Powerpoint 6 Modernidade E HiperestíMulo

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A literatura e a invenção da vida moderna

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A literatura e a invenção da vida moderna

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“Entre mim e a vida há um vidro tênue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar”

(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)(escrito entre 1929 e 1935)

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Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo de qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos. - O que aconteceu comigo? - pensou. Não era um sonho. Seu quarto, um autêntico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas.

(Franz Kafka, A metamorfose, 1915)

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mansirangepisandoJames Joyce, Ulisses, 1922Traduzido por Antônio Houaiss

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A montanha mágica(Thomas Mann, 1924)

• Às vezes apontado como um livro sem enredo, a obra trata da história de um jovem engenheiro naval alemão, de Hamburgo, chamado Hans Castorp. Ele visita o primo Joachim Ziemssen num sanatório destinado ao tratamento de doenças respiratórias localizado em Davos, nos Alpes suíços, pouco antes do começo da Primeira Guerra Mundial. Apesar de ser encaminhado ao sanatório apenas para uma visita e para tratar uma anemia, Hans Castorp vai aos poucos mostrando sinais de que tem tuberculose e acaba estendendo sua visita ao sanatório por meses e anos, pois sua saída é sempre adiada por causa da doença.

• Nesse período, Castorp, pouco a pouco, afasta-se da vida “na planície” e conquista o que chama de liberdade da vida normal. Desliga-se do tempo, da carreira e da família e é atraído pela doença, pela introspecção e pela morte. Ao mesmo tempo, amadurece e trava contato mais profundo com a política, a arte, a cultura, a religião, a filosofia, a fragilidade humana (incluindo a morte e o suicídio), o caráter subjetivo do tempo (um dos temas mais importantes da obra) e o amor.

• O sanatório forma um microcosmo europeu. Os numerosos personagens do livro, muitos com descrições e reflexões detalhadas, são representações de tendências e pensamentos que predominavam na europa do pré-guerra. Em particular os personagens Lodovico Settembrini (humanista e enciclopedista) e Leo Naphta (um jesuíta totalitário) representam o contraste entre idéias liberais e conservadoras, respectivamente. A subjetividade do tempo abordada por Mann reflete-se na estrutura do livro.

• A narrativa é ordenada cronologicamente, mas acelera ao longo do romance. Desse modo, os primeiros cinco capítulos relatam apenas o primeiro dos anos de Castorp no sanatório, em grande detalhe. Os restantes seis anos, marcados pela monotonia e pela rotina, são descritos nos últimos dois capítulos. Essa assimetria corresponde à própria percepção distorcida de Castorp quanto à passagem do tempo.

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Mrs. Dalloway (Virginia Woolf, 1925)

"Tinha de ir andando, disse ele, erguendo-se.Mas parou, como se fosse dizer alguma coisa; e ela indagava consigo qual a causa.Pois não estavam ali as rosas?(...)Há uma dignidade nas pessoas; uma solidão; até entre marido e mulher, um abismo; mas que se devia respeitar, pensou Clarissa, vendo-o abrir a porta; pois não se podia renunciar a isto, ou denegá-lo a um marido, contra a vontade deste, sem perder a própria independência, o respeito próprio; algo que não tem preço, em suma.(...)Mas...mas por que se sentia de súbito, por alguma coisa que não podia tinar, desesperadamente infeliz? como alguém que houvesse perdido uma pérola ou um diamante na relva e separa cuidadosamente as hastes, aqui, acolá, e busca em vão cavando afinal até as raizes, assim examinou Clarissa uma coisa e outra; não, não era por Sally Seton haver dito que Richard nunca entraria no Gabinete, por ter cérebro de segunda ordem (recordava-o agora); não, isso não lhe importava; nem por causa de Elisabeth e Doris Kilman; tudo isso eram fatos. O que havia era um sentimento, algum desagradável sentimento, experimentado talvez pela manhã; alguma coisa que Piter dissera, de mistura com certa predisposição sua, no quarto, ao tirar o chapéu; e também o que Richard dissera havia agravado aquilo...mas que dissera ele? Trouxera-lhe as rosas. As suas recepções! Era aquilo! Ambos a tinham criticado, tinham zombado injustamente dela, por causa das suas recepções. Era aquilo! Era aquilo!Bem, como iria ela defender-se? Agora que sabia do que se tratava, sentia-se perfeitamente feliz."

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TABACARIA (FERNANDO PESSOA/ ÁLVARO DE CAMPOS) – TRECHOS

Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.(…)Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da ruaA fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitadaDe dentro da minha cabeça,E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.(…)Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.(…)(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

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POEMA EM LINHA RETAFernando Pessoa/ Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,Indesculpavelmente sujo,Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigoNunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humanaQue confessasse não um pecado, mas uma infâmia;Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado,Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.