Pretos Pobres e Putas.pdf

download Pretos Pobres e Putas.pdf

of 45

Transcript of Pretos Pobres e Putas.pdf

  • Ttulo

    PretosPobresePutasOsPsdoPreconceitonaticadoJornalismoPolicial

    AutoraSirleyCardoso

    DEDICATRIADedicamosestetrabalhoatodasaspessoasqueumdiajforamvtimasdaviolncia daimprensa.Emespecialaospobres,aosnegrosesprostitutas.

    AGRADECIMENTOSPrimeiramenteumagradecimentoespecialsjornalistasAnieleNascimentoeRosanaCludiaAlbertiminhascolegasdaFaculdadedeJornalismoquetrabalharamnapesquisadecampoenapesquisadaliteraturaespecializada;aomeumaridoRoneyRodriguesPereiraeaomeufilhoDiegoquesempremeincentivaramaescrevereaomeupai,JooBatistaCardosopelalucideznassuascrticas.

    PREFCIOEscolhidoseexcludos

    UMAVOCAOumaquestodeopojuntoshabilidadesprpriasejuntotrajetria

    queseprocuranasociedadeeparaasociedade.Arigor,umaquestodevalorescapazesde

    seremreconhecidosnapersonalidadedecadaumnoespaoprofissionalescolhido.Quandoa

    escolhaojornalistaaentoaquestodosvaloresdecisiva.

    Noexistejornalismolegtimosemopeslegtimas.Isto,semprofissionaiscapazes

    deinteligncia,sensocrticoe,principalmentecoragemdirecionadasparaobemcomum.

    E aqui, quando se fala em coragem, preciso que ela seja acompanhada de

    discernimento, para colocar a fora de uma profisso ao lado das aes necessrias real

    transformaodosfatose,acimadetudo,juntoaumautnticoserviopblicoprestadoaos

    cidados.

    Jornalismo aprtica diriadaintelignciaedacoragem,dizia efaziaCludio

    Abramo.Nocasodopresentetrabalho,precisolembrarquejuntodissoseunesensibilidade,

    alis,expressaapartirdaescolhadotemaedotratamentodoscontedos.

    1

  • Aautorajcomeademonstrandoumcarterquedeterminanteparaalegitimidadeda

    profisso:umafunocapazdedardimensosocialcidadania,principalmentequelesseme

    semvez.

    Ojornalismoautnticoaquelequetambmcapazdedarrepresentatividadeaesses

    cidadosquepordistoreseequvocosdaprpriasociedadesooschamadosexcludos.

    Almdisso,bomverprofissionaisquecomeamseucaminhosemmedodaspalavras

    oudosfatos,comoatestaottulodestaobra,quedenunciaoestigmaquepesasobreasminorias.

    Profissionaisassimfazemparte,naverdade,daquelesraros,escolhidospelainexorvel

    vontadedeumaprofissoindispensvel reflexodonossotempo. dessemodoqueessa

    profissotambmfazsuasescolhaseabreespaoparaaquelescomoocasochamadospela

    verdadeiravocao.

    No jornalismobrasileiro existe muita coisaa ser feita nocaminhododilogo, da

    crtica,daopinioparaaconstruodademocraciaparticipativa,daqualestetrabalho,mesmo

    nombitoacadmico,jumbeloexemplo.

    AntnioStranoVieira

    SUMRIO

    IAPRESENTAOticanomordaaIILIBERDADEDEIMPRENSAInvasodaprivacidadeIIIPARADOXOSticaejornalismopolicialIVESPETCULODAVIOLNCIANoticiriovirashowdeentretenimentoVOSPAPARAZZIAmortedeLadyDiVIALINGUAGEMPreconceitocarreganastintasVIIARESPONSABILIDADEDAFONTEQuandoaimprensanoinvestigaVIIINOTCIAPRODUZIDACircoarmadoIXPOBREZADCADEIAOcrimedeserpobreXMEDODOLIMITECoisadereacionrioXIOSCDIGOSDETICA

    2

  • CompromissocomaverdadeXIIOMBUDSMANPoliciandooscolegasdaredaoXIIIFATOEVERSOCredibilidadenamdiaXIVFORADOARImprensaecidadaniaXVTICANAMARRADesconhecimentodasleisXVIRELAESPERIGOSASOcaminhodafamaXVIIPOBRES,PRETOSEPUTASOspsdopreconceitoXVIIREFERNCIASBIBLIOGRFICAS90

    APRESENTAOticanomordaa

    ESTE ESTUDO umaobservaoapartir devriosolharessobreaatuaodo

    jornalismo policial em Curitiba. uma anlise do trabalho de apresentadores de

    programas policiais exibidos no rdio e na televiso e das publicaes nos jornais

    impressosachamadaimprensavermelha.

    Vriosolharesporqueconstamnestetrabalho,anlisesdeprofissionaisdarea

    decomunicaoqueatuamounonacoberturapolicial;deadvogadosespecialistasna

    tica da Comunicao; de criminalistas; de tericos da Comunicao; de leitores

    comunsedealgumasvtimasdoescrachodonoticiriosensacionalista.

    Ametodologiaaplicadanesteestudoestbaseadaementrevistasrealizadasnos

    mesesdeagostoesetembrode1997,eemanlisesdeprogramaspoliciaisderdio,de

    televiso e de publicaes dos jornais Tribuna do Paran e O Dirio Popular, do

    segundoedoterceirobimestredomesmoano;eainda,nacompilaodeliteraturaque

    reuniudezenasdeconsultasentrelivrosepublicaesdeartigosemjornaiserevistas

    brasileiras.

    Alinguagemusadanojornalismopolicialdateleviso,dojornaledordioem

    Curitibamereceseranalisadadopontodevistaticoeesttico.Equandofalamosem

    linguagem, estamos nos referindo, de formaglobal, sob os mais variados ngulos.

    Sobretudoquandoela vemcarregadadepreconceito. Masessaanlise deveepode

    3

  • partirdosprpriosjornalistas.precisocolocarodedonaprpriaferida.Equandose

    trataunicamentedonoticiriopolicial,aquestoticaacabaficandoparatrs.Alguns

    profissionais, outros nem to profissionais, prjulgam os envolvidos em crimes e

    confuses,condenandoospublicamente,sempreembuscadosensacionalismo.

    precisodistinguirodeverdedennciadeumdissimuladodesejodechocar.O

    jornalistaLuizGarcia(1990)lembraqueticanomordaa,(...)Oqueaticapede

    nomenosnotcia,masmelhornotcia:ainformaocorreta,completa,digna.

    Otrabalhodaimprensanopodeserconfundidocomprogramadeauditrio.O

    noticirio no umshowdenotcias, umespetculo. Adivulgaoapressadagera

    dolorosaseirreparveisinjustias.

    OprofessordeticaJornalsticadaFaculdadedeComunicaoSocialCasper

    Lbero, Carlos Alberto Di Franco (1994), diz que para o filo sensacionalista da

    imprensaoqueinteressanoaapuraodosfatos,masomarketingdoescndalo.

    Aretificaodoerrocometido,semprefrgileenvergonhado,noconsegueapagaro

    malproduzido.Humafortedesproporoentreoimpactodanotciafalsaeaplida

    foradaretificao.

    Protegidospelafachadado proibidoproibir,muitosjornalistasdefendem

    queprimeirodevesedaranotcia,navelocidadeporelaexigida,depois,seforocaso,

    reparasepossveiserrosouequvocos.Masindependentementedoelementardeverde

    repararoerro,necessriodesenvolverumpermanentetrabalhopreventivo.Remdio

    na hora da morte pode matar. Quem atua no jornalismo precisa rever atitudes e,

    entenderdeumavezportodas,queaticaosegredodacredibilidadedaimprensae,

    exatamenteporisso,achavedoseusucesso.

    Asrelaesentreodireitoinformaoeodireitoprivacidadetendemserem

    propositadamente confundidas. Na verdade, criamse paradoxos na tentativa de

    justificar os freqentes erros da imprensa. Sequalquer aohumana tivesse deser

    submetidapublicidade,nosepoderiamaisfalaremliberdade.Queliberdadeessa

    queasociedademodernatantolutouparaconquistlaequeagoraaconfundecom

    atrocidade,cominvasodeprivacidade?

    Humafronteiraticaentreodireitoinformaoeodireitoprivacidade;o

    bem comum, o verdadeiro interesse pblico. A imprensa tem relevante papel de

    4

  • denncia,decontraponto. Essafuno,noentanto,nadatemavercomcuriosidade

    agressiva,comoafdeescndalooucomatitudesderetaliao.

    Emartigo publicado na revista britnica Spectator, sob o ttulo OsSete

    PecadosCapitaisdoJornalismoojornalistaingls,PaulJohnsonafirmaqueamdia

    umaarmacarregadaquandodirigidacomintenohostilcontraumindivduo.Com

    essaadvertnciacheiaderealismoeleanunciaoutropecado:oassassinatopelamdia.

    OexministrodaSadedogovernoCollor,AlceniGuerra,foiumadasvtimas

    do jornalismo de prjulgamento. E meio s denncias de irregularidades em sua

    gesto, o ministro foi moralmente baleado pela metralhadora giratria da mdia.

    Absolvido, no mereceu a reparao de uma nica manchete, apenas sucintos e

    contrariadosregistros,empurradosparaoluscofuscodaspginasinternas.Damesma

    forma, aconteceu com os proprietrios da Escola Base em So Paulo. A Revista

    Imprensa (setembro/1994) divulgou um balano das reportagens publicadas na

    imprensanacionalsobreocaso90%deacusaoe10%dedesmentidos.

    Os jornalistas, assim como a grande maioria dos profissionais de outras

    categorias,socorporativistas.Somosossenhoresdainformao,apontamoserrosa

    trsporquatro,pregamosmoralidadeexausto,mas,quandooalvoumdens,a

    tendnciageraaindaoacobertamento,afirmaLuizGarcia,nojornalOGlobo.

    Essamvontadeemadmitiroerrofazpartedaarrognciaqueimperanomeio

    jornalstico.OjornalistaCludioAbramolembrouqueaticadojornalistaaticado

    cidado.Elepergunta:Oqueojornalistanodevefazerqueumcidadocomumno

    devafazer?Ocidadonopodetrairapalavradada,nopodeabusardaconfianado

    outro,nopodementir...Nohmotivosparaimunidades.Aimprensanofeitapor

    superhomens.Eesperasequesejaconduzidaporhomensdebem.

    SirleyCardoso,aautora.

    LIBERDADEDEIMPRENSAInvasodeprivacidade

    NENHUMAPESSOApodeserconsideradaverdadeiramentelivresenodispuserde

    garantiasdeinviolabilidadedasuaprivacidade.Tribunaisdomundointeirotmse

    baseadonessesprincpiosparaprotegeraspessoascontraavoracidadedaimprensa

    5

  • sensacionalista.Odireitoprivacidadebeneficiaatmesmoospresumveiscriminosos

    etodocriminosopresumvelenquantonohouversentenadefinitiva.Ningum,a

    noserumtribunaldejripopular,podejulgaralgum.Nemtampoucoosmeiosde

    comunicaoestoautorizadosadivulgardadosdavidantimadesupostoscriminosos

    eoudeseusfamiliaresquepoucoounadatmavercomocaso.

    Odireitoprivacidade,noentanto,podecessarquandoaaopraticadatem

    carterpblico.ocasodosgovernantes,cujosatosparticularespossamrefletirnasua

    atuaopblica(1).

    Masoquetemderelevnciapblicaadivulgaodefotografiasdepessoas

    ensangentadas,muitasvezes,emcondiesqueferemsuadignidadeequeexpem

    seusentesqueridos?Queinteressepblicotemapublicaodecasosaindainsolveis

    quevmsendoinvestigadospelapolcia?

    Constatase que o interesse na publicao de material sensacionalista

    meramenteodemanterumnegcio.Acoberturadeescndalosedematerialchocante

    fazpartedometier.Nemmortosilustresescapamdoesquartejamentomoral.Asfotos

    daatrizDanielaPerezassassinadaagolpesdetesoura(28/12/1992)peloseucolegade

    trabalhonaTevGlobo,GuilhermedePdua(2),foramdilaceradaspelamdiae,neste

    caso,comaconcordnciadeseusfamiliares.Easpessoasquepertencemsclasses

    sociais menos privilegiadas, cujas fotografias so diariamente escancaradas nas

    primeiraspginasdosjornaissensacionalistasenosprogramaspoliciaisdeteleviso,e

    quenemsabemqueteriamodireitodenopermitirqueseusnomeeimagemfossem

    expostosexecraopblica?

    Aatividadedaimprensatraduzidanadivulgaodeinformaesabrangeum

    espectro enorme. Cabe imprensa divulgar tudo informaes tcnicas, polticas,

    culturais, cientficas, policiais, etc. Podese dizer que no h campo da atividade

    humanaquenointeressediretamenteimprensa.Enfim,tudoquespessoasinteressa,

    interessaimprensa.Acoberturajornalsticaestemtodososlugares,todootempo,de

    dia e de noite. H informao para todos os gostos e necessidades. Dentre Muitas

    matriasqueaguamointeresseeacuriosidadedagrandemassa,despontamaquelas

    quelidamcompessoasque, pelosmotivosmaisvariados, ganharamnotoriedadeou

    fama,boaoum.Aseencaixampolticos,religiosos,artistas,escritores,celebridades,

    celebridadesmomentneas(feitaspelaprpriamdia)eatletasfamosos.

    6

  • Masnems de figuras pblicas e famosas vive a imprensa. Naverdade, a

    chamadaimprensavermelha(queexploraonoticiriopolicial), estanemest muito

    interessadanoricoefamosoessesgeralmentesoporelaprotegidos.Interessaaesse

    segmento da mdia, pessoas humildes que passaram a protagonizar o show do

    sensacionalismopolicial.Querpeloextico,peladramaticidade,peloinusitado,essas

    pessoasdespertam atenodojornalismoe,numpassedemgica,viramnotcia

    geralmente,mnotcia.Nessecasoamdianoperdetempodandofamadegraaa

    pobresilustresdesconhecidos.Masamfamagrtisporquerendedividendosparaos

    proprietrios deveculos decomunicao. Amdia, aomesmotempoemquepode

    enaltecer,podetambmacabarcomprotagonistasdecenasdantescasporelaexpostas,

    sobretudo,quandoessesatoressodeorigemhumilde.Paravirarmnotcia,bastaser

    pobre,pretoouputa.

    Aliberdadedeimprensaetambmoschamadosdireitosdapersonalidadeso

    garantiaestabelecidapelaConstituioFederalBrasileiraquereza:soinviolveisa

    intimidade, avidaprivada, ahonraea imagemdaspessoas,asseguradoodireito

    indenizaopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolao(3).

    Issosignificaquetantounsquantoosoutros,todosdireitosfundamentais,no

    soabsolutos.Limitamse,reciprocamente,deformaquenosejamcometidosabusos.

    A informao de interesse da sociedade. Todavia o direito de informar,

    infelizmente, se sobrepe aos direitos individuais. E, por causa disso, a imprensa

    adquiriucertaimunidade.NosepunemoscrimesdeimprensanoBrasil,salvoraras

    excees.Pormaospoucos,ascoisascomeamamudarporaqui.Algunsabusosj

    vmsendodenunciadoselevadosjustia.

    Liberdadedeopiniosomentetemsentidosetambmcontemplarasopinies

    contrrias. O direito privacidade no desaparece com uma acusao por mais

    comprovadaqueestejamuitomenospelosimplesfatodeestarumadaspessoasnuma

    listadesuspeitos.Eodireitoderespostanoexigequeumanotciasejaverdicaou

    falsa, mas simplesmente que seja ofensiva. S que, quando o atingido ainda no

    aprendeu exercitar seus direitos, isso desaparece no ar. Ficam as seqelas. Meros

    suspeitosso,apressadamente,condenadospenadoconstrangimento,causadopelas

    manchetes que atingem a honra da pessoa. Tudo para o simples divertimento da

    multido.

    7

  • PARADOXOSticaejornalismopolicial

    SEASPESSOASresolvessempartirparacimadosmeiosdecomunicaoexigindo

    autorizaoprviaparaapublicaodesuashistriasedesuasimagens,noentenderdo

    diretorderedaodojornalTribunadoParan,deCuritiba,CarlosAlbertoTavares,o

    jornalismopolicialestariamorto.Seojornalfosseobrigadoasolicitarautorizaopor

    escrito de todos os envolvidos emcrimes e confuses ou de familiares de pessoas

    assassinadas,estariadecretadaafalnciadoveculoenquantoexploradordosegmento

    policial.(4)

    O advogado curitibano Joel Samways Neto analisa que os veculos de

    comunicaoquefazemsensacionalismoterofalnciadecretadaapartirdomomento

    em que as pessoas resolverem fazer valer os seus direitos assegurados

    constitucionalmente.Seosfamiliaresdasvtimasouseasprpriasvtimascomearem

    aprocessarosveculosdeimprensaquecometemcrimescontraeles,achoqueesses

    vofalnciadequalquermaneira.(5)

    possvel,entretanto,elaborarumamatriapolicialtica.Divulgarofatode

    acordocom todas as partes envolvidas semprjulgamentos. Semanecessidade de

    escreveroudizerquefulanodetalvagabundo,delinqente,assassino,ladroou

    coisaparecida. precisoapurarmais anotcia enomergulharnodenuncismo,na

    denncia infundada. D para fazer jornalismo policial com liberdade plena de

    imprensa, respeitando os direitos do cidado, defende o advogado e jornalista

    curitibanoHermnioBack.

    Halgumaspessoas,comojdescreveuocrticonorteamericanoAndyWarhol,

    que buscam, com certo frenesi, os seus quinze minutos de fama. H outras que

    gostariam,seaimprensapermitisse,dedescansarnoberoesplndidodoanonimato.

    Elasevitamaexposio, sobretudoquandonolhesconvm.Pormpoucospodem

    gozardesseprivilgio apenasosmaisendinheirados. Agrandemaioria pobree

    desconhecequepode,porexemplo,exigirdeumfotgrafo,ofilmedesuamquina,

    quandofotografadasemautorizaoprvia.

    8

  • Mais pessimista, Joo Fder, professor de tica da Comunicao, na

    Universidade Federal do Paran (UFPR) diz que se realmente os jornais ou os

    apresentadores de programas policiais de televiso a tiverem de amparar todas as

    matriasemcimadeautorizaesprvias,essetipodejornalismoacaba.Jornalismo

    policialdificilmentetico.Osagentespoliciais,osdelegadosdepolcia,geralmente

    fazemmdiacomojornalistaecomopblico,mostrandoopreso,omeliante,comose

    fosseumapresa, umacaada. Opresoest parao policial comoumtrofu, e, da

    mesmaformaest parao jornalistacomoumprmio,umprodutoqueser vendido

    quentinhojuntocomopoeoleite nodiaseguinte. Eleaindapergunta: qual o

    cidadopobrequevaimoveraocontraumjornal,umateleviso,umaemissorade

    rdio,oucontraumdelegadodepolcia?Equantosaesporreparaodedano,a

    Justiafazumjulgamentopragmtico:qualaimagemquevalemais,adoPeloudo

    ZNingum?Paraeleoprejuzomensuradoeconomicamenteeovalorvariadeuma

    pessoaparaoutra(6).

    OESPETCULODAVIOLNCIANoticirioouespetculo

    A IMPRENSA nopodepautar assuasatividades pelongulodoespetculo. O

    fenmeno da violncia est adquirindo caractersticas epidmicas e coincide, pelo

    menosaparentemente,comocrescenteimpactoqueamdiaexercesobreapopulao.

    Cabe, portanto, levantar umahiptese: no haver umnexode causalidade entre a

    violncia transmitida e a violncia praticada? Os defensores do papel catrtico da

    imprensaafirmaroqueahiptesenotemfundamento.Aconvivnciacomaviolncia

    damdia,diroeles,serveparaaliviaraviolnciareprimida.(7)

    O termo sensacionalismo significa divulgao e explorao, em tom

    espalhafatoso, de matria capaz de emocionar ou escandalizar; uso de escndalos,

    atitudes chocantes, hbitos exticos, etc., como mesmo fim: explorao do que

    sensacionalnaliteratura,naarte,etc.(8)

    Quandoumveculodecomunicaoseenveredaparaoladosensacionalista,

    partedosformadoresdeopiniocrticos,jornalistaseintelectuaistendemacoloc

    9

  • lo margemna tentativa deafastlo dos medias srios. Danilo Angrimani, num

    estudodosensacionalismonaimprensa,escreveuqueseumjornalimpresso,telejornal,

    ouradiojornal,tachadodesensacionalista,significaparaopblicoqueomeiono

    atendeu s suas expectativas. Na abrangncia de seu emprego, sensacionalista

    confundidonoscomqualificativoseditoriais,audcia,irreverncia,questionamento,

    mas tambm com impreciso, erro na apurao, distoro, deturpao, editorial

    agressivo. So acontecimentos isolados que podem ocorrer dentro de um jornal

    informativo comum, que no esteja exatamente no segmento do noticirio policial.

    Sem discutir a questo da morbidez e da imoralidade envolvidas, o termo

    sensacionalismopodeserusadoparaotratamentoparticularqueumjornaldacrimes,

    desastres,escndalosemonstruosidades.(9)

    Sobrealinguagememodosensacionalistadedivulgaodonoticirio, Rosa

    NveaPedroso,daEscoladeComunicaodaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,

    fazoseguintecomentrio:

    Intensificao, exagero e heterogeneidade grfica; ambivalncialingsticosemnticaqueproduzoefeitodeinformaratravsdanoidentificao imediata da mensagem; valorizao da emoo emdetrimentodainformao;exploraodoextraordinrioedovulgar,deformaespetacular e desproporcional; adequaodiscursivado statussemitico das classes subalternas; destaques de elementosinsignificantes, ambguos, suprfluos ou sugestivos; subtrao deelementosimportanteseacrscimoouinvenodepalavrasoufatos;valorizao de contedos ou temticas isoladas, com poucapossibilidade de desdobramento nas edies subseqentes e semcontextualizaopoltico econmicosocial e cultural; discursividaderepetitiva, fechada ou centrada em si mesma, ambgua, motivada,autoritria, despolitizadora, fragmentria, unidirecional, vertical,ambivalente, dissimulada, indefinida, substitutiva, deslizante,avaliativa; exposio do oculto, mas prximo; produo discursivasempre trgica; especificidade discursiva de jornal empresarialcapitalista, pertencente ao segmento popular da grande empresaindustrialurbana, embusca de consolidao econmica ao mercadojornalstico; escamoteamentodaquestopopular, apesar dopretensoengajamento com o universo social marginal; gramtica discursivafragmentadanodesnivelamentosocioeconmicoesocioculturalentreasclasseshegemnicasesubalternas.Eaimprensasensacionalistanoseprestaainformar,muitomenosaformar. Prestase bsica e fundamentalmente a satisfazer asnecessidades instintivas do pblico, por meio de formas sdica,caluniadora e ridicularizadora das pessoas. Por isso, a imprensasensacionalista, comoa televiso, opaponobar, o jogodefutebol,servemmaisparadesviaropblicodesuarealidadeimediatadoqueparavoltarseaela,mesmoquefosseparafazloadaptarseaela.(10)

    10

  • OSPAPARAZZIUmacidentedepercurso

    MASSERqueopblicoquermesmofazeracatarsedaviolncia,doertico,do

    extico,doinusitado,comosugeremalgunstericosdacomunicao?

    Quandosetratadojornalismosensacionalistalogovemumavelhadiscussodo

    ovoedagalinha:quemnasceuprimeiro?Ojornalismosensacionalistaexisteporqueo

    povogostaouopovogostaporquejexisteojornalismosensacionalista?Ouseja,o

    povoaprendeuaassimilaressaculturaetambmaprecilacomoprodutodeconsumo?

    issoqueojornalistatemdeseperguntar.

    Como acidente automobilstico que matou a princesa da Inglaterra, Diana

    Spencer, tornase mais popular para os brasileiros a figura dos paparazzi (11). Os

    fotgrafosqueperseguiram LadyDi porqueopovoinglsgostadeverasfotosda

    princesa? E, por causa disso teriam provocado, segundo boa parte da imprensa

    internacional,oacidenteautomobilsticonaPontedeAlma,emParis,namadrugadano

    dia31deagostode1997,queculminounasuamorte;donamoradoDodiAlFayededo

    motorista? Ou ser que o povo ingls foi acostumado pelos paparazzi a gostar da

    invasodaintimidadedaspessoasfamosas?Ento,ojornalista,antesdeporopna

    estradadeveterissobemclaro.Temdeterodiscernimentodascoisasenosubmetero

    seutrabalhoditaduradomarketingdanotcia.

    Emsetembrode1997,enotaimprensa,aExecutivaNacionaldosReprteres

    FotogrficoseCinematogrficos(ANARFOC)divulgouadefesadosprofissionaisda

    imagem. E nessa defesa, a instituio repassa grande parte da culpa e a prpria

    discussoticaparaasociedadequeconsomeessesjornais.Diziaanotantegra:

    Mesmo no concordando com o tipo de fotografia sensacionalista

    utilizadaportablides(12)daInglaterraeFrana(entreoutrospases),

    aANARFOCnoaceitaqueaculpapeloacidentequecausouamorte

    daPrincesaDianaedeseusacompanhantesnocarro,recaiasomente

    sobre os paparazzi. Aafirmaodequeeles estariamcomas mos

    sujasdesangue(juntocomoseditoresdosjornais),feitaporparentes

    11

  • daprincesa, deveser ampliadaparaasociedadequeconsomeesses

    jornais, com tiragem de dois milhes de exemplares semanais (na

    Inglaterra)edetrsmilhes(naFrana). Essetipodefotografiano

    representa a totalidade do trabalhodos reprteresfotogrficos assim

    comoa imprensa sensacionalista no representa a imprensa toda, a

    populaoquecompraessesjornaisnorepresentaumpas.

    AANARFOCentendequeaticadeveser maisbemdiscutidapor

    todasaspartesenvolvidaseinteressadas,desdeoreprterfotogrfico

    queproduzaimagematoleitorqueaconsome.Problemascoma

    ticaouaindacomasuafalta,soalgunsdasquestesenfrentadasno

    nossodiaadiaprofissionaleestamosinteressadosemresolvlosjunto

    comasociedade.(AntnioCoutinho,secretriogeraldaANARFOC).

    Seisfotgrafoseseismotociclistaspresosporenvolvimentonoacidentecoma

    princesaDianaforamindiciadospelajustiafrancesaacusadosdehomicdioculposoe

    omissodesocorro.Porm,ningumdelesfoiesculachado,emnenhumdosjornais,

    principalmentenosquaisparaquemelestrabalhamesosensacionalistasvidospor

    portadedelegacia.Aocontrrio,numaaocorporativista,trataramdesairemdefesa

    doscolegas eforamosprimeirosaestamparnasmanchetes: motorista daprincesa

    estavabbado.Alis, amanchetepareceter sidoamesmanomundointeironos

    sensacionalistas.EoBrasilnoficoudefora.Poraqui,omotoristaestavadeporre,

    bebum,comacabeacheiadecachaa.

    Ospaparazzifranceses,noentanto,foramlibertadospelajustianumprazode

    48horasmediantepagamentodefianaeforamproibidosdetrabalharcomofotgrafos

    enquanto prosseguir a investigao sobre o caso. E o Sindicato Nacional dos

    Jornalistas (SNJ) da Frana protestou: priso preventiva prolongada, acusaes,

    confisco de material profissional, de pesquisas, retirada da carteira de imprensa,

    proibiodedeixaroterritrio,proibiodeexercerotrabalhodejornalista:istoocorre

    naFrana,emsetembrode1997,depoisdeumacidentedecarro,cujochoferestava

    bbadodeclarouoSNJemdocumentooficial.

    NaopiniodosdirigentesdoSNJeste umfatosemprecedentesnaFrana

    desdeotrminodaSegundaGuerraMundialequalificouasmedidasjudiciaiscomo

    chocantes,desmedidasegravssimas.

    12

  • Orelatrio policial de Paris afirma que os paparazzi foram insensveis ao

    acidente e continuara fotografando o carro, tendo como alvo principal a princesa

    Diana. Umdosfotgrafospresos, JacquesLangevin, dissequeasacusaesforam

    exageradas,alegandotermedidoopulsodaprincesaequeteriaconsoladoa,avisando

    queosocorroestavaacaminho.Surpreendentemente,poucosdiasdepois,asfotosde

    uma princesa ultrajada, ensangentada estavam na rede mundial de computadores

    Internetparaquemquisessever.

    H bastante controvrsia em torno dessa discusso. Sobretudo, quando do

    episdiodamorteporacidenteautomobilsticodaprincesaDianaSpencer.Houvemuita

    polmica em torno do trabalho dos paparazzi que perseguiam, de motocicletas, a

    limusinequetransportavaaprincesa.Unsafirmamqueporcausadaperseguio,os

    fotgrafos teriamprovocado o acidente na entrada do tnel prximo ao Rio Sena.

    Muitos jornalistas afirmam que os paparazzi estavam simplesmente fazendo seu

    trabalho em funode umaexigncia de mercado. H mercado para esse tipo de

    noticirio,dizAntnioCoutinho,secretriogeradaANARFOC.

    Poisbem,seexistemercado,logo,temsedeiratrsdoprodutoqueestar

    venda,quentinhonasbancasounoarnordioenateleviso.Mascomopodeopblico

    comprarumprodutoqueaindanoexiste?Istoquerdizer exatamentequeprimeiro

    surgiuoprodutosensacionalista,opovogostouecomprou.Squeagora,nosomente

    ascelebridades,masoprpriopovo,sobretudoosilustresdesconhecidosque,segundoa

    imprensa quem consome, tm sido as maiores vtimas dos abusos da imprensa

    sensacionalista.

    Na opinio de Hermnio Back, a populao ainda muito, ingnua e

    despreparadadiantedapotnciadamdia.

    EnquantoBackafirmaqueopovomoldadodeacordocomaquiloqueamdia

    lhe impe, o professor Joo Fder diz que a culpa da sociedade. Jornais

    sensacionalistas vendem, e programas policiais sensacionalistas na televiso tm

    audincia porque o povo gosta. Um jornal srio leva de dez a vinte anos para

    conquistar umpblicodeleitores. Enquanto queos sensacionalistas j nascemcom

    pblicogarantido. O TheSun umtablide sensacionalista londrinovendecinco

    milhes deexemplares a cadaedioe emmatria de leitura de jornais vermelhos

    (noticiriopolicial)edeaudinciaderdiooutev,nosomosdiferentesdosbritnicos.

    13

  • Temosumamassaenormedecuriososarespeitodoquesepassacomaspessoas.H

    sedeportragdia.

    ESTILOELINGUAGEMPreconceitocarreganastintas

    OMANUALDEREDAOdojornalOEstadodeSoPaulo(OEstado),1edio,

    ensinacomoescreverumtextosemserpreconceituoso,ensinacomoojornalistadeve

    sereferir,notexto,apessoascomdeficinciafsica,decornegra,idoso,homossexual,

    criana, adolescente ou doente. Alguns exemplos politicamente corretos, conforme

    sugereojornalistaEduardoMartins,organizadordomanualdoEstado:

    Deficientefsico: tratarcomdignidade,usandopalavrastcnicas,enotermos

    populares e ofensivos, para designar os deficientes fsicos. Assim, por exemplo,

    impotente,enobroxa;estrbico,enovesgo.Outrostermosaevitar:caolho,maneta,

    perneta,manco,zarolho,etc.

    Negroemulato: senecessrio usaraformanegro(enuncapreto, colored,

    pessoadecor,crioulo,pardo,escurinho,etc.).Mulatoemulatasoaceitveisquandose

    justificaraespecificao,nanotcia,dacordapeledapessoa.Nonoticiriopolicial,s

    fazerrefernciaanegroquandosetratardepessoaprocurada. Apolciaprocuradois

    homensnegrose,umbranco,ambosacusadosde... Nosdemaiscasos,raramenteh

    necessidadedefalarembrancos,negrosoumulatos.Nonoticiriogeral,apalavras

    tem sentido se a prpria pessoa se referir a ela ou se houver uma denncia de

    discriminaoracial.Porissonodescrevaumjogador,artistaoupersonalidadecomo

    fulanodetal,tantosanos,negro(amenosqueopersonagemproclamesuanegritude).

    Anicaexceoseriaparacasosmuitoincomuns(oprimeiropresidentenegrodeum

    pas,oprimeirocardealnegro,etc.).

    Velho:Namaiorpartedoscasos,apalavratemconotaopreconceituosa.Se

    necessrio,revelaraidadedapessoaqueficarclaraessacondio.

    Homossexual: outro termoques deveaparecer nonoticirio comofato

    descrito.Porexemplo:umhomossexualfoimortoporalgumpresumivelmenteligadoa

    umaquadrilhaespecializadaemmataressetipodepessoas.Outroexemplo:umartista,

    assumidamentehomossexual,admitequeessacondiopossainfluenciarseutrabalho.

    exceodecasoscomoesses,nohrazoparamenesarespeito.

    14

  • Menores: porforadelei,menoresenvolvidosemcrimesnopoderoteros

    nomes publicados no jornal (identifiqueos apenas pelas iniciais), nem suas fotos

    divulgadas. Vale lembrar que a incluso do nome dos pais na notcia revelar

    imediatamente quem o menor. O Estatuto da Criana e do Adolescente claro,

    quandoprobeexpressamenteaidentificaodemenoremnotciaquesepubliquea

    respeitoemdivulgaoemgeral,especialmentenaimprensaescritaetelevisionada,seja

    nome,fotografia,filiao,apelido.Damesmamaneira,oEstadoprocedecomrelao

    avtimasdeatosquepossamlhesacarretardiscriminaes,estupro,porexemplo.

    Doenas: ojornalistadeveinformarclaramentedoqueumapessoasofre,foi

    operadaoumorreu.NohsentidoemesconderquealgumtemCncerouAIDS.Caso

    nosejareveladaainformao,anotciaestarsendodeslealcomoleitorocultandolhe

    umfatoqueelemerececonhecer.Apenas,devesetrataradoenacomnaturalidade,

    semalarde.

    Suicdios: seumapessoacometeusuicdio, anotciadeverevelloaoleitor,

    tambmparaqueestenorecebainformaopelametade.Emqualquerrelatodemorte,

    omnimoquesequersaberdequemaneiraouemquecircunstnciaselaocorreu:

    doena? Acidente? Suicdio? Por mais doloroso que seja o fato, evitar disfarlo.

    Todavia,nodevedardetalhesdecomoapessoafezparamatarse.

    Raasenacionalidades:usaranacionalidadetalcomoelaetimologicamente.

    Nunca usar comuna, carcamano, china, japa, gringo, galego, polaco, paudearara,

    cabeachataebaiano(paranordestino),judeu,crente(nomausentido),etc.

    Desempregado:evitarotermoporquepodeserdepreciativo,podedarmargem

    paravagabundo.

    AlgunsexemplosdemanchetespublicadasnosjornaisdeCuritiba,Tribunado

    ParaneDirioPopularquetrabalhamnacoberturadonoticiriopolicial.Apelativase

    sempregrafadasemletrasmaisculasnascoresvermelhaoupreta,estasmanchetes

    chamadasdecapa,nojargodaredao,ignoramqualquermanualderedaoeestilo.

    OdiretorderedaodaTribunadoParan,CarlosAlbertoTavaresdiziaqueojornal

    no tem um manual por escrito. Apenas seguimos algumas regrinhas bsicas,

    afirmou.Entretantoessesjornaisacabamreproduzindoalinguagemdojargopolicial.

    Algunsexemplos:

    15

  • FEDEUPROLADODOBOSTINHA.

    VALENTOFUZILAOCONCUNHADO.

    MALANDRODAVAGOLPEDOEMPREGOFCIL

    TUDOINVENOPARADISFARAROCHIFRENOMARIDO.

    ASSALTANTEFEZODIABONOLITORAL.

    DEZMINUTOSDESEXOPORUMREAL.

    ELEMENTOPERIGOSOCAINOXADREZ.

    AUTOPEASERAUMAZONA.

    DESMUNHECOUESEDEUMAL.

    CRUZMACHADOVIRAPONTODABICHARADA.

    MOTORISTADOCARRODAPRINCESAESTAVABEBUM.

    MORREDEPOISDESURRARAESPOSA.

    MORREUFAZENDOOPONOSSODECADADIA.

    CUIDADO:TEMGATODEOLHONOSEUCARRO

    FOIDESCANSARNOCOLODOCAPETA.

    RABUDODOPARANGANHANASENA.

    NEGOBATENAMULHEREVIRAMARICANOXADREZ.

    Somenteparacitarumexemplodedesrespeitoaosdireitoshumanos,forado

    Brasil,emboraanotciaestejatambmassimreproduzidanoBrasil:Prostitutasso

    multadas emBlitz antidegradaoemFlorena. Otexto: Treze prostitutas foram

    multadas nanoite daltimasegundafeira, emFlorena, por trabalharemprximoa

    casas,comroupaseposturasnocorrespondentessnormaspblicasdedecncia.A

    punio integra o pacote de medidas antidegradao aprovado recentemente em

    diversas cidades da Itlia, que vigora desde ontem(11/08/2008). Est na Internet,

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u432714.shtml(sitedojornalFolhade

    SoPaulo/UOL).

    Enfim,otextofinalizacomumaautoridadeitalianadandoumadeclaraoque

    certamente,deacordocomoprprioentendimentododeclaranteoufonteparausar

    umjargojornalsticonoofendeningum.Detodaforma,valedestacaradeclarao

    daautoridadeeuropia, imprensamundial: Acreditamosqueestamosnocaminho

    certoquandointervimosnosfenmenosdeindiferenaededesobedinciaaosvalores

    deconvivnciacivilederespeito cidade", comentouosecretriodeseguranada

    prefeituradeFlorena,GrazianoCioni.SemComentrios.

    16

  • Osexemplossodiriosesdezenas,atporqueosjornaissodiriose,claro,

    ascoisasnoparamdeacontecer.SegundoaOrganizaodasNaesUnidas(ONU),a

    cada13minutosumapessoaassassinadanoBrasil.Assim,so110cidadosmorrendo

    porcausadaviolnciapordia.Contandoqueumafamlia,emmdia,compostapor

    outrosquatrointegrantes, pelomenos440familiares precisamlidar comadolorosa

    notciadamorteviolentadiariamente.Eparapiorarascoisas,onoticiriocorrobora

    paraaumentaraindamaisessador.

    Easnotciasestol,quentinhas,muitasrequentadas,estolnaprximabanca

    dejornal;nozappingdocontroleremoto;noprximoclicdomouse;nodial do

    rdioounabocadovizinho,docolegadetrabalhoe,infelizmente,dentrodemuitas

    casas.Umaquestodeestilo.EstilonalnguadoPdepreconceito.

    AnnaMarinaBarbar socilogaformadapelaPUCRio,mestreedoutoraem

    Histria pela UFF, trabalhou como pesquisadora da ONG: "Davida, Prostituio,

    Direitos Civis, Sade" em 2005 e publicou As Meninas da Daspu. No release de

    divulgaodoseulivro,aassessoriadeimprensadaautoraescreveu.

    H umapiada quediz queumaprostituta tudo, menosumamulherdevidafcil. Olivro, AsmeninasdaDaspu,deAnnaMarina Barbar, da Editora Novas Idias, mostra que todabrincadeiratemumfundodeverdade.No,asprostitutasnotmumavidafcil.Aocontrrio:aprostituio,paraelas,aconteceucomoumasadanaturalparaapobreza,paraarigidezfamiliar,paraasolido.Prostituio,acimadetudo,umaprofissoquesreconhecidacomoumbemmaiorporquemprecisadelaprostitutaseclientes.Umdepoimento:Cuideidosmeusirmose no pude estudar. A gente trabalhava muito na roa. Ns plantvamoscana,milho,mandioca,feijo,melancia.Colhamos cocoparafazerdend.Minhameiaparaaribeiralavarroupa edepoisficavalimpandobucho.Aspessoaspagavamaelapara salgar aquelas carnes todas. Ento, de tarde, l pelas cinco horas,eueminhairm,agentetomavabanho,davabanhonos dois,deixavaleiaparaaribeiraajudarminhame,porqueeramuitacarne,paradeixaremcasaparaosdonosirempegar. Foiassimdosseteaos14anos.Aminhavidaeraessa.Infncia mesmode brincar comoutra criana a gente no tinha. Era muito trabalho, muito trabalho mesmo. Foram nove osdepoimentos,colhidospelapesquisadora,quemostramque,portrsdamulherseminuanaesquinadeCopacabana,noinferninhoda Praa Mau ou na vastido da Central do Brasil, existempessoas comsonhoscomoqualquer mulher direita. Afinal isso que elas so: trabalhadoras com rotinas, ascensoprofissional,sonhosdeumamelhorvida.

    17

  • ACORESPONSABILIDADEDAFONTEQuandoaimprensanoinvestiga

    O CRIME DE IMPRENSA pode ser cometido no somente pelo jornalista ou pelo

    veculo que publica denncias infundadas, mas tambmpela fonte que divulgou a

    notcia.Nocasodeumdelegadodepolcia,nasuamaioria,gentemuitovaidosaque

    muitasvezesconvocaaimprensaparamostraroservio,paraapresentarumsuspeitoou

    umpresumvelcriminoso,estetambmcoresponsvelpelageraodanotcia.Todos

    cometeramomesmocrime.Aautoridadepolicial,pelaprecipitao,ojornalista,por

    noterchecadoafonteenotersidocuidadosonahoradotratamentodoassuntona

    matria(naredaodotexto).Salvorarasexcees,amaioriadosjornalistaspoliciais

    nocostumacontestarafontequandoelaoficial.Odelegadofaloutfalado,rezaa

    normadomeiopolicial.

    Emboratenhaumconselhodeticaparaorientarosprofissionais,oSindicato

    dosJornalistasdoParanadmitequeojornalistanotenhatempoparaficardiscutindo

    tica.Comrelaochecagemdafonte,oreprter,quandorecebeumainformaode

    fonteoficial,nocasodeumdelegadodepolcia,provavelmenteimaginaqueseest

    vindodeumaautoridadepblica,entoproblemadela.(13)

    Hoje,qualquercidadoquesejaacusadoporqualquerdelegadoecujonome

    caia nas mos da mdia, est sujeito a sofrer um massacre que dificilmente ser

    reparado, admitiu o jornalista Audlio Dantas (14) na comisso julgador do XVII

    PrmioJornalsticoVladimirHerzogdeAnistiaeDireitosHumanos.SegundoDantas,

    tambmquemuitodifcilfazervalerodireitoderetratao,escrevendoumacarta,por

    exemplo,quecertamentetercomorespostaumtextoiradodoautordennciaoudo

    prprioveculo. UmdosmaisgravesequvocosdeimprensanoBrasilaconteceuna

    cidadedeSoPaulo,noqualamdianacionalembarcou,foioCasodaEscolaBase:

    OepisdioficouconhecidocomoCasodaEscolaBase.Nofoiummexerico qualquer. Lcia Tanoue e Cla Parente, mes de alunos,denunciaramaodelegadodo6DistritoPolicialdeSoPauloqueseusfilhosteriamsofridoabusosexualnaescola.Nodiaseguinteaorelatoque fez na polcia e temendo que o caso no fosse devidamenteinvestigado,LcialigouparaaRedeGlobodeSoPaulo,originandoo

    18

  • furo jornalsticodo reprter Valmir Salaro. Ahistria repercutiu namaioriadosjornaisdoPas.Oqueseviuemseguidafoiumasomatriadeerros,prjulgamentosesensacionalismodaimprensaquearrasouavidadeseispessoasedeixoutrscasaisemfrangalhosPaulaMilhim,sciadaescolinhaeMaurcioAlvarenga,motoristadaKombiescolar,sesepararamapsoocorrido.IcushiroeMariaAparecida,donosdocolgio, aindatentamreconstruir suasvidas. MaraCristinaFranaeSaulo daCosta Nunes, ela professora, ele seu marido, que at pelahumilhaodaprisopassaram,nuncamaisforamosmesmos.Hoje,asvtimasdaimprensavivememisolamentoetentamcobrardoEstado,odescalabroqueforamasinvestigaesquefizeramdelesalvosfceispara juzes, armados comcanetas, microfone e pouqussimo bomsenso.Acuseprimeiro,apuredepois. Essafoianicaregraseguida.Ningum lembrou que todos so inocentes, at que se prove ocontrrio.(15)

    Nestecaso,ningumsepreocupouemchecarafonte.Aimprensaacreditoue

    reproduziuaversodafonteoficial,daautoridadepblica,nessecaso,odelegado.O

    casodaEscolaBasedeSoPaulotemsidocitadoporquefoipraticamenteaprimeira

    feridaasertocadacommaiscoragemeumpoucomaisdesensocrtico.Luz,cmera,

    ao.Quandoodelegadofala,averdadeestescrita.Ningumcontesta.Publicase.

    EquandoPolciaeImprensasolevadasnaconversa?

    Nodia15deagostode1996,umtelexenviadopelodelegadodoServiode

    Investigaes de Crianas Desaparecidas (SICRID), Carlos Roberto Bacila, para as

    redaes dos principais jornais dopas informavaque foraencontrado, emManaus

    (AM),ummeninoqueseriaLeandroBossi, desaparecido, desde15defevereirode

    1992,emGuaratuba,litoraldoParan.Foiumabomba.Todososjornaisderamcomo

    sendoomeninodesaparecido.AsmanchetesdavamqueLeandroBossiencontrado

    vivoemManaus, estampandofotosdelee dopai, abraados. Cenasnapraia. Tudo

    caminhava para umfinal feliz. A imprensa desprezava cada pista. Ningumsequer

    cogitava umexamede DNA. Os jornais tratavamo caso comose ele j estivesse

    concludo.OtestemunhodeJooBossijforasuficiente,afinaleleeraopaieno

    iria confundir oprpriofilho. Tudoeraconduzidoparaa emoo. Poucasvezesos

    jornais se referiam ao suposto Leandro ou como Leandro/Diogo Moreira, No de

    registro,depoisderaptado.Nofinal,tudonopassavadearmao.Eumgarotode

    dezanospassouaconversanaimprensa.(16)

    Da mesma forma, a partir de informaes de delegados ou informantes da

    polcia,pessoassodiariamenteridicularizadasnosprogramaspoliciaisdateleviso,do

    19

  • rdio e nas primeiras pginas dos jornais de Curitiba. Pessoas que sequer foram

    julgadas.Nopassamdesuspeitosoudeenvolvidosdiretamenteouno,emcrimese

    confuses. Tratase de um noticirio que fere um direito fundamental da pessoa

    humana:odireitodignidade.Eoquepior,semnenhumainvestigao.Anotcia

    comeaeterminadentrodadelegaciadepolcia.

    Pessoassoacusadas,condenadasepunidaspelaimprensa,semdireitodefesa.

    Incompetncianaapuraodosfatos?Desinteressepelaverdade?Outudoenomeda

    notciaumprodutovenda?(17)

    Percebesequeocinismotomoucontadaimprensaeosensacionalismopassou

    aserumaestratgiademercadoparaconquistar pblico. Aviolnciase transforma

    numagrandevitrineparavenderjornal.EmCuritiba,porexemplo,ojornalTribunado

    Paranespecializadoemjornalismopolicialvendemaisde30milexemplaresem

    banca,ssegundasfeiras,deixandooprimeirocolocado,duranteorestodasemana,o

    jornal GazetadoPovo,muitos nmerosatrs. Ainformaofoidadaemagostode

    1997,peloentodiretorderedaoCarlosAlbertoTavares.Ojornalinformouainda

    quequandomorreuopilotobrasileirodeFrmulaUmAirtonSena,(01Mai.94),a

    Tribunachegouavender70milexemplares.(18)

    H profissionais quetrabalhamcomorecursodasfontes ocultas lanando

    boatosdirios,abrigadosnaimpunidadeaconchegantedoanonimato. Sabesemenos

    quantomaissel,poisumareportagemcontradizaoutra.

    NOTCIAPRODUZIDACircoarmado

    AIMPRENSATEMPODERparamanipular,produzireconduzironoticirio.Observao

    presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paran, Emerson de Castro. Para

    exemplificar,EmersonCastrocitadoiscasos,descritosaseguir:(19)

    No incio do anode 1997, dois policiais civis, usandoarmas verdadeiras,

    entraram numa estaotubo*, disfarados de bandidos. Acompanhados pela

    reportagem do jornal Tribuna do Paran, deram voz de assalto para o cobrador,

    provocandoummalestar geral. Issotudoparaprovaravulnerabilidadeeafalta de

    segurananaquelelocalpblico.Eningumsabiadenada,nemocobradorqueganha

    umbaixo salrio para cuidar de muito dinheiro que entra diariamente na caixa da

    20

  • catraca.Conseqncias:ojornalpublicouanotciaqueajudouainventareaproduzir,

    ignorandoquaisqueraspectosticosdocompromissocomaverdadeealgumaspessoas

    tiveramdeserhospitalizadasporquepassarammal.(*20)

    Nomesmoano,porocasiodoacidentecomoaviodaTAMquesegundoa

    polticateriaumabombaabordoumaequipedeproduodaTev Globoenviou

    caixaslacradascomfalsasbombas,porvriosaeroportostambmparaprovarafaltade

    segurana dos mesmos. E conseguiu. E com isso conseguiu tambmproduzir uma

    matriajornalsticaexibidanohorrionobre.

    JooFdercontaqueem1995,umarededetelevisodoJapotambmarmou

    umasituaoaindamaisviolenta.Osprpriosjornalistasecinegrafistasmontagema

    encenaodeumestupro, gravaramtudoemtemporeal e mostraramemhorrio

    nobre, no noticirio da tev. Essa produo teve conseqncias graves. Umadas

    meninas nosuportouasuaprpria exposioaoridculoesuicidouse, jogandose

    embaixodeumtrem.Nodiaseguinte,descobriramtudo.Ento,odiretordaemissora

    foiaoar,pediudesculpasaopblicoedisseque,comopunio,ficariaumanosem

    receberosalrio.Eda?Reparouemparte?Talvez.

    Ficoerealidadeestonofiodanavalha.Notciadeveriaseradivulgaode

    fatosverdadeiros. Masnosltimos temposanotcia seconfundecomasarmaes,

    produes,boatariasecomjogosdeinteressespessoaisoudegrupos.

    Ojornal impressoregistra, parasempre, aespetacularizaodaviolncia, do

    grotesco, do inusitado, da indignidade humana. A televiso, como uma comadre

    fofoqueira,invadeassalasdejantar,deestar,acozinha,osdormitrioseconta,timtim

    portimtim,oqueacontececomavidadosoutros.Equandonotemcerteza,inventa.

    Oqueelanopodedeixardefazercontar,espalharanotcia,ouboato.Noimportam

    osmeios.Oqueinteressaofim.cumpriroobjetivodecomunicar.

    Natelevisotemprofissionaisquesoverdadeirasestrelasmuitobempagas,

    masquandosetratadejornalismoessasduascoisasnocombinam,afirmaEmerson

    deCastro.Naopiniodele,ohumoristaJSoaresdesqualificaoentrevistado,tira

    sarrodaspessoasquelevanoprograma.Castrorecordasedeumaentrevistacomo

    cantorMiltonNascimento,quandooapresentadorJSoaresficouumblocointeiros

    falando do chapu do artista. Enquanto que o compositor teria coisas bem mais

    interessantesparacontar,naopiniodojornalista.

    21

  • Aproposta, no entanto, do programa do J Soares no exatamente fazer

    jornalismo.TratasedeumTalkShowprogramadeentrevistaedeentretenimento,

    cujomodelotemsidocopiadodosEstadosUnidosprecursornaatividade.

    O escritor norte americano, Mitchel Stephens, no seu livro, Histria das

    Comunicaes doTant aoSatlite, escreveu: Nenhumveculodedivulgaode

    notciaoferecemaisinteraorealemaiscontatodevizinhanadoqueateleviso.Os

    telespectadoresvivemnummundoderealidadeindireta.Cadavezmais,falamepensam

    arespeitodepessoasquenoconhecem,acercadelugaresondenotmestadoo

    apresentadordatevsubstituiuonovidadeiro,oamigo,ofofoqueiro.

    POBREZADCADEIAOcrimedeserpobre

    NAREPORTAGEM POLICIALmuitosnemhesitam.Acusarpareceserapalavrade

    ordemnasredaes;overbotransitivodiretodamanchetedecapa.Bastaparaissoque

    aacusaosejaforte,eoacusado,fraco.Agrandemaioriapobreeacreditanoter

    nenhumescudoparaprotegersedosfrancoatiradoresdamdia.Pordesinformaoou

    pelobombardeiodeinformaesdistorcidaseantiticasaqueestsujeitatodososdias.

    Pessoas mais humildes, sem recursos financeiros, quando vitimadas pela

    imprensa nemsabemquepodecontratar umadvogadopara defendlas. Ea mdia

    escolhe essas vtimas porque j esto condenadas pela sua misria, indigncia e

    condio social. Elas j so vtimas da sua prpria condio, logo no se sentem

    fortalecidas para reagir. Talvez pensem, ser normal essa constante exposio ao

    espetculodamdia.

    Enquantoisso,osjornaispoliciaiscontinuampublicandofotografiasdepessoas

    pobresmortasinclusivefotosdeprostitutasemposiesindignificantes,tantopara

    suamemriaquantoparaseusfamiliares.Eissoacontecesemamenorconseqncia.

    TratasedecrimeprevistonoCdigoPenalBrasileirocomovilipndioacadver.H,

    portanto, diariamente, flagrantes devilipndioacadveres (violaodaimagemdos

    mortos) quando fotos de corpos humanos so expostas em posies ridculas nas

    primeiraspginasdosjornaisounateleviso.

    Quandoumapessoapobreehumilde,semconscinciadeseusdireitosvno

    jornalafotografiadafilhaestampadanaprimeirapgina,semcalcinha,ensangenta,

    22

  • semumbrao,claroqueelasesentehumilhada,masnosabeoquefazerafirmao

    presidentedaFederaoNacionaldosJornalistas(Fenaj),AmricoAntunes.(21)

    Equalseriaomecanismoparafazercomqueamdiarespeitasse,pelomenos,o

    mnimoestabelecidopeloartigo5daConstituioFederal?

    Nocasodosprogramasdeauditrio,derdioeteleviso,oumesmonosjornais

    impressos, que exploramesse filoda violncia, do sangue, da tragdia humana, a

    questo no se restringe unicamente ao jornalismo. Muitas pessoas que esto no

    comandodessesensacionalismo,nemjornalistasso.Temmuitoartistafazendoisso.E

    essaquestotemdesertratadasoboutropontodevista,sobalgoquetranscendeo

    aspectodaticaoudaliberdadedeimprensa.Envolveaquestolegaldoexerccioda

    profisso. Emmuitos casos, esses apresentadores violam princpios constitucionais,

    incitamaviolncia,cometemcrimesdeimprensa.Oquenstemosquefazercontar

    com os setores mais esclarecidos da sociedade, com o Ministrio Pblico para

    auxiliarmosasvtimasdessescrimeslevandoasaoexercciodasuacidadaniaereparar

    possveis danos. A prpria imprensa sria tem por obrigao fazer isso, sugere

    Antunes.

    Osdanossofridosporumapessoaacusadaapressadamentepelaimprensaso

    irreparveis. Nosveculos decomunicao, principalmentenaquelesqueexploramo

    noticiriopolicial,ningumsuspeito,todomundocriminoso.Desdequenohaja

    proteoeconmica,obviamente.

    O reprter, o apresentador de programas policiais do rdio ou da televiso,

    muitas vezes, acaba assumindo uma posio acima do bem e do mal. Acaba

    confundindoseupapelnasociedade.Estejaelearmadocomsuacaneta,suacmera,seu

    microfone,noimportaeleautoridade.Suaaudinciadoflagrante,dasentenae

    transformaonoticiriopolicialnumgrandeshow,numespetculodemdia.

    NatalcioNorbertoensinaqueparacobrirmatriaspoliciais,oreprterprecisa

    possuir inteligncia superior, coragem, sanguefrio e carter. Todavia, esses pr

    requisitos,nostemposatuais,maisseassemelhamaosatributosdeumsuperhomem.O

    reprteracabasecolocandosuperiordemais:acimadetodasascoisas;suacoragem

    extrapolaalegislaoeinvadeaprivacidadedaspessoas.(22)

    A informao jornalstica essencial para a democracia, mas o que est

    acontecendonoBrasiloexcesso.AConstituioFederalBrasileirarezaaproteo

    23

  • informaocujoconhecimentosejarelevanteparaaparticipaodoindivduonavida

    em sociedade, mas muitos profissionais da imprensa esto interpretando mal esses

    preceitos. Fofocasebisbilhotices sobreavida ntimadaspessoasnotmproteo

    constitucional para quem as pratica. crime de calnia, injria ou difamao

    dependendo do caso. Acusar uma pessoa, publicamente, de umcrime que ela no

    cometeudcadeiaemqualquerlugardomundo,atnoBrasil.Bastaqueaspessoas

    sejammaisbeminformadassobreseusdireitos.Alis,essedeveriatambmserpapelda

    imprensa.

    Maispessimista,oprofessordeticadaComunicao,daUFPR,JooFder

    pergunta:qualopobrequevaicontratarumadvogadoparprocessarumveculode

    imprensa?Equaloadvogadoquevaiterpeitoparaenfrentaropoderdamdia?(23)

    SEMMEDOESEMLIMITECoisadereacionrio

    MAS ESSE RECEIO emcensurar a imprensaemparte verdade. AConstituio

    Brasileira nopermite censuradeformaalguma. H vrios artigos queenfatizama

    liberdade de expresso. A partir disso, acontecem os abusos da prpria mdia que

    tambmtornouviolenta. Eopoderpblicoest incapacitadodeconteressesabusos

    porqueestarcometendoumatodeexceo,antidemocrtico.Entosurge,aliberdade

    total=abuso.NaanlisedoprofessorFder,humrisco.Seforpermitidaumameia

    censura,ningumseguramaisprevine.(24)

    Ironicamente a imprensa sobrevive fazendo tudo aquilo que no passado

    abominava.Nosanosdaditaduramilitar,umdosfocosdeesperanaederesistnciaaos

    abusosdoEstadoforaaImprensa. NaopiniodojornalistadaFolhadeSoPaulo,

    GilbertoDimenstein,atacaraimprensanassociedadeslatinoamericanasfoi,emgeral,

    prtica dos generais; da, a tendncia emseconfundir fiscalizaocom tortura. Ao

    compararojornalismobrasileirocomodosEstadosUnidos,eledizquel,oscrimesde

    imprensasosumariamentepunidos.Rendemganhosdecausasmilionriassvtimas

    deeventuais erros jornalsticos. Comoaimprensanorteamericananopassoupelas

    mesmas atrocidades que a brasileira, a sociedade, amparada por Organizaes No

    Governamentais(ONGs)epelojudicirio,levaessescrimessltimasconseqncias.

    Enquanto no Brasil parece violncia processar um jornalista ou um veculo de

    24

  • comunicao mesmoquando cometemcrimes de imprensa (calnia, difamao e

    injria).Eessescrimessopraticadostodososdias,emtodooPas.Jfazempartedo

    cotidianodojornalismo,damdia,demodogeral.(25)

    Damesmaformaaexcessivapermissolevaaoabuso.Oprofessordefilosofia

    daUSP,RichardPedracini,ressaltaqueaquesto,almdejornalstica,ticaequepor

    causadisso,adiscussotemdepartirparaasviaslegais.(26)

    ParaoadvogadopaulistaAndrMartins,nosepodeterliberdadeirrestritade

    informao.Eledizqueaimprensaprecisaserresponsveleissosignificalimitarsua

    liberdade. Claroquenodefendemosnenhumtipodecensura, masoprincpio da

    responsabilidadecivil,paraquecidadosnosejamexpostos,diantedaopiniopblica,

    comofensasedennciasinfundadas,afirma.(27)

    Oadvogadocarioca,ManuelAlceuAffonsoFerreira,especializadoemDireito

    deComunicao,dizqueapartirdaEscolaBasedeSoPaulo,asredaescomearam

    passarumpoucoalimpooseuprpriocomportamento. Emsuaavaliao,todasas

    faculdades de jornalismo deveriam ter as cadeiras de tica e de Direito da

    Comunicao.(28)

    RenArielDotti,professordeDireitoPenaldaUniversidadeFederaldoParan,

    enfatizaqueoconflitoentrealiberdadedeinformaoeosdireitosdapersonalidade

    devemsempreserresolvidosemfavordointeressepblico,visadopelanotcia.(29)

    Obrasileiroprecisacomearareivindicarindenizaesquandoasuaimagem

    foragredida.Eobolso,tantodosjornalistas,quantodasfontesedosempresriosdo

    setordacomunicao, namedida emqueforameaado, poder tambmcomear a

    mudaraculturadaimpunidade.

    Poucos rgos de imprensa correro riscos de ter que pagar indenizaes

    milionrias.Namesmaproporoemqueasagressescontraahonradaspessoasforem

    resultandoemprejuzoparaosveculosdeimprensa,vaisecriandoumanovapostura

    diantedaopiniopblica.

    NosEstadosUnidos,osadvogadosmovemaesmilionriascontraosveculos

    decomunicaoemassa.NoBrasil,issotambmpodeserfeito.Qualqueradvogado

    podemoveraescontraaimprensa.MasdeacordocomaanlisedoprofessorJoo

    Fder,esteprofissionalouestecidadoenfim,temdeterpeitoparaenfrentaropoder

    25

  • damdia.Alis,opoderquemaiscresceunomundointeiro.oquartopoder,seno

    foroprimeiro,enfatiza.

    Umaprovadissoque,maisdequinzeanos,quandoajuzaDeniseFrossard,do

    RiodeJaneiro, comeouaprender os bicheiros cariocas, omedodeles noerado

    Judicirio,atporqueestemoroso,burocrticoepostergante.Omedodosbicheiros

    eraodeaparecernoJornalNacional,daRedeGlobo,ounosjornaisdemaneirageral.

    Paraeles(osbicheiros),acondenaovempelamdia.Omedonoeradajuzae,sim,

    dopodercondenatriodaimprensa.

    Tudoissoparececolocarojornalismoacimadobemedomal.Aparentatratar

    sedeumaclasseprotegidapelagarantiadaliberdadedeexpresso.Mas,senohouver

    bomusodessaliberdade,podeacontecerocontrrio.

    Paracoibirabusosnaimprensa,aFederaoNacionaldosJornalistas(FENAJ)

    defende a criao de um conselho nacional de autoregulamentao da imprensa,

    semelhante aoConarConselhoNacional deAutoregulamentaoPublicitria que

    analisaocontedodasmensagenscontidasnaspropagandassesoounoofensivas

    tica. Equandosim, soimediatamente retiradas deveiculao. OConar temdado

    provassuficientesdequefuncionaepassouaservirdeparmetroaosjornalistas,h

    algumtempo.

    Aintenodereunirosempresrioserepresentantesdordio,dateleviso,dos

    jornais,dasrevistas,radialistas,jornalistas,artistas,locutores,reprteresfotogrficos,a

    fimdeestabelecerummnimoticoparaosmeiosdecomunicao,nonosmoldesde

    censura,sempreficanaintenoounareunio.Poucoacontecerdeconcreto.Todavia,

    semprebomfrisarquenosepodeconfundircensuracomcontroleexterno.Issoseria

    umavisotacanha,porqueopretextodaliberdadedeimprensanopodemaisservir

    comojustificativadeabusoseatdecrimesnosmeiosdecomunicao.Aliberdadede

    imprensanoautorizaojornalistaaagircomirresponsabilidade,nemtampoucoafazer

    oquequisercomavidadosoutros.

    Nos Estados Unidos, na Alemanha e Inglaterra, para citar alguns exemplos,

    renemserepresentantesdasociedadecomprofissionaisdeimprensaeproprietriosde

    veculos de comunicao para discutir princpios ticos do setor. Na melhor das

    hipteses,porumaboacomunicao.

    26

  • OSCDIGOSDETICACompromissocomaverdade

    NSACREDITAMOS queosagentesdacomunicaodemassasocondutoresda

    discusso e da informao, pblicas atuando segundo o seu mandato e liberdade

    constitucionais de conhecer e relatar os fatos. Ns acreditamos no desempenho

    inteligenteeobjetivo, corretoehonestodojornalista. (Cd.DeticadaSoc.Dos

    JornalistasProfissionaisSigmaDeltaCHIEUA,1984).

    O jornalista deve evitar a divulgao de fatos com finalidades apenas

    sensacionalistas; de carter notoriamente mrbido ou que tripudie sobre os valores

    inerentes ao ser humano; que possamprejudicar pessoas inerentes ou visivelmente

    indefesas.(Art.12doCdigodeticadoJornalistaFENAJ/RJ,1985).

    Noartigo6daDeclaraodePrincpiosdaSociedadeAmericanadeEditores

    de Jornais est escrito que os jornalistas devem respeitar os direitos das pessoas

    envolvidasnasnotcias,devemobservarospadrescomunsdedecnciaecolocarse

    emposiodetransparncia,diantedopblico,quantoimparcialidadeeretidodo

    noticirio.

    Nomesmoartigorezaqueaspessoasacusadaspublicamentedevemreceber,

    tocedoquantopossvel,aoportunidadederesposta.Ocompromissodeconfiabilidade

    peranteasfontesdenotciasdeveserhonradoatodoocustoe,porisso,nodeveser

    assumidolevianamente. Anoserquesejaclaraeurgenteanecessidadedemanter

    sigilo,asfontesdeinformaodevemseridentificadas. Essesprincpiossocriados

    para preservar, proteger e fortalecer os laos de confiana e de respeito entre os

    jornalistaseopovo,laosessenciaisparsustentaragarantiadeliberdade.(38)

    Sobttulos diversos, existemcdigosdedeontologia numgrandenmerode

    pases:cdigosdehonra,cdigosdaimprensa,declaraodosdireitosedosdeveresdo

    jornalista, cartadosdeveresprofissionais, normasdejornalismo,etc. Essavariedade

    encobreoutra:adocontedodasnormasreunidasnessasrecopilaessejaqualforseu

    ttulo.Contudo,namaioriadessescdigos,verificamsecertascaractersticascomuns,

    valendo ressaltar, especialmente, as que dizem respeito funo primordial da

    imprensa, que consiste em informar, e informar corretamente. Por essa razo, os

    jornalistastmaobrigaodedefenderaliberdadeeaindependnciadainformaoe

    docomentrio,noentendimentodequeessasduasfunesdevempermanecerdistintas;

    27

  • derespeitaraverdadee,porconseguinte,nodeformlamedianteapresentaoparcial

    ouenganosa;deverificaraveracidadedainformao;depublicarasretificaesque

    resultemnecessrias;demanterosegredoprofissional; denodivulgarasfontesde

    informao(emboravriospasesnoreconheamestaltimaobrigao).

    Outrassoobrigaesquedecorremmaisdamoralelementar:porexemplo,a

    proibiodecaluniaroudifamar,ouderevelaravidaprivadadaspessoas;adeatentar

    contra a moralidade pblica, fazendo a apologia da violncia ou do vcio; a de

    recorrer ameiosdesleais, comodissimular/prevaricar dacondiodejornalista para

    obterinformao(nesteltimoaspectohmuitadiscusso).Outrastmsuaorigemna

    solidariedadequedevereinarentreosprpriosjornalistas:aqueexigemtuaajudaea

    queprobeprticascomooplgioouaconcorrnciadesleal.(31)

    OMBUDSMANPoliciandooscolegasnaredao

    OS CONSELHOS DE IMPRENSA tmafunodemanteraticaprofissionalemum

    nvelelevado.OprimeiroconselhofoicriadonaSucia,em1916.L,oConselhode

    Imprensadesempenhasimplesmenteafunodeumtribunaldehonra,enquantoum

    ombudsman (ouvidor) da imprensa, juiz da profisso, examina as reclamaes do

    pblicooutomadiretamenteainiciativadeaescontraosabusosdaimprensa;pode

    decidirpelasubmissodeumaqueixaComissodePrticasHonestasdoConselhoda

    Imprensa.Otermosuecoquerdizeraquelequerepresenta.Ombudrepresentantee

    manhomem,comonoingls.(32)

    Massomenteapartir dadcadade1970,essesconselhos, emvriospases,

    assumirama condiode guardies da tica. Mas tm,particularmente, por funo

    defender a liberdade de imprensa. Por esse motivo, descritos como ces de duas

    cabeas, uma ladra para o interior, enquanto a outra, ladra para o exterior. Alguns

    conselhos (na Alemanha e na Inglaterra) tm inclusive por misso observar e dar

    conhecimento ao pblico da evoluo estrutural da imprensa, especialmente das

    tendnciasconcentrao:essafunopode,almdisso,serconsideradaderivadada

    liberdadedeimprensa.(33)

    ComapropostadanovaleideimprensanoCongressoNacionaldesde1990(ver

    anexos), a Federao Nacional dos Jornalistas prope a criao de um Conselho

    28

  • Nacional de Comunicao para, entre outras coisas, elaborar umcdigo de tica e

    estabelecerumaparticipaonasredaescriandoconselhosdeimprensaounelesse

    fazerrepresentar.

    Todavia, os prprios jornalistas, como corporao profissional, enfrentam

    resistnciasdosproprietriosdosveculosqueentendemcomocensuraprvia.Horror

    deumpassadorecentequeoBrasilqueresquecer.

    OBrasilsveioconhecerafiguradoombudsmandaimprensaemsetembrode

    1989quandoCaioTlioCostafoinomeadoparadesempenharafunonaFolhadeSo

    Paulo.Naverdade,elefoioprimeiro ombudsmandaimprensanaAmricaLatina.O

    papeldessejornalistadefenderoleitordentrodaprpriaredaodojornalparaoqual

    trabalha.

    Oprimeiroombudsmandaimprensabrasileiracontaqueinicialmente,percebeu

    quelhefaltavaqualidadeparaopapel, apacincia. Exerciteimeemdesenvolvla

    paraentender,comomesmointeresse,svezesmaisde50reclamaesidnticasnum

    mesmodia.Noteitambmqueningumseriaumbomombudsmansenoconhecesse

    profundamente a legislaoqueenvolve seumaterial de trabalho. Eu,queconhecia

    superficialmenteanovaConstituio(1988),aLeideImprensa(5.250)eoscdigos,

    PenaleCivil,tivedeiratrsdealgumasnoesdeDireito.Foiquandoviquens,os

    jornalistas,nosabemosnemadiferenaentremandatoemandado.Porfalarnisso,o

    mandatodoombudsmandaFolhadeSoPaulodenomximodoisanos.Trechoda

    apresentaodolivrodeCaioTlioCosta,ORelgiodePascal.(34).

    Oombudsmannomeadopeladireodojornalporumperodoinicialdeum

    ano,renovvelporapenasetosomentemaisumano,seambasaspartesestiveremde

    acordo.Hjornaisondeosmandatossomaiores,atdezanos.Masoombudsmanno

    podeserdemitidonesseperodoegozaaindadeestabilidadenaempresapormaisum

    ano,apsdeixarocargo.Tudoporcausaadelicadezadafuno,parapreservarsua

    independncia.

    Osombudsmensoamadospelosleitoreseodiadospelosjornalistas.preciso

    enfrentar fortes reaes corporativistas dentro das redaes e do prprio meio

    profissional. Tlio Costa conta que o cargo na Folha de So Paulo rendeulhe

    desavenaseaperdadegrandesamizades.

    29

  • Hoje,asdecisessotomadasnosgabinetesdopodere,emmuitoscasos,nas

    redaesdosveculosdecomunicaodemassa.Opovo,ocidadocomum,tornouse

    marionetedograndeespetculodamdia.EafiguradoombudsmannoBrasilainda

    desempenhaseupapelmuitotimidamente.EmCuritiba,ocorporativismodificilmente

    permitiriaainstituiodessecargonaredaodeumjornal.Ostextossoverdadeiros

    tratados,nosepodemexerneles.

    Ningum conhece totalmente as funes dos veculos de comunicao de

    massa,poisemgeralelassotopenetrantesesutisquenopodemserlocalizadaspor

    meiodepesquisasocial(...)escreveuWrigthMills.(35)

    FATOEVERSOAcredibilidadedamdia

    PARAWALTERLIPPMANNemPublicOpinion(NewYork1922),citadoporWrigth

    Mills a maioria dos quadros mentais existentes na sociedade moderna resulta em

    produtosdosmeiosdecomunicaoatalponto,quemuitasvezes,muitagenteno

    acreditarealmentenoquevsuafrente,enquantonolarespeitonojornal,vna

    televiso ou ouve no rdio. Os meios de comunicao no proporcionam apenas

    informaes, orientam as experincias. Os padres de credulidade tendem a ser

    realidadesdeterminadasporelese,no,pelaexperinciapessoal.Chegaseapontodo

    indivduo submeter as suas experincias confirmao da mdia, tamanho a

    credibilidade,ainflunciadosveculos.(36)

    Aspalavrasvencemguerrasouvendemsabo;agitamouacalmamopovo.A

    afirmao do terico norteamericanoJ. TruslowAdamsemfraseatribuda a um

    publicitrionorteamericanodadcadade1920.(37)

    Assim,aspalavrascondenameabsolvemosindivduos,ignorandoopapelda

    Justia. E essa condenao por palavras fica registrada nos anais dos meios de

    comunicaodemassa,daqualfoiorbitro.

    ParaEdgarMorin,filsofofrancscontemporneo,asociedadedosculoXX

    sofresimultaneamentedesubinformaoesuperinformao,deescassezedeexcesso.

    Ele afirma que o excesso abafa a informao quando estamos sujeitos ao rebentar

    ininterruptodeacontecimentos sobreosquais nosepodemeditar porquesologo

    30

  • substitudosporoutros.Assim,aoinvsdeperceberoscontornos,asarestasdaquilo

    queosfenmenostrazem,aspessoasficamcegasdentrodeumanuvemdeinformaes.

    Eseasfortesimagensdefome,desgraas,desmoronamentos,desastresvoltamtodos

    os dias, comoaconteceu durantea GuerranoVietn, noCamboja, noAfeganisto,

    ento, elas se saturam e deixam o pblico saturado, banalizamse. Enquanto a

    informaodformascoisas,asuperinformaosubmergeasociedadenoinforme.

    (38)

    Aocriticaraquedadosregimesautoritriosdomundo,Morindizqueagora

    continentes inteiros tornaramse novamente desconhecidos, as antigas manchas

    geogrficasbrancasforamsubstitudaspelasimensaszonasdesilnciosociolgicoe

    polticoqueso,aomesmotempo,zonasdeinformaofico.(39)

    Deacordocomesses tericos e tantos outros pensadores que j escreveram

    sobre os fenmenos da comunicao de massa, h uma tendncia no pblico em

    acreditarmuitomaisnaversodoquenosfatos.

    Carlos AlbertoDiFrancoafirmaquede algumtempoparac, os meios de

    comunicao social, particularmente os eletrnicos, parecem ter escolhido a crnica

    policial como filo predileto. Declaraes de bandidos aparecemagora emnmero

    semelhanteaodasentrevistascomministrosdeEstado.Ainformaocorreoriscode

    ser condicionadapelos esquemasdeumshow.Existe umaconfusocadavez mais

    perigosaentrejornalismoeentretenimento.DiFrancocitaosocilogonorteamericano

    Neil Postman, que disse: ns acreditamos to passivamente na mdia que no

    questionamos mais o mundo que ela nos descreve. O insignificante nos parece

    importante, a incoerncianosparecesaudvel. Entramosnaculturadatrivialidade.

    (40)

    FORADOARImprensaecidadania

    NO FINAL DE 1997,osapresentadores deprogramaspoliciais deteleviso, em

    Curitiba,LuizCarlosAlborghetti(ProgramaAlborghetti,TevIndependncia,canal7)

    eCarlosRatinhoMassa(programa190Urgente,CNTCentralNacionaldeTeleviso)

    tiveram seus programas levados Justia (ver anexos). Essas emissoras foram

    condenadasapagarmultasquevariavamdeUS$10milaUS$50mil,cadavezque

    31

  • essesapresentadoresdesrespeitaremosdireitosindividuaisdopresooudosuspeito

    mostradonosprogramas.Adeterminaodoentojuizfederal1Vara,emCuritiba,

    ZuudiSakakihara, acolheuparcialmentepetioapresentadapeloMinistrioPblico,

    emaocivilpblica.

    Nasentena,ojuizlistouosprincipaisdireitosdosacusadosqueoprograma

    deverespeitar.Odireitodenoserofendidoemsuadignidadehumana;odireitode

    no prestar declaraes contra a sua vontade; o direito de no ser filmado ou

    fotografado emsituaes vexatrias e humilhantes; o direito de no ser exposto

    execraopbica;odireitodenoserprjulgadonemcondenadoporquemnoseja

    competente;odireitoaintimidade.

    OMinistrioPblicoFederalhaviasolicitadoaretiradaimediatadosprogramas

    doar,masojuiznaocasioconsiderouqueosmesmos,apardaviolaoquaseque

    diriadosdireitosconstitucionaisdocidado,possuitambmaspectospositivosque

    devemserincentivados.Naopiniodojuiz,oprogramaeducativoquandocombate

    ocrime,condenaacorrupoedesestimulaovcio.Masquandoesseprogramaeou

    esse apresentador/jornalista humilha o preso, submetendoo a situaes vexatrias,

    mostrandoo ao pblico contra a sua vontade, julgando, condenando, convocandoa

    populaoaolinchamento,nosdeseducacomotambmferedireitosindividuais.

    Ele faz um alerta s vtimas desses programas para que entrem na Justia

    exigindooressarcimentopelosdanosmateriais,moraisedeimagem.

    Oqueestportrsdessesabusoscontraaspessoas,sobretudocontraasmais

    humildes,primeiramenteumadisputaselvagempelomercadodainformao,pelos

    ndices deaudincia. Ea luta pela audincia sempre levouesses apresentadores de

    programaspoliciais Alborghetti, Ratinho, e outroscomoAugustoCanrio, Algaci

    Tlio,RicardoChab(processadopelaleideimprensaporexigirvantagempordeixarde

    publicarnotcia2008),acometeremabusos.Tudoporqueaudinciaresultaemlucro,

    dinheirovivo,altossalrios.Praticamojornalismoderesultados.Outrostminteresses

    polticos que tambmrefletem interesses econmicos porque faturam como cargo

    pblico.

    Quase sempre, os maiores abusos no meio jornalstico so cometidos por

    pessoasquenotmaformaoprofissional.So,namaioria,radialistasqueexercema

    profissodejornalista.Logo,soperigosascertasteoriasquedefendemaaberturado

    32

  • jornalismoparaqualquerumquesaibaescrever oucomunicarsedeformamais ou

    menoscorreta(?).

    Essesprofissionais,osapresentadoresdeprogramaspoliciaisnatelevisogozam

    degrandepopularidade.Ealgunsdessesapresentadores,graasaospontosdaaudincia,

    conseguem ser eleitos deputados, vereadores e at prefeitos. Com a imunidade

    parlamentar prerrogativa dos eleitos esses poderosos passam tambm a

    invulnerveis, intocveis. Isto, nopodemserresponsabilizados criminalmentepor

    seusatos,porquealeilhesasseguraquesseroprocessadoscomautorizaodeseus

    pares.Mascomoimperaocorporativismo,tudoficadomesmojeito.

    Apartirdesseprocesso,iniciadoemjunhode1997,aProcuradoriadaRepblica

    emCuritibapassouafazerumacompanhamentodasexibiesdetodososprogramas

    policiais da televiso. Embora alguns jornais e radialistas continuem fazendo

    linchamentomoraldaspessoasdonoticiriopolicial.

    Alinguagemfoimoderadaporumperodoquenoduroumaisdeumms.Aos

    poucos, foi voltando ao normal. Os apresentadores de programas televisivos e

    radiofnicospoliciaisficaramumpoucomaiscometidos.Masabonanadurapouco,

    logo todos os desempregados envolvidos em confuses viraram vagabundos,

    mulherespegasnosarrastespoliciaissoprostitutase,suspeitosviramcriminosos,

    assassinos,ladres,estupradores.Tudoacabanumaesquartejadapizza.Eaimprensa

    sensacionalistaprosseguecometendocrimesdecalnia,difamaoeinjria.

    TICANAMARRA

    Desconhecimentodasleis

    OADVOGADOCURITIBANOJoelSanwaysapostanumaticanamarra.Eleacredita

    quediantedepuniesexemplares,asdemaisemissoraseosdemaisprofissionaisda

    imprensapolicialficaromaiscautelosos.Paraeleojornalismodeveserexercidocomo

    umaprofissocomoqualqueroutraquetemoseucdigodetica.Seumadvogado,

    ummdico,ouumengenheiroagedemaneiradescorts,antiticaouatgrotescadiante

    deseucliente,eleserchamadoatenoeatpunidopelorgoregulamentadorda

    suaprofisso.Porquequeojornalistanodeveriaterumcuidadomaiorcomasua

    tica,comasuaposturaperanteoseuclienteopblico,deummodogeral?Pensoque

    33

  • existaumrgoquereguleisso.Agentepercebe,noentanto,quenoexisteacultura

    dessafiscalizao,dessavigilncia,afirma.

    ParaCarlosAlbertoDiFranco,aticajornalsticanoumdique,masumcanal

    deirrigao.Apaixopelaverdade;orespeitodignidadehumana;alutacontrao

    sensacionalismo; a defesa dos valores ticos, enfim, representam uma atitude

    eminentementeafirmativa.Atica,aocontrriodoquegostariamosdefensoresdeum

    moralismopiegas,noumfreioslegtimasaspiraesdecrescimentodasempresas

    informativas. Suas balizas, corretamente entendidas, mola propulsora deverdadeiras

    mudanas.

    Profissionaisquetrabalhamnamdia,comoemqualqueratividadedesenvolvida

    pelohomemestosujeitosaerros.Umbalanosereno,noentanto, indicaumsaldo

    favorvelaotrabalhodamdia.Aimprensabrasileira,deummodogeral,deixoudeser

    provinciana.Asredaessemodernizaram.MasojornalismopolicialfeitoemCuritiba

    ainda do tempo em que fofocas e bisbilhotices eram assuntos interessantes no

    cotidianodaspessoas.Edecertaforma,issoaindavendemuitojornal.Mesmoqueos

    focalizadossejampobres,pretoseputasosexcludosdagrandeimprensaedetodos

    osdemaiscenriosnosquaisestoosbacanas.

    Oqueaindamaisassustadorqueagrandemaioriadosjornalistasdesconhece

    a prpria lei de imprensa e o Cdigodetica doProfissional de Jornalismo. Essa

    afirmaonoresultantedeumapesquisacientficaporquenofoiaplicadonenhum

    questionrio junto a esses profissionais. Ela est baseada e entrevistas e conversas

    informaiscomjornalistasdentroeforadasredaesdosprincipaisjornaisdeCuritibae

    naconstataodojornalistaeadvogadoHermnioBack,queaindamaiscategrico:

    grandepartedosjornalistasnoconhecesequeroartigo5daConstituioFederal.

    Auniversidadedevesergrandecomeo.Aescoladejornalismoeoscursosde

    comunicaosocial,demaneirageral,devemdarosprimeirospassosparamelhorara

    formao e, principalmente, melhorar a informao do profissional de imprensa.

    Entretanto, as faculdades de jornalismo, infelizmente, acabam formando tcnicos

    escrevedoresdematrias,reprteresfaladoresnatelevisoounordio.Naopinio

    do jurista e professor de direito da Universidade Federal do Paran, Ren Dotti, a

    universidadesozinhanoformaojornalista. Oqueotornaprofissional avida,o

    contato,oseufeeling,noodiploma.(41)

    34

  • RELAESPERIGOSASOcaminhodafama

    TER A IMPRENSA a favor ter opovoa favor. Tla contra umveredicto

    condenao.Essasafirmaesexageradassoampresuno,evidentementeporparte

    dequemestescrevendo,nestecaso,umjornalista.Massemapretensodecolocaro

    jornalismonaposiodequartopoder,nodeixadeserumfatopreocupantetantopara

    quemjestnomercadodetrabalhoquantoparaosfuturosfocas(reprtereminciode

    carreira).

    Pessoas com ascenso na carreira poltica, geralmente, do seus primeiros

    passosporintermdiodamdia. Tratasedeumagentequesabetrabalharcoma

    imprensa,ou,semrodeios,sabeuslaemfavordeinteressesprprios.

    Htambmoutrosprofissionais,deoutrassearas,quesabem,emuitobem,usar

    emanipularjornalistasecomunicadores,comigualousuperiorhabilidade.Mdicos,

    advogados,engenheiros,terapeutasalternativos,artistas,costureiros.Cadaum,muitas

    vezes costumadesenhar, comas tintas damdia, a trilha paraseuestrelato. E isso

    acontece, em todos os veculos, nos espaos destinados a matrias jornalsticas.

    quandootextodamatriajornalsticainvadidopelasemnticadabajulaoepelo

    lescolesco do jabacul. Estas duas ltimas expresses, numa interpretao livre,

    significam,maisoumenos:tomaldc.

    NoBrasil,issonoumaprticacomum.Gentequequerentrarparaomundo

    dosbacanascostumarecorreraojornalismoembuscadefamaedeevidnciadiante

    daclientelanomercadoondeatuam.Quantomaisfamosoforoprofissional,maiscaros

    seroosseusservios.Mas,pormaisparadoxalquepossaparecer,nessemeio,temat

    jornalista que fazusodaprpria profissoparacrescer financeiramente, conquistar

    amizadesinfluentes,subirnavida.

    Paraojornalistaeadvogado,AntnioStrano,professordacadeiradeticada

    ComunicaonaPUC/PRenaUniversidadeTuiti doParan, asociedademoderna

    impeoutilitarismo.Issoquerdizerque,osprofissionais,independentedesuareade

    atuao,temquesairembuscaderesultados. Entotemosessanovaterminologia

    modernaqueclassificacomoomelhorprofissional,aquelequeobtmbomlucrono

    35

  • exercciodafuno,comenta.Quemtemmaisfamatermaisclientes.Comisso,mais

    dinheiroemaispoder.(42)

    Os advogados tambmsabem fazer bomuso da mdia. Saemembusca da

    opiniopblicafavorvelaoseucliente.Feitoisso,jgarantemmeiocaminhoandado

    numtribunaldejripopular.Habilidosos,essesprofissionaissabemcomocriarfatos

    novos.Convocamaimprensa,estabelecempolmicase,muitasvezes,usamaprpria

    notcia,porelesmesmos,plantada,comoelementosafavordoprocesso.Nestecaso,

    usamtambmojornalista,ojornal,omeio,enfim.

    Istoquerdizerqueaquelesquetmmaisinflunciaemaiorhabilidadenotrato

    comaimprensa,seutilizam,emuito,deespaosnamdiaparaobterxito.Todavia,

    nemprecisa ser umespecialista para afirmar comsegurana que semdvida, isso

    tambmno nadatico. Maspara queumadvogadopossaacessar a imprensa

    precisoqueeletambmencontrepelafrenteumprofissionalquesedeixemanipular.E

    deixarsemanipularimplicanumdesleixocomrelaoaosaspectosticosdaprofisso.

    Equandoseencontramjornalistaeadvogado,comessascaractersticas, aconteceo

    casamento perfeito. Claro que h umpragmatismo nessa relao. pura troca de

    interesses.

    Todavia importante ressaltar que os jornalistas e comunicadores emgeral

    devemestarsemprepreparados,amadurecidosnoexercciodaprofisso,paraqueno

    sirvamdeinstrumentodecertosgrupos.Admitiranopercepodoprofissionalde

    imprensacomrelaoaodiscernimento dessesaspectosnanotcia, omesmoque

    admitirasuaincompetncia.Porquenoelencodascaractersticasinerentesaojornalista

    hbempoucoespaoparaaingenuidade.

    Oadvogadocriminalistacuritibano,JlioMilito,falasobreaimportnciade

    teraimprensaafavordocliente.Elefazpartedacorrentedosqueoptampelascausas

    que chocam e comovem a opinio pblica para que, atravs da sua atuao nos

    tribunais,possaadquirirnotoriedadeefama.(43)

    Entresuascausasfamosas,temocasodoestudanteRafaelZanella,(comgrande

    repercussonamdia/1997) mortopelapolcia, nobairrodeSantaFelicidadee,em

    seguida, para justificar ocrime, ospoliciais colocaramdrogasearmasnocarrodo

    rapaz.

    36

  • Numprimeiro momento, a imprensa emgeral e o segmento que explora o

    noticirio policial, deu a verso dos policiais traficante morto pela polcia.

    Rapidamente, Milito foi contratado pela famlia Zanella e, commuita habilidade,

    colocouaimprensacontraapolcia.Oassassinatodoestudanterevoltouacomunidade.

    Acontecerampasseatas. Ofatorendeusemanas deentrevistas dospais e irmosde

    RafaelZanellaemtodososjornais,programasderdioedeteleviso.Ningumsequer

    tocounocrimedeimprensa,porterdivulgadoaversodapolcia,semterchecado.

    Nessahistria,Militodizqueprefereteraimprensaaseufavorecategricoquando

    afirma:APolciacometeuocrime,aimprensasimplesmentedivulgouafarsamontada

    pelospoliciais.Eleachaqueaimprensaagiucorretamenteporqueosjornalistasse

    basearamnumdocumentooficial.

    Comoadvogadodafamlia,Militodeclarounaocasioquenotinhainteresse

    emprocessar nenhum jornal. Preciso da imprensa a meu favor. A favor do meu

    cliente.Ans,interessaprocessaroEstadoqueresponsvelpelaaodessesmaus

    policiais,afirmou.

    Outrocaso,tambmdefendidoporMilito,jfoiajulgamento,nofinalde89.

    Ummdicojogoulcoolnanamoradaeateoufogo.ElavirouumaespciedeDiva

    daimprensa.Comocorpotodoqueimado,amoafoisubmetidaavriascirurgias,

    sempresobamiradosholofotesdamdia.Nodeuoutra.Todomundoabominavaa

    atitude do rapaz, que j cumpriu a pena na Penitenciria de Piraquara Regio

    MetropolitanadeCuritiba.Ele,peloseucrimehediondo,porsisjestavacondenado.

    Mastambmeraprecisocondenlopelamdia. Paraquenoobtivessechancesno

    tribunal.Ento,aostensivadivulgaodasfotografiasedosofrimentodesuanamorada

    acelerouojulgamento,encerrandoocasomaisrapidamente.Almdeganharacausa,o

    advogadoconquistafamaedinheiro.

    POBRES,PRETOSEPUTAS.Ospsdopreconceito

    APROSTITUTASESENTEmesmomargemdasociedade.Elatalveznemsaibados

    direitosquetem.Talveznosesintaumapessoavalorizada.Eissovaletambmparao

    pobre,quej estcondenadoaosectarismosocial, eparaonegro,quesofredeum

    racismovelado. Eh o juzodogruposobreeles prprios. A entra a questodo

    37

  • preconceito,darotulaoqueoscolocanumaescalainferiornapirmidesocial.Elna

    basedessapirmide, ocidadoj acabaaceitandoque, dadaa suacondioscio

    econmica,notemosmesmosdireitosdoquetemumcidadomaisbemsituado,mais

    respeitadoquevaimissa;pagaseusimpostos;tempropriedade,etc.Essamentalidade

    aqueestportrsdetodootipodeabuso.Humaespciedeausnciacoletivados

    direitosedadignidadedaspessoas.Equandoessaspessoasresolvemreivindicaros

    seus direitos, procuram o Estado que nem sempre est bem aparelhado para lhes

    defender e pior, muitas vezes, no demonstra nem o interesse e nem a vocao

    necessriaparaassumiracausadoexcludo.

    Todomundocidadoeporcausadissodeveeprecisaexercerasuacidadania.

    Eoqueexerceracidadaniaanoserfazervalerseusdireitosmnimosassegurados

    pela Constituio Federal? Tem cidadopadro; cidadogay; cidadoprostituta;

    cidadomendigoeatcidadobandido.Todossocidados.Todossoiguaisperante

    alei,pelomenosoquerezaaConstituioBrasileiranocaputdoseuartigoquinto.

    Enquantoosdefensoresdosdireitoshumanoslutamafavordessesexcludos,os

    profissionaisqueatuamnojornalismopolicialficamindignadoseironizamasituao.

    ApssofreraodoMinistrioPblico(agosto/1997)proibindoodemostrarsuspeitos

    oudeexecrlos empblico, oento, deputadoestadual e entoapresentador Luiz

    CarlosAlborghettidoprogramaquelevavaoseusobrenomeAlborghettinaTev

    IndependnciadeCuritiba,passouareinventaroseuestilo.Ele,quetripudiavaem

    cimadasaesdosbandidose/ouemcimadesituaesgrotescasdocotidianopopular,

    comeouaironizar.Antes,eledefendiaapenademorteparaosbandidosetodosos

    suspeitos j estavam condenados em seu programa. Sempre, poupava os mais

    endinheirados e os seus companheiros da poltica. Nas suas ironias ele dizia, entre

    outrascoisas,queobandido,pobrecoitado,umavtimadasociedadeequeseele

    matou, vai para a cadeia e vai sofrer muito l, mas por pouco tempo. E

    complementava, alterando sua atuao teatral ora em gritos, ora em sussurros,

    dirigindoseaosuspeito:nosepreocupemeubem,assassinomeuamor,porqueos

    defensoresdosdireitoshumanosirol,nacadeia,levarcigarropravocetambmvo

    conseguirumbomadvogadoparatirlodoxadrez.Eda,meufilho,vocvaipoder

    novamente,matar,roubar,estuprar,seqestrar(...).

    38

  • Na opinio do jornalista curitibano, lvaro Colao, enquanto na Europa,

    especialmente na Inglaterra, se cultua o mito vitoriano da proibio da expresso

    sexual, tendo como emblema a prpria monarquia, que reis e prncipes que no

    necessitam dos prazeres da carne, cultuase o mito da sexualidade. L o

    sensacionalismo feito em cima de fofocas, intrigas e escndalos em torno das

    celebridades.NoBrasil,cujaculturaformouseatravsdohomembrancoportugus,do

    ndio(nativo)edonegro,omito umtantomacunamico. Eleacrescentaqueo

    sensacionalismoadquireumaauraquasecircense.Sensacional obizarro:mulher

    barbada;ochupacabra;alourafantasma.

    Aabordagemestemtornododesconhecido:damorteedaviolncia.Aqui,

    substitumososrostosbonitosdosastrosdocinema,pelafaceduraeperturbadadeum

    bandidodaluzvermelha,porpersonagensquemalsabemseusdireitoseoslimites

    deaodaimprensa.Noqueasfofocaseintrigasinexistam,maselaspertencemmais

    ficodasnovelasesrevistasdetev.(45)

    Pretos,pobreseputaspassamospiorespedaosnumpasondepredominaopreconceito.Poderia,emprosa,proferirpalavras,pporp,paraessepovoprejudicadopelapolcia.Postergadopelapoltica.Podrespoderespemascostasparapacatoscidadospublicadosfeitospalhaosdeprofissionaisdaimprensapaladinosdospoderosos.OPapastempiedadedessepovo.Pena!Penaprevaleceropreconceitoparapretos,pobreseputas.Povosemposionapirmidesocial.(SirleyCardoso,1997)

    NOTAS

    1. DIFRANCO,CarlosAlberto,Jornalismo,ticaeQualidade.RiodeJaneiro:Vozes,1995,p.77.

    2. GuilhermeePaulaforampresosecondenadosporhomicdioqualificado,a19anosdepriso.Osdoissepararamseoficialmentedepoisdonascimentodofilho.Paulacumpriupenaporumanoeconseguiuliberdadecondicional.Guilhermecumpriuumterodapenaetambmconseguiuliberdadecondicional.Ambosforamlibertadosem1999.AindignaopopularealutadeGlriaPerezresultaramnaalteraodalegislaopenal.Apesar da mudana da lei no ter atingido os assassinos de Daniela, o homicdioqualificadopassouaserpunidocommaisrigorapartirdavignciadalei.

    3. ARTIGO5INC.XConstituiodaRepblicaFederativadoBrasil.DistritoFederal.1988.

    4. CarlosAlbertoTavaresqueeraconhecidonomeiojornalsticocomoCharlesfaleceuem05defevereirode2005deinfartonomiocrdio.

    5. OInstitutodeDefesadasLiberdadesPblicasfoi fundadoemabril de1996, pelosadvogados,JoelSamwaysNeto,HermnioBacheJoeTennysonVello.

    39

  • 6. FDER, Joo. Entrevista concedida equipe deste Projeto Experimental da UTP.Curitiba09/09/1997.

    7. DIFRANCO,CarlosAlberto. Jornalismo,ticaeQualidade.RiodeJaneiro:Vozes,1995,p.24.

    8. HOLANDAFERREIRA,AurlioBuarquede.NovoDicionriodaLnguaPortuguesa.RiodeJaneiro.NovaFronteira.1988.p.593.

    9. ANGRIMANI,Danilo.EspremeQueSaiSangue.SoPaulo:SummusEditorial,1995.p.14.

    10. PEDROSO, Rosa Nvea. A Produo do Discurso de Informao num JornalSensacionalista.RiodeJaneiro:UFRJ/EscoladeComunicao,1983.

    11. Fotgrafosfreelancersquetrabalhamsemvnculoempregatciocomosjornais.PrticamaiscomumnaEuropa,principalmentenaInglaterra.OnomePaparazzotemorigemitaliana.Ospaparazzisurgiramemcenaem1958.Naqueleano,TazioSecchiaroli,ofotgrafoqueinspirouFredericoFellininofilmeLaDolceVita(1960),descobriuqueseriamaisbempagoquandoconseguiafotossurpresa.Emumamesmanoitede1958,ospaparazziimortalizaramoreiFarouk,doEgitoqueforadeposto.ElefoiflagradopelascmerasindiscretasdoPaparazzovirandoamesadeumrestauranteemmeioaumacessoderaiva, eumatornorteamericanoesmurrandoumfotgrafoqueoflagroujantando com Ava Gardner. Fellini viu algumas das fotos e saiu em busca deSecchiaroli.CriouopersonagemPaparazzoofotgrafodeLaDolceVitaquefazduplacomojornalistaMarcello,interpretadoporMarcelloMastroiani. (fonteagnciaReuter/FolhadeS.PauloemedioespecialsobreamortedaprincesaDianaSpencer,dodia01.09.97, p. 8). Outraverso, maisfolclrica, dizquenadcadade50, umproprietriodeumhotel, cujosobrenomeeraPaparazzo, hospedavagentefamosaecelebridadeetinhaumesquemacomalgunsfotgrafosqueflagravamessasfigurasdeformaexclusiva.EramosfotgrafosdoPaparazzo.Massomenteem1962,comaexibiodo filmeLaDolce Vita, de Fellini, cujo personagemvivido por MarcelloMastroianieradeumjornalista,sempreacompanhadopelocolegafotgrafoPaparazzoemaisumalegiodefotgrafosqueperseguiamasestrelasdocinema,otermotomousefamoso,eacabousendoincorporadofiguradofotgrafoindiscretoeemseguidavirou profisso. Mas tratase de um neologismo da lngua italiana, j que nomesprprios, assim como em Portugus, no so pluralizados. Isto , mesmo sendoreferidosnoplural permanecemnosingular porexemplo:osBatistasopessoasmuitosimpticas; logoos Paparazzo (sobrenome) sopessoas muito indiscretas.Todavia, como a palavra, na Itlia, tornouse sinnimo de fotgrafos freelancers,pluralizase(N.A.).

    12. FormatodojornaltablideusanaEuropaeEstadosUnidos,medindo36cmpor21,5cm.Na Europa, tablides so sinnimos de jornalismo marrom, sensacionalista e decredibilidadediscutvel. Umjornalemtamanhostandartmede54cmpor32,5cm.OformatotablideusadonoBrasilmede33cmpor26cm.OJornalZEROHORA,dePortoAlegretemesseformatoenotrabalhacomnoticiriosensacionalista.EstnalistadosjornaissriosdoPas.

    13. CASTRO,Emersonde.EntrevistaequipedoProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba09Set.97.

    14. DANTAS,Audlio.RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditoriaLtda.Nov.1995,p.24.

    15. RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditoralLtda.Novembro/1995,p.25.16. ProgramaCanalLivre.RedeBandeirantesdeTelevisocanal2Curitiba:apresentador

    Ricardo Chab; programa Cadeia. Central Nacional de Televiso (CNT) canal 6Curitiba:apresentadorAugustoCanrio;programa 190Urgente. CentralNacionaldeTeleviso(CNT) canal 6 Curitiba: apresentador Carlos RatinhoMassa; programaAlborghetti. Tev Recordcanal 5 Curitiba: apresentador Luiz Carlos Alborghetti;

    40

  • jornais Tribuna do Paran e Dirio Popular, programas policiais radiofnicosapresentadosememissorasAM,emCuritiba.Todosderamanotcia.

    17. MEDINA,Cremilda.Corroborandoottulodeseulivro:Notcia,umprodutoavenda.SoPaulo:2edio.SummusEditorial,1988.

    18. TAVARES,CarlosAlberto,diretorderedaodojornalTribunadoParan.Entrevistaconcedida a Sirley Aparecida Cardoso. Curitiba, 29/09/1997. (Falecido em 05 defevereirode2002)

    19. CASTRO,Emerson.EntrevistaequipedesteProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba09Set.97.

    20. EmCuritiba,apartirdeabrilde1991,oentoprefeitodacidade,JaimeLernermandouconstruir asestaestubodeembarqueedesembarquedepassageirosdo transportecoletivourbano.(Fonte:SecretariadeComunicaoSocialdaPrefeituradeCuritiba).

    21. ANTUNES,Amrico.EntrevistaequipedesteProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba,10/09/1997.

    22. NORBERTO,Natalcio.JornalismoParaPrincipiantes.RiodeJaneiro:Ediouro,1978.P.129.

    23. FDER, Joo. Entrevista equipe deste Projeto Experimental da UTP. Curitiba09/09/1997.

    24. IDEM25. DIMENSTEIN, Gilberto. A polcia puritana. Jornalistas americanos denunciam

    excessos cometidos pelos colegas. Folha de S. Paulo. SoPaulo: Editora Folha daManhS/A,09demaro97.

    26. PEDRACINI,Richard.FolhadeS.Paulo.1Caderno.SoPaulo:Ed.FolhadaManhS/A.08/08/1993.P.3.

    27. MARTINS,Andr.RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditorialL