Prêmios - Jornal Metas

27
Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC -Jornalismo -Publicidade & Propaganda

Transcript of Prêmios - Jornal Metas

Page 1: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

-Jornalismo -Publicidade & Propaganda

Page 2: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Coluna

Page 3: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 17 de Agosto de 2011

Conversaçõ[email protected]

Por André Soltau

Somos 7 bilhões de solitários

“Em se tratando de crises pessoais, parece existir um consenso de que o melhor remédio é a solidão”

Em 1719, quando o escritor inglês Daniel Defoé lançou o roman-ce Robinson Crusoé, a Modernidade estava

em seu auge defendendo o ra-cionalismo, o individualismo e o sucesso a qualquer preço. Sua história foi popularizada em di-ferentes versões para o cinema - com direito a inspirar outras como no fi lme O Naúfrago (Dire-ção Robert Zemeckis. Ano 2000) - resiste ao tempo e arriscaria al-gumas hipóteses sobre os moti-vos que mantém viva a trajetória do sobrevivente de um naufrágio e suas artimanhas para sobrevi-ver em uma ilha deserta acom-panhado de um amigo que não se comunica com ele pela pala-vra - Crusoé tem a companhia de Sexta-feira, nome que identifi ca o dia em que apareceu na ilha já não tão deserta; e um Wilson, boneco montado com uma bola velha e palha para servir de com-panhia ao personagem de Tom Hanks.Em se tratando de

crises pessoais, parece exis-tir um certo c o n s e n s o de que o melhor re-médio é a solidão. O isolamento serve para que observe-mos melhor nossos limites e as armadilhas que nossas vidas aprontam. SPAs, p r a i a s ,

Dicas

Livros:

ONZE TIPOS DE SOLIDÃO. Richard Yates. Editora Quetzal.

Filmes:

A Casa de Areia. ( Direção: Andrucha Waddinngton. Ano 2005)Nell ( Direção: Michel Apted. Ano 1994)

Primavera, verão, outono, inverno e... primavera ( Direção: Kim Ki-Duk. Ano 2003)

casa na serra ou tranca sua porta, tira o telefone do gancho, desliga celular e “se vê” no frenético mun-do das emergências em que tudo é aqui, já e para hoje.O fato é que esse blá-blá-blá ro-

mântico é a síndrome contempo-rânea. Cada dia um número maior de pessoas está só. Em um país como o Brasil, segundo dados do censo IBGE, mais de 4 milhões de pessoas moram sozinhas. Vendo os dados lembrei da frase do fi ló-sofo Mcluhan: “ Os homens criam as ferramentas e as ferramentas recriam os homens”. A vida está mostrando que a solidão não ser-ve para revermos nossos mundi-nhos pessoais e sim que vejamos nossas próprias criações huma-nas determinando o que somos, pensamos fazemos ou queremos. A solidão é um mal contemporâ-

neo. Alguns países a tratam como doença que prejudica a sociedade como um todo. Os dinamarqueses possuem 36 % de sua população atingida pela solidão; 35% dos in-gleses, 30% dos Alemães e chega

a 50% dos moradores da ro-mântica Paris. Outro

dado curioso é que nesses países os índices de sui-cídios são alar-mantes.No cenário

t e c n o l ó g i c o do século XXI, como explicamos que vivemos imer-sos em imagens em uma cultura midiática que torna as vidas privadas um espetáculo e as re-

des sociais co-locam todos

os dias m u i t a s p e s so -as em c o n -ta tos virtu-a i s . T e -m o s aces-s o

imediato às infor-mações que es-tão literalmente ao alcance de nossas mãos em brinquedinhos e l e t r ô n i c o s cada vez me-nores. Quanto maior o gru-po de ami-gos que nos seguem em alguma site de relacio-namen to s mais soli-tários pa-r e c emo s estar e os en-contros são mais virtuais do que pesso-ais. A s o l i -dão é u m

grande proble-ma do presente e tende a ser um problema ainda maior no futuro. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de um milhão de pessoas se suicidem por ano tanto que criou o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio em 10 de setembro.Os humanos sempre procu-

raram formas de acalentar seus momentos solitários criando deu-ses para si, buscando soluções e criando expectativas em outros humanos, apropriando-se de ví-cios, jogos leituras, músicas ou fi lmes. Com o consumo não fun-ciona assim. A cultura do efêmero mundo consumista oferece uma abundante e variada gama de objetos de desejo ao alcance das possibilidades de nossos bolsos. Abundância que cresce na mesma proporção em que nos tornamos sós. Vivemos um medo constante

que é estendido para a educação aos fi lhos. Ofertamos objetos de última geração compensando-os pelas nossas falhas e ausências. Como Crusoé - nosso personagem literário - mantemos uma comu-nicação com os objetos sem um retorno. Falamos sós. Sonhamos com o que está a venda em lojas virtuais ou reais. O desejo pelo

novo é tão compul-sivo a ponto de não percebermos que os objetos que compramos começam a desvalorizar assim que o agarramos. Uma vez ad-quiridos, o celular/carro/roupa/bolsa perde seu sentido e o nosso de desejo de possuir não se encer-ra com o produto em nossa pro-priedade. Logo terá outro produto que chamará nossa atenção. So-mos colecionadores de múltiplos atos de compra e venda e não de atos solidários.Assim, chegamos às nossas

identidades. Os objetos nos dão o direito de participar em uma

comunidade mundial: os con-sumidores e

freqüen-tar os seus lo-cais de encontros: os shop-pings. Só e x i s t i m o s se consumi-mos certos tipos de bens (com marca reconhecida e status de pri-vilégios). Um celular ou carro só existem en-quanto o modelo novo não chega às lojas. Nós? Va-mos trabalhando para pagar o mo-delo velho em uso, adquirir dinheiro para comprar o mo-delo novo e, enfi m desfi lar diante de olhos seduzidos pela fantasia de também tê-lo. E s s e

movimento frenético e constante alimenta o

mundo ocidental e vai tomando, aos poucos, o oriental. Afunda-mos em empréstimos interminá-veis que nos privam das coisas básicas da vida em nome do sta-tus de possuir. Status de ser! Ser o que mesmo? Eis a aldeia global. Afi nal não estamos sós. Temos o direito de participar do mágico universo fashion. Os objetos que compramos parecem dar à gente o sentindo de existência. Fazem de nós colecionadores de atos de compra. Com essa solidão não se brinca.

se comunica com ele pela pala-vra - Crusoé tem a companhia de Sexta-feira, nome que identifi ca o dia em que apareceu na ilha já não tão deserta; e um Wilson, boneco montado com uma bola velha e palha para servir de com-panhia ao personagem de Tom Hanks.Em se tratando de

crises pessoais, parece exis-tir um certo c o n s e n s o de que o melhor re-médio é a solidão. O isolamento serve para que observe-mos melhor nossos limites e as armadilhas que nossas vidas aprontam. SPAs, p r a i a s ,

nas determinando o que somos, pensamos fazemos ou queremos. A solidão é um mal contemporâ-

neo. Alguns países a tratam como doença que prejudica a sociedade como um todo. Os dinamarqueses possuem 36 % de sua população atingida pela solidão; 35% dos in-gleses, 30% dos Alemães e chega

a 50% dos moradores da ro-mântica Paris. Outro

dado curioso é que nesses países os índices de sui-cídios são alar-mantes.No cenário

t e c n o l ó g i c o do século XXI, como explicamos que vivemos imer-sos em imagens em uma cultura midiática que torna as vidas privadas um espetáculo e as re-

des sociais co-locam todos

os dias m u i t a s p e s so -as em c o n -ta tos virtu-a i s . T e -m o s aces-s o

Page 4: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Projeto EspecialProjeto Especial

Page 5: Prêmios - Jornal Metas
Page 6: Prêmios - Jornal Metas

ExpedienteDiretor: José Roberto Deschamps - Gerente Adm. Financ: Juliana P. Z Deschamps - Produção gráfica: Pedro Paulo F. Schmitt - Textos: Kássia Dalmagro - Edição: Alexandre Melo - Impressão: Jornal de Santa Catarina - e-mail: [email protected]

Herói ou vilão?Herói ou vilão?

C o n c l u -sões são tiradas em cima de

relatos, de boatos e até do emocional de quem participa como agente dos acontecimentos. A história, no entanto, exis-te para pesquisar e orga-nizar cronologicamente os fatos.

Antes, porém, eles pre-cisam ser exaustivamente analisados, juntados e re-montados para que os mitos deem lugar a verdade que será narrada às gerações. Em nenhum outro lugar des-te imenso Vale do Itajaí sur-giram tantos pontos de inter-rogações como na pequena Ilhota, cidade de pouco mais de 12 mil habitantes, que faz fronteira com Itajaí, Gaspar, Brusque e Luiz Alves. O herói colonizador, que tanto orgulho provoca nas pessoas pelo seu pioneirismo e altruísmo, neste caso não passa de um grande aproveitador, explorador e mal feitor.

A história, em Ilhota, teria seguido outro rumo não fosse a coragem de um punhado de agricultores belgas ignorantes e empobrecidos que, enganados pelo seu líder, rebelaram-se tão logo desembarcaram na terra prometida do baixo Vale.

Hoje, graças a essa alforria forçada Ilhota pode orgulhar-se de ser a primeira e única colô-nia belga a prosperar no Brasil, título, aliás, que por muito tem-po foi negado aos descenden-

O primeiro trabalho científi co

Outras iniciativas

Resgatar a história de um herói que virou vilão é ain-da mais difícil. Muitos docu-mentos da época da coloni-zação foram queimados por Joseph Phillipe Fontaine, diretor interino da Colônia Belga, deixado aqui por Van Lede após seu retorno para a Bélgica.

Fontaine temia que a pa-pelada fosse usada como prova das falsas promessas feitas por seu patrão aos colonizadores e ao governo brasileiro. Ao longo da his-tória, alguns descendentes de belgas, por curiosidade, pesquisaram seus ante-passados, reuniram fotos de família e de eventos públicos, mas nada que pudesse lançar luzes so-bre a verdadeira história da colônia. Passaram-se, então, 128 anos para o surgimento do primei-ro relato científico sobre a colonização belga em Santa Catarina. Em 1972, o professor e pesquisador joinvilense Carlos Ficker, assina a bibliografia “Char-les Van Lede e a Coloni-

Herói ou vilão?erói ou vilão? C o n c l u -sões são tiradas em cima de

relatos, de boatos e até do emocional de quem participa como agente dos acontecimentos. A história, no entanto, exis-te para pesquisar e orga-nizar cronologicamente os

Antes, porém, eles pre-cisam ser exaustivamente analisados, juntados e re-montados para que os mitos deem lugar a verdade que será narrada às gerações. Em nenhum outro lugar des-te imenso Vale do Itajaí sur-giram tantos pontos de inter-rogações como na pequena Ilhota, cidade de pouco mais de 12 mil habitantes, que faz fronteira com Itajaí, Gaspar, Brusque e Luiz Alves. O herói colonizador, que tanto orgulho provoca nas pessoas pelo seu pioneirismo e altruísmo, neste caso não passa de um grande aproveitador, explorador e mal

A história, em Ilhota, teria seguido outro rumo não fosse a coragem de um punhado de agricultores belgas ignorantes e empobrecidos que, enganados pelo seu líder, rebelaram-se tão logo desembarcaram na terra

Hoje, graças a essa alforria forçada Ilhota pode orgulhar-se de ser a primeira e única colô-nia belga a prosperar no Brasil,

mentos da época da coloni-zação foram queimados por Joseph Phillipe Fontaine, diretor interino da Colônia Belga, deixado aqui por Van Lede após seu retorno para a Bélgica.

Fontaine temia que a pa-pelada fosse usada como prova das falsas promessas feitas por seu patrão aos colonizadores e ao governo brasileiro. Ao longo da his-tória, alguns descendentes de belgas, por curiosidade, pesquisaram seus ante-passados, reuniram fotos de família e de eventos públicos, mas nada que pudesse lançar luzes so-bre a verdadeira história da colônia. Passaram-se, então, 128 anos para o surgimento do primei-ro relato científico sobre a colonização belga em Santa Catarina. Em 1972, o professor e pesquisador joinvilense Carlos Ficker, assina a bibliografia “Char-les Van Lede e a Coloni-

tes por vergo-nha, desconhecimento ou medo de remexer na ferida aberta em novembro de 1844 quan-do Charles Maximiliano Van Lede trouxe para cá o primeiro grupo de imigrantes belgas de

ascendência Flamenga. As con-dições de vida eram as piores possíveis, além do fato que a intenção não era colonizar, mas explorar as riquezas minerais encontrados no subsolo catari-nense.

zação Belga em Santa Ca-tarina”, publicado na revista Blumenau em Cadernos, ten-do como um de seus focos a discussão das questões relacionadas à história de Blumenau e do Vale.

Outros 33 anos se pas-saram para que o professor Paulo Rogério Maes fosse atrás de suas raízes e trans-formasse sua pesquisa em li-vro. “Toda vez que pergunta-vam meu nome, pronunciava Maes, logo vinha a exclama-ção - Ah! Alemão! E quando eu falava que não, que era belga, que era flamengo, se-guia-se a interrogação - Bel-gas? Flamengos? Em Santa Catarina? De onde vieram? Quando vieram? Por que vieram?”, escreve o autor na introdução de “Colonização Flamenga em Santa Catarina Ilhota” (2005). Maes tam-bém fala da sua angústia de ver crescer em Santa Cata-rina cidades colonizadas por alemães, italianos, polone-ses, austríacos, enquanto a história da colônia belga no estado simplesmente diluiu-se no meio de outras etnias.

Do livro de Paulo Rogério Maes a outra iniciativa de his-toriagrafar a colonização belga em Ilhota passaram-se apenas doze meses. Em 2006, as pro-fessoras de Estudos Sociais e bacharéis em História, Viviane dos Santos e Elaine Cristina de Souza, publicaram “Movidos pela esperança - a história cen-tenária de Ilhota”.

O livro, baseado em documen-tos, entrevistas e pesquisa, se aproxima ainda mais da verdade sobre o que de fato aconteceu

na Colônia belga estabelecida em Ilhota na segunda metade do século XIX. “Iniciamos o tra-balho em 1998, foram mais de mil horas de entrevistas”, conta Viviane.

As dificuldades foram enor-mes porque o material de pes-quisa era bastante escasso. “Na década de 1980, houve um movimento de resgate da histó-ria, nos embalos das festas de outubro, mas que acabou não prosperando”, lembra Viviane.

O livro foi o primeiro material

didático sobre a história da co-lonização de Ilhota e passou a ser utilizado nas escolas como referência. “É quase uma obra de apoio pedagógico”, acres-centa Elaine. Para a professora, em história não existe verdade absoluta. Portanto, acusar Van Lede de enganar e explorar os imigrantes belgas é simplista demais. “É preciso contextuali-zar os fatos à realidade. Naque-la época, o governo brasileiro dava terras para os coloniza-dores com o objetivo da explo-

ração”, justifica. Na esteira da obra, foi lançada, em 2009, “Ilhota - O Encan-to dos Belgas no Vale do Grande Rio, de Ana Luiza Mette e Elaine Cristina de Souza, outras manifesta-ções de resgate da história da colonização e da cultura belga surgiram por iniciativa do poder público, como a Expobelga, e dos próprios descendentes, interessados em saber mais sobre seus antepassados.

Reprodução/Capa

Reprodução/Capa

Reprodução/Capa

Page 7: Prêmios - Jornal Metas

O país dos colonizadoresMas, afinal,

como é o País de onde vie-ram os primei-ros coloniza-

dores de Ilhota? Com uma área total de 30.502Km², a Bélgica, que possui cerca de 10,7 milhões de habitantes, é divi-dida em três regi-ões: Flandres, Va-lônia e Bruxelas e definida em quatro áreas linguísticas: fran-cês, alemão, holandês e bilíngue na capital Bruxelas. No País, existem as comu-nidades francesa, flamenga e germânica. Seu território limi-ta-se ao norte com a Holanda e o Mar do Norte; a oeste, com Alemanha; a sudeste, com Luxemburgo; e ao sul, com a França. A superfície do território belga apresenta ca-racterísticas físicas básicas, sendo a planície costeira, lo-calizada a noroeste do país; o planalto central, situado no interior; e as ardenas, loca-lizada no sudeste. A Bélgica possui dois importantes rios, são eles: Escalda e Mosa. A região é influenciada pelo cli-ma do tipo temperado, apre-senta temperaturas médias de 25°C no verão e de 7°C no inverno. O país possui uma excelente infraestrutura de transportes: uma densa rede ferroviária, uma rede de es-tradas segundo as modernas exigências, e um desenvolvi-mento conjunto de cursos de água navegáveis constituído

Informações

Nome: Reino da Bélgica

Capital: Bruxelas.

Governo: Monarquia constitucional.

Moeda: Euro.

Ingresso na União Europeia: 25 de março de 1957.

Densidade demográfica: 350,5 hab./ km².

PIB (Produto Interno Bruto): 454.580 milhões de dólares.

Renda per capita: 45.310 US$.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): 0,867.

Religião: cristianismo 90,4% (católicos 90%, protestantes 0,4%), islamismo 1,1%, sem filiação e ateísmo 7,5%, outras 1%.

O país dos colonizadoresas, afinal, como é o País de onde vie-ram os primei-ros coloniza-

dores de Ilhota? Com uma área total de 30.502Km², a Bélgica, que possui cerca de 10,7 milhões de habitantes, é divi-dida em três regi-ões: Flandres, Va-lônia e Bruxelas e definida em quatro áreas linguísticas: fran-cês, alemão, holandês e bilíngue na capital Bruxelas. No País, existem as comu-nidades francesa, flamenga e germânica. Seu território limi-ta-se ao norte com a Holanda e o Mar do Norte; a oeste, com Alemanha; a sudeste, com Luxemburgo; e ao sul, com a França. A superfície do território belga apresenta ca-racterísticas físicas básicas, sendo a planície costeira, lo-calizada a noroeste do país; o planalto central, situado no interior; e as ardenas, loca-lizada no sudeste. A Bélgica possui dois importantes rios, são eles: Escalda e Mosa. A região é influenciada pelo cli-ma do tipo temperado, apre-senta temperaturas médias de 25°C no verão e de 7°C no inverno. O país possui uma excelente infraestrutura de transportes: uma densa rede ferroviária, uma rede de es-tradas segundo as modernas exigências, e um desenvolvi-mento conjunto de cursos de água navegáveis constituído

p o r rios e

inúmeros af luentes e canais que promo-vem o desen-volvimento da navegação.

Este pequeno País pos-sui uma longa história. No início da nossa era, o território estava ocupado pelo general Romano Júlio César. Então, o rei medieval Clovis adaptou este país para sua casa. As hordas escandina-vias pilharam esta região em várias ocasiões. A linha dos Condes de Flandres nasceu no norte do país, enquanto os luteranos reclamavam so-berania mais ao sul. Sob os duques da Burgundy, a Bélgi-ca viveu um período de pros-peridade econômica e cultural que durou até os espanhóis estabelecerem as regras.

Foi finalmente sob a ocu-pação francesa que as funda-ções do reino da Bélgica foram estabelecidas. A independên-

cia do país foi proclama-da no dia 21 de julho de 1831, sendo que seu pri-meiro rei foi Leopoldo de Saxony--Coburg.

Com o passar dos anos, o país conquistou um elevado índice de industrialização e exerce um papel importante na União Europeia.

A economia do país é bas-tante diversificada, sendo que os setores que mais se des-tacam são: metalurgia, medi-camentos, eletrônicos, têxtil,

fabricação de vidros, chocola-tes, diamantes e mó-veis.

Além da agricultura, que se destaca na produção de frutas, como uva, ameixa e morangos.

O Palácio Real na capital, Bruxelas Castelo em Ieper, no sopé dos montes da Flandres Ocidental

Lumecon é uma anti ga procissão em honra ao santo padroeiroLiège fi ca localizada na confl uência do Meuse com o Ourthe Fonte: Governo da Bélgica

Reprodução livro “Bélgica - Figuras a 300 Cores”

Page 8: Prêmios - Jornal Metas

Para entender o que se passou na Colô-nia Belga em Santa Catarina, é preciso contextualizar os

cenários econômico e social da segunda metade do século XIX. A Europa vivia uma grande cri-se econômica em função da Re-volução Industrial que provocou desemprego em massa, fome e o empobrecimento da população rural.

O Brasil, com pouco mais de 20 anos de independência, despon-tava no cenário pela abundância de terras férteis e riquezas em minérios, principalmente carvão, ferro e ouro. No entanto, a mão de obra escrava havia se tor-nado cara e escassa em função da proibição do seu tráfego. A solução era importar trabalha-dores da Europa. As fazendas de café de São Paulo e de outros estados do Sudeste e Nordeste do país passaram a atrair a mão de obra europeia em troca do sonho dos agricultores cultivarem em seu próprio pedaço de terra. Esta independência acontecia na

Um belga em terras tupiniquim Confl itos marcam o início da colôniaEm sua primeira viagem ao

Brasil, Van Lede havia se en-cantado com a o Vale do Ita-jaí. O solo era propício para a agricultura e havia a possibili-dade de exploração de miné-rios. No entanto, ele não teve

o seu contrato ra-tificado pelo governo bra-sileiro. Van Lede atribuiu a negativa ao episódio anterior com De Jaeger. O belga decidiu lançar-se num projeto próprio, e comprou 9.600 hectares de terras, sen-do 6.250 do Coronel Henri-que Flores, na época um gran-de latifundiário, 2.150 hectares

do padre Rodrigues e outros 1.200 de uma senho-ra de sobrenome Aranha. Em 4.100 hectares, Van Lede fun-dou uma pequena povoação que batizou de Ilhota, porque em frente ao local havia uma ilha que submergiu em defini-tivo na grande cheia de 1911.

Em agosto de 1844, 114 imigrantes belgas da região de Bruges, de origem Flamenga, partiram do Porto de Ostende com contrato firmado para cul-tivar nas terras da futura co-lônia a 3 francos por dia de serviço. Os problemas de Van Lede começaram antes de chegar ao Brasil. Segundo re-latos, 16 belgas abandonaram Primeira tentativa frustrada

Embora a serviço da Socie-té Commercial de Bruges, Van Lede nunca escondeu de nin-guém o seu projeto pessoal de aproveitar a mão de obra dos seus compatriotas para explo-rar os minérios. Em 1841, a Societé de Bruges, por inter-médio de Van Lede, adquiriu a concessão de 900 km² ao longo do rio Itajaí-Açu, com direitos sob o subsolo. Entre as cláusulas do contrato es-tavam o investimento de BEF 6.000.000 (hoje em torno de 30.000.000 euros); assen-tamento de 100 famílias; in-vestimentos em infraestrutura e a subsistência das famílias. Para os colonizadores, havia um parágrafo especial em que eles não podiam ser escravi-zados e que os filhos nascidos no Brasil teriam automatica-mente nacionalidade brasilei-ra (por isso, muitos descen-

Personagem central da colo-nização belga em Santa Cata-rina, Charles Maximiliano Luiz Van Lede, para alguns, é vilão, para outros herói. Historiadores e pesquisadores ainda procu-ram por essa resposta.

O que todos têm certeza é que Van Lede foi um homem à frente do seu tempo, um em-preendedor com espírito aven-tureiro. “Cada homem é filho do seu tempo”, afirma a historia-dora Elaine Cristina de Souza. Ela lembra a importância de Van Lede para o desenvolvi-mento do Vale. “Foi ele (Van Lede) que abriu as portas para a colonização e mapeou o Vale. O Dr. Blumenau só chegaria à região oito anos depois”. Nas-cido em 1801, na região de Bruges, Van Lede estudou em Paris, cumpriu serviço militar na Espanha, como um solda-do mercenário que rebelou-se contra a tirania absoluta do rei Fernando VII. Em 1830, com a independência da Bélgica, re-tornou ao país para ser recru-tado como oficial de engenha-ria. Enviado em missão militar ao México, Van Lede viajou as Américas como técnico em mi-nas e tesouros ocultos.

Esteve na Argentina e depois no Chile, onde trabalhou para o governo daquele país como engenheiro de construção de pontes, estradas e portos.

Em 1842, já a serviço da Societé Commercial de Bruges e proprietário da Compaigne

Pobreza trouxe belgas ao Brasil

medida em que trocavam a força do seu trabalho por um pedaço de terra. O governo brasileiro, por sua vez, tinha interesse de po-voar o litoral que estava sendo alvo de muitas expedições es-panholas, no Sul, e holandesas, no Norte/Nordeste.

IncentivoDepois da implantação da po-

lítica de defesa e ocupação con-tra a invasão do seu Litoral, o governo brasileiro passou a in-centivar a formação de núcleos colonizadores. Em Santa Catari-na, embora tardia, várias regiões passaram a receber imigrantes: São Pedro de Alcântara, Vale do Rio Tijucas, Vale do Itajaí e as margens do Itajaí-Mirim. A região Sul era o alvo prin-cipal das empresas colonizado-ras por causa das terras serem inoculadas, o clima semelhante ao europeu e a possibilidade de desenvolver outras culturas em substituição a cana-de-açúcar em franca decadência no Brasil.

Na região que mais tarde viria a ser ocupada pelos belgas, ha-

via um pequeno povoado, com pouco mais de 1.100 habitantes, fundado por volta de 1820. As terras eram praticamente todas de posse do Coronel Agostinho

Alves Ramos. Além destes ha-bitantes, havia muitos índios, ou bugres como eram conhecidos, nas matas.Os índios não tinham local fixo. Na medida em que os

imigrantes foram chegando e se estabelecendo nas colônias, os silvícolas foram sendo expulsos para o interior e, por fim, dizi-mados pelos caçadores.

o grupo no Rio de Janeiro. Dessa forma, Van Lede não conseguiria cumprir a exigência contratual de trazer 100 imigrantes.

Ainda assim, ele não desanimou e iniciou a construção das primei-ras 16 casas de madeira que de-ram origem a aldeia de Ilhota. Em fevereiro de 1845, Van Lede viajou para o Rio de Janeiro e, em maio do mesmo ano, embarcou de volta para a Bélgica, deixando a Colônia aos cuidados de Philippe Fontaine. Em 28 de julho de 1845, a Câma-ra dos Deputados aprovou o Pro-jeto de Lei de criação da Colônia. No entanto, o clima já era ruim e as desavenças entre a chefia e os trabalhadores só cresceram.

O cotidiano dos colonos belgas ficou marcado por uma série de conflitos, trabalho e dificuldades de adaptação. Aprenderam a pescar, caçar, derrubar árvores, construir casas, engenhos de fabricação de farinha, açúcar, e principalmente reivindicar seus direitos. De acordo com as historiadores Ana Luiz Met-te e Elaine Cristina de Souza, no livro Ilhota - Encanto dos Belgas no Vale do Grande Rio - as dis-córdias iam desde o descontenta-mento pelo pagamento maior pelos serviços desmatamento a colonos brasileiros do que aos belgas até escassez de mantimentos. Eram frequentes as rebeliões na colônia, por isso os belgas foram taxados de arruaceiros, brigões e malan-dros. Gonçalves, neto de uma jo-vem belga, descreve as condições de vida dos imigrantes: “Se por um lado, viver na Europa estava difícil em virtude dos vários conflitos e a pobreza que assolava as família europeias, viver na cocanha brasi-leira, também não era tarefa fácil nas primeiras décadas de coloni-

zação, onde as condições cli-máticas, os animais selvagens e serpentes espalhavam-se por toda a região”.

Diante do ambiente hostil, Fontaine também decidiu re-tornar à Bélgica, deixando os imigrantes sem rumo. Antes de partir, destruiu todos os docu-mentos e ainda exigiu que os colonos assinassem um termo confirmando terem recebido as terras e toda a infraestrutura necessária para se estabele-cerem. Nessa época, a colônia era formada por 63 pessoas. A direção da Colônia passou en-tão para Gustave Lebon, que também teria desistido meses depois. A embaixada da Bélgi-ca também negou ajuda.

A vida na colônia só pros-perou graças ao trabalho dos imigrantes. Em 1874, um fato novo tirou o sossego dos mo-radores. Os herdeiros de Van Lede reivindicaram a posse das terras. O Cônsul da Bélgica no Desterro, Henry Schutel, tam-bém colaborou para o conflito ao valer-se de uma procuração de Van Lede para negociar al-guns terrenos. Não bastasse estes dois fatos, em 1889 o Hospital de Bruges requereu parte das terras da colônia de-ixadas por Van Lede em tes-tamento. Quando o procurador Van Dal iniciou o trabalhos de medição das terras, mais de 80 moradores de Ilhota e das vizinhanças, todos armados, o agrediram, apoderaram-se de seus instrumentos e o expul-saram de Ilhota. O Ministério da Bélgica pronunciou-se e favor dos colonos e a pendência foi encerrada.

belge-brésilienne de Colonisa-tion, Van Lede desembarcou no Brasil. A sua missão era avaliar o solo e as florestas catarinen-ses, para a exploração de fer-ro, carvão e outros minérios. O belga foi o p r ime i r o a realizar uma via-gem de c u n h o científico à parte navegá-vel do I t a j a í -- A ç u . Na via-g e m , a l i -m e n -tou a ide ia d e u m gran-de pro-jeto colonizador, com a finalida-de de explorar a mao de obra. Van Lede trouxe o primeiro grupo em 1844, permanecendo no Brasil pouco tempo. Retor-nou para Bélgica em maio de 1845, deixando a colônia sob a direção de Joseph Philipp Fon-taine, e nunca mais retornou. Na Bélgica, ocupou cargo no Conselho Provincial de Flandres em 1848. Van Lede faleceu em 1875, deixando suas terras no Brasil como doação ao Hospital de Bruges.

dade de exploração de miné-rios. No entanto, ele não teve

o seu contrato ra-tificado pelo governo bra-sileiro. Van Lede atribuiu a negativa ao episódio anterior com De Jaeger. O belga decidiu lançar-se num projeto próprio, e comprou 9.600 hectares de terras, sen-do 6.250 do Coronel Henri-que Flores, na época um gran-de latifundiário, 2.150 hectares

do padre Rodrigues e

ro, carvão e outros minérios. O belga foi o p r ime i r o a realizar uma via-gem de c u n h o científico à parte navegá-vel do I t a j a í -- A ç u . Na via-g e m , a l i -m e n -tou a ide ia d e u m gran-de pro-jeto colonizador, com a finalida-

dentes têm hoje sobrenomes aportuguesados). A tradução do contrato do francês para o português foi feita por C. De Jaeger. Segundo Van Lede, o contrato teria sido traduzido, propositalmente, de maneira distorcida. As cláusulas não agradaram nem um pouco a Societé. De Jaeger rebateu as acusações dizendo que o Van Lede agia movido por inte-resses pessoais. Ele também acusou o belga de não se pre-ocupar com os interesses de seus compatriotas ao aceitar a cláusula da nacionalidade bra-sileira aos filhos de imigrantes. Ao retornar a Bélgica em 1842, Van Lede foi mal recebido pe-los seus sócios. As duas so-ciedades foram dissolvidas. No entanto, Van Lede não desis-tiu e, com o apoio do rei da Bélgica Leonardo I, constitui uma nova Companhia Belga.

Governo brasileiro incenti vou a vinda de imigrantes europeus com a fi nalidade de ocupação de áreas que estavam sendo ameaçadas por expedições de espanhóis e holandeses

Descrição e esboço da colônia belga na região de Itajaí

Vista geral do centro da cidade de Ilhota - década de 1950

Arquivo pessoal

Recusa resoluta de apoio real pelo ministro, para Charles Van Lede

Reprodução dos Açores ao Zaires, de Patrick Marselis (2005)

Reprodução Dos Açores ao Zaire, de Patrick Marselis (2005)

Arquivo pessoal Salviano Castelain

Page 9: Prêmios - Jornal Metas

Philipe Fontaine, 43 anos (diretor da Colônia)Jean Nicolas Denis Isler, 46 anos (sub diretor)Pierre Plettincks, 43 anos (médico)Emmeric Crebeels, 48 anos (alfaiate)Pierre Deprez, 42 anos (particular)Leonard Vandergucht, 48 anos (agricultor)François Walthez, 48 anos (particular)François Hollenvoet, 36 anos (particular)Reine de Vrekc, 36 anos (dona de casa)Jean Van Heicke, 46 anos (agricultor)Louis Christiaens, 28 anos (negociante)Pierre Veighe, 36 anos (jardineiro)Cherles de Waele, 37 anos (ourives)François de Smedt, 40 anos (agricultor)François Beyts, 44 anos (agricultor)Maxem Milcamps, 20 anos (particular)Louis Maebe, 27 anos (carpinteiro)Hypolite V. Heyde. 23 anos (capitalista)Henri Plancke, 42 anos (agricultor)Leonard Degand, 52 anos (agricultor)Eugene Maes, 43 anos (agricultor)Ignace de Sanders, 42 anos (agricultor)GregoireHimpens, 40 anos (agricultor)Henri Devreker, 29 anos (carpinteiro)Charles Castelein, 31 anos (agricultor)Louis Van der Busche, 32 anos (arador)Jean Baptiste Buelens, 29 anos (pedreiro)Pierre Heytens, 38 anos (agricultor)Gustave Lebon, 26 anos (particular)Pierre Brackeveld, 42 anos (agricultor)Henri Wismer,40 anos (agricultor)Ange Gevaet, 47 anos (agricultor)E. François Milcamp, 22 anos (charleroi)Jean Van de Vrecken, 30 anos (agricultor)Jean Baptiste Vilain, 31 anos (agricultor)Edouard de Smet, 22 anos (trabalhador)Bernard Lecluyse, 21 anos (barbeiro)Judoc Mussche, 23 anos (carpinteiro)Michel Coucke, 21 anos (agricultor)Romain Busso, 17 anos (estudante)Martin Verlinden, 30 anos (trabalhador)Auguste Lebon, 22 anos (particular)Charles Devleeschower, 36 anos (serrador de madeira)Gerard De Rycke, 49 anos (jardineiro)Jean B. Van Hamme, 39 anos (caçador)Benoit De Ny’s, 23 anos (particular)Charles de Gandt, 56 anos (proprirtário)Ange Gillis, 18 anos (trabalhador)Ange de Neve, 31 anos (trabalhador)Bernard Van Rie, 47 anos (trabalhador)Bruno Claeys, 32 anos (trabalhador)Charles Opstaele, 22 anos (agricultor)Honoré Ego, 30 anos (agricultor)Philippe Deprez, 29 anos (agricultor)Leonard Maes, 31 anos (agricultor)Charles Schloppal, 22 anos (vive de rendas)Pierre Sijs, 17 anos (carpinteiro)Clement Vanysere, 21 anos (agricultor)François Meuwens, 26 anos (fundidor de ouro)Joseph Loens, 21 anos (ourives)Emile De Gandt, 19 anos (particular)*Obs: emigraram com sua mulher e filhos.

Os primeiros imigrantes

Famílias de descendentes em encontro duranta a Expobelga

Cultura relegada a segundo plano

Raras foram as ten-tativas de resgate da cultura belga entre os descen-dentes. “Nunca

houve preocupação em preser-var a cultura belga, em alguns momentos os descendentes sentiam até vergonha das sua origens”, conta a historiadora Viviane dos Santos. A religio-sidade, segundo ela, é até hoje a grande herança deixada pelos belgas. “Todos os descenden-tes eram muito católicos”. Per-manece, também, como forte vínculo, os sobrenomes Maes, Maba, Brockveld, Castellain, Gevaerd, Hostins, Maba, Villain, entre outros.

Ilhotense junta imagens da história do municípioSalviano Castelain, 64

anos, é um apaixonado pela história dos seus antepassa-dos. Embora tenha saído de Ilhota muito cedo, em 1965, para servir ao Exército e tra-balhar, ele nunca abandonou suas raízes. Há 30 anos, Salviano iniciou um trabalho de casa em casa, em Ilhota, a fim de juntar documentos e imagens da história do município. Reuniu em torno de 100 fotos. Viúva, a sua bisavó, Catarina Castelain, veio da Bélgica com três filhos - Pedro, Joaquim e Catarina. Pedro casou com Cristina Castelain e se insta-lou no bairro Minas. Ali nas-ceu José Pedro Castelain que casou com Rosa Maes, pais de Salviano. As duas

O professor Paulo Maes, conta na introdução do seu li-vro “Colonização Flamenga em Santa Catarina - Ilhota”, que o motivo mais forte para buscar suas raízes foi ver as lágrimas nos olhos do seu avô, cada vez que ele falava de sua gente. “...Ele tomava minha mão e pa-recia reviver contando as his-tórias do seu tempo, dos seus pais que, nos dias de festas com seus sapatos de paus, reuniam-se e conversavam em flamengo, enquanto as espo-sas, com seus aventais e seus gorros, tratavam na cozinha de preparar-lhes a refeição”.

Inevitável, no entanto, é com-parar a colonização de Ilhota

com outras cidades da região. Historiadores defendem que essa cultura é maquiada, pron-ta para ser comercializada. Ana Luiz Mette e Elaine Cristina de Souza, afirmam na obra “Ilhota - O encanto dos belgas no Vale do Grande do Rio”: “Em Blumenau, ao assistir um daqueles bem organizados desfiles a imagem que se guarda é de um povo loiro de olhos claros, tipicamen-te vestidos. Ora, nenhum colono alemão usava aqueles trajes que são chamados de típicos, nem tão menos construíram casas em estilo enxaimel. Esses símbolos foram criados no presente”.

Criada há quatro meses, a Fundação Cultural de Ilhota, ini-ciou um trabalho de resgate da colonização belga em Ilhota. A ideia, de acordo com o diretor, Vanderlei Dal Bello Lazarotti, é resgatar nas famílias o orgulho de descender de belgas, pois muitos sequer sabem da sua origem. A história será levada ao povo por meio de intercâmbios, seminários, projetos e eventos culturais. “A Casa da Cultura vai aproximar o povo de Ilhota da sua história, tornando-o agente multiplicador das informações”, explica Lazarrotti. A sede da Fundação Cultural será o prédio reformado da antiga prefeitura, que, segundo Lazarotti, é hoje a única referência da arquitetura belga no município.

famílias, Castelain e Maes, eram numerosas e influentes. “Era donos da maioria das terras e mandavam na política de Ilhota”, recorda Salviano. Ele conta que seu avô falava muito dos belgas e a família tinha orgulho da sua

descendência. Este é o mo-tivo dele ter se interessado pela história. Hoje, residin-do em Balneário Camboriú, seu maior sonho é reunir todo o acervo de imagens em uma exposição.

A futura sede da Fundação Cultural de Ilhota

Salviano: desejo de realizar uma exposição fotográfica com o seu acervo de imagens

Fotos Jornal Metas

Fonte: Colonização Flamenga em Santa Catarina - Ilhota - Paulo Rogério Maes (2005)

Page 10: Prêmios - Jornal Metas

Raízes na música e na dançaO Grupo Folclóri-

co Belga, criado oficialmente há quatro anos, é hoje o principal

divulgador da cultura em Ilho-ta. Mas, conforme explica a professora Elaine Cristina de Souza, autora do livro “Ilhota, o Encanto dos Belgas no Vale do Grande Rio”, escrito em parceria com Ana Luiza Mette, não foi fácil conseguir a conso-lidação do grupo. Várias tenta-tivas fracassaram neste senti-do. Isso porque não havia na cidade material e informações

suficientes para a realização dos trabalhos. “Era muito difí-cil conseguir, por exemplo, os discos com as músicas belgas”, afirma.

Mas, em dezembro de 2006, um telefonema de Imbituba (SC) à Secretaria de Turismo, Indús-tria e Comércio de Ilhota, deu novo fôlego ao sonho. Do outro lado linha, falava Maria Anna Catharina Van Deun, de 69 anos, descendente de belgas. Ela, que é originária de Bier-se, a 15Km do sul da Holanda, queria doar para a cidade vários materiais que guardava em sua residência. Na época, em en-trevista ao Jornal Metas, Anna disse que decidiu doar o que tinha guardado após ler uma reportagem publicada em um jornal sobre a colonização bel-ga em Ilhota. “Como eu iria me desfazer destas coisas, resolvi doar para o município. Acredito que estes materiais ajudarão a enriquecer a cultura belga em Ilhota”, disse na época.

E Anna estava certa. En-tre os materiais doados estava um livro que mostra passos de danças belgas, além de diver-sos discos, utilizados pelo grupo folclórico até hoje. “Estes ma-teriais facilitaram a criação do grupo e sua permanência na cidade”, explica Elaine. Hoje, são 15 crianças que se reúnem

semanalmente para ensaiar as coreografias. Formado por alu-nos do ensino fundamental da

Escola Estadual Marcos Konder, o grupo se divide em dois para os ensaios, e os dançarinos se

juntam para realizar as apresen-tações em Ilhota e também em eventos nas cidades da região.

Resgate passa pela criação de uma associação de descendentesA história da colonização

belga em Ilhota, perdida no fundo do baú de memórias, aos poucos, vem se mostran-do para o mundo e, principal-mente, para os descendentes belgas que aqui residem e que tão pouco conhecem do País de onde vieram seus des-cendentes. O resgate cultural deste caminho tão árduo e cheio de polêmicas e con-troversas, se deve a pessoas como Sueli Ana dos Santos, de 38 anos.

Apaixonada por cultura, a descendente das famílias Vilain e Vander Hecht resol-veu ir em busca da história

de seus antepassados. É ela quem lidera, inclusive, os passos para organizar e criar a Associação das Famílias de Descendentes Belgas.

A intenção, conforme explica a tataraneta de belga, é divulgar a história da colonização e res-gatar as origens dos ilhotenses. “Esta é uma forma de fazer com que a história não fi que perdi-da no tempo”, ressalta Sueli. Ela explica que a ideia é formar uma associação nos moldes dos Cir-colos Trentinos e assim, além de reunir os descendentes, buscar direitos como a cidadania belga e promover ações que aproximem ainda mais os dois países. “Vários descendentes possuem a vontade

de obter a dupla cidadania. Acre-ditamos que a criação da associa-ção é o primeiro passo para essa conquista”, explica. Segundo Sue-li, diversos encontros e estudos já foram realizados, com o intuito de adquirir informações para a elaboração de um estatuto para a fundação da Associação.

Em agosto do ano passado, Sueli teve a oportunidade de re-alizar um sonho: colocar os pés no País de seus antepassados. A viagem à Bélgica, feita na compa-nhia da ex-secretária de Turismo de Ilhota, Marisa Pereira, fi cará para sempre na memória da des-cendente, que nasceu em Ilhota e que reside na cidade até hoje.

Na Europa, as amigas passaram três dias abrigadas na residência do casal belga Frans e Francine Damnels e, de lá, trouxeram mui-tas informações. “Os belgas são

muito alegres e hospitaleiros. Uma das características deles que percebemos durante esta viagem foi a pontualidade”, afi rma.

Sueli (E), com Marisa e o casal de belgas Francine e Frans

Elaine

Page 11: Prêmios - Jornal Metas

Especial Jornal MetasGaspar, 17 de Dezembro de 2011

www.jornalmetas.com.br

Gastronomia sofreu infl uência francesa e alemãPara os amantes da boa

comida, a Bélgica é um verdadeiro paraíso. A gas-tronomia do país sofreu infl uência das cozinhas ale-mãs e francesas e os pratos são preparados com muitos temperos. Da proximidade com a França, veio o refi na-mento dos pratos e o gosto pela culinária. Da Alema-nha, a fartura nas porções. O prato mais apreciado na Bélgica é o “mexilhões com batata frita”. Aliás, no país, as batatas fritas podem ser saboreadas em quiosques ou adquiridas com vendedo-res de rua. Existem mais de quatro mil destes quiosques e a batata pode ser apreciada com 50 diferentes molhos de acompanhamento. Já os mexilhões são servidos tra-dicionalmente em um pote

Pão de “Berga”

IngredientesSoro da manteigasal à gostoFarinha de mandioca

Modo de preparo: Junte to-dos os ingredientes até formar um pirão. Frite a massa, dos dois lados, em um frigideira como se fosse uma panqueca. O pão pode ser servido com nata.

Expobelga resgata as tradiçõesBuscar uma identifi -

cação com os coloni-zadores e trazer para Ilhota as principais tradições da Bélgica.

Foram estes os principais motivos que impulsionaram e incentiva-ram a realização da 1ª Expobelga em Ilhota. A festa, promovida pela

primeira vez em setembro de 2009, foi um acontecimento importante para fazer com que os próprios ilhotenses se interessassem e aprendes-sem um pouco mais sobre o passado de seus antepas-sados. Nos dois primeiros anos - a festa foi nova-mente realizada em 2010 - os festejos foram orga-nizados pela Associação Benefi cente Cristã, com o apoio da prefeitura e também de descenden-tes belgas. “A realização da festa foi

um passo importante para resgatar a nossa história. Além

de estreitar laços entre o Brasil e a Bélgica, os festejos chamaram a atenção de diversos belgas, que

residem em outras cidades cata-rinenses e até mesmo em outros estados do Brasil”, ressalta Paulo Drum, que presidia a associação na época.

Segundo ele, a intenção foi fazer com que os ilhotenses pudessem descobrir as principais caracterís-ticas do País de onde vieram os primeiros colonizadores. “Além disso, nosso município havia aca-bado de vivenciar a pior tragédia

climática de sua história (32 pes-soas morreram atingidas por des-lizamentos de terra) e os festejos foram também uma forma de fazer com que nossa comunidade recu-perasse a autoestima”, explica.

A 1ª Expobelga contou com a im-portante presença do cônsul Geral da Bélgica no Brasil, Peter Claes, que fi cou na cidade por aproxima-damente quatro horas. O diploma-ta do país de origem dos primeiros imigrantes que chegaram a Ilhota pisou pela primeira vez na locali-dade mais antiga colonizada pelo seu povo e manifestou, na época, o desejo de estreitar os laços co-merciais e culturais de Ilhota com a Bélgica. Em entrevista ao Jornal Metas, o cônsul ressaltou a impor-tância em se resgatar a história da colonização. “A história de Ilho-ta era pouco conhecida, por isso, acho importante fazer esse resgate e manter viva essa história de liga-ção com a Bélgica aqui em Santa Catarina”, disse na oportunidade. Foi durante a realização da primei-ra festa também que a comunidade teve a oportunidade de participar de uma missa celebrada na Igreja Matriz São Pio X, que contou com a participação de Padre Emílio, da Bélgica, que veio especialmente de Curitiba para participar dos feste-jos. Este ano, por falta de recursos, a festa não foi realizada. Entretan-to, segundo Drum, o projeto para os festejos do ano que vem já está sendo feito. Em 2012, as comemo-rações passarão a ser organizadas pela prefeitura, através da Funda-ção Cultural. “A intenção é inves-

tir ainda mais na festa e oferecer ao público ainda mais atrações tí-picas, como gastronomia, música e apresentações culturais.

grande e fumegante, acompa-nhados de maionese caseira. Eles são servidos por toda a Bélgica e de várias formas diferentes. Uma das preparações mais comuns é um caldo de vegetais, com aipo, cebola e alho-poró com os mexi-lhões ainda em suas conchas.

Outra receita muito consumi-da no país são os waffl es, palavra que vem do neerlandês wafel, que signifi ca favo de mel. Geral-mente aromatizadas com canela e açúcar, são servidas com caldas doces. A Bélgica também reina quando o assunto é chocolate. O país produz 172 mil toneladas de chocolate por ano, nas mais de duas mil chocolaterias espalhadas pelo país. Muitos dos chocolates ainda são confeccionados artesa-nalmente. É na Bélgica, também, que encontramos uma infi nidade de marcas de cervejas - são quase mil espalhadas por todo país. Os

belgas levam sua cerveja muito a sério, e com boa razão. O país tem a reputação de especialista em cervejas desde a Idade Média.

Infelizmente, toda esta rica gastronomia não foi preservada pelos colonizadores em Ilhota. O resgate da culinária típica é recente: os pratos mais consumi-dos na Bélgica foram apresenta-dos para os moradores de Ilhota na 1ª Expoblega. De lá, apesar de não ter comprovação ofi cial, apenas uma receita foi passada de geração em geração: o Pão de Belga. Até hoje, ele é consumido pela família de Ana Francisco dos Santos, de 85 anos. Casada com Nelson José dos Santos, ela teve 12 fi lhos, descendentes de duas famílias belgas: Vilain e Vander Hecht. O casal é pai de Sueli (leia matéria na página 6). “Desde criança, sempre ouvi minha mãe dizer “pão de berga”, e, pesqui-

sando descobri que na verdade ela se referia ao Pão de Belga”, explica. Apesar de não conhecer muito de seu país de origem, Ana lembra que comia o pão desde a

sua infância. “Aprendi a fazer a receita com a minha vó”, afi rma. Segundo Ana, outras famílias em Ilhota também consomem o pão.

O waffl es é uma especialidade da Bélgica

Dona Ana ainda prepara o pão belga

Page 12: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Reportagem LivreReportagem Livre

Page 13: Prêmios - Jornal Metas

BissemanalAno XI Gaspar/SC, 7 de Dezembro de 2011 www.jornalmetas.com.brR$ 2,00

ESPORTES

André Soltau fala sobre o excesso de consumo

Entrevista exclusiva com o novo técnico

do Tupi

COMUNIDADE

Número 844

Progresso e perigo na mesma rota

A5BDIA-A-DIA

Evento para doação e homenagens

A19

GERAL A9 a A12

COMÉRCIO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS ZONI LTDA.CNPJ nº 03.332.531/0001-70

NIRE: 42 2 0270843 2

- FATO RELEVANTE -

COMÉRCIO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS ZONI LTDA., em res-peito aos seus clientes, fornecedores e ao público em geral, comunica que através da 18ª Alteração do Contrato Social, o sócio Vilmar da Costa tornou-se proprietário das quotas representativas da participação de 99,9999% no seu capital social.O fato ora noticiado vai ao encontro dos objetivos de implan-tar uma gestão profissional na empresa e o fortalecimento de sua estrutura de capitais. Neste sentido, está sendo cria-do um Conselho de Administração, composto dos seguintes profissionais:

Sergio Roberto Waldrich – PresidenteSergio da Costa – ConselheiroVilmar da Costa – Conselheiro

Comunica ainda que através da 19ª Alteração do Contrato Social, está promovendo a alteração de sua razão social, passando a denominar-se ZONI SUPERMERCADOS LTDA.

Gaspar (SC), 01 de dezembro de 2011.COMÉRCIO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS ZONI LTDA. Vilmar da Costa – Diretor Presidente

A rodovia mais perigosa do Vale também gera empregos e desenvolvimento

EVENTOS A15

Comunidade celebra a padroeira

Gaspar/SC, 7 de Dezembro de 2011 R$ 2,00

COMUNIDADEB

Evento para doação e homenagens

BR-470

FOTOS JORNAL METAS

Page 14: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 7 de Dezembro de 2011

A “rodovia da morte”, também é o meio de vida de milhares de pessoas

São 472,3 quilôme-tros entre Nave-gantes e Camaquã, no Rio Grande do Sul, cortando todo o

Vale do Itajaí e parte do Meio Oeste Catarinense. A BR-470 é uma das principais artérias rodoviárias do Estado e uma das mais importantes estra-das de escoamento da produ-ção agrícola e industrial ca-tarinense. Em contrapartida, a BR-470 é a mais perigosa do Vale do Itajaí, por isso é popularmente conhecida por “rodovia da morte”. Em alguns trechos, o fl uxo

diário de veículos chega a ser quatro vezes maior que a capacidade planejada da ro-dovia. Somado à imprudência dos motoristas, o resultado é o elevado número de aciden-tes e de vítimas fatais. Por trás dessa verdadeira carni-fi cina que se tornou o trân-sito da BR-470, escondem-se histórias de sucesso graças justamente ao surgimento da rodovia há mais de 40 anos. Determinados bairros de Gas-par e Blumenau, só para fi car-

Um pequeno barraco erguido com pedaços de madeira, montado as margens da rodovia, com a placa “Chapa a 100 metros”, revela que ali existe mais um profi ssio-nal que vive do tráfego na BR-470. Os chapas são trabalhadores autô-nomos, que ajudam os caminhoneiros a descar-regar a mercadoria. Eles também são bastante úteis na orientação do lo-cal de entrega nas áreas urbanas das cidades. Ao longo da BR-470 existem vários “pontos” de cha-pas. Um deles fi ca próxi-mo à entrada do Belchior Central, ao lado de um ferro velho. A pequena barraca é a instalação de Paulo Campos, 25 anos. Ele trocou um em-

prego na fábrica pelo trabalho de chapa na rodovia há um ano e não se arrepende. “Eu ganho bem mais”, revela. Para o chapa, quem trabalha honesto, com dedicação, consegue o que quer. “Eu

Ganha-pão à beira da BR-470

Rodovia de morte e progressomos nestes dois municípios, cresceram e desenvolveram--se nas margens da BR-470. A estrada é o ganha-pão de mi-lhares de profi ssionais: cami-nhoneiros, frentistas, chapas, donos de postos de combustí-veis, mecânicos, borracheiros e prostitutas que transitam durante o dia com desenvol-tura pelo acostamento. Na profi ssão há 20 anos, o

caminhoneiro Jorge Alves de Andrade, 52 anos, conseguiu, há seis anos, um emprego em que precisa percorrer a rodo-via de Rodeio a Navegantes. A mudança foi boa, diz Andra-de, que às 6 horas da manhã já está na rodovia, retornando no fi nal do dia. A BR-470 registrou de ja-

neiro a início de dezembro, só no trecho do Vale do Itajaí, 137 mortes. Enquanto o pro-cesso de duplicação esbarra na burocracia, os motoristas precisam trafegar pela rodo-via com atenção redobrada, principalmente por causa da imprudência, a causa mais comum dos acidentes.“Os mais irresponsáveis

são os caminhoneiros. Temos que admitir isso. Muitos tra-balham sobre uma pressão absurda, precisam cumprir horários e enfrentam con-gestionamentos e outros pro-blemas. Acabam cometendo imprudências para chegar no horário”, afi rma Andrade.Morador do bairro Lagoa,

cujo um dos acessos é jus-tamente pela BR-470, o ca-minhoneiro conta que já se envolveu em um acidente na rodovia, mas jura que a culpa foi do outro motorista. “Foi no Viaduto da Mafi sa, em Blumenau, um carro cortou a minha frente. Por sorte, os danos foram apenas mate-riais. A motorista estava com o cinto e a criança na cadei-rinha do banco de trás. Mas foi um susto, fi quei branco e bateu um desespero na hora”, relembra Andrade.A mesma sorte não teve o

seu sobrinho, Juliano Sabel. Também caminhoneiro, o jovem morreu em 2005, em um acidente no quilômetro 35, próximo ao Auto Posto Gaspar. “Ele tinha uma carre-ta, mas morreu dirigindo um carro da família. Ele saiu do posto e tentou cruzar a pista, mas bateu de frente com ou-tro carro”, conta o tio.A morte do sobrinho foi na

mesma época em que Andra-de se preparava para assumir no atual emprego. A tragédia o fez repensar se valia à pena seguir na profi ssão, porém a decisão foi por permane-cer na boleia da carreta. “Eu gosto de dirigir, gosto de es-tar na estrada, viajando e co-nhecendo pessoas. Trabalhei seis meses em malharia e não gostei. Num emprego normal a gente fi ca preso. Aqui é li-vre. Paro todos os dias nos postos e nas empresas, con-verso com gente diferente e faço amizades, é disso que eu gosto. Quando aposentar, aí sim vou parar. Hoje, não”.Para Andrade, a imprudên-

cia na BR-470 não é apenas dos caminhoneiros. Ele faz uma alerta para quem vai tra-fegar neste fi nal de ano pela rodovia: “Eu gostaria de ter uma câmera fotográfi ca para registrar as coisas absurdas que vejo. Tem motorista que ultrapassa pelo acostamento”.

tenho uma fi lha de dois me-ses para sustentar, mas está dando tudo certo em casa, eu e a esposa”, confi rma.Campos divide o ponto com

outro chapa. Eles chegam às 6h da manhã na rodovia e fi -cam até o fi m do dia. O chapa aguarda o serviço sentado em um banco de carro colocado na barraca, ouvindo música no celular e acompanhando o movimento na estrada. A te-levisão, colocada no espaço, não funciona. “Não tem ener-gia aqui, a televisão estragou. Colocamos ali para dar uma moral”, brinca Campos. Na maioria dos casos, o

caminhoneiro para o veícu-lo e o chapa entra na caro-na, guiando-o até a empresa aonde será entregue a carga. Campos decidiu aprimorar o serviço: colocou sua moto à disposição. “Para o caminho-neiro que quer ajuda só na hora de descarregar, a gente tem a moto. Vai rápido e dá mais segurança para eles, que não precisam colocar um es-tranho na boleia”, comenta.A concorrência entre os

chapas é grande, mas Cam-

pos garante que há ser-viço para todos. A briga entre eles é para manter os melhores clientes, ou seja, os caminhoneiros que pagam mais pelos serviços. E para isto, ele faz o seu marketing: “A moto é uma das apostas. Quero sempre, agilizar o serviço. E quando tu fazes algo bem feito, és reconhecido. Fazemos amizades com os cami-nhoneiros, um conta para o outro que tal chapa em tal rodovia trabalha bem e assim fazemos os nos-sos contatos. Tem uma transportadora de São Paulo que sempre me aciona quando vem para cá”. Trabalhar em uma ro-dovia perigosa não assus-ta Campos. Para ele, os acidentes têm origem na imprudência e na falta de atenção dos motoristas. “Muitas vezes, são peque-nos detalhes. Uma distra-ída, a pessoa está meio sonolenta de manhã. Isso acaba gerando tragédias maiores”, comenta.

Andrade perdeu um sobrinho em acidente de trânsito na BR-470

Faça chuva ou sol, Campos está à beira da rodovia para oferecer seus serviços de chapa

FOTOS JORNAL METAS

Page 15: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 7 de Dezembro de 2011

Em abril deste ano, um jo-vem casal planejava o dia do casamento em Gaspar. Tia-go Rubens Hostin, 19 anos, e Cintia Regina de Souza, também 19, já estavam nos preparativos para a festa. Os sonhos do casal foram inter-rompidos no feriado da pás-coa na BR-470, próximo da casa de Hostin. Um acidente envolvendo dois carros atin-giu a moto Honda onde eles estavam. Tiago foi levado ao hos-

pital e se recuperou. Cintia morreu no local. Sete meses se passaram e a tragédia não

Prostesto exige mais segurança

Foram 20 anos como proprietário de um fer-ro velho a 100 metros da BR-470 e do trevo de acesso a Gaspar. Ro-mildo Marafon foi o or-ganizador do protesto que fechou a rodovia em

Vidas interrompidas

setembro, pedindo por mais segurança. “Demorei demais para to-

mar essa atitude. Eu sempre falava que ia fazer isso, mas acabava me acomodando. Depois daquela tragédia com a van de Nova Erechim,

vi que não poderia mais fi -car quieto. Algo precisava ser feito. A população não aceitava mais tanta insegu-rança”, lembra.O protesto fechou a rodo-

via por mais de uma hora e depois do evento, intensifi -

caram-se as negociações para que lombadas ele-trônicas fossem instala-das na rodovia, além de uma maior fi scalização da Polícia Rodoviária Federal.“Graças a Deus não

teve mais nenhum aci-dente no trevo de acesso a Gaspar depois da tra-gédia com os alunos. Acho que as orações

do padre e do pastor que estiveram no dia do protesto deram resulta-do. É uma coisa divina, porque a rodovia con-tinua insegura. Vamos rezar para que continue assim. O que nós que-remos é lutar pela vida, impedir mais mortes, mais tristezas nesta ro-dovia”, fi naliza.

sai da cabeça da família Hos-tin. Ele teve ferimentos na perna e após tratamento, já consegue andar normalmen-te. Mas o trauma psicológico permanece. Solange, mãe de Tiago, ainda está bastante abalada com a tragédia. Ela chora toda vez que se lembra do acidente, enquanto busca forças para motivar o fi lho a continuar a vida. “É horrível. Lembramos disso quase to-dos os dias. A mãe da Cintia está em uma situação pior. Ela perdeu uma fi lha de 19 anos que ia casar. Ela não consegue falar no assunto,

não tem como”, comenta. Tiago, que permaneceu cala-do durante toda a entrevista, está na fase fi nal do trata-mento, aos poucos começa a praticar atividades físicas. Perguntado sobre a tragédia de abril, apenas acenou com a cabeça que não queria fa-lar.Sonho No começo deste ano, os

irmãos Jonas e Nilson Bento cumpriam uma rotina diária do bairro Lagoa, onde mora-vam até o Gasparinho, local trabalho. Nilson, 31 anos, já era experiente na função

e levou o irmão de 19 para trabalhar na estamparia. O caminho de casa até a em-presa era feito de moto. Jo-nas redobrava os esforços no trabalho para juntar dinheiro e comprar um carro, que lhe daria mais segurança. Para fugir dos riscos na BR-470, os dois normalmente usavam outro trajeto, pela Rua Pedro Simon, paralela à BR-470. No dia 9 de maio, eles de-

cidiram passar pelo trecho da BR-470 que tanto evitavam. Acabaram atingidos por um veículo que fazia uma ultra-passagem forçada em frente

à Sociedade Ferroviário, no quilômetro 35. Nilson mor-reu no local. Jonas chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.Um dos irmãos, Elton Ben-

to, popularmente conhecido como Juquinha, foi avisado por telefone do acidente. Morador do Gaspar Grande, ele foi na hora saber o que havia acontecido, mas nada pode fazer. “Eu estava orga-nizando a festa de aniversá-rio do Jonas. Ele tinha pedido para usar um rancho que eu tenho. Já estávamos vendo quem seriam os convidados,

ia até conseguir uma banda. A festa seria no dia 20”, re-corda Juquinha. Jonas e Nilson tinham mais

nove irmãos. Eles moravam com os pais e outros dois irmãos mais novos. Os mais velhos tiveram a missão de ajudar os pais, que até hoje não superaram a dor da per-da. O pai, Jadir, participou do protesto por mais segurança na BR-470 realizado em se-tembro, levando uma faixa com a foto dos fi lhos e uma frase de protesto.“É revoltante saber que al-

gumas pendências ainda não conseguimos resolver. Que-ríamos que as economias do Jonas para comprar o carro fossem passadas para o meu pai. Até agora não deu. Pedi-ram até um exame de san-gue, para comprovar se eles não tinham bebido. Pô, sete meses depois?”, desabafa Ju-quinha. A revolta do irmão está relacionada também ao que aconteceu com o moto-rista causador do acidente. “Ele foi fl agrado alcoolizado. Havido bebido duas latas de cerveja, andou na contramão. Pagou R$ 950,00 de fi ança e foi liberado uma hora e meia depois. Isso é justo?”, desabafa. Sete meses após a morte dos irmãos, a vida de Juquinha mudou e será assim para sempre. “A gente começa a repensar a vida e com certeza, a valorizar mais ela. Também damos mais va-lor à família, aos amigos. Isso conta muito. Do que adianta o dinheiro, do que adianta trabalhar como um louco se não for para estar do lado das pessoas que a gente gos-ta?”, conclui Juquinha,

Vidas interrompidas

Rodovia foi fechada, por uma hora, num apelo por mais segurança no mês de setembro

Indignação levou familiares das vítimas ao protesto

Nilson e Jonas estão na lista das 137 pessoas que morreram em acidentes na BR-470 até o início de dezembro de 2011

FOTOS JORNAL METAS

Page 16: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 7 de Dezembro de 2011

Com a missão de salvar

Sábado, 27 de agosto de 2011. Um veículo cruza a BR-470 no trevo de acesso a Gaspar em alta velocida-de. Uma van de Nova Ere-chim tenta desviar e bate de frente com um caminhão. Quatro pessoas morreram, entre elas três crianças. Uma quinta vítima morreu semanas depois no hospital.O sargento do Corpo de

Bombeiros de Gaspar, José Carlos da Silva, estava de plantão neste dia e, mes-mo acostumado a atender pessoas acidentadas dia-riamente, não conseguiu conter a emoção. Para ele, este foi um dos momentos mais tristes entre tantos que presenciou em seus 24 anos de profi ssão. Ainda no local do acidente, José Car-los pedia por mais seguran-ça no trevo. “Quantos ainda precisarão morrer aqui?”, questionou. Na opinião do sargento, a rodovia só é perigosa porque há muita imprudência. “A sinalização e iluminação também são

Trabalho próximo do perigo

Em maio deste ano, no bairro Margem Es-querda, em Gaspar. Era 17h30min e o frentis-ta Pedro Campos, 45 anos, já estava em casa após um dia de traba-lho quando ouviu um barulho vindo da BR-470, Km 39, que fica a poucos metros de onde mora. Ele perguntou para um vizinho se sabia o que havia acontecido, que respondeu tratar-se do estouro do pneu de uma carreta.Campos foi até a ro-

dovia conferir e viu que era mais que um simples furo de pneu. Um aci-dente envolvendo um Fiat Uno, que tentou ul-trapassar um caminhão. “O motorista morreu na hora, foi um acidente muito grave”, recorda Pedro.Acidentes fazem par-

te da rotina de Campos. Além de morar perto da BR-470, ele agora tra-balha na rodovia, como frentista em um posto no Margem Esquerda. Para ir ao trabalho, ele percorre todos os dias a pé, as margens da rodo-via. “Tem que ter muito cuidado mesmo, porque se não vem um carro em alta velocidade e te atro-pela”, afirma.Campos apoia e acre-

dita que a instalação das lombadas eletrônicas (uma perto de sua casa), irá ajudar a diminuir os acidentes na BR-470. A opinião é compartilha-da por Gilberti Nicoletti, colega de profissão que também já testemunhou diversos acidentes gra-ves na rodovia.Nicoletti mora no

bairro Gasparinho, mas vem para o trabalho de ônibus, pois, segun-do ele, é mais seguro. Quando precisa vir de carro, utiliza as ruas de

precárias. A iluminação, por exemplo, não existe sequer em trevos de acesso. Outro fator é a bebida e volante, uma combinação que já se provou não combina”, ob-serva José Carlos. Tragédias também fazem

parte do cotidiano do sar-gento Valério Pereira. Com

26 anos de carreira, ele pas-sou os últimos 15 no posto da área Norte de Blumenau, localizado a 50 metros da BR-470. É deste ponto que sai o socorro dos Bombei-ros em acidentes na rodovia no trecho de Blumenau e, às vezes, de Gaspar e Indaial.“O maior problema ainda

é a imprudência, principal-mente a velocidade. Todo mundo está sempre com pressa. Os cinco minutos que se perde ao sair de casa tenta-se compensar na es-trada”, comenta Pereira.O sargento lembra tam-

bém, de outro problema de atrapalha o atendimento dos profi ssionais: a quanti-dade de pessoas em volta de um acidente. “Os curio-sos atrapalham muito nas ocorrências. Todo mundo quer ver, todo mundo quer ajudar, mas só atrapalham. Essas pessoas colocam a própria vida em risco, ao fi carem parado, no meio da pista”, acrescenta.Os bombeiros que traba-

lham na BR-470 também aguardam pelo funciona-mento das lombadas ele-trônicas e do processo de duplicação. Valério alerta que as obras ajudarão na segurança, mas não inibirão todos os acidentes. “O fl uxo de veículos cresce a cada dia nesta rodovia. Mesmo com a duplicação, as im-prudências e o excesso de velocidade vão permanecer. Então, não adianta apenas fazer mais pistas, é preciso trabalhar a educação dos motoristas e também dos outros passageiros dos veí-culos”, afi rma. Um exemplo de cuidados com outros passageiros é com as crian-ças. Pai de uma menina de quatro anos, Pereira acre-dita que muitos pais não prestam atenção nos fi lhos pequenos durante uma via-gem, que pode causas pro-blemas depois. “Eu sou pai e já vi a minha fi lha tentan-do tirar. Por mais que tu fa-les, ensine, sempre haverá o risco”.

paralelepípedo do Mar-gem Esquerda e evita, ao máximo, trafegar na rodovia. Ele reclama da falta de respeito dos motoristas, para ele a maior causa de aciden-tes. “Uma vez, em um acidente com morte no trevo de acesso ao Sertão Verde, alguns frentistas ajudaram no atendimento, tentando isolar o local onde ocor-reu a batida. Mas nin-guém respeita, os mo-toristas passam em alta velocidade e ignoram o que ocorre na pista”, re-clama.Ele conta ainda, que

frentistas e outros tra-balhadores as margens da rodovia costumam auxiliar em caso de aci-dentes: “Eu não gosto muito disso. Teve um acidente com um moto-ciclista em que o pneu da moto furou e ele se perdeu na pista. O pes-soal do posto foi ajudar, mas fazer isso também é arriscado. Não enten-do como eles ainda não duplicaram a BR-470. Se os governantes tives-sem responsabilidade, resolveriam tudo em uns três anos”, dispara o frentista.

LombadasOutro acidente que

marcou Nicoletti foi no trevo de acesso a Gas-par, onde quatro pes-soas morreram em uma van, sendo três crianças. “O pai de uma destas

crianças esteve aqui no final de novembro, para saber o que havia sido feito para dar mais segurança no trevo. Eu não conversei dire-tamente com ele, mas colegas aqui do posto falaram das lombadas eletrônicas que estão sendo instaladas”, reve-la Nicoletti.

Com a missão de salvarCom a missão de salvar

Sargento Pereira: duplicação não irá inibir todos os acidentes de trânsito na rodovia

Cruzes foram � ncadas no acostamento da rodovia em protesto as mortes ocorridas no trevo de Gaspar

O frentista Campos já presenciou vários acidentes na rodovia

FOTOS JORNAL METAS

Page 17: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 7 de Dezembro de 2011

Comunidade cobra duplicação já

Os acidentes no trevo de acesso a Gaspar na BR-470 já viraram rotina para os tra-balhadores do Posto Pionei-ros, que fi ca junto ao trevo. O local é o que possui maior frequência de acidentes no trecho do Médio Vale.O gerente do posto, Sérgio

Niques, vem todo dia de Ita-jaí, passando pela rodovia. Ele conta que já foi chama-do de louco por fazer este trajeto diariamente e que já viu tudo que é tipo de impru-dência na pista.“No começo, a cada aci-

dente, o pessoal aqui saia correndo para ver o que havia acontecido. Hoje, já virou uma triste rotina. Não nos surpreendemos mais. Motoristas em alta velocida-de, fazendo ultrapassagens em curvas, pelo acostamen-to, ninguém respeita mais nada”, comenta.Para Niques, a instalação

de lombadas eletrônicas vai amenizar o problema, mas o Dnit deveria ter aceito a proposta de uma rotatória no trevo. “Só assim para o pessoal realmente diminuir a velocidade. Nós ainda es-peramos a duplicação, mas

Agricultor diz que antes era mais tranquilo

O processo de duplica-ção da BR-470 já mobi-lizou diversas entidades, reuniu abaixo-assinados e foi motivo de protestos nas cidades cortadas pela rodovia. No entanto, a proposta não é unânime. O agricultor Hélio

Stanke, 56 anos, morador do Morro Grande, entre Gaspar e Ilhota, é um dos contrários ao projeto. Ele nasceu e sempre morou na região e viu o seu ter-

“Algo que nunca vai me sair da cabeça é uma tragédia em 2000”.

Zenilda Regina da Silva

“Não tem como um lugar ter progresso sem um acesso decente”.

Mário Werner

“Nós ainda esperamos a duplicação, mas já está virando uma utopia”.

Sérgio Niques

já está virando uma utopia, de tanto que atrasam”, afi r-ma. Uma das três lombadas instaladas na rodovia fi ca no Km 39, em frente a Serra-ria Werner. O proprietário do estabelecimento, Mário Werner, acredita que a me-dida vai ajudar a diminuir o número de acidentes na região. Porém, alerta para a criação de outro problema: os congestionamentos na via.“Quanto a parte dos aci-

dentes, as lombadas são ne-cessárias e vão ajudar. Ago-ra, podem ter certeza que elas irão segurar o trânsito. A velocidade caindo vai ge-rar fi las enormes”, declara.Werner está há 21 anos

com o negócio as margens do rodovia. Ele conta que instalou a empresa no local de olho no deslocamento dos clientes. O empresário também cobra a duplicação da rodovia e não entende por que o assunto ainda não foi resolvido.“Quando nós falamos de

desenvolvimento, do cres-cimento de uma região, automaticamente falamos nos acessos. Não tem como

um lugar ter progresso sem um acesso decente, isso não existe”, afi rma.

ComércioA empresária Zenilda Re-

gina da Silva conhece bem a BR-470. Ela nasceu e cres-ceu em uma casa nas mar-gens da rodovia, no bairro Margem Esquerda. Após o casamento, ela trocou a re-gião pelo Gasparinho, mas voltou a morar nos anos 1990. Hoje, é dono do res-taurante e lanchonete La Terra. Zenilda presenciou vários

acidentes e casos de impru-dência ao volante. Fatos que fazem ela redobrar a aten-ção ao trafegar na rodovia. “Algo que nunca vai me sair da cabeça é uma tragédia ocorrida em 2000. Era 24 de dezembro, às 4h30min quando ouvimos o barulho. Um motociclista havia se acidentado e depois uma Saveiro passou por cima. O condutor da moto morreu horas antes de estar com a família, celebrando o natal”, relembra. Pelos problemas de segurança, Zenilda tam-bém defende a duplicação.

reno ser cortado pela BR-470 no anos 90, quando foram feitas as obras de extensão.“Até então, a rodovia ia só

até Gaspar. Aqui nós tínha-mos o acesso ao Morro do Baú por uma estrada de bar-ro. Era uma tranquilidade só. Eu saía de casa de manhã e deixava tudo aberto. Depois que fi zeram a rodovia, eu já fui assaltado quatro vezes”, desabafa.Stanke conta que a inde-

nização feita nos anos 90 foi

muito abaixo do valor de mercado, gerando perdas para a família. Plantador de arroz, ele tem sua pro-dução nos dois lados da rodovia e precisa cruzar a pista com o maquiná-rio. “Eu não posso colocar um trator na pista. Então, para chegar do outro lado, eu vou precisar an-dar quilômetros até um retorno. Eles fi zeram o projeto e não ouviram a gente”, dispara.

Comunidade cobra duplicação jáComunidade cobra duplicação jáFOTOS JORNAL METAS

O agricultor Hélio diz que o projeto de duplicação foi feito sem ouvir os moradores

Page 18: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Reportagem PautadaReportagem Pautada

Page 19: Prêmios - Jornal Metas

BissemanalAno XI Gaspar/SC, 14 de Dezembro de 2011 www.jornalmetas.com.brR$ 2,00

ESPORTES

Caminhão do Lions mantém a tradição natalina

Santos tem o primeiro

desafio

ESPECIAL

Número 846

Paca assume pré-candidatura

A14 e 15A6GERAL

Católicos do Belchior celebram 111 anos

A19

POLÍTICA A3Líder do PMDB reaparece na cena política em grande estilo

GERAL A6

Dom José Negri veio para a inauguração da iluminação da Matriz São Pedro Apóstolo

Uma volta às origens para conhecer o legado dos italianos em Gaspar

GERAL A9 a A12

GERAL

DIA-A-DIA

GERAL

Briga em bar termina com homem esfaqueado em Ilhota

Terra do Sol completa dez anos de serviços prestados à comunidade

Motorista embriagado provoca acidente e termina na prisão

A7

B

A8

COMUNIDADEMoradores reclamam de problemas de drenagem no Santa Terezinha

A5

www.jornalmetas.com.br

ESPORTES

Santos tem o primeiro

desafio

A19

Gaspar/SC, 14 de Dezembro de 2011

BA

RB

AR

A B

ER

NA

RD

O

JORNAL METAS

Ano XI Número 846

Page 20: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC -14 de Dezembro de 2011

Miséria, fome e de-semprego. Estes fantasmas atormen-tavam as vidas das famílias de imigrantes

italianos em meados dos anos 1870. A Itália sofria as consequências devastadoras de seguidas guerras de unifi cação, economia infl acionada e desabastecimento. Sem conseguir enxergar solução, muitas famílias decidiram por um caminho radical: atravessar o Atlântico e recome-çar suas vidas em uma terra pouco conhecida, o Brasil. Na época, a abundância de terras e a escassez de mão de obra atraíam os europeus para o “novo” mundo. Por meio de um contrato feito entre o governo imperial e Joaquim Caetano Pinto foi possível que 100 mil imigrantes viessem para o Brasil. Além da força do seu trabalho, trouxeram uma forte infl uência cultural - gastronomia, artes, arquitetura, idioma, música e etc. - até hoje enraizada na população brasileira.Gaspar recebeu três grupos de italianos. O primeiro veio do Sul da Itália, e os outros

dois do Norte, sendo que o terceiro de uma região, na época, dominada pelo Império Austro--Húngaro, conhecidos por tiroleses ou trentinos. Os imigrantes que compraram terras nas áreas dos Vales do Itajaí e Itajaí-Mirim eram encaminhados a um barracão antes de seguir para a cidade de destino. Esse procedimento acabou por denominar um dos bairros de Gaspar de forte infl uência italiana, o Barracão. Outros bairros, como Gasparinho e o Alto Gasparinho, sendo o último caracterizado quase essencial-mente por tiroleses, também foram ocupados por imigrantes italianos. Muitos imigrantes, depois de tentarem a sorte em outras cidades da região, mudaram-se para Gaspar. É o caso da família Mondini, pioneira no cultivo de arroz irrigado em quadras no município, além dos sobrenomes Moser, Moretto, Sevegnani, Venturi, Ferretti e Poff o.Os primeiros anos foram de muita difi culdade e trabalho. “Eles chegaram com a expectativa de que escorria o leite e o

mel. Pegaram, no entanto, terras ruins, extremamente ácidas, morros altos e baixa fertilidade. No começo sobreviveram mais por teimosia do que pelo o que a terra lhes devolvia. Enfrentar estas difi culdades apegados às heranças culturais fez com que os imigrantes italianos vencessem todas as difi culdades. Não só a colônia do Gasparinho, mas também do Bateias e Barracão”, acredita Lovídio Bertoldi, relações públicas do Circolo Trentino di Gasparin, estudioso da história italiana em Gaspar e descendente de trentinos. Para os descendentes fi cou a certeza de que nada existiria não fosse o trabalho sustentado em três pilares: religiosidade, trabalho e amor pela família. Por isso, em um rancho na Rua da Santinha, no Gasparinho, um agradecimento àqueles que ergueram os primeiros alicerces: “antepassados, muito obrigado”. E o legado continua muito vivo na memória dos habitantes mais anti-

gos. “Era muita difi culdade. Por exemplo, minha mãe, a cada ano tinha um bebê. Ganhava o bebê ao meio-dia e à noite já estava de pé para cuidar da família e dos afazeres da casa. Quando eu era pequena, cuida-va dos irmãos, fazia a comida e frequentava a escola quando dava; depois de alguns anos comecei a ir também para a roça”, conta Matilde Santina Bertoldi, de 73 anos. “Tenho até dó de morrer de tão bom que é viver”, com-pleta o sempre bem humorado marido, Hercílio Marcelino Bertoldi, 84 anos.

(informações retiradas dos livros “Memória Gasparense - imigração italiana em Gaspar” e “Simplesmente Gaspar” de Leda Maria Baptista).

Gaspar/SC -14 de Dezembro de 2011

Page 21: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 14 de Dezembro de 2011

Famílias preservam a tradição nos hábitos, costumes e idioma

Ao ver um visitante apro-ximar-se da casa, Érica Ni-coletti o saúda no primei-ro idioma que aprendeu. Quando a família reúne-se, os “nonos” e seus filhos falam somente no idioma da pátria dos seus ante-passados. Uma das noras, Rose Nicoletti, aprendeu o dialeto trentino apenas ou-vindo as conversas dos de-mais familiares. Há muitas diferenças entre o italiano clássico e o trentino fala-

Festa Italiana resgata a cultura

da pátria dos seus ante-passados. Uma das noras, Rose Nicoletti, aprendeu o dialeto trentino apenas ou-vindo as conversas dos de-mais familiares. Há muitas diferenças entre o italiano clássico e o trentino fala-

Festa Italiana resgata a cultura

do pelos imigrantes vin-dos da região de Trento e preservado ainda hoje em várias famílias que moram no bairro Alto Gasparinho. Os trentinos também pre-servam o idioma nos can-tos entoados pelo grupo folclórico que faz parte do Circo-lo Trentino di Gasparin. Se não entendido, o idioma pode ser admirado

em uma série de apresen-tações feitas pela região. É por “brasileiro” que as famílias da localidade referem-se ao idioma fa-lado no Brasil, e que foi a segunda língua aprendida pelos imigrantes.

Bárbara Bernar-do, neta de San-tina e Hercílio Bertoldi, admi-te que, mesmo conhecendo o idioma falado

na maior parte da Itália, não consegue compreen-der o que a nona, nono e tios falam quando empre-gam o trentino. “Em casa, quando estamos só nos dois ou quando estamos com os filhos, só falamos o trentino. Só quando vem alguém que não entende, falamos o brasileiro. É im-portante manter o costu-me, fomos criados assim”, revela Santina.Lovídio Bertoldi, rela-

Um dos eventos mais aguardados pela comuni-dade trentina de Gaspar é a Festa Italiana. Or-ganizada pelo Circolo Trentino di Gasparin, a festa reúne diversas atrações, como o grupo

folclórico do Circolo, além da famosa e farta culinária

regada a muito vinho. A fes-ta foi criada para resgatar e manter vivos os costumes italianos. Lovídio Bertoldi, relações

públicas do Circolo, reforça essa proposta de resgate da herança cultural trazida pe-los imigrantes. Segundo ele, tudo se assenta sobre o tripé amor (à família, à Deus e às suas coisas), a religiosidade e o trabalho. “Conseguimos mostrar a importância de um povo ter a sua história. Nes-te caso, tivemos uma grande parceria da historiadora Leda Batista”, revela Lovídio. A Festa Italiana incorpo-

rou-se de tal forma à cultura dos trentinos que é quase uma obrigação fazer uma

boa festa todos os anos. A cada evento escolhe-se um tema, que pode ser a própria história, as brincadeiras das crianças, o canto (que já era feito pelo Grupo Folclórico Gasparetto) e a gastronomia. “Por duas festas, trouxemos dona Paula Venturi, de Ro-deio, para nos auxiliar no res-gate dos pratos típicos. Hoje, o cardápio está mais requin-tado, com massas e carnes específi cas e algumas saladas que ela incrementou”, conta Lovídio. Entre os vários pratos trazi-

dos da Itália está o tortéi, uma espécie de massa recheada, e que até ganhou um evento próprio, no CDC Aliança, no bairro Barracão, também de forte colonização italiana.

PolentaMacarrão, lasanha e tor-

téi são saborosos pratos da culinária italiana. Porém, não existe nenhum que se identi-fi que mais com o povo que a polenta. Aliás, esse foi o prato que mais alimentou os imi-

grantes. Por isso, é presen-ça constante na mesa das famílias e restaurantes da região. “Polenta tinha pelo menos uma vez por dia. Ou com leite, queijo ou ovo. Não se passava fome, só miséria de dinheiro”, re-corda Santina Bertoldi. A receita que passa de mãe para fi lha continua mui-to presente no cotidiano dela, que faz de três a qua-tro polentas, por semana, para o restaurante dos fi -lhos. “Antes, a polenta era comida de pobre, hoje é prato de luxo”, diverte-se a simpática senhora.Pelo menos uma vez na

semana Érica Nicoletti faz a polenta no fogão à lenha. “Geralmente faço quando os fi lhos estão aqui. Dá também para fazer no fo-gão a gás, mas não fi ca tão gostosa”, garante. Para a nona, a verdadei-

ra polenta precisa ser cor-tada com uma linha, como fazia sua mãe e sua nona italianas.

ções públicas do Circolo Trentino di Gasparin, ex-plica que a entidade fez um trabalho interessante com os filhos de descen-dentes de trentinos em que foi oferecido curso gratuito de italiano por um período de mais de quatro anos. As crianças aprenderam

o italiano clássico, não o trentino trazido pelos primeiros imigrantes. “O trentino é falado até a mi-

nha geração, já os nossos filhos e sobrinhos não fa-lam mais. O italiano clás-sico é o que eles usarão caso resolvam viajar para a Itália”, justifica Bertoldi. A escola Ferandino Dag-

noni - que leva o nome de um importante descenden-te de italianos nascido em Gaspar - manteve até pou-co tempo aulas de italiano. Porém, a falta de professo-res acabou encerrando o projeto.

Os italianos mantêm uma forte identididade cultural que passa de geração em geração

Nona Santina Bertoldi ajuda a preparar a polenta da festa

ARQUIVO JORNAL METAS

Page 22: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 14 de Dezembro de 2011

Embora a região do Gasparinho, por nature-za, seja muito bonita e atraia turistas de todo o mundo, ainda não há integração entre os lo-cais. A proposta do Ro-teiro Vila D’Itália, que existe no papel, mas de fato não está estrutu-rado, é integrar estes locais, proporcionando experiências culturais e contato com hábitos e costumes locais.

“Temos o Fazzenda Park Hotel, hoje o me-lhor do seu segmento no Brasil, e a Truticultura Bertoldi, que atraem tu-ristas o ano todo, mas existe a necessidade de integrar os locais turísti-cos para que possam ser complementares e ainda ampliarmos o trabalho para as áreas da música e teatro”, comenta Iza-bel Soppa, diretora de Turismo da prefeitura. Além destes dois atra-tivos, Izabel cita o en-genho do nono, embora ainda não totalmente em condições de rece-ber o turista.

O objetivo principal do Vila D´Itália é agregar valor ao patrimônio cul-tural italiano que existe na região por meio da estruturação turística baseada em modelos trentinos. O projeto foi enviado para apreciação da Associazone Trentini Nel Mondo e cadastra-do para pleitear verbas junto ao Ministério do Turismo. “O maior patri-mônio não é o que se vê de fora e sim o conhe-cimento, costumes e a cultura que vamos tra-zer de dentro das casas para o turista”, observa Izabel.

TruticulturaO restaurante aberto pe-

los irmãos Dionísio e Ni-valdo Bertoldi é conhecido pelos deliciosos pratos à base de um peixe de águas geladas: a truta. Até 2001, o negócio dos Bertoldi era uma serraria, mantida em parceria com a família Rampelotti. Ao perceberem que o empreendimento não era mais tão viável, eles in-vestiram em outra área. Na verdade, o empreendimen-to começou em 1996, com criação e pesque-pague. A evolução para restaurante e os diversos pratos servidos hoje foi consequência da qualidade do trabalho. Em 2001, Dionísio foi a Trento conhecer a criação de tru-tas de Olívio Armanini, um dos maiores do país. Ele passou dicas e adaptações que seriam necessárias para a Truticultura Bertoldi tornar-se um local atrativo. Em parceria com primos de Botuverá, hoje a truticul-

tura produz aproxima-damente 60 mil peixes por ano, sendo 50 mil criados no outro municí-pio. “Antes faltava peixe, principalmente nos me-ses de fevereiro, março e abril, quando o mo-vimento aumenta. Hoje não falta mais”, garante Dionísio. Os clientes do restaurante vêm de to-dos os municípios da região e Litoral, mas al-gum vem de Curitiba es-pecialmente para apre-ciar os pratos à base de truta. Vera e Terezinha, esposas de Dionísio e Nivaldo, respectivamen-te, são responsáveis por preparar todo o cardá-pio. O rodízio inclui filé de truta com alcaparras, vinho, amêndoas, alho e óleo e agridoce de aba-caxi, além da truta frita e defumada. A Truticultu-ra Bertoldi também está na internet (www.truti-culturabertoldi.com.br).

Raízes fortes na música

Em 1996, Lovídio Bertoldi foi à região de Trento visitar a terra de onde vieram seus bi-savôs. Na Associazone Trentini Nel Mondo, ele foi incentivado a procu-rar o Circolo Trentino de Rodeio, responsável por organizar as de-mais entidades na re-gião, para que o grupo de Gaspar passasse a ser um Circolo - até en-tão era o Grupo Folcló-rico Gasparetto.

Foi a paixão pela Itá-lia e heranças deixadas pelos imigrantes que o Circolo se formou e res-gatou a história e cos-tumes dos imigrantes. Dentre um dos princi-pais resgates está a mú-sica italiana. “Fizemos uma opção. Poderíamos

ter um coral, cantando com vozes definidas, ou ter um grupo para cantar como faziam nossos nonos. Op-tamos por um grupo com homens, mulheres e todo o tipo de vozes. Não impor-ta a forma, mas o resgate deste canto em memória de nossos antepassados”, afir-ma Lovídio.

Euclides Rampelotti con-ta que, em 1992, durante a inauguração da Associa-ção Esportiva Recreativa Gasparinho, foi feita a pri-meira “cantoria” e então surgiu a ideia de organizar o grupo. “É bastante grati-ficante participar, manter viva a raiz que veio da Itá-lia”. Para Euclides, a música que mais chama a atenção dos trentinos é a canção do imigrante, que fala sobre o momento em que partiram

de seu país de origem, a viagem e o progresso. “É algo que está dentro da gente. Um povo sem história é um povo sem memória. Manter as tra-dições é manter a histó-ria viva”, diz.

A casa de Santina e Hercílio Bertoldi, além de ser local de reunião dos filhos, é também onde se guardam rou-pas e utensílios utiliza-dos pelos Circolo. Mes-mo já tendo passado dos 70 anos, o casal faz questão de estar presen-te nas apresentações, sejam elas na região ou, como já aconteceu uma vez, na Argentina. “Can-tamos por alegria. Não é um cantar de músico mesmo, é para diverti-mento”, conta Hercílio.

Uma descendente distribuindo conhecimento

Entre os tantos descen-dentes de italianos que fizeram a história de Gas-par, a figura de Ana Lira se destaca. Ela não era natural da cidade, porém teve grande participação na educação de crianças, principalmente no bair-ro Gasparinho. Sandra Buchmann, diretora da escola que leva o nome da educadora, vê Ana Lira como uma pessoa batalhadora, que dedicou sua vida à educação, um verdadeiro marco na vida da comunidade. Ela não casou, não teve filhos e viveu grande parte de sua vida na sacristia da igreja da comunidade Santo An-tônio, onde ela também dava catequese, limpava, organizava as missas e as liturgias. “Ana, conheci-da na comunidade como Aneta, destacava-se pela sua educação, sua for-

mação. Se alguém queria um conselho, pedia para ela. Era referência na localidade por-que tinha estudo a mais, o que era bem visto na época”, conta Sandra.

Aneta ensinava em portu-guês, mas também falava ita-liano, o que a ajudava a lecio-nar entre os filhos e netos de imigrantes. O forte sotaque que marcava as palavras que pronunciava mostrava a sua origem. De acordo com a bio-

grafia cedida pela diretora Sandra, Ana era uma pes-soa boa e calma, mas que às vezes passava a régua nas canelas dos alunos mais atrevidos, como era costume.

Ela ficou muitos anos internada em um hospi-tal e morreu em 1959, porém teve tempo de ver um de seus sonhos tornar-se realidade. Como devota de Nossa Senhora, ela idealizou uma gruta em local próximo à capela Santo Antônio, onde em uma noite ocorreu uma procissão. Pela distância da capela e condições do terreno, Frei Pedro, na época, sugeriu que a gru-ta fosse erguida na entra-da do cemitério. No dia da inauguração, Aneta veio do hospital e, sobre uma cadeira de rodas presen-ciou a realização de seu sonho.

O engenho do Nono será uma das atrações do futuro Roteiro Vila D´Itália

Dionísio cuida dos peixes criados em águas geladas

BarBara Bernardo

Jornal Metas

arquivo Jornal Metas

O grupo de cantoria completa 20 anos em 2012

Page 23: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 14 de Dezembro de 2011

As mãos entrelaçadas em um rosário deixam clara uma das principais características dos italia-nos: a religiosidade. Os trentinos trouxeram para Gaspar essa vocação. Santina Bertoldi lembra que, quando os fi lhos eram pequenos, depois de passar o dia na roça, iam para a casa, lavavam--se, rezavam o terço e só então dormiam. Quando vinha trovoada, o costu-me era rezar de joelhos e todos marcavam pre-sença sempre que havia missa na comunidade “A gente foi criado assim. A fé é muito importante, quando precisamos de alguma coisa, nos agar-ramos a Deus”, diz a se-nhora.E o tempo a tornou

ainda mais devota. A te-levisão fi ca sintonizada

no canal católico Rede Vida todos os dias. Na companhia de seu marido, Hercílio - ministro da Eucaris-tia há 36 a n o s - San-t i n a acom-panha o terço e a mis-sa trans-mitidos pela emissora.Lovídio Bertoldi, fi lho do

casal, acredita que a fi delida-de à religião foi fundamental não apenas para a adapta-ção dos imigrantes ao Brasil, mas também para o cotidia-no e conforto nos momentos mais difíceis. Ele se recorda de ver sua nona sempre com um rosário na mão e de re-zar o terço todas as noites em casa. “Não só eu, meus

irmãos, meus primos, pessoas do Circolo, e muitos outros italianos acreditam em Deus des-ta forma: não como uma obrigatoriedade, algo imposto, mas com a con-vicção, com a crença de que esta é a maneira de enfrentar a vida de uma ótica melhor”.

A fé deixou marcas profundasA história em imagensIntegrante do Circolo

desde pequena, Bárbara Bernardo hoje estuda jornalismo e tenta regis-trar a história de seus antepassados através de trabalhos realizados na faculdade. Este ano, para a disciplina de Fotojor-nalismo, ela elaborou o livro “Terra dei nonni - a imigração na voz de quem vive como eles”. Ela explora os princi-

pais pontos que a fazem lembrar da Itália. “Tudo o que tem a ver com a Itália, eu tenho que estar dentro. Faço parte de um comitê jo-vem com pessoas do Para-ná e Santa Catarina em que falamos sobre como pode-mos resgatar esta cultura”. Para o trabalho de con-

clusão de seu curso, ela pensa em fazer algo re-lacionado à imigração. O canto é o que mais

Foi também um des-cendente de italiano que mudou completa-mente a agricultura em Gaspar. As sementes de arroz viajaram no navio com o imigrante Giovanni Mondini, pio-neiro no plantio de ar-roz irrigado em Santa Catarina. Foi na cidade de Ascurra que ele ini-ciou sua plantação de arroz em quadros, tra-dição que passou para seu fi lho, José, a quem deu um lote de terras em Gaspar. José trouxe

Receita antiga que dona Erica prepara todos os anos no NatalVanguarda no plantio de arroz

Ao se aproximar a época de Na-tal, a família Nicoletti tira dos fornos de dentro de casa e os leva até a garagem da casa dos “no-nos” para as-sar deliciosos docinhos de Natal. A re-ceita é antiga e de família. A vó, Erica N i c o l e t t i , chamada por to-dos de n o n a , aprendeu a fazer com sua mãe, que aprendeu com a mãe dela. Com formas que ganhou no dia de seu casamen-to, há 55 anos, ela faz doces em forma de pequenos cavalos que serão distribuídos en-tre toda a família. Com ajuda de filhos e no-ras, as bacias logo se enchem de docinhos quentes, esperando por glacê e tinta. O dia reservado para fazer o doce de Natal é um acontecimento fami-liar. Todos se reúnem

para Gaspar a novidade, que chamou a atenção de outros agricultores e aos poucos se espa-lhou pela cidade. Hoje o arroz irrigado é o prin-cipal produto agrícola do município e sustenta mais de 300 famílias.Lino Mondini, fi lho de

José, continuou a plan-tar arroz por 48 anos, mas decidiu arrendar as terras quando os fi lhos não puderam mais aju-dá-lo na lavoura. “Vejo que hoje os agricultores que plantam arroz pas-sam trabalho. Não tem incentivo e o preço é maluco, o arroz é prati-camente dado”, observa. Lino consegue lembrar--se ainda dos tempos em que usavam o cava-lo para puxar o arado e conta que até a década de 1970 foi bom plan-tar arroz, depois o pre-ço começou a cair.“Lembro do tempo em

que a gente se sacrifi ca-va para cortar o arroz à mão. Amarrávamos o arroz com cipó e trazia para casa. Era uma fes-ta. A gente era acostu-mado assim”, relembra.

desde cedo para preparar a massa, cortar, assar e pintar os docinhos. É com muita alegria e uma mesa cheia para o almoço que os nonos recebem a famí-lia em casa, para mais uma ocasião.Como em toda a família

italiana, tudo é feito em conjunto. “A gente faz tudo junto. É muito bom poder receber a família para es-tas coisas”, conta a nona. Já o nono, Paulino Nicolet-ti, destaca que não é ape-nas na hora dos doces ou do almoço de domingo que a família se reúne. “Quan-

do temos algum problema, todos vem aqui. Estão to-dos dispostos a ajudar”. Apenas um dos seis filhos do casal não mora nas proximidades, porém, vem todo o final de semana de Blumenau para visitar a fa-mília. Os finais de semana costumam ser de reunião e nos dias de semana, há sempre um filho ou um neto que passa pela casa dos nonos.Neste ano, no dia em que

o casal voltou do encer-ramento de atividades da terceira idade, encontrou uma surpresa. Os filhos,

chama a atenção da jo-vem. “Alguém tem que continuar indo atrás de coisas novas e antigas relacionadas aos italia-nos. Não podemos per-der esta coisa bonita”, fi naliza Barbara.

O livro de Barbara resgata, em imagens, a evolução dos trentinos em Gaspar

REPRODUÇÃO “TERRA DEI NONNI

José Mondini foi o primeiro a plantar arroz irrigado em Gaspar

ARQUIVO FOTO CLUBE DE GASPAR

genros e noras se reuniram e passa-ram todo aquele dia limpando a casa, para deixá--la brilhando para o Natal. As corti-nas deixaram as janelas e serão substituídas por novas e até o lado de fora recebeu uma nova pintura. “A família é tudo para nós. Como seria se nós esti-véssemos aqui so-zinhos, sem eles?”,

questiona Érica. “Somos sem-pre unidos. Não só com

os filhos, mas os netos também sempre vem, conversam com a gen-te, nos respeitam”, conta Paulino. A família italiana, além de ser bastante uni-da, geralmente tem uma grande prole. Paulino con-ta que isto acontecia por-que os casais de imigran-tes eram instruídos pela igreja a ter muitos fi lhos. “Na época de meus pais, os padres diziam que uma família com poucos fi lhos não era família de verdade e que evitar fi lhos era pe-cado. Por isso as famílias eram tão grandes”.

Ao se aproximar a época de Na-tal, a família Nicoletti tira dos fornos de dentro de casa e os leva até a garagem da casa dos “no-nos” para as-sar deliciosos docinhos de Natal. A re-ceita é antiga e de família. A vó, Erica N i c o l e t t i , chamada por to-dos de n o n a ,

genros e noras se reuniram e passa-ram todo aquele dia limpando a casa, para deixá--la brilhando para o Natal. As corti-nas deixaram as janelas e serão substituídas por novas e até o lado de fora recebeu uma nova pintura. “A família é tudo para nós. Como seria se nós esti-véssemos aqui so-zinhos, sem eles?”,

questiona Érica. “Somos sem-pre unidos. Não só com

Page 24: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Anúncio de EquipeAnúncio de Equipe

Page 25: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 10 de Dezembro de 2011

Page 26: Prêmios - Jornal Metas

Trabalhos vencedores do prêmio Adjori/SC

Categoria: Anúncio de AgênciaAnúncio de Agência

Page 27: Prêmios - Jornal Metas

Gaspar/SC - 8 de Outubro de 2011