Press Review page - clipquick.com · Ou porque faz parte da nossa profissão. Ou porque é preciso...
Transcript of Press Review page - clipquick.com · Ou porque faz parte da nossa profissão. Ou porque é preciso...
Por que é que erramos? A maior parte das vezes porque estamos desconcentrados. Ou porque osistema está feito a pensar em pessoas perfeitas e não criou mecanismos de segurança para detec-tar o erro. Ou porque faz parte da nossa profissão. Ou porque é preciso errar para chegar a algode novo. Uma falha, uma oportunidade para aprender? Uma investigadora, um neurocientista,um juiz, um economista, um médico de urgências, um pianista, um psicólogo, duas professorasfalam das formas como lidamos com o erro. Aviso: contar com o erro é meio caminho andado
ERRADO
ENAO
CONTAR
COMO
ERRRO
JOANA GORJÃO HENRIQUES TEXTO
á uns anos, quando um aluno na pri-mária falhava uma resposta, podialevar uma reguada. Punia-se fisica-mente e humilhava-se quem erravaà frente de todos. Hoje é comumouvir-se: "aprender implica errar","errar é humano", "errar, errar de
novo para errar melhor", e por aífora. Porém, na hora H, para muitos
que cometem erros, para quem so-
fre as suas consequências, para quem vê outros
errar, a tolerância pode evaporar-se num segun-do. Um erro gera embaraço, vergonha, irritação,frustração, vontade de voltar atrás ou de fugir.É difícil lidar com os erros: porquê?
Depois de falarmos com pessoas de váriasáreas - uma investigadora científica, um neuro-cientista, um juiz, um economista, um médicode urgências, um pianista, um psicólogo, duas
professoras -, há pelo menos uma resposta cer-
ta: contar com a hipótese de erro pode pacificara relação que temos com ele. Parece fácil nateoria. Na prática, não é assim tanto. Um erroé um erro, pode ser inócuo ou fatal.
No exercício profissional, poucos erros terão
consequências mais radicais do que os errosmédicos. É um tópico de que não se fala entrecolegas, um tabu, comenta o canadiano Brian
Goldman, médico do serviço de urgências do
hospital Mount Sinai, em Toronto, e autor dolivro TheNightShift, que falou em público sobreisto numa conferência TED. Descreve à Revis-
ta 2 o comportamento típico da sua classe emrelação aos erros: se, numa reunião, alguémadmite que cometeu um erro, a probabilida-de é mais ninguém fazê-lo e as pessoas saíremcom a imagem de que o único que cometeu o
erro foi ele.Falar de erros é criar desconforto no sistema,
diz o médico, porque a tendência é associá-los a incompetência, preguiça ou negligência.Quem está dentro do sistema de saúde até podeter consciência de que todos erramos, somoshumanos, mas quem o gere reconhece-o com"um sentido de desespero" e no fundo pensa:"Não seria bom se encontrássemos as pessoasperfeitas para não termos de nos preocuparmais?"
Brian Goldman diz: os que "não reconhecem
que não trabalhamos num sistema perfeito"vão ser sempre desagradavelmente surpreen-didos. Melhor seria, assim, reconhecer que oserros acontecem e criar mecanismos de de-
tecção. O problema é que o sistema de saúdeestá montado com base na ideia de que "treinaas melhores pessoas", que "espera que sejamperfeitas", e a tendência, quando acontece umerro, é livrar-se do responsável: ora isso "nãovai tornar o sistema mais seguro", defende.
Exemplo de mecanismos que poderiam ser
introduzidos para detectar a tempo erros nacadeia: a criação de um registo electrónicodo historial dos doentes, acessível a qualquermédico em qualquer hospital, evitaria que ummédico prescrevesse um medicamento que ia
provocar interacção com outros que o doenteestá a tomar.
Para quem trabalha numa sala de emer-gências como ele, confronta-se também comoutro tipo de problemas: "Se, num turno de
emergência, estou no caminho para o quartode um doente porque quero informá-lo sobreos resultados do teste de sangue e sou paradopor três enfermeiras que me perguntam coi-sas sobre outros pacientes, chego ao quartodo doente e posso ter-me esquecido do quelhe queria perguntar. Isto é incompetência? É
preguiça? A ideia de que isso nunca deve acon-tecer porque é suposto ser-se perfeito a toda a
hora é ridícula."Parte do ideal de perfeição é incutido nas
universidades - e em Medicina, onde as médiasde entrada são altíssimas, não basta, como ele
nota, acertar 30% das vezes. Desde cedo queas escolas incentivam a competitividade - e aaversão ao erro. Ou será que isto está errado?
No início do ano lectivo, os professores daCarlucci American International School of Lis-bon (CAISL) falam da importância dos erros. ACAISL tem alunos de mais de 30 nacionalidadese a directora Blannie M. Curtis nota que nemtodos os alunos, nem todos os pais, compre-endem imediatamente a filosofia sobre o erro,encarado como parte natural da aprendizagem."Se não se cometem erros, não se está a apren-der nada", diz. "Ninguém faz tudo à primeiraem todas as áreas. Alguém que quer ser pianistade música clássica tem de praticar constante-mente, cometer erros. Passa-se o mesmo comos temas académicos. E quantas vezes é queos bons escritores escrevem e reescrevem até
chegarem àquilo que querem?"Na escola americana, a avaliação é dividida
entreformative assessment e summative assess-
ment. A primeira, de carácter qualitativo, serve
para "os professores perceberem o que o alu-no aprendeu, o que pode fazer, em que podeajudá-lo". O summative assessment é o equiva-lente aos testes, com notas. Para a directora,quando se transmite a mensagem de que oserros não são aceitáveis e que a única nota quese deve ter é a nota máxima, está-se a incutirna criança duas coisas: ou a ideia de falhançoou o encorajamento ao aldrabar.
Blannie Curtis não quer comentar o sistemade ensino português, diz apenas que a escola
portuguesa se tem centrado mais na avaliaçãoquantitativa e discorda da tradição de afixar pu-blicamente as notas - os sucessos mas tambémos erros -, algo impensável nos Estados Unidos:
"Está-se a encorajar as pessoas a trabalhar ape-nas para a nota final a todo o custo." Quandoo processo de aprendizagem é, de facto, mais
importante.Professora de Português na Escola Secun-
dária de Barcelos, Fátima Gomes diz aos seusalunos que se eles soubessem tudo, se nuncaerrassem, ficava desempregada. Para a escola,o erro é encarado como fundamental na "cons-
trução do saber", é "o espaço de trabalho" porexcelência dos professores. É visto como algopositivo - mas na verdade só até certo ponto:quando os alunos fazem exames, são penali-zados pelo erro, ponto final. E a entrada nomercado de trabalho faz-se com um cartão-de-visita: a classificação.
Diz Fátima Gomes que "talvez sejamos umpaís sempre predisposto a apontar o erro e a
expô-lo". Portanto, "a tendência vai ser as pes-soas tentarem contornar o erro como quemcontorna uma parede e a não trabalhar sobreele". O desempenho dos alunos está associa-do à forma como gerem os erros e "muitas ve-zes não há evolução" porque não os "tentamsuperar". "Fazem um teste, tiveram negativae encaram aquilo como uma fatalidade. Digomuitas vezes que o importante não é a respostacerta, é verem onde erraram para trabalharemisso. Mas, depois do teste feito, muitos viram a
página." Ora, "todos os alunos que trabalhamsobre o erro conseguem evoluir".
Há os erros inconsequentes, há os que têmimpacto numa pessoa e há os que atingem to-da uma população. A definição depende, ob-
viamente, do contexto e da cultura, lembra oneurocientista António Damásio, autor de OErro de Descartes, e investigador nos EstadosUnidos. "Se estou na rua e me pedem uma di-
recção, mas eu dou indicações erradas porqueestou distraído, cometi um erro mas é expli-cável, independentemente do quão inconve-niente possa ser para a outra pessoa, e não é
voluntário. É de facto um erro, não um enganoe muito menos uma mentira." Mas se estivera discutir os resultados de uma experiência e
fizer uma interpretação errada do resultado
ou lhe atribuir um significado incorrecto podechegar a uma conclusão errada - e aí está a co-meter um "erro substancial". "A importânciado erro depende do tema da pesquisa e das
possíveis causas do erro. Se o erro é o resultadode um pensamento descuidado, é censurável,e se foi voluntário é moralmente inaceitável. Os
cientistas, juizes, autores de políticas públicasestão sujeitos a erros deste tipo por causa danatureza das suas funções. Os seus erros são
sérios porque têm um impacto significativo nos
outros", diz à Revista 2 num breve email.
A s circunstâncias fazem-nos imper-/\ feitos, podem criar melhores con-/\ dições para errar. Mas a propensão/ \ ao erro começa na nossa própria/ \ natureza. Juiz desembargador no/ \ Tribunal da Relação de Lisboa, Eu-/ \ rico Reis usa a analogia do campo/ \ de visão para lembrar quão limi-/ \ tada é a nossa "capacidade para/ \perceber o real": na melhor das
hipóteses, "só vemos 180 graus à nossa volta".
Qual é a obrigação, por isso, de alguém que é
diligente? "Contar com a possibilidade de erroe fazer tudo para reduzir essa possibilidade."
Na actividade judicial há dois tipos de erro:o erro na apreciação dos factos e o erro de jul-gamento. Um juiz sabe que, no geral, as teste-munhas têm percepção limitada da realidadee têm intenções, daí a necessidade do contra-ditório. "Quando uma pessoa vê um acidentede viação, imediatamente tira uma conclusão.
Quando se pede que a pessoa conte a históriado que se passou, ela já não conta a história a
partir dos factos mas a partir da conclusão a
que chegou. Portanto, pode acontecer que umapessoa esteja a mentir julgando que está a di-
zer a verdade." Por contar com a possibilidadede erro na apreciação dos factos, instituiu-se a
gravação das audiências (ainda apenas do som)
para que outros juizes, "normalmente três",possam ouvir com maior distanciamento.
Já o erro de julgamento, considera o desem-
bargador, "é mais complicado". No acto de jul-gar, estão em cima da mesa as boas práticas, a
jurisprudência, a opinião dos juizes, sujeita "à
interpretação que, em boa consciência, fazemdas leis". Ora, defende, "o acto de julgar, paraser bem feito, tem de ser feito com uma grandehumildade intelectual - a percepção de quesomos seres humanos e de que podemos nãoacertar". Há que ter ainda consciência de quenão foram os juizes que fizeram as leis, quedefinem "os comportamentos que a sociedadeacha que são os correctos". "A responsabilidadede definir os comportamentos correctos é do
legislador ou do Governo, no nosso caso. Por-
tanto, a nossa interpretação é balizada, não é
ilimitada. Na parte da interpretação da lei, háum acto de vontade, da maneira como vemoso mundo e a vida, por isso temos o dever de
fundamentação para as pessoas perceberemporque escolhemos uma interpretação e nãooutra. Aqui, no erro de julgamento, o que acon-tece é que por vezes há [juizes] que gostavamde ser legisladores."
Em geral, a justiça em Portugal não lida bemcom o erro, considera: "A humildade intelectu-al tem de ser aprendida, cultivada e estimulada.Nunca houve uma análise crítica do sistema
judicial desde o 25 de Abril. Há uma diferen-
ça muito grande entre o sistema judicial numestado democrático e num estado autoritário.Num estado autoritário, as pessoas não erram,são infalíveis. Essa mentalidade não mudou.Não nascemos democráticos, é uma coisa quetem de ser aprendida."
Se não tivesse aprendido a conviver pacifi-camente com o erro, Joana Paredes, investi-
gadora no Instituto de Patologia e ImunologiaMolecular da Universidade do Porto, já teriamudado de profissão. Errar faz parte do seu
quotidiano e está implícito no trabalho de geraruma hipótese, sendo a probabilidade de estarerrada "muito maior". E, muitas vezes, "dosresultados negativos" podem "tirar-se ilaçõesque nos fazem criar novas hipóteses".
Autora de descobertas sobre o cancro da
mama, Joana Paredes, 35 anos, não faz a mí-nima ideia de quantas vezes errou até concluir
que uma mulher com um tumor de mama comníveis elevados da proteína caderina-P tendea ter um pior prognóstico e a responder pioràs terapêuticas convencionais. "Se não fosse
como sou, tinha desistido no primeiro ano,porque o meu resultado foi contra tudo aqui-lo que era de esperar." A literatura científicadizia exactamente o contrário. "Podia ter dito:'Isto vai contra tudo o que está publicado, nãofaz sentido continuar'."
Apesar de a descoberta ser importante, ainvestigadora ressalva: "Estamos longe de po-der dizer que temos a certeza de que vai correrbem, porque muitas vezes o que fazemos no
laboratório não funciona no ser humano e de-mora muito tempo até uma droga ser aceite e
entrar no mercado."
/* "v u seja, Joana Paredes ainda coloca' \ a hipótese de erro na descoberta
que fez, algo que está integradona sua estrutura de pensamen-to. A forma de lidar com o erro,mesmo na sua profissão, dependetambém da forma "como a pessoalida com a frustração, que é não
l J conseguir chegar a um resultadov^ *s positivo" . Há colegas e alunos que
não lidam bem com isso, há os que acabam
por se adaptar, há alturas em que ela própriase "aflige" porque, sendo líder de uma equipaque trabalha num projecto de investigação,precisa de ter resultados positivos "para obterfinanciamento".
Aí, entra a gestão do risco: tentam "diminuira probabilidade" de erro, não testam "hipóte-ses malucas (que muitas vezes até dão certo)",fazem um trabalho de pesquisa no qual têmalguma segurança de que "a probabilidade
de errar está lá mas é mais baixa". Trata-se de
"apostar mais nos cavalos" em que acredita,mesmo subscrevendo a filosofia de que "mui-tas vezes as ideias sobre as quais temos menoscertezas podem às vezes gerar coisas muitomais fantásticas".
A possibilidade de errar, neste caso, está li-
gada ao dinheiro: os laboratórios onde há maisfinanciamento podem dar-se ao luxo de expe-rimentar mais, logo errar mais, logo "acertarmais".
Há um paradoxo nas situações de crise eco-
nómica, como a actual, diz o economista e
historiador Pedro Lains. Por um lado, é emperíodos de recessão que os erros se tornammais críticos, pois o seu impacto é maior: "Senuma economia constrangida caem erros de
governação, ela ainda fica mais constrangida.Uma economia em crescimento sacode os er-ros facilmente, tem um certo dinamismo e é
mais fácil o dinamismo suplantar os erros." É,
porém, nos períodos de crise que os governostendem a ser "mais taxativos", quando deveria
ser justamente o contrário. Não é o caso de Por-
tugal, mas nos países desenvolvidos "isso está
plenamente reconhecido, já não há ataquesradicais às crises", desenvolvem-se políticasgraduais justamente porque contam com a
hipótese de erro - o economista dá o exem-plo de França, Inglaterra, Alemanha, EstadosUnidos e até de Espanha. "Quando os bancoscentrais baixam as taxas de juro, baixam-nas
devagarinho, porque pode acontecer que não
seja a coisa certa e aí têm tempo para corrigir.Nas sociedades mais débeis, como a portuguesaou a grega, é que se atacam as crises de formarevolucionária."
Em economia errar significa errar nas pre-visões ou errar na análise do comportamen-to da economia. A informação ou os modelosutilizados podem assim produzir conclusõeserradas que terão um impacto em toda a so-ciedade. Na informação, o erro pode surgir dasestatísticas sobre as variáveis económicas - "há
erro na medição do produto, do trabalho, da
produtividade, etc". Depois, há os modelos
para analisar essas variáveis, que "podem sermais ou menos aproximados da realidade".Uma particularidade é que o erro só se identi-fica com a utilização de fontes de informaçãoe modelos alternativos. E "a incerteza é detal forma que não sabemos se a correcção deestatísticas deficientes é melhor que a versãoanterior; também não sabemos se o modeloalternativo é melhor ou pior, não há forma deconfirmar isso".
Pedro Lains acredita na evolução do conhe-
cimento, acredita que se caminha para umadiminuição da margem de erro em áreas co-mo a estatística - hoje há formas de quantifi-
O juizdesembargadorEurico Reis usaa analogia do
campo de visãopara lembrarquãolimitada é a nossa"capacidade paraperceber o real":na melhor dashipóteses, "sóvemos 180 graus à
nossa volta". Qualé a obrigação, porisso, de alguémque é diligente?"Contar com apossibilidade deerro e fazer tudopara reduzir essapossibilidade"
car o erro através do cruzamento das diversas
perspectivas, ou seja, tem de haver coerêncianos resultados (a análise da produção tem decoincidir com a análise do consumo ou do in-
vestimento).Mas, sublinha, o "grande erro" em economia
é não ter o erro como pressuposto. É algo queestá no centro da análise económica - por isso
"é errada toda a utilização política da economia
que não tenha em consideração o erro, todaa utilização taxativa, radical da economia"."Aqui, passamos para a economia enquantopolítica económica. Quando um governantediz: vamos fazer isto porque sabemos que vaidar este resultado e não o faz de forma cui-dadosa, pensando na eventualidade de ter dealterar o rumo a determinado momento porqueos resultados não são os esperados, está a fazerum mau uso da ciência económica." Exemplos:estamos a vivê-10.
As
vezes, o pianista Filipe Pinto-Ribeiro ensaia em circunstâncias
que sabe não serem as melhores
para testar onde é que o erro podeaparecer. A experiência ensinou-lhe, porém, que há uma dose de
imprevisibilidade no erro. Tinha 14
anos quando numa audição públi-ca errou, e isso marcou-o, "achava
que, pela facilidade que tinha, o er-ro não ia aparecer". Como pianista de clássica,
procura a perfeição, trabalha para evitar o erro,que descreve como "um acto inconsciente desair fora do correcto".
Ao longo do seu percurso, foi aprendendoque o erro está "implícito no processo criativo"e que inclusivamente permite "a descobertado próprio artista, porque todos erramos demaneira diferente". "Sendo visto de forma pe-jorativa, então para quem como eu e outrosartistas estamos em busca da perfeição, o erroé fundamental nessa busca - é algo que é in-correcto mas que procura algo novo."
Lidar com o erro é lidar com os nossos de-feitos, diz, e é ter uma perspectiva humilde e
humana sobre nós próprios porque "não somos
máquinas, nem computadores" .
Como artista que actua em público, FilipePinto-Ribeiro lida com a especificidade de vero seu erro exposto. "Sou muito autocrítico, exi-
gente, perfeccionista - o erro incomoda-me.Mas sei que há coisas muito mais importan-tes do que o erro." Para os pianistas, um dos
grandes medos são as falhas de memória. O
segredo para lidar com o erro? Preparação e
concentração. "Por outro lado, é preciso re-lativizá-lo e criar um complexo de defesas."Até porque, "muitas vezes, o medo de errar é
algo que inibe".Posta a questão ao contrário: o que é que a
forma como olhamos para a nossa capacida-de cognitiva tem que ver com a resposta quedamos aos erros que cometemos? O psicólogoJason S. Moser, professor assistente na Universi-dade do Michigan, Estados Unidos, interessou-se pela forma como as pessoas vêem a sua inte-
ligência e a relação que têm com os seus erros.É co-autor do estudo Mindyour errors: Evidence
foraneural mechanism linkinggrowth mindsetto adaptivepost-erroradjustments, publicado na
Psychological Science, revista da Association for
Psychological Science americana. Aqui conclui-se "que as pessoas que acreditam que podemaprender e crescer [que acreditam que a inte-
ligência é maleável] têm uma resposta maioraos erros", ou seja, prestaram mais atençãoaos erros que cometeram. "Quem usava essa
informação sobre os erros desempenhava me-lhor a tarefa seguinte. Enquanto as pessoas queachavam que a sua inteligência era genética e
fixa tinham mais probabilidade de continuara cometer erros."
As crenças que temos sobre as nossas capa-cidades estão ancoradas num mecanismo docérebro "muito simples" que "acontece nemem meio segundo", que "pode dizer muitosobre uma pessoa", diz: "Os que prestam aten-
ção aos erros, que têm uma atitude positivaem relação a eles e têm a capacidade de re-cuperar, têm mais probabilidades de ter ummelhor desempenho nas situações de stress,de ser mais bem-sucedidos quando confron-tados com a adversidade." Conselho: "Reagirimediatamente ao erro, não esperar, e seguirem frente."
Mas por que é que cometemos erros, porque é que além de errarmos também os repeti-mos, e muitas vezes? Jason Moser, que tambémfaz psicoterapia em consultório, lembra que"vivemos num mundo de probabilidades" ena maioria dos casos não há respostas certas:
aprendemos por tentativa-erro. Muitos dos
erros que repetimos "têm origem na distrac-
ção" - acontecem porque estamos desligadosdo que estamos a fazer. Moser parece estar adescrever o desempenho de uma tarefa - e
na vida? "Pode-se pensar em tudo na vida co-mo uma tarefa, um meio para atingir qualquercoisa. Por exemplo, uma relação é uma tarefa,o objectivo é tentar que aquela pessoa fiqueperto de nós, eventualmente casar ou ter fi-lhos. Grande parte das vezes a razão por querepetimos erros é porque não estamos a prestaratenção suficiente ao que a outra pessoa diz,ao nosso próprio comportamento, às nossas
emoções, pensamentos, crenças e valores." É
porque andamos distraídos.Durante a escrita deste texto, fomos distra-
idos pelo anúncio da escolha do novo Papa,Francisco. Interromperam-nos várias vezes o
email, o telefone, o Facebook, a sopa do almo-
ço, a projecção do fim-de-semana, o frio nos
pés. Tentámos cumprir a tarefa de concentra-ção a 100%, mas nada garante que não tenha-mos cometido erros. A existir, foram involuntá-rios. Excepto um: leu o título com atenção?
Falar de erros écriar desconfortono sistema, dizo médico BrianGoldman, porquea tendência éassociá-los a
incompetência,preguiça ounegligência.Quem está dentrodo sistema desaúde até podeter consciência deque todos erramos,somos humanos,mas quem o gerereconhece-ocom "um sentidode desespero" eno fundo pensa:"Não seria bom seencontrássemos as
pessoas perfeitaspara não termosde nos preocuparmais?"