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Curso 79
Aula 07 – data 23/04/79 - manhã
Potência e Potencialidades
Huberto Rohden
Bem, agora vamos falar outra vez do nosso assunto do
Homem... Aqui, Rohden fala sobre alguns horários específicos de
outra palestra...
Da última vez depois da aula, alguém me perguntou sobre o
que eu tinha dito na aula - que as fotografias do sol eclipsado no
dia 19 de maio do ano 1929 provaram pela primeira vez o que
Einstein tinha dito 20 anos antes, que a luz não se propaga em
linha reta, mas em linha curva. Ninguém podia acreditar. Mas as
fotografias do sol eclipsado provaram que ele estava certo. É um
triunfo máximo de Einstein, porque ele disse 20 anos antes sem
nenhuma prova, garantiu que era assim. Que há uma curvatura na
luz, porque a luz tem peso. Se não tivesse peso não seria atraída
pelo sol. Então eu disse isso na última vez aqui e alguém me
perguntou muito judiciosamente: - se podíamos aceitar que a luz
é um objeto de intuição. O que Einstein afirmou sem provas e
depois foi provado pela fotografia que estava certo. Como é que
ele sabia antes de provas?
Então, alguém aqui perguntou se podemos aceitar que a luz
é um objeto de intuição. Eu disse e vou repetir: não. Não podemos
aceitar. Como é que Einstein sabia que a luz se propagava em
curva e não em linha reta?
Não confundam a luz física que foi fotografada. A luz física,
material, portanto, é que foi fotografada. Não confunda a luz com
as leis cósmicas. A Lei é objeto de intuição. A lei cósmica, que
não é uma coisa física, que é uma força, uma energia... E Einstein
sempre identifica Deus com a Lei. Deus, para ele é Lei e também
a Alma do Universo. A Alma do Universo e a Lei para Einstein
são a mesma coisa. E isto ele identifica com a Divindade. A
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intuição é da Lei, que obriga a luz a proceder deste modo, mas
não é a luz física que se diz a própria intuição.
Eu não expliquei bem a parte que ele me perguntou, mas
aqui o farei. A Lei sim - pode ser objeto de intuição, porque é
uma coisa inteiramente metafísica. Inteiramente invisível. E
Einstein a identifica como Deus. Deus é a Lei, ele diz. A Lei está
em todas as coisas. Deus não lançou a lei fora de si, mas Ele atua
dentro dos átomos e os átomos agem como sendo a Lei invisível.
Isto está certo. De maneira que a Lei sim - é objeto de intuição.
Quando comunicaram a Einstein que ele tinha tido razão na
sua teoria, estavam entusiasmados, Einstein disse: “não, mas é
claro que devia ser provado. A fotografia provou, mas já era certo
antes da prova.” Isto só pode dizer o intuitivo. Já era certo antes
de qualquer prova fotográfica. Os outros que são puramente
analíticos só têm certeza depois das provas, mas os gênios que são
intuitivos “a priori” e não “a posteriori” como se diz na filosofia...
Quem tem certeza “a priori”, antes de qualquer prova, já tem
certeza. Quer dizer que eles não funcionam só com os sentidos,
nem só com a inteligência. Porque a inteligência e os sentidos não
podem ter certeza sem provas. Se alguém tem absoluta certeza
sem provas é porque está atuando nele uma força que está além da
inteligência que nós chamamos “a razão”.
A razão é o nosso centro cósmico, a nossa alma, o nosso Eu,
o Deus interno, isto é a razão. Quando a razão eclode, deixa de
dormir, desperta, então nós temos intuição. Pela razão nós somos
intuitivos. Pela inteligência nós somos somente analíticos. O
grosso da humanidade não sai da análise. Não chegou às
profundezas da intuição... Que a evolução da humanidade não vai
tão depressa, vai com passos mínimos em espaços máximos. Mas
sempre há intuitivos e sempre houve em todos os tempos do
planeta homens muito intuitivos - às vezes analfabetos, às vezes
sem nenhuma erudição intelectual. Mas eles tinham apenas a
disposição de terem despertados dentro de si a razão e não apenas
a inteligência. Porque a razão é muito superior à inteligência.
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Agora vamos voltar ao nosso assunto. Vocês vão sempre
ouvir nas igrejas e nas faculdades a discussão sobre o homem.
Vocês têm que ter absoluta certeza e clareza o que pensar sobre a
natureza e a origem do homem. Não podemos nos basear em
nenhum livro. Nem no Gênesis, nem nada disto. Não vamos tratar
de livro. A filosofia não pode apoiar-se nem em livros inspirados.
Não vamos dizer nada contra eles, mas vamos depender somente
da lógica. Da lógica que é propriamente a razão - nós usamos
erradamente a palavra “lógica” atribuindo isso à inteligência.
Lógica vem de “logos”. A palavra grega “logos” quer dizer razão.
Nós só devíamos usar a palavra “lógico” quando falamos da razão
intuitiva. Mas infelizmente falamos da lógica quando se trata
apenas de uma análise intelectual. Isto é lógico... isto é lógico...
A verdadeira lógica é a intuição. É o “logos” que está
funcionando, é a razão que está funcionando. De maneira que
sobre o homem nós não podemos falar de livros, de manual...
Devemos perguntar: O que é que pode defender perante o tribunal
da razão? Do “logos”? da intuição cósmica? Isto para nós é
difícil.
A ciência, desde o século passado, com a vinda de Darwin,
modificou completamente a ideia sobre a origem do homem.
Vocês sabem... Porque desde 2000 anos todo mundo pensava que
o homem fosse creado separadamente do resto da creação. Que
ele fosse um aditamento posterior. Que toda a creação já estava
prontinha... prontinha... prontinha... e finalmente Deus se lembrou
que tinha que crear o homem. Então traçou uma linha vertical, por
assim dizer, a outra era horizontal. Traçou assim uma linha
vertical e disse: “Façamos o homem”. E quando eu estava na
teologia e disseram que esse “Façamos” (no plural) se referia às
três pessoas da Santíssima Trindade de que Moisés já sabia. Bem,
alguém tentou acreditar... Não tem nada a ver com a Trindade.
Moisés usa o plural para Deus “Elohim”, não usa o singular para
Deus, “Yavé” vem só depois. Quando ele faz a creação do mundo
e do homem, ele não usa a palavra “Yavé” que seria singular,
Deus. Ele diz sempre os “Elohim” que nós traduzimos “as forças
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creadoras”, “as potências creadoras”. Porque Deus como “Ser” é
transcendente, mas Deus como “Agir” é imanente.
Nós podemos conhecer Deus como “Agir”, mas não
podemos conhecer Deus como “Ser”. O “Ser” para nós é
absolutamente impossível conhecer. Agora, quando o “ser”
começa a “agir”, quando a essência começa a existir ou quando o
“ser” que é a essência começa a “agir” (que é a existência), então
o “ser” se chama “Elohim”, em hebraico. Os “Elohim” então são
a Divindade atuante. A Divindade como agente, não como
Divindade estática, mas a Divindade dinâmica. Não podemos usar
a palavra “Espírito Santo” porque já tem outro sentido e não
podemos lidar com isso na filosofia, isso é teologia. De maneira
que, quando veio o homem, não veio o aditamento nenhum na
creação, ele é uma das manifestações da creação total. Isto, assim
aceita, mas ele não aceita a creação, aceita só a evolução. Aqui a
linha, vamos dizer, a evolução... vamos dizer... diversas
potencialidades.
Potencialidade 1 – Mineral
Potencialidade 2 – Vegetal
Potencialidade 3 – Animal
Potencialidade 4 – Hominal
Podemos dizer assim... isto é uma linha única, quando a
essência se existencializou, a essência é isto aqui. Vamos chamar
a essência agora com outro nome: Potência. Porque vamos
chamar isto “potencialidades”, então vamos usar o mesmo nome
para “Potência”.
A “Potência” creadora.
A “Potência” que é Essência.
A “Potência” que é a Divindade.
A “Potência” que é Brahman.
A “Potência” que é Tao.
A “Potência” naturalmente se manifesta em potencialidades.
As potencialidades são a manifestação existencial, através de
tempos e espaços, da essência única.
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Podemos chamar a “Potência”, o “uno” e as potencialidades
“Verso”, segundo a nossa forma de chamar o Universo. Isto então
seria “Uno” e isto aqui é “Verso”.
O Universo é Verso e Uno.
O Uno sempre significa a essência, o infinito, o eterno, o
absoluto.
As potencialidades sempre são os derivados, os finitos, as
existencialidades, as creaturas, portanto.
Nós não podemos provar a Essência, ninguém pode provar a
Potência, ninguém pode provar a Divindade. Isso é absolutamente
impossível.
Nós temos que admitir a Potência, o Absoluto, o Ser, a
Essência como um postulado. Não me venha com a ideia para
provar a Essência, a Potência, a Divindade. Não dá - nunca
ninguém provou a Essência divina. Nunca ninguém provou nem
jamais provará, porque isto é um processo analítico que não cabe
na essência. Nós devemos admitir não como hipótese, mas como
evidência imediata, que é coisa muito diferente de hipótese. Pela
evidência imediata, devemos admitir a realidade da Essência ou
do Absoluto ou da Potência. Isto nós não podemos provar.
Ninguém se atreva a provar isso porque é bobagem.
Devemos ter o bom senso de dizer: se as potencialidades
existem é porque a Potência É. Da Potência só se deve dizer: É.
Das potencialidades se pode dizer EXISTIR. Vou fazer uma
comparação: Um engenheiro faz um encanamento de água. Ele
supõe que haja uma fonte. Se não tivesse a certeza de que há uma
fonte natural em algum lugar do mundo, ele não poderia fazer um
encanamento porque o encanamento não produz água, nem a
caixa d’água produz água. Só a natureza pode produzir fontes.
Esta fonte corresponde ao que nós chamamos postulado,
“evidência imediata”.
Quando o engenheiro se propõe a construir encanamentos,
ele não se põe uma hipótese como fonte; ele não diz “talvez exista
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uma fonte”. Sobre esse “talvez” ele não pode construir
encanamento. Poderia falhar. Mas, se ele tem absoluta certeza que
uma fonte existe e sempre existiu, então ele conta com a certeza
da fonte, mas ele não provou nada. Ele não provou a fonte, ele
supõe a fonte. Isto é o que se chama “postulado” ou “evidência
imediata”. Isto é para nós a Potência, o Ser, a Realidade, o
Absoluto, o Infinito.
Agora, depois de admitirmos como postulado, passamos
para as análises. A análise sempre um derivado, é da
potencialidade, mas não da Potência. Aqui começa a ciência. A
Ciência não se refere à Potência, não se refere ao Absoluto, não se
refere ao Ser, à Realidade. A ciência começa sempre onde começa
os derivados, a evolução.
A transição do Ser para o Existir, nós chamamos Creação. A
transição do Ser para o Existir, do Uno para o Verso portanto, a
manifestação da Potência em forma de potencialidades... isto é o
que nós chamamos evolução. E da evolução se pode fazer análise.
Aqui começa a ciência e a transição da Potência para as
potencialidades ou da Essência para as existências nós chamamos
Creação. Creação com “e”, não com “i” porque criação é outra
coisa. Na filosofia não é a mesma coisa. Na escola primária sim.
A transição da Potência para as potencialidades, da Essência
para as existências, do Absoluto para os relativos, do Infinito para
os finitos, do Creador para as creaturas, isso chamamos creação.
A continuação disto é evolução. A ciência admite somente a
evolução. A ciência não admite a creação. Não nega, mas silencia.
Porque não é objeto da ciência. A ciência só trata de coisas
relativas, de coisas derivadas, de coisas finitas, de coisas físicas.
Isso não é objeto de ciência. Isto pode ser objeto de filosofia
porque a filosofia vai muito além da ciência. A ciência começa
aqui com as facticidades, mas a filosofia diz: como é que posso
começar com coisas derivadas, se as coisas derivadas vêm de
alguma coisa que não é derivada? Como é que eu posso falar em
encanamentos se eu não sei nada da fonte? Como é que pode
haver águas nos canais se na fonte não há água?
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Então a filosofia é muito mais completa e diz: “Nós
aceitamos a ciência que são os derivados, as potencialidades, as
facticidades, as creaturas, mas queremos saber também o que é
que é anterior a estes derivados”. É claro que anterior aos
derivados é alguma coisa original. Isto é lógico. Lógico é a
harmonia do pensamento com a realidade. Quando nós exigimos
uma coisa completa e não parcial, então nós somos lógicos. Se
nós nos contentamos com uma coisa derivada como a ciência, nós
não somos muito lógicos. A ciência não é muito lógica. A ciência
é analítica, mas a lógica não é só analítica, ela é também intuitiva.
Isto é objeto da intuição. Isto é análise. Na ciência nós só tratamos
de análises intelectuais, mas se passarmos da inteligência para a
razão, a razão diz: “De onde é que vem as análises intelectuais se
não há nada antes destes derivados aqui?”
Então a razão exige o postulado da Potência, do infinito, do
Eterno. Isto é uma intuição racional; não se esqueçam de que a
razão não é intelectual. Na inteligência não tem intuições, a razão
tem intuições. Quando o homem é altamente racional, então ele se
torna intuitivo. Todos os grandes gênios são intuitivos. Os
grandes místicos são todos intuitivos. Eles têm certeza de uma
coisa que a ciência não pode provar. Nem podem provar que
existem nem podem provar que não existem. A ciência fica calada
diante da Potência. A Potência para a ciência é um “X”. A ciência
não nega propriamente a Potência, ela se cala. A ciência não é
ateísta, ela é agnóstica. Agnóstica quer dizer ignorante. Ela diz:
“eu não sei nada de uma coisa fora dos fatos. Eu trato dos fatos,
das facticidades, dos derivados, das coisas físicas, das coisas
visíveis, tangíveis, etc... isto é objeto da ciência”.
Mas se alguém quer ultrapassar a ciência e entrar no campo
da filosofia, então não basta tratar só de derivados, ele tem que
passar dos derivados para o original. É lógico. Eu só estou
falando isso para que ninguém pense que nós só aceitamos certas
coisas por crença. Não aceitamos nem por crença teológica, nem
por ciência, mas por filosofia. A filosofia vai além de todos os
fatos e vai até o postulado que não é um fato, que é uma evidência
imediata intuída pela razão intuitiva.
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Aqui estão alguns estágios de evolução:
Estágio 1 de evolução – Mineral
Estágio 2 de evolução – Vegetal
Estágio 3 de evolução – Animal
Estágio 4 de evolução – Hominal
Vamos dizer que aqui começou o homem (4). Agora se
pergunta: Se o homem é 4, de onde é que veio o 4? Dizem os
cientistas darwinistas: veio do 3. De onde veio o 3? Veio do 2. E
de onde veio o 2? Veio do 1. E de onde veio o 1? Isso, não
sabemos. Sendo que a ciência nada põe no princípio, a Potência
não existe para a ciência, então nós não podemos explicar a
presença do 1. Ele não podia vir do nada. Do nada não vem algo.
Mas se aqui no princípio não tinha nada, nada, nada, nada... então
a ciência não pode explicar de onde vem o estágio da evolução nº
1 que vamos considerar o estágio mineral. Também não pode
explicar de onde vem o 2 porque o 1 não pode produzir o 2. O
menor nunca produz o maior. O 1 não pode produzir o 2. O 2 não
pode produzir o 3 e o 3 não pode produzir o 4. Nenhuma lógica
aceita que o efeito seja maior que a causa. Nenhuma lógica aceita
isto.
O efeito não pode ser maior que a causa. Se isto é o efeito e
isto é a causa... é claro, o efeito é maior que a causa... é contra a
lógica. Então não podemos aceitar que 1 seja a causa do 2,
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também não podemos aceitar que o 2 seja a causa do 3 e que o 3
seja a causa do 4 e assim por diante. Isto é contra a lógica. E o
que é contra a lógica nós não podemos aceitar em filosofia.
Então, para aceitar logicamente o 4 nós não podemos parar
no 3. E para aceitar o 3 não podemos parar no 2. E para aceitar o
2 da evolução, nós não podemos parar no 1. Porque não há
possibilidade de que o menor produza o maior. Então, a questão
do homem começaria aqui, como é chamado estágio 4.
Bem, dizem os darwinistas que ele veio do animal (3) e este
animal veio do vegetal (2) e o vegetal veio do mineral (1). Isto é
contra a lógica, isso não podemos aceitar. Quer dizer, o 4 pode ter
fluído através do 3, isto é lógico. Pode ter fluído através do 3 e
através do 2 e através do 1, isto é lógico. Estes estágios aqui 1, 2,
3 podem funcionar como encanamentos, mas não podem
funcionar como fontes. Estão compreendendo? Esses podem
funcionar como encanamentos para o 4. Os animais, os vegetais,
os minerais podem servir de encanamentos para conduzir a
natureza humana.
Agora vocês dizem: A água que cai da torneira pelo
encanamento é da caixa d’água lá na cidade veio através da
torneira, através do encanamento, através da caixa, mas ela veio
da Fonte. “Da” indica a causa e “através” indica as condições.
Nós aceitamos que o homem veio através do animal. Não há
dúvida nenhuma que foi. O nosso corpo é praticamente o mesmo
que o dos animais, mais superiores, o que seria inexplicável se o
nosso corpo não tivesse vindo do animal. Mas é claro que veio.
Todo cientista sabe disso, todo estudante de medicina estuda o
corpo animal primeiro para depois acertar o corpo humano. Esses
estudantes que tratam cobaias e tudo isso, martirizando os pobres
animais para saber como funciona o coração, os órgãos internos.
É claro que o corpo do homem veio através do corpo animal. Mas
eles usam uma linguagem inexata e dizem “o corpo do homem
veio do animal”. Como se o animal fosse a causa do homem. Isto
pela lógica nós não aceitamos. Aceitamos que o homem veio
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através do animal. Possivelmente veio através do vegetal também
e possivelmente através do mineral. Tudo isso é aceitável.
E em formas muito primitivas o nosso corpo tem vindo
destes outros estágios milhões e milhões de anos antes, nada disto
rejeitamos... tudo isso aceitamos porque é sensato. Mas quando
chegamos aqui, no fim de todos os canais, então a ciência se cala
e diz: Donde vieram os canais, nós não sabemos. Aliás, diz a
ciência, nós não tratamos disto. Isto não é objeto da ciência. Não
vamos afirmar nem vamos negar. Se a ciência faz isto, faz muito
bem porque de fato ela não sabe. O cientista não pode falar de
Fonte. Fonte seria isso aqui: Potência, o Uno, a Causa. Então os
cientistas têm que falar assim: Eu falo dos derivados e dos canais,
mas não sei nada da Fonte. Se vocês sabem da Fonte é que tem
que ir além da ciência.
E como a filosofia tem que ir além da ciência, não contra a
ciência, mas além da ciência... nós sempre estamos de acordo com
a ciência..., mas não satisfazemos só com ciência porque a ciência
trata dos derivados, dos canais e nós queremos mais do que
derivados e canais, nós queremos também o inderivado, o original
e queremos a Fonte.
A Fonte, porém, não é um objeto de ciência. A ciência não
pode provar a Fonte, não pode provar a realidade da Potência...
então, pela intuição racional que é da filosofia, nós podemos ter a
certeza de que há uma Fonte no princípio de todos os canais e que
esta Fonte se manifesta através de inúmeros canais, pequenos e
grandes e sempre diferentes, isto é razoável.
É uma filosofia completa. Então, para nós, a Potência é o
princípio das potencialidades que deve ser admitida como
postulado, como evidência imediata. Assim como o arquiteto
admite a terra para construir a sua torre e como o encanador
admite a fonte para construir os seus encanamentos, assim o
filósofo admite uma Potência para explicar as potencialidades. As
potencialidades são da evolução, mas a Potência está além da
evolução. Isto é uma questão de bom senso. É uma questão de
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lógica. E na filosofia nós não podemos passar sem lógica. Porque
o derivado supõe um inderivado, o relativo supõe um absoluto, o
efeito supõe a causa e em última análise uma causa primeira.
Então, nós estamos inteiramente de acordo com a ciência
darwinista no trecho da evolução. Aqui nós estamos de acordo,
não adianta dizer: Ah! Nós não podemos ter vindo através do
animal, isto é indigno do homem... Nada é indigno disto. O
mineral não é indigno da Potência. O vegetal não é indigno da
Potência. Isso ai é emocionalismo; essa história de dizer “É
indigno dizer que nós viemos através do animal”. São fatos, sejam
dignos ou indignos, nós não podemos mudar os fatos. Só não
devemos adotar uma linguagem errada em alguns erros da
ciência. O grande erro da ciência não é que ela derive o homem
de organismos inferiores, nós não sabemos quais organismos
imediatos que nos precederam, mas evidentemente viemos através
de organismos inferiores. Nós não levamos a mal a ciência que
nos diga que viemos através de organismos inferiores. Isto é
perfeitamente aceitável e lógico. O que nós não aceitamos é que a
ciência omita a fonte, omita a Potência e diga: O homem veio
daqui ou daqui ou daqui. Isso é ilógico. É uma questão de lógica
dizer que o maior não pode ter vindo do menor. O maior pode ter
fluído através do menor, mas não pode ter vindo do menor.
Porque “do” sempre indica causa e “através” só indica canal.
Todos nós viemos através de canais inferiores, mas em última
análise, todos os canais vieram da Fonte. {
Isto é a única filosofia razoável que se pode aceitar.
Independente de qualquer igreja. Não apelamos para nenhuma
igreja, apelamos só para a lógica e além de todas as ciências,
independente de qualquer teologia e de acordo parcial com a
ciência. De acordo parcial, não total, porque infelizmente a
ciência darwinista para aqui; e quer nos fazer crer que nós
começamos aqui, no nada. O algo não pode vir do nada. Isto é
algo, estes estágios evolutivos mineral, vegetal, animal são algo.
Mas o “algo” não pode começar do “nada”. O “nada” pode
começar no Todo. Quer dizer, a creação não é uma produção de
algo do nada, como pensam alguns teólogos. Não é verdade. A
creação verdadeira é o aparecimento de uma existência vindo da
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essência. A existência é parcial, a essência é total. A parte vem do
todo, mas a parte não podia vir do nada, isso é uma questão de
lógica. Não preciso discutir isso teologicamente nem
dogmaticamente, mas filosoficamente. Evidentemente, o finito
não veio do nada, o finito veio do infinito. A parte veio do todo.
Se há 10 toneladas de água num encanamento, eu não posso
supor que as 10 toneladas de água no encanamento tenham vindo
do nada. Eu devo supor que essas 10 toneladas de água que estão
no encanamento vieram de uma fonte e que pelo menos tinha 10
toneladas, talvez mais, mas não menos para que eu possa dizer
que a fonte seja maior. Pode ter 100 toneladas, 1000 toneladas,
um milhão de toneladas, não faz mal. Mas eu não posso admitir
que a fonte seja zero e que as 10 toneladas que estão nos
encanamentos tenham vindo do nada. Em filosofia nós não
podemos aceitar. Na filosofia nós vamos além da ciência, não
contra a ciência. Mas também não nos identificamos inteiramente
com a ciência porque a ciência é apenas uma parte da explicação.
A ciência explica a evolução. Para além deste termo eu não sei
nada, nada, nada. O cientista não é filósofo.
Agora, se o cientista além de ser cientista também é filósofo,
como os últimos grandes cientistas, como Einstein e outros
entraram decididamente na filosofia. Não pararam só na ciência
analítica, mas ultrapassaram a ciência analítica e entraram na
intuição racional. Isto tem que ser absolutamente claro a cada um
de vós porque essas discussões sobre o homem são de cada dia e,
sobretudo essa discussão científica sobre a evolução do homem
que teria vindo do animal. “Do” não, ‘através” sim. Não se pode
mudar. Não é só o corpo do homem que veio do animal, não. O
homem integral. Podemos aceitar que tudo que está em nós, seja o
que for, já fluiu através de canais inferiores. Os canais inferiores e
superiores, em última análise vieram da Fonte. Isso temos que
manter, não por causa de alguma religião, mas por causa da
lógica.
Então, quando compreendemos isto, tudo o que nós temos
hoje em nós veio em última análise de uma Potência infinita. Esta
Potência infinita vocês podem chamá-la como quiserem. É melhor
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não dar nenhum nome. É perigoso! Se você chamar essa Potência
“Deus”, tenho outra ideia de Deus diferente de vocês. Não
convém dizer que é Deus. Porque Deus é uma palavra
padronizada. Cada igreja tem outro conceito de Deus e cada
pessoa tem outro conceito de Deus. Então não vamos dizer que é
Deus. Vamos deixar no completo anonimato aqui. A Potência
infinita, que não vamos dar nome, é uma Potência real,
incrivelmente real, infinitamente poderosa. Uma Potência..., mas
não vamos dizer que é Deus nem vamos dizer que é Brahman,
nem vamos dizer que é Tao porque estas palavras são palavras
padronizadas. Aqui no ocidente Deus é uma pessoa, agora isto em
hipótese alguma pode ser uma pessoa. Todo o ocidente cristão é
monoteísta e todo monoteísmo abriga um Deus pessoal.
Se vocês reduzem a Potência Cósmica aqui a uma
personalidade então vocês destroem o Absoluto porque uma
pessoa não pode ser o Absoluto. Onipresente, Onipotente só pode
ser uma Potência Cósmica, mas uma pessoa sempre é uma coisa
limitada. Uma pessoa começa aqui e termina lá. Nenhuma pessoa
pode ser infinita. Pessoa quer dizer invólucro em latim. “Persona”
que dizemos “pessoa” em português e depois voltamos à
personalidade, voltamos ao latim. A “Persona”, a personalidade
ou a pessoa em latim quer dizer invólucro, máscara. Persona, no
tempo do império romano, era chamado aquela máscara que os
atores e as atrizes subindo ao palco, afivelavam no rosto e através
da boca aberta falavam. No império romano não se fazia teatro
sem máscara - esta máscara que o ator pendurava no rosto era
chamada persona. Persona vem de “per” através e “sonare” soar.
“Soar através” - personare em latim. Per sona é a máscara através
de cuja boca aberta soa a voz do ator. Notem bem que persona
quer dizer máscara.
Mas isto não pode ser uma máscara. É uma tremenda
realidade. Uma máscara é uma coisa secundária. A gente põe e
tira a máscara, mas a pessoa fica a mesma. De maneira que nós
também nunca devemos identificar a nossa individualidade
humana, o nosso eu, o nosso eu central, a nossa alma, o nosso eu
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real, a nossa individualidade... Nunca devemos identificar com a
nossa personalidade. É o erro que todo mundo comete.
Quando quer falar da individualidade de alguém, isto é
personalidade. Mas personalidade não é a individualidade. A
personalidade é uma máscara para a individualidade. O indivíduo
é a realidade, a persona é apenas um invólucro, uma máscara.
Quando vocês vêm em lojas por ai e as pessoas dizem: “se eu usar
esse vestido vai me dar personalidade”. Claro que dá
personalidade, mas não dá individualidade. Um vestido não pode
dar individualidade. Vocês usam um rouge tal, um batom tal,
“isso me dá personalidade”. Hoje as modas jogam muito com a
ideia de personalidade. Está certo. As modas podem dar
personalidade. Isto é máscara. Podem mascarar de um modo
muito agradável e bonito. Mas nós nunca podemos dizer que você
usa um vestido assim tal e tal que isso lhe dá individualidade. A
individualidade é alma. A individualidade é o nosso ser central. A
personalidade é apenas o nosso ego periférico.
Veja que palavras maravilhosas: Persona quer dizer máscara
em latim, persona. Indivíduo, é claro que vem de dividir, o
prefixo “in” é negação, não dividido. Indivíduo é aquilo que não
está dividido. Nem pode ser dividido. Indivisível e indiviso, isto é
o indivíduo, a individualidade. Porque a individualidade é
chamada indivisa e indivisível. Porque ela não é dupla, ela é
simples. A personalidade pode ser muito complicada, mas a
individualidade é completamente simples.
Então a individualidade não é composta, ela é absolutamente
simples. A individualidade é o espírito. O nosso espírito, a nossa
alma é que é o nosso indivíduo, o nosso indivisível, o nosso não
composto, o nosso simples. A palavra indivíduo é uma palavra
muito usada. Na nossa individualidade nós não somos dois ou
três. Na nossa personalidade nós somos dois, três ou quatro. Há
personalidades que de manhã agem assim e de tarde agem de
outro modo.
Até existe um filme documentário “As Três Faces de Eva”
quando uma Senhora atuava como três pessoas. De manhã ela era
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uma moça muito faceira. De tarde ela era uma matrona muito
sisuda e de noite ainda era outra coisa. “Três Faces de Eva”, um
filme documentário médico que passou ai porque ela tinha três
personalidades. Conforme as circunstâncias ela mudava de
personalidade. É claro que não tinha três indivíduos. Era uma
única individualidade, mas estava tripartida, rachou-se em três e
depois eles explicaram por quê. Primeiro ela foi horrivelmente
traumatizada em sua infância, a sua individualidade criou três
personalidades e as três funcionavam independentemente uma da
outra. Por causa de uma tragédia violenta que tinha ocorrido em
sua infância e daí veio a pluralidade das personalidades embora
houvesse a unidade do indivíduo.
Mas nosso indivíduo ainda tem outra razão de ser chamado
indivíduo. Ele não é diviso. Ele não é dividido do infinito. O
nosso indivíduo é o próprio infinito dentro de nós. O indivíduo é a
alma do universo. A alma do universo está em toda a parte,
também está em nós. Em nós, a alma do universo se chama o
nosso indivíduo, nós não somos divididos, separados do universo.
Nós somos indivisivelmente unidos ao universo. Quando alguém
pensa que está separado, então ele está no erro. Quando alguém
descobre que ele é unido ao próprio universo, então está na
verdade.
Então podemos representar o nosso ego e o nosso eu do
modo seguinte: Nós já sabemos que usamos isto e chamamos a
nossa personalidade. Às vezes muitos egos pode haver em nós.
Isto nós chamamos a nossa individualidade. Pode haver diversas
relações entre o ego e o eu. Pelo “eu” nós estamos
indivisivelmente unidos ao universo; pelo ego nós não estamos
unidos. Aqui estamos separados. O ego sempre se sente separado
da alma do universo. Essa separação é uma ilusão porque o ego de
fato não está separado. Mas ele vive na ilusão de que ele e a alma
do universo (vamos dizer a Potência que é a alma do universo),
estão separados. Isto então é o estado que a Bíblia chama
“pecado”. Quando o ego pensa que ele está separado do todo do
universo, da alma, então ele está em estado de pecado. Quando
ele descobre que não está separado do universo, mas que ele está
permanentemente unido ao universo, então vem a redenção.
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Pecado é uma ilusão de separatismo, redenção é a verdade da
unidade entre o homem e o infinito.
Quando o ego é mais forte que o eu, isso se chama pecado.
Isto é estado de pecado. O ego derrotando o eu, a ilusão
derrotando a verdade, a personalidade derrotando a
individualidade, isto se chama pecado. Não tem nenhum outro
significado senão este. Mas se eu inverter ai, eu passei do pecado
para a redenção. Agora está tudo certo. O Eu é maior do que o
ego. O ego está integrado no Eu. O ego menor está integrado no
Eu maior, isto se chama redenção. Porque redenção não é abolir o
ego. Redenção é integrar o ego no Eu. Isto é o estado de redenção,
mas para isto tem que se ter muito conhecimento de si mesmo.
Ego > Eu → pecado
Eu > ego →redenção