PPAFO - Análise Da Relação Entre Os Níveis de Governança Corporativa, Endividamento e o...

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ANLISE DA RELAO ENTRE OS NVEIS DE GOVERNANA CORPORATIVA, ENDIVIDAMENTO E O DESEMPENHO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

COSTA, Rodrigo Silva da[footnoteRef:1] [1: Graduandos do Curso Bacharelado em Administrao do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Paraba Campus Joo Pessoa.]

LIMA JUNIOR, Luis Sandro Ferreira de1SILVA, Jucyara Gomes da1CORDEIRO, Rebeca Albuquerque[footnoteRef:2] [2: Doutoranda, Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Paraba e Orientadora da Pesquisa. E-mail: [email protected] ]

RESUMOA adoo de boas prticas de governana corporativa (GC) vem sendo cada vez mais adotadas pelas empresas de capital aberto, contribuindo para o desenvolvimento da economia e para a transparncia na gesto dos negcios. Diante desse contexto, este trabalho tem como objetivo analisar a relao entre os nveis diferenciados de GC com o endividamento e o desempenho das empresas listadas na BM&FBovespa. Para tanto, a amostra da pesquisa foi composta por todas as empresas no financeiras listadas nos nveis 1, 2 e Novo Mercado de GC, no perodo de 2010 a 2012. Para a anlise dos dados, utilizou-se tcnicas de estatstica descritivas, teste de normalidade (Kolmogorov-Smirnov), homogeneidade (Levene) e o teste paramtrico da anlise de varincia (ANOVA). Com base nos resultados obtidos, foi possvel evidenciar que no h relao entre o desempenho das empresas com os nveis de GC. Em contrapartida, no que diz respeito ao endividamento, observou-se uma relao signficativa entre a varavel alavancagem e os nveis de GC. Especificamente, percebeu-se uma diferena significativa entre as empresas listadas nos nveis 1 e 2 de GC.

PALAVRAS-CHAVE: Governana Corporativa; Estrutura de Capital; Desempenho.

ABSTRACT

The adoption of good corporate governance (CG) is being increasingly adopted by public companies, contributing to the development of economy and transparency in business management . Given this context, this paper aims to examine whether there is a relationship between the different levels of GC with debt and performance of companies listed on the BM&FBovespa . Therefore, the study sample consisted of all non-financial firms listed on levels 1, 2 and New Market of GC, in the period 2010-2012. For data analysis, we used descriptive statistical techniques, test normality (Kolmogorov-Smirnov), homogeneity (Levene) and parametric test of analysis of variance (ANOVA). Based on these results, we found that there is no relationship between performance of companies with levels of GC. In contrast, with respect to the indebtedness, there was a signficativa relationship between the leverage variable and the levels of GC. Specifically, it was noticed a significant difference between listed companies at levels 1 and 2 of GC.

KEY-WORDS: Corporate Governance; Capital Structure; Performance.1 INTRODUO

A Governana Corporativa (GC) o sistema pelo qual as organizaes so dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietrios, conselho de administrao, diretoria e rgos de controle (IBGC, 2013).No Brasil, a governana corporativa vem ganhando cada vez mais notoriedade nas esferas acadmica e empresarial. Conforme afirma Carnauba, Santos e Tumeleiro (2010), a preocupao com o tema resultado da conteno do processo inflacionrio, da maior abertura do comrcio externo e do processo de privatizao das empresas brasileiras ocorrido na dcada de 1990. De forma complementar aos incentivos citados anteriormente, Silveira (2010) aponta as importantes iniciativas institucionais e governamentais que vem contribuindo para aprimorar as prticas de governana brasileira entre as quais a aprovao da lei n 10.303/2001, conhecida com a Nova Lei das SAs; a criao dos cdigos de Governana Corporativa do Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC) e da Comisso de Valores Mobilirios (CVM); e a criao dos Nveis Diferenciados de Governana Corporativa da BM&FBovespa. Ademais, podemos inserir nesse contexto o aumento de escndalos corporativos que vem repercutindo no meio econmico e consequentemente na academia. Desta forma, a GC pode ser considerada como uma das principais temticas no que diz respeito forma como as empresas so gerenciadas e monitoradas na atualidade.Diante do crescimento da adeso das boas prticas de governana corporativa por parte das empresas de capital aberto, este estudo tem como objetivo geral analisar a relao dos nveis diferenciados de GC com o endividamento e desempenho das empresas estudadas, pois, segundo Williamson (1996) apud Silveira et al. (2008), pode-se argumentar que a prpria estrutura de capital escolhida pela empresa funciona como mecanismo complementar de GC, na medida em que o endividamento atua como fora disciplinadora, limitando a discricionariedade dos gestores.Partindo desse pressuposto, temos como objetivos especficos, demonstrar a relevncia da adoo das prticas de GC para as empresas; validar ou no a existncia de relao entre os nveis de GC com o endividamento e com o desempenho das empresas estudadas; e identificar possveis correlaes entre os nveis de GC e o endividamento das empresas com as demais variveis do estudo, como a Alavancagem Financeira (ALAV), o Retorno sobre o Ativo (ROA), o Retorno sobre o Patrimnio Lquido (ROE) e o Retorno Acionrio (RET). Em outras palavras, ser analisada a relao entre endividamento e GC e desempenho e GC.Esta relao entre o endividamento e os nveis diferenciados de GC adotados pelas empresas ser verificada a partir do levantamento da varivel categrica Nvel de Governana Corporativa (NGC) juntamente com a varivel quantitativa ALAV. No que diz respeito relao entre o desempenho e os nveis diferenciados de GC, ser utilizado o NGC com as demais variveis do estudo que so o ROA, ROE e o RET. Nesse contexto, o Cdigo de Melhores Prticas do IBGC (2013) tem como um dos princpios da GC a Responsabilidade Corporativa, onde se afirma que os agentes de governana devem zelar pela sustentabilidade das organizaes, visando sua longevidade, incorporando consideraes de ordem social e ambiental na definio dos negcios e operaes. Corroborando esta ideia, Alves (2010) ressalta que uma estrutura de governana forte aumenta a confiana dos investidores e contribui para o desenvolvimento do mercado de capitais, atraindo cada vez mais recursos para financiar os projetos relevantes para o pas.Dessa forma, este estudo traz contribuies medida que boas prticas de governana corporativa vm sendo cada vez mais adotadas pelas empresas de capital aberto, contribuindo para o desenvolvimento da economia e para a transparncia na gesto dos negcios, proporcionando assim melhorias no desempenho das empresas.

2 REFERENCIAL TERICO

2.1 A Governana Corporativa no Brasil e os Nveis da BM&FBovespa

Desde a dcada de 1980, a governana corporativa tem sido um tema de extenso debate no Brasil. A nova Lei das S.As, o Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC), a Bolsa de Valores de So Paulo (BMF), a Comisso de Valores Mobilirios (CVM) e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) buscam, desde ento, fornecer mecanismos e incentivos que favoream a adoo dessas prticas pelas empresas, beneficiando, assim, os investidores por meio de maior transparncia, tica, igualdade de direitos entre acionistas majoritrios e minoritrios, os stakeholders e o mercado, entre outros (COSTA, 2008).Conforme o IBCG (2013), a adoo dessas novas prticas de governana corporativa surgiu em um movimento iniciado nos Estados Unidos, onde os acionistas despertaram para a necessidade de novas regras que os protegessem dos abusos da diretoria executiva das empresas, da inrcia de conselhos de administrao inoperantes e das omisses das auditorias externas. Vieira et al. (2011) reforaram esse pensamento ao afirmarem que a governana tornou-se alvo de interesse das organizaes quando os empresrios se deram conta que suas prticas poderiam contribuir para resolver as divergncias entre os diretores e acionistas, geradas pela diluio da propriedade das aes.Mediante esse cenrio econmico-financeiro, no Brasil, surgiu a Governana Corporativa, que, segundo Shleifer e Vishny (1997), trata-se de um conjunto de mecanismos pelos quais os fornecedores de recursos da empresa garantem a obteno do retorno sobre seu investimento. Nesse sentido, Silveira (2010, p. 2) refora que a governana corporativa lida com o processo decisrio na alta gesto e com os relacionamentos entre os principais personagens das organizaes empresariais, notadamente executivos, conselheiros e acionistas. Por outro lado, Santos e Leal (2007) ressaltam que o conceito de governana corporativa no se restringe apenas s empresas que possuem capital aberto e so listadas em bolsa, mas se aplica a todas as empresas que buscam uma relao de transparncia e confiana com as partes com que mantm algum relacionamento.Sob essa perspectiva, Catapan (2011) explica que, em 2001, a BM&Bovespa criou o ndice de Governana Corporativa (IGC) cujo objetivo era medir o desempenho de uma carteira composta por aes de empresas que apresentem bons nveis de governana corporativa. Dessa forma, Alves (2010) enfatiza que essas instituies acreditam que a adoo de boas prticas de governana corporativa confere maior credibilidade ao mercado acionrio e facilita o acesso das companhias a fontes de financiamento mais atrativas, contribuindo para o crescimento da economia como um todo.Seguindo a mesma linha de raciocnio, Alves (2010) destaca os esforos do IBGC e da CVM na disseminao das melhores prticas de governana, em consonncia com os padres internacionais. O autor ressalta, ainda, que a Bolsa de Valores de So Paulo (BOVESPA), por sua vez, incentiva a adoo de prticas diferenciadas por meio das regras de listagem do Novo Mercado e dos Nveis 1 e 2 de Governana Corporativa. Segundo Silveira apud Costa (2008), o carter principal desses segmentos proporcionar maior direito aos acionistas e maior qualidade das informaes prestadas, de forma a ocorrer uma reduo das incertezas e do risco. Com menores riscos, as aes passam a ser mais negociadas, o que ocorre em funo dos investidores, de uma forma geral, procurarem minimizar o risco associado aos papis em que investem, para um dado retorno. A seguir, apresenta-se um quadro comparativo entre os mercados (BM&FBOVESPA, 2014):

Quadro 1 Comparativo dos nveis de governana da BOVESPA

NVEL 1NVEL 2NOVO MERCADO

% mnimo de Aes em Circulao (free float)No mnimo 25% de free flotNo mnimo 25% de free flotNo mnimo 25% de free flot

Caractersticas das aes emitidasPermite a existnciade aes ON e PNAes ON e PN (comdireitos adicionais)Somente de aesON

Conselho de AdministraoMnimo detrs membros(conformelegislao)Mnimo de cincomembros: 20%devem serindependentesMnimo de cinco membros: 20%devem serindependentes

Demonstraes Financeiras Anuaisem Padro InternacionalFacultativoUS GAAP ou IFRSUS GAAP ou IFRS

Concesso de Tag Along80% para aes ON(conformelegislao)100% para aes ONe 80% para aes PN100% para aes ON

Adoo da Cmara de Arbitragem do MercadoFacultativoObrigatrioObrigatrio

Fonte: Adaptado da BM&FBovespa (2014)

Em sntese, o conjunto das medidas governamentais e institucionais visa contribuir decisivamente para o fortalecimento do mercado de capitais brasileiro, criando um crculo virtuoso no qual a crescente proteo aos investidores os deixe mais seguros de que iro usufruir do retorno das companhias na mesma proporo dos controladores, aumentando sua disposio para pagar mais pelas aes e consequentemente diminuindo o custo de capital das empresas, permitindo assim que as companhias utilizem cada vez mais o mercado de capitais como uma real alternativa de capitalizao (SILVEIRA, 2002).

2.2 Estrutura de Capital

A estrutura de capital refere-se forma como uma empresa se financia. H duas possibilidades de financiamento. A primeira refere-se ao uso de capital prprio e a segunda diz respeito ao uso de capital de terceiros. Assaf Neto (2009, p. 442) afirma que uma empresa pode adotar a estrutura de capital que desejar, optando por maior endividamento ou maior participao de capital prprio, porm deve sempre referenciar sua avaliao pela relao risco-retorno. Seguindo esse pressuposto, Gitman (2003) assegura que as decises inadequadas de estrutura de capital podem resultar em um alto custo de capital da mesma forma que decises assertivas sobre a mesma reduzem o custo de capital e consequentemente aumentam o valor da empresa. Portanto, dever da empresa encontrar a estrutura tima de capital, que, segundo Assaf Neto (2009), consiste na proporo de recursos prprios e de terceiros que devem ser mantidos para maximizar a riqueza dos acionistas. Existem vrias opinies divergentes sobre a existncia ou no de uma estrutura tima de capital. Assaf Neto (2009) cita duas grandes linhas de pensamento: a convencional e a proposta por Modigliani e Miller. Ainda de acordo com Assaf Neto (2009), atravs da Teoria Convencional, a empresa pode definir um valor mnimo para o seu custo total de capital, encontrando assim, a estrutura tima de capital. Em resumo, esta teoria concorda que o nvel de endividamento de uma empresa pode se elevar at certo ponto, onde o custo de capital total da empresa mnimo. Pois, conforme Tristo e Dutra (2012) o capital de terceiros, se utilizado de forma correta, incorre juros mais baixos que o do patrimnio lquido se utilizado um nvel considerado timo. Por outro lado, a Teoria de Modigliani e Miller, segundo Assaf Neto (2009) admite que num mundo hipoteticamente sem impostos, o custo total de capital de uma empresa independente de sua estrutura tima de capital. Portanto, no existe uma estrutura tima de capital e o valor da empresa permanece inalterado independente da proporo de recursos prprios ou de terceiros utilizados. Essas teorias sobre estrutura de capital foram desenvolvidas em ambiente bem distinto do encontrado aqui no Brasil, o que sugere a existncia de peculiaridades nesses dois ambientes que distinguem a forma como as empresas se financiam. Em pases com economia desenvolvida, Assaf Neto (2009) cita a existncia de taxas de juros homogneas, equilbrio entre agentes econmicos superavitrios e deficitrios e instituies e instrumentos financeiros, ausncia de controles artificiais de mercado e a inexistncia de nveis de inflao relevantes. J em pases com economia em desenvolvimento, como o caso do Brasil, Brito, Corrar e Batistella (2006) destacaram como caracterstica o mercado de capitais restrito, a elevada concentrao do controle acionrio das empresas e a forte restrio de fontes de capital de terceiros de longo prazo. Nesse sentido, as empresas demonstram baixo interesse em recorrer a recursos de terceiros pelas condies adversas que encontram, e os investidores sentem-se desestimulados pelo elevado risco a que ficam expostos (CICOGNA, TONENO JNIOR e DO VALLE, 2006).Levando em considerao esses aspectos mencionados por Cicogna, Toneno e Valle (2006), cita-se o papel da Governana Corporativa na escolha da estrutura de capital das empresas de capital aberto, pois, apesar de determinadas peculiaridades encontradas, por exemplo, no mercado brasileiro, os investidores tem uma maior segurana em investir seu capital em companhias que tem, entre seus princpios, a transparncia das informaes e a prestao de contas (SILVEIRA, PERROBELI e BARROS, 2008). Ehrhardt e Brigham (2012) afirmam que o aumento da dvida das empresas de capital aberto pode dar-se em virtude dos conflitos de agncia, que ocorrem, entre outros casos, quando administradores e acionistas tem objetivos diferentes. Neste caso, a empresa pode direcionar sua estrutura de capital para o aumento da dvida a fim de limitar a atuao dos administradores impondo-lhes a terem uma maior disciplina na gesto dos recursos.Sendo assim, pressupe-se que a estrutura de capital influencia e influenciada pela adoo de boas prticas de Governana Corporativa.

2.3 Indicadores de Desempenho e Endividamento

Sabemos que a estrutura de capital ideal aquela que produz o mais alto valor para a empresa ou o mais baixo custo de capital, sendo assim, a mais benfica para os acionistas. Entretanto, os resultados esperados para os acionistas podem ser alterados por diversos fatores. Para tanto, se faz necessrio, a utilizao de tcnicas para acompanhar o desempenho econmico e financeiro das empresas que, por sua vez, mensurado atravs de ndices extrados das demonstraes financeiras (ASSAF NETO, 2009). Gitman (2003) afirma que a anlise desses ndices envolve mtodos, clculos e interpretaes de ndices financeiros para compreender, analisar e monitorar o desempenho da empresa.Neste sentido, vale ressaltar a alavancagem financeira que, conforme afirma Ross et al. (2013) consiste no quanto uma empresa se apoia nas dvidas. Sendo assim, podemos dizer que quanto maior o financiamento por meio de dvidas que uma empresa usar em sua estrutura de capital, maior ser sua alavancagem financeira. Com relao rentabilidade, Assaf Neto (2003) cita o ROA como sendo um dos mais importantes indicadores de rentabilidade de uma empresa. Pois quanto maior for o valor calculado do ROA, melhor a situao da empresa em relao ao seu desempenho operacional. H tambm o ROE que apresenta a rentabilidade sobre o capital prprio investido na empresa. E por fim, o RET que representa os ganhos ou perdas obtidas sobre um investimento em um determinado perodo de tempo. O retorno, conforme Gitman e Madura (2003), pode ser calculado de duas formas, porm a mais comum calculada pelo fluxo de caixa gerado a partir de um investimento em um dado perodo, o qual se dar em forma de lucros, dividendos ou juros. O retorno tambm pode ser obtido atravs da mudana no valor do investimento, se essa mudana for positiva podemos considerar que houve ganho de capital, aumentando assim o lucro. Caso seja negativo, o investimento sofre uma perda de capital, diminuindo, portanto o lucro. Silveira (2010) diz que empresas que adotam as boas prticas de GC tornam-se mais atraentes para os investidores, aumentando a quantidade de indivduos interessados em comprar seus papis. Com o aumento da demanda, h a reduo tanto do custo de capital prprio quanto do custo de capital de terceiros dessas companhias. Em outras palavras, o Custo Mdio Ponderado de Capital (WACC) reduzido, havendo assim um incremento no valor das companhias e uma diminuio da taxa mnima de atratividade (TMA) j que a empresa passa a executar mais projetos bem como o aumento da rentabilidade dos projetos existentes.Dessa forma, admitindo-se que boas prticas de GC contribuem para o bom desempenho das empresas, faz-se necessrio a anlise desses ndices financeiros a fim de relacionar o desempenho econmico-financeiro com adoo dessas prticas.

3 METODOLOGIA

Este estudo prope uma anlise da relao entre os nveis diferenciados de GC com o endividamento e o desempenho econmico-financeiro das empresas listadas na BM&FBovespa. Desta forma, no que tange aos objetivos, a pesquisa caracterizada como descritiva, pois segundo Cervo et al. (2007, p. 61) procura descobrir, com maior preciso possvel, a frequncia com que um fenmeno ocorre, sua relao e conexo com outros, sua natureza e suas caractersticas. Nesta perspectiva, buscou-se verificar a relao entre a varivel categrica Nvel de Governana Corporativa (NGC) e as variveis quantitativas Alavancagem Financeira (ALAV), Retorno sobre o Ativo (ROA), Retorno sobre o Patrimnio Lquido (ROE) e o Retorno Acionrio (RET). A pesquisa desenvolvida teve uma abordagem quantitativa, que se caracteriza pelo emprego da quantificao tanto nas modalidades de coleta de informaes, quanto no tratamento delas por meio de tcnicas estatsticas, desde as mais simples como percentual, mdia, desvio-padro, s mais complexas, como coeficiente de correlao, anlise de regresso, etc. Em outras palavras, o mtodo quantitativo tem a inteno de garantir a preciso dos resultados, evitar distores de anlise e interpretao, possibilitando uma margem de segurana quanto s inferncias (RICHARDSON, 2012). Os dados utilizados neste estudo referem-se s companhias com capital aberto listadas na BM&FBovespa. As informaes referentes ao nvel de GC foram extradas do site da BM&FBovespa, porm no tocante as variveis ALAV, ROE, ROA e RET, os dados foram coletados a partir do banco de dados Economtica. Portanto, considera-se que todos os dados foram obtidos de fontes secundrias. No que diz respeito ao perodo base para anlise, foram utilizados os dados do perodo compreendido entre os anos de 2010 a 2012. As definies das variveis utilizadas neste estudo so apresentadas na tabela a seguir:

Tabela 1: Detalhamento das variveis utilizadas no estudo

VARIVELSIGLAFRMULADESCRIO

Alavancagem FinanceiraALAV a dvida financeira total (emprstimos e financiamentos e debntures de curto e longo prazo, em moeda nacional e estrangeira) sobre o ativo total da empresa, no final do exerccio social (SILVEIRA; PEROBELLI; BARROS, 2008).

Retorno sobre o ativoROAMede a eficincia da empresa na gerao de lucros com seus ativos totais (GITMAN, 2003).

Retorno sobre o Patrimnio LquidoROEMensura o retorno que a empresa tem dos recursos aplicados por seus proprietrios (ASSAF NETO, 2009).

Retorno AcionrioRETCalcula o retorno sobre qualquer investimento em um determinado perodo (GITMAN, 2003).

Nvel de Governana CorporativaNGCNGC = 1Nvel 1

NGC = 2Nvel 2

NGC = 3Novo Mercado

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

A amostra da pesquisa compreendeu todas as empresas no financeiras com aes negociadas na BM&FBovespa e que se encontram em um dos seguintes nveis de GC: Nvel 1, Nvel 2 e Novo Mercado. Foram desconsideradas da amostra as empresas financeiras, por estas possurem um alto grau de alavancagem financeira. A anlise de dados foi realizada em duas etapas. Inicialmente, foram utilizadas tcnicas de estatstica descritiva a fim de verificar a frequncia das empresas estudadas nos nveis diferenciados de GC. Posteriormente, foi realizado o teste Kolmogorov-Smirnov a fim de testar a normalidade da populao, seguido pelo teste Levene, utilizado para testar a homogeneidade das varincias populacionais. A partir desses dois testes que pode-se realizar a ANOVA, que tem como objetivo verificar a existncia de uma diferena significativa entre as mdias dos grupos da amostra e possibilitar a anlise de relaes entre a varivel categrica e as variveis quantitativas. Dessa forma, as hipteses testadas foram: , as mdias populacionais dos nveis de GC e das demais variveis so estatisticamente iguais; e a , as mdias populacionais dos nveis de GC e das demais variveis no so estatisticamente iguais. Aceitado a hiptese alternativa (), realizou-se o teste post-hoc Tukey a fim de identificar quais grupos da amostra apresentam pares de mdias diferentes.Para operacionalizao desses testes e anlises foram utilizados os softwares Excel verso 2010 e Statistical Package for the Social (SPSS) verso 18.

4 ANLISE DOS RESULTADOS

Uma vez coletados, os dados e as informaes devero ser analisadas, visando soluo do problema de pesquisa proposto, o alcance dos objetivos propostos, bem como utilizados para se testar as hipteses anunciadas (MARTINS, 1994). Portanto, esta etapa do estudo consiste em apresentar as anlises realizadas e os resultados obtidos aps a utilizao da estatstica descritiva, bem como os testes de relaes.

4.1 Anlise Exploratria

A amostra foi composta por todas as empresas no financeiras com aes negociadas na BM&FBovespa entre os anos de 2010 a 2012. Para tanto, foram realizadas 561 observaes para cada uma das seguintes variveis NGC, ALAV, ROA e ROE, e 356 observaes para o RET. Dentre as variveis estudadas, podemos verificar, por exemplo, que o RET apresenta o maior desvio padro, sendo este de 2,16 e a maior varincia, sendo esta de 4,67. As demais informaes podem ser conferidas na tabela 2, abaixo:

Tabela 2: Estatstica Descritiva das Variveis estudadas

VariveisNmero de observaesMnimoMximoMdiaDesvio-PadroCoef. Variao

Nvel561132,290,890,79

Retorno356-22,006,70-0,162,164,67

Alavancagem5610,000,710,290,160,02

ROA561-0,820,490,040,080,01

ROE561-3,175,200,090,380,15

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Os dados relativos aos indicadores mencionados foram tabulados, com o intuito de verificar empiricamente a existncia de relao entre o nvel de GC com o endividamento e o desempenho das empresas que integram os trs segmentos de Governana Corporativa da BM&FBOVESPA.

4.2 Testes de Relaes

Sendo o principal objetivo do trabalho verificar a relao entre a varivel categrica NGC com as demais variveis de endividamento e desempenho, foram levantadas duas hipteses a serem testadas a partir da Anlise da Varincia (ANOVA): : as mdias populacionais dos nveis de GC e das demais variveis so estatisticamente iguais, e : as mdias populacionais dos nveis de GC e das demais variveis no so estatisticamente iguais. No entanto, antes de proceder com a ANOVA, que tem por objetivo testar a igualdade entre as mdias, testou-se a normalidade da distribuio das variveis, bem como a homogeneidade das varincias. A tabela 3 apresenta o resultado do Teste Kolmogorov-Smirnov, utilizado para testar a normalidade da populao.

Tabela 3: Teste de Normalidade (Kolmogorov-Smirnov)

NVEISNMERO DE OBSERVAESP-VALUEDECISOCONCLUSO

RET1900,000P-value0,05, aceita-se .No h diferena significativa entre as mdias obtidas do NGC com o ROA.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Pode-se verificar que o p-value calculado de todas as variveis de desempenho foi maior que o p-value adotado de 0,05. Dessa forma, aceita-se a Hiptese Nula (), pois no se verificou a existncia de diferena significativa entre as mdias dos grupos em questo. Em outras palavras, o desempenho das empresas estudadas no se diferenciam em relao aos nveis de governana corporativa. Silveira (2010) explica que melhores prticas de governana podem simplesmente ter uma correlao positiva com melhor desempenho devido a outros fatores (como tamanho da empresa, poder de mercado etc.), sem que um necessariamente impacte o outro.

4.2.2 Nvel de Governana e Endividamento

Realizou-se uma anlise da varincia entre a varivel categrica NGC juntamente com a varivel de endividamento ALAV, e os resultados esto expostos na tabela 6, logo abaixo:

Tabela 6: Teste estatstico ANOVA para o endividamento das empresas.

VARIVELP-VALUEDECISOCONCLUSO

ALAV0,034P-value