Preparador Vocal e Suas Responsabilidades
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Preparador Vocal e suas
ResponsabilidadesHoje quero falar um pouco sobre uma reflexão que tenho a respeito da profissão de
preparador vocal, professor de canto, voice coach, ou como preferirem chamar.
Espero que essa reflexão sirva não só para outros professores, mas também para
cantores que procuram por um preparador vocal que seja do seu perfil, garantindo-lhe
melhores resultados.
Desde que comecei a dar aulas de canto eu me senti imbuído de um senso de
responsabilidade muito grande. Como lido, eu e meus colegas de profissão, com um
instrumento vivo e ÚNICO, eu mesmo me cobrei por ter subsídios suficientes para ter
as ferramentas corretas para conduzir os cantores que chegam a mim buscando por
soluções para as suas vozes. Iniciei, então, uma saga para a qual eu não enxergo (e
nem quero) o fim. Essa saga é a de estudos em TUDO que envolve a produção da voz
e, ainda mais, sobre pedagogia vocal. Considero-me, além de um preparador vocal,
um entusiasta no que diz respeito às estratégias pedagógicas envolvidas no processo
de ensino-aprendizagem do canto. Sou um consumidor de diversos métodos e todas
suas nuances. Mas porque isso? Pois eu sempre busco o melhor para o resultado final
de uma aula de canto/preparação vocal: conduzir meus estudantes a cantar de
maneira saudável e com o máximo de rendimento possível.
Dentre os tópicos que estudo, uma lista quase infinita de assuntos compõe uma longa
e complexa formação. Fisiologia vocal, anatomia, física acústica, fonética, psicologia
da comunicação, pedagogia etc. E, dentro de cada assunto, uma infinidade de
informações. Tudo isso para garantir que estarei conduzindo conscientemente meus
alunos.
Mas como preparador vocal, professor de canto, voice coach, devo eu abordar tudo
em aula? Qual o meu papel como professor? E qual o papel do cantor como aluno? É
nesse processo de ensino-aprendizagem, nessa lacuna, que eu passo grande parte
dos meu tempo refletindo. Uma pergunta me move (e acredito que deveria mover
TODOS os professores como eu): “Em que essa informação será útil para eu
converter em alguma ferramenta para trabalhar a voz dos meus alunos”?
Como de praxe, vou traçar um paralelo com um esporte. Vamos pensar na relação
existente entre o jogador de futebol e seus “coaches”. Dentre esses coaches do
jogador de futebol estão o seu preparador físico e o técnico do time. O preparador
físico dará todo o condicionamento físico que o jogador precisa para desempenhar, de
maneira mais eficaz, o seu jogo. O preparador físico estudará ABSOLUTAMENTE
TUDO sobre fisiologia do exercício, anatomia humana, física mecânica, enfim, tudo
que for necessário para entender a mecânica e a dinâmica do jogo de futebol. No
entanto, todos esses estudos visam prover, ao preparador físico, subsídios suficientes
para criar as melhores ferramentas de preparação física para seus jogadores. O
jogador não saberá exatamente quantos newtons precisam ser aplicados para que um
chute seja certeiro. Ele não saberá, também, se o músculo chefe de um dado
movimento é o quadríceps, ou se ele precisa de uma contração rápida dos oblíquos
para melhorar sua movimentação no campo. O que ele realmente quer (e precisa) é
ter um treino eficiente que o faça fazer mais gols. O técnico do time, por sua vez, irá
dirigir o jogador dentro de campo. O técnico estudará tudo sobre futebol: sua história,
sua evolução ao longo das décadas, estudará estratégias (e diversos livros de
estratégias), estudará psicologia (para melhor compreender as relações humanas),
estudará administração (para melhor gerir o seu time) e muito mais. O jogador, no
entanto, não precisará ler Sun-Tzu para aplicar uma determinada estratégia em jogo.
Ele não precisará ler Freud, pois seu principal objetivo é fazer gols. O técnico SIM
precisa entender de tudo isso para preparar seus jogadores para o jogo. Por isso
jogadores que se tornam técnicos ou preparadores físicos precisam retomar os
estudos. Pois apenas com conhecimentos coesos eles poderão criar as ferramentas e
as condições ideais para o desenvolvimento de jogadores, e times, mais eficazes.
Dito isso, trago essa reflexão para o campo da pedagogia vocal. Nós, professores de
canto, devemos ter todo o conhecimento possível (ou pelo menos buscar sempre ter o
máximo de conhecimento possível) para termos ferramentas e recursos para
direcionarmos os cantores a melhores resultados. Despejar uma carga teórica muito
intensa pode frustrar o cantor no seu curso de aprendizado vocal. Isso pois ele está
procurando você por uma única razão: cantar melhor e mais saudável. Informações
densas de anátomo-fisiologia vocal, fonética acústica e tudo mais, servem apenas ao
professor/orientador. Ao cantor/estudante basta saber fazer. Ao professor cabe a
responsabilidade de saber e de orientar seus alunos a um melhor fazer. Ralph
Appelmann, da universidade de Indiana, autor do livro The Science of Vocal
Pedagogy (A Ciência da Pedagogia Vocal), já afirmava que os programas dos cursos
de canto devem atender às necessidades específicas do que o estudante se propõe.
Se ele quer ser apenas cantor, dê-lhe ferramentas para cantar em todo seu potencial.
Se ele quer se desenvolver como professor/orientador vocal, dê-lhe todo o conteúdo
necessário para trabalhar com a voz de outras pessoas. Densas leituras ou densas
informações só serão úteis se fizerem você atingir seu objetivo. Para nós, professores
de canto, o objetivo é conseguir os melhores resultados na voz de nossos cantores.
Ainda para nós, como cantores, basta-nos sermos direcionados a uma melhor
emissão e expressão da nossa arte.
Um ditado atribuído a Confúcio, filósofo e pensador Chinês, guia o que eu acredito ser
a máxima para qualquer relação de ensino-aprendizagem: “Quem ouve, esquece.
Quem vê, lembra. Quem faz, aprende”. Ou seja, é praticando (sob correta orientação)
que conseguiremos sempre os melhores resultados. E, como eu sempre digo: não
existem atalhos.
Espero ter sido útil. Um abraço e até a próxima.