POTENCIALIDADES DA UTILIZAÇÃO DE CAL HIDRATADA EM...
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______________________________ 1 Engenheiro Civil MSc. Geotecnia/Pavimentação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - LAPAV/UFRGS 2 Professor Dr. em Engenharia Civil PPGEC/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – LAPAV/UFRGS
POTENCIALIDADES DA UTILIZAÇÃO DE CAL HIDRATADA EM
CONCRETOS ASFÁLTICOS: ANÁLISE SOB O PONTO DE VISTA DE
DEFORMAÇÕES PERMANENTES
André L. Bock1, Washington P. Núñez2, Jorge A. P. Ceratti 2
Resumo
O crescente aumento do volume de tráfego, a circulação com excesso de cargas e a carência de manutenção tem
contribuído cada vez mais para a degradação prematura dos pavimentos asfálticos brasileiros. Na busca por materiais de
elevado desempenho, principalmente no que diz respeito à deformação permanente, uma alternativa que tem se mostrado
interessante é a incorporação de cal hidratada na formulação do concretos asfáltico (CA). No presente estudo são
apresentados e discutidos os resultados de uma investigação sobre a influência da qualidade da cal hidratada, no que diz
respeito ao teor de óxido de cálcio, na resistência à deformação permanente (Creep Dinâmico) de concretos asfálticos.
Foram analisados seis diferentes CA formulados com ligante convencional (CAP 50/70) e ligante modificado por
polímeros (CAP 60/85-E), primeiramente sem cal hidratada e posteriormente com a incorporação de dois distintos tipos
de cal (calcítica e dolomítica). De forma geral, a influência da cal foi mais efetiva em misturas com ligante convencional,
onde sua incorporação promoveu comportamento semelhante, ou em alguns casos, até superior ao das misturas elaboradas
com ligante modificado. Amostras sem cal acumularam deformações permanentes superiores no ensaio de creep dinâmico
às registradas em amostras com cal hidratada. A análise global dos resultados de ensaios realizados nesta pesquisa aponta
que é possível produzir misturas asfálticas de elevado desempenho e durabilidade através da incorporação de cal
hidratada, mas que a magnitude dos benefícios obtidos depende significativamente da qualidade da cal (percentual de
óxido de cálcio disponível) e do tipo de ligante utilizados em sua formulação.
Abstract
The increasing growth of traffic volume and overloading and the lack of maintenance have growingly contributed for
asphalt pavements early distress. In the search for high performance materials, mainly related to permanent deformation,
the incorporation of hydrated lime to asphalt concretes has been gaining relevance. In this study reports the results of an
investigation into the influence of hydrated lime quality in relation to calcium oxide content, resistance to permanent
deformation (dynamic creep) of asphalt concrete (CA). Were analyzed six different formulated with conventional binder
(50/70 CAP) and polymer modified binder (CAP 60/85-E), first without lime and then hydrated lime with the addition of
two different types of lime (calcite and dolomite). Overall, lime benefits were stronger when added to AC with
conventional binder. In fact, asphalt mixtures with conventional binder and calcitic lime performed even better than
mixtures with polymer-modified binder. In dynamic creep tests, specimens of AC without lime accumulated higher
permanent deformations than AC specimens with hydrated lime, regardless the type of binder. Globally, tests results point
out that asphalt mixtures with high modulus and resistance to permanent deformation may be obtained by adding hydrated
lime. However, the extent of benefits highly depends on lime quality (calcium oxide content) and type of asphalt binder
used.
INTRODUÇÃO
Ao analisar o sistema de transportes brasileiro observa-se que o mesmo é formado basicamente
por uma extensa matriz rodoviária. Apesar de o modal rodoviário ser responsável pela grande maioria
de transporte de cargas e passageiros, o setor apresenta carências históricas em termos de
infraestrutura, encontrando-se em situação crítica, tanto em qualidade quanto em quantidade.
A degradação dos pavimentos asfálticos, somada à carência de manutenção e ao crescimento do
tráfego comercial rodoviário impõe sempre mais o desafio de aumentar a vida útil dos pavimentos.
Novos materiais e novas técnicas têm sido estudados nos principais centros de pesquisa do mundo,
buscando melhorar a qualidade das misturas e atenuar o problema de degradação prematura dos
revestimentos.
Além do emprego de novas metodologias para formulação de misturas mais resistentes que
apresentam um melhor intertravamento dos agregados pétreos, utilização de ligantes asfálticos
modificados por polímeros, uma alternativa que ganhou bastante destaque na literatura internacional
é a incorporação de cal hidratada como agente melhorador de desempenho dos concretos asfálticos.
Diversas investigações laboratoriais e de campo têm mostrado que a cal pode melhorar o desempenho
das misturas asfálticas de várias maneiras.
Diversos estudos internacionais demonstram que a incorporação de cal hidratada em concretos
asfálticos, além de melhorar a adesividade agregado-ligante, aumenta a rigidez da mistura, sem
prejuízo da vida de fadiga. Hicks e Scholz (2001) afirmam que as modificações produzidas pela sua
incorporação podem acrescentar anos à vida das misturas asfálticas, contribuindo para a formação de
pavimentos que apresentarão elevado desempenho por muitos anos.
À luz da bibliografia internacional, o conjunto de benefícios resultantes da incorporação de cal
hidratada em misturas asfálticas tem como resultado a geração de um produto superior e de elevado
desempenho. No sul do Brasil a cal hidratada já é usada há algum tempo em concretos asfálticos
(CA), porém sua utilização baseava-se principalmente na proposta de emprego como como material
de enchimento (fíler) para correção granulométrica de misturas com deficiência de material fino, não
atentando-se para suas potencialidades de melhorador de desempenho, conforme relatado na
bibliografia internacional.
O fato da produção de cal hidratada no estado do Rio Grande do Sul se restringir apenas à cales
de origem dolomítica acaba restringindo de certa forma o seu emprego e o desenvolvimento de
estudos comparativos que quantificam seus benefícios na melhoria de desempenho de CA.
No presente trabalho é realizado um estudo comparativo entre a resistência à deformação
permanente (creep dinâmico) de concretos asfálticos (CA) comumente empregados no sul do país,
elaborados com ligante convencional (CAP 50/70) e ligante polimerizado (CAP 60/85-E) com e sem
incorporação de cal hidratada.
As cales utilizadas são de origem distintas, uma cal dolomítica produzida no próprio estado do
RS, e de origem calcítica produzida no estado de MG. Neste contexto, o presente trabalho se propõe
a verificar a possibilidade de produção de CA de elevado desempenho e durabilidade através da
incorporação de cal hidratada.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Pavimentos asfálticos
Nos pavimentos asfálticos submetidos a tráfego médio a elevado, o revestimento é composto por
concreto asfáltico, ou seja, uma mistura asfáltica produzida à quente e constituída de agregado graúdo,
agregado miúdo, material de enchimento (fíler) e cimento asfáltico de petróleo (CAP).
O revestimento asfáltico é a camada superior de um pavimento destinada a resistir diretamente às
ações do tráfego e transmiti-las de forma atenuada às camadas inferiores, impermeabilizar o
pavimento, além de melhorar as condições de rolamento (conforto e segurança). Seu sucesso depende
da obtenção de uma mistura com distribuição granulométrica adequada de agregados e de um teor
ideal de ligante asfáltico, de modo a proporcionar conforto e segurança ao rolamento dos veículos,
durabilidade, resistência às cargas, deformações, fraturas e desagregações, sem se tornar instável ao
tráfego e às condições climáticas.
Mecanismos de Degradação – Deformação permanente
Nas últimas décadas, os pavimentos asfálticos brasileiros têm tido seu desempenho comprometido
devido ao crescente aumento do tráfego (não apenas pelo maior número de veículos pesados, mas
também pelo aumento da capacidade de carga dos mesmos) e da circulação com excesso de cargas
(favorecida pela deficiente fiscalização e reduzido número de balanças nas rodovias). Estes fatores
juntamente com a carência de manutenção e projetos muitas vezes inadequados, que utilizam critérios
obsoletos que não englobam todas as variáveis, fazem com que os pavimentos asfálticos sejam
prejudicados expressivamente quanto à sua vida útil.
A degradação de pavimentos está associada a várias patologias, dentre elas podem ser citadas:
deformações permanentes excessivas, trincamento por fadiga, trincamento por retração térmica e
desagregação. As duas primeiras estão mais relacionadas com o tráfego atuante e a estrutura do
pavimento, enquanto que as duas últimas estão relacionadas com as características dos materiais
utilizados e as condições climáticas atuantes (SPECHT, 2004).
Abordada de forma prioritária no presente estudo, a deformação permanente é um dos defeitos
mais comuns nos pavimentos asfálticos brasileiros. Sua origem pode estar associada à deformação
plástica que ocorre nas camadas subjacentes ao revestimento asfáltico ou causada pela deformação
permanente desenvolvida na mistura asfáltica.
De acordo com Yoder & Witczak (1975), a deformação permanente pode ser definida como uma
distorção na superfície do pavimento causada pela consolidação de uma ou mais camadas do
pavimento. A norma americana ASTM D 5340 (1997) define esse defeito como uma depressão
superficial na trilha-de-roda, podendo ocorrer o levantamento das bordas ao longo da trilha, e
complementa que o aumento excessivo da deformação permanente pode provocar a ruptura da
estrutura do pavimento. A norma brasileira DNIT TER 005/2003 define como afundamento a
deformação permanente caracterizada por depressão da superfície do pavimento, acompanhada ou
não de solevamento, podendo apresentar-se sob a forma de afundamento plástico ou de consolidação.
A deformação permanente é observada em misturas asfálticas desde o início de sua utilização,
mas tornou-se cada vez mais importante após a 2ª Guerra Mundial, quando o tráfego comercial
começou a aumentar rapidamente (SOUSA, 1991). Ela ocorre quando a carga exercida pelo tráfego
sobre o revestimento asfáltico excede o seu limite plástico, portanto, gerando deformações plásticas
permanentes (Figura 1). A deformação permanente é favorecida pela aplicação de cargas em baixa
velocidade e altas temperaturas, quando o ligante asfáltico encontra-se em um estado de maior
viscosidade.
Em laboratório, diversos são os métodos de ensaio disponíveis para avaliar a resistência à
deformação permanente de misturas asfálticas. Segundo a bibliografia verificada, há principalmente
três tendências de previsão de desempenho de misturas asfálticas quanto à deformação permanente:
modelos a partir de ensaios de comportamento reológico tipo creep dinâmico, modelos desenvolvidos
a partir de resultados obtidos com equipamentos simuladores de tráfego e correlações entre tráfego e
afundamentos na trilha-de-roda. Os dois primeiros métodos são os mais comuns para quantificar a
deformação permanente acumulada sob cargas repetidas em temperatura elevada (40 a 60°C), as
correlações de campo são mais limitadas às condições de similaridade da comparação.
Figura 1: Deformação permanente em revestimento asfáltico (BERNUCCI et al., 2006)
Cal Hidratada em Misturas Asfálticas
Na década de 1970, com o agravamento dos mecanismos de degradação nos EUA em
consequência da queda geral da qualidade dos ligantes asfálticos devido à crise do petróleo, diversos
aditivos para misturas asfálticas disponíveis para limitar os danos induzidos por umidade foram
exaustivamente testados tanto em laboratório quanto em campo. Neste contexto, o emprego da cal
hidratada em concretos asfálticos experimentou um forte interesse, sendo definida como sendo o
aditivo mais eficaz para minimizar a degradação prematura dos pavimentos (HICKS, 1991).
Atualmente é comprovado cientificamente que a cal hidratada tem diversos efeitos benéficos
sobre os concretos asfálticos. A cal é vista não somente como um aditivo para prevenção de danos
causados pela umidade, mas também como um agente melhorador multifuncional, reduzindo o
envelhecimento químico do ligante asfáltico e melhorando o desempenho dos pavimentos no que diz
respeito ao trincamento por fadiga e deformação permanente.
Estudos publicados nos Estados Unidos e países da Europa demonstraram que a incorporação de
cal hidratada em concretos asfálticos, além de melhorar a adesividade agregado-ligante, aumenta a
rigidez da mistura, sem prejuízo da vida de fadiga. Além disso, Hicks e Scholz (2001) afirmam que
as modificações produzidas pela sua incorporação podem acrescentar anos à vida das misturas
asfálticas, contribuindo para a formação de pavimentos que apresentarão elevado desempenho por
muitos anos.
À luz da bibliografia internacional, o conjunto de benefícios resultantes da incorporação de cal
hidratada em misturas de CA tem como resultado a geração de um produto superior e de elevado
desempenho. No Brasil a cal hidratada já é usada há algum tempo em concretos asfálticos, mas
principalmente como como material de enchimento (fíler), poucos são os casos no qual é aproveitado
o seu potencial de melhorador de desempenho. Nos casos de emprego de cal hidratada na
pavimentação asfáltica no sul do Brasil, especificamente no estado do Rio Grande do Sul onde são
produzidas basicamente cales de origem dolomítica, as potencialidades do emprego de cales com boa
qualidade (elevados teores de óxidos e hidróxidos de cálcio) são pouco difundidos.
Em 2007 Núñez et al. verificaram que 1% de incorporação de cal com elevados teores de
Ca(OH)2 era suficiente para promover aumentos significativos no módulo de resiliência e na
resistência à tração. Aumentos no teor de cal não proporcionaram melhorias adicionais. Lutif et al.
(2007) testaram diversas formas de incorporação de cal em concretos asfálticos, misturas tratadas
com cal seca foram mais resistentes ao dano devido à umidade, resultados semelhantes, quanto a
forma de incorporação, foram obtidos por Bock et al. (2009) ao incorporar cal seca ao agregado
graúdo. De forma geral, reduções importantes na perda de adesão são observadas com a incorporação
de cal hidratada em concretos asfálticos.
De forma a comprovar os benefícios relatados pela bibliografia internacional quanto à melhoria
de desempenho de CA através da incorporação de cal hidratada, o presente estudo visa a quantificação
da influência do tipo da cal hidratada no desempenho das misturas quanto à deformação permanente
através do ensaio de Creep Dinâmico.
MATERIAIS E PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS
No presente item são apresentadas as características dos materiais empregados na pesquisa tais
como agregados minerais, cales, ligantes asfálticos e misturas asfálticas projetadas, bem como os
procedimentos laboratoriais empregados.
Programa Experimental
O programa experimental desenvolvido para atingir os objetivos da presente pesquisa consistiu
na escolha de ligantes asfálticos e agregados minerais representativos da região de desenvolvimento
da pesquisa e utilização de uma cal hidratada de boa qualidade. Após definição dos projetos de
concretos asfálticos, as amostras moldadas foram submetidas a ensaios laboratoriais de resistência à
deformação permanente (com e sem incorporação de cal hidratada).
Materiais Utilizados na Pesquisa
o Agregados minerais: Os agregados minerais utilizados neste estudo são de origem basáltica
da formação Serra Geral com massa específica real de 2829 kg/m3, índice de lamelaridade e
de desgaste à abrasão próximos a 28%;
o Cal Hidratada: Para avaliação dos efeitos da incorporação de cal hidratada foram utilizadas,
uma cal dolomítica produzida no estado do RS e uma cal calcítica do estado de MG,
apresentando respectivamente 41,3% e 71,2% de óxido de cálcio (CaO) disponível;
o Ligantes Asfálticos: Os ligantes asfálticos utilizados correspondem a um ligante
convencional (CAP 50/70) e um ligante modificado por polímeros (CAP60/85-E). As
especificações de qualidade dos materiais asfálticos foram atendidas segundo especificações
em vigor (ANP, 2005 e ANP, 2010);
o Misturas Asfálticas: A dosagem das misturas asfálticas e a moldagem das amostras,
juntamente com a obtenção dos parâmetros de dosagem Marshall (DNER – ME 043/95) foram
realizadas no LAPAV/UFRGS. A composição granulométrica da mistura foi feita de forma
a enquadrar o material próximo ao centro da faixa “C” do DNIT, com tamanho máximo de
granulares de 19mm. Nas misturas com incorporação de cal hidratada (calcítica ou dolomítica)
realizou-se a substituição, em peso, de 1% do pó-de-pedra por cal hidratada. A cal foi
adicionada na forma seca, sobre o agregado graúdo.
Figura 2: Processo de adição de cal hidratada e processo de moldagem das amostras
1) Agregado Graúdo (AG) sem cal
2) AG + Cal
3) AG + Cal misturada
4) Agregado Miúdo
5) Composição Granulométrica completa
Para caracterizar o comportamento dos concretos asfálticos projetados foram realizados, após a
dosagem Marshall das misturas, ensaios de resistência à deformação permanente (creep dinâmico) de
três misturas de CA elaborados com ligante convencional, ou seja, uma mistura de referência sem
incorporação de cal hidratada (CAP 50/70 REF), com cal calcítica (50/70 + CC) e com incorporação
de cal dolomítica (50/70 + CD), a mesma metodologia foi empregada para as misturas de CA
elaboradas com ligante polimerizado (CAP 60/85 REF, CAP 60/85 + CC, CAP 60/85 + CD),
totalizando dessa forma seis CA analisados, conforme esquema da Figura 3. O teor de cal hidratada
incorporada em todos os casos foi de 1% sobre o peso total de agregados.
Figura 3: Programa Experimental
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Conforme já descrito no decorrer do presente trabalho, uma das vantagens do emprego de cal
hidratada em misturas asfálticas é torná-las mais resistentes às deformações permanentes. Esse
“enrijecimento” da mistura pode ser avaliado através do ensaio de ensaios de módulo de resiliência
(maiores módulos indicam misturas mais rígidas, que experimentam menores deformações elásticas
e acumulam também menores deformações permanentes). Contudo, o ensaio de deformação
permanente sob cargas repetidas (Creep Dinâmico) parece mais adequado para avaliar o quanto uma
mistura é resistente ou susceptível a deformações permanentes, que no campo se manifestam na forma
de afundamentos nas trilhas de roda (ATR) e, às vezes, irregularidade longitudinal.
Ensaios de Resistência à Deformação Permanente (Creep Dinâmico)
O ensaio de Creep Dinâmico não é normalizado no Brasil, atualmente, no Laboratório de
Pavimentação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - LAPAV/UFRGS utiliza-se o seguinte
procedimento de ensaio:
o Condicionamento a 45ºC por um período mínimo de 3 horas antes do ensaio;
o O sistema de medição de deslocamentos é constituído por duas alças, cada uma com quatro
pontos de apoio na amostra, nas quais se instalam os dois LVDTs;
o Posicionado o sistema sob o pistão de aplicação de cargas, inicia-se o ensaio.
O ensaio é realizado aplicando-se um carregamento que gera pressões iguais a 0,56 MPa
(semelhantes à pressão de inflação dos pneus de um eixo padrão), com frequência de 1 Hz (Figura 4).
Ligante convencional CAP 50/70
CAP 50/70 REF
CAP 50/70 + CC
CAP 50/70 + CD
Ligante modificado CAP 60/85
CAP 60/85 REF
CAP 60/85 + CC
CAP 60/85 + CD
Concreto Asfáltico CA
Ensaios de Deformação Permanente Creep Dinâmico
Inicialmente, a amostra passa por um período de condicionamento, onde são aplicados 200 ciclos
de cargas, para acomodação do sistema e amostra. Em seguida, há um período de “descanso de
condicionamento” de 400 segundos para recuperação das deformações iniciais.
O ensaio se dá, propriamente, a partir do ciclo número 600, após essas duas etapas iniciais. O
período de carregamento para medição efetiva das deformações permanentes é de 3600 ciclos,
seguido de 900 ciclos de recuperação das deformações.
Figura 4: Esquema de ensaio Creep Dinâmico (montagem e realização de ensaio)
Figura 5: Representação gráfica dos deslocamentos durante o ensaio de Creep Dinâmico
Resultados
Após o ensaio, os dados adquiridos pelo sistema são interpretados em planilha eletrônica e são
obtidos os resultados conforme apresentado na Figura 4. Os valores de deslocamentos são obtidos em
centímetros, transformados em deformações através da divisão deste valor pela distância inicial entre
os suportes dos LVDTs (4 cm).
Os resultados de deslocamentos sofridos pelas seis misturas preparadas neste estudo são
apresentados de forma comparativa na Figura 6 a seguir.
Figura 6: Deformações obtidas para as seis misturas ensaiadas, com e sem incorporação de cal hidratada
Através de uma análise preliminar, pode se destacar alguns aspectos importantes, tais como: uma
visível distinção entre o comportamento de misturas com ligante convencional (CAP 50/70) e
misturas com ligante modificado (CAP 60/85), onde as misturas com ligante modificado apresentam
uma maior resistência à deformação.
A presença de cal hidratada nas misturas proporcionou uma melhoria na resistência das amostras
à deformação permanente, de forma mais pronunciada nas amostras com ligante convencional e
principalmente quando há incorporação de cal calcítica (CC). A seguir é realizada uma análise mais
detalhada dos resultados, onde são comparadas as deformações plásticas e deformações elásticas
sofridas pelos seis tipos de misturas de CA projetadas (Figura 7).
0.000
0.005
0.010
0.015
0.020
0.025
0.030
0.035
0.040
0.045
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Defo
rmaçã
o (
cm/c
m)
Número de Ciclos
50/70 REF
50/70 CD
50/70 CC
60/85 REF
60/85 CD
60/85 CC
Figura 7: Resultados de deformações sofridas pelas amostras com CAP 50/70 e CAP 60/85
deformações permanentes e recuperáveis
Deformações Permanentes e Deformações Recuperáveis
O comportamento quanto às deformações permanentes, conforme esperado, foi distinto entre as
amostras com ligante convencional e modificado. Como pode ser observado no gráfico da Figura 8,
amostras com ligante modificado apresentaram deformações permanentes 45% menores do que as
amostras com ligante convencional.
Figura 8: Deformações Plásticas: Percentuais de redução para misturas com ligante convencional e modificado,
com e sem incorporação de cal hidratada
Resu
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6.10E-03
2.30E-03
4.45E-03
2.43E-03
3.98E-03
2.58E-03
0.00E+00
2.00E-03
4.00E-03
6.00E-03
8.00E-03
1.00E-02
1.20E-02
Deformação Permanente Deformação Recuperável
Par
âme
tro
s d
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efo
rmaç
ão (c
m/c
m) 60/85 REF
60/85 + CC
60/85 + CD
1.11E-02
1.70E-03
7.65E-03
2.28E-03
1.09E-02
2.60E-03
0.0E+00
2.0E-03
4.0E-03
6.0E-03
8.0E-03
1.0E-02
1.2E-02
Deformação Permanente Deformação Recuperável
Par
âme
tro
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e D
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ão (c
m/c
m)
50/70 REF
50/70 + CC
50/70 + CD
Ligante Convencional Ligante Modificado
Elásticos Plásticos Recuperáveis Permanentes
50/70 REF 0.0068 0.0442 1.70E-03 1.11E-02
50/70 + CC 0.0091 0.0306 2.28E-03 7.65E-03
50/70 + CD 0.0104 0.0437 2.60E-03 1.09E-02
60/85 REF 0.0092 0.0244 2.30E-03 6.10E-03
60/85 + CC 0.0097 0.0178 2.43E-03 4.45E-03
60/85 + CD 0.0103 0.0159 2.58E-03 3.98E-03
Mistura
CA
Deslocamentos (cm) Deformações (cm/cm)
10%
20%
30%
40%
50%
45%
31%
27%
2%
35%
Ligante Convencional Ligante Modificado
CC CD CC CD
Ligante Convencionalversus
Ligante Modificado
50/70
Referência
COM incorporação de cal hidratadaSEM incorporação de cal
60/85
De
form
açõ
es
Plá
stic
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Pe
rcen
tual
de
Re
duç
ão
Referência
Ao analisar a influência da incorporação de cal hidratada, a mesma mostrou-se capaz de
proporcionar uma maior resistência à deformação permanente, com uma diminuição de 31% para
amostras com ligante convencional e 27% para misturas com ligante modificado quando da
incorporação de cal calcítica, ou seja, a cal calcítica apresentou valores idênticos para os dois tipos
de ligantes empregados. O mesmo fato não ocorre quando se analisa a influência da cal dolomítica
que mostrou-se pouco efetiva em amostras com ligante convencional (redução de 2%), porém com
ligante modificado a diminuição do percentual de deformações permanentes foi inclusive superior ao
da cal calcítica, e idêntica com a influência da cal calcítica nas amostras com ligante convencional.
O comportamento com e sem incorporação de cal hidratada quanto às deformações recuperáveis
são apresentados na Figura 9 a seguir. Ao analisar as deformações recuperáveis das amostras,
observou-se uma melhor recuperação nas amostras com ligante modificado, conforme esperado pois
é este exatamente o princípio dos ligantes modificados com polímeros elastoméricos.
Um diferencial porém foi verificado em relação a este parâmetro através da incorporação de cal
hidratada, para as amostras com ligante convencional enquanto nos parâmetros anteriormente
apresentados a cal calcítica proporcionava melhores resultados, nos valores de deformações
recuperáveis a cal dolomítica apresentou melhores resultados em comparação com a cal calcítica
(valores 19% superiores, de 34% para 53%).
Para as misturas com ligante modificado, os percentuais de melhoria da recuperação elástica
foram menos significativos, mas mantendo a mesma tendência com melhores resultados para
amostras com incorporação de cal dolomítica (12% e 6%). Tendo em vista que o ligante modificado
já apresenta um bom diferencial quanto a este parâmetro em ralação ao ligante convencional, a
incorporação de cal não foi capaz de aumentar ainda mais a sua capacidade de recuperação, que já é
elevada.
Figura 9: Deformações Recuperáveis: Percentuais de melhoria para misturas com ligante convencional e
modificado, com e sem incorporação de cal hidratada
50%
40%
30%
20%
10%
35% 34%
6%
53%
12%
Ligante Convencional Ligante Modificado
CC CD CC CDLigante Convencionalversus
Ligante Modificado
Referência
50/70
COM incorporação de cal hidratadaSEM incorporação de cal
60/85 50/70 60/85
De
form
açõ
es
Re
cup
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-P
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ual
de
Mel
hori
a
Referência
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo realizou-se uma investigação sobre a influência da incorporação de cal
hidratada na resistência à deformação permanente, através do ensaio de creep dinâmico, de concretos
asfálticos formulados com ligante convencional (CAP 50/70) e ligante modificado por polímeros
(CAP 60/85-E), primeiramente sem cal hidratada e posteriormente com a incorporação de dois
distintos tipos de cal (calcítica e dolomítica), totalizando seis misturas analisadas.
Em uma análise global da influência da incorporação de cal hidratada observou-se, neste
estudo e para os materiais e métodos aqui empregados, que a melhoria das propriedades depende
significativamente do tipo de cal utilizada e do tipo de ligante asfáltico presente na mistura.
A incorporação de cal favoreceu as misturas asfálticas tornando-as menos suscetíveis à
deformação permanente, os resultados obtidos evidenciam que a incorporação de cal tem a
capacidade de aumentar sua resistência à deformação permanente, tornando as misturas menos
deformáveis. Em amostras sem incorporação de cal, para ambos os tipos de ligante, foram registradas
deformações permanentes praticamente 30% superiores às registradas em amostras com cal calcítica;
com cal dolomítica, somente com ligante modificado estes patamares foram atingidos.
Ao considerar as deformações permanentes das amostras ensaiadas com ligante convencional
CAP 50/70, melhorias bastante significativas foram proporcionadas pela incorporação de cal
calcítica, níveis que levam as misturas próximas aos patamares alcançados pelas misturas com ligante
modificado por polímeros, tanto nos níveis de deformação permanente quanto nas deformações
recuperáveis.
Em amostras com ligante modificado CAP 60/85-E a diferença entre os dois tipos de cal foi
pouco representativa, ficando os níveis de redução de deformação permanente próximos aos
proporcionados pela cal calcítica em amostras com ligante convencional. A maior diferença
observada ficou por conta das deformações recuperáveis, onde as amostras com ligante modificado
não apresentaram diferença significativa em relação às amostras de referência (com CAP 60/85-E).
A partir da investigação realizada nesta pesquisa sobre os efeitos da incorporação de cal
hidratada em concretos asfálticos com ligante convencional e modificado foi possível verificar que é
possível formular concretos asfálticos (CA) de elevado desempenho e durabilidade, através da
incorporação de cal hidratada calcítica e dolomítica. De forma geral a incorporação de cal hidratada
favoreceu às misturas asfálticas tornando-as menos suscetíveis à deformação permanente,
configurando misturas com maior poder de recuperação das deformações sofridas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Standard Test Method for Airport
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