Pretos Pobres e Putas.pdf
-
Upload
antunes-marcus-vinicius -
Category
Documents
-
view
24 -
download
0
Transcript of Pretos Pobres e Putas.pdf
-
Ttulo
PretosPobresePutasOsPsdoPreconceitonaticadoJornalismoPolicial
AutoraSirleyCardoso
DEDICATRIADedicamosestetrabalhoatodasaspessoasqueumdiajforamvtimasdaviolncia daimprensa.Emespecialaospobres,aosnegrosesprostitutas.
AGRADECIMENTOSPrimeiramenteumagradecimentoespecialsjornalistasAnieleNascimentoeRosanaCludiaAlbertiminhascolegasdaFaculdadedeJornalismoquetrabalharamnapesquisadecampoenapesquisadaliteraturaespecializada;aomeumaridoRoneyRodriguesPereiraeaomeufilhoDiegoquesempremeincentivaramaescrevereaomeupai,JooBatistaCardosopelalucideznassuascrticas.
PREFCIOEscolhidoseexcludos
UMAVOCAOumaquestodeopojuntoshabilidadesprpriasejuntotrajetria
queseprocuranasociedadeeparaasociedade.Arigor,umaquestodevalorescapazesde
seremreconhecidosnapersonalidadedecadaumnoespaoprofissionalescolhido.Quandoa
escolhaojornalistaaentoaquestodosvaloresdecisiva.
Noexistejornalismolegtimosemopeslegtimas.Isto,semprofissionaiscapazes
deinteligncia,sensocrticoe,principalmentecoragemdirecionadasparaobemcomum.
E aqui, quando se fala em coragem, preciso que ela seja acompanhada de
discernimento, para colocar a fora de uma profisso ao lado das aes necessrias real
transformaodosfatose,acimadetudo,juntoaumautnticoserviopblicoprestadoaos
cidados.
Jornalismo aprtica diriadaintelignciaedacoragem,dizia efaziaCludio
Abramo.Nocasodopresentetrabalho,precisolembrarquejuntodissoseunesensibilidade,
alis,expressaapartirdaescolhadotemaedotratamentodoscontedos.
1
-
Aautorajcomeademonstrandoumcarterquedeterminanteparaalegitimidadeda
profisso:umafunocapazdedardimensosocialcidadania,principalmentequelesseme
semvez.
Ojornalismoautnticoaquelequetambmcapazdedarrepresentatividadeaesses
cidadosquepordistoreseequvocosdaprpriasociedadesooschamadosexcludos.
Almdisso,bomverprofissionaisquecomeamseucaminhosemmedodaspalavras
oudosfatos,comoatestaottulodestaobra,quedenunciaoestigmaquepesasobreasminorias.
Profissionaisassimfazemparte,naverdade,daquelesraros,escolhidospelainexorvel
vontadedeumaprofissoindispensvel reflexodonossotempo. dessemodoqueessa
profissotambmfazsuasescolhaseabreespaoparaaquelescomoocasochamadospela
verdadeiravocao.
No jornalismobrasileiro existe muita coisaa ser feita nocaminhododilogo, da
crtica,daopinioparaaconstruodademocraciaparticipativa,daqualestetrabalho,mesmo
nombitoacadmico,jumbeloexemplo.
AntnioStranoVieira
SUMRIO
IAPRESENTAOticanomordaaIILIBERDADEDEIMPRENSAInvasodaprivacidadeIIIPARADOXOSticaejornalismopolicialIVESPETCULODAVIOLNCIANoticiriovirashowdeentretenimentoVOSPAPARAZZIAmortedeLadyDiVIALINGUAGEMPreconceitocarreganastintasVIIARESPONSABILIDADEDAFONTEQuandoaimprensanoinvestigaVIIINOTCIAPRODUZIDACircoarmadoIXPOBREZADCADEIAOcrimedeserpobreXMEDODOLIMITECoisadereacionrioXIOSCDIGOSDETICA
2
-
CompromissocomaverdadeXIIOMBUDSMANPoliciandooscolegasdaredaoXIIIFATOEVERSOCredibilidadenamdiaXIVFORADOARImprensaecidadaniaXVTICANAMARRADesconhecimentodasleisXVIRELAESPERIGOSASOcaminhodafamaXVIIPOBRES,PRETOSEPUTASOspsdopreconceitoXVIIREFERNCIASBIBLIOGRFICAS90
APRESENTAOticanomordaa
ESTE ESTUDO umaobservaoapartir devriosolharessobreaatuaodo
jornalismo policial em Curitiba. uma anlise do trabalho de apresentadores de
programas policiais exibidos no rdio e na televiso e das publicaes nos jornais
impressosachamadaimprensavermelha.
Vriosolharesporqueconstamnestetrabalho,anlisesdeprofissionaisdarea
decomunicaoqueatuamounonacoberturapolicial;deadvogadosespecialistasna
tica da Comunicao; de criminalistas; de tericos da Comunicao; de leitores
comunsedealgumasvtimasdoescrachodonoticiriosensacionalista.
Ametodologiaaplicadanesteestudoestbaseadaementrevistasrealizadasnos
mesesdeagostoesetembrode1997,eemanlisesdeprogramaspoliciaisderdio,de
televiso e de publicaes dos jornais Tribuna do Paran e O Dirio Popular, do
segundoedoterceirobimestredomesmoano;eainda,nacompilaodeliteraturaque
reuniudezenasdeconsultasentrelivrosepublicaesdeartigosemjornaiserevistas
brasileiras.
Alinguagemusadanojornalismopolicialdateleviso,dojornaledordioem
Curitibamereceseranalisadadopontodevistaticoeesttico.Equandofalamosem
linguagem, estamos nos referindo, de formaglobal, sob os mais variados ngulos.
Sobretudoquandoela vemcarregadadepreconceito. Masessaanlise deveepode
3
-
partirdosprpriosjornalistas.precisocolocarodedonaprpriaferida.Equandose
trataunicamentedonoticiriopolicial,aquestoticaacabaficandoparatrs.Alguns
profissionais, outros nem to profissionais, prjulgam os envolvidos em crimes e
confuses,condenandoospublicamente,sempreembuscadosensacionalismo.
precisodistinguirodeverdedennciadeumdissimuladodesejodechocar.O
jornalistaLuizGarcia(1990)lembraqueticanomordaa,(...)Oqueaticapede
nomenosnotcia,masmelhornotcia:ainformaocorreta,completa,digna.
Otrabalhodaimprensanopodeserconfundidocomprogramadeauditrio.O
noticirio no umshowdenotcias, umespetculo. Adivulgaoapressadagera
dolorosaseirreparveisinjustias.
OprofessordeticaJornalsticadaFaculdadedeComunicaoSocialCasper
Lbero, Carlos Alberto Di Franco (1994), diz que para o filo sensacionalista da
imprensaoqueinteressanoaapuraodosfatos,masomarketingdoescndalo.
Aretificaodoerrocometido,semprefrgileenvergonhado,noconsegueapagaro
malproduzido.Humafortedesproporoentreoimpactodanotciafalsaeaplida
foradaretificao.
Protegidospelafachadado proibidoproibir,muitosjornalistasdefendem
queprimeirodevesedaranotcia,navelocidadeporelaexigida,depois,seforocaso,
reparasepossveiserrosouequvocos.Masindependentementedoelementardeverde
repararoerro,necessriodesenvolverumpermanentetrabalhopreventivo.Remdio
na hora da morte pode matar. Quem atua no jornalismo precisa rever atitudes e,
entenderdeumavezportodas,queaticaosegredodacredibilidadedaimprensae,
exatamenteporisso,achavedoseusucesso.
Asrelaesentreodireitoinformaoeodireitoprivacidadetendemserem
propositadamente confundidas. Na verdade, criamse paradoxos na tentativa de
justificar os freqentes erros da imprensa. Sequalquer aohumana tivesse deser
submetidapublicidade,nosepoderiamaisfalaremliberdade.Queliberdadeessa
queasociedademodernatantolutouparaconquistlaequeagoraaconfundecom
atrocidade,cominvasodeprivacidade?
Humafronteiraticaentreodireitoinformaoeodireitoprivacidade;o
bem comum, o verdadeiro interesse pblico. A imprensa tem relevante papel de
4
-
denncia,decontraponto. Essafuno,noentanto,nadatemavercomcuriosidade
agressiva,comoafdeescndalooucomatitudesderetaliao.
Emartigo publicado na revista britnica Spectator, sob o ttulo OsSete
PecadosCapitaisdoJornalismoojornalistaingls,PaulJohnsonafirmaqueamdia
umaarmacarregadaquandodirigidacomintenohostilcontraumindivduo.Com
essaadvertnciacheiaderealismoeleanunciaoutropecado:oassassinatopelamdia.
OexministrodaSadedogovernoCollor,AlceniGuerra,foiumadasvtimas
do jornalismo de prjulgamento. E meio s denncias de irregularidades em sua
gesto, o ministro foi moralmente baleado pela metralhadora giratria da mdia.
Absolvido, no mereceu a reparao de uma nica manchete, apenas sucintos e
contrariadosregistros,empurradosparaoluscofuscodaspginasinternas.Damesma
forma, aconteceu com os proprietrios da Escola Base em So Paulo. A Revista
Imprensa (setembro/1994) divulgou um balano das reportagens publicadas na
imprensanacionalsobreocaso90%deacusaoe10%dedesmentidos.
Os jornalistas, assim como a grande maioria dos profissionais de outras
categorias,socorporativistas.Somosossenhoresdainformao,apontamoserrosa
trsporquatro,pregamosmoralidadeexausto,mas,quandooalvoumdens,a
tendnciageraaindaoacobertamento,afirmaLuizGarcia,nojornalOGlobo.
Essamvontadeemadmitiroerrofazpartedaarrognciaqueimperanomeio
jornalstico.OjornalistaCludioAbramolembrouqueaticadojornalistaaticado
cidado.Elepergunta:Oqueojornalistanodevefazerqueumcidadocomumno
devafazer?Ocidadonopodetrairapalavradada,nopodeabusardaconfianado
outro,nopodementir...Nohmotivosparaimunidades.Aimprensanofeitapor
superhomens.Eesperasequesejaconduzidaporhomensdebem.
SirleyCardoso,aautora.
LIBERDADEDEIMPRENSAInvasodeprivacidade
NENHUMAPESSOApodeserconsideradaverdadeiramentelivresenodispuserde
garantiasdeinviolabilidadedasuaprivacidade.Tribunaisdomundointeirotmse
baseadonessesprincpiosparaprotegeraspessoascontraavoracidadedaimprensa
5
-
sensacionalista.Odireitoprivacidadebeneficiaatmesmoospresumveiscriminosos
etodocriminosopresumvelenquantonohouversentenadefinitiva.Ningum,a
noserumtribunaldejripopular,podejulgaralgum.Nemtampoucoosmeiosde
comunicaoestoautorizadosadivulgardadosdavidantimadesupostoscriminosos
eoudeseusfamiliaresquepoucoounadatmavercomocaso.
Odireitoprivacidade,noentanto,podecessarquandoaaopraticadatem
carterpblico.ocasodosgovernantes,cujosatosparticularespossamrefletirnasua
atuaopblica(1).
Masoquetemderelevnciapblicaadivulgaodefotografiasdepessoas
ensangentadas,muitasvezes,emcondiesqueferemsuadignidadeequeexpem
seusentesqueridos?Queinteressepblicotemapublicaodecasosaindainsolveis
quevmsendoinvestigadospelapolcia?
Constatase que o interesse na publicao de material sensacionalista
meramenteodemanterumnegcio.Acoberturadeescndalosedematerialchocante
fazpartedometier.Nemmortosilustresescapamdoesquartejamentomoral.Asfotos
daatrizDanielaPerezassassinadaagolpesdetesoura(28/12/1992)peloseucolegade
trabalhonaTevGlobo,GuilhermedePdua(2),foramdilaceradaspelamdiae,neste
caso,comaconcordnciadeseusfamiliares.Easpessoasquepertencemsclasses
sociais menos privilegiadas, cujas fotografias so diariamente escancaradas nas
primeiraspginasdosjornaissensacionalistasenosprogramaspoliciaisdeteleviso,e
quenemsabemqueteriamodireitodenopermitirqueseusnomeeimagemfossem
expostosexecraopblica?
Aatividadedaimprensatraduzidanadivulgaodeinformaesabrangeum
espectro enorme. Cabe imprensa divulgar tudo informaes tcnicas, polticas,
culturais, cientficas, policiais, etc. Podese dizer que no h campo da atividade
humanaquenointeressediretamenteimprensa.Enfim,tudoquespessoasinteressa,
interessaimprensa.Acoberturajornalsticaestemtodososlugares,todootempo,de
dia e de noite. H informao para todos os gostos e necessidades. Dentre Muitas
matriasqueaguamointeresseeacuriosidadedagrandemassa,despontamaquelas
quelidamcompessoasque, pelosmotivosmaisvariados, ganharamnotoriedadeou
fama,boaoum.Aseencaixampolticos,religiosos,artistas,escritores,celebridades,
celebridadesmomentneas(feitaspelaprpriamdia)eatletasfamosos.
6
-
Masnems de figuras pblicas e famosas vive a imprensa. Naverdade, a
chamadaimprensavermelha(queexploraonoticiriopolicial), estanemest muito
interessadanoricoefamosoessesgeralmentesoporelaprotegidos.Interessaaesse
segmento da mdia, pessoas humildes que passaram a protagonizar o show do
sensacionalismopolicial.Querpeloextico,peladramaticidade,peloinusitado,essas
pessoasdespertam atenodojornalismoe,numpassedemgica,viramnotcia
geralmente,mnotcia.Nessecasoamdianoperdetempodandofamadegraaa
pobresilustresdesconhecidos.Masamfamagrtisporquerendedividendosparaos
proprietrios deveculos decomunicao. Amdia, aomesmotempoemquepode
enaltecer,podetambmacabarcomprotagonistasdecenasdantescasporelaexpostas,
sobretudo,quandoessesatoressodeorigemhumilde.Paravirarmnotcia,bastaser
pobre,pretoouputa.
Aliberdadedeimprensaetambmoschamadosdireitosdapersonalidadeso
garantiaestabelecidapelaConstituioFederalBrasileiraquereza:soinviolveisa
intimidade, avidaprivada, ahonraea imagemdaspessoas,asseguradoodireito
indenizaopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolao(3).
Issosignificaquetantounsquantoosoutros,todosdireitosfundamentais,no
soabsolutos.Limitamse,reciprocamente,deformaquenosejamcometidosabusos.
A informao de interesse da sociedade. Todavia o direito de informar,
infelizmente, se sobrepe aos direitos individuais. E, por causa disso, a imprensa
adquiriucertaimunidade.NosepunemoscrimesdeimprensanoBrasil,salvoraras
excees.Pormaospoucos,ascoisascomeamamudarporaqui.Algunsabusosj
vmsendodenunciadoselevadosjustia.
Liberdadedeopiniosomentetemsentidosetambmcontemplarasopinies
contrrias. O direito privacidade no desaparece com uma acusao por mais
comprovadaqueestejamuitomenospelosimplesfatodeestarumadaspessoasnuma
listadesuspeitos.Eodireitoderespostanoexigequeumanotciasejaverdicaou
falsa, mas simplesmente que seja ofensiva. S que, quando o atingido ainda no
aprendeu exercitar seus direitos, isso desaparece no ar. Ficam as seqelas. Meros
suspeitosso,apressadamente,condenadospenadoconstrangimento,causadopelas
manchetes que atingem a honra da pessoa. Tudo para o simples divertimento da
multido.
7
-
PARADOXOSticaejornalismopolicial
SEASPESSOASresolvessempartirparacimadosmeiosdecomunicaoexigindo
autorizaoprviaparaapublicaodesuashistriasedesuasimagens,noentenderdo
diretorderedaodojornalTribunadoParan,deCuritiba,CarlosAlbertoTavares,o
jornalismopolicialestariamorto.Seojornalfosseobrigadoasolicitarautorizaopor
escrito de todos os envolvidos emcrimes e confuses ou de familiares de pessoas
assassinadas,estariadecretadaafalnciadoveculoenquantoexploradordosegmento
policial.(4)
O advogado curitibano Joel Samways Neto analisa que os veculos de
comunicaoquefazemsensacionalismoterofalnciadecretadaapartirdomomento
em que as pessoas resolverem fazer valer os seus direitos assegurados
constitucionalmente.Seosfamiliaresdasvtimasouseasprpriasvtimascomearem
aprocessarosveculosdeimprensaquecometemcrimescontraeles,achoqueesses
vofalnciadequalquermaneira.(5)
possvel,entretanto,elaborarumamatriapolicialtica.Divulgarofatode
acordocom todas as partes envolvidas semprjulgamentos. Semanecessidade de
escreveroudizerquefulanodetalvagabundo,delinqente,assassino,ladroou
coisaparecida. precisoapurarmais anotcia enomergulharnodenuncismo,na
denncia infundada. D para fazer jornalismo policial com liberdade plena de
imprensa, respeitando os direitos do cidado, defende o advogado e jornalista
curitibanoHermnioBack.
Halgumaspessoas,comojdescreveuocrticonorteamericanoAndyWarhol,
que buscam, com certo frenesi, os seus quinze minutos de fama. H outras que
gostariam,seaimprensapermitisse,dedescansarnoberoesplndidodoanonimato.
Elasevitamaexposio, sobretudoquandonolhesconvm.Pormpoucospodem
gozardesseprivilgio apenasosmaisendinheirados. Agrandemaioria pobree
desconhecequepode,porexemplo,exigirdeumfotgrafo,ofilmedesuamquina,
quandofotografadasemautorizaoprvia.
8
-
Mais pessimista, Joo Fder, professor de tica da Comunicao, na
Universidade Federal do Paran (UFPR) diz que se realmente os jornais ou os
apresentadores de programas policiais de televiso a tiverem de amparar todas as
matriasemcimadeautorizaesprvias,essetipodejornalismoacaba.Jornalismo
policialdificilmentetico.Osagentespoliciais,osdelegadosdepolcia,geralmente
fazemmdiacomojornalistaecomopblico,mostrandoopreso,omeliante,comose
fosseumapresa, umacaada. Opresoest parao policial comoumtrofu, e, da
mesmaformaest parao jornalistacomoumprmio,umprodutoqueser vendido
quentinhojuntocomopoeoleite nodiaseguinte. Eleaindapergunta: qual o
cidadopobrequevaimoveraocontraumjornal,umateleviso,umaemissorade
rdio,oucontraumdelegadodepolcia?Equantosaesporreparaodedano,a
Justiafazumjulgamentopragmtico:qualaimagemquevalemais,adoPeloudo
ZNingum?Paraeleoprejuzomensuradoeconomicamenteeovalorvariadeuma
pessoaparaoutra(6).
OESPETCULODAVIOLNCIANoticirioouespetculo
A IMPRENSA nopodepautar assuasatividades pelongulodoespetculo. O
fenmeno da violncia est adquirindo caractersticas epidmicas e coincide, pelo
menosaparentemente,comocrescenteimpactoqueamdiaexercesobreapopulao.
Cabe, portanto, levantar umahiptese: no haver umnexode causalidade entre a
violncia transmitida e a violncia praticada? Os defensores do papel catrtico da
imprensaafirmaroqueahiptesenotemfundamento.Aconvivnciacomaviolncia
damdia,diroeles,serveparaaliviaraviolnciareprimida.(7)
O termo sensacionalismo significa divulgao e explorao, em tom
espalhafatoso, de matria capaz de emocionar ou escandalizar; uso de escndalos,
atitudes chocantes, hbitos exticos, etc., como mesmo fim: explorao do que
sensacionalnaliteratura,naarte,etc.(8)
Quandoumveculodecomunicaoseenveredaparaoladosensacionalista,
partedosformadoresdeopiniocrticos,jornalistaseintelectuaistendemacoloc
9
-
lo margemna tentativa deafastlo dos medias srios. Danilo Angrimani, num
estudodosensacionalismonaimprensa,escreveuqueseumjornalimpresso,telejornal,
ouradiojornal,tachadodesensacionalista,significaparaopblicoqueomeiono
atendeu s suas expectativas. Na abrangncia de seu emprego, sensacionalista
confundidonoscomqualificativoseditoriais,audcia,irreverncia,questionamento,
mas tambm com impreciso, erro na apurao, distoro, deturpao, editorial
agressivo. So acontecimentos isolados que podem ocorrer dentro de um jornal
informativo comum, que no esteja exatamente no segmento do noticirio policial.
Sem discutir a questo da morbidez e da imoralidade envolvidas, o termo
sensacionalismopodeserusadoparaotratamentoparticularqueumjornaldacrimes,
desastres,escndalosemonstruosidades.(9)
Sobrealinguagememodosensacionalistadedivulgaodonoticirio, Rosa
NveaPedroso,daEscoladeComunicaodaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,
fazoseguintecomentrio:
Intensificao, exagero e heterogeneidade grfica; ambivalncialingsticosemnticaqueproduzoefeitodeinformaratravsdanoidentificao imediata da mensagem; valorizao da emoo emdetrimentodainformao;exploraodoextraordinrioedovulgar,deformaespetacular e desproporcional; adequaodiscursivado statussemitico das classes subalternas; destaques de elementosinsignificantes, ambguos, suprfluos ou sugestivos; subtrao deelementosimportanteseacrscimoouinvenodepalavrasoufatos;valorizao de contedos ou temticas isoladas, com poucapossibilidade de desdobramento nas edies subseqentes e semcontextualizaopoltico econmicosocial e cultural; discursividaderepetitiva, fechada ou centrada em si mesma, ambgua, motivada,autoritria, despolitizadora, fragmentria, unidirecional, vertical,ambivalente, dissimulada, indefinida, substitutiva, deslizante,avaliativa; exposio do oculto, mas prximo; produo discursivasempre trgica; especificidade discursiva de jornal empresarialcapitalista, pertencente ao segmento popular da grande empresaindustrialurbana, embusca de consolidao econmica ao mercadojornalstico; escamoteamentodaquestopopular, apesar dopretensoengajamento com o universo social marginal; gramtica discursivafragmentadanodesnivelamentosocioeconmicoesocioculturalentreasclasseshegemnicasesubalternas.Eaimprensasensacionalistanoseprestaainformar,muitomenosaformar. Prestase bsica e fundamentalmente a satisfazer asnecessidades instintivas do pblico, por meio de formas sdica,caluniadora e ridicularizadora das pessoas. Por isso, a imprensasensacionalista, comoa televiso, opaponobar, o jogodefutebol,servemmaisparadesviaropblicodesuarealidadeimediatadoqueparavoltarseaela,mesmoquefosseparafazloadaptarseaela.(10)
10
-
OSPAPARAZZIUmacidentedepercurso
MASSERqueopblicoquermesmofazeracatarsedaviolncia,doertico,do
extico,doinusitado,comosugeremalgunstericosdacomunicao?
Quandosetratadojornalismosensacionalistalogovemumavelhadiscussodo
ovoedagalinha:quemnasceuprimeiro?Ojornalismosensacionalistaexisteporqueo
povogostaouopovogostaporquejexisteojornalismosensacionalista?Ouseja,o
povoaprendeuaassimilaressaculturaetambmaprecilacomoprodutodeconsumo?
issoqueojornalistatemdeseperguntar.
Como acidente automobilstico que matou a princesa da Inglaterra, Diana
Spencer, tornase mais popular para os brasileiros a figura dos paparazzi (11). Os
fotgrafosqueperseguiram LadyDi porqueopovoinglsgostadeverasfotosda
princesa? E, por causa disso teriam provocado, segundo boa parte da imprensa
internacional,oacidenteautomobilsticonaPontedeAlma,emParis,namadrugadano
dia31deagostode1997,queculminounasuamorte;donamoradoDodiAlFayededo
motorista? Ou ser que o povo ingls foi acostumado pelos paparazzi a gostar da
invasodaintimidadedaspessoasfamosas?Ento,ojornalista,antesdeporopna
estradadeveterissobemclaro.Temdeterodiscernimentodascoisasenosubmetero
seutrabalhoditaduradomarketingdanotcia.
Emsetembrode1997,enotaimprensa,aExecutivaNacionaldosReprteres
FotogrficoseCinematogrficos(ANARFOC)divulgouadefesadosprofissionaisda
imagem. E nessa defesa, a instituio repassa grande parte da culpa e a prpria
discussoticaparaasociedadequeconsomeessesjornais.Diziaanotantegra:
Mesmo no concordando com o tipo de fotografia sensacionalista
utilizadaportablides(12)daInglaterraeFrana(entreoutrospases),
aANARFOCnoaceitaqueaculpapeloacidentequecausouamorte
daPrincesaDianaedeseusacompanhantesnocarro,recaiasomente
sobre os paparazzi. Aafirmaodequeeles estariamcomas mos
sujasdesangue(juntocomoseditoresdosjornais),feitaporparentes
11
-
daprincesa, deveser ampliadaparaasociedadequeconsomeesses
jornais, com tiragem de dois milhes de exemplares semanais (na
Inglaterra)edetrsmilhes(naFrana). Essetipodefotografiano
representa a totalidade do trabalhodos reprteresfotogrficos assim
comoa imprensa sensacionalista no representa a imprensa toda, a
populaoquecompraessesjornaisnorepresentaumpas.
AANARFOCentendequeaticadeveser maisbemdiscutidapor
todasaspartesenvolvidaseinteressadas,desdeoreprterfotogrfico
queproduzaimagematoleitorqueaconsome.Problemascoma
ticaouaindacomasuafalta,soalgunsdasquestesenfrentadasno
nossodiaadiaprofissionaleestamosinteressadosemresolvlosjunto
comasociedade.(AntnioCoutinho,secretriogeraldaANARFOC).
Seisfotgrafoseseismotociclistaspresosporenvolvimentonoacidentecoma
princesaDianaforamindiciadospelajustiafrancesaacusadosdehomicdioculposoe
omissodesocorro.Porm,ningumdelesfoiesculachado,emnenhumdosjornais,
principalmentenosquaisparaquemelestrabalhamesosensacionalistasvidospor
portadedelegacia.Aocontrrio,numaaocorporativista,trataramdesairemdefesa
doscolegas eforamosprimeirosaestamparnasmanchetes: motorista daprincesa
estavabbado.Alis, amanchetepareceter sidoamesmanomundointeironos
sensacionalistas.EoBrasilnoficoudefora.Poraqui,omotoristaestavadeporre,
bebum,comacabeacheiadecachaa.
Ospaparazzifranceses,noentanto,foramlibertadospelajustianumprazode
48horasmediantepagamentodefianaeforamproibidosdetrabalharcomofotgrafos
enquanto prosseguir a investigao sobre o caso. E o Sindicato Nacional dos
Jornalistas (SNJ) da Frana protestou: priso preventiva prolongada, acusaes,
confisco de material profissional, de pesquisas, retirada da carteira de imprensa,
proibiodedeixaroterritrio,proibiodeexercerotrabalhodejornalista:istoocorre
naFrana,emsetembrode1997,depoisdeumacidentedecarro,cujochoferestava
bbadodeclarouoSNJemdocumentooficial.
NaopiniodosdirigentesdoSNJeste umfatosemprecedentesnaFrana
desdeotrminodaSegundaGuerraMundialequalificouasmedidasjudiciaiscomo
chocantes,desmedidasegravssimas.
12
-
Orelatrio policial de Paris afirma que os paparazzi foram insensveis ao
acidente e continuara fotografando o carro, tendo como alvo principal a princesa
Diana. Umdosfotgrafospresos, JacquesLangevin, dissequeasacusaesforam
exageradas,alegandotermedidoopulsodaprincesaequeteriaconsoladoa,avisando
queosocorroestavaacaminho.Surpreendentemente,poucosdiasdepois,asfotosde
uma princesa ultrajada, ensangentada estavam na rede mundial de computadores
Internetparaquemquisessever.
H bastante controvrsia em torno dessa discusso. Sobretudo, quando do
episdiodamorteporacidenteautomobilsticodaprincesaDianaSpencer.Houvemuita
polmica em torno do trabalho dos paparazzi que perseguiam, de motocicletas, a
limusinequetransportavaaprincesa.Unsafirmamqueporcausadaperseguio,os
fotgrafos teriamprovocado o acidente na entrada do tnel prximo ao Rio Sena.
Muitos jornalistas afirmam que os paparazzi estavam simplesmente fazendo seu
trabalho em funode umaexigncia de mercado. H mercado para esse tipo de
noticirio,dizAntnioCoutinho,secretriogeradaANARFOC.
Poisbem,seexistemercado,logo,temsedeiratrsdoprodutoqueestar
venda,quentinhonasbancasounoarnordioenateleviso.Mascomopodeopblico
comprarumprodutoqueaindanoexiste?Istoquerdizer exatamentequeprimeiro
surgiuoprodutosensacionalista,opovogostouecomprou.Squeagora,nosomente
ascelebridades,masoprpriopovo,sobretudoosilustresdesconhecidosque,segundoa
imprensa quem consome, tm sido as maiores vtimas dos abusos da imprensa
sensacionalista.
Na opinio de Hermnio Back, a populao ainda muito, ingnua e
despreparadadiantedapotnciadamdia.
EnquantoBackafirmaqueopovomoldadodeacordocomaquiloqueamdia
lhe impe, o professor Joo Fder diz que a culpa da sociedade. Jornais
sensacionalistas vendem, e programas policiais sensacionalistas na televiso tm
audincia porque o povo gosta. Um jornal srio leva de dez a vinte anos para
conquistar umpblicodeleitores. Enquanto queos sensacionalistas j nascemcom
pblicogarantido. O TheSun umtablide sensacionalista londrinovendecinco
milhes deexemplares a cadaedioe emmatria de leitura de jornais vermelhos
(noticiriopolicial)edeaudinciaderdiooutev,nosomosdiferentesdosbritnicos.
13
-
Temosumamassaenormedecuriososarespeitodoquesepassacomaspessoas.H
sedeportragdia.
ESTILOELINGUAGEMPreconceitocarreganastintas
OMANUALDEREDAOdojornalOEstadodeSoPaulo(OEstado),1edio,
ensinacomoescreverumtextosemserpreconceituoso,ensinacomoojornalistadeve
sereferir,notexto,apessoascomdeficinciafsica,decornegra,idoso,homossexual,
criana, adolescente ou doente. Alguns exemplos politicamente corretos, conforme
sugereojornalistaEduardoMartins,organizadordomanualdoEstado:
Deficientefsico: tratarcomdignidade,usandopalavrastcnicas,enotermos
populares e ofensivos, para designar os deficientes fsicos. Assim, por exemplo,
impotente,enobroxa;estrbico,enovesgo.Outrostermosaevitar:caolho,maneta,
perneta,manco,zarolho,etc.
Negroemulato: senecessrio usaraformanegro(enuncapreto, colored,
pessoadecor,crioulo,pardo,escurinho,etc.).Mulatoemulatasoaceitveisquandose
justificaraespecificao,nanotcia,dacordapeledapessoa.Nonoticiriopolicial,s
fazerrefernciaanegroquandosetratardepessoaprocurada. Apolciaprocuradois
homensnegrose,umbranco,ambosacusadosde... Nosdemaiscasos,raramenteh
necessidadedefalarembrancos,negrosoumulatos.Nonoticiriogeral,apalavras
tem sentido se a prpria pessoa se referir a ela ou se houver uma denncia de
discriminaoracial.Porissonodescrevaumjogador,artistaoupersonalidadecomo
fulanodetal,tantosanos,negro(amenosqueopersonagemproclamesuanegritude).
Anicaexceoseriaparacasosmuitoincomuns(oprimeiropresidentenegrodeum
pas,oprimeirocardealnegro,etc.).
Velho:Namaiorpartedoscasos,apalavratemconotaopreconceituosa.Se
necessrio,revelaraidadedapessoaqueficarclaraessacondio.
Homossexual: outro termoques deveaparecer nonoticirio comofato
descrito.Porexemplo:umhomossexualfoimortoporalgumpresumivelmenteligadoa
umaquadrilhaespecializadaemmataressetipodepessoas.Outroexemplo:umartista,
assumidamentehomossexual,admitequeessacondiopossainfluenciarseutrabalho.
exceodecasoscomoesses,nohrazoparamenesarespeito.
14
-
Menores: porforadelei,menoresenvolvidosemcrimesnopoderoteros
nomes publicados no jornal (identifiqueos apenas pelas iniciais), nem suas fotos
divulgadas. Vale lembrar que a incluso do nome dos pais na notcia revelar
imediatamente quem o menor. O Estatuto da Criana e do Adolescente claro,
quandoprobeexpressamenteaidentificaodemenoremnotciaquesepubliquea
respeitoemdivulgaoemgeral,especialmentenaimprensaescritaetelevisionada,seja
nome,fotografia,filiao,apelido.Damesmamaneira,oEstadoprocedecomrelao
avtimasdeatosquepossamlhesacarretardiscriminaes,estupro,porexemplo.
Doenas: ojornalistadeveinformarclaramentedoqueumapessoasofre,foi
operadaoumorreu.NohsentidoemesconderquealgumtemCncerouAIDS.Caso
nosejareveladaainformao,anotciaestarsendodeslealcomoleitorocultandolhe
umfatoqueelemerececonhecer.Apenas,devesetrataradoenacomnaturalidade,
semalarde.
Suicdios: seumapessoacometeusuicdio, anotciadeverevelloaoleitor,
tambmparaqueestenorecebainformaopelametade.Emqualquerrelatodemorte,
omnimoquesequersaberdequemaneiraouemquecircunstnciaselaocorreu:
doena? Acidente? Suicdio? Por mais doloroso que seja o fato, evitar disfarlo.
Todavia,nodevedardetalhesdecomoapessoafezparamatarse.
Raasenacionalidades:usaranacionalidadetalcomoelaetimologicamente.
Nunca usar comuna, carcamano, china, japa, gringo, galego, polaco, paudearara,
cabeachataebaiano(paranordestino),judeu,crente(nomausentido),etc.
Desempregado:evitarotermoporquepodeserdepreciativo,podedarmargem
paravagabundo.
AlgunsexemplosdemanchetespublicadasnosjornaisdeCuritiba,Tribunado
ParaneDirioPopularquetrabalhamnacoberturadonoticiriopolicial.Apelativase
sempregrafadasemletrasmaisculasnascoresvermelhaoupreta,estasmanchetes
chamadasdecapa,nojargodaredao,ignoramqualquermanualderedaoeestilo.
OdiretorderedaodaTribunadoParan,CarlosAlbertoTavaresdiziaqueojornal
no tem um manual por escrito. Apenas seguimos algumas regrinhas bsicas,
afirmou.Entretantoessesjornaisacabamreproduzindoalinguagemdojargopolicial.
Algunsexemplos:
15
-
FEDEUPROLADODOBOSTINHA.
VALENTOFUZILAOCONCUNHADO.
MALANDRODAVAGOLPEDOEMPREGOFCIL
TUDOINVENOPARADISFARAROCHIFRENOMARIDO.
ASSALTANTEFEZODIABONOLITORAL.
DEZMINUTOSDESEXOPORUMREAL.
ELEMENTOPERIGOSOCAINOXADREZ.
AUTOPEASERAUMAZONA.
DESMUNHECOUESEDEUMAL.
CRUZMACHADOVIRAPONTODABICHARADA.
MOTORISTADOCARRODAPRINCESAESTAVABEBUM.
MORREDEPOISDESURRARAESPOSA.
MORREUFAZENDOOPONOSSODECADADIA.
CUIDADO:TEMGATODEOLHONOSEUCARRO
FOIDESCANSARNOCOLODOCAPETA.
RABUDODOPARANGANHANASENA.
NEGOBATENAMULHEREVIRAMARICANOXADREZ.
Somenteparacitarumexemplodedesrespeitoaosdireitoshumanos,forado
Brasil,emboraanotciaestejatambmassimreproduzidanoBrasil:Prostitutasso
multadas emBlitz antidegradaoemFlorena. Otexto: Treze prostitutas foram
multadas nanoite daltimasegundafeira, emFlorena, por trabalharemprximoa
casas,comroupaseposturasnocorrespondentessnormaspblicasdedecncia.A
punio integra o pacote de medidas antidegradao aprovado recentemente em
diversas cidades da Itlia, que vigora desde ontem(11/08/2008). Est na Internet,
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u432714.shtml(sitedojornalFolhade
SoPaulo/UOL).
Enfim,otextofinalizacomumaautoridadeitalianadandoumadeclaraoque
certamente,deacordocomoprprioentendimentododeclaranteoufonteparausar
umjargojornalsticonoofendeningum.Detodaforma,valedestacaradeclarao
daautoridadeeuropia, imprensamundial: Acreditamosqueestamosnocaminho
certoquandointervimosnosfenmenosdeindiferenaededesobedinciaaosvalores
deconvivnciacivilederespeito cidade", comentouosecretriodeseguranada
prefeituradeFlorena,GrazianoCioni.SemComentrios.
16
-
Osexemplossodiriosesdezenas,atporqueosjornaissodiriose,claro,
ascoisasnoparamdeacontecer.SegundoaOrganizaodasNaesUnidas(ONU),a
cada13minutosumapessoaassassinadanoBrasil.Assim,so110cidadosmorrendo
porcausadaviolnciapordia.Contandoqueumafamlia,emmdia,compostapor
outrosquatrointegrantes, pelomenos440familiares precisamlidar comadolorosa
notciadamorteviolentadiariamente.Eparapiorarascoisas,onoticiriocorrobora
paraaumentaraindamaisessador.
Easnotciasestol,quentinhas,muitasrequentadas,estolnaprximabanca
dejornal;nozappingdocontroleremoto;noprximoclicdomouse;nodial do
rdioounabocadovizinho,docolegadetrabalhoe,infelizmente,dentrodemuitas
casas.Umaquestodeestilo.EstilonalnguadoPdepreconceito.
AnnaMarinaBarbar socilogaformadapelaPUCRio,mestreedoutoraem
Histria pela UFF, trabalhou como pesquisadora da ONG: "Davida, Prostituio,
Direitos Civis, Sade" em 2005 e publicou As Meninas da Daspu. No release de
divulgaodoseulivro,aassessoriadeimprensadaautoraescreveu.
H umapiada quediz queumaprostituta tudo, menosumamulherdevidafcil. Olivro, AsmeninasdaDaspu,deAnnaMarina Barbar, da Editora Novas Idias, mostra que todabrincadeiratemumfundodeverdade.No,asprostitutasnotmumavidafcil.Aocontrrio:aprostituio,paraelas,aconteceucomoumasadanaturalparaapobreza,paraarigidezfamiliar,paraasolido.Prostituio,acimadetudo,umaprofissoquesreconhecidacomoumbemmaiorporquemprecisadelaprostitutaseclientes.Umdepoimento:Cuideidosmeusirmose no pude estudar. A gente trabalhava muito na roa. Ns plantvamoscana,milho,mandioca,feijo,melancia.Colhamos cocoparafazerdend.Minhameiaparaaribeiralavarroupa edepoisficavalimpandobucho.Aspessoaspagavamaelapara salgar aquelas carnes todas. Ento, de tarde, l pelas cinco horas,eueminhairm,agentetomavabanho,davabanhonos dois,deixavaleiaparaaribeiraajudarminhame,porqueeramuitacarne,paradeixaremcasaparaosdonosirempegar. Foiassimdosseteaos14anos.Aminhavidaeraessa.Infncia mesmode brincar comoutra criana a gente no tinha. Era muito trabalho, muito trabalho mesmo. Foram nove osdepoimentos,colhidospelapesquisadora,quemostramque,portrsdamulherseminuanaesquinadeCopacabana,noinferninhoda Praa Mau ou na vastido da Central do Brasil, existempessoas comsonhoscomoqualquer mulher direita. Afinal isso que elas so: trabalhadoras com rotinas, ascensoprofissional,sonhosdeumamelhorvida.
17
-
ACORESPONSABILIDADEDAFONTEQuandoaimprensanoinvestiga
O CRIME DE IMPRENSA pode ser cometido no somente pelo jornalista ou pelo
veculo que publica denncias infundadas, mas tambmpela fonte que divulgou a
notcia.Nocasodeumdelegadodepolcia,nasuamaioria,gentemuitovaidosaque
muitasvezesconvocaaimprensaparamostraroservio,paraapresentarumsuspeitoou
umpresumvelcriminoso,estetambmcoresponsvelpelageraodanotcia.Todos
cometeramomesmocrime.Aautoridadepolicial,pelaprecipitao,ojornalista,por
noterchecadoafonteenotersidocuidadosonahoradotratamentodoassuntona
matria(naredaodotexto).Salvorarasexcees,amaioriadosjornalistaspoliciais
nocostumacontestarafontequandoelaoficial.Odelegadofaloutfalado,rezaa
normadomeiopolicial.
Emboratenhaumconselhodeticaparaorientarosprofissionais,oSindicato
dosJornalistasdoParanadmitequeojornalistanotenhatempoparaficardiscutindo
tica.Comrelaochecagemdafonte,oreprter,quandorecebeumainformaode
fonteoficial,nocasodeumdelegadodepolcia,provavelmenteimaginaqueseest
vindodeumaautoridadepblica,entoproblemadela.(13)
Hoje,qualquercidadoquesejaacusadoporqualquerdelegadoecujonome
caia nas mos da mdia, est sujeito a sofrer um massacre que dificilmente ser
reparado, admitiu o jornalista Audlio Dantas (14) na comisso julgador do XVII
PrmioJornalsticoVladimirHerzogdeAnistiaeDireitosHumanos.SegundoDantas,
tambmquemuitodifcilfazervalerodireitoderetratao,escrevendoumacarta,por
exemplo,quecertamentetercomorespostaumtextoiradodoautordennciaoudo
prprioveculo. UmdosmaisgravesequvocosdeimprensanoBrasilaconteceuna
cidadedeSoPaulo,noqualamdianacionalembarcou,foioCasodaEscolaBase:
OepisdioficouconhecidocomoCasodaEscolaBase.Nofoiummexerico qualquer. Lcia Tanoue e Cla Parente, mes de alunos,denunciaramaodelegadodo6DistritoPolicialdeSoPauloqueseusfilhosteriamsofridoabusosexualnaescola.Nodiaseguinteaorelatoque fez na polcia e temendo que o caso no fosse devidamenteinvestigado,LcialigouparaaRedeGlobodeSoPaulo,originandoo
18
-
furo jornalsticodo reprter Valmir Salaro. Ahistria repercutiu namaioriadosjornaisdoPas.Oqueseviuemseguidafoiumasomatriadeerros,prjulgamentosesensacionalismodaimprensaquearrasouavidadeseispessoasedeixoutrscasaisemfrangalhosPaulaMilhim,sciadaescolinhaeMaurcioAlvarenga,motoristadaKombiescolar,sesepararamapsoocorrido.IcushiroeMariaAparecida,donosdocolgio, aindatentamreconstruir suasvidas. MaraCristinaFranaeSaulo daCosta Nunes, ela professora, ele seu marido, que at pelahumilhaodaprisopassaram,nuncamaisforamosmesmos.Hoje,asvtimasdaimprensavivememisolamentoetentamcobrardoEstado,odescalabroqueforamasinvestigaesquefizeramdelesalvosfceispara juzes, armados comcanetas, microfone e pouqussimo bomsenso.Acuseprimeiro,apuredepois. Essafoianicaregraseguida.Ningum lembrou que todos so inocentes, at que se prove ocontrrio.(15)
Nestecaso,ningumsepreocupouemchecarafonte.Aimprensaacreditoue
reproduziuaversodafonteoficial,daautoridadepblica,nessecaso,odelegado.O
casodaEscolaBasedeSoPaulotemsidocitadoporquefoipraticamenteaprimeira
feridaasertocadacommaiscoragemeumpoucomaisdesensocrtico.Luz,cmera,
ao.Quandoodelegadofala,averdadeestescrita.Ningumcontesta.Publicase.
EquandoPolciaeImprensasolevadasnaconversa?
Nodia15deagostode1996,umtelexenviadopelodelegadodoServiode
Investigaes de Crianas Desaparecidas (SICRID), Carlos Roberto Bacila, para as
redaes dos principais jornais dopas informavaque foraencontrado, emManaus
(AM),ummeninoqueseriaLeandroBossi, desaparecido, desde15defevereirode
1992,emGuaratuba,litoraldoParan.Foiumabomba.Todososjornaisderamcomo
sendoomeninodesaparecido.AsmanchetesdavamqueLeandroBossiencontrado
vivoemManaus, estampandofotosdelee dopai, abraados. Cenasnapraia. Tudo
caminhava para umfinal feliz. A imprensa desprezava cada pista. Ningumsequer
cogitava umexamede DNA. Os jornais tratavamo caso comose ele j estivesse
concludo.OtestemunhodeJooBossijforasuficiente,afinaleleeraopaieno
iria confundir oprpriofilho. Tudoeraconduzidoparaa emoo. Poucasvezesos
jornais se referiam ao suposto Leandro ou como Leandro/Diogo Moreira, No de
registro,depoisderaptado.Nofinal,tudonopassavadearmao.Eumgarotode
dezanospassouaconversanaimprensa.(16)
Da mesma forma, a partir de informaes de delegados ou informantes da
polcia,pessoassodiariamenteridicularizadasnosprogramaspoliciaisdateleviso,do
19
-
rdio e nas primeiras pginas dos jornais de Curitiba. Pessoas que sequer foram
julgadas.Nopassamdesuspeitosoudeenvolvidosdiretamenteouno,emcrimese
confuses. Tratase de um noticirio que fere um direito fundamental da pessoa
humana:odireitodignidade.Eoquepior,semnenhumainvestigao.Anotcia
comeaeterminadentrodadelegaciadepolcia.
Pessoassoacusadas,condenadasepunidaspelaimprensa,semdireitodefesa.
Incompetncianaapuraodosfatos?Desinteressepelaverdade?Outudoenomeda
notciaumprodutovenda?(17)
Percebesequeocinismotomoucontadaimprensaeosensacionalismopassou
aserumaestratgiademercadoparaconquistar pblico. Aviolnciase transforma
numagrandevitrineparavenderjornal.EmCuritiba,porexemplo,ojornalTribunado
Paranespecializadoemjornalismopolicialvendemaisde30milexemplaresem
banca,ssegundasfeiras,deixandooprimeirocolocado,duranteorestodasemana,o
jornal GazetadoPovo,muitos nmerosatrs. Ainformaofoidadaemagostode
1997,peloentodiretorderedaoCarlosAlbertoTavares.Ojornalinformouainda
quequandomorreuopilotobrasileirodeFrmulaUmAirtonSena,(01Mai.94),a
Tribunachegouavender70milexemplares.(18)
H profissionais quetrabalhamcomorecursodasfontes ocultas lanando
boatosdirios,abrigadosnaimpunidadeaconchegantedoanonimato. Sabesemenos
quantomaissel,poisumareportagemcontradizaoutra.
NOTCIAPRODUZIDACircoarmado
AIMPRENSATEMPODERparamanipular,produzireconduzironoticirio.Observao
presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paran, Emerson de Castro. Para
exemplificar,EmersonCastrocitadoiscasos,descritosaseguir:(19)
No incio do anode 1997, dois policiais civis, usandoarmas verdadeiras,
entraram numa estaotubo*, disfarados de bandidos. Acompanhados pela
reportagem do jornal Tribuna do Paran, deram voz de assalto para o cobrador,
provocandoummalestar geral. Issotudoparaprovaravulnerabilidadeeafalta de
segurananaquelelocalpblico.Eningumsabiadenada,nemocobradorqueganha
umbaixo salrio para cuidar de muito dinheiro que entra diariamente na caixa da
20
-
catraca.Conseqncias:ojornalpublicouanotciaqueajudouainventareaproduzir,
ignorandoquaisqueraspectosticosdocompromissocomaverdadeealgumaspessoas
tiveramdeserhospitalizadasporquepassarammal.(*20)
Nomesmoano,porocasiodoacidentecomoaviodaTAMquesegundoa
polticateriaumabombaabordoumaequipedeproduodaTev Globoenviou
caixaslacradascomfalsasbombas,porvriosaeroportostambmparaprovarafaltade
segurana dos mesmos. E conseguiu. E com isso conseguiu tambmproduzir uma
matriajornalsticaexibidanohorrionobre.
JooFdercontaqueem1995,umarededetelevisodoJapotambmarmou
umasituaoaindamaisviolenta.Osprpriosjornalistasecinegrafistasmontagema
encenaodeumestupro, gravaramtudoemtemporeal e mostraramemhorrio
nobre, no noticirio da tev. Essa produo teve conseqncias graves. Umadas
meninas nosuportouasuaprpria exposioaoridculoesuicidouse, jogandose
embaixodeumtrem.Nodiaseguinte,descobriramtudo.Ento,odiretordaemissora
foiaoar,pediudesculpasaopblicoedisseque,comopunio,ficariaumanosem
receberosalrio.Eda?Reparouemparte?Talvez.
Ficoerealidadeestonofiodanavalha.Notciadeveriaseradivulgaode
fatosverdadeiros. Masnosltimos temposanotcia seconfundecomasarmaes,
produes,boatariasecomjogosdeinteressespessoaisoudegrupos.
Ojornal impressoregistra, parasempre, aespetacularizaodaviolncia, do
grotesco, do inusitado, da indignidade humana. A televiso, como uma comadre
fofoqueira,invadeassalasdejantar,deestar,acozinha,osdormitrioseconta,timtim
portimtim,oqueacontececomavidadosoutros.Equandonotemcerteza,inventa.
Oqueelanopodedeixardefazercontar,espalharanotcia,ouboato.Noimportam
osmeios.Oqueinteressaofim.cumpriroobjetivodecomunicar.
Natelevisotemprofissionaisquesoverdadeirasestrelasmuitobempagas,
masquandosetratadejornalismoessasduascoisasnocombinam,afirmaEmerson
deCastro.Naopiniodele,ohumoristaJSoaresdesqualificaoentrevistado,tira
sarrodaspessoasquelevanoprograma.Castrorecordasedeumaentrevistacomo
cantorMiltonNascimento,quandooapresentadorJSoaresficouumblocointeiros
falando do chapu do artista. Enquanto que o compositor teria coisas bem mais
interessantesparacontar,naopiniodojornalista.
21
-
Aproposta, no entanto, do programa do J Soares no exatamente fazer
jornalismo.TratasedeumTalkShowprogramadeentrevistaedeentretenimento,
cujomodelotemsidocopiadodosEstadosUnidosprecursornaatividade.
O escritor norte americano, Mitchel Stephens, no seu livro, Histria das
Comunicaes doTant aoSatlite, escreveu: Nenhumveculodedivulgaode
notciaoferecemaisinteraorealemaiscontatodevizinhanadoqueateleviso.Os
telespectadoresvivemnummundoderealidadeindireta.Cadavezmais,falamepensam
arespeitodepessoasquenoconhecem,acercadelugaresondenotmestadoo
apresentadordatevsubstituiuonovidadeiro,oamigo,ofofoqueiro.
POBREZADCADEIAOcrimedeserpobre
NAREPORTAGEM POLICIALmuitosnemhesitam.Acusarpareceserapalavrade
ordemnasredaes;overbotransitivodiretodamanchetedecapa.Bastaparaissoque
aacusaosejaforte,eoacusado,fraco.Agrandemaioriapobreeacreditanoter
nenhumescudoparaprotegersedosfrancoatiradoresdamdia.Pordesinformaoou
pelobombardeiodeinformaesdistorcidaseantiticasaqueestsujeitatodososdias.
Pessoas mais humildes, sem recursos financeiros, quando vitimadas pela
imprensa nemsabemquepodecontratar umadvogadopara defendlas. Ea mdia
escolhe essas vtimas porque j esto condenadas pela sua misria, indigncia e
condio social. Elas j so vtimas da sua prpria condio, logo no se sentem
fortalecidas para reagir. Talvez pensem, ser normal essa constante exposio ao
espetculodamdia.
Enquantoisso,osjornaispoliciaiscontinuampublicandofotografiasdepessoas
pobresmortasinclusivefotosdeprostitutasemposiesindignificantes,tantopara
suamemriaquantoparaseusfamiliares.Eissoacontecesemamenorconseqncia.
TratasedecrimeprevistonoCdigoPenalBrasileirocomovilipndioacadver.H,
portanto, diariamente, flagrantes devilipndioacadveres (violaodaimagemdos
mortos) quando fotos de corpos humanos so expostas em posies ridculas nas
primeiraspginasdosjornaisounateleviso.
Quandoumapessoapobreehumilde,semconscinciadeseusdireitosvno
jornalafotografiadafilhaestampadanaprimeirapgina,semcalcinha,ensangenta,
22
-
semumbrao,claroqueelasesentehumilhada,masnosabeoquefazerafirmao
presidentedaFederaoNacionaldosJornalistas(Fenaj),AmricoAntunes.(21)
Equalseriaomecanismoparafazercomqueamdiarespeitasse,pelomenos,o
mnimoestabelecidopeloartigo5daConstituioFederal?
Nocasodosprogramasdeauditrio,derdioeteleviso,oumesmonosjornais
impressos, que exploramesse filoda violncia, do sangue, da tragdia humana, a
questo no se restringe unicamente ao jornalismo. Muitas pessoas que esto no
comandodessesensacionalismo,nemjornalistasso.Temmuitoartistafazendoisso.E
essaquestotemdesertratadasoboutropontodevista,sobalgoquetranscendeo
aspectodaticaoudaliberdadedeimprensa.Envolveaquestolegaldoexerccioda
profisso. Emmuitos casos, esses apresentadores violam princpios constitucionais,
incitamaviolncia,cometemcrimesdeimprensa.Oquenstemosquefazercontar
com os setores mais esclarecidos da sociedade, com o Ministrio Pblico para
auxiliarmosasvtimasdessescrimeslevandoasaoexercciodasuacidadaniaereparar
possveis danos. A prpria imprensa sria tem por obrigao fazer isso, sugere
Antunes.
Osdanossofridosporumapessoaacusadaapressadamentepelaimprensaso
irreparveis. Nosveculos decomunicao, principalmentenaquelesqueexploramo
noticiriopolicial,ningumsuspeito,todomundocriminoso.Desdequenohaja
proteoeconmica,obviamente.
O reprter, o apresentador de programas policiais do rdio ou da televiso,
muitas vezes, acaba assumindo uma posio acima do bem e do mal. Acaba
confundindoseupapelnasociedade.Estejaelearmadocomsuacaneta,suacmera,seu
microfone,noimportaeleautoridade.Suaaudinciadoflagrante,dasentenae
transformaonoticiriopolicialnumgrandeshow,numespetculodemdia.
NatalcioNorbertoensinaqueparacobrirmatriaspoliciais,oreprterprecisa
possuir inteligncia superior, coragem, sanguefrio e carter. Todavia, esses pr
requisitos,nostemposatuais,maisseassemelhamaosatributosdeumsuperhomem.O
reprteracabasecolocandosuperiordemais:acimadetodasascoisas;suacoragem
extrapolaalegislaoeinvadeaprivacidadedaspessoas.(22)
A informao jornalstica essencial para a democracia, mas o que est
acontecendonoBrasiloexcesso.AConstituioFederalBrasileirarezaaproteo
23
-
informaocujoconhecimentosejarelevanteparaaparticipaodoindivduonavida
em sociedade, mas muitos profissionais da imprensa esto interpretando mal esses
preceitos. Fofocasebisbilhotices sobreavida ntimadaspessoasnotmproteo
constitucional para quem as pratica. crime de calnia, injria ou difamao
dependendo do caso. Acusar uma pessoa, publicamente, de umcrime que ela no
cometeudcadeiaemqualquerlugardomundo,atnoBrasil.Bastaqueaspessoas
sejammaisbeminformadassobreseusdireitos.Alis,essedeveriatambmserpapelda
imprensa.
Maispessimista,oprofessordeticadaComunicao,daUFPR,JooFder
pergunta:qualopobrequevaicontratarumadvogadoparprocessarumveculode
imprensa?Equaloadvogadoquevaiterpeitoparaenfrentaropoderdamdia?(23)
SEMMEDOESEMLIMITECoisadereacionrio
MAS ESSE RECEIO emcensurar a imprensaemparte verdade. AConstituio
Brasileira nopermite censuradeformaalguma. H vrios artigos queenfatizama
liberdade de expresso. A partir disso, acontecem os abusos da prpria mdia que
tambmtornouviolenta. Eopoderpblicoest incapacitadodeconteressesabusos
porqueestarcometendoumatodeexceo,antidemocrtico.Entosurge,aliberdade
total=abuso.NaanlisedoprofessorFder,humrisco.Seforpermitidaumameia
censura,ningumseguramaisprevine.(24)
Ironicamente a imprensa sobrevive fazendo tudo aquilo que no passado
abominava.Nosanosdaditaduramilitar,umdosfocosdeesperanaederesistnciaaos
abusosdoEstadoforaaImprensa. NaopiniodojornalistadaFolhadeSoPaulo,
GilbertoDimenstein,atacaraimprensanassociedadeslatinoamericanasfoi,emgeral,
prtica dos generais; da, a tendncia emseconfundir fiscalizaocom tortura. Ao
compararojornalismobrasileirocomodosEstadosUnidos,eledizquel,oscrimesde
imprensasosumariamentepunidos.Rendemganhosdecausasmilionriassvtimas
deeventuais erros jornalsticos. Comoaimprensanorteamericananopassoupelas
mesmas atrocidades que a brasileira, a sociedade, amparada por Organizaes No
Governamentais(ONGs)epelojudicirio,levaessescrimessltimasconseqncias.
Enquanto no Brasil parece violncia processar um jornalista ou um veculo de
24
-
comunicao mesmoquando cometemcrimes de imprensa (calnia, difamao e
injria).Eessescrimessopraticadostodososdias,emtodooPas.Jfazempartedo
cotidianodojornalismo,damdia,demodogeral.(25)
Damesmaformaaexcessivapermissolevaaoabuso.Oprofessordefilosofia
daUSP,RichardPedracini,ressaltaqueaquesto,almdejornalstica,ticaequepor
causadisso,adiscussotemdepartirparaasviaslegais.(26)
ParaoadvogadopaulistaAndrMartins,nosepodeterliberdadeirrestritade
informao.Eledizqueaimprensaprecisaserresponsveleissosignificalimitarsua
liberdade. Claroquenodefendemosnenhumtipodecensura, masoprincpio da
responsabilidadecivil,paraquecidadosnosejamexpostos,diantedaopiniopblica,
comofensasedennciasinfundadas,afirma.(27)
Oadvogadocarioca,ManuelAlceuAffonsoFerreira,especializadoemDireito
deComunicao,dizqueapartirdaEscolaBasedeSoPaulo,asredaescomearam
passarumpoucoalimpooseuprpriocomportamento. Emsuaavaliao,todasas
faculdades de jornalismo deveriam ter as cadeiras de tica e de Direito da
Comunicao.(28)
RenArielDotti,professordeDireitoPenaldaUniversidadeFederaldoParan,
enfatizaqueoconflitoentrealiberdadedeinformaoeosdireitosdapersonalidade
devemsempreserresolvidosemfavordointeressepblico,visadopelanotcia.(29)
Obrasileiroprecisacomearareivindicarindenizaesquandoasuaimagem
foragredida.Eobolso,tantodosjornalistas,quantodasfontesedosempresriosdo
setordacomunicao, namedida emqueforameaado, poder tambmcomear a
mudaraculturadaimpunidade.
Poucos rgos de imprensa correro riscos de ter que pagar indenizaes
milionrias.Namesmaproporoemqueasagressescontraahonradaspessoasforem
resultandoemprejuzoparaosveculosdeimprensa,vaisecriandoumanovapostura
diantedaopiniopblica.
NosEstadosUnidos,osadvogadosmovemaesmilionriascontraosveculos
decomunicaoemassa.NoBrasil,issotambmpodeserfeito.Qualqueradvogado
podemoveraescontraaimprensa.MasdeacordocomaanlisedoprofessorJoo
Fder,esteprofissionalouestecidadoenfim,temdeterpeitoparaenfrentaropoder
25
-
damdia.Alis,opoderquemaiscresceunomundointeiro.oquartopoder,seno
foroprimeiro,enfatiza.
Umaprovadissoque,maisdequinzeanos,quandoajuzaDeniseFrossard,do
RiodeJaneiro, comeouaprender os bicheiros cariocas, omedodeles noerado
Judicirio,atporqueestemoroso,burocrticoepostergante.Omedodosbicheiros
eraodeaparecernoJornalNacional,daRedeGlobo,ounosjornaisdemaneirageral.
Paraeles(osbicheiros),acondenaovempelamdia.Omedonoeradajuzae,sim,
dopodercondenatriodaimprensa.
Tudoissoparececolocarojornalismoacimadobemedomal.Aparentatratar
sedeumaclasseprotegidapelagarantiadaliberdadedeexpresso.Mas,senohouver
bomusodessaliberdade,podeacontecerocontrrio.
Paracoibirabusosnaimprensa,aFederaoNacionaldosJornalistas(FENAJ)
defende a criao de um conselho nacional de autoregulamentao da imprensa,
semelhante aoConarConselhoNacional deAutoregulamentaoPublicitria que
analisaocontedodasmensagenscontidasnaspropagandassesoounoofensivas
tica. Equandosim, soimediatamente retiradas deveiculao. OConar temdado
provassuficientesdequefuncionaepassouaservirdeparmetroaosjornalistas,h
algumtempo.
Aintenodereunirosempresrioserepresentantesdordio,dateleviso,dos
jornais,dasrevistas,radialistas,jornalistas,artistas,locutores,reprteresfotogrficos,a
fimdeestabelecerummnimoticoparaosmeiosdecomunicao,nonosmoldesde
censura,sempreficanaintenoounareunio.Poucoacontecerdeconcreto.Todavia,
semprebomfrisarquenosepodeconfundircensuracomcontroleexterno.Issoseria
umavisotacanha,porqueopretextodaliberdadedeimprensanopodemaisservir
comojustificativadeabusoseatdecrimesnosmeiosdecomunicao.Aliberdadede
imprensanoautorizaojornalistaaagircomirresponsabilidade,nemtampoucoafazer
oquequisercomavidadosoutros.
Nos Estados Unidos, na Alemanha e Inglaterra, para citar alguns exemplos,
renemserepresentantesdasociedadecomprofissionaisdeimprensaeproprietriosde
veculos de comunicao para discutir princpios ticos do setor. Na melhor das
hipteses,porumaboacomunicao.
26
-
OSCDIGOSDETICACompromissocomaverdade
NSACREDITAMOS queosagentesdacomunicaodemassasocondutoresda
discusso e da informao, pblicas atuando segundo o seu mandato e liberdade
constitucionais de conhecer e relatar os fatos. Ns acreditamos no desempenho
inteligenteeobjetivo, corretoehonestodojornalista. (Cd.DeticadaSoc.Dos
JornalistasProfissionaisSigmaDeltaCHIEUA,1984).
O jornalista deve evitar a divulgao de fatos com finalidades apenas
sensacionalistas; de carter notoriamente mrbido ou que tripudie sobre os valores
inerentes ao ser humano; que possamprejudicar pessoas inerentes ou visivelmente
indefesas.(Art.12doCdigodeticadoJornalistaFENAJ/RJ,1985).
Noartigo6daDeclaraodePrincpiosdaSociedadeAmericanadeEditores
de Jornais est escrito que os jornalistas devem respeitar os direitos das pessoas
envolvidasnasnotcias,devemobservarospadrescomunsdedecnciaecolocarse
emposiodetransparncia,diantedopblico,quantoimparcialidadeeretidodo
noticirio.
Nomesmoartigorezaqueaspessoasacusadaspublicamentedevemreceber,
tocedoquantopossvel,aoportunidadederesposta.Ocompromissodeconfiabilidade
peranteasfontesdenotciasdeveserhonradoatodoocustoe,porisso,nodeveser
assumidolevianamente. Anoserquesejaclaraeurgenteanecessidadedemanter
sigilo,asfontesdeinformaodevemseridentificadas. Essesprincpiossocriados
para preservar, proteger e fortalecer os laos de confiana e de respeito entre os
jornalistaseopovo,laosessenciaisparsustentaragarantiadeliberdade.(38)
Sobttulos diversos, existemcdigosdedeontologia numgrandenmerode
pases:cdigosdehonra,cdigosdaimprensa,declaraodosdireitosedosdeveresdo
jornalista, cartadosdeveresprofissionais, normasdejornalismo,etc. Essavariedade
encobreoutra:adocontedodasnormasreunidasnessasrecopilaessejaqualforseu
ttulo.Contudo,namaioriadessescdigos,verificamsecertascaractersticascomuns,
valendo ressaltar, especialmente, as que dizem respeito funo primordial da
imprensa, que consiste em informar, e informar corretamente. Por essa razo, os
jornalistastmaobrigaodedefenderaliberdadeeaindependnciadainformaoe
docomentrio,noentendimentodequeessasduasfunesdevempermanecerdistintas;
27
-
derespeitaraverdadee,porconseguinte,nodeformlamedianteapresentaoparcial
ouenganosa;deverificaraveracidadedainformao;depublicarasretificaesque
resultemnecessrias;demanterosegredoprofissional; denodivulgarasfontesde
informao(emboravriospasesnoreconheamestaltimaobrigao).
Outrassoobrigaesquedecorremmaisdamoralelementar:porexemplo,a
proibiodecaluniaroudifamar,ouderevelaravidaprivadadaspessoas;adeatentar
contra a moralidade pblica, fazendo a apologia da violncia ou do vcio; a de
recorrer ameiosdesleais, comodissimular/prevaricar dacondiodejornalista para
obterinformao(nesteltimoaspectohmuitadiscusso).Outrastmsuaorigemna
solidariedadequedevereinarentreosprpriosjornalistas:aqueexigemtuaajudaea
queprobeprticascomooplgioouaconcorrnciadesleal.(31)
OMBUDSMANPoliciandooscolegasnaredao
OS CONSELHOS DE IMPRENSA tmafunodemanteraticaprofissionalemum
nvelelevado.OprimeiroconselhofoicriadonaSucia,em1916.L,oConselhode
Imprensadesempenhasimplesmenteafunodeumtribunaldehonra,enquantoum
ombudsman (ouvidor) da imprensa, juiz da profisso, examina as reclamaes do
pblicooutomadiretamenteainiciativadeaescontraosabusosdaimprensa;pode
decidirpelasubmissodeumaqueixaComissodePrticasHonestasdoConselhoda
Imprensa.Otermosuecoquerdizeraquelequerepresenta.Ombudrepresentantee
manhomem,comonoingls.(32)
Massomenteapartir dadcadade1970,essesconselhos, emvriospases,
assumirama condiode guardies da tica. Mas tm,particularmente, por funo
defender a liberdade de imprensa. Por esse motivo, descritos como ces de duas
cabeas, uma ladra para o interior, enquanto a outra, ladra para o exterior. Alguns
conselhos (na Alemanha e na Inglaterra) tm inclusive por misso observar e dar
conhecimento ao pblico da evoluo estrutural da imprensa, especialmente das
tendnciasconcentrao:essafunopode,almdisso,serconsideradaderivadada
liberdadedeimprensa.(33)
ComapropostadanovaleideimprensanoCongressoNacionaldesde1990(ver
anexos), a Federao Nacional dos Jornalistas prope a criao de um Conselho
28
-
Nacional de Comunicao para, entre outras coisas, elaborar umcdigo de tica e
estabelecerumaparticipaonasredaescriandoconselhosdeimprensaounelesse
fazerrepresentar.
Todavia, os prprios jornalistas, como corporao profissional, enfrentam
resistnciasdosproprietriosdosveculosqueentendemcomocensuraprvia.Horror
deumpassadorecentequeoBrasilqueresquecer.
OBrasilsveioconhecerafiguradoombudsmandaimprensaemsetembrode
1989quandoCaioTlioCostafoinomeadoparadesempenharafunonaFolhadeSo
Paulo.Naverdade,elefoioprimeiro ombudsmandaimprensanaAmricaLatina.O
papeldessejornalistadefenderoleitordentrodaprpriaredaodojornalparaoqual
trabalha.
Oprimeiroombudsmandaimprensabrasileiracontaqueinicialmente,percebeu
quelhefaltavaqualidadeparaopapel, apacincia. Exerciteimeemdesenvolvla
paraentender,comomesmointeresse,svezesmaisde50reclamaesidnticasnum
mesmodia.Noteitambmqueningumseriaumbomombudsmansenoconhecesse
profundamente a legislaoqueenvolve seumaterial de trabalho. Eu,queconhecia
superficialmenteanovaConstituio(1988),aLeideImprensa(5.250)eoscdigos,
PenaleCivil,tivedeiratrsdealgumasnoesdeDireito.Foiquandoviquens,os
jornalistas,nosabemosnemadiferenaentremandatoemandado.Porfalarnisso,o
mandatodoombudsmandaFolhadeSoPaulodenomximodoisanos.Trechoda
apresentaodolivrodeCaioTlioCosta,ORelgiodePascal.(34).
Oombudsmannomeadopeladireodojornalporumperodoinicialdeum
ano,renovvelporapenasetosomentemaisumano,seambasaspartesestiveremde
acordo.Hjornaisondeosmandatossomaiores,atdezanos.Masoombudsmanno
podeserdemitidonesseperodoegozaaindadeestabilidadenaempresapormaisum
ano,apsdeixarocargo.Tudoporcausaadelicadezadafuno,parapreservarsua
independncia.
Osombudsmensoamadospelosleitoreseodiadospelosjornalistas.preciso
enfrentar fortes reaes corporativistas dentro das redaes e do prprio meio
profissional. Tlio Costa conta que o cargo na Folha de So Paulo rendeulhe
desavenaseaperdadegrandesamizades.
29
-
Hoje,asdecisessotomadasnosgabinetesdopodere,emmuitoscasos,nas
redaesdosveculosdecomunicaodemassa.Opovo,ocidadocomum,tornouse
marionetedograndeespetculodamdia.EafiguradoombudsmannoBrasilainda
desempenhaseupapelmuitotimidamente.EmCuritiba,ocorporativismodificilmente
permitiriaainstituiodessecargonaredaodeumjornal.Ostextossoverdadeiros
tratados,nosepodemexerneles.
Ningum conhece totalmente as funes dos veculos de comunicao de
massa,poisemgeralelassotopenetrantesesutisquenopodemserlocalizadaspor
meiodepesquisasocial(...)escreveuWrigthMills.(35)
FATOEVERSOAcredibilidadedamdia
PARAWALTERLIPPMANNemPublicOpinion(NewYork1922),citadoporWrigth
Mills a maioria dos quadros mentais existentes na sociedade moderna resulta em
produtosdosmeiosdecomunicaoatalponto,quemuitasvezes,muitagenteno
acreditarealmentenoquevsuafrente,enquantonolarespeitonojornal,vna
televiso ou ouve no rdio. Os meios de comunicao no proporcionam apenas
informaes, orientam as experincias. Os padres de credulidade tendem a ser
realidadesdeterminadasporelese,no,pelaexperinciapessoal.Chegaseapontodo
indivduo submeter as suas experincias confirmao da mdia, tamanho a
credibilidade,ainflunciadosveculos.(36)
Aspalavrasvencemguerrasouvendemsabo;agitamouacalmamopovo.A
afirmao do terico norteamericanoJ. TruslowAdamsemfraseatribuda a um
publicitrionorteamericanodadcadade1920.(37)
Assim,aspalavrascondenameabsolvemosindivduos,ignorandoopapelda
Justia. E essa condenao por palavras fica registrada nos anais dos meios de
comunicaodemassa,daqualfoiorbitro.
ParaEdgarMorin,filsofofrancscontemporneo,asociedadedosculoXX
sofresimultaneamentedesubinformaoesuperinformao,deescassezedeexcesso.
Ele afirma que o excesso abafa a informao quando estamos sujeitos ao rebentar
ininterruptodeacontecimentos sobreosquais nosepodemeditar porquesologo
30
-
substitudosporoutros.Assim,aoinvsdeperceberoscontornos,asarestasdaquilo
queosfenmenostrazem,aspessoasficamcegasdentrodeumanuvemdeinformaes.
Eseasfortesimagensdefome,desgraas,desmoronamentos,desastresvoltamtodos
os dias, comoaconteceu durantea GuerranoVietn, noCamboja, noAfeganisto,
ento, elas se saturam e deixam o pblico saturado, banalizamse. Enquanto a
informaodformascoisas,asuperinformaosubmergeasociedadenoinforme.
(38)
Aocriticaraquedadosregimesautoritriosdomundo,Morindizqueagora
continentes inteiros tornaramse novamente desconhecidos, as antigas manchas
geogrficasbrancasforamsubstitudaspelasimensaszonasdesilnciosociolgicoe
polticoqueso,aomesmotempo,zonasdeinformaofico.(39)
Deacordocomesses tericos e tantos outros pensadores que j escreveram
sobre os fenmenos da comunicao de massa, h uma tendncia no pblico em
acreditarmuitomaisnaversodoquenosfatos.
Carlos AlbertoDiFrancoafirmaquede algumtempoparac, os meios de
comunicao social, particularmente os eletrnicos, parecem ter escolhido a crnica
policial como filo predileto. Declaraes de bandidos aparecemagora emnmero
semelhanteaodasentrevistascomministrosdeEstado.Ainformaocorreoriscode
ser condicionadapelos esquemasdeumshow.Existe umaconfusocadavez mais
perigosaentrejornalismoeentretenimento.DiFrancocitaosocilogonorteamericano
Neil Postman, que disse: ns acreditamos to passivamente na mdia que no
questionamos mais o mundo que ela nos descreve. O insignificante nos parece
importante, a incoerncianosparecesaudvel. Entramosnaculturadatrivialidade.
(40)
FORADOARImprensaecidadania
NO FINAL DE 1997,osapresentadores deprogramaspoliciais deteleviso, em
Curitiba,LuizCarlosAlborghetti(ProgramaAlborghetti,TevIndependncia,canal7)
eCarlosRatinhoMassa(programa190Urgente,CNTCentralNacionaldeTeleviso)
tiveram seus programas levados Justia (ver anexos). Essas emissoras foram
condenadasapagarmultasquevariavamdeUS$10milaUS$50mil,cadavezque
31
-
essesapresentadoresdesrespeitaremosdireitosindividuaisdopresooudosuspeito
mostradonosprogramas.Adeterminaodoentojuizfederal1Vara,emCuritiba,
ZuudiSakakihara, acolheuparcialmentepetioapresentadapeloMinistrioPblico,
emaocivilpblica.
Nasentena,ojuizlistouosprincipaisdireitosdosacusadosqueoprograma
deverespeitar.Odireitodenoserofendidoemsuadignidadehumana;odireitode
no prestar declaraes contra a sua vontade; o direito de no ser filmado ou
fotografado emsituaes vexatrias e humilhantes; o direito de no ser exposto
execraopbica;odireitodenoserprjulgadonemcondenadoporquemnoseja
competente;odireitoaintimidade.
OMinistrioPblicoFederalhaviasolicitadoaretiradaimediatadosprogramas
doar,masojuiznaocasioconsiderouqueosmesmos,apardaviolaoquaseque
diriadosdireitosconstitucionaisdocidado,possuitambmaspectospositivosque
devemserincentivados.Naopiniodojuiz,oprogramaeducativoquandocombate
ocrime,condenaacorrupoedesestimulaovcio.Masquandoesseprogramaeou
esse apresentador/jornalista humilha o preso, submetendoo a situaes vexatrias,
mostrandoo ao pblico contra a sua vontade, julgando, condenando, convocandoa
populaoaolinchamento,nosdeseducacomotambmferedireitosindividuais.
Ele faz um alerta s vtimas desses programas para que entrem na Justia
exigindooressarcimentopelosdanosmateriais,moraisedeimagem.
Oqueestportrsdessesabusoscontraaspessoas,sobretudocontraasmais
humildes,primeiramenteumadisputaselvagempelomercadodainformao,pelos
ndices deaudincia. Ea luta pela audincia sempre levouesses apresentadores de
programaspoliciais Alborghetti, Ratinho, e outroscomoAugustoCanrio, Algaci
Tlio,RicardoChab(processadopelaleideimprensaporexigirvantagempordeixarde
publicarnotcia2008),acometeremabusos.Tudoporqueaudinciaresultaemlucro,
dinheirovivo,altossalrios.Praticamojornalismoderesultados.Outrostminteresses
polticos que tambmrefletem interesses econmicos porque faturam como cargo
pblico.
Quase sempre, os maiores abusos no meio jornalstico so cometidos por
pessoasquenotmaformaoprofissional.So,namaioria,radialistasqueexercema
profissodejornalista.Logo,soperigosascertasteoriasquedefendemaaberturado
32
-
jornalismoparaqualquerumquesaibaescrever oucomunicarsedeformamais ou
menoscorreta(?).
Essesprofissionais,osapresentadoresdeprogramaspoliciaisnatelevisogozam
degrandepopularidade.Ealgunsdessesapresentadores,graasaospontosdaaudincia,
conseguem ser eleitos deputados, vereadores e at prefeitos. Com a imunidade
parlamentar prerrogativa dos eleitos esses poderosos passam tambm a
invulnerveis, intocveis. Isto, nopodemserresponsabilizados criminalmentepor
seusatos,porquealeilhesasseguraquesseroprocessadoscomautorizaodeseus
pares.Mascomoimperaocorporativismo,tudoficadomesmojeito.
Apartirdesseprocesso,iniciadoemjunhode1997,aProcuradoriadaRepblica
emCuritibapassouafazerumacompanhamentodasexibiesdetodososprogramas
policiais da televiso. Embora alguns jornais e radialistas continuem fazendo
linchamentomoraldaspessoasdonoticiriopolicial.
Alinguagemfoimoderadaporumperodoquenoduroumaisdeumms.Aos
poucos, foi voltando ao normal. Os apresentadores de programas televisivos e
radiofnicospoliciaisficaramumpoucomaiscometidos.Masabonanadurapouco,
logo todos os desempregados envolvidos em confuses viraram vagabundos,
mulherespegasnosarrastespoliciaissoprostitutase,suspeitosviramcriminosos,
assassinos,ladres,estupradores.Tudoacabanumaesquartejadapizza.Eaimprensa
sensacionalistaprosseguecometendocrimesdecalnia,difamaoeinjria.
TICANAMARRA
Desconhecimentodasleis
OADVOGADOCURITIBANOJoelSanwaysapostanumaticanamarra.Eleacredita
quediantedepuniesexemplares,asdemaisemissoraseosdemaisprofissionaisda
imprensapolicialficaromaiscautelosos.Paraeleojornalismodeveserexercidocomo
umaprofissocomoqualqueroutraquetemoseucdigodetica.Seumadvogado,
ummdico,ouumengenheiroagedemaneiradescorts,antiticaouatgrotescadiante
deseucliente,eleserchamadoatenoeatpunidopelorgoregulamentadorda
suaprofisso.Porquequeojornalistanodeveriaterumcuidadomaiorcomasua
tica,comasuaposturaperanteoseuclienteopblico,deummodogeral?Pensoque
33
-
existaumrgoquereguleisso.Agentepercebe,noentanto,quenoexisteacultura
dessafiscalizao,dessavigilncia,afirma.
ParaCarlosAlbertoDiFranco,aticajornalsticanoumdique,masumcanal
deirrigao.Apaixopelaverdade;orespeitodignidadehumana;alutacontrao
sensacionalismo; a defesa dos valores ticos, enfim, representam uma atitude
eminentementeafirmativa.Atica,aocontrriodoquegostariamosdefensoresdeum
moralismopiegas,noumfreioslegtimasaspiraesdecrescimentodasempresas
informativas. Suas balizas, corretamente entendidas, mola propulsora deverdadeiras
mudanas.
Profissionaisquetrabalhamnamdia,comoemqualqueratividadedesenvolvida
pelohomemestosujeitosaerros.Umbalanosereno,noentanto, indicaumsaldo
favorvelaotrabalhodamdia.Aimprensabrasileira,deummodogeral,deixoudeser
provinciana.Asredaessemodernizaram.MasojornalismopolicialfeitoemCuritiba
ainda do tempo em que fofocas e bisbilhotices eram assuntos interessantes no
cotidianodaspessoas.Edecertaforma,issoaindavendemuitojornal.Mesmoqueos
focalizadossejampobres,pretoseputasosexcludosdagrandeimprensaedetodos
osdemaiscenriosnosquaisestoosbacanas.
Oqueaindamaisassustadorqueagrandemaioriadosjornalistasdesconhece
a prpria lei de imprensa e o Cdigodetica doProfissional de Jornalismo. Essa
afirmaonoresultantedeumapesquisacientficaporquenofoiaplicadonenhum
questionrio junto a esses profissionais. Ela est baseada e entrevistas e conversas
informaiscomjornalistasdentroeforadasredaesdosprincipaisjornaisdeCuritibae
naconstataodojornalistaeadvogadoHermnioBack,queaindamaiscategrico:
grandepartedosjornalistasnoconhecesequeroartigo5daConstituioFederal.
Auniversidadedevesergrandecomeo.Aescoladejornalismoeoscursosde
comunicaosocial,demaneirageral,devemdarosprimeirospassosparamelhorara
formao e, principalmente, melhorar a informao do profissional de imprensa.
Entretanto, as faculdades de jornalismo, infelizmente, acabam formando tcnicos
escrevedoresdematrias,reprteresfaladoresnatelevisoounordio.Naopinio
do jurista e professor de direito da Universidade Federal do Paran, Ren Dotti, a
universidadesozinhanoformaojornalista. Oqueotornaprofissional avida,o
contato,oseufeeling,noodiploma.(41)
34
-
RELAESPERIGOSASOcaminhodafama
TER A IMPRENSA a favor ter opovoa favor. Tla contra umveredicto
condenao.Essasafirmaesexageradassoampresuno,evidentementeporparte
dequemestescrevendo,nestecaso,umjornalista.Massemapretensodecolocaro
jornalismonaposiodequartopoder,nodeixadeserumfatopreocupantetantopara
quemjestnomercadodetrabalhoquantoparaosfuturosfocas(reprtereminciode
carreira).
Pessoas com ascenso na carreira poltica, geralmente, do seus primeiros
passosporintermdiodamdia. Tratasedeumagentequesabetrabalharcoma
imprensa,ou,semrodeios,sabeuslaemfavordeinteressesprprios.
Htambmoutrosprofissionais,deoutrassearas,quesabem,emuitobem,usar
emanipularjornalistasecomunicadores,comigualousuperiorhabilidade.Mdicos,
advogados,engenheiros,terapeutasalternativos,artistas,costureiros.Cadaum,muitas
vezes costumadesenhar, comas tintas damdia, a trilha paraseuestrelato. E isso
acontece, em todos os veculos, nos espaos destinados a matrias jornalsticas.
quandootextodamatriajornalsticainvadidopelasemnticadabajulaoepelo
lescolesco do jabacul. Estas duas ltimas expresses, numa interpretao livre,
significam,maisoumenos:tomaldc.
NoBrasil,issonoumaprticacomum.Gentequequerentrarparaomundo
dosbacanascostumarecorreraojornalismoembuscadefamaedeevidnciadiante
daclientelanomercadoondeatuam.Quantomaisfamosoforoprofissional,maiscaros
seroosseusservios.Mas,pormaisparadoxalquepossaparecer,nessemeio,temat
jornalista que fazusodaprpria profissoparacrescer financeiramente, conquistar
amizadesinfluentes,subirnavida.
Paraojornalistaeadvogado,AntnioStrano,professordacadeiradeticada
ComunicaonaPUC/PRenaUniversidadeTuiti doParan, asociedademoderna
impeoutilitarismo.Issoquerdizerque,osprofissionais,independentedesuareade
atuao,temquesairembuscaderesultados. Entotemosessanovaterminologia
modernaqueclassificacomoomelhorprofissional,aquelequeobtmbomlucrono
35
-
exercciodafuno,comenta.Quemtemmaisfamatermaisclientes.Comisso,mais
dinheiroemaispoder.(42)
Os advogados tambmsabem fazer bomuso da mdia. Saemembusca da
opiniopblicafavorvelaoseucliente.Feitoisso,jgarantemmeiocaminhoandado
numtribunaldejripopular.Habilidosos,essesprofissionaissabemcomocriarfatos
novos.Convocamaimprensa,estabelecempolmicase,muitasvezes,usamaprpria
notcia,porelesmesmos,plantada,comoelementosafavordoprocesso.Nestecaso,
usamtambmojornalista,ojornal,omeio,enfim.
Istoquerdizerqueaquelesquetmmaisinflunciaemaiorhabilidadenotrato
comaimprensa,seutilizam,emuito,deespaosnamdiaparaobterxito.Todavia,
nemprecisa ser umespecialista para afirmar comsegurana que semdvida, isso
tambmno nadatico. Maspara queumadvogadopossaacessar a imprensa
precisoqueeletambmencontrepelafrenteumprofissionalquesedeixemanipular.E
deixarsemanipularimplicanumdesleixocomrelaoaosaspectosticosdaprofisso.
Equandoseencontramjornalistaeadvogado,comessascaractersticas, aconteceo
casamento perfeito. Claro que h umpragmatismo nessa relao. pura troca de
interesses.
Todavia importante ressaltar que os jornalistas e comunicadores emgeral
devemestarsemprepreparados,amadurecidosnoexercciodaprofisso,paraqueno
sirvamdeinstrumentodecertosgrupos.Admitiranopercepodoprofissionalde
imprensacomrelaoaodiscernimento dessesaspectosnanotcia, omesmoque
admitirasuaincompetncia.Porquenoelencodascaractersticasinerentesaojornalista
hbempoucoespaoparaaingenuidade.
Oadvogadocriminalistacuritibano,JlioMilito,falasobreaimportnciade
teraimprensaafavordocliente.Elefazpartedacorrentedosqueoptampelascausas
que chocam e comovem a opinio pblica para que, atravs da sua atuao nos
tribunais,possaadquirirnotoriedadeefama.(43)
Entresuascausasfamosas,temocasodoestudanteRafaelZanella,(comgrande
repercussonamdia/1997) mortopelapolcia, nobairrodeSantaFelicidadee,em
seguida, para justificar ocrime, ospoliciais colocaramdrogasearmasnocarrodo
rapaz.
36
-
Numprimeiro momento, a imprensa emgeral e o segmento que explora o
noticirio policial, deu a verso dos policiais traficante morto pela polcia.
Rapidamente, Milito foi contratado pela famlia Zanella e, commuita habilidade,
colocouaimprensacontraapolcia.Oassassinatodoestudanterevoltouacomunidade.
Acontecerampasseatas. Ofatorendeusemanas deentrevistas dospais e irmosde
RafaelZanellaemtodososjornais,programasderdioedeteleviso.Ningumsequer
tocounocrimedeimprensa,porterdivulgadoaversodapolcia,semterchecado.
Nessahistria,Militodizqueprefereteraimprensaaseufavorecategricoquando
afirma:APolciacometeuocrime,aimprensasimplesmentedivulgouafarsamontada
pelospoliciais.Eleachaqueaimprensaagiucorretamenteporqueosjornalistasse
basearamnumdocumentooficial.
Comoadvogadodafamlia,Militodeclarounaocasioquenotinhainteresse
emprocessar nenhum jornal. Preciso da imprensa a meu favor. A favor do meu
cliente.Ans,interessaprocessaroEstadoqueresponsvelpelaaodessesmaus
policiais,afirmou.
Outrocaso,tambmdefendidoporMilito,jfoiajulgamento,nofinalde89.
Ummdicojogoulcoolnanamoradaeateoufogo.ElavirouumaespciedeDiva
daimprensa.Comocorpotodoqueimado,amoafoisubmetidaavriascirurgias,
sempresobamiradosholofotesdamdia.Nodeuoutra.Todomundoabominavaa
atitude do rapaz, que j cumpriu a pena na Penitenciria de Piraquara Regio
MetropolitanadeCuritiba.Ele,peloseucrimehediondo,porsisjestavacondenado.
Mastambmeraprecisocondenlopelamdia. Paraquenoobtivessechancesno
tribunal.Ento,aostensivadivulgaodasfotografiasedosofrimentodesuanamorada
acelerouojulgamento,encerrandoocasomaisrapidamente.Almdeganharacausa,o
advogadoconquistafamaedinheiro.
POBRES,PRETOSEPUTAS.Ospsdopreconceito
APROSTITUTASESENTEmesmomargemdasociedade.Elatalveznemsaibados
direitosquetem.Talveznosesintaumapessoavalorizada.Eissovaletambmparao
pobre,quej estcondenadoaosectarismosocial, eparaonegro,quesofredeum
racismovelado. Eh o juzodogruposobreeles prprios. A entra a questodo
37
-
preconceito,darotulaoqueoscolocanumaescalainferiornapirmidesocial.Elna
basedessapirmide, ocidadoj acabaaceitandoque, dadaa suacondioscio
econmica,notemosmesmosdireitosdoquetemumcidadomaisbemsituado,mais
respeitadoquevaimissa;pagaseusimpostos;tempropriedade,etc.Essamentalidade
aqueestportrsdetodootipodeabuso.Humaespciedeausnciacoletivados
direitosedadignidadedaspessoas.Equandoessaspessoasresolvemreivindicaros
seus direitos, procuram o Estado que nem sempre est bem aparelhado para lhes
defender e pior, muitas vezes, no demonstra nem o interesse e nem a vocao
necessriaparaassumiracausadoexcludo.
Todomundocidadoeporcausadissodeveeprecisaexercerasuacidadania.
Eoqueexerceracidadaniaanoserfazervalerseusdireitosmnimosassegurados
pela Constituio Federal? Tem cidadopadro; cidadogay; cidadoprostituta;
cidadomendigoeatcidadobandido.Todossocidados.Todossoiguaisperante
alei,pelomenosoquerezaaConstituioBrasileiranocaputdoseuartigoquinto.
Enquantoosdefensoresdosdireitoshumanoslutamafavordessesexcludos,os
profissionaisqueatuamnojornalismopolicialficamindignadoseironizamasituao.
ApssofreraodoMinistrioPblico(agosto/1997)proibindoodemostrarsuspeitos
oudeexecrlos empblico, oento, deputadoestadual e entoapresentador Luiz
CarlosAlborghettidoprogramaquelevavaoseusobrenomeAlborghettinaTev
IndependnciadeCuritiba,passouareinventaroseuestilo.Ele,quetripudiavaem
cimadasaesdosbandidose/ouemcimadesituaesgrotescasdocotidianopopular,
comeouaironizar.Antes,eledefendiaapenademorteparaosbandidosetodosos
suspeitos j estavam condenados em seu programa. Sempre, poupava os mais
endinheirados e os seus companheiros da poltica. Nas suas ironias ele dizia, entre
outrascoisas,queobandido,pobrecoitado,umavtimadasociedadeequeseele
matou, vai para a cadeia e vai sofrer muito l, mas por pouco tempo. E
complementava, alterando sua atuao teatral ora em gritos, ora em sussurros,
dirigindoseaosuspeito:nosepreocupemeubem,assassinomeuamor,porqueos
defensoresdosdireitoshumanosirol,nacadeia,levarcigarropravocetambmvo
conseguirumbomadvogadoparatirlodoxadrez.Eda,meufilho,vocvaipoder
novamente,matar,roubar,estuprar,seqestrar(...).
38
-
Na opinio do jornalista curitibano, lvaro Colao, enquanto na Europa,
especialmente na Inglaterra, se cultua o mito vitoriano da proibio da expresso
sexual, tendo como emblema a prpria monarquia, que reis e prncipes que no
necessitam dos prazeres da carne, cultuase o mito da sexualidade. L o
sensacionalismo feito em cima de fofocas, intrigas e escndalos em torno das
celebridades.NoBrasil,cujaculturaformouseatravsdohomembrancoportugus,do
ndio(nativo)edonegro,omito umtantomacunamico. Eleacrescentaqueo
sensacionalismoadquireumaauraquasecircense.Sensacional obizarro:mulher
barbada;ochupacabra;alourafantasma.
Aabordagemestemtornododesconhecido:damorteedaviolncia.Aqui,
substitumososrostosbonitosdosastrosdocinema,pelafaceduraeperturbadadeum
bandidodaluzvermelha,porpersonagensquemalsabemseusdireitoseoslimites
deaodaimprensa.Noqueasfofocaseintrigasinexistam,maselaspertencemmais
ficodasnovelasesrevistasdetev.(45)
Pretos,pobreseputaspassamospiorespedaosnumpasondepredominaopreconceito.Poderia,emprosa,proferirpalavras,pporp,paraessepovoprejudicadopelapolcia.Postergadopelapoltica.Podrespoderespemascostasparapacatoscidadospublicadosfeitospalhaosdeprofissionaisdaimprensapaladinosdospoderosos.OPapastempiedadedessepovo.Pena!Penaprevaleceropreconceitoparapretos,pobreseputas.Povosemposionapirmidesocial.(SirleyCardoso,1997)
NOTAS
1. DIFRANCO,CarlosAlberto,Jornalismo,ticaeQualidade.RiodeJaneiro:Vozes,1995,p.77.
2. GuilhermeePaulaforampresosecondenadosporhomicdioqualificado,a19anosdepriso.Osdoissepararamseoficialmentedepoisdonascimentodofilho.Paulacumpriupenaporumanoeconseguiuliberdadecondicional.Guilhermecumpriuumterodapenaetambmconseguiuliberdadecondicional.Ambosforamlibertadosem1999.AindignaopopularealutadeGlriaPerezresultaramnaalteraodalegislaopenal.Apesar da mudana da lei no ter atingido os assassinos de Daniela, o homicdioqualificadopassouaserpunidocommaisrigorapartirdavignciadalei.
3. ARTIGO5INC.XConstituiodaRepblicaFederativadoBrasil.DistritoFederal.1988.
4. CarlosAlbertoTavaresqueeraconhecidonomeiojornalsticocomoCharlesfaleceuem05defevereirode2005deinfartonomiocrdio.
5. OInstitutodeDefesadasLiberdadesPblicasfoi fundadoemabril de1996, pelosadvogados,JoelSamwaysNeto,HermnioBacheJoeTennysonVello.
39
-
6. FDER, Joo. Entrevista concedida equipe deste Projeto Experimental da UTP.Curitiba09/09/1997.
7. DIFRANCO,CarlosAlberto. Jornalismo,ticaeQualidade.RiodeJaneiro:Vozes,1995,p.24.
8. HOLANDAFERREIRA,AurlioBuarquede.NovoDicionriodaLnguaPortuguesa.RiodeJaneiro.NovaFronteira.1988.p.593.
9. ANGRIMANI,Danilo.EspremeQueSaiSangue.SoPaulo:SummusEditorial,1995.p.14.
10. PEDROSO, Rosa Nvea. A Produo do Discurso de Informao num JornalSensacionalista.RiodeJaneiro:UFRJ/EscoladeComunicao,1983.
11. Fotgrafosfreelancersquetrabalhamsemvnculoempregatciocomosjornais.PrticamaiscomumnaEuropa,principalmentenaInglaterra.OnomePaparazzotemorigemitaliana.Ospaparazzisurgiramemcenaem1958.Naqueleano,TazioSecchiaroli,ofotgrafoqueinspirouFredericoFellininofilmeLaDolceVita(1960),descobriuqueseriamaisbempagoquandoconseguiafotossurpresa.Emumamesmanoitede1958,ospaparazziimortalizaramoreiFarouk,doEgitoqueforadeposto.ElefoiflagradopelascmerasindiscretasdoPaparazzovirandoamesadeumrestauranteemmeioaumacessoderaiva, eumatornorteamericanoesmurrandoumfotgrafoqueoflagroujantando com Ava Gardner. Fellini viu algumas das fotos e saiu em busca deSecchiaroli.CriouopersonagemPaparazzoofotgrafodeLaDolceVitaquefazduplacomojornalistaMarcello,interpretadoporMarcelloMastroiani. (fonteagnciaReuter/FolhadeS.PauloemedioespecialsobreamortedaprincesaDianaSpencer,dodia01.09.97, p. 8). Outraverso, maisfolclrica, dizquenadcadade50, umproprietriodeumhotel, cujosobrenomeeraPaparazzo, hospedavagentefamosaecelebridadeetinhaumesquemacomalgunsfotgrafosqueflagravamessasfigurasdeformaexclusiva.EramosfotgrafosdoPaparazzo.Massomenteem1962,comaexibiodo filmeLaDolce Vita, de Fellini, cujo personagemvivido por MarcelloMastroianieradeumjornalista,sempreacompanhadopelocolegafotgrafoPaparazzoemaisumalegiodefotgrafosqueperseguiamasestrelasdocinema,otermotomousefamoso,eacabousendoincorporadofiguradofotgrafoindiscretoeemseguidavirou profisso. Mas tratase de um neologismo da lngua italiana, j que nomesprprios, assim como em Portugus, no so pluralizados. Isto , mesmo sendoreferidosnoplural permanecemnosingular porexemplo:osBatistasopessoasmuitosimpticas; logoos Paparazzo (sobrenome) sopessoas muito indiscretas.Todavia, como a palavra, na Itlia, tornouse sinnimo de fotgrafos freelancers,pluralizase(N.A.).
12. FormatodojornaltablideusanaEuropaeEstadosUnidos,medindo36cmpor21,5cm.Na Europa, tablides so sinnimos de jornalismo marrom, sensacionalista e decredibilidadediscutvel. Umjornalemtamanhostandartmede54cmpor32,5cm.OformatotablideusadonoBrasilmede33cmpor26cm.OJornalZEROHORA,dePortoAlegretemesseformatoenotrabalhacomnoticiriosensacionalista.EstnalistadosjornaissriosdoPas.
13. CASTRO,Emersonde.EntrevistaequipedoProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba09Set.97.
14. DANTAS,Audlio.RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditoriaLtda.Nov.1995,p.24.
15. RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditoralLtda.Novembro/1995,p.25.16. ProgramaCanalLivre.RedeBandeirantesdeTelevisocanal2Curitiba:apresentador
Ricardo Chab; programa Cadeia. Central Nacional de Televiso (CNT) canal 6Curitiba:apresentadorAugustoCanrio;programa 190Urgente. CentralNacionaldeTeleviso(CNT) canal 6 Curitiba: apresentador Carlos RatinhoMassa; programaAlborghetti. Tev Recordcanal 5 Curitiba: apresentador Luiz Carlos Alborghetti;
40
-
jornais Tribuna do Paran e Dirio Popular, programas policiais radiofnicosapresentadosememissorasAM,emCuritiba.Todosderamanotcia.
17. MEDINA,Cremilda.Corroborandoottulodeseulivro:Notcia,umprodutoavenda.SoPaulo:2edio.SummusEditorial,1988.
18. TAVARES,CarlosAlberto,diretorderedaodojornalTribunadoParan.Entrevistaconcedida a Sirley Aparecida Cardoso. Curitiba, 29/09/1997. (Falecido em 05 defevereirode2002)
19. CASTRO,Emerson.EntrevistaequipedesteProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba09Set.97.
20. EmCuritiba,apartirdeabrilde1991,oentoprefeitodacidade,JaimeLernermandouconstruir asestaestubodeembarqueedesembarquedepassageirosdo transportecoletivourbano.(Fonte:SecretariadeComunicaoSocialdaPrefeituradeCuritiba).
21. ANTUNES,Amrico.EntrevistaequipedesteProjetoExperimentaldaUTP.Curitiba,10/09/1997.
22. NORBERTO,Natalcio.JornalismoParaPrincipiantes.RiodeJaneiro:Ediouro,1978.P.129.
23. FDER, Joo. Entrevista equipe deste Projeto Experimental da UTP. Curitiba09/09/1997.
24. IDEM25. DIMENSTEIN, Gilberto. A polcia puritana. Jornalistas americanos denunciam
excessos cometidos pelos colegas. Folha de S. Paulo. SoPaulo: Editora Folha daManhS/A,09demaro97.
26. PEDRACINI,Richard.FolhadeS.Paulo.1Caderno.SoPaulo:Ed.FolhadaManhS/A.08/08/1993.P.3.
27. MARTINS,Andr.RevistaImprensa.SoPaulo:FeelingEditorialL