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PRÊMIO EXTENSÃO RURAL EMATER – PR CATEGORIA ORGANIZAÇÃO RURAL E ASSOCIATIVISMO NA COMUNIDADE DE SANTA LUZIA EM JESUÍTAS, MULHERES ORGANIZADAS COM PARCERIAS, FAZEM DO PEPINO UM SUCESSO. Autor: Roberto Natal Dal Molin Engenheiro Agrônomo Lotação: EMATER - JESUÍTAS – REGIONAL DE TOLEDO JESUÍTAS, DEZEMBRO DE 2004.

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PRÊMIO EXTENSÃO RURAL EMATER – PR CATEGORIA ORGANIZAÇÃO RURAL E ASSOCIATIVISMO

NA COMUNIDADE DE SANTA LUZIA EM JESUÍTAS, MULHERES ORGANIZADAS COM PARCERIAS, FAZEM DO PEPINO UM SUCESSO.

Autor:

Roberto Natal Dal Molin Engenheiro Agrônomo

Lotação: EMATER - JESUÍTAS – REGIONAL DE TOLEDO

JESUÍTAS, DEZEMBRO DE 2004.

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NA COMUNIDADE DE SANTA LUZIA EM JESUÍTAS, MULHERES ORGANIZADAS COM PARCERIAS, FAZEM DO PEPINO UM SUCESSO.

Autor:

Roberto Natal Dal Molin Engenheiro Agrônomo

Lotação: EMATER - JESUÍTAS – REGIONAL DE TOLEDO

JESUÍTAS, DEZEMBRO DE 2004.

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Conteúdo

Conteúdo ..................................................................................................... 2

CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................ 3

Grupos femininos .......................................................................................... 6

DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 8

RESULTADOS E DISCUÇÕES.................................................................... 10

CONCLUSÃO ............................................................................................... 16

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Contextualização.

O município de Jesuítas, emancipado em 13 de maio de 1.980, com a área de

22.623 ha., situado a aproximadamente 600 km da capital, na região oeste do Estado, com

altitude de 466 metros, se caracteriza por uma divisão fundiária, onde a maior parte das

propriedades variam de 5 a 10 alqueires. A maioria de seus habitantes são descendentes

de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses que migraram para esta região, oriundos

do interior paulista e norte paranaense, no rastro do avanço da cafeicultura no final da

década de 50.

As culturas que formam a base agrícola municipal atualmente são soja, café,

algodão e milho, na pecuária destaca-se a criação de aves de corte, bovinocultura de corte

e a suinocultura.

O município está dividido em 06 microbacias hidrográficas, com aproximadamente

1.870 produtores rurais, e conta com uma ação forte na atividade agrícola da cooperativa

COPACOL, a qual a maioria dos produtores estão associados. A EMATER, juntamente

com a Secretaria Municipal da Agricultura, procura integrar os programas

governamentais, as entidades ligadas à agricultura e os agricultores, com ações concretas

no intuito de contribuir para o desenvolvimento rural auto-sustentável.

Todos os setores da economia sofrem altos e baixos, o setor agrícola é um dos mais

afetados e nosso município por ser essencialmente agrícola reflete e absorve todas as

dificuldades do setor, entre os principais problemas que atormentam os produtores, temos:

-Falta de uma política agrícola definida, com custeio, garantia de preços mínimos;

-Baixo retorno econômico da atividade agrícola;

-Altos custos de implantação de lavouras, sementes e insumos;

-Descapitalização;

-Produtos produzidos no município são transformados e industrializados em outra região;

-Predominância do espírito individualista em relação ao associativista, por parte dos

produtores;

-Produtores não enraizados na sua propriedade, migratórios dentro do próprio município;

-Região com risco de geadas;

-Mão de obra ociosa, bóias – frias, obrigando-se a migrar para outras regiões do país a

procura de serviço temporário;

-Grande área explorada por parceiros cujos proprietários não residem no município e não

fornecem insumos suficientes;

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-Grande número de produtores não possuem equipamentos de preparo de solos e colheita,

levando o mesmo a ficar na dependência de terceiros, fazendo um preparo de solo

econômico mas ineficiente;

-Entendimento dos produtores que manejo integrado de solo e água é uma atividade

econômica e não conservacionista;

-Baixa adoção pelos produtores de práticas complementares de manejo de solo, como

quebra de camadas adensadas, plantio direto, rotação de cultura, controle biológico e

reflorestamento;

-Aplicação ineficiente de agrotóxicos, principalmente herbicidas, causando muitos

prejuízos aos vizinhos;

-Propriedades pequenas, de 5 a 12 ha que leva a facilidade de compra por parte de alguns

produtores mais capitalizados, ocasionando a concentração de propriedades na mão de

poucos;

-Muitos produtores erradicando a cultura do café, pela ilusão do preço da soja;

-Grande número de intriga entre vizinhos, pelo abandono ou ineficiência das práticas de

conservação de solo.

-Muitas estradas voltaram a ter problema de acesso em períodos chuvosos, devido a falhas

de conservação das áreas vizinhas;

-Falta de água potável e de qualidade na maioria das propriedades rurais.

-Produtores envolvidos num sistema não adequado a sua realidade, a pequena

propriedade, por ser altamente dependente de trabalhos terceirizados, de insumos e

tecnologias que cada vez mais o levam a descapitalização e pouca valorização da mão de

obra familiar.

Uma das maiores preocupações é o surgimento nos últimos anos de empresas

multinacionais produtoras de tabaco que incentivam o plantio de fumo na pequena

propriedade, ao mesmo tempo em que o Ministério Público juntamente com os órgãos

estaduais e municipais estão buscando alternativas para a substituição desta cultura nas

regiões tradicionalmente produtoras devido a questões ambientais e de saúde.

O município pelas suas características fundiárias, sua posição geográfica e seu tipo

de solo, tem grande potencial para abrigar um elevado número de culturas, tanto de

clima mais quente, quanto de clima mais frios. Isto faz com que o município se enquadre

muito bem em qualquer programa que venha incentivar a pequena propriedade e a

diversificação agrícola e pecuária, exemplos concretos neste sentido, podemos encontrar

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junto àqueles produtores que já implantaram alguma cultura alternativa para a

diversificação da renda como por exemplo, os pomares, hortas, flores e avicultura.

Entre as microbacias Córrego Araras e Ribeirão Jesuítas, à aproximadamente seis

quilômetros da sede do município, está localizada a comunidade de Santa Luzia, local

onde está sendo desenvolvido o trabalho que passará a ser descrito.

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Conceituação.

Conscientes da atual situação da pequena propriedade, os poucos atrativos para a

manutenção do jovem no meio rural, a não valorização da mulher como parte integrante

da propriedade e atuante na comunidade e o avanço da cultura do fumo nos motivou a

buscar alguma alternativa de geração de renda que pudesse mudar a atual situação,

buscando ainda um trabalho eficiente de grupo que resgatasse o espírito comunitário.

Passamos a descrever agora o processo de parceria que nos levou a eleger a

comunidade de Santa Luzia para a realização dos trabalhos, comunidade esta que contava

com um acesso dificultado em dias de chuva por ser de terra, uma Igreja, um salão

comunitário, um campo de futebol sete, uma cancha de bocha, um abastecedouro

comunitário e uma escola municipal abandonada. (Foto 1)

Grupos Femininos Copacol.

Com o objetivo de integrar a mulher na família, na propriedade, na comunidade e

na cooperativa, foi iniciado no ano 2001 o processo de formação dos Grupos Femininos

Comunitários Copacol, sendo um projeto coordenado pela assessoria de cooperativismo e

idealizado pela atual diretoria.

No ano de 2001 foram formados nove Grupos Femininos, todos eles nas

comunidades do interior dos municípios da área de ação da Copacol, com exceção de um

que foi instituído no município sede da Copacol, Cafelândia, abrangendo num primeiro

momento mais de duzentas e setenta mulheres, esposas e filhas de associados. Muitos

trabalhos de parceria entre Emater e Copacol se estabeleceram em função dos Grupos

Femininos, entre eles destacamos os de instalação de unidades de hortas e pomares

caseiros (Fotos 2). Outros cursos e programas desenvolvidos dentro dos grupos levaram

as mulheres a reconhecer seu valor, retomar sua auto-estima e começar a buscar

alternativas para a sua independência econômica. Dentre estes grupos estava o da

comunidade de Santa Luzia no interior de Jesuítas, que iniciou com a participação de

vinte e cinco mulheres, comunidade esta caracterizada por um grande número de intrigas

políticas e de relacionamento entre seus membros. Com a formação do Grupo Feminino

desde o início as mulheres demonstraram uma vontade diferenciada em encontrar alguma

alternativa de geração de renda para as sua pequenas propriedades, preocupadas com o

grande êxodo de famílias da comunidade que vem num processo acelerado. Segundo

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moradores no ano de 1979 havia aproximadamente duzentas famílias residindo na

comunidade e hoje são apenas sessenta.

Durante aproximadamente dois anos o grupo foi realizando vários cursos entre eles

o de casais, com psicoterapeuta que proporcionou um maior conhecimento individual e

buscou também a melhoria das relações interpessoais, com isto o grupo foi

amadurecendo, neste processo algumas participantes deixaram de freqüentar o grupo,

porém as que permaneceram amadureceram como grupo e foram definindo o que queriam

como prioridade, e realmente decidiram que queriam transformar a escola abandonada em

algo que pudesse gerar renda a partir de seu trabalho.

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Desenvolvimento.

Na busca de alternativas para geração de renda em maio de 2003, foi realizada

uma reunião com as participantes do Grupo de Santa Luzia e seus familiares, onde foi

apontada a possibilidade de obtenção de recursos através do Programa Paraná 12 Meses

do governo do Estado que apoiaria projetos consistentes de geração de renda. Buscou-se

deixar claro a necessidade de comprometimento de todos na realização das etapas

seguintes e que o projeto passaria pela avaliação dos conselhos municipal e regional do

Programa. ( Fotos 3)

Numa próxima reunião foi levantada dentre outras atividades a possibilidade de

instalar na antiga escola uma mini indústria de conservas de pepino, pois no município já

havia um produtor com experiência em transformação, na comunidade de Carajá.

Logo em seguida foi programada uma visita ao município de Terra Boa, com dez

membros da comunidade, que foram recebidos pelo extencionista da EMATER Paulo

Preto o qual mostrou o projeto desenvolvido junto a Agrovila que envolvia a produção e

industrialização de pepinos. Ali puderam ver todo o processo desde o plantio até o envase,

e equipamentos necessários para a industrialização como: caldeira, mesas, lavador, cestos,

tanque, talha etc... e noção de custos de produção e infra-estrutura. (Fotos 4)

Retornando à comunidade as informações foram repassadas ao grupo que decidiu

por seguir em frente. Isto tudo culminou com a elaboração e aprovação do projeto pelo

Programa Paraná 12 Meses que beneficiou inicialmente treze produtoras, ficando em

aberto a participação de novas integrantes e pela cessão de uso da escola municipal

desativada na comunidade, pela prefeitura municipal.

Liberado o recurso de R$ 20.400,00, mais a contrapartida da comunidade com a

mão de obra, iniciou-se a reforma da escola, através de mutirão, em dezembro de 2003 e a

instalação dos equipamentos a partir de maio de 2004. Paralelo à indústria corria uma

segunda preocupação que era a de identificar potenciais produtores e fornecedores de

matéria prima para a mini indústria, o pepino, que fossem da própria comunidade. Foi

realizada outra reunião onde foram cadastrados os possíveis produtores, onde foram

conscientizados que esta era uma atividade nova para todos nós e que cada um que se

dispusesse a plantar, produzisse apenas uma pequena quantidade, até para testar sua

aptidão em lidar com a nova cultura. Foi colocado como ponto de estrangulamento para

produção a disponibilidade de água na propriedade. Definidos os produtores, os mesmos,

participaram de duas visitas técnicas em áreas de plantio de pepino na região (Fotos 5).

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A princípio sete produtores plantaram 3500 mudas produzidas por um único

produtor, no início do mês de novembro. Indo de 200 a no máximo 700 mudas por

produtor. Logo após mais dois produtores iniciaram o plantio de mais 5.000 mudas. A

previsão de inicio de colheita era de aproximadamente 35 dias após o plantio. (Fotos 6)

No início de novembro para iniciarmos os testes da indústria foram utilizados

pepinos produzidos por um agricultor da comunidade de Carajá.

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Resultados e Discussões.

Nós como extencionistas, quando elaboramos projetos de investimento, como

geração de renda, principalmente envolvendo mulheres do meio rural, acabamos

involuntariamente considerando ou querendo transformá-las em máquinas ou pessoas

agitadas, ou estressadas como muitos de nós. E quem sabe esquecemos de considerar que

as mesmas querem melhorar sua auto estima, agregar valor ao seu produto, conseguir auto

suficiência financeira para viajar com o grupo feminino, comprar alguma roupa, melhorar

sua residência entre outros sonhos que não são os mesmos que os nossos, mas temos que

considerar que o seu ritmo de vida não é tão alucinado quanto o nosso. Então temos que

tomar muito cuidado pois a sua criação e cultura dão como prioridade a sua família e

rotina, então este novo desafio tem que ser consciente e gradual com muito cuidado e

diálogo com os filhos, esposos e a família, como estamos procurando seguir, e nós já

estamos fazendo esta mudança lenta e gradual, acordando que para as próximas safras

elas trabalharão elaborando cada qual a sua escala semanal, quem sabe alternando dias,

pois até agora elas apenas trabalham na parte da tarde, se dedicando aos afazeres pela

manhã. Com isso só neste mês a mini indústria já conseguiu criar dois empregos diretos

de mulheres que não fazem parte do grupo que receberão o equivalente a R$ 300,00

mensais divididos por hora de trabalho 160 horas ou seja cerca de R$ 1,87 a hora, ambas

já trabalharam neste pequeno espaço de funcionamento 150 horas cada recebendo R$

280,50 cada, e esta mão de obra contratada serviu para a indústria principalmente para

lavar e esterilizar os vidro reciclados que custaram R$ 0,25 a unidade e se o mesmo fosse

novo custaria R$ 0,60 dando uma economia de cerca de R$ 0,35 por vidro no custo final

da conserva. Estas duas senhoras já limparam e esterilizaram este mês cerca de 4000

vidros resultando cerca de R$ 1.400,00 de economia para a indústria e ainda sobrou

tempo para que as mesmas começassem a aprender outras tarefas. (ver tabela, anexo 1)

Inicialmente todas as mulheres do grupo passarão a ter uma retirada proporcional

as horas trabalhadas no mesmo valor das contratadas, podemos citar como exemplo a

dedicação da senhorita, Marcela e da dona Juraci, que são as pessoas que estão

praticamente com mais tempo de dedicação ambas já terão para a semana do natal ,

primeira época de pagamento, mais de 200 horas de dedicação e cada uma vai receber R$

374,00 pelo trabalho na indústria, o restante da sobra da indústria será capitalizado para

pagamento dos insumos já adquiridos para estoque como ácido, vidros, temperos e para

compra de materiais para melhoria e reforma de outras salas da escola.

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Outro trabalho interessante de observar é o crescimento individual de algumas

pessoas. Hoje cada trabalhadora está encontrando o seu espaço e lugar na mini indústria.

Tem a responsável pela caldeira, a responsável pelos temperos, a responsável pelo

controle da temperatura do tacho e tempo de cozimento, a responsável pelo controle de

gastos e saída de produção, a responsável para pesar e classificar o pepino que chega dos

produtores e a maioria trabalha no envase e lavagem da matéria prima. Isto é muito

importante e às vezes deve ser monitorado para não acontecer pequenos atritos entre as

participantes. (Fotos 7)

Depois desta mobilização do grupo feminino podemos considerar que a comunidade de

Santa Luzia já é outra. A auto-estima de muitos moradores já mudou, as festas da

comunidade, bem como os jantares promovidos pelo grupo feminino, passaram a atrair

mais pessoas de todo o município e da região, e estão se tornando tradicionais. As

mulheres já conseguiram comprar forno, fogão e novos eletrodomésticos para o salão da

comunidade e aos poucos juntamente com a diretoria da associação da comunidade vão

equipando a cozinha, que servirá também para novos treinamentos e cursos.

Outro fato marcante foi a união do grupo com a associação comunitária, que

sabendo da liberação dos recursos para pavimentação com pedras irregulares, Programa

Caminhos da Roça, do governo do estado, marcaram uma reunião com o prefeito

municipal, secretários e vereadores, onde colocaram a importância e a necessidade de que

esta pavimentação chegasse até a comunidade e que esta facilitaria em muito o acesso em

épocas de chuva.

Temos certeza que esta pequena indústria pesou muito para que as autoridades

escolhessem a estrada Itacolomi, de acesso a Santa Luzia para receber a pavimentação e

hoje estão faltando cerca de 400 metros para que a pavimentação chegue na comunidade ,

motivo de orgulho de todos. (Fotos 8)

Também nesta comunidade conseguimos mobilizar mais dois grupos que

receberam recursos do programa Paraná 12 Meses, um que já produziu café cereja

descascado especial cerca de 40 sacas recebendo um acréscimo de R$ 60,00 a saca ao

valor de mercado, totalizando R$ 2.400,00, além de garantir qualidade do café natural,

pois faz parte dos equipamentos além do despolpador, o lavador e separador e o secador.

Para o próximo ano, safra 2004/2005 os dois grupos poderão produzir e garantir a

qualidade de mais de 500 sacas de cafés especiais. Pelo programa PRONAF investimento

a juros de cerca de 4 % ao ano foram construídos três aviários nesta comunidade ,

beneficiando sete produtores os mesmos integrados a Cooperativa Copacol estão gerando

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uma renda media de R$ 0,25 por cabeça de frango entregue com cerca de 43 dias, ambos

já realizaram 4 criadas cada um. Damos com exemplo o produtor Josué Luciano da Silva,

que está muito satisfeito e entregou este ano cerca de 32.000 aves cuja receita foi de cerca

de R$ 8.000,00 e a prestação do financiamento ficará na faixa de R$ 6.000,00 sobrando o

esterco e mais de R$ 2.000,00 no ano. O semblante destes beneficiários certamente

mudou para melhor e o desafio de acompanhar o sucesso das mulheres é bastante

salutar.(Fotos 9)

Na mini indústria de conservas, hoje, a produção por dia é de 700 vidros e segundo

levantamentos iniciais de custos, remunerando o produto às famílias produtoras na faixa

de R$ 0,60 por kg de pepino, utilizando vidros recicláveis, pagando os condimentos, e

outras despesas, o custo está girando em cerca de R$ 1,00 a unidade, como a venda está

sendo feita com produto ainda rotulado por terceiros, o preço de venda está girando em

torno de R$ 1,50, sobrando R$ 0,50 por vidro ou seja cerca de R$ 350,00 por dia para

remuneração da mão de obra das mulheres e capitalização.

Em reunião realizada na comunidade, estamos projetando para o próximo plantio com

envolvimento e adesão de novos produtores de outras comunidades, a produção de cerca

de 20.000 mudas, utilizando quatro latas de semente, com potencial produtivo de cerca de

1,5 kg por pé (segunda safra), o que daria uma produção de cerca de 30.000 kg de pepino

e mais de 60.000 vidros produzidos.

Como a mini indústria tem capacidade de produção de até 2.000 vidros por dia e

considerando que as mulheres trabalhariam 20 dias por mês, produzindo 1000 vidros por

dia, e o pepino produz por cerca de 60 dias elas poderão produzir 40.000 vidros antes do

inverno, que poderá gerar um recurso de R$ 20.000,00 no primeiro semestre.

O restante da produção que a indústria não absorver que seria cerca de 10.000 kg,

os produtores não sairão perdendo, pois já contatamos com algumas empresas que

demonstraram, interesse na compra, e os mesmos serão conservados em bombas de 250

kg, apenas com salmoura, prática esta bastante simples, inclusive estes pepinos poderão

ser envasados na entre safra. (ver tabela, Anexo 1)

Quem está produzindo pepinos hoje são produtores da comunidade, onde algum

membro da família integra o grupo feminino, e para os próximos plantios continuaremos

priorizando estas famílias, que terão garantia de compra do pepino produzido que estiver

dentro do padrão exigido pela mini industria, previamente acordado, no valor de R$ 0,60

ao kg.

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O custo extra propriedade para cultivo de 1.000 mudas ficam assim distribuídos:

- Mudas R$ 30,00

- Fertilizantes R$ 20,00

- Inseticidas R$ 30,00

- Outros (mangueira, fio, estaleiro) R$ 150,00

TOTAL R$ 230,00

O potencial produtivo é de 2,0 kg por pé (primeira safra), cerca de 2.000 kg em

mil pés, que comercializado a R$ 0,60 por kg dá uma receita de R$ 1.200,00 e um gasto

com insumos de cerca de R$ 230,00 , sobraria R$ 970,00 para remunerar o trabalho da

família, por cerca de duas horas diárias durante 60 dias. Cabe salientar que o espaço de

terra utilizado para este plantio é de apenas 350 m2 e o plantio fomentado está a céu

aberto, e em caso de utilização da tecnologia da plasticultura o potencial produtivo pode

ser triplicado.

Outra observação que pode ser útil para os colegas principalmente os que

trabalham com café, podemos citar o caso do produtor João Ferreira que possui cerca de

30.000 pés de café plantado no sistema adensado, cujo excesso de produção e a estiagem

deste ano obrigaram o mesmo fazer um esqueletamento em sua lavoura, fazendo com que

sua entrada de receita com o café para safra 2004 / 2005 seja praticamente zero. Nos

surgiu a idéia de testarmos o plantio de pepino intercalar as ruas de café esqueletado. Para

nossa surpresa os resultados estão sendo animadores, onde ambas as culturas estão em

ótimo estado e se beneficiando. O café porque se beneficia da irrigação obrigatória para a

cultura do pepino e a cultura do pepino porque se beneficia do pequeno sombreamento e

da proteção do vento provocada pelas ruas do café esqueletado.

Esta prática poderá ser recomendada com certeza para um ano, nas lavouras

adensadas esqueletadas. Este produtor iniciou o primeiro plantio com 1000 pés e vai

produzir cerca de 2.500 kg de pepino, em 330 metros de entre linha de café, o que está

dando um aporte de recursos em um ano de dificuldades, de R$ 1.270,00, em cerca de 60

dias. O mesmo já está se preparando para plantio de mais 3.000 mudas, agora em apenas

1.300 metros lineares de entre linha de café esqueletado, projetando uma colheita mínima

de 5.000 kg de pepino, será outro aporte bastante significativo de recursos a esta

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propriedade cuja mão de obra é de 100% familiar e que sofre com os preços e debilitação

de seu café. (Fotos 10)

Cabe destacar a primordial parceria com a Cooperativa COPACOL, e a visão

social de sua diretoria, que não mede esforços para viabilizar um crescimento sustentável

da pequena propriedade, que acredita e incentiva a diversificação e investe em

capacitação dos produtores e técnicos, dando toda a liberdade e apoio necessário, para

qualquer iniciativa que venha realmente beneficiar o pequeno produtor. Este apoio se

materializa quando a mesma além dos técnicos, coloca a disposição a sua área de

comercialização, oferecendo oportunidade de compra do produto para revenda em seus

mercados, quando o mesmo estiver legalizado e devidamente rotulado e colocando o seu

prestigio na parceria, colocando a disposição seu laboratório de análise de qualidade, o

que nos anima para acreditarmos cada vez mais no sucesso da atividade na comunidade

de Santa Luzia.

Temos obstáculos a ultrapassar, como garantir a qualidade do produto, elaborar o

rótulo criando uma identidade, adequar a mini indústria a legislação em vigor, buscar

novos mercados, manter o grupo unido e feliz.

Para o próximo ano já estamos planejando cursos de Administração, Controle De

Qualidade, Motivação e Associativismo, Relações Interpessoais, Tecnologias de

Produção e cultivo do Pepino entre outros, e cada vez mais vamos necessitar do apoio de

todos os colegas que se prontificarem em colaborar, e aprender com esta comunidade.

Mas o desafio não para por ai pois novas comunidades já estão demandando por projetos

semelhantes em outras áreas e se Deus nos der saúde e disposição e com a autonomia que

as hierarquias da empresa nos propicia, com a colaboração dos colegas poderemos fazer

com que algumas famílias possam viver mais felizes, com dignidade, na sua propriedade,

na sua comunidade, no seu município no nosso estado e no país em que vivemos.

O caminho percorrido até agora nos deu um aprendizado mútuo bastante grande.

Quando iríamos pensar que em apenas um ano teríamos que sair da porteira e conhecer

fornecedores, pesquisar preço e prazos de ácido acético glacial, temperos diversos como:

endro, mostarda, loro, sal, açúcar, vidros reciclados, vidros novos, tampas entre outros.

É verdade na maioria das vezes, quando dizemos que é fazendo que se aprende,

imaginem acertar o paladar e a quantidade de temperos, para manter um padrão, pois cada

indústria tem o seu e não gosta de revelar; e agora, acertar a temperatura da água e o

vapor de uma caldeira que antes , ninguém tinha visto, só na visita a Terra Boa, em fotos

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ou em filme; esquecer de colocar sal no tempero; colocar a tampa nova com muita força e

danificar a vedação; colocar os vidros frios em água muito quente e quebrar quase metade

por choque térmico; aquecer por muito tempo o vidro de conserva e não resfriar

rapidamente, e o mesmo continuar cozinhando danificando o produto; no início da

colheita guardar os pepinos colhidos na geladeira para acumular mais volume para

industrializar em dias alternados, e algumas geladeiras baixarem demais a temperatura

mesmo na cesta de verduras, queimando por frio o pepino, que quando colocado no

vácuo e aquecido eles branqueavam totalmente e ninguém sabia porque, e mais ligar para

muitas empresas do ramo, e cada uma dava uma informação diferenciada. E agora

descobrir porque na maioria dos rótulos de conservas constava 330 a 340 gramas de

pepino na embalagem e nós pesávamos o pepino vindo da lavoura e dava 400 gramas, até

cair à ficha e nos recordarmos das aulas de química de 20 anos atrás que dizia que a água

se desloca de um meio menos concentrado para o meio mais concentrado fazendo com

que o pepino recém colhido perca cerca de 15 % do seu peso em água para a solução de

água, sal, açúcar, ácido e temperos que completam o vidro após o enchimento com o

pepino.

Tudo isso acontece e aconteceu e todos nós graças ao embasamento e maturidade,

do grupo e das parcerias, conseguimos vencer os obstáculos e hoje podemos dizer que

valeu a pena o que passamos até agora e que estamos conseguindo produzir um produto

de qualidade.

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Conclusão.

No processo de aprendizagem, até o momento, concluímos que o maior desafio

não está na obtenção de recursos e que este, como muitos podem pensar, não é o fim e

sim apenas o início de um grande passo, que segue várias etapas. Portanto a busca da

coesão, do envolvimento, do comprometimento das pessoas do grupo e principalmente

sua motivação e construção de uma visão de futuro, além do apoio constante e

permanente em todas as fases do projeto, são pontos a serem considerados como cruciais

para a efetivação dos resultados esperados.

Por isso o tempo é um fator determinante pois há a exigência de

acompanhamento constante. Muitas vezes as multiatividades do extencionista da

EMATER não permitem o acompanhamento ao nível necessário em projeto de geração de

renda. Temos certeza que isto só será possível através de parcerias sérias e conscientes,

como é a nossa com a COPACOL, Prefeitura, produtores e comunidades, que

fundamentaram o trabalho, pois o Grupo Feminino já vinha sendo trabalhado a dois anos

antes de optar por um projeto de geração de renda.

Com certeza uma lição nos fica, não podemos fazer as coisas no afã de que temos

que aproveitar a oportunidade e disponibilidade de recursos e sim só fazê-las se

realmente houver todo um processo de planejamento, amadurecimento, vontade e

motivação, anteriores a oportunidade de recursos.

É por isto que hoje brota em nós o sentimento de que ninguém é o pai do projeto.

O que permanece em nossas mentes é a alegria da conquista, a transformação das

mulheres, a auto-estima e a confiança resgatadas e a imperiosa vontade de vencer

desafios. A imagem que fica é de uma comunidade que volta a brilhar pelo orgulho de ver

o fruto de seu trabalho, conquistando espaço nas gôndolas dos mercados da sua

cooperativa. (Fotos 11)

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ANEXO E FOTOS

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ANEXO - 1

CUSTO DE PRODUÇÃO DE 5000 VIDROS DE CONSERVA

INSUMOS QUANTIDADE PREÇO UNITÁRIO (R$ ) PREÇO

TOTAL

(R$)

ÁC. ACÉTICO GLACIAL ALIMENTAR 20 LT 6,00 120,00

SAL FINO 46 KG 0,70 32,20

AÇUCAR CRISTAL 30 KG 0,72 21,60

ENDRO 03 KG 8,00 24,00

MOSTARDA EM GRÃOS 03 KG 8,00 24,00

LORO FOLHA 03 KG 8,00 24,00

TAMPA 5.000 UN. 0,19 950,00

RÓTULO 5.000 UN 0,10 500,00

PEPINO 2.000 KG 0,60 1200,00

LENHA, LUZ E ÁGUA 5.000 0,17 850,00

SUB TOTAL 1 5.000 0,75 3.745,80

VIDRO RECICLADO 5.000 0,25 1.250,00

VIDRO NOVO 5.000 0,60 3.000,00

GASTO TOTAL UTILIZANDO VIDRO

RECICLADO

5.000 1,00 4.995,80

GASTO TOTAL UTILIZANDO VIDRO

NOVO

5.000 1,35 6.745,80

PREÇO APROXIMADO DE VENDA 5.000 1,50 7.500,00

SOBRA DA TRANSFORMAÇÃO COM

VIDRO RECICLADO

5.000 0,50 2.500,00

SOBRA DA TRANSFORMAÇÃO COM

VIDRO NOVO

5.000 0,15 754,20

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FOTOS 1 - A COMUNIDADE SANTA LUZIA , JESUITAS

FOTOS 2 – PRIMEIROS TRABALHOS COM O GRUPO FEMININO

FOTOS 3 – REUNIÕES NA COMUNIDADE

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FOTOS 4 – VISITA AO MUNICÍPIO DE TERRA BOA

FOTOS 5 – VISITAS A PLANTIOS COMERCIAIS DE PEPINO

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FOTOS 6 – PRIMEIRO PLANTIO DE PEPINO NA COMUNIDADE

CONTINUAÇÃO FOTOS 6

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FOTOS 7 – MULHERES TRABALHANDO DA MINI INDUSTRIA DE CONSERVAS.

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FOTOS 8 – PAVIMENTAÇÃO DA ESTRADA ITACOLOMI

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FOTOS 9 - AVICULTURA PRONAF E UNIDADE DE CAFÉ CEREJA DESCASCADO

FOTOS 10 – PRODUTOR JOÃO FERREIRA E FAMÍLIA

CONTINUAÇÃO FOTOS 10.

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FOTOS 11 – O RESULTADO DO TRABALHO, MERCADOS DA COPACOL DIA 23 DE

DEZEMBRO DE 2004.