Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do...

5
Manuel Alegre 'Eu sou desta Língua e daquela madrugada que e é preciso não deixar anoitecer' O grau de doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa foi outorgado a Manuel Alegre no passado dia 2, na Aula Magna da reitoria, com a presença dos Presidentes da República e da Assembleia da República, primeiro -ministro, reitor, muitas outras 'individualidades', e sobretudo professores, estudantes, escritores, amigos do distinguido, cujo elogio foi feito por Paula Morão, enquanto Diogo Dória disse e Cristina Branco cantou poemas seus. O JL dado o interesse literário e cívico da intervenção do poeta, publica aqui quase na íntegra - com exceção das referências protocolares e pequenos passos assinalados - o seu texto É com uma certa aflição que me apresento hoje perante vós. Grato e comovido. O grau de doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa representa para mim uma honra de grande significado. Mas deixa -me em grande desassossego porque me obriga a ser mais do que eu próprio. E é, ao mesmo tempo, um reconforto moral para quem, por circunstâncias históricas conhecidas, bem cedo na vida se viu privado de universidade e de país. De certo modo é um regresso à universidade, não à de origem, de que fui obrigado a exilar- me, mas à antiquíssima Universidade de Lisboa, a que peço licença para, a partir de agora, sem esquecer a de raiz, consi- derar também a minha. É um privilégio ser apresenta- do pela proP Paula Morão, grande referência da Faculdade de Letras de Lisboa, da crítica textual e das relações entre a literatura e as artes. Personalidade multif acetada e de grande determinação intelectual e cívica, nela uma paixão que se desdobra em várias: a Universidade, o gosto de ensinar, os seus alunos, a literatura. É um privilégio ser lido por ela e, sobretudo, ser interpretado e compreendido pela sua inteligência crítica. Figura cimeira da nossa vida universitária e literária, tem a auto- ridade natural do saber e do talento. Além da sua conhecida frontalidade, que é um dom cada vez mais raro Sei que era preciso coragem para escrever sobre mim no tempo da censura, como fez Urbano Tavares Rodrigues, que foi o primeiro a dar notícia de Praça da Canção, no jornal Manuel Alegre na sua intervenção na Aula Magna da Universidade de Lisboa

Transcript of Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do...

Page 1: Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do mundo, como escreveu Octávio Paz no seu O Arco e a Lira, ambos estiveram sempre ligados

Manuel Alegre'Eu sou desta Língua

e daquela madrugada que e é preciso não deixar anoitecer'

O grau de doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa foi outorgadoa Manuel Alegre no passado dia 2, na Aula Magna da reitoria, com a

presença dos Presidentes da República e da Assembleia da República,primeiro -ministro, reitor, muitas outras 'individualidades', e sobretudo

professores, estudantes, escritores, amigos do distinguido, cujoelogio foi feito por Paula Morão, enquanto Diogo Dória disse e CristinaBranco cantou poemas seus. O JL dado o interesse literário e cívico da

intervenção do poeta, publica aqui quase na íntegra - com exceção das

referências protocolares e pequenos passos assinalados - o seu texto

€ É com uma certa aflição que me

apresento hoje perante vós. Grato ecomovido. O grau de doutor honoris

causa pela Universidade de Lisboa

representa para mim uma honra de

grande significado. Mas deixa -meem grande desassossego porque me

obriga a ser mais do que eu próprio.E é, ao mesmo tempo, um reconfortomoral para quem, por circunstânciashistóricas conhecidas, bem cedo navida se viu privado de universidade e

de país. De certo modo é um regressoà universidade, não à de origem, de

que fui obrigado a exilar- me, mas à

antiquíssima Universidade de Lisboa,a que peço licença para, a partir de

agora, sem esquecer a de raiz, consi-derar também a minha.

É um privilégio ser apresenta-do pela proP Paula Morão, grandereferência da Faculdade de Letrasde Lisboa, da crítica textual e das

relações entre a literatura e as artes.Personalidade multif acetada e de

grande determinação intelectual e

cívica, há nela uma paixão que se

desdobra em várias: a Universidade,

o gosto de ensinar, os seus alunos,a literatura. É um privilégio ser lido

por ela e, sobretudo, ser interpretadoe compreendido pela sua inteligênciacrítica. Figura cimeira da nossa vidauniversitária e literária, tem a auto-ridade natural do saber e do talento.

Além da sua conhecida frontalidade,

que é um dom cada vez mais raroSei que era preciso coragem para

escrever sobre mim no tempo da

censura, como fez Urbano Tavares

Rodrigues, que foi o primeiro a darnotícia de Praça da Canção, no jornal

Manuel Alegre na sua intervenção na Aula Magna da Universidade de Lisboa

Page 2: Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do mundo, como escreveu Octávio Paz no seu O Arco e a Lira, ambos estiveram sempre ligados

República. Mas também foi preci-so outro tipo de coragem para meler sem complexos nem inibições,depois do 25 de Abril, em tempo de

novos sectarismos e classificaçõesredutoras. Paula Morão não se deixou

impressionar. Outros, felizmente,também não. Para só citar dois nomes

incontornáveis, devo a Eduardo

Lourenço o prefácio que marcou umvirar de página e assinalou a nostalgiada epopeia nos meus primeiros livros;

e devo a Vítor Aguiar e Silva umaleitura que abriu novos horizontes e

deixou um texto incomparável sobre

Senhora das Tempestades. Paula Morãorestituiu-me uma visão da minha es-crita toda, poesia, prosa, arte poética.Ela vé o que está escondido e, comodiria Alexandre Blok, ouve a música

do Mundo dentro das palavras. Os

poetas precisam de quem os saiba lerassim. Devo-lhe a sábia argúcia com

que, pela primeira vez, alguém faloude "a face dupla". (...)

44O sentido do poema é

o próprio poema. Masninguém está fora dahistória. Muitas vezesme perguntam porqueé que, sendo poeta, eume envolvi na política.E eu respondo: por isso

mesmo

VIVI SEMPRE A UM RITMODE ESCRITA E DE AÇÃO"Vivi sempre a um certo ritmo. Umritmo de escrita e de ação. E se o

ritmo é uma visão do mundo, comoescreveu Octávio Paz no seu O Arco

e a Lira, ambos estiveram sempreligados em mim a um grande sentidode urgência. Sempre que ouvia dizer

que a paciência é revolucionária, euretorquia que revolucionária só a

impaciência.Em certas noites, apetecia-me,

como a Garcia Lorca, discutir com a

Lua. Era a inquietação. Ou o duende.Ou talvez os sons negros de que fala-va um cantador de flamenco amigodo Poeta. Havia no ar um apelo e

demasiados chamamentos. Sinais de

mudança. Uma guitarra inconcreta.Uma música da língua a que procu-rava dar forma. Mesmo sem aindaconhecer o ABC de Ezra Pound, eulia os trovadores e os cancioneiros e

aqueles versos cantavam dentro de

mim. Ou então Camões. E começavaa escrever e caminhar ao ritmo da

incomparável linguagem poéticaque ele fundou e cujos sonetos, naopinião de Eugênio de Andrade, são

ainda o livro mais atual da poesia

portuguesa.E também Rilke e Hõlderlin,

graças a Paulo Quintela, que foi umdos meus mestres. Tudo se mis-turava nessas leituras caóticas: os

portugueses, antigos e modernos,desde os cancioneiros a Cesariny.E ainda Lorca, Éluard, FrançoisVillon, até à fundamental desco-berta de Homero, Vergílio, Dante,Petrarca e Shakespeare. Para jánão falar da revolução que foi leros poetas brasileiros, que traziam a

língua sem gravata e em mangas de

camisa.Tudo isto se passava, como é óbvio,à margem do estudo de Direito. Umdia o reitor Braga da Cruz veio pe-dir-me para eu ligar mais ao curso.- Ligo imenso, magnifico reitor,mas não tenho tempo.

E não tinha. Era a natação, oteatro (CITAC e TEUC), o jornalA Briosa, a Vértice, os amores, a

poesia, a política e o movimentoestudantil, que viria a ser um elode ligação entre as três universi-dades do país. E ainda as vindas a

Lisboa, por causa dó decreto-lei40.900, com que o ministro daEducação Leite Pinto visava aniqui-lar a autonomia das Associações deEstudantes. Vínhamos de Coimbrareunir na Faculdade de Direito comos lideres da época. Foi o início deum novo período histórico do mo-vimento estudantil. Acusava-se o

ministro de querer integrar as asso-

ciações na Mocidade Portuguesa.

AS LUTAS ESTUDANTISE A GUERRA COLONIALEm Coimbra, subia- se de tom e

acrescentava-se que até se preten-dia acabar com a equipa de futebolda Académica. Levantamento naAcademia e na cidade. Grande

manifestação de rua e o decretoacabou por ficar na gaveta. AntónioSérgio, sempre atento, publicouum opúsculo em que alertava

Coimbra para os riscos do isolacio-nismo. Ninguém devia fechar-seem si mesmo. Era hora de aber-tura e solidariedade entre todas as

Academias.Foi com esse espírito que mais

tarde viemos a Lisboa celebrar o

Dia do Estudante. Houve um comí-cio no Pavilhão dos Desportos e à

noite jantámos na cantina universi-tária cercados pela polícia. Recordoestes episódios, porque eles ligam à

Universidade de Lisboa o estudantede Coimbra que então eu era.

Com o começo da guerra colo-nial o ritmo da História, da vida, e

também da morte, acelerou. É difí-cil explicar aos jovens de hoje o quesignificou para a minha e outras

gerações. Carreiras interrompidas,vidas destruídas e mutiladas, o di-lema de ir à guerra ou emigrar. Os

milhares que foram para a Europa.Os milhares que partiram paraÁfrica. Eu fui. Estive na guerra.Ouvi o assobio da bala. Escrevi os

primeiros poemas sobre a guerra. E

atrevi -me a dizer logo no primei-ro livro: "Meu poema rimou comminha vida".

Aprendi que cada um de nóstem várias vidas, vários eus, váriosoutros. Uma espécie de intimaheteronímia. É talvez o sentido docélebre verso de Rimbaud: Je est unautre. Hoje quando me revejo na

guerra, na cadeia, no exílio, ou a

passar clandestinamente frontei-ras, tenho a sensação de ter sido

um outro ou outros. Mas fiel àqueleque, aos 26 anos, tinha escrito:"Meu poema rimou com minhavida". Ouso pensar que essa coin-cidência entre vida cívica e escritaé, porventura, um dos motivos datão honrosa distinção por parte daUniversidade de Lisboa.

Não apenas pelos dois primeiroslivros, Praça da Canção e O Cantoe as Armas, que foram, como se

sabe, apreendidos, e circularam emcópias datilografadas e manus-critas, assim como as canções e

recitais a que deram origem. Foi umcontexto especial, talvez irrepetí-vel, o que explica que José Carlos deVasconcelos tenha intitulado o seu

prefácio à edição dos 50 anos de

Praça da Canção: "Quando a Poesiafaz e se faz História".

O 25 DE ABRIL, A POLÍTICAEA POESIA

Page 3: Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do mundo, como escreveu Octávio Paz no seu O Arco e a Lira, ambos estiveram sempre ligados

Passada essa época, a intervençãocívica na vida democrática norma-lizada nem sempre foi estimulante,embora tenha muito orgulho em tersido deputado constituinte, redatordo preâmbulo da Constituição e deter dado o meu contributo para a

consolidação da Democracia. Nuncaabandonei a convicção de que,pela palavra poética, pode semprecriar-se, como dizia Teixeira de

Pascoaes, a terra do outro mundo. E

também nunca deixei de ter, embo-ra peça desculpa de me repetir, umavisão poética de Portugal, uma visão

integradora, em que se misturam

poemas, batalhas, revoluções.Quando voltei do exílio, o fun-

cionário que me fez o passaporteatribuiu-me, sem me perguntar,a profissão de poeta. Foi umahomenagem bonita. Gostaria, no

entanto, de lembrar que tambémescrevi romances, alguns com de-zenas de edições, contos, ensaios.Ao contrário de Fernando Pessoa,não coloco a prosa acima da poesia,nem penso que se possa reduzi-laa "poesia rimada e ritmada". Mastambém não vejo a poesia comosaudade da prosa. Uma e outra são

escrita, cada uma com o seu tempoe a sua toada.

Eu sei que o sentido do poemaé o próprio poema. Mas ninguémestá fora da história. Ninguém fogea um outro sentido que tem a marcado seu tempo. Muitas vezes me

perguntam porque é que, sendo

poeta, eu me envolvi na política. E

eu respondo: por isso mesmo.Embora tenha sido, por diversas

razões, uma figura publica co-nhecida, como escritor fui sempreum solitário. Nunca pertenci anenhuma corrente, a nenhum caféliterário, a nenhum grupo. O quetem os seus custos. Mas escrever,para mim, foi sempre um estado de

graça. Mesmo nas situações maisdifíceis, guerra, prisão, exílio e oirremediável de muitas despedidase muitas mortes.

Em cada poeta está toda a his-tória da poesia e, de certo modo,de todas as línguas, a começar pelaEpopeia de Gilgamesh, a primeiragrande interrogação que um poetagravou na pedra sobre o sentido ouo sem sentido de um destino quecontinua a não ser revelado. Todossomos herdeiros desse poeta des-conhecido. E também de Homero eda Odisseia que é, por excelência, a

metáfora da errância do Homem e

da busca de uma ítaca perdida quesó existe dentro de si mesmo.

44Escrever, para mim,foi sempre um estadode graça. Mesmo nassituações mais difíceis,guerra, prisão, exílioe o irremediável demuitas despedidas emuitas mortes

Vivemos um períodoem que a única certezaé a incerteza. A Históriaacelerou outra vez. Masem sentido contrário.O esquecimento estáoutra vez a vencer amemória. É num tempoassim que os poetas,escritores e filósofossão mais precisos

"REABILITAR A FORÇALIBERTADORA DA PALAVRA 1

Vivemos um período em que a únicacerteza é a incerteza. A Históriaacelerou outra vez. Mas em sentidocontrário. Parafraseando MilanKundera, o esquecimento está outravez a vencer a memória. O populis-mo é o novo fantasma que ameaça a

Europa e o Mundo. Nasceu da hege-monia cultural do poder financeiroglobalizado. Ressuscitou de velhos

preconceitos e novas capitulações.Creio que é num tempo assim

que os poetas, escritores e filóso-fos são mais precisos. Para sacu-dir a anomia, como fez Anterode Quental. E escrever Sol, comoRamos Rosa. Para proclamar que os

Estados não podem ser aprisiona-dos pela mão invisível do mercadoe por interesses que se sobrepõemao interesse geral. Para chamar a

atenção dos distraídos, como fize-ram Miguel Torga e Natália Correia,quando vieram avisar que o Tratado

de Maaschtricht significava a vitóriado neoliberalismo sobre o modelosocial europeu.

Há uma crise de convicções eé preciso reforçar na Europa e noMundo os valores da democracia eda coesão social para combater o

racismo, a xenofobia e o renascer da

linguagem e dos tiques do fascismo

que, em certos países, já contami-nam o poder. Por isso me congratu-lo com a excepção boa que Portugalé hoje e aplaudo a posição e as

palavras do Presidente da Repúblicanas Nações Unidas. A presença dasmais altas figuras do Estado é umreconforto e um estímulo para quemacredita que as nossa principaisforças são a língua, a História e acultura.

A pequena ou grande revoluçãoque a escrita pode fazer é reabilitara força libertadora da palavra. E só

por ela se pode reconquistar a per-dida beleza da palavra do homem. É

por isso que os clássicos não podemser retirados do ensino público.

Quando estava no exílio, liamuitas vezes um pequeno texto deMallarmé, que vou tentar traduzir:Fechei o livro e os olhos, e procuroa pátria. Diante de mim ergue-se a

aparição do poeta sábio que me aindica (fim de citação).

Não sou capaz de otimismo beato.Procuro sempre a aparição do poetasábio. O meu optimismo está na flordo verde pinho do rei D. Diniz; noSol é grande de Sá de Miranda; noAuto das Barcas de Gil Vicente, nasCrónicas de Fernão Lopes, crescecom toda a obra de Camões e vem

por aí fora até ao Frei Luís de Sousa

de Garrett, aos Sonetos de Antero,às virgens que passam ao sol poentede António Nobre, ao Sentimentode um Ocidental de Cesáreo Verde,ao só, incessante, um som de flautachora do incomparável CamiloPessanha, a Fernando Pessoa ele

próprio e os heterónimos, ao nuncadescrer do chão duro e ruim deMiguel Torga, ao não vou por aí deJosé Régio, às palavras mordidasuma a uma de Eugênio de Andrade,à pequena luz bruxuleante de Jorgede Sena, ao porque os outros se ca-lam mas tu não de Sophia, e ao entrenós e as palavras o nosso dever falarde Mário Cesariny.

"SOU DESTA LÍNGUA E DESTESPOETAS"

Page 4: Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do mundo, como escreveu Octávio Paz no seu O Arco e a Lira, ambos estiveram sempre ligados

Sou desta língua e destes poetas eé a eles que me dirijo para que meindiquem e, ás vezes, me restituama Pátria. Sou deste nosso deverfalar quando os outros se calam.E daquela madrugada que todos

esperámos e é preciso não deixaranoitecer. Sou desta herança poéti-ca, ética e cívica.

Sou desta língua que foi ao mar,descobriu outras línguas e, transfor-mando-as, a si mesma se transfor-mou. Una e diversa, dela nascerama grande literatura brasileira etambém a angolana, caboverdeana,moçambicana e de todos os paísesque falam e escrevem o português.O português que foi língua de múlti-plas tiranias e várias resistências,língua de opressão e de libertação,e também aquela em que novas

nações proclamaram a sua indepen-dência.

Há dois revisionismos que é pre-ciso ter a coragem cultural de com-bater: o primeiro é o que pretendenegar a grandeza das navegaçõesportuguesas que deram origem à

primeira globalização da História; ooutro é o que tenta redimir o colo-nialismo e branquear a ditadura e a

guerra colonial.Lembro, neste momento, os que

lutaram pela liberdade, deram tudoe nunca pediram paga, como Sophiadisse de Salgueiro Maia. Lembro-oscom respeito, e penso no grandeherói de Homero, que não é Ulisses,e muito menos Aquiles, mas Heitor,o que travou até ao fim um combatedesigual pela sua cidade de Tróiae é o único vencido eternamente

vencedor. (...)Já não aspiro, como Mallarmé,

a escrever o Livro que seja o duplodo Universo. Mas espero merecer ahonra que me concederam e con-tinuar a rimar o meu poema com aminha vida. jl

O Presidente da República, o reitor e (à esqí) a presidente do conselho geral da UL,e Paula Morão na cerimónia do doutoramento honoris causa de Manuel Alegre

Page 5: Press Review page - ulisboa.pt · ritmo de escrita e de ação. E se o ritmo é uma visão do mundo, como escreveu Octávio Paz no seu O Arco e a Lira, ambos estiveram sempre ligados