jornais e nas revistas analisadas.O foco das intervenções jornalísticas e dos demais atores sociais nãopode ficar restrito às práticas preventivas ou assistenciais, por maisimportantes que estas sejam. É fundamental que a abordagem dasquestões associadas ao cigarro e à bebida – e também às drogasilícitas – seja pautada por um contexto mais abrangente, onde sedestaca a promoção da saúde e da qualidade de vida.É a partir destes parâmetros, afinados com as modernas diretrizes desaúde pública – foco no ciclo de vida, pois todas as ações realizadasnuma determinada faixa etária influenciam diretamente as fasesseguintes – que se abrem também novas perspectivas para oprofissional de Mídia Jovem.

UMA VISÃO TRANSVERSAL

A presença regular dos temas Tabaco e Álcool nas pautas desuplementos de jornais, revistas e programas de rádio ou televisãonão precisa estar necessariamente atrelada a grandes reportagens,mas pode valer-se de notas, de colunas de consulta, do uso dedepoimentos de jovens ou personalidades. Além disso, é possívelexpandir o tratamento jornalístico dessas questões assimilando-seuma visão de transversalidade: são muitos os aspectos da vida doadolescente e do jovem que permitem a abordagem circunstancial deinformações relativas ao cigarro e à bebida. Matérias que tratem deáreas como escola, família, lazer, prazer ou sexualidade são algumasdas opções mais evidentes.Quando os profissionais de Mídia Jovem – sejam eles editores, repórteres,diretores, produtores ou apresentadores – passam a integrar essaperspectiva transversal, assume nova dimensão a idéia de que um dosdesafios está em encontrar soluções criativas e eficazes para manter oadolescente e o jovem bem informados. O que não significa que isto vápor si só conseguir reduzir o consumo de tabaco ou álcool a curto prazo.A grande redução no número de consumidores pode ser esperada damultiplicação dos programas realizados nas escolas ou em locais detrabalho. E esta é uma função central das políticas públicas de saúdevoltadas para as populações infantil, adolescente e jovem.

A FAMÍLIA AUSENTE

Não é apenas na cobertura das questões relacionadas ao Tabaco eao Álcool que a Mídia Jovem vem demonstrando dificuldade detratar de forma eficaz a questão Família. Em praticamente todas astemáticas relevantes para o universo do adolescente e do jovem,são comuns reportagens que costumam focar como personagenscentrais apenas os garotos e garotas ou seu círculo de amizades.Eles aparecem, portanto, isolados da escola e da família, como sevivessem numa esfera apenas adolescente.Nesse contexto, o relato da família ocorre por meio da voz dopróprio jovem: “meu pai...”, “minha mãe...”. Mas o pai e a mãeraramente são ouvidos diretamente. Nas reportagens analisadas,faz falta a visita do repórter até a casa do adolescente, paraconversar com ele, seu pais, irmãos ou outros parentes próximossobre cigarro e bebida. Além disso, os professores também quasenão são procurados para falar sobre o tema.É importante lembrar que diversos estudos apontamclaramente que os hábitos dos pais diante do Tabaco e doÁlcool estão entre os fatores que influenciam de forma maismarcante as crianças e adolescentes.E mais: hoje em dia, várias correntes que trabalham a questão dasaúde do adolescente concordam estar no ambiente familiar umdos meios mais eficazes de promovê-la.Diante de cenário tão decisivo, o profissional de Mídia Jovem deveestar atento a mais um fato: na sociedade contemporânea, muitasvezes é o conceito estendido de família que se aplica aoadolescente – e não apenas a tradicional família nuclear.

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4A QUESTÃO POLÍTICA

É exatamente diante do cenário de trabalho amédio e longo prazo que se encontra o outrogrande desafio dos veículos da Mídia Jovem:atuar de maneira a apoiar – mostrando seusresultados e denunciando ineficiências – a realimplementação das políticas públicaspromotoras da saúde.Pautas de maior impacto investigativo podemcontribuir para uma clara percepção do grau decompromisso expresso pelas escolas, secretariasde Saúde/Educação e governo federal. E tambémradiografar o nível de mobilização dos pais e dospróprios adolescentes e jovens para queprogramas de prevenção Tabaco/Álcool ede valorização da saúde sejamdisponibilizados pelas escolas da redepública e particular de ensino.A mídia pode auxiliar o aluno, portanto, a tomarconsciência de que a existência ou não dessesprogramas em sua sala de aula é tambémresultado de uma decisão política. E osjornalistas têm também o dever de checar asjustificativas, junto aos diversos atoresresponsáveis, quando essa decisão nãocontempla área tão prioritária.

Um bom parâmetro para medir o quanto umadeterminada região está envolvida naconstrução de uma realidade comprometidacom a saúde do adolescente é o número deseus estabelecimentos de ensino integrados aoPrograma Saber Saúde de Prevenção doTabagismo e outros Fatores de Risco de Câncernas Escolas, que o Ministério da Saúde vemdesenvolvendo por meio do Instituto Nacionaldo Câncer. Até o momento, já foramalcançados 42 mil professores e quase ummilhão de alunos do ensino fundamental emtodo o País (ver p. ao lado).

FUN/GAZETA DO POVO, PR • 16/06/00 X-TUDO/CORREIO BRAZILIENSE • 28/02/00

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Boas

Idéi

as

Ziraldo, cartunista,escritor e JornalistaAmigo da Criança(reconhecido pelaANDI, por meio doprojeto realizado compatrocínio daEmbratur e o apoio daFundação Abrinq,Unicef e McCann). Elecriou a atual marca doprojeto JornalistaAmigo da Criança.

PRIORIZANDO ESCOLAS

Inspirado nos conceitos definidos pela Organização Mundial de Saúde emrelação à Escola Promotora de Saúde (ver p. 22), o Ministério da Saúde vemrealizando, por meio do Instituto Nacional do Câncer, o Programa Saber Saúdede Prevenção do Tabagismo e outros Fatores de Risco de Câncer nas Escolas.A iniciativa parte do princípio de que a escola é o espaço onde acontece oconfronto dos diferentes saberes: de alunos e seus familiares, que têmcrenças e valores culturais próprios; do conhecimento científico; dosconceitos divulgados pelos meios de comunicação de massa e dosapresentados pelos próprios professores. Estabelece-se, assim, o que sepode chamar de “cultura escolar”.O Programa Saber Saúde, instituído em 1998, tem como foco principalalunos na faixa da 4ª à 8ª séries e como objetivo geral desestimular ofumo e a ingestão de bebidas alcoólicas e a exposição exagerada aradiações solares. Além disso, incentiva hábitos de alimentação saudáveis

e atividades físicas entre professores e alunos.Nesse sentido, o INCA encomendou ao cartunistaZiraldo uma arte sedutora aos olhos de adultos,crianças e adolescentes. Mas para receber o kit, que incluilivros, panfletos, vídeos e adesivos, os diretores de escolae professores precisam passar por um curso decapacitação. Ao final de cada ano, realiza-se uma ampla erigorosa avaliação, integrando todas as etapas do projeto.O programa envolve quatro níveis de organização –Federal (Ministérios da Saúde e da Educação), Estadual,Municipal (em ambos os casos, as secretarias de Saúdee de Educação) e local (a própria escola em questão).O Ministério da Saúde coordena o trabalho, elabora omaterial técnico, capacita profissionais e realiza aavaliação. As secretarias estaduais, entre outras ações,indicam os profissionais a serem capacitados. Àsmunicipais cabe a iniciativa de inscrever-se noprograma e cadastrar as escolas. E é nas escolas que oSaber Saúde realmente se realiza.

Inca • Instituto Nacional do Câncer/ConprevFone: (21) 507-8485/509-0224/[email protected] • www.inca.org.br

PROGRAMA CUIDAR

Preparar os adolescentes para se tornarem jovensautônomos, solidários, saudáveis e competentes. Essa é aidéia principal do Programa Cuidar, resultado de uma aliançaestratégica da organização não-governamental ModusFaciendi com escolas de ensino público e particular, cobrindodiversas regiões do País. O Programa baseia-se nos conceitosda Educação para Valores: não cabe ao professor só a funçãode transmitir conhecimento – ele deve assumir um papelativo, junto com pais e escola, na formação cidadã doindivíduo. Por isso, sob coordenação do educador AntônioCarlos Gomes da Costa, a Modus Faciendi criou um programano qual o docente gera oportunidades para os alunosexperimentarem, compreenderem, escolherem eincorporarem em suas vidas valores positivos através daprática e da vivência de matérias já incorporadas na ementaescolar, como educação para cidadania, educação para asaúde, ética, educação afetivo-sexual, educação ambiental.A experiência adquirida nas atividades escolares prepara oadolescente para evitar e superar situações de risco presentesem seu cotidiano, como o tabagismo, drogas, álcool e sexoinseguro. Dessa forma, as escolas e o entorno sócio-familiartransformam-se em verdadeiras comunidades educativas.O programa, que neste momento está sendo aplicadoexperimentalmente, inclui produção de kit educativo,treinamento de formadores, capacitação de professores epais e atuação direta junto aos alunos. Todo o processo passapor acompanhamento e avaliação. Numa próxima etapa, omaterial didático também será disponibilizado via Internet.

Modus FaciendiFone: (31) [email protected]

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A ESCOLA PROMOTORA DA SAÚDE

Cinco linhas principais de ação são definidas pela OMS para a EscolaPromotora de Saúde, embora possam variar entre regiões, países eescolas de acordo com a necessidade e a circunstância:

Adotar e promover saúde e aprendizado por todos os meios deque dispõem.

Engajar profissionais de saúde e educação, professores,sindicatos, estudantes, pais, provedores de saúde e líderes dacomunidade em esforços para fazer da escola um ambientesaudável.

Empenhar-se para promover um meio ambiente saudável,educação escolar saudável e serviços de saúde na escola aolongo de projetos escola/comunidade, programas de promoçãoda saúde para sua equipe, programas de nutrição, oportunidadespara educação física e recreação, programas de aconselhamento,suporte social e promoção da saúde mental.

Implementar políticas e práticas que respeitam o bem estar e adignidade do indivíduo; proporcionar múltiplas oportunidadespara o sucesso e o reconhecimento de esforços e méritosalcançados individualmente.

Empenhar-se pela melhoria da saúde do pessoal da escola,famílias e membros da comunidade tanto quanto dos alunos;trabalhar com líderes da comunidade para ajudá-los a entendercomo a comunidade contribui para a saúde e a educação.

Dra. Maria do Socorro LemosFone: (61) 315-2653/2934 • [email protected]/programas/promocao/progsaud.htm

NAS MÃOS DO PROFESSOR

Um ponto crítico na questão da interface Saúde-Educação é o fato doprofessor muitas vezes não ter preparo para lidar com áreasrelacionadas à sexualidade, ao cigarro, ao álcool, às drogas. E tambémnão são raras situações de dupla mensagem: por exemplo, o professorfuma, mas em sala ensina que o adolescente não deve fumar.Apesar de complexa, a integração dos esforços dos setores de Saúdecom os de Educação vem avançando no Brasil. Um dos fatorescentrais nesse processo é a capacitação de um amplo leque deeducadores – e não apenas do professor de ciências ou biologia – apartir da constatação de que quando o professor utiliza a abordagemcientifica correta, ele dá maior credibilidade a seu discurso,facilitando o diálogo com o jovem.Essa é a idéia que anima os novos Parâmetros Curriculares Nacionais(www.mec.gov.br/sef/ensfund/paramnac.shtm) definidos peloMinistério da Educação e iniciativas como o Programa Saber Saúde,desenvolvido pelo Ministério da Saúde (ver p. 21) e o ProgramaCuidar, da ONG mineira Modus Faciendi (ver p. 21).

Crianças e Adolescentespor um País Livre do Tabaco

Desde 1987, o Fundo das Nações Unidas para aInfância (Unicef) proíbe oficialmente o fumo emseu ambiente de trabalho. No entanto, algunsanos passaram-se antes que todos os escritóriosdo Unicef no mundo conseguissem educar o seupróprio pessoal para que não fumasse nem emseus gabinetes, nem nos corredores dos edifícios.Hoje em dia, não há uma estimativa de quantosfumantes trabalham no Unicef, mas calculamosque existam muitos. Por quê? Por que essesadultos, que conhecem bem os perigos do fumoem si próprios e também o mal que a fumaça queexpelem faz a seus colegas – “fumantespassivos” – e, especialmente, às crianças e aosidosos, mantêm esse hábito tão insalubre?Há várias respostas. Uma delas é que o cigarro éuma droga, e, como tal, gera dependência. Porisso, é extremamente difícil parar de fumar. Poresse motivo, o Unicef no Brasil está apoiandoações que encorajem os jovens fumantes aabandonarem o consumo e, principalmente, quedesestimulem o início desse hábito. O projetoCrianças e Adolescentes por um País Livre doTabaco, que conta com recursos da Fundação dasNações Unidas, pretende enviar mensagenspositivas aos jovens, não na linha do “nãofume”, mas sim na de promoção de saúde, como“pratique esportes“ ou “cuide de você.”Temos sorte de ter como parceiros a ANDI(Brasília-DF), o CRIA (Salvador-BA), a FundaçãoCasa Grande (Nova Olinda-CE) e a Rádio Liberal(Belém-PA) neste esforço. Nós gostaríamos de fazertodo o possível para evitar que, em 2015, osjovens de 28 anos tivessem problemas de saúdeporque começaram, hoje, aos 14 anos, a fumar.Nosso cenário ideal para 2015 será formado porpessoas praticando esportes, com uma boa saúdefísica e mental, vivendo em um país livre dotabaco.

* Paula Claycomb é Oficial Senior de Comunicação, Unicef Brasil

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P A U L A C L AY C O M B *

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Os pontos críticosA cobertura que a Mídia Jovem vem fazendo das

temáticas relacionadas ao consumo do cigarro e dasbebidas alcoólicas entre adolescentes e jovens enfrentauma série de outras dificuldades de enfoque,

abordagem ou tratamento.

A VOZ INDUZIDA

Muitas reportagens – principalmente no caso do Tabaco – tendem autilizar os adolescentes para legitimar um discurso já pré-estabelecido, geralmente aquele das instituições que estãocoordenando o enfrentamento do problema. Eventualmente, tambémos especialistas parecem estar apenas corroborando um ponto devista que a matéria teria previamente decidido divulgar.A Mídia Jovem precisa lembrar que tem como um de seus trunfos ofato de ser o espaço da imprensa brasileira que mais dá voz aosadolescentes e jovens. Não deveria, portanto, correr o risco decomprometer essa relação de proximidade com seu públicotransformando-o em mero avalista dos conceitos preventivos – pormais corretos e pertinentes que esses conceitos possam ser.É fundamental que o discurso dos jovens retrate de forma ampla seuuniverso de idéias e atitudes. Se muitos adolescentes fumam e bebem,é importante ouvi-los também, sem procurar enquadrar suas idéias,mas sim entendendo as razões que levam a esse comportamento.

O FATOR HUMANO

Quando se está focalizando os adolescentes e jovens que fazem usodo cigarro e/ou do álcool, é muito importante contextualizar suarealidade, ampliando o entendimento das questões que podem estarassociadas à experimentação ou à dependência.Por que será que eles fumam ou bebem? O que os leva a isso, doponto de vista comportamental, psicológico ou químico? De quemaneira e em que circunstâncias fazem isso? Como se relacionamcom a família, com os amigos, com um namorado ou namorada?Será que contam com bom rendimento escolar? Fatos específicosimpulsionam, num determinado momento de vida, a busca peloTabaco ou pelo Álcool? Será que seus irmãos ou primos tambémfumam ou bebem? Se não, quais serão os fatores que contribuempara esses dois comportamentos diferentes?Trabalhando dessa maneira, o jornalista evita repetir equívocopresente em várias reportagens veiculadas pela Mídia Jovem, onde ohábito ou dependência parecem instalar-se sem relação alguma como fator humano.

ÓTICA DA SOLIDARIEDADE

É muito grande o universo de adolescentes e jovens que já começoua fumar e/ou a beber e não consegue parar, embora já tenha pensadoou tentado fazer isso. Esse grupo não pode ser simplesmentecolocado nas estatísticas de futuras vítimas fatais do Tabaco ou do

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A Editoria de Mídia Jovem da ANDI organizouGrupo de Análise de Mídia para estudar 74reportagens sobre as áreas de Tabaco e Álcoolpublicadas nas revistas e suplementos de jornaisdirecionados ao público adolescente e jovem.Formado por três técnicos e por três jornalistas (verp. 25), o Grupo de Análise de Mídia Tabaco/Álcooltrabalhou segundo cinco diretrizes prioritárias:

• Identificar os principais méritos e dificuldadesda cobertura oferecida pela Mídia Jovembrasileira às questões ligadas ao uso do cigarro edas bebidas alcoólicas por adolescentes e jovens.

• Detectar aspectos dessas duas temáticasignorados ou mal trabalhados, sugerir novosângulos de cobertura e procurar enriquecer asopções de pauta dos veículos.

• Construir uma percepção clara do grau deacuidade técnica dos conceitos ou conselhosemitidos pelas reportagens.

• Aprofundar o entendimento do quanto e comoestá sendo dada voz aos próprios adolescentes,a seus pais, aos educadores e aos especialistasno contexto das reportagens sobre as duasáreas.

• Avaliar o acesso dos profissionais da MídiaJovem aos responsáveis pela implementação daspolíticas públicas relacionadas à saúde dosadolescentes e também às fontes não-governamentais de informação.

Para realizar a análise, o Grupo contou comdados quantitativos, gerados pela classificação

das reportagens segundoparâmetros específicosdefinidos previamentepelos próprios consultores.Esses dados foramprocessados pela ANDI,gerando também a maiorparte dos gráficos e tabelasutilizados nessa seção dedestaque da pesquisa AMídia dos Jovens.

As reportagens analisadas foram publicadasentre outubro/1999 e setembro/2000, por 26suplementos de jornais e cinco revistas daMídia Jovem (ver p. 27). Os demais dados destaedição de A Mídia dos Jovens cobrem de janeiroa dezembro/2000.

M e t o d o l o g i a

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UM EQUILÍBRIO DELICADO

A pesquisa Infância na Mídia, publicada pela ANDIem aliança com o Instituto Ayrton Senna e comapoio do Unicef e do Fundescola, em sua décimaedição (março 2001) focaliza o delicado exercício dojornalismo que tem a criança ou o adolescentecomo fontes:“...é bom ter alguns cuidados: dependendo doassunto, é recomendável que ao final da matériaconsulte-se a fonte ouvida e até seus pais, comoalertou a ombudsman da Folha de S. Paulo em suacoluna de 19/11/00. Equívocos são normalmentecometidos nas matérias do tipo ‘tendências’ ou‘comportamento’.Nestes casos, rótulos que classificamcomportamentos com a idéia de ‘grupos homogêneos’ou ‘tribos’ geram constantes desafetos entre aimprensa e os adolescentes. Isso, para não falar nasmuitas e muitas vezes em que são buscadas opiniõesapenas para reforçar uma idéia preestabelecida pelapauta. Não são raros os casos onde repórteres sãoacusados de manipular ou induzir respostas ou darcores diferentes ao tom dos depoimentos.Outro cuidado: ao usar imagens de crianças eadolescentes deve-se evitar remetê-los a situações derisco e constrangimento.”

TERMINOLOGIA CORRETA

Olhar a realidade desprovido de preconceitos deveser pré-requisito à atuação dos profissionais decomunicação, assim como a isenção e aimparcialidade. Termos como “drogado” e “viciado”,por si só, carregam o peso do preconceito. Usá-losnos textos é assumir uma atitude discriminadora.Os termos “usuário” ou, se for o caso, “dependente”– de tabaco, álcool ou qualquer outro tipo de droga– são os mais recomendáveis.

Álcool – ele merece apoio, por meio deinformação, compreensão, solidariedade.Quando o jornalista reconhece o quanto esse é umprocesso realmente difícil e evita discriminar essesjovens, torna-se possível criar um espaço sincero dediálogo, sustentado pelo respeito aos usuários e a seusdireitos. A partir da ótica da solidariedade, podem serveiculadas dicas, sugestões, experiências de gente queconseguiu deixar o hábito ou aprendeu a lidar com elede forma menos destrutiva. Esse enfoque praticamentenão aparece na cobertura da Mídia Jovem.

O Grupo de Análise de Mídia

Devido à precisão e amplitude da radiografia gerada, os Grupos deAnálise de Mídia vêm se destacando entre as diversas açõesimplementadas regularmente pela ANDI com o objetivo de aprofundar oentendimento do comportamento da imprensa brasileira diante dasquestões relativas à infância e à adolescência.Ao longo dos últimos anos, a ANDI e entidades parceiras vêm reunindoprofissionais da mídia e especialistas para debater aspectos qualitativos equantitativos da cobertura realizada sobre áreas tão diversas quantoEducação (Fórum Mídia & Educação), Juventude e Prevenção ao HIV(Seminário Os Jovens na Mídia – O Desafio da Aids), Responsabilidade Socialdas Empresas (publicação Investimento Social na Idade Mídia), a crise daFebem (pesquisa Infância na Mídia, edição nº9) e os 10 Anos do Estatuto daCriança e do Adolescente (pesquisa Infância na Mídia, edição nº10).*

* Todas estas análises estão disponíveis em www.andi.org.br oupodem ser solicitadas diretamente à ANDI, SDS Ed. Boulevard Center,Bl. A, sala 101. 70391-900 • Brasília, DF. Telefone: 61 322-6508.

Javier Espindola

Consultor técnico, OPAS/OMS

Ricardo MeirellesConsultor técnico, INCA

Maria Eustáquia da SilvaAssessora Técnica, ASAJ, Ministério da Saúde

Rachel Mello

Oficial de Comunicação, Unicef

Carlos WilsonAssessor de Comunicação Social, OPAS/OMS

Aureliano BiancarelliJornalista, Folha de S. Paulo

Pela ANDI, participaram Veet Vivarta (7), Editor Executivo e

Gisliene Hesse (8), que integra a Editoria de Mídia Jovem por meio

do “Programa de Treinamento em Comunicação e Mobilização

Social para Estudantes Universitários”, realizado em parceria com a

Fundação W.K.Kellogg.

Nossos ParceirosA ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, o Instituto

Ayrton Senna e a Unesco agradecem ao Unicef, à Organização Pan-

Americana de Saúde e Organização Mundial de Saúde, ao INCA –

Instituto Nacional do Câncer, à Área de Saúde de Adolescente e do

Jovem do Ministério da Saúde e à Folha de S. Paulo pela

participação de seus técnicos.

O Grupo de Análise de Mídia Tabaco/Álcool integra as ações deprevenção ao uso de Tabaco entre crianças e adolescentesdesenvolvidas internacionalmente pelo Unicef,com apoio da UN Foundation.

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Os Integrantes do Grupo

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ILA PETRILLO, EXCETO 2 E 6, CED

IDAS PELO

S PARTICIPANTES

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ESTATÍSTICAS

Dialogar com o adolescente a partir de uma reportagemcentrada em números é um “vício” jornalístico. Comoresultado, muitas matérias parecem ser dirigidas mais aotécnico ou ao educador do que aos adolescentes.O problema é que esses estudos e pesquisas não sãoelaborados para que os adolescentes os consultem, e simpara leitura de quem está trabalhando com eles. Por isso oseditores ou produtores devem ser comedidos na veiculaçãodesse tipo de dado. Melhor uso é feito quando se busca aíorientação ou inspiração para as pautas. E no caso de umboletim ou pesquisa recente, é possível utilizar os númeroscomo gancho factual, para depois, ao longo da reportagem,repercuti-los entre os jovens e especialistas.

RODA DE DEBATES

O formato “roda de debates”, onde se reúne um grupo deadolescentes para discutir um determinado tema, vem seimpondo como recurso frequente na Mídia Jovem – tantoentre programas de televisão quanto junto aos suplementosde jornais e revistas. De maneira geral, essas rodas sãomuitos ricas, oferecendo espaços para opiniões bastantediversificadas ou polêmicas por parte dos convidados.O ponto fraco: em várias ocasiões fica evidente adificuldade dos adolescentes em aprofundarem o diálogosobre as questões propostas. Esse impasse não se limita aotratamento das questões relacionadas ao Tabaco e ao Álcool– ele vem comprometendo o debate sobre diversas boastemáticas pautadas pela Mídia Jovem nos últimos anos.Dois fatores precisam ser levados em conta nesse processo. Oprimeiro deles é uma seleção correta dos jovens debatedores:o convidado deve ter algum conhecimento do assunto emfoco e contar com uma boa capacidade de expressão; ogrupo reunido deve ter perfil heterogêneo, em termos socio-econômicos, culturais, de gênero, etc. O jornalista, por suavez, deve estar qualificado a mediar a conversa, instigando acontinuidade das boas idéias e depoimentos que costumammarcar o início das atividades.Caso não se sinta suficientemente preparado para exercitaresse perfil, o profissional de Mídia Jovem pode sempre buscaro suporte de um educador ou especialista. Nunca, entretanto,deveria entregar o grupo de jovens – e o resultado de suamatéria – à própria sorte. Essa saída, apontam inúmeraspáginas veiculadas ao longo do ano 2000, terminaesvaziando o que geralmente nasceu como uma boa pauta,além de depor contra os adolescentes e contra o jornalista.

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Apesar dos muitos pontos em comum, otratamento dado pelos veículos de MídiaJovem aos temas associados ao Álcool e aoTabaco também apresenta diferençasexpressivas, reflexo principalmente dascaracterísticas específicas do consumo decada uma dessas duas substâncias etambém das posturas da sociedade dianteda relação do jovem com esse consumo.No que se refere ao cigarro, o processo dedependência se estabelece de maneiramuito mais rápida – algumas semanasapenas são suficientes para que o cérebropasse a exigir nicotina. Além disso, atinge oadolescente de forma devastadora: quemcomeça a fumar tão cedo, dificilmenteescapa da dependência (apenas entre 20 e30% conseguirão abandonar o cigarro). Ehá um outro ponto muito importante: nãoexiste, em relação ao consumo do Tabaco,algo como “fumar socialmente” – a pessoasimplesmente é fumante ou não é.Já os resultados imediatos do consumo doÁlcool, se comparados ao do cigarro,aparentemente não são tão impactantes: onúmero de adolescentes envolvidos com aexperimentação que irão tornar-sedependentes não ultrapassa a faixa dos20%. O fato de ser possível administrar umuso apenas social ou eventual de bebidasalcoólicas, sem que o processo dedependência nunca chegue a instalar-se,se expressa também na postura de grandeparte das famílias brasileiras, que emocasiões festivas não só aceita livrementeo consumo de Álcool por adolescentes,como muitas vezes até o estimula.A Mídia Jovem, espelhando em suaspáginas essas diferenças de abordagem,resiste em traçar um perfil nítido do Álcoolenquanto droga – o que não acontece emrelação Tabaco (ver gráficos ao lado).Já quando a questão é o prazer, ossuplementos de jornais e revistas dirigidosao público adolescente claramenteadmitem experiências prazerosasassociadas ao consumo de bebidasalcoólicas, mas ainda não reconhecem aassociação com o prazer também no atode fumar (ver gráficos ao lado).

Universo Pesquisado

Veja aqui o comportamento dos veículos da MídiaJovem diante das temáticas Tabaco e Álcool noperíodo Outubro/2000 a Setembro/2001.A ausência do símbolo significa que o tema nãofoi diretamente tratado uma única vez ao longodos doze meses.

S U P L E M E N T O S S TA N D A R D

TABACO ÁLCOOL VEÍCULO

• • FUN (GAZETA DO POVO, PR)

• POP (O POPULAR, GO)

• TRIBU (A TRIBUNA, SP)

• • ZINE (A GAZETA, MT)

SUPLEMENTOS TABLÓIDE

TABACO ÁLCOOL VEÍCULO

• AZUL (DIÁRIO DE CUIBÁ, MT)

• D+ • GABARITO (ESTADO DE MINAS)

• FOLHATEEN (FOLHA DE S. PAULO)

• • FOR TEENS (MEIO NORTE, PI)

• GALERA (O ESTADO DO MARANHÃO)

• • MEGAZINE • PLANETA GLOBO (O GLOBO)

• ZEP (JORNAL DA DIVISA, SP)

• ZEROU (ZERO HORA, RS)

PÁGINAS DE JORNAIS

TABACO ÁLCOOL VEÍCULO

ADOLESCÊNCIA (O POVO, CE)

• ATITUDE (HOJE EM DIA, MG)

• FANZINE (A GAZETA, ES)

• PAPO CABEÇA (A CRÍTICA, AM)

• PLANETEEN (A NOTÍCIA, SC)

QG (FOLHA DE LONDRINA, PR)

TRIBUNA TEEN (TRIBUNA DE ALAGOAS)

TRIBUNA TEEN,ES (A TRIBUNA, ES)

• • X-TUDO (CORREIO BRAZILIENSE, DF)

• ZAP! (O ESTADO DE S. PAULO)

ZONA TEEN, BA (A TARDE, BA)

• • ZONA TEEN, PB (O NORTE, PB)

ZUÊRA (CORREIO DA BAHIA, BA)

R E V I S TA S

TABACO ÁLCOOL VEÍCULO

• ATREVIDA

• • CAPRICHO

• CARÍCIA

• • QUERIDA

TODATEEN

Entre tragos e tragadas M E T O D O L O G I A

CAPRICHO • 05/12/99

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P r a z e r e l i b e r d a d e

POLITICAMENTE CORRETO

A comparação entre a cobertura oferecidapelos veículos da Mídia Jovem aos temasrelacionados ao Tabaco e aquela voltada para oÁlcool coloca em evidência algumas outrasdiferenças marcantes.No caso do cigarro, por exemplo, os textos dãovoz a um discurso praticamente unificado,enquanto no setor das bebidas alcoólicasencontram-se pontos de vista bem maisdiversificados. É possível atribuir essa diferença,num primeiro momento, às próprias fontes: asinformações relacionadas ao consumo doÁlcool não se encontram tão sistematizadasquanto aquelas entregues pelas entidades quetratam da área do Tabaco.Essa maior eficiência das fontes, entretanto,não é fruto do acaso. O grau de mobilizaçãoda sociedade como um todo para oenfrentamento dos desafios representadospelo consumo de cada uma das duassubstâncias também apresenta sensíveldiscrepância. Em relação ao Tabaco, conta-sehoje com um movimento amplamenteorquestrado, que envolve diretamente ogoverno federal, o legislativo, a sociedadecivil e a própria mídia. Quanto ao Álcool,estamos praticamente engatinhando.A análise dos recentes esforços coordenadospelo Ministério da Saúde para limitar apublicidade do cigarro no País permiteafirmar que a mídia brasileira assumiu deforma explícita um papel de parceria ativa,embora não formalizada, que deu significativacontribuição ao sucesso de ações cuja tônicadominante feria de frente o interesse degrandes grupos econômicos.O teor do material sobre Tabaco veiculadopela Mídia Jovem entre Outubro/2000 eSetembro/2001 é um bom exemplo destapostura editorial alinhada com uma causamais ampla. O que, vale relembrar, nãosignifica necessariamente a elaboração de umproduto jornalístico da melhor qualidade.

JORNALISTICAMENTE INCORRETO

A cobertura das questões relacionadas aoTabaco pelos suplementos de jornais erevistas dirigidos ao público adolescente é,

A PUBLICAÇÃO OS JOVENS NA MÍDIA • O DESAFIO DA AIDS PODE SER

ACESSADA NA HOME PAGE DA COORDENAÇÃO NACIONAL DE DST E

AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE: WWW.AIDS.GOV.BR/JOVENSNAMÍDIA.

TAMBÉM ESTÁ DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD, NA PÁGINA DA ANDI:

WWW2.UOL.COM.BR/ANDI/PESQJOV/INDEX.HTML. A VERSÃO IM-

PRESSA PODE SER SOLICITADA À EDITORIA DE MÍDIA JOVEM DA ANDI:

SDS ED. BOULEVARD CENTER, BL. A, SALA 101 • 70391-900, BRASÍLIA,

DF. FONE: 61 322-6508. E-MAIL: [email protected]

MÍDIA, JUVENTUDE, AIDS EDROGAS

O texto “Prazer e liberdade” integra ocapítulo Drogas da publicação OsJovens na Mídia – O Desafio da Aids,que consolida os resultados deseminário de mesmo nome que reuniuem Brasília, de 2 a 4 de junho de 2000,50 profissionais de veículos que falamdiretamente ao público adolescente ejovem (editores, repórteres eapresentadores de TV), além de 17jovens protagonistas e 20 especialistasna área de mídia e de prevenção ao HIVe ao uso de drogas.Realizado pela Coordenação Nacionalde DST e Aids do Ministério da Saúde,em parceria com a ANDI, Unicef,Unesco e UNDCP, com apoio doInstituto Ayrton Senna, o semináriocontou com oito grupos de trabalho,focalizando a interface do HIV com asseguintes temáticas: “Situação Sócio-Econômica”, “Gênero”, “Sexualidade”,“Família”, “Escola”, “Drogas”, “Gravidez”e “Protagonismo Juvenil”.A publicação Os Jovens na Mídia – ODesafio da Aids, além de apoiar ojornalista em sua cobertura do universoadolesência/HIV por meio da discussãode parâmetros de educomunicação, desugestões de pauta e de um guia defontes, vem sendo utilizado tambémcomo material de suporte didático porgrupos de protagonismo juvenil e porprofessores de ensino básico e médio.

As fontes deinformação

“A adolescência é, sem dúvida, o período emque a necessidade de experimentar a vida émais urgente. A juventude exige prazer eliberdade em doses altas. Prazer que podeestar nos mais diferentes momentos da vidados jovens: ir à praia, ao cinema, ao shopping,ler um livro, praticar esporte, ir à lanchonete,assim como namorar ou usar drogas.Associar sexo e prazer é fácil. As experiênciaspessoais se encarregam de ilustrar a questão.Sexo é instinto, é biológico, é químico.Independentemente disso, a sociedadesempre tenta enquadrá-lo, para que aliberdade que se aprende com esse prazer nãocontamine o resto de nossas ações.Ao se falar em droga, tudo complica. O temaainda é polêmico e carregado de pré-conceitos.As respostas atuais sobre o “não” às drogasafirmam que elas levam a comportamentosautodestrutivos, perda de liberdade e açõesilegais. Parte-se do princípio de que, por trásda droga, só existe tragédia. Esse tipo deatitude, com idéias exageradas sobre o perigo“devastador” das drogas, além de nãocontribuir para uma consciência crítica, põeem risco a credibilidade do que se diz.Não se pode ter medo de ver o prazer. Melhorseria enfrentá-lo. Não falar sobre o prazer sóaumenta a hipocrisia que cerca a questão. Arepressão pura só estimula a curiosidade e ointeresse pelo assunto, além de levar aoencontro da vontade de transgredir – quetambém faz parte do dia-a-dia do jovem.Reconhecer o prazer derivado do uso da droganão é, em nenhum momento, estimular o seuconsumo. É apenas o primeiro passo para serepensar o fascínio que ela pode exercer sobreos jovens, como uma das opções disponíveispara saciar a urgência de prazer e liberdade.Oferecer informações sobre as drogas e abrirum espaço de comunicação sincero é deessencial importância. Entretanto, apenasinformar não é tudo. As drogas devem receberum tratamento criativo, dentro de umcontexto que vise abordar assuntos queinteressem ao jovem, substituindo odidatismo tradicional por abordagens maisdinâmicas. Assim, estimular o jovem a pensarem formas de obter prazer e fazer opçõessaudáveis, sem tentar persuadi-lo, é a melhorforma de sensibilizá-lo. Pensar em prevençãoé pensar em formas de prazer, fantasia,oferecer alternativas emocionantes. Asmatérias na mídia devem achar soluções quedespertem, motivem o jovem, e não introduzi-lo em uma realidade falso-moralista.”

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praticamente toda ela, pautada pelosparâmetros técnica e politicamente corretos.Sob esses aspectos é, também, muito maiscompetente do que aquela dirigida ao temado Álcool.Esse discurso unificado, entretanto, terminouferindo um dos princípios básicos da boaeducomunicação, que é permitir/estimular odiálogo dos jovens com o conteúdo dasreportagens veiculadas.Conforme assinalado anteriormente (ver p. 23),a disposição em contribuir para a redução doconsumo de cigarro entre as faixas maisjovens da população levou muitos jornalistasda Mídia Jovem a praticamente eliminar desuas páginas a visão de quem não consegueou deseja parar de fumar, contribuindo –mesmo que não intencionalmente – parauma atitude discriminatória.O caso merece um olhar atento. Afinal, operíodo coberto pelas matérias analisadaspela presente pesquisa A Mídia dos Jovens émarcado por um contexto bastantecomplexo e delicado: aquele quecorresponde ao auge dos esforços, por parteda sociedade brasileira, em consolidar umconsenso francamente antitabagista –mesmo quem defende sua condição defumante passa a reconhecer abertamenteque o cigarro faz mal e, de maneira geral, seposiciona a favor da limitação dapublicidade.

COBRINDO SAÚDE

De maneira geral, ainda é limitada acompreensão do caráter do trabalhojornalístico por parte da maioria dasinstituições de nosso País que trabalha coma área social. Uma distorção que também semanifesta, agudamente, no universo dosprofissionais e técnicos da área de saúde,não habituados a colocar entre suasprioridades o atendimento às demandas dosprofissionais da mídia.Essa insensibilidade faz com que muitosmédicos e especialistas tendam adesqualificar a condição – muitas vezescrítica – dos jornalistas que os procuram,ignorando sintomas de ansiedaderelacionados a horários de fechamento deedições, dificuldade de acesso a dadostecnicamente corretos e escassez denutrientes informativos. Submetidos a umtratamento tão inadequado, não é deestranhar-se os casos de falência múltipla de

órgãos de imprensa, regularmenteregistrados nos boletins das coberturas daárea da saúde.Mesmo no contexto daquelas instituiçõesque possuem uma assessoria de imprensa,são comuns limitações no diálogo dosjornalistas da casa com as áreas técnicas – oque termina prejudicando a presteza naresposta às demandas dos meios decomunicação.Se os profissionais de saúde, os técnicos dogoverno e os representantes das ONGsestiverem mais conscientes do papel centralrepresentado pela mídia na mobilização dasociedade para as grandes causas do País,poderão contribuir de forma decisiva paraelevar a qualidade da cobertura jornalísticano campo da saúde.

A PRESSA E O RELEASE

Alguns outros pontos ajudam a explicitar oimpacto das relações pouco claras entre osjornalistas e as fontes de informações nacobertura das temáticas associadas à saúde.A maioria delas se aplica ao contexto do usode Tabaco e Álcool por adolescentes e jovens.

• O press-release – um instrumentoinformativo de função muito importante,porém limitada, que é a de vender umadeterminada pauta para os meios decomunicação – assume um papel inflado nouniverso do jornalismo contemporâneo.Jornalistas apressados e técnicos de saúdenão-disponíveis reduzem a cobertura detemas relevantes a uma mera reciclagem dasinformações compactadas que as assessoriasde comunicação oferecem – o que levamuitas reportagens a dar voz basicamente àsposições governamentais. O “vício” do press-release limita a capacidade criativa e opotencial de contribuição do jornalista, quenão renova o discurso oferecido pela fontegovernamental e não ajuda a sociedade arepensar estratégias.

• O despreparo dos jornalistas em lidar comcertos temas de maior densidade técnica,associado à indisposição da maior parte dosprofissionais de saúde, coloca a mídia comorefém daquelas fontes que gostam de falar –algumas de boa qualidade, outras nem tanto.É importante que o jornalista busque romperesse círculo vicioso, descobrindo maneiras demotivar outros técnicos de saúde a

confiarem no potencial dos meios decomunicação. E, embora referências dealcance nacional sejam valiosas, não sedeve deixar de reconhecer a importânciade colaborações de figuras de destaqueregional ou local.

• É preciso muita atenção quando otécnico é consultado nas reportagensapenas para dar orientação adicional sobreum determinado tema, sem que tenhaparticipado diretamente de um debatecom os jovens ouvidos. Se mal trabalhado,esse recurso pode fazer com que seestabeleçam na matéria dois universosparalelos: a voz do cotidiano adolescente eo discurso cientifico. Isso terminainterferindo no acesso do leitor/telespectador à mensagem tecnicamentequalificada.

• Já o profissional de saúde deve estarciente de que o jornalista geralmenteconhece muito pouco dos temas que serãodiscutidos na entrevista. E também queuma marca das redações é a alta-rotatividade de pessoal. Assim, é funda-mental que a fonte seja paciente, poismuitas vezes estará educando um novojornalista a respeito daquilo que lhe soacomo o mesmo velho assunto. Além disso,a linguagem do técnico tem que seracessível ao jornalista e ao público –especialmente quando se trata do públicoadolescente ou jovem.

Empresas de comunicação e organizaçõessociais devem contribuir para oaprimoramento profissional de repórterese editores de Mídia Jovem.A complexidade do papel desempenhadopelo profissional de Mídia Jovem não foiainda plenamente compreendido pela maiorparte das empresas de comunicação – e nempor todas as entidades envolvidas com aquestão da adolescência em nosso País.Para exercer de forma competente a duplafunção de informar e, ao mesmo tempo,contribuir para a formação de seu públicoleitor/telespectador, esse jornalistanecessitaria estar em processo contínuo dequalificação. Cabe a ele, afinal, ganharintimidade não apenas com um ou doistemas específicos, mas com um vasto

Formação e Informação

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UM DESAFIO POLÍTICO

O sucesso da recente iniciativa de limitação àpublicidade do cigarro abre uma nova frentepara a mídia socialmente responsável:qualificar-se para denunciar a maneira poucocoerente com que vem sendo tratada noBrasil a prevenção ao consumo de bebidasalcoólicas. Em poucas palavras, o Álcool nuncafoi prioridade nas políticas de saúde pública.Nitidamente, falta vontade política paraencarar um problema que é hoje responsávelpelo maior número das internaçõeshospitalares por dependência e ocorrênciasclínicas (cirrose, câncer do fígado, etc) e queocupa o quarto lugar no grupo de doençasque mais incapacitam em nosso País. Osprejuízos humanos e sociais causados peloabuso de bebidas alcoólicas, com reflexosdiretos também no plano econômico (seja viaabsenteísmo no trabalho, seja pelos custosmédicos e previdenciários), demandamintervenções urgentes e de real eficácia.É razoável argumentar que seria impossívelcolocar em pauta, numa mesma época, doisassuntos tão polêmicos quanto o Tabaco e oÁlcool. Mas também parece natural esperarque a sociedade, respaldada precisamentepelas conquistas ocorridas no campo docigarro, decida-se agora a dar o segundopasso no território das drogas lícitas e de seusinteresses econômicos.Todas as críticas direcionadas à publicidadedo Tabaco se aplicam também às das bebidasalcoólicas. É regra geral, por exemplo,associar o uso destas às mesmas imagens dealegria, juventude, vitalidade, esporte,sucesso, poder e sedução que enfeitam aspropagandas de cigarro.Limitar radicalmente essa publicidade é, denovo, o melhor caminho para iniciar-se umtrabalho sério de prevenção. Assim não se estáproibindo o consumo (o que, por sinal, não édesejável nem eficaz), mas evitando que eleseja estimulado por meio de mensagens que oapresentam como uma fonte de realização.A discussão desse tipo de medida preventiva étambém uma ótima pauta para profissionaisde Mídia Jovem interessados em continuar acontribuir para um amplo enfrentamento dasquestões ligadas às drogas lícitas.

PELA ÓTICA DA REDUÇÃO DE DANOS

Apesar de politicamente menos correta, nosentido jornalístico a cobertura dada pelaMídia Jovem ao tema Álcool é maisequilibrada, menos aterrorizante, com menorvolume de números e estatísticas, além deser mais motivada por iniciativas dospróprios veículos do que por ações públicas.É importante destacar nos noticários apresença de depoimentos de adolescentesque bebem, mesmo quando reconhecemsaber que não poderiam ou deveriam estarbebendo. A partir desta abordagem, éfacilitada a identificação do adolescente como texto – o que praticamente não ocorre comas reportagens sobre o Tabaco.Essa maior liberdade de discussão em relaçãoao Álcool, quase sempre pautada pelo fato deser possível e aceitável o uso apenas socialdas bebidas – o que, vale relembrar, nãoacontece no setor Tabaco, pois adependência gerada pela nicotina é quaseinstantânea – termina desenhando umacobertura menos distante do paradigma daRedução de Danos (veja fac-simile na páginaao lado). Muitas vezes, os textos estimulam ojovem a aprender a lidar de formaresponsável com o universo das bebidasalcoólicas, discutindo a importância dedescobrir como auto-regular o consumo, deestar atento aos riscos no trânsito e também deprocurar evitar os constrangimentos derivadosdo uso exagerado.O discurso presente nas matérias sobre Álcool,portanto, consegue relativizar a questão doconsumo por parte dos jovens, a exemplo doque propõem os modernos conceitos deenfrentamento do desafio das drogas:

• cada droga é uma droga• cada indivíduo é único• cada período de sua vida também• família, escola, amigos e comunidade do

usuário precisam ser levados emconsideração, caso a caso.

Á l c o o l

Nesse sentido, o foco da maioria das reportagens sobre Álcool analisadas na presente ediçãoda pesquisa A Mídia dos Jovens usa como referência não um mundo ascético, onde foicompletamente abolido o consumo de bebidas, mas sim uma sociedade em que este consumopode vir a acontecer sem significativos impactos sobre a saúde e o projeto de vida do cidadãoou sobre o próprio tecido econômico-social.

conjunto de questões associadas ao universoda adolescência e/ou juventude.Em áreas de maior responsabilidade, como asrelativas ao consumo de Álcool e Tabaco,cabe ao repórter construir os diferenciais damatéria, trazendo à superfície umdeterminado aspecto da pauta mais atraentepara seu público e convidando-o à reflexão.Desse modo, deveria fazer parte do perfil desua função, ao menos em um cenário ideal,tempo e habilidades para pesquisar, ler,investigar, diversificar fontes, participar decursos, desenvolver novas abordagens.Esse fazer criativo, que poderia ser chamadode “capacitação informal”, consiste naprincipal fonte de aprimoramento hojedisponível ao profissional de Mídia Jovem, jáque as faculdades de jornalismo nãooferecem cadeiras relacionadas à adolescência.Mas não faltam barreiras para bloquear oudificultar radicalmente esse processo, mesmoem seus primeiros passos: a principal delas éque a maioria das empresas de comunicaçãoainda sub-valoriza a função estratégica deseus veículos para adolescentes/jovens.Em função disso – ou algumas vezes devidoà real escassez de recursos – as equipesdesses veículos são muito reduzidas, levandoinevitavelmente ao drama do dead-lineestrangulado. Há casos em que todas asações de um suplemento se concentram emum único profissional. E há outros em que otitular pela seção dedicada aos adolescentesprecisa responder também às demandas deuma outra editoria.É comum encontrar-se jornalistas recém-saídos das universidades tendo que ocuparposição de responsabilidade pela definição detoda a linha editorial desses suplementos,sem contar com supervisão adequada. Aocontrário, vários deles ainda enfrentam adiscriminação de colegas, que simplesmentedesconsideram o trabalho da Mídia Jovem,visto como uma espécie de sub-jornalismo.

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Drogas na Mídia Jovem

Desde o período março-abril/1997, quando a ANDI passou aacompanhar o comportamento editorial dos veículos dirigidosao público jovem e adolescente, a retranca Drogas está entreaquelas com maiores dificuldades em firmar espaço adequadoem meio às ações dos editores e repórteres.A constante oscilação de seu Índice Percentual Temático deRelevância Social (IPT-RS)*, ao longo das oito edições dapesquisa A Mídia dos Jovens, é o melhor retrato deste problema.O valor de 3,29%, alcançado no período janeiro-dezembro/2000,é um dos mais baixos registrados pela ANDI.

* O Índice Percentual Temático de Relevância Social é calculado

dividindo-se o número de inserções registrado por um determinado

tema pelo total de inserções que as 18 retrancas consideradas de

Relevância Social acumularam no período em foco.

Veja na décima edição do boletim PONTO J –JORNALISMO E JUVENTUDE (WWW2.UOL.COM.BR/ANDI/PONTOJ/INDEX.HTML) uma visão ampla doconceito de “Redução de Danos”.

O ASPECTO LEGAL – UM FATOR OCULTO

A grande maioria das reportagens veiculadas pelossuplementos de jornais e revistas da Mídia Jovem sobre Tabacoe Álcool ignora, intencionalmente ou não, a questão legal.Lei federal proíbe ao adolescente acesso a bebidas alcoólicas,definindo claramente punição para o estabelecimentoresponsável pela venda do produto.Quanto ao cigarro, tramitam no Congresso Nacional algunsprojetos de lei regulamentando a proibição da venda aosadolescentes. Mas vários estados e municípios já contamcom legislações próprias sobre o tema.O dilema é óbvio: em meio a uma sociedade claramentecomplacente/conivente com o consumo do Tabaco e doÁlcool por parte dos adolescentes, os jornalistas não desejamcorrer o risco de desempenhar um papel que pode serinterpretado como o de censor ou juiz de seu público leitor.Não é isso, entretanto, que se espera da Mídia Jovem, e simque venha a abrir espaço em sua pauta para uma discussãofranca das mensagens contraditórias passadas pelasociedade em relação aos limites legais impostos aoconsumo das drogas lícitas pelos adolescentes.

A VOZ DO ESTATUTO

O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe, em seu artigo81, a venda de diversos produtos – entre eles a de bebidasalcoólicas – a qualquer pessoa com menos de 18 anos deidade. O texto completo define o seguinte:“É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: I – armas,munições e explosivos; II – bebidas alcóolicas; III – produtoscujos componentes possam causar dependência física oupsíquica ainda que por utilização indevida; IV – fogos deestampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzidopotencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico emcaso de utilização indevida; V – revistas e publicações a quealude o art. 78; VI – bilhetes lotéricos e equivalentes.”Os projetos de lei que pretendem proibir a venda de tabacopara crianças e adolescentes em todo o território nacionalpartem desse mesmo artigo. Alguns acrescentam a palavra“cigarro” depois de bebidas alcóolicas (projeto do deputadoFernando Zuppo), outros entram com a expressão “tabaco eseus derivados” no inciso III, uma vez que o cigarro causadependência física (deputado Paulo Delgado) ou “produtospara fumar derivados do tabaco” (deputado Silas Brasileiro).

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ÁLCOOL, SEXO E VIOLÊNCIA

A cobertura dedicada pelos suplementos dejornais e revistas da Mídia Jovem aoconsumo de Álcool por adolescentes, apesarde bem mais flexível e diversificada do queaquela em torno do uso do Tabaco, deixa emdescoberto – ou trata apenastangencialmente – alguns aspectos degrande importância.Um deles é o fato, fartamente documentado,de que a ingestão de algumas doses debebida alcoólica reduz a capacidade dediscernimento do usuário. Isto pode conduzira práticas sexuais inseguras ou a outroscomportamentos potencialmente perigosospara o indivíduo e para o grupo, por partetanto dos garotos quanto das garotas.Mas são ainda raras as matérias quetrabalham a vinculação entre o consumo debebidas alcoólicas – e, vale assinalar, tambémde drogas ilícitas – com a vulnerabilidade aoHIV e à gravidez indesejada. Também épouco valorizada, na cobertura da temáticaÁlcool, a questão da violência. Os textos daMídia Jovem muito eventualmente fazem arelação direta entre o uso abusivo de bebidase a propensão a comportamentos agressivos.Ignoram, inclusive, que este é fator presenteem significativa parcela dos homicídioscometidos nos grandes centros urbanos.

UM CASO DE DEPENDÊNCIA

A Mídia Jovem, por outro lado, não tevedificuldades de assumir a perspectiva docomportamento de risco quando se trata daquestão do trânsito: foi veiculada no ano2000 boa quantidade, e com boa qualidadetécnica, de reportagens que estimulam osadolescentes e jovens a não misturarem ovolante com o Álcool.Mas é importante lembrar que, no períodofocalizado pela presente edição da pesquisaA Mídia dos Jovens, além de uma campanhado governo federal, algumas iniciativas dasociedade civil colocaram o binômiotrânsito/álcool em cheque, apoiadas emestatísticas que mostram ser 61% dos

acidentes causados pelo abuso de bebidas.Aqui, de novo parece claro que a ação dosjornalistas tende a ficar na dependência deum posicionamento mais articulado porparte de outros setores da sociedade. Apenasassim a mídia passa a reconhecer anecessidade de contribuir de forma regularpara uma discussão de aspectos preventivosrelacionados ao uso das substâncias lícitasentre os adolescentes e jovens.Em muitos casos, a mídia pode ser mais pró-ativa na provocação de debates. Um bompauteiro, costuma-se dizer, é aquele queenxerga com antecedência os aspectossociais que precisam ser trazidos à tona.

U S O D A P A L A V R A R I S C O A S S O C I A D O A

T R Â N S I T O 5 8 %

D S T / A I D S E G R AV I D E Z 2 1 %

O U T R O S 2 1 %

O COMPONENTE SÓCIO-ECONÔMICO

Há um outro aspecto bastante negligenciadono tratamento oferecido pela Mídia Jovemàs questões relacionadas ao consumo deÁlcool – e também de Tabaco – por parte dapopulação adolescente e jovem: acontextualização dos fatores sócio-econômicos.Indicadores vêm demonstrando aceleradapauperização do uso de ambas assubstâncias em nosso País. Com menosacesso às informações preventivas, expostosa ambientes familiares disfuncionais e nãoraro convivendo com pessoas dependentes,os adolescentes e jovens das periferias dasgrandes metrópoles lutam ainda contra umaestrutura educacional deficiente, a falta deopções de lazer e as diminutas perspectivasde colocação profissional.Mais do que nunca, nessas circunstâncias oconsumo de drogas – sejam elas lícitas ouilícitas – pode ser encarado como um fatorcompensatório à ausência de umaperspectiva de vida viável, realizadora.Embora se dirijam a um públicoprimordialmente de classe média, os veículosda Mídia Jovem devem procurar ampliar ocampo de discussão, ao tratar das questõesrelacionadas às drogas. Uma informação queleve em conta o quadro sócio-econômicocontribui também para que esses leitores

percebam que não podem generalizar paraoutros extratos da população – mesmo os deidêntica faixa etária – os parâmetros quenorteiam suas relações com as drogas. Eseria, também, uma forma de pressionar aspolíticas públicas.

PROTAGONISMO EM FALTA

Um fator complicante no enfrentamento dasquestões associadas ao consumo do Tabacoe do Álcool por parte do público adolescentee jovem é o fato de serem muito raros osprojetos de Protagonismo Juvenil que atuamnestas duas áreas. Não faltam gruposcontribuindo com a área de educação,criando arte, promovendo os direitoshumanos e mesmo trabalhando a questãodo HIV e multiplicando informações sobresexualidade e gravidez. Mas quando o focose concentra no uso de drogas – sejam elaslícitas ou ilícitas – é evidente a dificuldade deuma ação mais direta, de jovem para jovem,mesmo no contexto preventivo.Esse problema acaba também bloqueando oque seria um boa via de acesso da MídiaJovem aos temas cigarro e bebidas. Afinal, demaneira geral os suplementos de jornais e asrevistas têm uma grande sensibilidade paraas ações protagonísticas – movidas porjovens, a partir de temáticas de seu realinteresse. Estes veículos não tem dificuldadeem reconhecer que aí reside uma boa pautae que é possível falar de uma forma maiseficaz para o adolescente quando se utilizadesse tipo de ponte, centrada no fazercriativo e construtivo de seus próprios pares.Mas, afinal, onde estão esses grupos, quandose trata do cigarro e das bebidas alcoólicas?A resposta é que os desafios para esse tipoespecífico de ação não são pequenos, tantopara os educadores quanto para os própriosjovens protagonistas.

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UMA INICIATIVA DE SAÚDE

Uma experiência que envolve a abordagemdas temáticas relacionadas às drogas lícitas eilícitas, inserida no contexto mais amplo dasaúde, está sendo implementada pelo projetoCapacitação em Protagonismo Juvenil,iniciativa da Área de Saúde do Adolescente edo Jovem, do Ministério da Saúde.De abril a outubro de 2001, educadores,profissionais de saúde, assistentes sociais eintegrantes de ONGs que atuam comadolescentes e jovens participam dos cursos,se qualificando para trabalhar na formaçãode jovens protagonistas em saúde.Doze estados estão sendo contempladospelo projeto: Tocantins, Pará, Maranhão,Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco, Acre, Roraima, Amapá, Paranáe Santa Catarina.Jornalistas cujo foco de interesse privilegia ouniverso da infância e da adolescênciatambém são convidados para participarintegralmente dos cursos de Capacitação emProtagonismo Juvenil.

Área da Saúde do Adolescente e doJovem/Ministério da SaúdeMaria Eustáquia da SilvaFone: (61) 226-0437/[email protected]

* JANE MONTES é Pedagoga e Psicodramatista,

Técnica do GAIA-CETAD/UFBa

JANE MONTES *

Não é de se estranhar a capacidade deexpressão e vivacidade de adolescentes nasmais diversas manifestações culturais esociais. Mas, quando se trata de temascarregados de tabus e preconceitos taiscomo drogas e sexualidade, o desafio estáposto para todas as idades.Foi esse desafio que colocou “aprendizes deetnografia” no trabalho de campo, paraconhecer melhor os fatores de exposição parariscos e danos relacionados ao consumo desubstancias psicoativas e práticas sexuais, emcomunidades de baixa renda.Em Salvador, desde 1999, quandoadolescentes do Cria, Projeto Axé, Oaf,Acopamec, Projeto Temperança e Cradis,foram capacitados como AgentesMultiplicadores1 para o trabalho dePrevenção ao abuso de Drogas e DST/Aids,técnicos do CETAD/UFBA têm se dado contada importância da comunicação entre jovenspara questões dessa natureza.Capazes de realizar oficinas para grupos demais de quinze pessoas da mesma faixaetária, os multiplicadores tomam iniciativasde pesquisar a melhor forma de abordagemnas salas de aulas, nos bairros e suasassociações, nas organizações nãogovernamentais que freqüentam, chegandoa realizar articulações com gerências decentros de saúde dos mais diversos distritossanitários para desenvolvimento deatividades preventivas.Aprenderam com a experiência aimportância do estabelecimento daconfiança, para seguir com seus pares nasdiscussões que promovem sobre adoção decuidados com a própria saúde, objetivoessencial das atividades que desenvolvem.Perceberam, também, que iniciarconversações sobre drogas nem sempre éprodutivo. O caminho mais fácil até o temapode ser, na maioria das vezes, boasgargalhadas quando pegam nos modelospélvicos, para aprenderem o uso correto dospreservativos masculino e feminino ouquando listam os mais diversos tipos de“transa”. As provocações para discutirem osriscos que correm quando fazem as coisasque mais gostam permite entrar no tema das

drogas. Daí por diante, as atenções se voltampara a divulgação dos centros de referênciapara tratamento e prevenção, além de outrosserviços da rede básica de saúde.Estão sensíveis para distinguir os diversosefeitos e tipos de consumo de substânciaspsicoativas que tornam ou não usuáriosdemandantes de tratamento. Mais do queisso, entenderam que a iniciativa para otratamento deve partir da própria pessoa.No trabalho com a noção de vulnerabilidade,eixo teórico que inspirou a capacitação, forampercebidas as possibilidades que todo equalquer indivíduo tem de se infectar com ovírus da Aids. Aí são concentradas as tarefasde informação e educação.Identificaram, com clareza, que o fato decompartilharem determinadas expectativas,dúvidas, confusões e medos, facilitam asdiscussões com seus pares adolescentes. Ostécnicos adultos ficam na retaguarda paraapoio teórico, logístico e discussão da prática.Essa competência tem autorizado osAdolescentes Multiplicadores do CETAD/UFBA a receberem os usuários, na sala deespera do Centro, desenvolvendo atividadesinformativas sobre cuidados necessários coma saúde reprodutiva, DST e Aids.A diversidade de estilos, valores, gostosmusicais, a identificação com “tribos”, nãose constituem em obstáculos para investir naabordagem. Eles dizem, com o orgulhopróprio da idade, que o importante notrabalho com as pessoas, sejam ou nãousuárias de drogas, deve ser o cuidado com aprivacidade alheia, os limites de cada um e,acima de tudo, o respeito.

1. Capacitação realizada em 1999 pela Divisão deEducação para Saúde com recursos do CN-DST/Aids do Ministério da Saúde. Atualmente, osMultiplicadores estão vinculados, também, aoGAIA/CETAD - Grupo de Atenção e Investigaçãoda Adolescência.

Protagonismo e Drogas: uma relação delicada

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Previsibilidade, falta decontextualização da realidade dousuário, criatividade reduzida e poucopreparo por parte dos jornalistas são asprincipais limitações apontadas por seisadolescentes e jovens na coberturadada pelos veículos da Mídia Jovem aostemas relacionados ao consumo deTabaco e Álcool.Os adolescentes e jovens foramunânimes ao afirmar que o recurso dochoque, com uso de dados estatísticosassustadores, não contribui para aassimilação da mensagem preventiva.Consideraram difícil, também, avinculação do usuário com os textos, emfunção do predomínio de abordagens quecondenam frontalmente o consumo dasduas substâncias.Reunidos na redação da ANDI, namanhã de 22 de fevereiro de 2001, doisestudantes (escolhidos por não

Ana Paula da Conceição, 14 anos, estudante da 8ªsérie, mora na cidade satélite de Riacho Fundo II-DF.

João Rodrigo de Lavor e Silva, 18 anos, ensinofundamental completo, mora em Brasília.

Marcelo de Assis, 21 anos, estuda EngenhariaMecatrônica na UnB, integrante do GrupoInteragir/Portal do Protagonismo Juvenil, moraem Brasília.

Adriano Duarte de Araújo, 18 anos, ensinomédio completo, participa do grupo de teatroGTRÃ e do conselho editorial do jornal Radcal,mora na cidade satélite de Taguatinga, DF.

Sérgio de Cássio, 22 anos, cursa o pré-vestibular,coordena o grupo Atitude (de prevenção à Aids),trabalha como voluntário da ANDI e mora nacidade satélite de Ceilândia, DF.

Edcassio Nivaldo Avelino, 19 anos, ensino médiocompleto, fotógrafo, monitor do CRIA evoluntário do Centro de Saúde de Mata Escura,bairro de Salvador onde reside.

contarem com experiência prévia naárea social) e quatro protagonistasjuvenis discutiram as impressõesmotivadas pela leitura de reportagenssobre drogas lícitas.Os textos em foco, veiculados noperíodo entre Outubro/1999 eSetembro/2000 por suplementos dejornais e revistas dirigidos ao públicoadolescente e jovem, são os mesmosque pautaram as avaliações do Grupode Análise que reuniu em Brasília, emdezembro/2000, jornalistas eprofissionais da área de saúde, e cujasconclusões serviram de base para aelaboração da seção Tabaco/Álcool dapesquisa A Mídia dos Jovens.A análise realizada pelos jovens pode serdividida em três pontos principais:• Abordagens previsíveis• Contextualização do uso• Trabalho de prevenção

ABORDAGENS PREVISÍVEIS

Para os seis jovens, a estratégia de chocar, emmatérias e em peças publicitárias, já se reveloucomprovadamente ineficiente. Segundo eles, épreciso que a Mídia Jovem estabeleça umaligação entre as informações já popularizadas ea experiência pessoal dos usuários adolescentes,tanto no caso do Tabaco quanto do Álcool.Sugerem, também, uma programação visualmais atraente para as matérias que lidam comestes temas (evitando a rejeição prévia ao texto, emfunção da apresentação muito séria ou depressiva)e conceitos de aconselhamento/orientação escritosem linguagem simples e direta.Segundo os jovens, é aparente certo despreparodos jornalistas na abordagem do Tabaco e doÁlcool, o que comprometeria as tentativas deescapar dos tratamentos óbvios que costumamcercar os dois temas. Isto ficaria mais flagrante,afirmam, nos momentos em que os profissionaischegam aos adolescentes com perguntas queparecem exigir um determinado tipo de resposta,

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A ANDI agradece a contribuição oferecidapelos seis participantes e também àconvidada especial Gabriela Goulart, editoraassistente do jornal Radcal, que colaborouna condução dos debates.Pela ANDI, participaram o Editor ExecutivoVeet Vivarta e Daniela Paiva, monitoraque integra a Editoria de Mídia Jovem pormeio do “Programa de Treinamento emComunicação e Mobilização Social paraEstudantes Universitários”, realizado emparceria com a Fundação W.K.Kellogg.

A E Q U I P E

Ana Paula

João Rodrigo

Marcelo

Andrino

Sérgio

Edcassio

Gabriela

Daniela

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FOTOS MILA PETRILLO, EXCETO EDCASSIO, CEDIDA PELO CRIA, BA

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TRABALHO DE PREVENÇÃO

Na opinião dos jovens ouvidos pela ANDI, as campanhas de

prevenção deveriam começar ainda na infância, pois as

estimativas indicam que o hábito do cigarro se instala, em 90%

dos casos, entre os 11 e os 14 anos de idade. É também nessa

fase, apontam as pesquisas, que se experimenta os primeiros

goles de bebidas alcóolicas, quase sempre dentro de casa e com

a permissão dos pais.

Segundo os participantes do debate, contando com suporte

psicológico e pedagógico apropriados, as crianças e também os

adolescentes poderão ter mais condições de, no futuro, dizer

não ao Tabaco e ao Álcool. Eles acreditam que uma boa forma

de se encaminhar este tipo de trabalho é inserir nos conteúdos

das disciplinas escolares noções de prevenção, informações

sobre os malefícios provocados pelo cigarro ou pelas bebidas

alcóolicas e conceitos que levem a um despertar para a

importância da saúde.

Nesse contexto, acreditam, os professores também poderiam acordar

os alunos para o prazer da leitura, utilizando como estimulo inclusive

os textos sobre o consumo de Tabaco e Álcool veiculados pelos

suplementos de jornais e revistas dirigidos ao jovens.

impedindo que a conversa flua livremente.Eles chamaram atenção também para o fatodas reportagens não tratarem o hábitofreqüente de fumar ou beber como doença,embora esta seja uma informação de extremarelevância. E sugerem que os jornalistastentem saber mais sobre a vida dos usuários enão apenas porque e quando começaram afazer uso de uma determinada substância.Para os jovens, é importante que asreportagens sobre Tabaco e Álcool optempor um tratamento voltado à totalidade dacondição humana, procurando deixar delado a abordagem excessivamente científica,onde predominam as estatísticas e asexplicações de como as substâncias agem noorganismo. As matérias – dizem eles –deveriam centrar-se no ser humano e emsuas contradições, procurando apresentaroutras possibilidades de prazer disponíveisna vida cotidiana. Seria útil, apontam, atrairos jovens leitores associando a discussãosobre as drogas lícitas a alguém famoso.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO USO

De acordo com os seis jovens presentes naredação da ANDI, é imprescindível que asmatérias mostrem um perfil mais detalhadodo usuário das drogas lícitas. Deve-seconhecer até que ponto a pressão da turmainfluenciou na opção de fumar e/ou beber, sena família existem outros usuários, se eletem acesso a outras formas de lazer perto decasa e até mesmo se possui o hábito de leros suplementos juvenis.Aprofundando a análise, eles afirmam quenão é suficiente entrevistar apenas ousuário, para saber se houve pressão de seugrupo para que começasse a fumar e/oubeber. Seria importante também ir até opróprio grupo e conversar com outrosintegrantes, para descobrir o que elespensam, qual a importância que dão aocigarro e à bebida, até que ponto estasdrogas atuam como elemento de afirmaçãodentro da turma, etc. Isto permitiria à mídia

contribuir de forma eficaz para que outrosjovens pudessem aprender a evitar esse tipo depressão. O mesmo, sugerem, poderia ser feitocom relação aos familiares dos usuários.Os jovens destacam ainda que é precisohaver tratamentos diferenciados ao falarpara usuários de classe média ou parausuários mais pobres. Os primeiros contamcom mais acesso à informação e a diversasformas de divertimento, enquanto que nasclasses menos favorecidas há falta de opçõesde lazer – o bar da esquina, portanto, tendea se transformar num ponto de encontrocom os amigos e, fatalmente, com as drogas.Falar de apego à vida para quem tem tãopouco a valorizar seria perda de tempo,completam.Além disso, os participantes do debateafirmaram ser um equívoco a abordagemutilizada por muitos suplementos de jornais,revistas e programas de televisão queinsistem em distribuir os adolescentessegundo tribos ou clãs.

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¥ O fato do Ministério da Saúdeestar sustentando a distribuiçãogratuita dos coquetéis anti-HIVresultou numa substancialredução no número de vítimasfatais de Aids no Brasil. Será quenão deveria ser tambémdisponibilizado na rede pública desaúde o acesso ao tratamentoanti-tabagismo, que envolvetrabalho comportamental e o usode algumas drogas relativamentecaras? Vale lembrar que o governofederal recolhe anualmente umvalor extremamente significativoem impostos relativos àindustrialização e comercializaçãodo cigarro, o que justificaria aindamais um investimento na área detratamento aos dependentes. Seprecisar de exemplo, o Brasil podese inspirar no Serviço Nacional deSaúde britânico, que recentementedecidiu distribuir medicamentos desubstituição da nicotina àpopulação de baixa renda.

¥ Uma pauta forte: o trabalhoinfantil nas plantações de tabaco,abordando todas as complexasquestões sociais aí envolvidas. Éimportante que os jovens urbanosde classe média saibam comovivem crianças e adolescentes nasregiões de plantação de tabaco:de que maneira são levados atrabalhar precocemente, como é otrabalho de plantação e colheita,quais os efeitos na saúde deixadospela manipulação do tabaco (anicotina é absorvida pela mão daspessoas e, mesmo que elas nãofumem, são intoxicadas), o uso deagrotóxicos e os efeitos no meioambiente. O que será que pensamesses adolescentes sobre ocigarro? E como fica, diante destequadro, a questão daresponsabilidade social dosconsumidores do cigarro?

¥ As indústrias do Tabaco e doÁlcool têm o adolescente comoalvo primordial. A Mídia JovemRe

com

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pode investigar as diferentesestratégias utilizadas paraatingir os garotos e garotas,contribuindo para que seusleitores/telespectadores nãosejam tão facilmente seduzidos/manipulados. Discutir, comjovens e especialistas, osrecursos de marketing dasdiferentes marcas de cigarro ebebidas é uma boa pauta. Asmatérias também podem ouvirpublicitários, médicos, modelos(para saber se eles fumam),pesquisadores da área decomunicação. O livro APublicidade é um Cadáver quenos Sorri, de Olivero Toscani – odas polêmicas campanhas daBenetton – traz idéias muitointeressantes sobre o universoda propaganda.

¥ É muito importante, também,debater os possíveis caminhosque a indústria do Tabaco virá atomar, a partir do momento quea publicidade do fumo éproibida nos meios decomunicação. Que novasabordagens foram desenvolvidaspara atingir o adolescente nospaíses que precederam o Brasilna limitação à propaganda docigarro?

¥ Os depoimentos muitas vezesmostram a negação do jovemdiante da dependência docigarro: “eu fumo só de vez emquando”, “posso parar quandoquiser”. A Mídia Jovem podecolocar em pauta a discussãodessa falácia, focalizandoinclusive a questão do prazer:testes demonstram que anicotina é um agenteantidepressivo. O cigarro,portanto, pode não dar barato,mas cria uma sensação químicade bem estar. É em função disso,também, que as boasreportagens para adolescentes ejovens não devem apenas

mostrar os malefícios do Tabaco,mas também os benefíciosdisponíveis para quem deixa defumar.

¥ As colunas de consulta, ondeespecialistas respondem aperguntas enviadas por leitores,consolidaram-se nas páginas desuplementos e jornais da MídiaJovem como uma importantecontribuição à educaçãoafetivo-sexual. Os veículospodem investir em consolidarespaço com perfil similar aodessas colunas, dedicado àsdúvidas sobre uso de Tabaco,Álcool e outras drogas.

¥ Em vários países – França,Dinamarca, EUA e Canadá sãoalguns exemplos – os própriosadolescentes são estimulados ase envolverem em campanhasde conscientização e prevençãoao uso de drogas lícitas.Algumas acontecem no âmbitoescolar, outras se expandemtambém para a comunidade. Éfrequente, inclusive, querecursos públicos sejamdestinados a essas campanhas.O foco central é sempre na vidasaudável, colocada comocontraponto aos problemasfísicos ou psicológicos geradospelo uso ou dependência dedrogas.

¥ Utilizar como gancho fatos,eventos ou obras de arte queenvolvam situações relacionadasao consumo de Tabaco e Álcoolé sempre uma solução quetende a ampliar o leque dadiscussão, trazendo maiorcriatividade e atualidade àsreportagens. Filmes recentes,como O Informante e 28 Diaspassaram em branco pelosveículos da Mídia Jovem.Também poderiam ter sidomelhor aproveitados – nosentido de repercutir e debater

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PREVENÇÃO NA REDE

Ainda são poucos os programasde prevenção ao Tabaco e aoÁlcool voltados paraadolescentes no Brasil,principalmente se comparadoscom experiências norte-americanas e européias, queenvolvem períodos detreinamento intensivo emuniversidades, informaçõessobre estratégias de marketing,marchas, campanhas egincanas com jovens.Uma relação com os principaissites brasileiros e tambémdiversos em inglês estádisponível no site da ANDI:www2.uol.com.br/andi/cafiada/index.html

com adolescentes e jovens –tanto o importante trabalho doCongresso Nacional em torno dalimitação da publicidade decigarro quanto a campanhaanti-tabagismo do Ministério daSaúde, veiculada amplamentetanto na televisão, quanto namídia impressa.

¥ É muito reduzido o númerode reportagens que abordam asquestões relacionadas ao uso doTabaco e do Álcool poradolescentes e jovens a partir dofator gênero. Também são rarasas situações em que osjornalistas buscam colocarfrente a frente garotas e garotospara discutir as diferenças narelação que desenvolvem com ocigarro e a bebida.

¥ Uma ótima matéria deserviço: apresentar e discutir asalternativas de tratamento hojedisponíveis para os dependentesdas drogas lícitas. Quaisatividades podem ajudaradolescentes e adultos aabandonar o cigarro e/ou abebida? Uma primeira relaçãoinclui ginástica, natação,caminhadas, ioga, meditação,artes marciais, diferentesabordagens psicoterápicas,grupos de auto-ajuda, spas,clínicas de desintoxicação…

¥ É importante valorizarhistórias de família: relatos defilhos que convenceram os paisa parar de fumar e/ou beber oude pais que ajudaram seus filhos(o mesmo vale para irmãos).Como se dá dentro de casa arelação do dependente com onão-dependente? Quais astensões presentes? Será que oscomportamentos dosdependentes respeitam aposição das outras pessoas – evice-versa? São estabelecidasrelações de ajuda?

¥ Os usuários de drogas(inclusive as lícitas), são muitasvezes confundidos com suadependência – e discriminadospor isso. É muito importanteestar atento à forma como asociedade – e a mídia também –trata as pessoas que cometemdeterminados tipos de infração:o marido que bate na mulher, oestuprador, o pedófilo, o pai quebate nos filhos. Apesar de serfundamental a proteção e oatendimento às vítimas, não sedeve esquecer de que ocomportamento do agressor,claramente patológico, necessitatambém de assistênciapsicológica. Evitar a visãomoralista, que contribui paraaumentar a discriminação quecerca essas pessoas, é uma açãoalinhada com os princípiosfundamentais dos direitoshumanos.

¥ Merece uma ampla discussão– e pode envolver jovens, pais,educadores e especialistas – oconceito de “dependência”. Seráque nossas relações comcomida, sexo, jogo, consumo,Internet podem se tornar umtipo de dependência? O que asdrogas – lícitas ou não – têm decomum com essas coisas, e noque são diferentes?

¥ Enriquece o panorama dedebates sobre o uso de Tabaco,Álcool e outras drogas aabordagem de hipóteses sócio-culturais mais abrangentes. Paraalguns usuários, parece queessas substâncias funcionamcomo agentes de um estadoideal de ser, onde a felicidade éeterna. Estariam assimrespondendo a pressões dasociedade contemporânea, quetem dificuldades em lidar comexperiências típicas da condiçãohumana, como a solidão, osconflitos ou as frustrações.

Segundo essa abordagem, arelação de dependência comcertas drogas seria então umamaneira de evitar o confrontodireto com doses excessivas de“realidade”.

¥ Podemos também ver o usoabusivo da droga, seja ela lícitaou ilícita, como expressão de umpadrão de satisfaçãocompensatório: se nossasociedade insiste em impor aoscidadãos parâmetros de condutaque repetidamente ignoram ouviolentam valores humanosessenciais, acabarão se fazendonecessários meios dosindivíduos compensarem a faltade sentido existencial decorrentedeste estilo de vida.

FOLHATEEN/FOLHA DE S. PAULO• 13/12/99

ZINE/A GAZETA, MT • 21/08/00

ATREVIDA • 01/08/00

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A cobertura jornalística oferecida pelos veículos da Mídia Jovem às questões relacionadas à Aids e às DoençasSexualmente Transmissíveis manteve-se estável ao longo de 2000, quando comparada aos dados da edição anterior dapesquisa A Mídia dos Jovens: foram computadas 175 inserções, contra 173 em 1999. Aids & DST manteve também a 10ªcolocação entre os temas socialmente relevantes (ver p. 11).Esses números refletem a dificuldade – vivenciada ainda por diversos suplementos de jornais e revistas – em ir além daditadura do “fato novo”. Pela ótica da educomunição, uma área de tal relevância não pode ficar condicionada aofactual: criar pautas inovadoras e diversificadas sobre a temática Aids & DST torna-se parte central das ações dojornalismo que tem o adolescente e o jovem como alvo prioritário.Mas se ainda é lento o processo de consolidação dessa abordagem, por outro lado o ano 2000 viu firmar-se entre osprofissionais da Mídia Jovem a consciência de que focar a prevenção ao HIV é essencial não só nas matérias quetratam diretamente de assuntos ligados à Aids, como também naquelas que discutem os temas Gravidez e Sexualidade.

HIV e gravidez

Das 175 inserções de Aids & DSTcomputadas em 2000, 152 configuravam aoportunidade de veicular informações sobrepráticas preventivas ao HIV. Apenas em 17ocasiões – 11,18% – isto não ocorreu.A maior responsabilidade desses jornalistaspara com seu público alvo se reflete tambémno crescente compromisso em aproveitar otrabalho sobre o universo do HIV para alertarsobre os riscos de uma gravidez naadolescência. Das 175 inserções da retrancaAids & DST, 105 tinham clara oportunidadepara incluir informações sobre à prevençãoà gravidez. Dessas oportunidades, 72 – ou68,57% – foram aproveitadas.

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{ }Entre aPRECISÃO TÉCNICA e a PRISÃO FACTUAL

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Prevençãotransversal

Um dado significativo nas edições desuplementos de jornais e revistasanalisados ao longo de 2000 é a boapresença de informações relacionadas àprevenção ao HIV em reportagens sobreos temas Sexualidade e Gravidez,retratando uma tendência detransversalização das questõesassociadas à Aids na pauta da Mídia Jovem brasileira.É importante destacar que as avaliações foram realizadas levando-seem conta apenas as reportagens sobre estes dois temas queclaramente propiciam a veiculação de noções preventivas.

A camisinha em foco

Mais de 85% das reportagens analisadas estão centradas nouso da camisinha e nas questões relativas à Aids.O que poderia ser considerado um dado totalmente positivoencobre, porém, um tratamento superficial do tópicoDoenças Sexualmente Transmissíveis: é muito importanteque editores e repórteres transmitam aos jovens a noção deque eles se tornam bem mais vulneráveis ao vírus da Aids seforem portadores de uma DST.O foco no preservativo e no HIV, por outro lado, demonstramaior maturidade dos jornalistas no que se refere ànecessidade de destacar na cobertura de Aids & DST osassuntos que dizem respeito à mudança de comportamentoentre adolescentes e jovens.O universo pesquisado registra diversas reportagens quediscutem mais diretamente alternativas para apoiar osjovens a desenvolver uma postura preventiva. Temas como anecessidade – e/ou a dificuldade – de se assumir maiorresponsabilidade sobre a prática do sexo seguro e apossibilidade de se diminuir o número de parceiros começama se fazer presentes na Mídia Jovem brasileira.

FANZINE/A GAZETA, ES • 14/06/00

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As fontes e os atores ouvidos

Quando analisadas sob o ponto de vista das fontes que originam a pauta e dosatores ouvidos ao longo do texto, as reportagens relacionadas à temática Aids& DST levam à conclusão de que o governo segue como uma das principaisreferências dos jornalistas da Mídia Jovem, enquanto as organizações dasociedade civil – extremamente ativas neste campo – permanecem com papelsecundário.A boa notícia é que mais de um terço das matérias sobre Aids & DST foramtrabalhadas a partir de pautas geradas nas próprias redações – um dado quereflete a capacidade desses suplementos de jornais e revistas desenvolverem,num futuro próximo, uma cobertura que independa dos ganchos factuais.Quanto aos personagens ouvidos nas reportagens, acontece o esperadopredomínio dos jovens. O problema é que pouco mais de um quarto das

matérias se preocupa em dar voz aos técnicos da área.Assim cresce o risco da qualidade da informação

ficar comprometida. Um problema que seagrava nas 40 reportagens que

simplesmente não ouviram ator algum.POP/O POPULAR • 14/12/00 ZINE/A GAZETA, MT • 28/02/00

A ANDI, em parceria com a Coordenação Nacional de DST e Aids doMinistério da Saúde, desde 1999 vem realizando o projeto Mídia Jovem –Prevenção à Aids e à Gravidez na Adolescência, com o objetivo de facilitaraos jornalistas o acesso a material especializado e a um olhar diferenciadosobre Aids/DST e Gravidez.A interface mídia/prevenção ao HIV é também elemento central do projetoque focaliza crianças/adolescentes em situação de rua e adolescentes/jovens cumprindo medida sócio-educativa, parceria da ANDI com aCoordenação Nacional de DST e Aids e com a Área de Saúde do Adolescentee do Jovem do Ministério da Saúde.Maiores informações sobre os dois projetos:

Editoria de Mídia Jovem • (61) 322-6508 • [email protected]

P A R A M U D A R C O M P O R T A M E N T O S

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A resposta corretaOs espaços editoriais que promovem o diálogoentre os adolescentes e especialistas (Colunasde Consulta) continuam destacando-se comoinstrumentos importantes de informação/formação relacionada à sexualidade, poisalcançam lares onde frequentemente não hádiálogo sobre o tema.A presente edição da pesquisa A Mídia dosJovens registra um total de 1.135 perguntasenviadas por adolescentes às redações de 12diferentes veículos, com praticamente doisterços delas (66,17%) focando Sexualidade,Aids & DST e Gravidez. Na edição anterior,relativa a 1999, haviam sido publicadas 1.232perguntas e respostas nas Colunas deConsulta. A essas três temáticas cabia espaçobem menor: 45,70% do total.Vale notar também que a participação dostemas de Relevância Social no universo dasColunas de Consulta cresceuconsideravelmente: 77,36% em 2000, contra58,93% no ano anterior.Além disso, este é um setor onde opredomínio das revistas é flagrante: Capricho,Querida, Carícia, Atrevida e Todateen sãoresponsáveis por 66,67% das perguntas erespostas veiculadas, contra 33,33%publicadas por Azul /Diário de Cuiabá, MT;Folhateen /Folha de S. Paulo; Fun/Gazeta doPovo, PR; Galera/O Estado do Maranhão;Tribu/A Tribuna, SP; X-Tudo/Correio Braziliense,DF e Zerou/Zero Hora, RS.

C O L U N A S D E C O N S U L T A

CAPRICHO • 15/02/00

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EDUCAÇÃO

Desde 1997, apontam as pesquisas realizadas pela Editoria de Mídia Jovem da ANDI, otema Educação costuma se destacar como o de melhor presença entre aquelesconsiderados como sendo de Relevância Social.No período correspondente a janeiro-dezembro/2000, esse desempenho volta a serepetir, pautado principalmente pela cobertura de questões relacionadas ao processode aprendizado, ao acesso à universidade e às atividades complementares à escola.Outra boa notícia é que o tema Educação conseguiu acumular substancial número deinserções a partir da atenção dada por quase todos os 30 veículos analisados: nadamenos de 27 deles dedicaram espaço aos assuntos que dizem respeito a esse universo.

O destaque dado ao conjunto detemáticas que a ANDI classificacomo Educação/“Estudo eComportamento” é um excelentesinal da maior maturidade comque os veículos dirigidos aopúblico adolescente e jovem vemcobrindo Educação: quase umterço das inserções computadas(ver gráfico ao lado)correspondem a reportagens quediscutem diferentes formas dosalunos abordarem de maneiramais eficaz e criativa o processode aprendizado, tradicionalmente

associado à rotina e à obrigação.Reflete a mesma preocupaçãoíndice de mais de 20% alcançadopelos textos que tratam do“Acesso à Universidade”, queregistra ainda a ligação de algunssuplementos de jornais – como oD+ • Gabarito e o Megazine –com o universo do vestibular.E a expressiva coberturaalcançada pelas questõesrelativas aos “Temas Transversaise Atividades Complementares”surge como uma das melhoresnotícias do período analisado, pordemonstrar sensibilidade deeditores e repórteres da MídiaJovem a aspectos essenciais dosnovos Parâmetros Curriculares

A imprensa R E P E N S A a escola?( )

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A avaliação do perfil dospersonagens entrevistados aolongo dos textos que a MídiaJovem vem dedicando à área deEducação evidencia um bomtrânsito com “Especialistas”(incluindo-se professores ediretores de escola) e“Adolescentes e Jovens” –ouvidos em praticamentemetade das reportagensanalisadas.Mas chama a atenção a reduzidaparticipação de representantesdo governo (o que sugeretambém distância dasdiscussões sobre políticaspúblicas voltadas à Educação),das organizações da sociedadecivil (que vêm contribuindo comsoluções inovadoras e eficazespara os muitos problemas queatingem a área educacional) e,particularmente, dos “Familiaresde Jovens” – fato que denunciaa histórica exclusão enfrentadapela família no contexto dapauta da grande maioria dos

Merece também atenção o fluxono sentido contrário: vem cre-scendo o número de professoresdo ensino fundamental e doensino médio que optam porutilizar-se da mídia em geral – efrequentemente de reportagensda Mídia Jovem – como instru-mento de aproximação de suasaulas às temáticas relacionadasao campo mais amplo de inter-esse dos alunos. Cresce, dessaforma, a importância de editorese repórteres enxergarem-secomo educomunicadores.

Nacionais (ver quadro abaixo).As demais áreas investigadas pelaANDI ao longo de 2000evidenciam ainda o bomtratamento dado à questão da“Qualidade de Ensino” (10,34% detodas as inserções de Educação)e a nítida dificuldade da maioriados veículos em discutir comseus leitores questões essenciaiscomo “Reforma de Ensino”, commenos de 1% das 803 inserçõescomputadas. O ponto maisnegativo, entretanto, fica porconta de “Perfil dos Educadores”,ausente de quase todas aspublicações pesquisadas, emboramuitos professores/diretores deescola sejam constantementeouvidos nas matérias a quedizem respeito.

veículos dirigidos aosadolescentes e jovens.Vale lembrar, ainda, que mais deum quinto das matériaspublicadas sobre temáticasrelacionadas à Educação nãoouviam diretamentepersonagem algum.Já em relação aos fatos queinspiraram as reportagens, atabela mostra que praticamenteum terço das inserçõescomputadas em Educação derivade “Iniciativa do Próprio Veículo”,mais uma prova docomprometimento de editores erepórteres da Mídia Jovem paracom a temática educacional.Outro dado extremamentepositivo se encontra no expressivoíndice alcançado por ações da“Escolas e Entidades Privada”.É bom o espaço dedicado às“Universidades” – novamente aquios processos associados aovestibular marcam forte presença– e apenas razoável à coberturadada às iniciativas

governamentais (10,89%).Preocupam, por outro lado, areduzida visibilidade das açõesgeradas pelas “OSCs” e,principalmente, a dificuldade empriorizar-se as boas ações de“Protagonismo Juvenil”, que nosúltimos anos vêm semultiplicando no contexto escolar.

Os atores e as fontes

ADOLESCÊNCIA/O POVO• 24/04/00

FOR TEENS/MEIO NORTE• 07/12/00

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Vivemos hoje no Brasil um fenômenopopulacional inédito. A faixa etária dosadolescentes e jovens superou o contingentede crianças. A informação anima, uma vez queconfirma a queda no crescimento demográfico,mas preocupa porque não estamos sabendolidar com todos esses jovens que tentam seinserir no mundo adulto ao mesmo tempo,disputando vagas no mercado do trabalho, nosespaços de lazer, nas escolas de nível médio esuperior, no dia-a-dia da comunidade.A já denominada “onda jovem” impressionapelo tamanho. No censo de 1996, foramcontabilizados 31 milhões de brasileiros comidade entre 15 e 24 anos, cerca de 20% dapopulação. Mas o fenômeno impressionatambém pelo desafios a serem superados:crescem os índices de gestação precoce, usoindevido de drogas, infecção pelo vírus HIV eviolência entre adolescentes e jovens.O nível de desemprego em meio a essa faixaetária é de 65,2%, sendo que a remuneraçãomédia de metade dos que estão empregadosnão passa de um salário mínimo. Apenas 41%estão na escola, muitos ainda emperrados noEnsino Fundamental, sem esperanças de atingiro Ensino Médio, nem muito menos chegar àUniversidade.Desde que a Fundação Odebrecht começou adirecionar suas ações exclusivamente para opúblico adolescente, em 1988, tenhoacompanhado de perto o surgimento de novasabordagens e novos programas direcionadosao público jovem. Participamos, junto comvários parceiros governamentais e nãogovernamentais, da construção do conceito eda prática de “Protagonismo Juvenil”, queestimula o envolvimento dos jovens em açõestransformadoras no nível da sua vida pessoal,da sua família, da sua escola e da suacomunidade. Apoiamos o desenvolvimento deprogramas educativos nas áreas da saúde, dotrabalho e da cidadania. Mostramos que essesjovens, quando incentivados e preparados,

podem ser solução. Ainda assim, elescontinuam sendo vistos pela maior parte dapopulação como um grande problema.Talvez o problema real esteja em nós adultos.Nós que muitas vezes não sabemos orientar,educar, formar e delegar gradualmente aosjovens o poder e a responsabilidade de decidirsobre suas próprias vidas, criando as condiçõespara que encarem os desafios que vêm pelafrente. Que realizamos nossos programas deforma desarticulada e sem a preocupação deinfluenciar políticas que dêem maiorconsistência e abrangência ao que fazemos.Que ainda temos uma visão imediatista erestrita, que nos impede de perceber que osjovens são um ativo estratégico para odesenvolvimento das suas comunidades.Acredito que a “onda jovem” não nos deixaoutra alternativa, a não ser unirmos os maisdiversos segmentos da sociedade em torno daconstrução de uma política de juventude quetrace diretrizes básicas e oriente familiares,educadores e instituições a lidar com esseenorme contingente de jovens com suascaracterísticas e necessidades próprias. Umapolítica de juventude que possa mudar a visãoque os brasileiros têm das suas novas geraçõese que articule ações e programas,direcionando-os para demandas reais.Uma articulação que deve ter ainda mais forçase contar com o empenho da mídia voltadapara a juventude, que já se consolidou comocanal de expressão desse público. Jornais,revistas, sites e programas de rádio e TV paraadolescentes e jovens já têm legitimidadesuficiente para estimular um grande debate,

que abra espaço para que especialistas,organizações e, principalmente, a juventudediga o que deseja e o que precisa. Veículos quepodem contribuir para que tais demandassejam compreendidas e incorporadas peloconjunto da sociedade, a fim de que sedefinam estratégias eficazes para que sejamatendidas.Uma mídia que tem papel fundamental nosentido de mobilizar, incentivar, orientar ecobrar que cada cidadão faça a sua parte paraque as diretrizes não fiquem só no discurso ouno papel.Percebo a mídia dos jovens como uma ponteque confere visibilidade e ressonância a idéias,sentimentos e visão de mundo da nossajuventude, construindo canais de comunicaçãoentre esta e os adultos, inclusive os queocupam as principais esferas de poder donosso país. Uma ponte que pode ajudar acanalizar positivamente a “onda jovem”, paraque possamos tirar dela toda a vibração, agarra e a força características de quem estácomeçando sua caminhada e chegar maisrapidamente ao ideal de sociedade que tantodesejamos.Em síntese, concordo plenamente com aafirmação de Yuri Chillán: “a onda jovem é umpresente demográfico, que é a quantidade equalidade dos jovens latino-americanos”.

P O N T O F I N A L

N E Y L A R V I L A R L I N SSuperintendente da Fundação Odebrecht

J U V E N T U D EPor uma P O L Í T I C A de

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