Prévia do Livro Red Luna: O Mestre Tatuador

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Cap. 13 do livro Red Luna: O Mestre Tatuador. Conheça os Auras, os vampiros de emoções!

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As ruas de Tóquio eram curiosamente iluminadas e coloridas à noite. Algo que Rafael nunca havia presta-do atenção até agora. Ele se sentiu um pouco culpado pelo fato de pensar que poderia se acostumar com isso.

A cidade exalava vida, mesmo depois do horário comercial. Tóquio ganhara uma nova dimensão: ele es-tava tão acostumado a andar de metrô que cada distrito parecia um oásis desconexo – agora ele entendia a con-tinuidade espacial do todo.

A estranha metamorfose transformava Shibuya em algo único e surreal. Uma cidade camaleônica de in-finitas cores e possibilidades. Era como se a luz do dia escondesse a real face da cidade, que saltava à superfície da mesma forma como a cultura oprimia o povo.

As pessoas ainda se tratavam como uma massa ho-mogênea, mas agora ele parecia notar pequenos grupos separados por suas roupas e trejeitos, perdidos na mul-tidão. Rafael sentia que isso tinha muito em comum com ele, uma parte de algo maior.

O silêncio de Risa permitia inúmeras divagações do Aura novato. Ele estava surpreso pelo simples fato de andar pelas ruas: filmes, quadrinhos e games passavam a impressão de que vampiros modernos corriam pelos tetos de casas e prédios com sobretudos.

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Ele também fez uma nota mental para se policiar quanto ao termo “vampiro”: seus novos mestres dei-xaram bem claro que o termo era tabu.

Ele nem percebeu quando Risa parou e começou a encará-lo.

— É aqui... — ela apontou para uma casa de pachinko. — Normalmente, crianças não podem entrar em casas de jogo, mas... você logo vai perceber que um de nossos dotes é desaparecer na multidão com facilidade.

Ela entrou sem maiores avisos, forçando Rafael a correr atrás dela. Os corredores bem iluminados pelas lâmpadas coloridas ficavam mais confusos com a caco-fonia vindo das máquinas de pachinko, uma mistura de fliperama e caça-níquel. A música eletrônica das máqui-nas parecia hipnotizar um público variado.

Rafael avistou Risa subindo uma escada que levava a um mezanino discreto e a seguiu.

— Gaki tem um acordo com o dono desse estabe-lecimento. Nós fornecemos proteção e cuidamos dos arruaceiros. Além de contar com algumas pessoas que ajudam com os negócios.

Ela apontou para algumas das garçonetes, que ti-nham a pele do mesmo tom azulado que ele só perce-bera depois de se tornar um Aura.

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— Elas “estimulam” os clientes a continuar por mais tempo. Quer dizer, não é muito diferente do que as atendentes humanas fazem. Mas os poderes delas ajudam.

Rafael ainda estava confuso com o que ela queria dizer, mas continuou prestando atenção.

— Nós trazemos os novatos aqui, pois é mais fácil sentir o fluxo de emoções sem precisar chamar muita atenção. Feche os olhos.

Rafael obedeceu. Não era fácil se concentrar com a barulheira. Ele podia jurar que continuava vendo as luzes coloridas mesmo de olhos fechados.

— Existem várias pessoas empolgadas, tristes, bra-vas... você vai sentir como um calor de certas cores para cada emoção. Tente focar sua atenção em uma dessas.

Rafael queria esvaziar os pensamentos da cabeça, mas não era fácil. Ainda queria ver como Tati estava, mas as ordens foram claras: terminar o treinamento era obrigatório antes de fazer qualquer outra coisa.

A frustração disso junto com o ambiente caótico e as orientações para que se concentrasse começaram a ferver seu sangue.

Ele estava arreganhando os dentes quando sentiu algo difícil de descrever. Era como se um vento sólido e visível estivesse passando em sua frente. Ele sentia o

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estranho campo emanando de alguns pontos e se co-nectando entre diferentes vértices.

Abriu os olhos, surpreso. Viu que a origem dos fo-cos dessa energia eram um senhor de idade batendo com sua bengala em uma das máquinas e um assala-riado frustrado levantando as mãos para o alto.

— Você sentiu algo, não? Qual deles?— Ali... os dois homens com raiva. O velhinho que

está escoltado na cadeira. E o homem careca de terno no fundo.

— Raiva. Faz sentido. Você ainda deve estar revolta-do com tudo que aconteceu... é o mais comum com os novatos. É mais fácil sincronizar com uma emoção que ainda está fresca. Agora você precisa se alimentar disso.

Rafael olhou Risa nos olhos, incrédulo e surpreso com sua falta de expressão facial.

— Não se assuste, é como você vai viver daqui pra frente. Você precisa das emoções humanas para manter suas almas coesas.

Ela apontou para o fundo do estabelecimento:— Você vai consumir a raiva dele, vou explicar como.Ela colocou a mão no ombro dele. O primeiro contato físico de Risa com qualquer

pessoa até onde ele lembrava.

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— Respire comigo, olhos fechados.Rafael seguiu as ordens.— Você precisa se concentrar. É mais fácil se você

se livrar de todas as emoções. Calma — ela pausou por alguns instantes — faça a raiva dele sua. Pense como a máquina está roubando. Você “leu” ele. Não é difícil imaginar pelo que ele está passando. Incorpore isso. Sinta a emoção dele. Sugue a emoção pra dentro de você.

Rafael queria argumentar que isso era errado. Ele se sentia não apenas invadindo a privacidade

daquele homem, mas roubando algo precioso. Mesmo assim, as palavras de Risa funcionaram

quase como sugestão hipnótica. Estava fazendo aquilo antes mesmo de perceber. Ele conseguia se sentir na pele do pobre homem e foi aos poucos absorvendo sua raiva. Mas a emoção era como água escoando pelo ralo, apenas uma pequena parte transbordava dentro da pia, se manifestando no jovem.

O mais estranho era que tudo aquilo era gratifi-cante, como se estivesse completando um vazio que ele não conseguia descrever.

— Muito bem... mas é melhor parar por aqui — Risa tirou a mão do ombro de Rafael e como com um estalo ele saiu do transe — Você não está acostumado.

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Não quero deixar que a raiva tome conta de você. Va-mos experimentar nos alimentar com outras emoções... Vê aquela mulher com o copo na mão?

E continuaram assim por cerca de duas horas. Pas-sando por todo o espectro de emoções: tristeza, frustra-ção, pânico, felicidade.

Rafael foi aos poucos percebendo as diferenças sutis entre as reações, como extase e alegria.

Os matizes fortes das cores foram dando lugar para uma nova palheta invisível que se abrochava na sua mente.

Risa explicou que a habilidade de ler emoções hu-manas era um dote comum e muito útil de todos os Auras. Entre um exercício e outro ela tirou uma moeda do bolso e começou a brincar fazendo-a percorrer en-tre os dedos.

— Você precisa se alimentar de emoções ou a apatia começa a tomar conta. E as almas que formam você podem se separar. Seria seu fim.

Essa explicação lhe pareceu familiar.— Gaki tem alguns lugares que ele organizou para

facilitar o processo, como esse prédio, usando suas co-nexões.

Cada vez mais ficava claro que Gaki tinha suas

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próprias conexões com a Yakuza. Se é que ele não era um chefão poderoso. Mas mesmo assim existia uma beleza na eficiência e simplicidade desse sistema.

Nada poderia ser melhor para um grupo que lidava com intimidação e jogos de azar do que a capacidade de ler as emoções das pessoas.

Rafe já tinha ouvido falar dos nobres e poderosos conceitos de honra da Yakuza. Só que isso não queria dizer que ele queria se envolver pessoalmente.

A curiosidade de Rafael ia crescendo. Seu novo es-tilo de vida era diferente e inesperado. A ideia de que havia um submundo mágico coexistindo na periferia de Tóquio, talvez do resto do mundo todo, intrigava o rapaz. Ele podia ter sido arrastado para isso contra vontade como seus pais fizeram quando vieram para o Japão, mas dessa vez tinha um interesse genuíno em descobrir mais.

Pensar nos pais o fez recordar da vida que havia de-ixado para trás. Ele entendeu e respeitava a ordem de não tentar voltar para aquilo... mas sentia que precisava amarrar algumas pontas soltas.

— Risa... sinto que aprendi muito, mas tem algo que eu gostaria de fazer. Eu quero ver a Tati e pegar algumas coisas em casa agora.

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Risa olhou para seu celular:— Não temos muito tempo. Gaki quer você de

volta antes das duas da manhã. Ele encarou a jovem, deixando claro que não

aceitaria um “não”. Risa se virou e começou a andar pela rua, sem falar uma única palavra. Rafael sabia que podia segui-la sem medo.

Os dois pegaram o trem e chegaram ao bairro onde ele morava. As luzes da casa estavam todas acesas, o que era incomum para esse horário.

Ficou surpreso foi ver o carro dos pais estacionado em frente à sua casa. Eles já deviam saber que algo ruim tinha acontecido. Começou a correr em direção à por-ta, mas Risa o segurou pelo pulso imediatamente:

— Eu sinto muito. Mas as ordens são as mesmas para todos. Você não pode falar com eles.

— O QUÊ? — Rafael gritou. Ele tentou se soltar, mas Risa o segurava com firmeza apesar de não mostrar nenhuma expressão.

— Nós cortamos laços com nossas identidades hu-manas. Manter o segredo seria impossível de outra for-ma. Todos acabariam machucados.

Rafael percebeu que o mantra era recitado de cor, como uma doutrina. Isso não impediu que a ansiedade

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entrasse em erupção no seu peito.— Eu sei que é difícil — ela continuou explicando

enquanto soltava o pulso para segurá-lo pela mão — todos nós passamos por esse sacrifício... você precisa se perguntar: quer avisar sua mãe que você é um parasita, incapaz de sair durante o dia?

Ela apertava a mão dele com força, e ele sentia que as palavras saiam de maneira automática de sua boca. Como se ela fosse um robô programado para dizer aquilo, mesmo sem concordar com a mensagem.

Rafael apenas virou seu rosto, derrotado. Ele percebeu que sua própria raiva parecia abafada e

havia muito que ele ainda precisava aceitar. Risa soltou o colega, que andou de maneira furtiva até a janela.

A casa era uma visão surreal que desafiava os olhos dele. Sua mente não conseguia acreditar no que parecia um filme dramático.

A sua mãe estava chorando na mesa com a cabeça apoiada nas mãos. O pai berrava ao telefone, talvez fa-lando com a polícia, vermelho de frustração e raiva. Tati esperava com os donos da casa, sentados ao la-do de sua mãe, bem desconfortáveis, sem saber o que fazer para ajudar.

Rafael observava a cena mais uma vez. A saturação

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colorida de emoções era de uma beleza estranha.Raiva, incerteza, impotência e depressão teciam

uma complexa tapeçaria de tristeza. Teria sido uma bela refeição, se fosse capaz de se concentrar o suficiente para consumir aquelas emoções.Toda aquela tristeza ressoava no peito do Aura recém nascido.

Mas algo sufocava a emoção. Era como se de ma-neira racional soubesse que precisava sentir aquilo, mas tivesse esquecido como. Ele colocou a mão no vidro, sua insensibilidade térmica foi um doloroso lembrete do quanto tinha perdido. Então, conseguiu com-preender que estava morto.

Era difícil demais lidar com tudo aquilo. Algo pa-recia querer se libertar dentro dele, fazendo-o entender como os outros mortos-vivos conseguiam quebrar os laços de família e amizade com tanta facilidade.

Ele via aquelas pessoas e não conseguia se sentir como sendo parte do grupo. Sabia que era algo dife-rente, e era mais fácil abrir mão do que tentar forçar algo em prol de um passado despedaçado.

Rafael aceitou seu destino.Tudo que restava agora era decidir como iria pagar

sua última dívida feita em vida.

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Os urbanos Auras

A Segunda Guerra Mundial encontra seu término e uma nova espécie começa a se expandir pelo globo: os Auras, criaturas que partilham duas almas incom-pletas, unidas entre si por emoções que absorvem dos humanos.

Os Auras sofrem da mesma maldição que mantém os Varnis afastados do Sol, mas sem os benefícios da sua força e velocidade. Isso não quer dizer que eles não tenham poderes únicos. Sua compreensão e con-trole sobre as emoções fazem deles oponentes formi-dáveis.

Lutando para se estabelecer em um mundo domi-nado pelos Varnis, os Auras rapidamente agruparam-se em tribos urbanas. A sua dependência das emoções humanas não os fazem predadores, mas simbiontes que preferem proteger a perseguir a humanidade.

Os Varnis exterminaram seus ancestrais Devas e os Auras são o seu próximo alvo. Apenas seus poderes mentais lhe dão uma chance na guerra que virá.

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RafaelBrasileiro, descendente

de japoneses residentes em Tóquio, o destino de Rafael

sofre uma reviravolta quando ele é convertido em um Aura,

capaz de “ler” as pessoas através de visões que lhe

surgem em forma de tatuagens em seus

corpos.

RainParceiro relutante de Rafael,

Rain está sempre reclamando de tudo. Mas debaixo de seus

modos cínicos encontra-se um companheiro fiel que não

teme ter que pagar o maior dos preços na busca por uma

relíquia cobiçada pelos Auras de seu grupo.

E pelos mortíferos Varnis.

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KaedeBraço-direito do líder dos Auras de Tóquio, a

misteriosa Kaede usa toda sua influência contra os

vampiros Varnis, por quem nutre grande rancor. Mas por

que ela parece saber tanto sobre eles?

RisaUma introvertida garota

Aura, infiltrada na escola de Rafael. Seu passado e perso-nalidade parecem envolvidas

em mistério. Estaria ela de alguma forma envolvida

com o surto de catatonia que atinge a cidade, inclusive o melhor amigo de Rafael?

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