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PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÂO EM SALA DE AULA:

CONSCIENTIZAÇÂO E VALORIZAÇÂO DA DIVERSIDADE A PARTIR

DO ENSINO DE HISTÓRIA.

NASCIMENTO, Solanja1

PROENÇA, Wander de Lara2

Resumo:

O Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado “Preconceito e discriminação em sala de aula: Conscientização e Valorização da Diversidade a partir do Ensino de História, foi desenvolvido com seguintes objetivos: primeiro, desconstruir a questão do mito da democracia racial, por meio de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, ideias e comportamentos influenciados pela ideologia do branqueamento e romper com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação contra os negros e povos indígenas; segundo, levar os educandos a ter uma visão ampla e crítica referente à História não eurocêntrica. A implementação contemplou pesquisa de campo e outras dinâmicas, tais como: entrevista, análise de músicas e dinâmica dos rótulos envolvendo participação direta dos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Rio Branco - Ensino Fundamental e Médio, situado no Município de Rio Branco do Ivaí, Pr. A partir da implementação observou-se que o desenvolvimento e os resultados foram positivos, uma vez que os alunos demonstraram bastante interesse sobre o assunto, participaram ativamente das atividades propostas, e na medida em que foi sendo realizado, puderam observar, rever suas práticas e constatar que por vezes tinham atitudes preconceituosas mas não possuíam consciência que as mesmas fossem efetiva manifestação ou reprodução do preconceito. Muitos chegaram à conclusão de que ao fazer determinadas brincadeiras não sabiam que essas estavam repletas de preconceito; tornaram-se, com isso, conscientes de suas ações, passando a se corrigir mutuamente, por meio de expressões como: "olha fulano, isso é preconceito”.

Palavras chaves: Preconceito. Diversidade. Lei 10639/03. Cultura afro-brasileira. Ensino de História. Introdução

Neste artigo, apresentamos algumas discussões e reflexões sobre os

trabalhos realizados por meio do Projeto de Implementação Pedagógica sobre o

tema “Preconceito e Discriminação em sala de aula: Conscientização e valorização

da diversidade a partir do Ensino de História”. Esse trabalho está relacionado à linha

de pesquisa “Diálogos curriculares com a diversidade”, desenvolvido com alunos do

8º ano Ensino Fundamental do Colégio Estadual Rio Branco – Ensino Fundamental

e Médio do município de Rio Branco do Ivaí – Pr. Também relatamos a socialização

com os professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR).

1 Professora do PDE, vinculada ao Núcleo de Ensino de Ivaiporã. Professora de História do Colégio

Estadual Rio Branco - Ensino Fundamental e Médio, em Rio Branco do Ivaí – PR. 2 Orientador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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É importante ressaltar que devido à necessidade e a obrigatoriedade da Lei

10.639/03 de se estar constantemente trabalhando sobre a questão da Cultura Afro-

brasileira e indígena, este estudo procura aliar a necessidade com a obrigatoriedade,

tendo em vista que as salas de aulas são um ambiente oportuno para o

desenvolvimento de trabalhos que viabilizem a conscientização e reflexões a

respeito das ações dos alunos – ou, mesmo, de docentes e outros agentes do

ambiente escolar -, considerando que essas estão muitas vezes marcadas por

preconceito e discriminações, que podem ser consideradas em maior parte

reproduções ou influências da sociedade em que vivemos. É oportuno dizer que

muitas vezes reproduzimos inconscientemente ou não os pré-conceitos, e diante

dessa realidade, o projeto de implementação desenvolvido teve como objetivo

desenvolver ações educativas que viabilizem a reflexão e conscientização de nossas

atitudes, para que no momento em que falarmos ou agirmos, tenhamos consciência

do que de fato queremos dizer.

Convém ressaltar que muitos já sofreram, ou “sentiram na pele”, o gosto

amargo da discriminação, por serem estereotipados como pobre, negro, loiras,

homossexuais, mulheres, mães solteiras, entre outros. À guisa de exemplo, quantas

vezes já não ouvimos “piadinhas” que nada mais são do que a pura manifestação de

preconceito: “Mulher tem o direito de esquentar a barriga no fogão e esfriar no

tanque” (provérbio amplamente divulgado pelo povo, ou seja, provérbio popular) e

assim sucessivamente dentre vários outros. Antes de tudo, vale lembrar que esse

provérbio acima citado faz uma discriminação de que os ofícios da mulher se

restringem aos afazeres domésticos; a citação “a mulher tem o direito” denota um

aspecto de submissão, nesse caso em relação ao homem. E assim são vários “os

provérbios”, “piadinhas” que são diariamente reproduzidas dentro das salas de

aulas, no âmbito familiar, entre outros. Os indivíduos crescem ouvindo esse tipo de

afirmação e achando que isso é normal ou natural e simplesmente não têm

consciência do que está nas entrelinhas.

É nesse intuito que desenvolvemos o trabalho, esclarecendo, fazendo

levantamentos, análises, exemplificando, justificando a necessidade e importância

do assunto em pauta, para que os estudantes, e comunidade escolar em geral,

cheguem à conclusão de que é necessário ter uma mudança de comportamento,

procurando ser críticos, e que venham refletir suas ações e as consequências das

mesmas, não mais as reproduzindo quando estas forem negativas, ou seja, repletas

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de preconceitos e discriminações, pois essas acarretam em traumas psicológicos,

violências emocionais, físicas e sociais.

Diante de tais aspectos, faz-se necessário que nossas ações sejam cientes e

que não sejamos meros reprodutores alienantes, mas com capacidade de verificar

qual imagem queremos deixar perante a sociedade, contribuindo para que essa

possa ser justa e democrática, fazendo com que todos os cidadãos possam ter seus

direitos garantidos e respeitados, não só no papel como tem sido, mas como se há

de verificar na prática.

Revisão de Literatura

No Brasil o preconceito é tão pesado e espalhado que foi preciso criar

uma lei, a lei nº 10639/03 que altera a LDB (Lei Diretrizes e Bases) e estabelece

as Diretrizes Curriculares para a implementação da mesma. A 10.639 instituiu a

obrigatoriedade do Ensino de História da África e dos Africanos no currículo

escolar do Ensino fundamental e médio. Nesse intuito, o projeto implementado

objetivou aliar a lei que é uma obrigatoriedade com as necessidades vigentes,

bem como salientar que é um direito o conhecimento e a informação da cultura

afro-brasileira no ambiente escolar, que até pouco tempo era tido como uma

invisibilidade.

Para o autor Ruben G. Oliven:

A invisibilidade do índio e do negro nos estudos dedicados às condições econômico-culturais do Estado, ainda que várias atividades econômicas tenham sido feitas exclusivamente por escravos, trata-se de uma invisibilidade social simbólica que foi influenciada pelas ideologias raciais no momento de formação da identidade nacional e de formação da República (OLIVEN, 1996, p.21).

Porque se discutir preconceito na Escola?

Primeiro, porque é um lugar onde visa a formação do cidadão, bem como

atitudes, postura e valores, sujeitos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial e

que possam interagir na construção de uma nação democrática em que

todos igualmente, tenham seus direitos garantidos na prática e sua identidade

valorizada, compromisso esse da institucionalidade nos diferentes níveis que

estrutura a missão educacional. A Escola e as salas de aulas são espaços

privilegiados de transmissão de ideias, conhecimentos, sendo assim, torna-se

imprescindível a desconstrução dos pré-conceitos transmitidos ao longo dos anos.

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Segundo, porque o preconceito existe dentro do espaço escolar e a escola

deve lutar contra as diferentes formas de manifestações e esse é um dos grandes

desafios, fazer reconhecer a existência de preconceitos, social, racial e sexual

nesse ambiente educativo.

Eliane Cavalleiro afirma que a discriminação

[...] se evidencia quando em condições sociais dadas, de supostas igualdade entre brancos e negros, se identifica um favorecimento para um determinado grupo nos aspectos social, educacional e profissional. Fato que expressa um processo institucional de exclusão social do grupo, desconsiderando suas habilidades e conhecimentos (2005, p. 26).

Nesse sentido convém ressaltar que um dos grupos menos favorecidos é o

dos negros, alguns índices comprovam essa realidade. Segundo dados do IBGE

censo 2010, a população afrodescendente tem uma renda inferior, não somente

referente à da população branca como também referente aos descendentes de

europeus e asiáticos. Além do que, níveis de escolaridade e de renda per capita

muito baixos, pouco acesso à moradia, pequeno fluxo de poder e de mídia, entre

outros; tudo isso demonstra o quanto o problema racial se enraizou na organização

da sociedade brasileira.

Racismo, esse traço social, é um dos maiores problemas da história do

Brasil. Apesar da evolução expressiva nas relações inter-raciais no país, e embora

esteja previsto na Constituição de 1988 o combate ao racismo, considerado crime

inafiançável, ainda existe muita discriminação com a cultura negra. Isso pode

ser observado não somente dentro das salas de aulas como também no contexto

sócio-histórico de nossa sociedade, é de opinião unívoca que não são somente os

negros enfrentam essa desvalorização e sim mulheres, índios, até mesmo na

esfera da religiosidade o preconceito ainda é marcante. As religiões afro-

brasileiras, por exemplo, não são valorizadas como manifestações legítimas e

são vistas e tratadas com muita discriminação.

Os grupos dominantes muitas vezes, estando no poder, acabam se

beneficiando do mesmo e consequentemente acabam utilizando de manobras a

fim de manipular as classes sociais em prol de seus interesses. A sociedade

brasileira reproduz a ideologia dos dominantes e dessa maneira perpetuam-se

valores, conceitos preconcebidos referentes à população negra, sua história e

cultura e sem falar da questão da chamada “democracia racial”, que não passa de

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um mito inventado pelos poderosos a fim de mascarar a questão racial ainda não

resolvida no Brasil, mesmo depois da tão sonhada abolição da escravidão. A

escravidão criou o racismo e a forma como ela foi abolida (Lei Áurea 1888), não

foi suficiente para inverter essa realidade.

Ainda hoje persiste em nosso país um imaginário étnico-racial que privilegia

a “brancura” e valoriza principalmente as raízes europeias, ignorando bem como

não valorizando as outras, que são as indígenas, a africana e asiática.

Convém fazer um levantamento de conceitos e autores que fazem

definições sobre os termos racismo, preconceito, discriminação, já que

infelizmente estão presentes em nossa sociedade e a definição dos mesmos faz

com que tenhamos possibilidades amplas de lutar contra essa prática abominável,

conhecer e saber respeitar a diversidade é a primeira ação para nos tornarmos

pessoas melhores. O Brasil é um país com grande diversidade cultural composta

por descendentes de povos africanos e de índios brasileiros, de imigrantes

europeus, asiáticos e latino-americanos; é a mistura de todas essas etnias que

forma o povo brasileiro.

Segundo Deniker, criticando o conceito de raça:

Existem grupos étnicos, formados em função da comunidade de língua, religiões, instituições sociais que têm a capacidade de unir homens de uma ou várias... e “variedades” queria dizer também cor de pele (Apud NETO, 1997, p.247).

Na verdade, o que existe são grupos étnicos e compreender/conhecer é,

certamente, não idealizá-los. Muller afirma que:

O racismo e o preconceito nem sempre tem explicações racionais. São sentimentos construídos ao longo da vida, através do convívio com outras pessoas racistas ou preconceituosas e que transmitem essas ideias pejorativas sem nenhuma comprovação, apenas insistindo nos julgamentos negativos que eles têm sobre os outros (2006, p.123).

Preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos

depreciativos, palavras e atitudes que velada ou explicitamente violentas,

expressam sentimentos de superioridade em relação aos negros, s ã o próprios

de uma sociedade hierárquica e desigual. No âmbito escolar ocorrem constantes

situações de discriminação e preconceito: os alunos negros geralmente

são vítimas de “brincadeiras” e recebem apelidos pejorativos relacionados à cor

do cabelo; geralmente as pessoas fazem referências ao cabelo dos/as afro-

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brasileiros/as como “cabelo ruim”, isso é um ato de racismo. Vale lembrar que a

língua portuguesa está cheia de exemplos nos quais desvalorizam os negros,

mulheres, indígenas, tais como: “A coisa está preta”; “segunda-feira é dia de

preto”; “mulher tem o direito de esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque”

“Os indígenas são uns primitivos/selvagens”; tudo isso nada mais é do que a pura

manifestação de preconceito e discriminação.

De acordo com Santos (2005, p. 14),

A discriminação racial se reproduz em vários contextos sociais das relações entre negros e brancos. Nesse contexto a escola não se encontra isenta dessas reproduções. Muito embora ela não seja meramente reprodutora de tais relações, acaba por refletir as tramas sociais existentes no espaço macro da sociedade.

É oportuno dizer que o racismo tem que ser combatido desde a primeira

infância, uma vez que é na escola que as crianças irão se deparar com as

primeiras manifestações de racismo e preconceito, trazidas do ambiente familiar e

social.

Segundo Pinho (2004), os alunos negros nem sempre ouvem calados as

provocações. Reagem para brigas e a repressão da equipe gestora recai sempre

sobre eles. Essa mesma autora constatou também que os alunos que

sempre ficavam de castigo eram os pretos e mulatos, categorias estas utilizadas

pela autora para se referir a alunos não brancos.

Por que apenas os alunos negros são punidos? Até mesmo quando

são vítimas acabam por serem considerados os responsáveis pelas agressões

sofridas. Segundo Nogueira (2007), o preconceito racial no Brasil é de

marca, ou seja, baseia-se na cor da pele, na aparência, nos traços fisionômicos

das pessoas.

Pesquisas já realizadas, como a de Cavalleiro (2000), mostram que as

diferenças de fenótipo entre negros e brancos são entendidos como desigualdades

naturais. As crianças brancas revelam situações e apresentam atitudes

preconceituosas e discriminatórias tais como: xingamentos, ofensas, brigas e

apelidos. Essas situações de discriminação são frequentes e ocorrem na

presença de professores sem que eles muitas vezes tomem atitudes,

demonstrando, assim, a necessidade de uma ação pedagógica. Os professores

percebem os conflitos, mas muitas vezes, por não saber lidar com a situação, por

falta de formação ou até por concordarem, achando normal o ato de

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discriminação, fazem com que isso aumente os preconceitos e as brigas no

espaço escolar.

As pesquisas nos mostram também que os atos citados acima acarretam

nos alunos negros a autorrejeição, bem como o desenvolvimento de uma baixa

auto- estima, ausência de reconhecimento de capacidade pessoal, rejeição ao seu

outro igual racialmente, pouca ou nenhuma participação na sala de aula,

dificuldades no processo ensino aprendizagem, entre outros.

Enfim, são infinidades de retrocessos que acabam se ocasionando devido

às atitudes preconceituosas; é bem verdade que essas têm que ser

combatidas o tempo todo e uma das maneiras é a conscientização, a valorização

do negro, o respeito. É preciso evidenciar as inúmeras contribuições que vão além

do exótico, resgatar os heróis negros, assegurar o direito à igualdade de condições

de vida e cidadania que é primordial, e esclarecer a real História. Vamos ser

quem somos: o Brasil é visto como um lugar da diversidade, lugar da

diferença, dos diferentes povos, mas as representações dessa diferença não

têm eco com os materiais didáticos tradicionais e principalmente com a

representação negra, pois aparecem somente nos dias “D.

Metodologia, resultados obtidos e discussão

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, Preconceito e

discriminação em sala de aula: Conscientização e Valorização da Diversidade a

partir do Ensino de História, ocorreu no Colégio Estadual Rio Branco- Ensino

Fundamental e Médio, na cidade de Rio Branco do Ivaí-Pr, tendo como público alvo

aproximadamente 30 alunos do 8º ano do Ensino Fundamental. Inicialmente foi

apresentado à Direção, Equipe Pedagógica, Professores e funcionários para

tomarem ciência das ações que posteriormente foram desenvolvidas no decorrer da

implementação do mesmo. A produção didática foi aplicada no 1º semestre do ano

letivo de 2017. A abordagem da problemática “preconceito e discriminação na sala

de aula” foi através da oralidade, reflexão e análise, tanto referente ao contexto

histórico como análises no âmbito geral de músicas, pequenos vídeos, discussões

entre outros. Para gerar um clima favorável às discussões da temática foram

expostas as definições dos conceitos: o que vem a ser racismo, preconceito e

discriminação, fazendo uma exemplificação clara e objetiva, ou seja, apresentação

do projeto, que se faz necessário no primeiro momento, para que os mesmos

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tenham uma interação e participação ativa do assunto em pauta e para que

posteriormente vão fazendo a identificação desses conceitos na prática cotidiana e

combatendo na desconstrução dos mesmos.

Nesse segundo momento houve a exibição de uma curta metragem em vídeo:

“O preconceito cega”, disponível no Educa tube :

https://www.youtube.com/watch?v=-M3Bf1I8N_k.

Esse vídeo serve para autocrítica e reflexão sobre os múltiplos olhares de uma

convivência em sociedade, essa muitas vezes intolerante, propicia também uma

discussão e revisão de nossas atitudes quando em determinados momentos agimos

baseados nas falsas aparências, ou seja, julgamos pela aparência que é algo

inadmissível e o preconceito, também cega, como demonstra o curta metragem.

Dando sequência, foram lançadas algumas questões para reflexão e diálogo

(conversas informais) a título “revendo minha prática”:

Quem são as pessoas que vocês buscam para conviver no dia a dia?

São aquelas que mais parecem com vocês?

Aquelas que pensam agem e gostam das mesmas coisas?

É mais fácil conviver com os iguais? Por quê?

Qual o problema em conviver com os diferentes?

Vocês concordam que as diferenças afastam as pessoas?

Concordam que é legal ser diferente? Por quê?

Apresentamos, a seguir, alguns depoimentos/falas dos estudantes referentes

ao diálogo das questões acima, solicitadas para discussões/reflexões:3

“Conviver com os diferentes nos faz crescer”.

“Eu busco conviver com as pessoas que eu me dou bem, independentemente se ela

é parecida comigo ou não”.

“Existem pessoas preconceituosas e racistas que deixam as diferenças, afastar as

pessoas uma das outras”.

“Ser diferente é uma coisa incrível, ter seu jeito único, sua própria forma de pensar,

entre muitas outras coisas”.

3 Todos os depoimentos citados neste artigo foram coletados por meio de registros em formulários

disponibilizados durante as atividades realizadas, sendo preservado o anonimato da identificação nominal dos depoentes.

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Após as reflexões e comentários sobre as questões acima, foi feita a exibição

do vídeo As aparências enganam” – Jafar, disponível no youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=VQlOJa2Pwlo

Esse material demonstra o preconceito de uma família diante de uma pessoa na sala

de espera, seguido de comentários sobre o mesmo. Preconceitos e discriminação

são construídos nos pequenos detalhes vividos no cotidiano. “Um pai que ofende

com xingamentos” do tipo: “tinha que ser negro, ou tinha que ser mulher” ensina

seus filhos a intolerância, o sexismo etc. Atitudes que os pais devem ter é conviver

com pessoas de diferentes grupos étnico-raciais e, sobretudo, ter uma postura de

vida que combata hierarquia, subordinações e desigualdades sociais. Embora seja

um assunto sério, mas tratado de uma forma descontraída, o próximo vídeo que foi

exibido retrata o preconceito espalhados se não nas atitudes nos pensamentos;

disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DAXjCuanj-g.

Realizamos em seguida uma entrevista/questionário em relação à questão

étnica, como você se autodeclara.

Após a execução da entrevista, análise dos dados obtidos e exibição dos mesmos

em gráfico, cabe enfatizar nessa entrevista que os alunos em questão apresentaram

dificuldade em relação como se autodeclarar, pois observou-se que estudantes da

pele branca dizendo ser pardos, alguns pardos dizendo ser negros e em alguns

casos negros e pardos preferiram não declarar. Numa observação mais atenta os

pardos em sua grande maioria é que realmente se reconhecerão com maior

precisão.

Dentre algumas questões solicitadas na entrevista cabe destacar:

Em relação à cor da pele, você se considera?

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Figura 1 – Gráficos sobre a cor da pele dos entrevistados

Fonte: Arquivo pessoal

Você identifica algum preconceito de ordem étnica na sociedade brasileira?

(múltiplas escolhas)

Figura 2 – Gráfico sobre depoimentos dos alunos referentes a preconceito de ordem étnica

Fonte: Arquivo pessoal

Você acredita que as formas de preconceito étnico (por cor da pele ou Estado

de origem) no Brasil...

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Figura 3 – Gráfico sobre depoimentos dos alunos referentes ao crescimento ou diminuição do preconceito étnico no Brasil

Fonte: Arquivo pessoal

Por meio da análise dos dados fica evidente que a grande maioria dos alunos

são pardos, e os mesmos percebem que há um grande preconceito de ordem étnica

contra os negros, embora acreditem que vem diminuindo de forma lenta.

Outra ação/atividade desenvolvida foi a exibição de um curta metragem, “O

xadrez das cores”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IbrY4p-nrdk.

O preconceito e o desafio da acolhida da diversidade são temas neste curta

metragem; é um filme sobre a questão do preconceito nas relações humanas entre

brancos e negros; esse envolve não somente a questão racial como também a

questão da solidão, o cuidado, ou seja, a solidariedade e a superação, valores

primordiais, por ser educativo. É um material que vale a pena ser trabalhado, uma

vez que um dos grandes desafios da atualidade para a educação é a diversidade,

sabendo que essa precisa ser reconhecida, valorizada e acima de tudo respeitada.

Esta atividade visou possibilitar uma reflexão ampla, permitindo a interação de todos

para a desconstrução do racismo, preconceito e discriminação. Atitudes

responsáveis consistem em mostrar a diversidade sendo que essa não consiste em

um fator de superioridade e nem de inferioridade, mas o contrário um fator de

complementaridade e de enriquecimento da humanidade em geral. Dar ênfase

nesse aspecto é importante para que os alunos assumam com orgulho e dignidade

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os atributos de sua diferença, vamos ser quem somos, e conscientes que fazemos a

diferença naquilo que acreditamos .

Ninguém precisa ser sentir humilhado, uma vez que a sociedade tenta nos

impor certos constrangimentos: “Tivemos na condição de escravos, mas não éramos

e nós viemos para cá, para construir esse país porque sabíamos que éramos e

somos capazes, mas nunca nos sujeitamos a aceitar tal condição; sempre lutamos

em busca de nossos direitos e permanecemos fazendo isso até a atualidade”.

Na exibição do curta metragem o “jogo do xadrez”, os alunos demonstraram

o tempo todo, indignados com a postura da personagem da “idosa branca “que

maltratava a empregada doméstica por ser negra, comentavam assim:

“Ai meu Deus isso não é possível, eu não aguentava”, ”que vontade de pegar essa

velha e falar umas verdades”.

“Na verdade a única pessoa que se importa com a idosa é ela, né professora, a

doméstica, porque os outros não esta nem ai pra ela , abandonaram”.

Diante da indignação que se fez presente durante a exibição do vídeo em

questão, os alunos visualizaram que existem situações diversas preconceituosas

que ocorrem em nossa sociedade, mas o mais importante a ser ressaltado é que

eles não se conformaram em ver a discriminação, reagiram, pondo-se no lugar e em

defesa da pessoa que estava sofrendo a discriminação, isso é uma atitude

belíssima, pois não podemos nos calar diante das injustiças.

A próxima atividade consistiu em uma dinâmica para trabalhar preconceito e

exclusão; essa proposta encontra-se disponível em:

http://www.dinamicaspassoapasso.com.br/2011/02/dinamica-paratrabalhar-

preconceito-e.html

As diversas sensações apresentadas nessa dinâmica foram:

- Sensação de curiosidade, diversão, estranheza, medo, suor, vergonha, ruindade no

sentido de que quando as pessoas procuravam se afastar, sem motivo aparente.

Citamos um depoimento do aluno X:

“Muito ruim, verem as pessoas se afastando da gente, dá uma sensação horrível”.

“Achei estranho, porque as pessoas tentavam me ajudar o tempo todo, e eu não sou

acostumado a receber ajuda”, cabe ressaltar que nesse mundo onde as pessoas

não são tão solidárias, quando são, as pessoas acham estranho, desconfiam, pois

estão inseridos em uma sociedade muitas vezes injusta , individualista e capitalista

P

o

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cada um pra si, e temos que combater esses valores distorcidos e lutar por uma

sociedade justa e solidária”.

Os educandos procuram frisar que com essa experiência, foram levados a a

refletir sobre o fato de que todos somos iguais, temos defeitos e somos falhos em

algumas de nossas atitudes, e que devemos procurar agir sempre de maneira

educada, respeitando a diversidade, e que o mais importante, que a dinâmica fez,foi

fazer com que eles revessem suas atitudes, pensar/refletir, e agir sempre com

“respeito sem gritaria”.

Como sinopse se diz que: “Tudo que é ensinado dentro de uma sala de aula

não se trata de um ato gratuito e muito menos sem repercussões, constitui tarefa

árdua, pois se está definindo rumos que a humanidade irá tomar”. Dessa maneira

proponho a Análise da letra da música “Racismo é burrice”, de Gabriel Pensador:

será distribuída a letra para discussão do conteúdo e referente à lavagem cerebral; a

música pode ser encontrada no site: http://www.vagalume.com.br/gabriel-

pensador/racismo-e-burrice-nova versao-de-lavagem-cerebral.html

Dialogando:

Vocês gostaram dessa música? Por quê?

Qual o problema social retratado nessa letra?

Segundo Gabriel porque racismo é burrice?

Porque o preconceito é uma herança cultural?

O que significa fazer uma lavagem cerebral, segundo a música? (entre outras)

Em seguida, houve confecção de cartazes, para que pudessem servir de lembrete

para as pessoas ficarem atentas à igualdade racial e ao preconceito (esses cartazes

foram expostos em murais na escola). Neste procedimento, foram providenciadas,

pela professora, cartolinas, revistas, cola e tesoura para os alunos. Dividiu-se a

turma em quatros grupos e foi solicitado aos alunos que escrevessem

frases/pensamentos nos cartazes contra o preconceito e colassem imagens

significativas que ilustrassem a igualdade de etnias. Exemplos de cartazes, entre

outros: “Que morra o preconceito e viva a união”.

Quanto à confecção de cartazes a participação foi intensa, todos colaboraram,

se dedicaram e posteriormente foi exposto para toda a escola por meio dos murais;

gratificante foi observar o empenho de todos os envolvidos, sentindo-se orgulhosos.

Destacamos mais uma vez a postura e a criticidade que os mesmos foram

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adquirindo referente às suas próprias atitudes/ações, pois aqueles que não tinham

consciência que aquela “brincadeirinha” “ piadinha” era o fruto do preconceito e

consequentemente da discriminação e os males reproduzidos, quando passaram a

entender ter ciência, suas ações mudaram, passaram a se policiar e também uns

aos outros.

A atividade seguinte foi a exibição do vídeo “Vista minha pele”, disponível em:

http://educa-tube.blogspot.com.br/2012/11/vista-minha-pele-usa-parodpara.html

Trata-se de uma paródia da realidade brasileira, para servir de material básico para

discussão sobre racismo e preconceito em sala de aula. Nessa história invertida, os

negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres

são, por exemplo, Alemanha e Inglaterra, e os países ricos são, por exemplo, África

do Sul e Moçambique. Maria é uma menina branca pobre, que estuda num colégio

particular graças à bolsa de estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira

nesta escola. A maioria de seus colegas a hostilizam, por sua cor e por sua condição

social, com exceção de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado

em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade. Maria quer ser

Miss Festa Junina da escola, mas isso requer um esforço enorme, que vai desde a

predominância da supremacia racial negra (a mídia só apresenta modelos negros

como sinônimo de beleza), a resistência de seus pais, a aversão dos colegas e a

dificuldade em vender os bilhetes para seus conhecidos, em sua maioria muito

pobres. Maria tem em Luana uma forte aliada e as duas vão se envolver numa série

de aventuras para alcançar seus objetivos. Vencer ou não o Concurso não é o

principal foco do vídeo, mas sim a disposição de Maria em enfrentar essa situação.

Ao final ela descobre que, quanto mais confia em si mesma, mais possibilidades ela

tinha de convencer outros de sua chance de vencer. Nada como "vestir a pele do

outro" para ver a real situação; esse será o foco das discussões e finalizações por

meio de produção textual.

Destaque para trechos de depoimentos dos alunos e alunas por meio das

produções textuais, em relação a esta atividade:

“Quando eu era pequena, eu tinha o cabelo curto, e algumas pessoas me

perguntavam se eu era do sexo masculino ou feminino? Ou seja, percebem que o

preconceito/ discriminação não poupa ninguém, inclusive crianças são atingidas pela

maldade e ignorância humana, se é que podemos chamar de humanos”.

“Já vi pessoas julgando, uma outra, pelo simples fato do que ela vestia”

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“Há várias pessoas que sofrem com o preconceito”.

Infelizmente, nossa sociedade marca equivocamente as pessoas, como

demonstrado nas expressões: “por ser mulher dirige mal”, “por ser homem não pode

chorar”, “por ser negro é ladrão”, “toda sogra é chata”; e essa mesma pessoa ainda

acrescenta que “preconceitos não tem cabimento”.

Seguem mais depoimentos relacionados às produções realizadas por meio da

implementação:

“Quando eu era mais nova eu praticava alguns preconceitos, mais eu não era

consciente disso, nessas aulas foi que eu aprendi que não pode existir nenhum tipo

de preconceito”.

“Os negros sofreram e sofre o racismo e o preconceito”.

“O preconceito esta em todos os lugares, algumas pessoas fazem o preconceito

consciente outros inconscientemente”.

“O preconceito é muito ruim, as pessoas agem diferente com você por causa da cor

da pele, ou por causa do cabelo”.

“Eu já fiz preconceito sem saber que era, e já vi muitas pessoas discriminando só por

causa da cor de pele, eu acredito que isso deve acabar, porque isso é uma atitude

inaceitável”.

“São os negros que carregaram o Brasil nas costas e são eles os que mais sofrem

com o preconceito e discriminação.”

“Temos que nos conscientizar, todos somos iguais, e não podemos julgar o

próximo.”

“Às vezes vejo alguns amigos discriminando uma pessoa por ela ser magra, ou

gordinha, ou por ser alta ou baixa”.

Os depoimentos citados nos levam a constatar que nossa sociedade anda

insatisfeita com o mundo, em um sentimento de que nada está bom, até mesmo em

relação as características físicas de seus semelhantes. Temos que priorizar o

respeito para com toda a diversidade. Podemos fechar os depoimentos com um

pensamento de um dos estudantes: “Não é sempre que vamos ganhar, mas

precisamos lutar”. É nisso que devemos acreditar em relação à tarefa de educar; os

objetivos aqui propostos foram alcançados, mas a luta continua, pois o processo é

lento e gradativo; as sementes foram lançadas e posteriormente iremos colher os

frutos de uma sociedade menos preconceituosa, tendo em vista que os estudantes

já começaram a rever suas atitudes e estão conscientes da mesmas.

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Contribuições do GTR

Em relação ao GTR, os professores tiveram acesso ao material produzido por

meio das atividades realizadas na plataforma do PDE, nos quais puderam refletir

sobre o preconceito e discriminação em sala de aula.

No Módulo 1 foram realizadas atividades nas quais os professores participantes

tiveram contato com o projeto de pesquisa, os quais sinalizaram com algumas

observações fundamentais referente ao papel da escola e importância do projeto

pauta visto que visa a amenização do preconceito em sala de aula e na sociedade

como um todo:

Quadro 1: Algumas observações de professores participantes do GTR

“A escola deve combater diariamente o racismo e o preconceito, pois é lá um dos lugares propícios

para se promover reflexões sobre a pluralidade e a diversidade cultural presentes na sociedade, bem

como formar cidadãos conscientes que compreendam a importância de ser respeitar a diversidade

étnico-racial”.

"A escola é um ambiente propício para mostrar aos nossos alunos que somos diferentes e que essa

diferença é enriquecedora e que por meio dessa convivência é que devemos aprender a valorizar,

respeitar o outro na sua individualidade”.

“ O racismo é um problema que está presente no cotidiano escolar, e marca profundamente as

crianças, os adolescentes e os jovens negros. Portanto, falar, discutir, entender e superar o racismo

na sala de aula numa etapa fundamental do desenvolvimento humano é indiscutivelmente papel do

professor e da escola como um todo”.

” Combater o preconceito no ambiente escolar é um grande desafio, uma vez que é o reflexo da

sociedade e muitas vezes da própria família”.

“Através da educação podemos tanto reproduzir preconceitos e discriminações quanto combatê-los.

Por que então não trabalharmos em sala de aula para modificar esta sociedade injusta na qual

vivemos? Acredito que é uma questão de opção, opção por uma educação de qualidade que passa

por justiça social”.

“ Para enfrentarmos o problema da discriminação racial em sala de aula devemos, em primeiro lugar,

repudiar sinceramente toda a forma de discriminação, de gênero, de orientação sexual, de credo,

classe social.

“ A escola hoje tem a obrigatoriedade de favorecer o respeito à diversidade, em suas relações éticas

e sociais, fomentando medidas de repúdio a toda e qualquer forma de preconceito e discriminação e

o reconhecimento de que todos são portadores de singularidades”.

Nesse segundo quadro, procuramos destacar a relevância do

desenvolvimento/implementação do projeto Preconceito e Discriminação em sala de

aula: Conscientização e Valorização da diversidade, a partir do Ensino de História.

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Quadro 2 – Depoimentos sobre a relevância do projeto implementado

“O projeto apresentado pela professora, vêm ao encontro à crescente necessidade de

conscientização da erradicação do preconceito e discriminação tão latentes em nossa sociedade”.

“A ideia de uma nova perspectiva de aguçar nos educandos o senso crítico e de uma outra imagem

sobre o negro na sociedade onde está inserido, se faz necessário que atenha para o fato de que a

inclusão dessa temática na sala de aula não pode ser encarada como uma mera obrigação imposta

pelo Estado, mais uma decisão política e pedagógica do professor, uma vez que ele não só estará

colaborando na desconstrução dos estereótipos negativos com relação aos negros, mais também

mostrando sua real importância na sociedade em que vivemos”.

“Para ultrapassar estereótipos e extinguir preconceitos, demanda-se investimento pedagógico com

ações onde os valores humanos permeiem o sentimento e atitudes de compaixão. Escolas

conteudistas deixam de lado a riqueza de "aprender para o ser", talvez esse seja o primeiro desafio a

ser vencido”.

“Um dos motivos que considero relevante e muito importante no projeto de intervenção pedagógica

apresentada pela professora no texto, é a de desconstruir a questão da democracia racial, por meio

de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, ideias e comportamentos

influenciados pela ideologia do branqueamento”.

“ “Seu projeto de pesquisa é muito relevante e significativo principalmente quando você propõe [...]

desconstruir a questão do mito da democracia racial [...]. Sabemos que no nosso país, infelizmente,

convivemos diariamente com um dos piores tipos de racismo, que é o racismo velado. Temos a falsa

sensação de que vivemos uma democracia racial o que não é verídico”.

“No meu entender a temática abordada no projeto da professora tutora Solanja é de extrema

importância para nosso trabalho como professores e professoras, especialmente na sociedade em

que vivemos onde o mito da “democracia racial”, como ela mesma coloca, e os discursos da

“meritocracia” são tão presentes e considerados por muitos como corretos. “ Essas duas concepções

historicamente construídas e disseminadas pelas elites, acabam muitas vezes por punir e penalizar

aqueles que mais sofrem com o preconceito e o racismo, o aluno e a aluna negros. Um dos primeiros

passos para acabar com essa situação, creio, seja descontruir essas duas noções pré-concebidas,

mostrando como ao longo de nossa história o negro foi excluído da sociedade, como fica

exemplificado nessa fala “(...) é possível verificar através dos registros históricos que o Estado

brasileiro adota uma série de medidas que promovem e institucionalizam a exclusão do negro no

Brasil, um processo instalado antes mesmo da Lei Áurea como é o caso da Constituição de 1824 que

proibia que os negros frequentassem uma escola” (SILVA, 2015).

“Infelizmente, sabemos que o racismo é uma questão que permeia o ambiente escolar, nesse sentido

a proposta de pesquisa é muito pertinente, pois apresenta várias atividades que visam abordar,

trabalhar e modificar essa panorâmica. Acredito que quando oportunizamos tais momentos aos

nossos alunos estamos possibilitando que eles olhem de maneira mais crítica para a realidade

circundante, e tentem modificá-la. É preciso, portanto, instrumentalizá-los para que essa prática seja

minimizada e quiçá extinta de nossa cultura.”

“O referido projeto leva os professores a ser sensibilizados o quanto se faz necessário abordar as

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questões raciais na escola, a respeito do preconceito e discriminação em sala de aula,

independentemente de religião, de cor da pele, ou de classe social, precisam conscientizar-se e

refletirem sobre suas práticas, para que de fato todos sejam tratados com igualdade, dignidade e

acima de tudo com respeito. Conclui-se, portanto, que é indispensável à elaboração de um trabalho

que promova o respeito mútuo, a valorização e o reconhecimento das diferenças, com isso, cabe a

nós educadores, professores, e demais profissionais da educação, lutar por práticas para que de fato

a Lei 10639/03 esteja presente no ambiente escolar, e para que seja promovido o pleno

desenvolvimento das crianças no que tange as questões raciais.”

“Este Projeto de Intervenção Pedagógica desenvolvido pela professora Solanja deve ser um dos

guias básicos de todo planejamento escolar, não só dos membros deste grupo, mas de todas as

instituições de ensino, visto que cabe a estas instituições e seus membros, combater este mal que

assola e degrada a dignidade humana.”

“O tema de nosso GTR é bastante significativo e nos remete a um olhar mais atento aos inúmeros

casos que atingem a sociedade. Nossa sociedade tem uma cicatriz profunda e cruel que assola

nossa história e ainda é facilmente identificada no dia a dia”.

Considerações Finais

Consideramos importante enfatizar que durante toda a implementação os

educandos estiveram atentos aos objetivos que estava sendo exposto/proposto.

Procuramos ressaltar a importância de se respeitar os diferentes modos de ser, viver

e pensar, de forma a contribuir para a formação de valores como a igualdade e a

justiça social, bem como levando-os a romper com imagens negativas forjadas por

diferentes meios de comunicação contra os negros e povos indígenas.

Nesta perspectiva, a escola ainda precisa despertar a consciência crítica do

aluno também a respeito do preconceito e discriminação em sala de aula, a partir do

fortalecimento de atitudes de aceitação e de valorização da diversidade humana,

enaltecendo a importância do pertencer, do conviver, do cooperar e contribuir para

que todas as pessoas percebam que podem construir vidas comunitárias mais

justas, mais saudáveis e satisfatórias. Por esse motivo, a relevância e importância

do processo de conscientização e valorização da diversidade. O primeiro passo, em

relação à turma envolvida neste projeto de implementação, já foi dado; cabe agora,

expandir para o conjunto da escola e posteriormente a sociedade como um todo, por

meio das ações transformadas dos estudantes, uma vez que o jovem se constitui e é

constituído por meio de múltiplas influências: a família, a escola, os amigos, a mídia,

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entre outras, e é com base nestas influências que sua identidade pode ser forjada e

problematizada.

As situações que envolvem preconceitos desmistificam sua identidade e suas

origens e, inverter isso, não é tarefa fácil, justamente porque as pessoas imersas em

uma vida cotidiana já marcada por estes estereótipos, precisam compreender que a

sociedade é formada por seres humanos diferentes, e que essas tais diferenças

devem ser respeitadas para que a vida flua. Cabe ao professor o papel de mediador,

fazendo com que essas diferenças diminuam e de preferência desapareçam; é

necessário fortalecer nossos alunos com ações positivas, trabalhar a autoestima,

cultivar a cultura da paz e da justiça social. O resgate da autoestima merece uma

atenção especial, pois desta forma os alunos têm mais facilidade em se afirmar

negros ou indígenas por conta da disseminação de atitudes de orgulho por

pertencerem a outras etnias.

Enfim, acreditamos que os objetivos propostos neste projeto PDE foram

alcançados, mas sabemos que não se pode parar por aí, pois a conscientização e

valorização da diversidade são um trabalho constante, gradativo e contínuo,

devendo ser baseado na persistência, em um processo a longo prazo, como

educadora a experiência foi muito gratificante pois por meio dessa oportunizei

reflexões, diálogos, nos quais levaram mudanças de atitudes significativa na vida de

meus estudantes, ver a concentração, a participação com motivação, entusiasmo e

interesse foi uma das situações que mais me chamou a atenção durante a

realização deste trabalho , destaco também a importância em trabalhar com

metodologia diferenciada para o ensino da Cultura afro-brasileira, para o próximo

ano letivo quero desenvolver o projeto implementado em outras turmas, pois o

mesmo deve dar continuidade ,a luta contra o preconceito e discriminação não deve

cessar a não ser quando o mesmo for extinto.

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Referências

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