PPR - Sistema de Conexão
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE MATERIAIS DENTÁRIOS E PRÓTESE
SISTEMA DE CONEXÃO
Profa. Dra. Valéria Oliveira Pagnano de Souza
2006SISTEMA DE CONEXÃO
Como já foi relatado, a Prótese Parcial Removível é dividida em sistemas (suporte,
retenção, conexão, sela e dentes artificiais e estabilização) de modo a facilitar o entendimento do
assunto, ou seja, é uma maneira didática de apresentar a PPR, sem, no entanto, haver
possibilidade de algum sistema existir ou agir sem a presença dos elementos dos outros sistemas.
Como também já foi dito, a PPR é um aparelho biomecânico bilateral, que envolve os dois lados
do arco a qual faz parte. Desta forma, sempre é necessário conectar os elementos da PPR dos dois
lados da arcada. Os elementos responsáveis por esta conexão e transmissão de forças aos
elementos suportes são chamados de conectores e fazem parte do sistema de conexão.
Os conectores são classificados em conectores maiores ou barras de união e conectores
menores. Os conectores maiores têm a função de unir os elementos da prótese, os conectores
menores têm a função de unir os elementos ao conector maior. É importante enfatizar que ambos
conectores são rígidos para realmente distribuírem uniformemente as forças mastigatórias.
No entanto, podem existir diferenças entre os conectores maiores quanto à finalidade
principal, tais como: enquanto o conector maior maxilar se destina principalmente a propiciar
suporte, o conector mandibular tem a função de promover retenção indireta. A obtenção de
retenção indireta é uma a tentativa de minimizar ou neutralizar a linha de fulcro. A linha de fulcro
é uma linha imaginária que passa pelos pilares mais posteriores da prótese e que determina um
eixo pelo qual a prótese tende a girar. Em outras palavras, o conector maior terá a função de
minimizar a movimentação da prótese provocada principalmente pela resiliência da fibromucosa,
que é mais evidente em casos de extremidades livres.
Também é necessário enfatizar que existem diversos tipos de conectores maiores que
deverão se selecionados para os determinados casos clínicos de acordo com alguns critérios que
serão abordados oportunamente.
1. CONECTORES MAIORES
É importante salientar novamente que o conector maior deverá ser obrigatoriamente
rígido para não se deformar e promover ampla distribuição de forças de modo a evitar torque aos
dentes suportes. Além da rigidez, existem outros requisitos necessários aos conectores maiores:
impedir traumatismos ao tecido gengival, desta forma deverão situar-se distante da gengiva
marginal livre cerca de 6mm (conectores maxilares) a 4mm (conectores mandibulares), cruzar a
linha média em ângulo de 900, possuir bordas arredondadas e manter contorno natural das
estruturas subjacentes.
1.1. CONECTORES MAIORES MAXILARES
1.1.1. BARRA PALATINA
É o conector maxilar mais utilizado, indicado principalmente em casos de espaços
protéticos pequenos bilaterais. A barra deve ter uma largura mínima de 8mm e espessura
suficiente para não se deformar frente às forças mastigatórias (Fig.1 e 2). Seu uso é contra-
indicado em casos de tórus palatino proeminente e inoperável.
Fig.1. Barra palatina. Fig.2. Barra palatina.
1.1.2. BARRA PALATINA ÂNTERO-POSTERIOR
É um conector que é composto por duas barras como o próprio nome indica, uma anterior
que acessa a região dos dentes anteriores e a posterior que acessa os espaços edêntulos
correspondentes aos dentes posteriores. É importante que a barra anterior tenha largura entre 6 a
8mm e que haja distância mínima de 15mm entre as duas barras (Fig.3 e 4) para evitar o acúmulo
de alimentos e incômodo ao paciente. É importante também que a barra posterior se localize
próxima ao limite palato duro-palato mole para evitar desconforto. Este conector é bastante
indicado em casos de dentes anteriores com prognóstico duvidoso ou ausentes e também em
casos de presença de tórus palatino volumoso e inoperável. Seu uso é contra-indicado em casos
Mínimo de 8 mm
de presença de palato profundo porque impede adequada adaptação da barra posterior nesta
região.
Fig.3. Barra palatina ântero-posterior. Fig.4. Barra palatina ântero-posterior.
1.1.3. BARRA PALATINA SUSPENSA
Este conector é uma modificação da barra palatina dupla. No entanto, ao contrário da
barra anterior da barra ântero-posterior que se aloja sobre os tecidos subjacentes, a barra suspensa
se aloja nas superfícies palatinas dos dentes suportes (Fig.5 e 6). Desta forma, é necessário que os
pilares tenham coroas clínicas longas para permitir este alojamento. Também o paciente deve ser
alertado em relação à importância do cuidado redobrado da higienização pelo fato de haver
recobrimento da gengiva marginal livre. As extremidades desta barra deverão sempre estar
alojadas em nichos devidamente preparados. Este conector também é indicado em casos de
dentes anteriores com prognóstico duvidoso que necessitam de estabilização, ausência de dentes
anteriores e em casos de tórus palatino volumoso e inoperável.
Seu uso também é contra-indicado em casos de presença de palato profundo porque
impede adequada adaptação da barra posterior nesta região.
15mm
Fig.5. Barra palatina suspensa. Fig.6. Barra palatina suspensa.
1.1.4. BARRA PALATINA EM FORMA DE U OU FERRADURA
Como o próprio nome indica é uma barra palatina em forma de U ou em forma de
ferradura. É fundamental que a largura desta barra também seja de no mínimo 8mm para evitar a
deflexão durante o ato mastigatório e a higienização da prótese pelo paciente (Fig.7 e 8).
Também deve ser mais ampla e menos espessa possível para não provocar desconforto ao
paciente. No entanto, muitos autores contra-indicam sua utilização devido ao fato de se alojar
sobre as rugosidades palatinas interferindo com a fonética do paciente e em casos de
extremidades livres devido à maior flexão existente. É um conector indicado em casos de dentes
anteriores com prognóstico duvidoso ou ausentes e em casos de tórus palatino volumoso e
inoperável.
dx
Fig.7. Barra palatina em forma de U. Fig.8. Barra palatina em forma de U e
presença de tórus palatino (seta).
mínimo de 8mm
1.1.5. CONECTOR PALATINO COMPLETO
É um conector indicado para casos de necessidade de suporte, ou seja, casos de
extremidades livres ou grandes espaços edêntulos. Antigamente era confeccionado somente em
metal (Fig.9), hoje em dia é composto por metal e resina, sendo denominado conector palatino
completo misto (Fig.10). A vantagem de utilizar resina é que a prótese pode ser reembasada
periodicamente, é mais leve e mais estética.
Fig.9. Conector palatino completo metálico. Fig.10. Conector palatino completo misto.
Como foi mencionado, existem alguns critérios para a seleção dos conectores maiores.
Dentre os necessários para indicação dos conectores maxilares, podem ser citados: necessidade
de suporte, presença de tórus palatino, necessidade de substituição de dentes anteriores,
estabilização dos dentes, estética, preferência do paciente (fator não determinante, mas que deve
ser levado em conta) e necessidade de retenção indireta.
1.2. CONECTORES MAIORES MANDIBULARES
1.2.1.BARRA LINGUAL
É o conector mandibular mais utilizado devido à simplicidade do desenho. Possui secção
transversal em forma de meia pêra. Para sua indicação, a distância mínima necessária entre o
assoalho da boca e a barra é de 3mm e da barra à gengiva marginal livre é de 3mm (Fig.11). É
importante que ela tenha uma largura mínima de 4mm para não sofrer flexão e que seja feito um
alívio de cera na região sob a estrutura para evitar traumatismos na mucosa subjacente que é
muito fina e susceptível a traumas (Fig.12). Desta forma, evita-se também a reabsorção óssea
nesta região e posterior perda dentária.
A barra lingual é indicada em casos em que não há necessidade de retenção indireta e
contra-indicada em casos de distância pequena entre o assoalho da boca e a gengiva marginal
livre, em casos de inserção alta de freio lingual e presença de tórus lingual volumoso e
inoperável.
Fig.11. Barra lingual. Distâncias entre a barra
e a gengiva marginal livre e o assoalho da
boca.
Fig.12. Barra lingual. Largura mínima da
barra. Alívio de cera sob a estrutura (seta).
1.2.2. BARRA LINGUAL DUPLA
A barra lingual dupla ou grampo contínuo de Kennedy é um conector constituído por uma
barra lingual inferior e uma barra superior localizada na face lingual dos dentes inferiores,
indicada quando há necessidade de retenção indireta, principalmente em casos classe I de
Kennedy. A distância mínima ente as barras deverá ser no mínimo de 3 mm para evitar impacção
alimentar e desconforto ao paciente. Também é necessário que os dentes suportes que alojam
suas extremidades tenham nichos devidamente preparados para a colocação da barra (Fig.13). A
barra lingual dupla também é contra-indicada em casos de distância pequena entre o assoalho da
boca e a gengiva marginal livre, em casos de inserção alta de freio lingual e presença de tórus
lingual volumoso e inoperável.
3mm
3mm
4mm
Quando existem diastemas há necessidade de confecção da barra lingual dupla
descontínua que não compromete a estética do paciente (Fig.14). Em casos de dentes apinhados,
a adaptação da barra superior torna-se bastante comprometida desaconselhando a sua indicação.
Fig.13. Barra lingual dupla. Extremidades
alojadas nos nichos preparados.
Fig.14. Barra lingual dupla descontínua.
1.2.3. PLACA LINGUAL
A placa lingual nada mais é que uma fusão da barras superior e inferior da barra lingual
dupla (Fig.15), indicada principalmente quando há impedimento para colocação de uma barra
lingual ou barra lingual dupla devido à distância pequena existente entre o assoalho da boca e a
gengiva marginal livre, em casos de presença de freio lingual com inserção alta ou presença de
tórus lingual volumoso e inoperável. Também permite a substituição de dentes anteriores, sendo
indicada em casos de dentes com prognóstico duvidoso ou ausentes (Fig.16). Apresenta o
inconveniente de impedir o massageamento normal dos tecidos que recobre.
Fig.15. Placa lingual. Fig.16. Barra lingual. Note a possibilidade
de substituição de dente anterior.
1.2.4. PLACA DENTAL
É um conector semelhante à placa lingual que se difere por não recobrir a gengiva
marginal, somente terço médio e cervical dos dentes suportes. Possui as mesmas indicações da
placa lingual, ou seja, casos de presença de freio lingual com inserção alta ou presença de tórus
lingual volumoso e inoperável. Também permite a substituição de dentes anteriores, sendo
indicada em casos de dentes com prognóstico duvidoso ou ausentes. Tem a vantagem de permitir
o massageamento da gengiva marginal livre, diferentemente da placa lingual.
1.2.5. BARRA SUBLINGUAL
Conector bastante utilizado na Europa, que é uma modificação da barra lingual, localizado
próximo ao assoalho bucal, sem interferir na musculatura da região. Tem uma secção transversal
em meia gota, sendo que a porção mais larga se localiza na região mais inferior, permitindo assim
maior resistência à flexão lateral quando em função. Ë indicada em casos de grandes reabsorções
alveolares devido a problemas periodontais.
1.2.6. BARRA VESTIBULAR
É um tipo de conector utilizado em casos raros, de grande inclinação dos dentes inferiores
para lingual (Fig.17) ou de presença de tórus lingual que impede a colocação de qualquer tipo de
barra na região lingual do arco mandibular. A barra vestibular deve situar-se no sulco labial, com
largura maior que a barra lingual porque se localiza num arco de maior curvatura, propiciando
maior rigidez (Fig.18).
Fig.17. Enceramento da barra vestibular.
Note a inclinação lingual dos dentes.
Fig.18. Barra vestibular. Note a largura da barra.
1.2.7. SWING-LOCK
É um conector constituído por uma placa lingual e uma barra vestibular articulada
(Fig.19), ou seja, esta barra é unida ao conector maior por uma dobradiça de um lado e fecho do
outro (Fig.20). O suporte é obtido pelos apoios nos elementos suportes, a estabilidade e
reciprocidade pela placa lingual e a retenção pelos grampos tipo barra nas superfícies vestibulares
(Fig.19).
Este conector é indicado em casos de ausência de dentes suportes, tratados
periodontalmente, mas com prognóstico duvido, dentes e tecidos moles com contornos
desfavoráveis. Seu uso é contra-indicado em casos de inserção alta de freio labial ou presença de
vestíbulo raso porque impedem a colocação da barra vestibular.
Fig.19. Swing-lock. Presença de grampos tipos
barra.
Fig.20. Swing-lock com barra vestibular com
dobradiça (a) e fecho (b) e placa lingual (c).
a
b
c
Dentre os critérios necessários para indicação dos conectores mandibulares, podem ser
citados: principalmente necessidade de suporte, presença de tórus lingual, necessidade de
substituição de dentes anteriores, estabilização dos dentes, estética, preferência do paciente (fator
não determinante, mas que deve ser levado em conta).
2. CONECTORES MENORES
São também componentes rígidos que unem os elementos da PPR (apoios) ao conector
maior que têm a função de transmitir as forças aos dentes suportes e ao restante da estrutura da
PPR. Podem ser dos seguintes tipos: interdentais, proximais ou rede de retenção (Fig.21) porque
fazem a união dos dentes artificiais e base da prótese ao conector maior.
É importante que a confecção dos conectores menores siga os seguintes princípios:
a) não devem ser posicionados em regiões convexas dos dentes para evitar desconforto ao
paciente. Desta forma, é necessário que estejam localizados nas regiões das ameias e que nestas
regiões sejam feitos alívios para evitar efeito de cunha;
b) devem cruzar os tecidos gengivais em ângulo reto;
c) deve existir espaço mínimo de 5mm entre dois conectores menores adjacentes para evitar a
impacção alimentar;
d) devem apresentar a região próxima ao conector maior mais larga do que a região que faz
contato com os dentes
e) devem contactar as superfícies axiais proximais e linguais ou palatinas chamadas planos-guia,
naturais ou preparadas para propiciar paredes paralelas entre si e com a trajetória de inserção, de
forma a individualizar a trajetória de inserção e remoção da PPR, aumentando assim a
estabilidade da prótese.
Fig.21. Conectores menores: interdental (a), proximal (b),
rede de retenção (c). Distância mínima entre eles
OBS. Apesar de não serem conectores, é importante comentar a respeito de dois componentes
da estrutura metálica: top tissular e linha de término. Nas PPRs de extremidades livres, na região
posterior às redes de retenção, são confeccionados elementos chamados top tissulares que
impedem que a estrutura de PPR se desloque, saindo de posição, durante os procedimentos de
prensagem da prótese (Fig.22 e 23).
Nas regiões em que a base de resina acrílica da PPR se une ao conector maior são
confeccionadas as linhas de término (Fig.23) que permitem melhor acabamento da resina e metal,
evitando excesso de volume de resina nesta região.
c
a 5mm b
Fig.22. Top tissular (seta). Fig.23. Linha de término(a) e top tissular (b).
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
1. Mc GIVNEY, G.P.; CASTLEBERRY, D.J. Prótese Parcial Removível de Mc Cracken. 8 ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1994.
2. ZANETTI, A.L.; LAGANÁ, D.C. Planejamento:Prótese Parcial Removível. São Paulo:
Sarvier,1996.
3. TODESCAN, R. et al. Atlas de Prótese Parcial Removível. São Paulo: Santos, 1996.
4. DAVENPORT, J.C. et al. A clinical guide to Removable Partial Denture design. 2nd. ed.,
London: British Dental Association, 2000.
5. BEZZON, O.L.; RIBEIRO, R.F.; MATTOS, M.G.C. Apostila de Prótese Parcial Removível.
FORP-USP, 1995.
a
b