PRIMEIRAS AÇÕES DO MINISTÉRIO DA...

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©NEIMAR CORREA SEVERO 1 CAPÍTULO DOIS PRIMEIRAS AÇÕES DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA A criação da Subestação Experimental de Inseminação Artificial pelo Governo do Estado de São Paulo em 9-11-1938 foi o estímulo para que o Ministério da Agricultura resolvesse fomentar a inseminação artificial no Brasil para o melhoramento zootécnico dos rebanhos. Em 1941 aquele órgão federal delegou à Estação Experimental do Instituto de Biologia Animal (IBA) 1 em Deodoro, RJ, os estudos relativos à aplicação da inseminação artificial em todas as espécies domésticas de interesse econômico, de pequeno, médio e grande porte 2 . O diretor do Instituto de Biologia Animal era o veterinário Argemiro de Oliveira, adepto do método de inseminação artificial e que prestou inestimável apoio aos trabalhos entregues ao veterinário João Ferreira Barreto, responsável pela Estação Experimental, auxiliado pelo veterinário Antônio Mies Filho. A Estação Experimental do IBA deu início aos trabalhos experimentais de inseminação artificial e da fisiologia da reprodução em 1942. Os Departamentos de Produção Animal dos governos estaduais criaram seções destinadas ao desenvolvimento de trabalho semelhante ao realizado pelo Ministério da Agricultura em nível federal e os pioneiros foram os Estados de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Na estação Experimental de Deodoro foram desenvolvidas pesquisas relativas à inseminação artificial e aos problemas reprodutivos das espécies domésticas e os primeiros ensaios versaram sobre inseminação artificial e ovulação experimental na coelha 3 . Os primeiros trabalhos de transporte de sêmen de coelho foram efetuados por Barreto e Mies Filho, 1 O Instituto de Biologia Animal foi criado pelo Decreto nº 23.047, de 8-8-1933, subordinado à Diretoria Geral de Pesquisas Científicas do Ministério da Agricultura. O objetivo era investigar em todo o país as doenças que devastavam os animais domésticos, bem como promover cursos de especialização para os médicos veterinários diplomados por escolas do Brasil. Em 1934, com a criação do Departamento Nacional de Produção Animal, aquele órgão ficou subordinado a esse departamento (DNPA). 2 Mies Filho, A.; J.F. Barreto. Noções sobre Reprodução dos Animais e Inseminação Artificial. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, 1949, 334p. 3 Mies Filho, A.; J.F. Barreto. Inseminação Artificial no Coelho. Bol. Ins. Art., v.1, n.2, p. 129-136, dezembro de 1944.

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CAPÍTULO DOIS

PRIMEIRAS AÇÕES DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

A criação da Subestação Experimental de Inseminação Artificial pelo Governo

do Estado de São Paulo em 9-11-1938 foi o estímulo para que o Ministério da

Agricultura resolvesse fomentar a inseminação artificial no Brasil para o

melhoramento zootécnico dos rebanhos. Em 1941 aquele órgão federal delegou à

Estação Experimental do Instituto de Biologia Animal (IBA)1 em Deodoro, RJ, os

estudos relativos à aplicação da inseminação artificial em todas as espécies

domésticas de interesse econômico, de pequeno, médio e grande porte2.

O diretor do Instituto de Biologia Animal era o veterinário Argemiro de

Oliveira, adepto do método de inseminação artificial e que prestou inestimável

apoio aos trabalhos entregues ao veterinário João Ferreira Barreto, responsável

pela Estação Experimental, auxiliado pelo veterinário Antônio Mies Filho. A

Estação Experimental do IBA deu início aos trabalhos experimentais de

inseminação artificial e da fisiologia da reprodução em 1942.

Os Departamentos de Produção Animal dos governos estaduais criaram

seções destinadas ao desenvolvimento de trabalho semelhante ao realizado pelo

Ministério da Agricultura em nível federal e os pioneiros foram os Estados de

Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Na estação Experimental de Deodoro foram

desenvolvidas pesquisas relativas à inseminação artificial e aos problemas

reprodutivos das espécies domésticas e os primeiros ensaios versaram sobre

inseminação artificial e ovulação experimental na coelha3. Os primeiros trabalhos

de transporte de sêmen de coelho foram efetuados por Barreto e Mies Filho,

1 O Instituto de Biologia Animal foi criado pelo Decreto nº 23.047, de 8-8-1933, subordinado à

Diretoria Geral de Pesquisas Científicas do Ministério da Agricultura. O objetivo era investigar em

todo o país as doenças que devastavam os animais domésticos, bem como promover cursos de

especialização para os médicos veterinários diplomados por escolas do Brasil. Em 1934, com a

criação do Departamento Nacional de Produção Animal, aquele órgão ficou subordinado a esse

departamento (DNPA). 2 Mies Filho, A.; J.F. Barreto. Noções sobre Reprodução dos Animais e Inseminação Artificial.

Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, 1949, 334p. 3 Mies Filho, A.; J.F. Barreto. Inseminação Artificial no Coelho. Bol. Ins. Art., v.1, n.2, p. 129-136,

dezembro de 1944.

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quando colheram e processaram sêmen por gelatinização em Belo Horizonte e

transportaram por via férrea para inseminação de coelhas na criação da Estação

Experimental do IBA em Deodoro, RJ.

Figura 11. Seção de Biologia Animal Aplicada do Instituto de Biologia Animal (IBA) do

Ministério da Agricultura, localizado em Deodoro, RJ. Fonte: Bol. Ins. Art., n.3-4, v.4-5, 1947.

Em 1942, foi realizado o primeiro experimento de transporte de sêmen

bovino refrigerado a longa distância. O veterinário do Ministério da Agricultura e

pioneiro da inseminação artificial em Pernambuco, José Wanderley Braga coletou e

processou o sêmen de um touro em Recife e enviou por avião de linha comercial

até a Estação Experimental de Deodoro, RJ, onde foi avaliado e o relatório enviado

ao Ministro da Agricultura. Segundo o relatório assinado por João Ferreira Barreto,

as condições de vitalidade do sêmen estavam ótimas, apesar dos problemas

enfrentados durante o transporte4. Graças a este trabalho pioneiro foram

efetuadas remessas de sêmen refrigerado de touros alojados no Posto de

Inseminação Artificial do Km 47, para vários estados utilizando as diversas vias de

transporte. Postos localizados em Aracaju e Fortaleza recebiam sêmen refrigerado

4 Braga, José W. Uma Demonstração Prática da Possibilidade de Transporte de Sêmen

Conservado. Bol. Sec. Agr. Ind. Com. Pernambuco, IX, p.7-12, 1942.

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via aérea. Regiões mais próximas ao Rio de Janeiro recebiam o sêmen por via

férrea e em veículos do próprio Ministério da Agricultura.

PRIMEIROS TRABALHOS PRÁTICOS EM OVINOS

Em 1942, por iniciativa própria o criador Fernando Chagas Riet instalou um

posto de inseminação artificial em ovinos na sua Estância Camoaty, em

Uruguaiana, RS. Foi o primeiro posto particular de inseminação em ovinos do país

e para executar os trabalhos ele contratou um técnico estrangeiro, o veterinário

uruguaio Julio Riet, professor da Faculdade de Veterinária de Montevidéu, que

tinha experiência na aplicação da técnica naquele país5. Foi o início da prática de

inseminação artificial em grande escala em ovinos no Brasil e, em 1943, Riet

utilizou como doador de sêmen um carneiro grande campeão da raça Merino

Australiano que fora adquirido na Exposição de Palermo, na Argentina.

Devido a uma forte seca que atingiu a região naquele ano, foram empregados

somente 17 dias de trabalho em 1.056 ovelhas, mesmo assim foram obtidos 530

cordeiros. Seu esforço foi coroado de êxito quando em outubro de 1945, na

Exposição Internacional de Animais realizada em Uruguaiana, obteve o primeiro

campeão carneiro Merino Australiano oriundo de inseminação artificial. O

proprietário da Estância Camoaty fez a seguinte declaração ao Ministério da

Agricultura, sobre o uso da inseminação artificial:

“Graças à inseminação artificial, os rebanhos da nossa estância tem

progredido de tal forma, que nos orgulhamos pelo fato de nossa produção

de lã sempre obter na Cooperativa de Lãs, os preços mais altos que se

pagam no estado. Os nossos carneiros, que apresentamos anualmente nas

exposições promovidas pela Associação de Criadores de Ovinos do Rio

Grande do Sul, a ARCO, têm obtido sempre os prêmios de campeões e

prêmios conjuntos, como na Exposição de Bagé, no ano de 1949 e na

última exposição de Porto Alegre, - e todos são produtos de inseminação

artificial”6.

5 Inseminação Artificial na Estância Camoatí, R. G. do Sul. Bol. Ins. Art., v.1, n.1, p.105, julho-

setembro de 1944. 6 Mies Filho & Barreto, p. VI-VII, 1949.

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Graças ao trabalho pioneiro de Fernando Chagas Riet, outros criadores

implantaram postos de inseminação em suas propriedades. Em 1944, o conhecido

diplomata e político brasileiro João Batista Luzardo, inseminava em torno de 2.200

ovelhas em sua Estância São Pedro em Uruguaiana. Também em 1944, a Estância

Vila Carlota de propriedade de Maria Riet D’Arriaga e Filho, situada próxima a

Estância Camoaty, contratou o veterinário uruguaio Anildo Supparo que inseminou

1.445 ovelhas naquela propriedade. No ano seguinte eram 1.660 ovelhas

inseminadas pelo mesmo técnico uruguaio. Em 1945, Supparo conheceu o médico

veterinário João Ferreira Barreto, que estava executando trabalho experimental

sobre inseminação de ovinos na Estância Camoaty7.

Figura 12. Carneiro Merino Australiano “Camoaty 037”, Campeão da Exposição Internacional

de Uruguaiana, realizada em outubro de 1945, de propriedade de Fernando Chagas Riet e

fruto da inseminação artificial. Fonte: Bol. Ins. Art., n.1, v.3, 1945.

Com a criação das Cooperativas de Lãs nos principais municípios produtores

de ovinos do RS, os criadores se organizaram e passaram a obter melhores preços

pela produção, ocorrendo um estimulo para o uso da inseminação artificial no

7 Notas e Comentários. Breve Reseña de los Trabajos de Inseminación Artificial, Realizados

en La Estância “Vila Carlota”, Propriedad de La Sra. Maria Riet D’Arriaga e Hijos, Situada en

el Município de Uruguaiana, 3er. Distrito. Bol. Ins. Art., v.1, n.3, p.114-116, 1945.

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melhoramento zootécnico, onde mais tarde as próprias cooperativas fomentavam

a aquisição de carneiros8, com a orientação técnica da ARCO.

Em 1949, no RS nasciam milhares de cordeiros de inseminação artificial

graças ao trabalho dos próprios criadores. Algumas fazendas chegavam a

inseminar mais de duas mil ovelhas por estação reprodutiva. O Dr. Antônio Saint

Pastous de Freitas, médico e criador no município de Alegrete, RS, enviou carta ao

Ministério da Agricultura, expondo seus comentários a respeito dos resultados que

obteve no rebanho de ovinos na Fazenda Posto Velho com esse método:

“Iniciamos a inseminação há três anos passados, partindo de um rebanho

comum, de cruza merino-australiano. Nos dois primeiros meses foram

inseminadas 2.600 ovelhas, do que resultou uma produção de 2.012

cordeiros. No corrente ano, foram inseminadas 1.500 ovelhas; acrescida

essa produção às dos anos anteriores, estaremos com um rebanho já

produto exclusivo da inseminação, com todas as vantagens desse método

de padronização racial. Da primeira produção correspondente ao ano de

1949, foram selecionados pelo Dr. Caio Poester 50 carneiros e 90

borregas, para início de formação de um plantel padronizado. Esta é a

valiosa opinião do Dr. Poester sobre os produtos de inseminação nos dois

primeiros anos: as características raciais e o tipo de lã revelam acentuada

preponderância das qualidades do reprodutor”9.

PRIMEIROS CURSOS DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

Em 1943, foi realizado o primeiro curso de inseminação artificial no Brasil,

para técnicos do Ministério da Agricultura e de outras instituições públicas. O

curso foi criado através da Portaria no. 752 de 9-9-1942 e mais tarde foi instalado

nas suas 24 unidades didáticas. Tinha a duração de três meses, com aulas teóricas,

além de estágios práticos e envolvia todos os aspectos científicos do processo

reprodutivo para a aplicação da técnica da inseminação artificial10.

8 Notas e Comentários. Entrevista do Embaixador Batista Luzardo, Sobre os Trabalhos de

Inseminação Artificial Realizados no Rio Grande do Sul. Bol. Ins. Art., v.1, n.3, p.111-114, 1945. 9 Mies Filho & Barreto, p. VI, 1949. 10 Notas e Comentários – Curso de Inseminação Artificial. Bol. Ins. Art., v.1, n.1, p.93-96, 1944.

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Era necessário capacitar mão de obra auxiliar em número suficiente para

poder expandir a técnica e o primeiro curso para capacitação de inseminadores

práticos foi realizado no ano

de 1944 na Fazenda

Experimental Cinco Cruzes,

em Bagé, RS, pertencente ao

Ministério da Agricultura. O

curso teve a duração de

quatro semanas, com aulas

teóricas e práticas e foi

ministrado pelo veterinário

Antônio Mies Filho para um

grupo de cinco alunos11.

Entre os anos de 1942 e 1949,

o Ministério da Agricultura ministrou 24 cursos de inseminação artificial para 318

alunos, distribuídos nos seguintes módulos: 7 cursos avulsos para técnicos de nível

superior com 74 alunos, realizados no Rio de Janeiro; 11 cursos avulsos práticos

com 182 alunos realizados no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul; 4

cursos rápidos para treinamento de inseminadores de bovinos com 24 alunos

realizados em Minas Gerais e Rio Grande do Sul e 2 cursos avulsos para

inseminadores práticos de ovinos, com 38 alunos, administrados no Rio Grande do

Sul12. Todos os cursos foram ministrados por veterinários do Ministério da

Agricultura.

PRIMEIRO POSTO OFICIAL DE INSEMINAÇÃO EM OVINOS

Em 1943 foi instalado o primeiro posto oficial de inseminação artificial em

ovinos do Brasil na Fazenda Experimental Cinco Cruzes em Bagé, RS, pertencente à

Divisão de Fomento da Produção Animal do Ministério da Agricultura. Foi à base

para a expansão da inseminação artificial em ovinos nos rebanhos gaúchos. João

11 Bol. Ins. Art., v.1, n.1, p.93-96, 1944. 12 Mies Filho & Barreto, p. 295-296, 1949.

Figura 13. Antiga Fazenda Experimental Cinco Cruzes,

hoje Embrapa Pecuária Sul, Bagé, RS. Fonte da

imagem: arquivo do autor.

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Ferreira Barreto, encarregado dos primeiros trabalhos na Estação Experimental,

identificou o outono como a estação mais favorável para a reprodução na espécie

ovina e verificou também o efeito prejudicial do calor sobre a produção de sêmen

dos carneiros13. Foram inseminadas 140 ovelhas com 70% de prenhêz.

Figura 14. Instalações para inseminação artificial construídas na antiga Fazenda

Experimental Cinco Cruzes hoje Embrapa Pecuária Sul, utilizadas em 1944. As instalações

ainda existem, apesar de depreciadas. Fonte: acervo da Embrapa Pecuária Sul, Bagé, RS.

Na segunda temporada de inseminação artificial realizada naquela estação

experimental, entre os meses de janeiro e março de 1944, foram inseminadas

1.452 ovelhas sob a coordenação de Antônio Mies Filho. Estes trabalhos foram

realizados graças a um grupo de criadores do município de Bagé que cedeu seus

animais para a realização da inseminação14. Mies Filho contou com a colaboração

de Francisco Alves da Rocha, inspetor chefe da Fazenda Experimental de Criação e

inventor de uma seringa semiautomática para aplicação do sêmen.

Um grave surto de febre aftosa prejudicou o andamento dos trabalhos.

Mesmo assim foi obtido um índice de nascimentos de 57,9% sobre 1.280 ovelhas

controladas. Muitas observações inéditas de interesse técnico e científico foram

13 Mies Filho, A. Dados Históricos da Inseminação Artificial no Brasil. Rev. Bras. Repr. Anim., v.1,

n.1, p.11-22, 1977. 14 Criadores que cederam animais para o trabalho em 1944: Francisco Murat Porto, Mario Suñe, Dr.

Nunes Vieira, José Silveira, João Lima, Antônio Romero, José Gomes Filho, Cel. Antonio Tavares,

Francisco P. Pereira e Cândido Franco. Fonte: Bol. Ins. Art., v.1, n.1, p. 128, 1944

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feitas naquele momento, como a ocorrência de cios em ovelhas gestantes. Outras

observações efetuadas foram o efeito da Febre Aftosa sobre a espermatogênese,

com a presença de sangue no sêmen (hemospermia), a degeneração testicular

grave com quadro de completa azoospermia e o acompanhamento da curva de

recuperação do quadro espermático até a sua completa cura.

A partir de 1945, os trabalhos estenderam-se às fazendas particulares e

naquele ano foram organizados 7 postos com 5.987 ovelhas inseminadas. Em 1946

e 1947 o número de postos particulares subiu para 25 e 33, com 25.987 e 36.015

ovelhas inseminadas, respectivamente, chegando a 45 postos e 32.463 ovelhas

inseminadas em 1948 e 62 postos e 48.000 ovelhas inseminadas em 194915. Os

principais municípios gaúchos a desenvolverem a inseminação artificial em ovinos

e que possuíam os maiores rebanhos foram Uruguaiana, Bagé, Livramento,

Alegrete, Dom Pedrito e Santa Vitória do Palmar.

Tabela 1. Número de propriedades atendidas e ovelhas inseminadas – Período 1944 a 1972.

Temporada Número de propriedades

atendidas Número de ovelhas

inseminadas

1944 4 7.168

1949 61 50.000

1965 336 331.623

1972 450 519.306 Fonte: Mies Filho, p.13, 1977.

REGULAMENTAÇÃO DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

Em 1945, foi elaborado um anteprojeto pelos técnicos da Estação

Experimental de Deodoro, RJ, denominado “Regulamento da Aplicação da

inseminação Artificial como Processo de Melhoramento dos Animais Domésticos”,

para regulamentar a prática da inseminação artificial no Brasil, seguindo o modelo

de outros países que já haviam feito isso, como Inglaterra e Itália. Após passar pela

avaliação dos órgãos federais, estaduais e de associações de classe, o documento

serviu de base para o Decreto no. 39.795 de 16-9-1956 que deu autoridade aquele

instrumento, regulamentando a aplicação da inseminação artificial nos animais

domésticos. Os direitos já assegurados na legislação brasileira foram ampliados e

15 Mies Filho & Barreto, p. 299-300, 1949.

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consolidados em 23-10-1968 através da Lei no 5.517, que regulamentou a

profissão do médico veterinário e criou o Conselho Federal e os Conselhos

Estaduais de Medicina Veterinária. No seu Artigo 5º, Letra I, aquela lei confere

exclusivamente ao médico veterinário todas as atribuições relativas ao ensino,

direção, controle e orientação dos serviços de inseminação artificial e de

reprodução animal16. A aplicação do sêmen pode ser realizada por inseminador

prático desde que supervisionado por um médico veterinário capacitado.

REESTRUTURAÇÃO DO SERVIÇO OFICIAL DE I. A.

Em 1946, a Estação Experimental do IBA em Deodoro, RJ, passou por uma

reestruturação e mudou o nome para Seção de Biologia Animal Aplicada (SBAA).

Aquela unidade experimental já possuía doze veterinários experientes em

reprodução animal e cinco auxiliares técnicos, que executavam trabalhos à nível de

laboratório e de campo, com excelência.

Em 1947, as atividades e todo o acervo da Estação Experimental de Deodoro,

foram transferidos para o Instituto de Zootecnia (IZ) do Ministério da Agricultura

localizado no Km 47 da antiga Rodovia Rio-São Paulo17. O Instituto de Zootecnia

tinha pouco tempo de atividade e era dirigido pelo veterinário João Ferreira

Barreto. Sob a responsabilidade do IZ foram promovidos muitos cursos para

técnicos e práticos com o objetivo de expandir a inseminação artificial no Brasil.

Em novembro de 1948, o IZ recebeu quatro touros holandeses importados

originários da Holanda, sendo dois da variedade preta e branca e dois da variedade

vermelha e branca. Estes touros eram mantidos em galpões com temperatura

controlada por ar refrigerado e afastados de carrapatos para evitar a premunição

contra tristeza parasitária bovina. Eles serviram por um bom tempo como

doadores de sêmen para os vários postos de inseminação mantidos pelo Ministério

da Agricultura. Muitos trabalhos experimentais sobre coleta e tecnologia de sêmen

foram realizados com esses reprodutores alojados no Km 47.

16 Mies Filho, A. Reprodução dos Animais - Inseminação Artificial. 2 volumes, Porto Alegre,

Sulina, p. 711, 1987. 17 O Instituto de Zootecnia foi criado pelo Decreto-Lei nº 8.547 de 03 de janeiro de 1946,

subordinado ao Departamento Nacional de Produção Animal (DNPA) do Ministério da Agricultura,

no Km 47 da Rodovia Rio-São Paulo.

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Diversos postos para inseminação de bovinos foram instalados pelo país,

mediante convênios entre Ministério da Agricultura e os órgãos de fomento dos

Estados. O Ministério da Agricultura dava suporte financeiro aos projetos e aos

Estados cabia a estruturação física dos postos e a execução dos trabalhos técnicos.

Esta fase foi muito importante para a expansão da técnica em bovinos e ovinos,

sendo um trabalho gratuito oferecido aos produtores. Cada posto era chefiado por

um veterinário e estava equipado com todo o material necessário para análise e

processamento de sêmen, inclusive geladeira, microscópio e um veículo Jeep Willys

para transporte de pessoal. Em ovinos, o suporte era mais intenso, pois além da

mão de obra para execução dos trabalhos, das instalações e dos materiais para a

prática da inseminação artificial os fazendeiros recebiam também os reprodutores.

Em 1949, foi criado o Serviço de Fisiopatologia da Reprodução e Inseminação

Artificial do Ministério da Agricultura (SFPRIA), localizado no Instituto de

Zootecnia, no Km 47. As suas principais dependências eram:

A) Seção de Inseminação Artificial (IA), encarregada do estudo e do ensino da

inseminação artificial que envolvia além do Ministério da Agricultura também

órgãos estaduais de fomento, universidades e associações de classe conveniadas. O

Ministério da Agricultura fornecia toda a estrutura física para o funcionamento dos

postos de IA, inclusive reprodutores.

B) Laboratório de Fisiopatologia da Reprodução, encarregado do estudo da

fisiologia e da patologia reprodutiva, bem como da tecnologia de sêmen.

C) Estações Experimentais, localizadas no interior do Brasil e responsáveis pelos

estudos da reprodução. A primeira em Juparanã, RJ, para estudar a reprodução de

asininos e suínos; a segunda em Uberaba, MG, para estudar a reprodução de

zebuínos e a última em Bagé, RS, para estudar a reprodução de ovinos18.

Em 1952, eram mais de 20 postos de inseminação espalhados por todo o país,

incluídos os postos estaduais conveniados com o Ministério da Agricultura,

conforme Quadro 119. A atividade do SFPRIA, tomando por base o ano de 1953,

alcançou os seguintes números de fêmeas inseminadas por espécie: bovinos –

21.307; ovinos – 119.414; equinos – 885 e caprinos – 192.

18 Mies Filho, p. 14, 1977. 19 Idem, p. 15-16.

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Quadro 1: Relação das dependências do SFPRIA, no ano de 1952. Fonte: Mies Filho, 1977.

Chefe do Serviço: Antônio Mies Filho – Km 47, Nova Iguaçu

Substituto: Clóvis Batista Nascimento – Km 47, Nova Iguaçu

1. Seção de Inseminação Artificial – Km 47, Nova Iguaçu

Chefe: Clóvis Batista Nascimento

1.1. Centro de Estudo e Ensino da Inseminação Artificial – Km 47, Nova Iguaçu

1.2. Postos de Inseminação Artificial:

a) Aracaju, SE – Chefe: Tennysson Araújo Aragão

b) Belo Horizonte, MG – Chefe: Gustavo do Valle

c) Blumenau, SC - Chefe: Armando Costa

d) Cajueiro do Itapemirim, ES – Chefe: Luigi Spano

e) Distrito Federal – Chefe: Francisco Beltrão Martins

f) Fortaleza, CE – Chefe: Pedro Alcântara

g) Indaial, SC – Chefe: Raymond Jondet

h) Juiz de Fora, MG – Chefe: Clóvis Nascimento

i) Km 47, Nova Iguaçu – Chefe: Juliana Hubinger Tokarnia

j) Pelotas, RS – Chefe: José Adolfo Lourenço Lisboa

k) Porto Alegre, RS – Chefe: Ruben Roehe

l) Quatis, RJ – Chefe: Antônio Karapiperis

m) Recife, PE – Chefe: Valdi Moreira Martins

n) São Paulo, SP – Chefe: Noé Masotti

o) Salvador, BA – Chefe: Alberto Ferreira Faria

p) Soure (Ilha do Marajó), PA – estava em organização na época por Hugo Cruz

Mascarenhas

2. Laboratório de Fisiopatologia da Reprodução – Km 47

Chefe: Hugo Cruz Mascarenhas

Substituto: Augusto José Rosa

3. Estações de Fisiopatologia da Reprodução:

a) Uberaba, MG – Chefe: Paulo Pinto Brown

b) Juparanã (Ex-Desengano), RJ – Chefe: Lino Custódio de Almeida e Silva

c) Bagé, RS – Chefe: Auvanir de Almeida Ramos

Responsável pelo Boletim do SFPRIA: Lincoln Gripp de Moraes

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INTERCÂMBIO CIENTÍFICO

O intercâmbio científico internacional começou em 1948 quando o

veterinário Hugo Cruz Mascarenhas participou do I Congresso Internacional de

Inseminação Artificial e Reprodução Animal (ICAR) em Milão, Itália. Em 1952, o

veterinário Antônio Mies Filho participou do II Congresso Internacional de

Inseminação Artificial e Reprodução Animal ocorrido em Copenhague, Suécia.

Também em 1952 três ilustres cientistas visitaram o Brasil a convite do

Ministério da Agricultura. Primeiro o Prof. Telesforo Bonadonna, do Instituto

Lázaro Spalanzani de Milão, Itália, que chegou ao país em outubro e visitou varias

instituições de ensino e pesquisa nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em São

Paulo proferiu palestra no auditório do Instituto Biológico e foi homenageado pela

Sociedade Paulista de Medicina Veterinária. No Rio de Janeiro visitou o Instituto de

Zootecnia no Km 47 e proferiu palestra no Salão Nobre da Universidade Rural,

sobre a situação da reprodução animal e da inseminação artificial na Europa.

O Dr. Allan S. Parkes, do Instituto de Pesquisas Médicas de Mill Hill,

Inglaterra, visitou o Rio de Janeiro onde pronunciou duas conferencias, no Salão

Nobre da Universidade Rural e no Auditório do Serviço de Informação Agrícola do

Ministério da Agricultura, sobre a descoberta da congelação de sêmen feita na

Inglaterra em 1949. Ambas as palestras foram ilustradas por filmes que

demonstravam a técnica de congelação de sêmen desenvolvida pela sua equipe de

pesquisadores. Ele estabeleceu as condições para a futura visita do Dr. Christopher

Polge ao Brasil para demonstrar a técnica de congelação do sêmen.

E o Dr. Douglas H. K. Lee, climatologista, consultor da FAO e professor da John

Hopkins University, após participar da II Reunião Interamericana de Produção

Animal em Bauru, SP, em dezembro, visitou a Ilha de Marajó para conhecer o

sistema de produção pecuária daquela região, acompanhado pelos veterinários do

Ministério da Agricultura Hugo Cruz Mascarenhas e Mário Dias Teixeira.

Ainda em 1952, o veterinário francês Raymond Jondet foi convidado pelo

governo brasileiro para trabalhar na Estação Experimental de Indaial, SC20, por

mais de dois anos, onde desenvolveu importantes trabalhos de valor prático sobre

20 Mies Filho, p.17, 1977.

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a inseminação artificial de bovinos naquele estado, transferindo-se mais tarde para

o posto de Monte Aprazível em São Paulo.

Em agosto de 1953, Christopher Polge, um dos cientistas britânicos que

tinham desenvolvido as técnicas de congelação de sêmen bovino, visitou o Brasil a

convite do Ministério da Agricultura. Dr. Polge fez demonstrações da técnica de

congelação de sêmen no Rio de Janeiro e em Santa Catarina e pronunciou

conferências sobre o assunto em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Naquela

oportunidade o serviço oficial do Ministério da Agricultura (SFPRIA) adquiriu

equipamentos e se preparou para a visita do Dr. Polge, aproveitando para instalar

o primeiro banco de sêmen congelado da América do Sul. O sêmen era embalado

em ampolas de vidro comum de 1,2 mL, fechadas a fogo e armazenado em gavetas

metálicas cheias de álcool mantidas a 79º C negativos, mediante blocos de gelo

seco colocados na parte superior da estrutura de armazenagem.

Figura 15. Dr. Christopher Polge demonstrando o método de avaliação do sêmen bovino

congelado para o Dr. Raymond Jondet em Indaial, SC, Brasil em 1953. Os ensinamentos de

Polge foram muito importantes para o desenvolvimento da inseminação no Brasil. Fonte:

Sara Wilmot, 200721.

21 Wilmot, Sara. From ‘Public Service’ of Artificial Insemination: Animal Breeding Science and

Reproductive Research Early Twentieth-Century Britain. Studies in History and Philosophy of

Biological and Biomedical Sciences, Part C, 38:411-41, 2007.

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TRABALHOS PIONEIROS COM SÊMEN BOVINO CONGELADO

Em 1954, Antonio Mies Filho e Augusto José Rosa publicaram os resultados

do primeiro trabalho com sêmen bovino congelado no Brasil, em 24 vacas

inseminadas com 54,2% de prenhêz na primeira inseminação22. O sêmen foi

congelado em ampolas de vidro de acordo com a técnica original de Polge, em gelo

seco e álcool, de touros pertencentes ao Posto de Inseminação Artificial de Indaial,

SC e utilizado em vacas do Núcleo Colonial do Piranema, RJ. Os trabalhos de

inseminação foram realizados pela Dra. Juliana Hubinger Tokarnia e o primeiro

bezerro nasceu em 16 de maio de 1954. Foi o primeiro bezerro produto de sêmen

congelado nascido no Brasil.

Ainda naquele ano o serviço oficial recebeu a primeira importação de sêmen

congelado da Inglaterra, para uso experimental. Também em 1954, o serviço oficial

exportou as primeiras ampolas de sêmen, em caráter experimental. O sêmen foi

coletado de touros zebuínos na Estação Experimental de Uberaba, MG e se

destinou ao uso em vacas no Paraguai a pedido do Dr. John M. Halpin da USOM

(United States Operations Mission), agência americana de ajuda a países em

desenvolvimento.

INTERESSE ESTRANGEIRO POR INSTRUMENTAL BRASILEIRO

Mies Filho cita o interesse de outros países pelos instrumentais de uso na

inseminação artificial, desenvolvidos no Brasil. A Estação de Pesquisas Agrícolas

de Rehovot, Israel recebeu um estojo completo de inseminação de ovinos, enviado

pelo SFPRIA e a pedido do Dr. H. T. Carroll, técnico da FAO, foi enviado para a

Austrália um aparelho de eletro-ejaculação bipolar para ovinos adaptado por

Mascarenhas e Gomes23.

22 Mies Filho, A.; Augusto José Rosa. Normas Práticas para a Congelação de Sêmen no Brasil. Bol.

Ins. Art., v.6, 5-24, 1954. 23 Mascarenhas, H.; W.V. Gomes. Contribuição ao Estudo da Eletro-Ejaculação em Ovinos e

Caprinos. Aplicação da Corrente Contínua ao Eletródio Bipolar. II Congr. Int. Vet. Zootec.,

Madri, 1951.

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A VISITA DO DR. DAVID E. BARTLETT AO BRASIL

Em 1958, o Brasil recebeu por quatro meses a visita

do Dr. David E. Bartlett, veterinário da American

Breeders Service (ABS), graças a um convênio entre

o Departamento de Agricultura Americano (USDA)

e o governo Brasileiro. A ABS foi a primeira

empresa no mundo a usar o nitrogênio líquido para

conservação do sêmen congelado. Segundo o

relatório do Dr. Bartlett, o Brasil naquela época

contava com aproximadamente 15 centros de

coleta de sêmen e eram inseminadas de 25 a 35 mil

vacas por ano. Era utilizado espéculo de metal ou de

vidro e seringa dosadora para a aplicação do sêmen

via vaginal na inseminação artificial e conhecimentos sobre touros provados e o

controle de doenças venéreas ainda era precário. Foi necessário ensinar a técnica

de fixação da cérvice por via retal e como utilizar o sêmen congelado para futuros

instrutores de inseminação artificial.

Ele procurou transmitir

informações sobre o que era

feito nos Estados Unidos a

respeito da inseminação

artificial, melhoramento

genético e controle de doenças.

O uso do nitrogênio líquido

ainda não era comum e Dr.

Bartlett demonstrou que era

possível obtê-lo a partir das

indústrias de oxigênio líquido.

Foi difícil convencer os

empresários do ramo que eles

poderiam vender o novo

Figura 16. Dr. David E.

Bartlett, *1917 - †2014.

Imagem da ABS Global, Inc.

Figura 17. Primeiro botijão com sêmen congelado

enviado ao Brasil, em 1958. Fonte: Enos J. Perry,

1960 (The Artificial Insemination of Farm Animal,

Third Revised Edition, Rutgers University Press).

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produto e que tinham um mercado potencial pela frente. Convites foram feitos aos

centros de IA, universidades, laboratórios de controle de doenças e cooperativas

locais de fazendeiros para visitarem e conhecerem o que era feito nos Estados

Unidos sobre as novas tecnologias reprodutivas. Dr. Bartlett seguiu depois para a

Argentina, Chile e Peru onde procurou mostrar como era obtido o nitrogênio

líquido e discursou em universidades sobre o uso da inseminação artificial, sêmen

congelado, testes de progênie e controle de doenças24. Em 1958, o Brasil importou

o primeiro botijão com sêmen armazenado em nitrogênio líquido, graças aos

esforços do Dr. Bartlett. Foram importadas as primeiras 78 doses de sêmen de

touros da raça Holandesa, diretamente da ABS, nos Estados Unidos.

COMUNICAÇÕES DE DOENÇAS LIGADAS À REPRODUÇÃO

As primeiras comunicações de doenças ligadas à reprodução e que

interferiam nos resultados de fertilidade foram feitas pelos veterinários Raymundo

Cunha e Jorge Lessa Motta Reis25 em 1944, sobre a Treponemose em coelhos. Este

trabalho foi realizado na Estação Experimental de Deodoro, RJ e a “Sífilis Leporina”

como era conhecida foi erradicada do plantel graças à inseminação artificial.

Em 1947, Di Primio, Gloss &

Roehe citado por Ruben Roehe26,

identificaram pela primeira vez no

Brasil a presença do

Tritrichomonas foetus em bovinos

holandeses doadores de sêmen

em três de quatro propriedades

avaliadas no município de

Montenegro, próximas a Porto

Alegre, RS. Em 1952, D’Apice e

Mello27 verificaram pela primeira

24 Buschner, F. On Solid Rock: 50 Years of ABS. American Breeders Service, 1991. 25 Cunha, R; J.L.M. Reis. Treponemose dos Coelho. Bol. Ins. Art., v.1, n.2, p.153-156, 1944. 26 Roehe, Ruben. Tricomonose Bovina. Bol. Dir. Prod. Anim., Porto Alegre, v.4, n.6, p.21-26, 1948. 27 D’Apice, M; M.J. Mello. Ocorrência de Trichicomoniase bovina em São Paulo. Nota Prévia, Rev.

Soc. Paul. Med. Vet., VI Reunião de Med. Vet., 74, dezembro, 1952.

Figura 18. Fotografia do Tritrichomonas foetus

(Riedmüller, 1928). Fonte: Universidade de

Minnesota – SVM - Estados Unidos.

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no Estado de São Paulo a presença do Trichomonas foetus. Mais tarde, em 1953,

Mário Rubens de Mello28 identificou o parasita em bovinos na Baixada Fluminense,

RJ. Posteriormente um inquérito epidemiológico efetuado por Mello29, revelou que

o parasita estava presente em todo o território pesquisado, que compreendia o Rio

de Janeiro, Espírito Santo, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Bahia e

Fernando de Noronha, quando examinou 343 touros pelo método de pesquisa

direta do parasita, com a frequência de 9% de animais infectados. Graças a esses

levantamentos epidemiológicos, o Ministério da Agricultura passou a utilizar a

inseminação artificial como método de controle nos rebanhos contaminados, com

resultados favoráveis surpreendentes. Em 1955, Rabello30 identificou a

Tricomonose em touros utilizados na inseminação artificial no Estado de São Paulo

e em 1963, Megale31 registrou os primeiros bovinos infectados em Minas Gerais.

Em 1968, João Floriano Casagrande encontrou 21,6% de rebanhos afetados pela

Tricomonose Bovina e, após cultura de esmegma prepucial, 15% dos touros

examinados portavam o protozoário32.

Em 1956, o veterinário Mário D’Apice33 identificou pela primeira vez no

Brasil, no Estado de São Paulo, o Campylobacter fetus como agente de aborto, a

partir de material do estômago de feto abortado. O agente ainda era conhecido

como Vibrio fetus e a doença era chamada de Vibriose. Esta doença foi bem

investigada no Rio Grande do Sul em 1960, com o levantamento epidemiológico de

rebanhos, pela técnica de muco-aglutinação em fêmeas realizada por Mies Filho34,

28 Mello, M.R. Meio Prático para o Diagnóstico da Tricomonose Bovina. Bol. Soc. Bras. Med. Vet.,

Rio de Janeiro, v.21, p.11-19, 1953. 29 Mello, M. R. Dados sobre a incidência de Tricomonose Bovina em alguns Estados do Brasil.

Boletim. Inseminação. Artificial, v.6, p.16-23, 1954. 30 Rabello, E.X. Incidência de Trichomonas foetus Riedmuller 1928 em Touros Usados para

Inseminação Artificial no Estado de São Paulo. Rev. Fac. Med. Vet. São Paulo, v.5, n.3, p. 539-548,

1955. 31 Megale, F. Identificação do Trichomonas foetus em Bovinos em Minas Gerais (comunicação

científica). Arq. Esc. Vet. UFMG, Belo Horizonte, v.15, p.405, 1963. 32 Mies Filho, p.718, 1987. 33 DÁpice, Mário. Ocorrência do Aborto no Estado de São Paulo Devido ao Vibrio fetus.

Biológico, v.22, p.15-18, 1956. 34 Mies Filho, A. Incidência da vibriose bovina em alguns rebanhos leiteiros no Rio Grande do

Sul. Revista da Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFRGS, Porto Alegre, v.3, p.195-199, 1960.

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com 27% de incidência do agente. Mais tarde em 1963, Mies Filho35 verificou a

patogenia do Campilobacter fetus fetus pela primeira vez no Brasil. Graças aos

esforços dos veterinários do Ministério da Agricultura, e das Escolas Federais de

Veterinária do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Minas Gerais (UFMG) foi possível

estudar a patogenia e a distribuição desta doença em vários estados do Brasil. Em

1967, Casagrande encontrou alta incidência de Campilobacteriose no rebanho

bovino de Minas Gerais, onde 65,6% dos rebanhos examinados apresentavam a

doença e 23,2% dos animais testados eram reagente a prova de muco

aglutinação36. No Rio Grande do Sul Mies Filho37 (1969) encontrou situação

semelhante onde 63,6% dos rebanhos tinham a doença enquanto 27% dos animais

examinados eram reagentes ao teste para o Campilobacter.

Em 1964, Mies Filho38 comunicou a existência da epididimite ovina no Brasil,

causada por Brucella ovis. Esta comunicação foi feita à 3ª Reunião Anual da

Sociedade Veterinária do Rio Grande do Sul. Posteriormente Ramos e

colaboradores39 realizaram um levantamento epidemiológico da epididimite ovina

naquele estado, em 1966.

Em 1948, Uriel Franco Rocha40, estudou o efeito da inseminação artificial

sobre a fertilidade de vacas reagentes ao teste sorológico para Brucelose. Em um

rebanho de 2.500 vacas, no município de Olímpia, Estado de São Paulo, 278

reagiram positivamente ao teste de brucelose pelo método da soro-aglutinação

rápida em placa, com antígeno corado. Destas últimas foram mantidas 154 vacas,

em pastos isolados e aquelas que não emprenharam pela monta natural, foram

inseminadas posteriormente. O resultado final de gestação foi de 65,6%, sendo

35 Mies Filho, A. Vibriose Bovina. Evolução de um Foco no Rio Grande do Sul. Rev. Fac. Vet.

UFRGS, v.6, p73-83, 1963. 36 Mies Filho, p.718, 1987. 37 Idem. 38 Mies Filho, A. Epididimite Ovina no Rio Grande do Sul. III Reunião Anual da SOVERGS, 1964. 39 Ramos, A.A.; A. Mies Filho; J.A.P. Schenk; L.D. Vasconcelos; O.T.G. Prado; J.C.T. Fernandes; H.

Blobel. Epididimite Ovina. Levantamento Clínico no Rio Grande do Sul. Pesq. Agropec. Bras.,

v.1, p.211-213, 1966. 40 Rocha, U.F. Controle da Fecundidade em 154 Vacas Zebu, Portadoras de Brucelose.

Comparação entre Cobertura Natural e Inseminação Artificial. Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo, vol.

3, fase., 4, p.327-330, 1948.

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31,8% devido à inseminação, mostrando o efeito positivo da técnica sobre a

fertilidade de vacas reagentes a Brucelose.

Os prejuízos causados pelo vírus da Febre Aftosa sobre a produção seminal

do carneiro foram observados pela primeira vez no Brasil por Mies Filho41, em

1944. Segundo o autor ocorre uma esterilidade temporária com azoospermia e às

vezes, ejaculados sanguinolento, sendo necessário até dois meses para que o

animal se recupere totalmente. Quanto à fertilidade da fêmea ovina, Riet42 também

em 1944, cita que o surto da doença no inicio da estação reprodutiva causou uma

queda muito acentuada na fertilidade, mesmo utilizando sêmen de ótima qualidade

durante a inseminação artificial, com apenas 26,6% de parições. Em bovinos, Mies

Filho43 em 1964, constatou a baixa fertilidade provocada pelo vírus da Aftosa, em

novilhas inseminadas pouco tempo antes de irromper a infecção em rebanho

leiteiro localizado no município de Viamão, RS.

VETERINÁRIA PIONEIRA

Em 1952, a veterinária Juliana Hubinger Tokarnia, assumiu a direção da

Estação Experimental do Km 47 e a dirigiu por mais de um ano. Ela foi a primeira

veterinária a trabalhar com inseminação artificial em nosso país. Tokarnia também

foi responsável pela primeira aplicação de sêmen congelado no Brasil em 1953, no

estado do Rio de Janeiro. Coube a esta pioneira identificar pela primeira vez o

Tritrichomonas foetus em bovinos no Rio de Janeiro também em 1953. Ela faleceu

num acidente automobilístico durante suas atividades profissionais em 195444.

AS COOPERATIVAS PIONEIRAS

Em 1956 foi criada em Pelotas, RS, a Cooperativa Sulina de Inseminação

Artificial (COSULIA). Seguindo o modelo da pioneira, outras cooperativas foram

criadas no Rio Grande do Sul como a Cooperativa Pedritense de Inseminação 41 Mies Filho, A. Vírus Aftoso e Esterilidade nos Carneiros. Bol. Soc. Med. Vet., v.13, 219-222,

1944. 42 Riet, F.C. Inseminação Artificial. Trabalhos de Observação Realizados na “Estância

Camoaty”. Bol. Insem. Art., v.1, n.2, p.137-144, 1944. 43 Mies Filho, A. Interferência da Febre Aftosa na Reprodução dos Bovinos. Ver. Fac. Vet. UFRGS,

n.6, p.139-142, 1964. 44 Mies Filho, p. 17-18, 1977.

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Artificial (COPEDIA) em Dom Pedrito, em 3-3-1959 e a Cooperativa Santanense de

Inseminação Artificial (COSIAL) em Livramento em 1960. O jornal Correio da

Manhã45 na edição de 26-8-1958 anunciava que o Instituto de Zootecnia do

Ministério da Agricultura, através do seu Serviço de Inseminação Artificial,

aplicaria pela primeira vez em grande escala no Brasil, sêmen congelado

importado dos Estados Unidos. O trabalho seria realizado em colaboração com a

COSULIA, sediada em Pelotas, RS, através de convênio. O alvo principal eram os

rebanhos leiteiros abrangidos pelo atendimento técnico daquela cooperativa de

inseminação artificial, na região Fronteira Sul e Litoral Sul do RS.

A COPEDIA foi criada por 6 produtores rurais, e seu primeiro veterinário foi o

Dr. Nei Almeida Rosa, funcionário do Ministério da Agricultura. A COSIAL foi criada

por um grupo de 21 criadores. Cada um forneceu 20 vacas, para o primeiro posto

de inseminação em gado de corte no RS, com uso de sêmen congelado, realizado na

Estância São Leandro. Mais tarde, foi criada a Cooperativa de Inseminação Artificial

de São Gabriel (CIASGA), em São Gabriel, RS. Todas as cooperativas tiveram a

supervisão do médico veterinário Sérgio Falcão Padilha, técnico da Secretaria da

Agricultura do RS e responsável pelo Serviço de Inseminação Artificial (SIA).

Uma das primeiras cooperativas criadas em Minas Gerais, na década de 1960,

foi a Cooperativa Sul-Mineira de Inseminação Artificial, em São Gonçalo do Sapucaí,

sob a orientação do veterinário João Floriano Casagrande. Em 1966, o criador Ciro

Siqueira da Fazenda da Vargem, cliente da cooperativa, iniciou o seu programa de

melhoramento genético através da inseminação artificial. Em 1982, ela foi

incorporada pela Cooperativa Agropecuária de São Gonçalo do Sapucaí Ltda., hoje

Cooperativa Agropecuária do Vale do Sapucaí Ltda., onde funcionava um

laboratório de análises de doenças, um departamento veterinário, um serviço de

coleta e exame de sêmen e onde também eram realizados cursos e treinamentos

para práticos inseminadores46.

45 Jornal Correio da Manhã, 26-8-1958, página 4, 2º Caderno, Rio de Janeiro. 46 Severo, Neimar. História da Inseminação Artificial no Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo

Horizonte, v.39, n.1, p17-21, 2015. www.cbra.org.br

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INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL COM SÊMEN REFRIGERADO OVINO

A inseminação artificial com sêmen refrigerado em ovinos foi utilizada por

alguns técnicos desde cedo. Mies Filho foi pioneiro no uso do sêmen refrigerado

em ovinos. Em 1965 no Rio Grande do Sul o veterinário Sérgio Falcão Padilha

utilizou um diluente tipo IVT (Illinois Variable Temperature) para conservação do

sêmen refrigerado a +5ºC alcançando um índice de fertilidade de 45,2% na raça

Merino Australiano enquanto com sêmen fresco obteve um índice de 53,6%. Na

raça Corriedale obteve índices de 86,9% com sêmen refrigerado e 78,7% com

sêmen fresco, segundo informações de Durán del Campo47.

TRABALHOS PIONEIROS COM SÊMEN CONGELADO OVINO

Em 1955, Araújo publicou o primeiro resultado de fertilidade do sêmen

ovino congelado em ampolas48. A congelação foi realizada no laboratório do

SFPRIA no Km 47 e as inseminações efetuadas em ovelhas da Estação

Experimental Cinco Cruzes, de Bagé, RS. Ele obteve 31,2% de não retorno ao cio.

Em 1965, Mies Filho e Rasch citado por Mies Filho49 alcançaram 5% de parição

trabalhando com 400 ovelhas inseminadas com sêmen congelado. Posteriormente

Dutra e colaboradores50 trabalhando com sêmen ovino congelado na forma de

pellets obtiveram índices de 26% e 30% de nascimento com uma e duas

inseminações no mesmo cio, respectivamente.

CENTRAL DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL DA FMVZ-USP

A Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP)

tinha uma bem instalada Central de Inseminação Artificial na capital, no Campus

do Butantã, conveniada com o Ministério da Agricultura e com um serviço pioneiro

de distribuição de sêmen refrigerado aos criadores paulista, tendo como seu

47 Duran Del campo, A. Anatomia, Fisiologia, de la Reproducción e Inseminación Artificial em

Ovinos. Ed. Hemisfério Sur, Montevideo, s/d. 48 Araujo, P.G. Verificação da fertilidade do sêmen congelado de carneiro conservado a -79o C.

Boletim de Inseminação Artificial, Ministério da Agricultura, v.7, p.5-10, 1955. 49 Mies Filho, p.513, 1987. 50 Dutra, J; A. Mies Filho; A. Selaive; IA. Costa. Congelação de Sêmen Ovino. Nota Prévia. Arq. Fac.

Vet. UFRGS, v.7, p.29-32, 1979.

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responsável o veterinário Noé Masotti. A Central iniciou suas atividades em maio

de 1952 e foi desativada em 1958, transferindo suas atividades para o Instituto de

Zootecnia e Indústria Pecuária da FMV/USP, em Pirassununga reiniciando os

trabalhos em 16-2-1959, onde mais tarde foi extinta.

Outro serviço de excelência foi proporcionado pelo Departamento de

Produção da Secretaria da Agricultura de São Paulo, através do posto de

inseminação artificial no Parque Fernando Costa, na capital paulista, depois

transferido para o Instituto de Zootecnia em Nova Odessa, SP, onde foi

desativado51. Em Itapetininga, SP, a Divisão de Fomento da Produção Animal

mantinha um bem montado Centro de Inseminação Artificial, que atendia a região

abrangida por aquele município com sêmen de touros leiteiros das raças Pardo

Suíço e Holandesa, inclusive com animais importados.

O PLANO NACIONAL DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

O Ministério da Agricultura através do SFPRIA, prosseguiu com os trabalhos

de execução do programa de inseminação artificial até 1962, graças a sua rede de

Postos e Estações Experimentais espalhadas pelo Brasil. A seguir uma nova ordem

administrativa extinguiu o SFPRAI e criou o Setor de Inseminação Artificial (SIA)

subordinado ao Instituto de Pesquisa Agropecuária do Centro-Sul, RJ, reduzindo

consideravelmente as atividades e extinguindo as Estações Experimentais no

interior, que foram as disseminadoras da inseminação artificial no país.

Em 1964 foi dado um novo sentido à aplicação da inseminação artificial, com

a execução do Plano Nacional de Inseminação Artificial (PLANIART), que contava

então com uma tecnologia mais adequada às necessidades do país, pela

possibilidade do emprego do sêmen congelado; a ampla política de importação de

material genético e a maior conscientização dos fazendeiros. A técnica de

inseminação artificial pela fixação da cérvice por via retal e o uso de botijões de

nitrogênio líquido para conservação e transporte do sêmen abriu um novo

horizonte para a reprodução de bovinos no Brasil.

51 Grunert, E; E.H. Birgel; W.G. Vale; E.H. Birgel Jr. Patologia e Clínica da Reprodução dos Animais

Domésticos – Ginecologia. Varela, São Paulo, 2005, 551p.

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Enquanto se dava especial atenção às doenças da reprodução, a política de

aplicação da inseminação foi modificada e buscou-se atender aqueles criadores

que tinham maiores recursos econômicos e que podiam retribuir a ação

governamental com uma resposta mais efetiva. Os resultados deste trabalho foram

tão evidentes que beneficiaram também os criadores de animais de elite, que

passaram a usufruir dos benefícios da inseminação artificial nos seus rebanhos,

comercializando reprodutores oriundos desta técnica52.

Em 1968, através de uma nova reforma administrativa, o Ministério da

Agricultura criou a Divisão de Fisiopatologia da Reprodução e Inseminação

Artificial (DIFRIA), com suas unidades estaduais e passou a se preocupar mais com

a orientação e a fiscalização do que com o fomento da técnica. Nesse período foi

seu diretor o médico veterinário Luis Carlos O. da Veiga Soares.

Em 1978, novamente o Ministério da Agricultura passou por uma nova

reforma administrativa e a DIFRIA foi sucedida pela Divisão de Fiscalização de

Materiais de Multiplicação Animal (DFIMA), subordinado à Secretaria de

Fiscalização Agropecuária (SEFIS), que era um órgão da Secretaria Nacional de

Defesa Agropecuária. Para fiscalizar a atividade de inseminação artificial a DFIMA

contava com um corpo técnico formado por veterinários sediados em unidades

estaduais em 16 estados da federação, além do Distrito Federal.

52 Mies Filho, p.715-716, 1987.