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PRÁTICAS EDUCATIVAS, DIDÁTICA E O ENSINO DA HISTÓRIA: UMA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS SÉRIES INICIAIS Karla Colares Vasconcelos Universidade Federal do Ceará José Rogério Santana Instituto UFC Virtual RESUMO O presente artigo propõe apresentar uma discussão teórica sobre a questão da prática educativa, a didática e o ensino de história. O objetivo deste artigo é compreender como as práticas educativas, a didática e o ensino de História estão interligadas no processo de ensino e aprendizagem, levando em consideração a práxis do professor de história nas séries iniciais do ensino fundamental. A metodologia utilizada para a escrita deste foi à revisão bibliográfica embasando nos autores: Libâneo (1995), Gadotti (2005), Nèlisse (1996), Martins (2011) e Vasconcelos (2014), que nos deram subsídios para argumentar sobre a prática educativa e a didática. Já sobre a discussão História, nos fundamentamos: Le Goff (2003), Lopes (2009), Chartier (1990) e Nora (1997)para discorrer sobre o tema. Vale ressaltar a contribuição da pesquisa de Vasconcelos (2014) sobre as Práticas Educativas Digitais e os Museus Virtuais, das quais se utiliza a discussão sobre o contexto das práticas educativas e o papel do historiador da educação. A reflexão tecida sobre a prática social contida nos ambientes educacionais será detalhada com aporte na prática cotidiana dos professores que lecionam a disciplina de história nas séries iniciais do ensino fundamental, tentando apresentar à dinâmica e a rotina do educador dentro de sua prática e na vivência da didática no dia a dia. Constata- se relevância social e educacional emelaborar subsídios teóricos que fomentem uma discussão sobre os fenômenos educativos, pois estão sendo propagados e muito há de se debater sobre tal tema. Palavras-Chaves: Práticas Educativas- Didática- Ensino de História Introdução A didática é uma atividade pedagógica que tem por objetivo ensinar métodos e técnicas para a possibilidade da aprendizagem do educando pelo o educador, assim, podemos considerar que a didática está diretamente ligada à educação e as suas práticas educativas. Libâneo (1995) situa que a educação como um fenômeno social universal determinando o caráter existencial e essencial do homem, ou seja, o fenômeno educativo está subordinado às relações sociais.Já por prática educativas, Vasconcelos (2014) assevera que são manifestações que se realizam em sociedades como processo da formação humana, não se limitando a escola e a família, pois vão muito além disso. Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola EdUECE- Livro 1 03722

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PRÁTICAS EDUCATIVAS, DIDÁTICA E O ENSINO DA

HISTÓRIA: UMA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E

APRENDIZAGEM NAS SÉRIES INICIAIS

Karla Colares Vasconcelos – Universidade Federal do Ceará

José Rogério Santana – Instituto UFC Virtual

RESUMO

O presente artigo propõe apresentar uma discussão teórica sobre a questão da prática

educativa, a didática e o ensino de história. O objetivo deste artigo é compreender como

as práticas educativas, a didática e o ensino de História estão interligadas no processo de

ensino e aprendizagem, levando em consideração a práxis do professor de história nas

séries iniciais do ensino fundamental. A metodologia utilizada para a escrita deste foi à

revisão bibliográfica embasando nos autores: Libâneo (1995), Gadotti (2005), Nèlisse

(1996), Martins (2011) e Vasconcelos (2014), que nos deram subsídios para argumentar

sobre a prática educativa e a didática. Já sobre a discussão História, nos

fundamentamos: Le Goff (2003), Lopes (2009), Chartier (1990) e Nora (1997)para

discorrer sobre o tema. Vale ressaltar a contribuição da pesquisa de Vasconcelos (2014)

sobre as Práticas Educativas Digitais e os Museus Virtuais, das quais se utiliza a

discussão sobre o contexto das práticas educativas e o papel do historiador da educação.

A reflexão tecida sobre a prática social contida nos ambientes educacionais será

detalhada com aporte na prática cotidiana dos professores que lecionam a disciplina de

história nas séries iniciais do ensino fundamental, tentando apresentar à dinâmica e a

rotina do educador dentro de sua prática e na vivência da didática no dia a dia. Constata-

se relevância social e educacional emelaborar subsídios teóricos que fomentem uma

discussão sobre os fenômenos educativos, pois estão sendo propagados e muito há de se

debater sobre tal tema.

Palavras-Chaves: Práticas Educativas- Didática- Ensino de História

Introdução

A didática é uma atividade pedagógica que tem por objetivo ensinar métodos e técnicas

para a possibilidade da aprendizagem do educando pelo o educador, assim, podemos

considerar que a didática está diretamente ligada à educação e as suas práticas

educativas. Libâneo (1995) situa que a educação como um fenômeno social universal

determinando o caráter existencial e essencial do homem, ou seja, o fenômeno

educativo está subordinado às relações sociais.Já por prática educativas, Vasconcelos

(2014) assevera que são manifestações que se realizam em sociedades como processo da

formação humana, não se limitando a escola e a família, pois vão muito além disso.

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Uma prática educativa acontece em diversos contextos e âmbitos humanos sobre várias

modalidades.

De acordo com Libâneo

(1995)adidáticaéumadisciplinaqueestudaoprocessodeensinonoseuconjunto

criarascondiçõeseosmodosdegarantiraosalunosumaaprendizagemsignificativa. Esse

processo ajuda ao educador nas orientações das atividades no processo de ensino e

aprendizagem, o que lhe dá apoio a segurança dentro do contexto educacional.

Essa perspectiva é vista para todas as atividades de cunho educativo, em que exista um

professor – transmissor de conhecimento, e um aluno- cidadão que exerce o ato de

aprender. A questão de que a escola deve atuar para a produção das identidades

socioculturais em seus educandos no aspecto da cidadania, em que seja necessário

ensinar o domínio de categorias e conceitos que permitam compreender e intervir no

mundo. Desta forma, o ensino de História é caracterizado como uma disciplina que

auxilia ao cidadão – estudante- a uma possibilidade de situar-se no tempo e espaço que

vive. (BERGAMASCHI, 2000).

Para o ensino da disciplina de História, como em qualquer outra disciplina lecionada,é

necessário técnicas e fundamentos específicos para que o educador esteja habilitado a

lecionar, que segundo Freitas (2010, p. 5) são:

alicerces ou base sobre as quais edificamos alguma coisa; “teoria”, a

ação (e o resultado da ação) de observar, examinar, estudar,

investigar; e o “método”, por fim, o caminho para se chegar a algum

lugar – o conhecimento produzido sobre o ensino de História.

O objetivo deste artigo é compreender como as práticas educativas, a didática e o ensino

de História estão interligadas no processo de ensino e aprendizagem. A metodologia

utilizada para a escrita deste foi à revisão bibliográfica embasando nos autores: Libâneo

(1995), Gadotti (2005), Nèlisse (1996), Martins (2011) e Vasconcelos (2014); que nos

deram subsídios para argumentar sobre a prática educativa e a didática. Já sobre a

discussão acerca da História, nos embasamos nos escritos de Le Goff (2003), Lopes

(2009), Chartier (1990) e Nora (1997)para discorrer sobre o tema. Vale ressaltar que

muito se foi embasado nos estudos da pesquisa de Vasconcelos (2014), em sua

dissertação sobre as Práticas Educativas Digitais e os Museus Virtuais, no qual iremos

utilizar a discussão realizada pela autora sobre o contexto das práticas educativas e o

papel do historiador da educação.

As práticas educativas digitais e a didática

A Educação é um fenômeno em que as relações sociais são predominantes, além de

proporcionar a sociedade meios de dominar recursos científicos e tecnológicos que

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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auxiliarão no uso das possibilidades existentes para o bem estar do homem. Sendo

assim, o fenômeno educativo é uma ação que acontece em todos os ambientes, como:

lares, –família, trabalho, rua, meios de comunicação, política, escola, indústria, igreja.

(LIBÂNEO, 2001). Podemos entender que a educação não ocorre somente dentro dos

ambientes escolares, mas, em qualquer ambiente em que o ensino e aprendizagem sejam

praticados.

A educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que

modifica os seres humanos nos seus estados físicos, mentais,

espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa existência

humana individual e grupal. (LIBÂNEO, 2001, p. 07).

O papel social da educação é a “formação” de caráter e o desenvolvimento da

personalidade social, o que temos como resultado as ideologias, morais e políticas.

Dessa forma, a educação se torna uma instituição social que zela pelas ações educativas,

constitui-se processo de transformações sucessivas no sentido histórico e social do país.

São as interrelações que afluem para a formação de traços de personalidade social e do

caráter que possibilita desenvolver o indivíduo capaz de estabelecer essas relações de

uma concepção de mundo, ideias, valores e como agir em sociedade. De acordo com o

pedagogo alemão Schmied-Kowarzik:

A educação é uma função parcial integrante da produção e reprodução

da vida social, que é determinada por meio da tarefa natural e, ao

mesmo tempo, cunhada socialmente da regeneração de sujeitos

humanos, sem os quais não existiria nenhuma práxis social. A história

do progresso social é simultaneamente também um desenvolvimento

dos indivíduos em suas capacidades espirituais e corporais e em suas

relações mútuas. A sociedade depende tanto da formação e da

evolução dos indivíduos que a constituem, quanto estes não podem se

desenvolver fora das relações sociais. (SCHMIED-KOWARZIK,

1983 apud LIBÂNEO, 2001, p.160)

A educação é entendida como um processo formativo social que varia de acordo com as

organizações política, jurídica, religiosa e os costumes de sua sociedade. Uma prática

humana e social que influência o homem enquanto cidadão no seu estado cultural,

físico,mental e espiritual; o que o configura a existência individual e grupal (LIBÂNEO,

2001).

Compreendendo a educação com um fenômeno, podemos encontrar nas ações em que

são praticadas como prática educativa, que pode ser considerada como um meio eficaz

para o desenvolvimento social. Suas ações não se dão de forma isolada das relações

sociais, políticas, culturais e econômicas da sociedade. Assim, ela a prática educativa é

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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caracterizada como o conhecimento acumulado pela sociedade como processo

formativo que ocorre como necessária à atividade humana. Por conseguinte, um

fenômeno social e universal, que apresenta caráter existencial e essencial do ser

humano. Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade.

A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e

universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e

funcionamento de todas as sociedades. [...] A prática educativa não é

apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo

de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais

que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em

função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade

(LIBÂNEO, 1995, p. 16-17).

A prática educativa é originada por fim e exigência social, política e ideológica. Isto

quer dizer que a organização e a experiência comunitária, bem como o papel da

educação estão implicados nas maneiras em que as relações sociais vão assumindo pela

ação prática concreta do ser humano, veículo entre sociedade e educação. O que se

torna uma parte complementar das relações entre a sociedade.

Se levarmos pelo sentido amplo da palavra educação, podemos entender como o

processo de formação que acontece no meio social, em que cada pessoa desenvolve

habilidades para conviver dentro da sociedade. Assim, a prática educativa é realizada

através de valores, normas, e a estrutura social a qual está inserida. O fenômeno

educativo está presente nas formas sociais nas ações práticas e concretas que o ser

humano desenvolve. A prática educativa, contudo, está diretamente interligada com as

dinâmicas sociais.

Libâneo (2001, p. 3) define que a educação é “Um dos fenômenos mais significativos

dos processos sociais contemporâneos é a ampliação do conceito de educação e a

diversidade das atividades educativas”. Através da fala do autor, podemos entender que

as práticas educativas estão presentes em vários contextos da sociedade atual, seja ela

dentro de casa, na escola e outros ambientes sociais.

Dessa maneira, compreendemos que a educação é um dos requisitos básicos para que o

cidadão possa ter acesso à convivência em sociedade, Gadotti (2005, p. 1) complementa

essa ideia afirmando que “ela é um direito de todo ser humano como condição

necessária para ele usufruir de outros direitos constituídos numa sociedade

democrática.” A questão educativa aparece também no relatório da Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(UNESCO) para o século XXI

como uma prática que deve ser consciente e ativa, nesse documento, encontramos que a

educação não deve ficar restrita aos espaços e tempos de ambientes da educação voltada

para as instituições escolares. E ainda, faz alusão às sociedades da informação, que

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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impõem aos sistemas educativos adaptarem-se às novas dinâmicas e modos de

socialização.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB9394/96), no artigo 1º,

encontramos que a Educação é um direito de todos, em que pode se efetivar nos

diversos âmbitos sociais, seja nas instituições familiares, instituições escolares ou fora

das instituições tradicionais educativas. A LDB quando define a educação para todos,

não está restrito apenas a crianças, engloba todos aqueles que desejam ter acesso ao

ensino e as práticas educativas que encontramos no contexto educacional.

De acordo com Libâneo (2005),as práticas educativas são manifestações que se

realizam em sociedades como processo da formação humana, não se limitando a escola

e a família, vão muito além disso, pois acontecem em diversos contextos e âmbitos

humanos sobre várias modalidades. Martins (2011, p. 111) complementa essa ideia

inferindo que“os desafios da contemporaneidade direcionam, portanto, a ação em

espaços não escolares como lugar para se pensar o fenômeno educativo.”

Se a educação pode ocorrer em diversos contextos sociais, o fenômeno

educativo pode e deve ser realizado em qualquer espaço e tempo que ocorra atividades

educativas. Então, podemos considerar a Educação em Formal, ou seja, aquela que é

aplicada dentro de instituições educacionais conhecidas como padrão; e a Educação Não

Formal, que são aquelas aplicadas fora das instituições educacionais. Gadotti (2005) nos

apresenta um conceito claro da diferença entre Educação Formal e Não Formal, o autor

nos diz que:

A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada

principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma

diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas

hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com

órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação. A educação não-

formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os

programas de educação não-formal não precisam necessariamente

seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem

ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de

aprendizagem. (GADOTTI, 2005, p. 2)

Na sociedade atual, tem-se verificado a que a educação está expandindo em

todos os espaços e ambientes. A Educação Formal tem o seu espaço e tempo bem

definido e está disponível para todos. Mas, com a educação direito para todos e que se

estende ao longo da vida, a educação não-formal está ganhando mais espaços dentro e

fora dos perímetros urbano, de acordo com Gadotti (2005, p. 3) apresenta:

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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A educação não-formal estendeu-se de forma impressionante nas

últimas décadas em todo o mundo como “educação ao longo de toda a

vida” (conceito difundido pela UNESCO), englobando toda sorte de

aprendizagens para a vida, para a arte de bem viver e conviver.

Por Práticas Educativas, podemos considerar algumas definições já usadas por

teóricos que fizeram suas reflexões sobre o tema. Na concepção de Nélisse (1997) a

prática educativa é uma ação de “fazer ordenado”, ou seja, deve ser uma ação planejada,

em que cada momento contempla o seu ato feito com reflexão e crítica de cada etapa a

ser seguida.

Já Libâneo (1995) defende como sendo fenômenos sociais para o processo de

formação humana, não ficando restrito ao contexto escolar e familiar, ou seja, a ação da

prática educativa pode ser aplicada em diversas variáveis que se interrelacionam. Um

exemplo de prática educativa descrita pelo autor citado acima, foi aplicado por Paulo

Freire (2006) que usou os espaços não escolares para a alfabetização de adultos.

Considera-se as práticas educativas mais do que uma mera lição de repetição, pois

aprender significa as ações de construir, reconstruir e constatar para mudar.

Essa discussão se fez necessária para entendermos com o processo de ensino e

aprendizagem está presente no contexto social na forma de um fenômeno que apresenta

como a maneira de se estudar o conjunto de transmissão do conhecimento que é

pensado neste contexto, em que o educador se torna parte integrante deste processo. Na

concepção de Libâneo (2005) a didática se apresenta como mediação do conhecimento

entre objetivos e conteúdos dos ensinos, ele acrescenta que ela “trata dos objetivos,

condições e meios de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico-

didáticos a objetivos sócio políticos.” (LIBÂNEO, 1995, p. 2).

Diante do que expomos acima, podemos entender que a educação e os fenômenos

educativos podem, e devem, estar presentes dentro contexto da didática, para

desenvolver o processo de ensino e aprendizagem da História enquanto disciplina nas

séries iniciais.

O papel do historiador da educação

Muito se ouve falar do papel do educador como transmissor de conhecimento, mas, para

conhecer o trabalho do professor de história, torna-se interessante ser apresentado o

perfil do historiador da educação – muitas vezes figura que está presente em sala de aula

mediando o conhecimento- para verificarmos como a figura do educador e historiador,

também professor, faz-se presente neste contexto atual.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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Para compreender o fator histórico na concepção da evolução do pensamento que se

desenha a historiografia atual, encontramos na Escola dos Annales- designa uma linha

de análise histórica que busca uma história total, na qual a vida dos grupos humano no

âmbito social, política, econômica sejamcaptadas e escritas (LOPES, 2009, p.74) -o

ponto de partida para as discussões sobre a proposta da história atual, o que serviu de

base para outras correntes historiográficas seguissem seus passos. A Escola de Annales

percebe a história como ciências em construção, por isso, a coloca aberta a novas

perspectivas nas suas abordagens:

[...] dos Annales, repousa sua novidade em três processos: novos

problemas põem em causa a própria história; novas contribuições

modificam, enriquecem, transformam os setores tradicionais da

história; novos objetos aparecem no campo epistemológico da história

(LOPES, 2009, p. 27).

Nessa perspectiva, temos a consciência de que os historiadores da educação observam

uma crescente mudança nas fontes historiográficas dentro dos ambientes virtuais, e

encontramos nos museus, hospedados na web, um local propício de pesquisa e práticas

educativas. De acordo com Le Goff e Nora (1977) as “novas tendências”

historiográficas não devem ficar presas apenas ao passado, à história é “feita” de acordo

com a necessidade do presente, ou seja:

[...] o essencial não é sonhar, hoje, com um prestígio de ontem ou de

amanhã. É saber fazer a história de que temos hoje necessidade.

Ciências do domínio do passado e da consciência do tempo, deve

ainda definir-se como ciência da mudança, da transformação

(LOPES, 2009, p. 28).

Martins (2011) apresenta que escola de Annales ajudou na construção do percurso

histórico das demais correntes historiográficas, então na perspectiva da História Cultural

encontramos que:

A valorização de uma história das representações, do imaginário

social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo presente

promoveu uma reavaliação das relações entre história e memória e

permitiu aos historiadores repensar as relações entre passado e

presente e definir para a história do tempo presente o estudo dos usos

do passado. (FERREIRA 2002 apudMARTINS, 2011, p. 35).

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103728

Segundo Chartier (1990) podemos encontrar na História Cultural diferentes lugares e

momentos de uma realidade social, que é construída, pensada, dada a ler. Portanto, ao

voltar-se para a vida social, esse campo pode tomar por objeto as formas e os motivos

das suas representações e pensá-las como análise do trabalho de representação das

classificações e das exclusões que constituem as configurações sociais e conceituais de

um tempo ou de um espaço, e assim, podemos encontrar as práticas culturais digitais.

Completando essa ideia, Martins (2011, p.37) nos fala que:

Seja qual for o período histórico, o homem sempre será em sua

essência um “ser social” inserido em redes de comunicação

caracterizadas no decorrer da História pelos seus artefatos culturais

que mediam as relações, construções e representações humanas.

Estudar sobre o papel do historiador enquanto professor e historiador da educação,

assim como conhecer as suas práticas didáticas e educativas de acordo com a

perspectiva de ensino, nos faz refletir sobre como a história é ensinada nos mais

diversos contextos. Pensar no educador como cidadão que transmite o conhecimento

nos faz refletir sobre o que Le Goff (2003) afirma no tocante a História como ciência

que define as relações a uma realidade sobre a qual se “testemunha”, se “indaga”. A

História como um relato, a narração daquele que pode dizer “eu vi, eu senti”, tornando-

se a posteriori documentos escritos como testemunha. Seguindo essa linha de

raciocínio, as fontes históricas não podem ser consideradas história e sim um artefato

que nos ajude compreender a formação do processo histórico. Assim, podemos definir

fontes históricas digitais como artefato cultural histórico digital.“O sentido de um

artefato ou de uma ferramenta é o dispositivo que seríamos obrigados a empregar para

obter o mesmo resultado se ele não tivesse sido inventado” (LEVY, 1996, p. 84). Os

artefatos, em congruência, “são a cola que mantém os homens juntos e implica o mundo

físico ao mais íntimo de sua subjetividade”. (LEVY, 1996, p. 136).

De acordo com Belting (2012) qualquer história tem alguma relevância, ela é uma

história coletiva, no qual existe algo de proeminente para a comunidade, seja ela para o

bem ou para o mal. Para o historiador da educação, as ações pedagógicas podem ser

encontradas nas discussões sobre a história, a cultura e a arte transformada em história

em nome do Estado.

Os ambientes educacionais são espaços em que encontramos possibilidades para o

historiador da educação ser educador, além de exercer a sua função de mediador do

conhecimento, pôr em prática o planejamento de ensino que traz consigo o propósito da

preparação do educando para a vida social.

O ensino de história e a sua importância didática

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103729

Dentro das instituições de educação formal, o ensino da disciplina de História nas séries

iniciais do Ensino Fundamental é caracterizado com o nome genérico de “Estudos

Sociais”. Outra característica que se observa é que a disciplina de História é ensinada

em torno das datas comemorativas, heróis e grandes feitos “contribuindo para canonizar

uma verdade, naturalizar uma narrativa, onde não cabe a multiplicidade e nem

tampouco a vida das pessoas que a estudam.” (BERGAMASCHI, 2000, p. 02). Marin e

Schmidt(2011) descreve essa canonização como “irracionalização” da História. Neste

sentindo, podemos observareducadores que encontram ensinando a História com o viés

eurocêntrico, ou seja, em que o Brasil ainda está sendo compreendido desde a

percepçãoda cultura europeia. Isto retira a exclusão de competências como a reflexão e

a combinação com a vida prática.

Mas, a cultura escolar não é passiva, de acordo com Farias (2009) ela é produtora de

conhecimento e modos próprio de pensar. Por isso, algumas abordagens mais recentes

passaram a serem postas em prática e o seu método de ensino tornou-se concêntricos,

em que embasa uma teoria dinâmica da criança, considerando o ensino de História

desde as relações próximas desenvolvidas pela criança até chegar ao mais distante,

tornando o conhecimento significativo. Ou seja, inicia comconteúdo mais concretos,

como a família, até ser contemplado o ensino das relações mundiais.

O ensino de História para as crianças auxilia no desenvolvimento de indivíduos situados

no tempo e espaço em que vivem, sabendo viver em grupo e ser um sujeito que

participe e interaja das ações sociais enquanto partícipe interessado. Cainelli (2006)

apresenta que uma atividade interessante de ser trabalhada com crianças é o ato de

contar história, narrar os fatos:

Assim, pode-se perceber que ao narra a história aparecem valores e

opiniões sobre a sociedade [...] dessa forma a narrativa possibilitou

expressar valores culturais do grupo e a troca de experiências de suas

realidades, além de mapear lugares e temporalidade diversas.

(CAINELLI, 2006, p. 61).

Verificamos que a escola possibilita a aproximação do estudante com o conhecimento,

“aproxima o aluno do conhecimento científico e possibilitar que desenvolva suas

capacidades cognitivas.” (SOARES, 2011, P.3). Assim, questões emergentes sobre

como se ensinar história e a educação histórica com a sua realidade permite pensar

questões básicas como a didática do ensino de história, pois compreender o papel dessa

disciplina na educação e no cotidiano de seus estudantes,enseja emancipação, e

elaboraçãoda identidade pessoal; como duas principais ideias da reflexão didática

(MARIN,SCHMIDT, 2011).

Podemos verificar que esse exposto que citamos deu a didática na história uma nova

roupagem, novos caminhos e conhecimentos a serem ensinado em sala de aula, o que

expandiu para a análise das formas e funções do raciocínio e do conhecimento do

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103730

cotidiano histórico. Marin e Schmidt (2011, p. 15-16) apontam três pontos que são

relevantes para a didática da história, são eles:

1. A consciência não pode ser meramente equacionada como simples

conhecimento do passado- ou seja, não se deve se ensinar os fatos

do passado sem uma compreensão para se entender o futuro;

2. A consciência histórica pode ser analisada como conjunto coerente

de operações mentais que definem a peculiaridade do pensamento

histórico e a função que ele exercer na cultura humana – ou seja, a

narração histórica como um procedimento mental básico que dá

sentido ao passado com finalidade de orientar a vida prática através

do tempo; e

3. A orientação da vida através da estrutura do tempo, a didática da

história- ou seja, a aprendizagem da história faz parte da

construção da identidade nos sujeitos envolvidos no processo

educativo, e que são as operações envolvidas na construção da

consciência histórica, respaldadas no uso da razão, que asseguram

que os seres humanos, frente às mudanças, persistam nas suas

metas.

A didática da história, dessa maneira, abrange a capacidade significativa de elaborar a

identidade do cidadão e a sua relação da práxis, essas duas elaborações do cidadão

direciona para o objetivo, a lógica e a dinâmica do pensamento histórico.

Considerações finais

Podemos compreender, no que foi exposto neste artigo, que a educação é um fenômeno

social que está presente em diversas áreas do cotidiano, seja ele em instituições

educacionais ou não, o que possibilita o ensino e aprendizagem dentro das instituições

educacionais seja ela formal, não formal ou informal. A didática, desta forma, se torna

uma ferramenta que auxilia ao educador no processo de ensino e aprendizagem que

envolve a intenção de ensinar, trata dos meios, objetivos e condições para a realização

do desse processo, ligado os meios pedagógicos à representação social, cultural e

política de sua sociedade.

Para ensinar História para estudantes das séries iniciais do ensino fundamental –

as crianças- é necessário criar possibilidades de r interligar o presente com o passado, e

permitir que os vestígios do tempo e o espaço sejam percebidos, para viabilizar maior

criticidade e sentimento de pertença à sociedade, fomentando a formação construção do

cidadão consciente e atuante no seu contexto. Em relação à didática da história,

observamos que é necessário que o educador esteja relacionando a teoria à prática e

estas ao processo do conhecimento científico para que haja interação ensino e

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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aprendizagem significativa para as crianças, principalmente, das séries iniciais do

ensino fundamental.

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