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1 Curso 79 Aula 07 data 23/04/79 - manhã Potência e Potencialidades Huberto Rohden Bem, agora vamos falar outra vez do nosso assunto do Homem... Aqui, Rohden fala sobre alguns horários específicos de outra palestra... Da última vez depois da aula, alguém me perguntou sobre o que eu tinha dito na aula - que as fotografias do sol eclipsado no dia 19 de maio do ano 1929 provaram pela primeira vez o que Einstein tinha dito 20 anos antes, que a luz não se propaga em linha reta, mas em linha curva. Ninguém podia acreditar. Mas as fotografias do sol eclipsado provaram que ele estava certo. É um triunfo máximo de Einstein, porque ele disse 20 anos antes sem nenhuma prova, garantiu que era assim. Que há uma curvatura na luz, porque a luz tem peso. Se não tivesse peso não seria atraída pelo sol. Então eu disse isso na última vez aqui e alguém me perguntou muito judiciosamente: - se podíamos aceitar que a luz é um objeto de intuição. O que Einstein afirmou sem provas e depois foi provado pela fotografia que estava certo. Como é que ele sabia antes de provas? Então, alguém aqui perguntou se podemos aceitar que a luz é um objeto de intuição. Eu disse e vou repetir: não. Não podemos aceitar. Como é que Einstein sabia que a luz se propagava em curva e não em linha reta? Não confundam a luz física que foi fotografada. A luz física, material, portanto, é que foi fotografada. Não confunda a luz com as leis cósmicas. A Lei é objeto de intuição. A lei cósmica, que não é uma coisa física, que é uma força, uma energia... E Einstein sempre identifica Deus com a Lei. Deus, para ele é Lei e também a Alma do Universo. A Alma do Universo e a Lei para Einstein são a mesma coisa. E isto ele identifica com a Divindade. A

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Curso 79

Aula 07 – data 23/04/79 - manhã

Potência e Potencialidades

Huberto Rohden

Bem, agora vamos falar outra vez do nosso assunto do

Homem... Aqui, Rohden fala sobre alguns horários específicos de

outra palestra...

Da última vez depois da aula, alguém me perguntou sobre o

que eu tinha dito na aula - que as fotografias do sol eclipsado no

dia 19 de maio do ano 1929 provaram pela primeira vez o que

Einstein tinha dito 20 anos antes, que a luz não se propaga em

linha reta, mas em linha curva. Ninguém podia acreditar. Mas as

fotografias do sol eclipsado provaram que ele estava certo. É um

triunfo máximo de Einstein, porque ele disse 20 anos antes sem

nenhuma prova, garantiu que era assim. Que há uma curvatura na

luz, porque a luz tem peso. Se não tivesse peso não seria atraída

pelo sol. Então eu disse isso na última vez aqui e alguém me

perguntou muito judiciosamente: - se podíamos aceitar que a luz

é um objeto de intuição. O que Einstein afirmou sem provas e

depois foi provado pela fotografia que estava certo. Como é que

ele sabia antes de provas?

Então, alguém aqui perguntou se podemos aceitar que a luz

é um objeto de intuição. Eu disse e vou repetir: não. Não podemos

aceitar. Como é que Einstein sabia que a luz se propagava em

curva e não em linha reta?

Não confundam a luz física que foi fotografada. A luz física,

material, portanto, é que foi fotografada. Não confunda a luz com

as leis cósmicas. A Lei é objeto de intuição. A lei cósmica, que

não é uma coisa física, que é uma força, uma energia... E Einstein

sempre identifica Deus com a Lei. Deus, para ele é Lei e também

a Alma do Universo. A Alma do Universo e a Lei para Einstein

são a mesma coisa. E isto ele identifica com a Divindade. A

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intuição é da Lei, que obriga a luz a proceder deste modo, mas

não é a luz física que se diz a própria intuição.

Eu não expliquei bem a parte que ele me perguntou, mas

aqui o farei. A Lei sim - pode ser objeto de intuição, porque é

uma coisa inteiramente metafísica. Inteiramente invisível. E

Einstein a identifica como Deus. Deus é a Lei, ele diz. A Lei está

em todas as coisas. Deus não lançou a lei fora de si, mas Ele atua

dentro dos átomos e os átomos agem como sendo a Lei invisível.

Isto está certo. De maneira que a Lei sim - é objeto de intuição.

Quando comunicaram a Einstein que ele tinha tido razão na

sua teoria, estavam entusiasmados, Einstein disse: “não, mas é

claro que devia ser provado. A fotografia provou, mas já era certo

antes da prova.” Isto só pode dizer o intuitivo. Já era certo antes

de qualquer prova fotográfica. Os outros que são puramente

analíticos só têm certeza depois das provas, mas os gênios que são

intuitivos “a priori” e não “a posteriori” como se diz na filosofia...

Quem tem certeza “a priori”, antes de qualquer prova, já tem

certeza. Quer dizer que eles não funcionam só com os sentidos,

nem só com a inteligência. Porque a inteligência e os sentidos não

podem ter certeza sem provas. Se alguém tem absoluta certeza

sem provas é porque está atuando nele uma força que está além da

inteligência que nós chamamos “a razão”.

A razão é o nosso centro cósmico, a nossa alma, o nosso Eu,

o Deus interno, isto é a razão. Quando a razão eclode, deixa de

dormir, desperta, então nós temos intuição. Pela razão nós somos

intuitivos. Pela inteligência nós somos somente analíticos. O

grosso da humanidade não sai da análise. Não chegou às

profundezas da intuição... Que a evolução da humanidade não vai

tão depressa, vai com passos mínimos em espaços máximos. Mas

sempre há intuitivos e sempre houve em todos os tempos do

planeta homens muito intuitivos - às vezes analfabetos, às vezes

sem nenhuma erudição intelectual. Mas eles tinham apenas a

disposição de terem despertados dentro de si a razão e não apenas

a inteligência. Porque a razão é muito superior à inteligência.

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Agora vamos voltar ao nosso assunto. Vocês vão sempre

ouvir nas igrejas e nas faculdades a discussão sobre o homem.

Vocês têm que ter absoluta certeza e clareza o que pensar sobre a

natureza e a origem do homem. Não podemos nos basear em

nenhum livro. Nem no Gênesis, nem nada disto. Não vamos tratar

de livro. A filosofia não pode apoiar-se nem em livros inspirados.

Não vamos dizer nada contra eles, mas vamos depender somente

da lógica. Da lógica que é propriamente a razão - nós usamos

erradamente a palavra “lógica” atribuindo isso à inteligência.

Lógica vem de “logos”. A palavra grega “logos” quer dizer razão.

Nós só devíamos usar a palavra “lógico” quando falamos da razão

intuitiva. Mas infelizmente falamos da lógica quando se trata

apenas de uma análise intelectual. Isto é lógico... isto é lógico...

A verdadeira lógica é a intuição. É o “logos” que está

funcionando, é a razão que está funcionando. De maneira que

sobre o homem nós não podemos falar de livros, de manual...

Devemos perguntar: O que é que pode defender perante o tribunal

da razão? Do “logos”? da intuição cósmica? Isto para nós é

difícil.

A ciência, desde o século passado, com a vinda de Darwin,

modificou completamente a ideia sobre a origem do homem.

Vocês sabem... Porque desde 2000 anos todo mundo pensava que

o homem fosse creado separadamente do resto da creação. Que

ele fosse um aditamento posterior. Que toda a creação já estava

prontinha... prontinha... prontinha... e finalmente Deus se lembrou

que tinha que crear o homem. Então traçou uma linha vertical, por

assim dizer, a outra era horizontal. Traçou assim uma linha

vertical e disse: “Façamos o homem”. E quando eu estava na

teologia e disseram que esse “Façamos” (no plural) se referia às

três pessoas da Santíssima Trindade de que Moisés já sabia. Bem,

alguém tentou acreditar... Não tem nada a ver com a Trindade.

Moisés usa o plural para Deus “Elohim”, não usa o singular para

Deus, “Yavé” vem só depois. Quando ele faz a creação do mundo

e do homem, ele não usa a palavra “Yavé” que seria singular,

Deus. Ele diz sempre os “Elohim” que nós traduzimos “as forças

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creadoras”, “as potências creadoras”. Porque Deus como “Ser” é

transcendente, mas Deus como “Agir” é imanente.

Nós podemos conhecer Deus como “Agir”, mas não

podemos conhecer Deus como “Ser”. O “Ser” para nós é

absolutamente impossível conhecer. Agora, quando o “ser”

começa a “agir”, quando a essência começa a existir ou quando o

“ser” que é a essência começa a “agir” (que é a existência), então

o “ser” se chama “Elohim”, em hebraico. Os “Elohim” então são

a Divindade atuante. A Divindade como agente, não como

Divindade estática, mas a Divindade dinâmica. Não podemos usar

a palavra “Espírito Santo” porque já tem outro sentido e não

podemos lidar com isso na filosofia, isso é teologia. De maneira

que, quando veio o homem, não veio o aditamento nenhum na

creação, ele é uma das manifestações da creação total. Isto, assim

aceita, mas ele não aceita a creação, aceita só a evolução. Aqui a

linha, vamos dizer, a evolução... vamos dizer... diversas

potencialidades.

Potencialidade 1 – Mineral

Potencialidade 2 – Vegetal

Potencialidade 3 – Animal

Potencialidade 4 – Hominal

Podemos dizer assim... isto é uma linha única, quando a

essência se existencializou, a essência é isto aqui. Vamos chamar

a essência agora com outro nome: Potência. Porque vamos

chamar isto “potencialidades”, então vamos usar o mesmo nome

para “Potência”.

A “Potência” creadora.

A “Potência” que é Essência.

A “Potência” que é a Divindade.

A “Potência” que é Brahman.

A “Potência” que é Tao.

A “Potência” naturalmente se manifesta em potencialidades.

As potencialidades são a manifestação existencial, através de

tempos e espaços, da essência única.

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Podemos chamar a “Potência”, o “uno” e as potencialidades

“Verso”, segundo a nossa forma de chamar o Universo. Isto então

seria “Uno” e isto aqui é “Verso”.

O Universo é Verso e Uno.

O Uno sempre significa a essência, o infinito, o eterno, o

absoluto.

As potencialidades sempre são os derivados, os finitos, as

existencialidades, as creaturas, portanto.

Nós não podemos provar a Essência, ninguém pode provar a

Potência, ninguém pode provar a Divindade. Isso é absolutamente

impossível.

Nós temos que admitir a Potência, o Absoluto, o Ser, a

Essência como um postulado. Não me venha com a ideia para

provar a Essência, a Potência, a Divindade. Não dá - nunca

ninguém provou a Essência divina. Nunca ninguém provou nem

jamais provará, porque isto é um processo analítico que não cabe

na essência. Nós devemos admitir não como hipótese, mas como

evidência imediata, que é coisa muito diferente de hipótese. Pela

evidência imediata, devemos admitir a realidade da Essência ou

do Absoluto ou da Potência. Isto nós não podemos provar.

Ninguém se atreva a provar isso porque é bobagem.

Devemos ter o bom senso de dizer: se as potencialidades

existem é porque a Potência É. Da Potência só se deve dizer: É.

Das potencialidades se pode dizer EXISTIR. Vou fazer uma

comparação: Um engenheiro faz um encanamento de água. Ele

supõe que haja uma fonte. Se não tivesse a certeza de que há uma

fonte natural em algum lugar do mundo, ele não poderia fazer um

encanamento porque o encanamento não produz água, nem a

caixa d’água produz água. Só a natureza pode produzir fontes.

Esta fonte corresponde ao que nós chamamos postulado,

“evidência imediata”.

Quando o engenheiro se propõe a construir encanamentos,

ele não se põe uma hipótese como fonte; ele não diz “talvez exista

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uma fonte”. Sobre esse “talvez” ele não pode construir

encanamento. Poderia falhar. Mas, se ele tem absoluta certeza que

uma fonte existe e sempre existiu, então ele conta com a certeza

da fonte, mas ele não provou nada. Ele não provou a fonte, ele

supõe a fonte. Isto é o que se chama “postulado” ou “evidência

imediata”. Isto é para nós a Potência, o Ser, a Realidade, o

Absoluto, o Infinito.

Agora, depois de admitirmos como postulado, passamos

para as análises. A análise sempre um derivado, é da

potencialidade, mas não da Potência. Aqui começa a ciência. A

Ciência não se refere à Potência, não se refere ao Absoluto, não se

refere ao Ser, à Realidade. A ciência começa sempre onde começa

os derivados, a evolução.

A transição do Ser para o Existir, nós chamamos Creação. A

transição do Ser para o Existir, do Uno para o Verso portanto, a

manifestação da Potência em forma de potencialidades... isto é o

que nós chamamos evolução. E da evolução se pode fazer análise.

Aqui começa a ciência e a transição da Potência para as

potencialidades ou da Essência para as existências nós chamamos

Creação. Creação com “e”, não com “i” porque criação é outra

coisa. Na filosofia não é a mesma coisa. Na escola primária sim.

A transição da Potência para as potencialidades, da Essência

para as existências, do Absoluto para os relativos, do Infinito para

os finitos, do Creador para as creaturas, isso chamamos creação.

A continuação disto é evolução. A ciência admite somente a

evolução. A ciência não admite a creação. Não nega, mas silencia.

Porque não é objeto da ciência. A ciência só trata de coisas

relativas, de coisas derivadas, de coisas finitas, de coisas físicas.

Isso não é objeto de ciência. Isto pode ser objeto de filosofia

porque a filosofia vai muito além da ciência. A ciência começa

aqui com as facticidades, mas a filosofia diz: como é que posso

começar com coisas derivadas, se as coisas derivadas vêm de

alguma coisa que não é derivada? Como é que eu posso falar em

encanamentos se eu não sei nada da fonte? Como é que pode

haver águas nos canais se na fonte não há água?

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Então a filosofia é muito mais completa e diz: “Nós

aceitamos a ciência que são os derivados, as potencialidades, as

facticidades, as creaturas, mas queremos saber também o que é

que é anterior a estes derivados”. É claro que anterior aos

derivados é alguma coisa original. Isto é lógico. Lógico é a

harmonia do pensamento com a realidade. Quando nós exigimos

uma coisa completa e não parcial, então nós somos lógicos. Se

nós nos contentamos com uma coisa derivada como a ciência, nós

não somos muito lógicos. A ciência não é muito lógica. A ciência

é analítica, mas a lógica não é só analítica, ela é também intuitiva.

Isto é objeto da intuição. Isto é análise. Na ciência nós só tratamos

de análises intelectuais, mas se passarmos da inteligência para a

razão, a razão diz: “De onde é que vem as análises intelectuais se

não há nada antes destes derivados aqui?”

Então a razão exige o postulado da Potência, do infinito, do

Eterno. Isto é uma intuição racional; não se esqueçam de que a

razão não é intelectual. Na inteligência não tem intuições, a razão

tem intuições. Quando o homem é altamente racional, então ele se

torna intuitivo. Todos os grandes gênios são intuitivos. Os

grandes místicos são todos intuitivos. Eles têm certeza de uma

coisa que a ciência não pode provar. Nem podem provar que

existem nem podem provar que não existem. A ciência fica calada

diante da Potência. A Potência para a ciência é um “X”. A ciência

não nega propriamente a Potência, ela se cala. A ciência não é

ateísta, ela é agnóstica. Agnóstica quer dizer ignorante. Ela diz:

“eu não sei nada de uma coisa fora dos fatos. Eu trato dos fatos,

das facticidades, dos derivados, das coisas físicas, das coisas

visíveis, tangíveis, etc... isto é objeto da ciência”.

Mas se alguém quer ultrapassar a ciência e entrar no campo

da filosofia, então não basta tratar só de derivados, ele tem que

passar dos derivados para o original. É lógico. Eu só estou

falando isso para que ninguém pense que nós só aceitamos certas

coisas por crença. Não aceitamos nem por crença teológica, nem

por ciência, mas por filosofia. A filosofia vai além de todos os

fatos e vai até o postulado que não é um fato, que é uma evidência

imediata intuída pela razão intuitiva.

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Aqui estão alguns estágios de evolução:

Estágio 1 de evolução – Mineral

Estágio 2 de evolução – Vegetal

Estágio 3 de evolução – Animal

Estágio 4 de evolução – Hominal

Vamos dizer que aqui começou o homem (4). Agora se

pergunta: Se o homem é 4, de onde é que veio o 4? Dizem os

cientistas darwinistas: veio do 3. De onde veio o 3? Veio do 2. E

de onde veio o 2? Veio do 1. E de onde veio o 1? Isso, não

sabemos. Sendo que a ciência nada põe no princípio, a Potência

não existe para a ciência, então nós não podemos explicar a

presença do 1. Ele não podia vir do nada. Do nada não vem algo.

Mas se aqui no princípio não tinha nada, nada, nada, nada... então

a ciência não pode explicar de onde vem o estágio da evolução nº

1 que vamos considerar o estágio mineral. Também não pode

explicar de onde vem o 2 porque o 1 não pode produzir o 2. O

menor nunca produz o maior. O 1 não pode produzir o 2. O 2 não

pode produzir o 3 e o 3 não pode produzir o 4. Nenhuma lógica

aceita que o efeito seja maior que a causa. Nenhuma lógica aceita

isto.

O efeito não pode ser maior que a causa. Se isto é o efeito e

isto é a causa... é claro, o efeito é maior que a causa... é contra a

lógica. Então não podemos aceitar que 1 seja a causa do 2,

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também não podemos aceitar que o 2 seja a causa do 3 e que o 3

seja a causa do 4 e assim por diante. Isto é contra a lógica. E o

que é contra a lógica nós não podemos aceitar em filosofia.

Então, para aceitar logicamente o 4 nós não podemos parar

no 3. E para aceitar o 3 não podemos parar no 2. E para aceitar o

2 da evolução, nós não podemos parar no 1. Porque não há

possibilidade de que o menor produza o maior. Então, a questão

do homem começaria aqui, como é chamado estágio 4.

Bem, dizem os darwinistas que ele veio do animal (3) e este

animal veio do vegetal (2) e o vegetal veio do mineral (1). Isto é

contra a lógica, isso não podemos aceitar. Quer dizer, o 4 pode ter

fluído através do 3, isto é lógico. Pode ter fluído através do 3 e

através do 2 e através do 1, isto é lógico. Estes estágios aqui 1, 2,

3 podem funcionar como encanamentos, mas não podem

funcionar como fontes. Estão compreendendo? Esses podem

funcionar como encanamentos para o 4. Os animais, os vegetais,

os minerais podem servir de encanamentos para conduzir a

natureza humana.

Agora vocês dizem: A água que cai da torneira pelo

encanamento é da caixa d’água lá na cidade veio através da

torneira, através do encanamento, através da caixa, mas ela veio

da Fonte. “Da” indica a causa e “através” indica as condições.

Nós aceitamos que o homem veio através do animal. Não há

dúvida nenhuma que foi. O nosso corpo é praticamente o mesmo

que o dos animais, mais superiores, o que seria inexplicável se o

nosso corpo não tivesse vindo do animal. Mas é claro que veio.

Todo cientista sabe disso, todo estudante de medicina estuda o

corpo animal primeiro para depois acertar o corpo humano. Esses

estudantes que tratam cobaias e tudo isso, martirizando os pobres

animais para saber como funciona o coração, os órgãos internos.

É claro que o corpo do homem veio através do corpo animal. Mas

eles usam uma linguagem inexata e dizem “o corpo do homem

veio do animal”. Como se o animal fosse a causa do homem. Isto

pela lógica nós não aceitamos. Aceitamos que o homem veio

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através do animal. Possivelmente veio através do vegetal também

e possivelmente através do mineral. Tudo isso é aceitável.

E em formas muito primitivas o nosso corpo tem vindo

destes outros estágios milhões e milhões de anos antes, nada disto

rejeitamos... tudo isso aceitamos porque é sensato. Mas quando

chegamos aqui, no fim de todos os canais, então a ciência se cala

e diz: Donde vieram os canais, nós não sabemos. Aliás, diz a

ciência, nós não tratamos disto. Isto não é objeto da ciência. Não

vamos afirmar nem vamos negar. Se a ciência faz isto, faz muito

bem porque de fato ela não sabe. O cientista não pode falar de

Fonte. Fonte seria isso aqui: Potência, o Uno, a Causa. Então os

cientistas têm que falar assim: Eu falo dos derivados e dos canais,

mas não sei nada da Fonte. Se vocês sabem da Fonte é que tem

que ir além da ciência.

E como a filosofia tem que ir além da ciência, não contra a

ciência, mas além da ciência... nós sempre estamos de acordo com

a ciência..., mas não satisfazemos só com ciência porque a ciência

trata dos derivados, dos canais e nós queremos mais do que

derivados e canais, nós queremos também o inderivado, o original

e queremos a Fonte.

A Fonte, porém, não é um objeto de ciência. A ciência não

pode provar a Fonte, não pode provar a realidade da Potência...

então, pela intuição racional que é da filosofia, nós podemos ter a

certeza de que há uma Fonte no princípio de todos os canais e que

esta Fonte se manifesta através de inúmeros canais, pequenos e

grandes e sempre diferentes, isto é razoável.

É uma filosofia completa. Então, para nós, a Potência é o

princípio das potencialidades que deve ser admitida como

postulado, como evidência imediata. Assim como o arquiteto

admite a terra para construir a sua torre e como o encanador

admite a fonte para construir os seus encanamentos, assim o

filósofo admite uma Potência para explicar as potencialidades. As

potencialidades são da evolução, mas a Potência está além da

evolução. Isto é uma questão de bom senso. É uma questão de

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lógica. E na filosofia nós não podemos passar sem lógica. Porque

o derivado supõe um inderivado, o relativo supõe um absoluto, o

efeito supõe a causa e em última análise uma causa primeira.

Então, nós estamos inteiramente de acordo com a ciência

darwinista no trecho da evolução. Aqui nós estamos de acordo,

não adianta dizer: Ah! Nós não podemos ter vindo através do

animal, isto é indigno do homem... Nada é indigno disto. O

mineral não é indigno da Potência. O vegetal não é indigno da

Potência. Isso ai é emocionalismo; essa história de dizer “É

indigno dizer que nós viemos através do animal”. São fatos, sejam

dignos ou indignos, nós não podemos mudar os fatos. Só não

devemos adotar uma linguagem errada em alguns erros da

ciência. O grande erro da ciência não é que ela derive o homem

de organismos inferiores, nós não sabemos quais organismos

imediatos que nos precederam, mas evidentemente viemos através

de organismos inferiores. Nós não levamos a mal a ciência que

nos diga que viemos através de organismos inferiores. Isto é

perfeitamente aceitável e lógico. O que nós não aceitamos é que a

ciência omita a fonte, omita a Potência e diga: O homem veio

daqui ou daqui ou daqui. Isso é ilógico. É uma questão de lógica

dizer que o maior não pode ter vindo do menor. O maior pode ter

fluído através do menor, mas não pode ter vindo do menor.

Porque “do” sempre indica causa e “através” só indica canal.

Todos nós viemos através de canais inferiores, mas em última

análise, todos os canais vieram da Fonte. {

Isto é a única filosofia razoável que se pode aceitar.

Independente de qualquer igreja. Não apelamos para nenhuma

igreja, apelamos só para a lógica e além de todas as ciências,

independente de qualquer teologia e de acordo parcial com a

ciência. De acordo parcial, não total, porque infelizmente a

ciência darwinista para aqui; e quer nos fazer crer que nós

começamos aqui, no nada. O algo não pode vir do nada. Isto é

algo, estes estágios evolutivos mineral, vegetal, animal são algo.

Mas o “algo” não pode começar do “nada”. O “nada” pode

começar no Todo. Quer dizer, a creação não é uma produção de

algo do nada, como pensam alguns teólogos. Não é verdade. A

creação verdadeira é o aparecimento de uma existência vindo da

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essência. A existência é parcial, a essência é total. A parte vem do

todo, mas a parte não podia vir do nada, isso é uma questão de

lógica. Não preciso discutir isso teologicamente nem

dogmaticamente, mas filosoficamente. Evidentemente, o finito

não veio do nada, o finito veio do infinito. A parte veio do todo.

Se há 10 toneladas de água num encanamento, eu não posso

supor que as 10 toneladas de água no encanamento tenham vindo

do nada. Eu devo supor que essas 10 toneladas de água que estão

no encanamento vieram de uma fonte e que pelo menos tinha 10

toneladas, talvez mais, mas não menos para que eu possa dizer

que a fonte seja maior. Pode ter 100 toneladas, 1000 toneladas,

um milhão de toneladas, não faz mal. Mas eu não posso admitir

que a fonte seja zero e que as 10 toneladas que estão nos

encanamentos tenham vindo do nada. Em filosofia nós não

podemos aceitar. Na filosofia nós vamos além da ciência, não

contra a ciência. Mas também não nos identificamos inteiramente

com a ciência porque a ciência é apenas uma parte da explicação.

A ciência explica a evolução. Para além deste termo eu não sei

nada, nada, nada. O cientista não é filósofo.

Agora, se o cientista além de ser cientista também é filósofo,

como os últimos grandes cientistas, como Einstein e outros

entraram decididamente na filosofia. Não pararam só na ciência

analítica, mas ultrapassaram a ciência analítica e entraram na

intuição racional. Isto tem que ser absolutamente claro a cada um

de vós porque essas discussões sobre o homem são de cada dia e,

sobretudo essa discussão científica sobre a evolução do homem

que teria vindo do animal. “Do” não, ‘através” sim. Não se pode

mudar. Não é só o corpo do homem que veio do animal, não. O

homem integral. Podemos aceitar que tudo que está em nós, seja o

que for, já fluiu através de canais inferiores. Os canais inferiores e

superiores, em última análise vieram da Fonte. Isso temos que

manter, não por causa de alguma religião, mas por causa da

lógica.

Então, quando compreendemos isto, tudo o que nós temos

hoje em nós veio em última análise de uma Potência infinita. Esta

Potência infinita vocês podem chamá-la como quiserem. É melhor

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não dar nenhum nome. É perigoso! Se você chamar essa Potência

“Deus”, tenho outra ideia de Deus diferente de vocês. Não

convém dizer que é Deus. Porque Deus é uma palavra

padronizada. Cada igreja tem outro conceito de Deus e cada

pessoa tem outro conceito de Deus. Então não vamos dizer que é

Deus. Vamos deixar no completo anonimato aqui. A Potência

infinita, que não vamos dar nome, é uma Potência real,

incrivelmente real, infinitamente poderosa. Uma Potência..., mas

não vamos dizer que é Deus nem vamos dizer que é Brahman,

nem vamos dizer que é Tao porque estas palavras são palavras

padronizadas. Aqui no ocidente Deus é uma pessoa, agora isto em

hipótese alguma pode ser uma pessoa. Todo o ocidente cristão é

monoteísta e todo monoteísmo abriga um Deus pessoal.

Se vocês reduzem a Potência Cósmica aqui a uma

personalidade então vocês destroem o Absoluto porque uma

pessoa não pode ser o Absoluto. Onipresente, Onipotente só pode

ser uma Potência Cósmica, mas uma pessoa sempre é uma coisa

limitada. Uma pessoa começa aqui e termina lá. Nenhuma pessoa

pode ser infinita. Pessoa quer dizer invólucro em latim. “Persona”

que dizemos “pessoa” em português e depois voltamos à

personalidade, voltamos ao latim. A “Persona”, a personalidade

ou a pessoa em latim quer dizer invólucro, máscara. Persona, no

tempo do império romano, era chamado aquela máscara que os

atores e as atrizes subindo ao palco, afivelavam no rosto e através

da boca aberta falavam. No império romano não se fazia teatro

sem máscara - esta máscara que o ator pendurava no rosto era

chamada persona. Persona vem de “per” através e “sonare” soar.

“Soar através” - personare em latim. Per sona é a máscara através

de cuja boca aberta soa a voz do ator. Notem bem que persona

quer dizer máscara.

Mas isto não pode ser uma máscara. É uma tremenda

realidade. Uma máscara é uma coisa secundária. A gente põe e

tira a máscara, mas a pessoa fica a mesma. De maneira que nós

também nunca devemos identificar a nossa individualidade

humana, o nosso eu, o nosso eu central, a nossa alma, o nosso eu

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real, a nossa individualidade... Nunca devemos identificar com a

nossa personalidade. É o erro que todo mundo comete.

Quando quer falar da individualidade de alguém, isto é

personalidade. Mas personalidade não é a individualidade. A

personalidade é uma máscara para a individualidade. O indivíduo

é a realidade, a persona é apenas um invólucro, uma máscara.

Quando vocês vêm em lojas por ai e as pessoas dizem: “se eu usar

esse vestido vai me dar personalidade”. Claro que dá

personalidade, mas não dá individualidade. Um vestido não pode

dar individualidade. Vocês usam um rouge tal, um batom tal,

“isso me dá personalidade”. Hoje as modas jogam muito com a

ideia de personalidade. Está certo. As modas podem dar

personalidade. Isto é máscara. Podem mascarar de um modo

muito agradável e bonito. Mas nós nunca podemos dizer que você

usa um vestido assim tal e tal que isso lhe dá individualidade. A

individualidade é alma. A individualidade é o nosso ser central. A

personalidade é apenas o nosso ego periférico.

Veja que palavras maravilhosas: Persona quer dizer máscara

em latim, persona. Indivíduo, é claro que vem de dividir, o

prefixo “in” é negação, não dividido. Indivíduo é aquilo que não

está dividido. Nem pode ser dividido. Indivisível e indiviso, isto é

o indivíduo, a individualidade. Porque a individualidade é

chamada indivisa e indivisível. Porque ela não é dupla, ela é

simples. A personalidade pode ser muito complicada, mas a

individualidade é completamente simples.

Então a individualidade não é composta, ela é absolutamente

simples. A individualidade é o espírito. O nosso espírito, a nossa

alma é que é o nosso indivíduo, o nosso indivisível, o nosso não

composto, o nosso simples. A palavra indivíduo é uma palavra

muito usada. Na nossa individualidade nós não somos dois ou

três. Na nossa personalidade nós somos dois, três ou quatro. Há

personalidades que de manhã agem assim e de tarde agem de

outro modo.

Até existe um filme documentário “As Três Faces de Eva”

quando uma Senhora atuava como três pessoas. De manhã ela era

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uma moça muito faceira. De tarde ela era uma matrona muito

sisuda e de noite ainda era outra coisa. “Três Faces de Eva”, um

filme documentário médico que passou ai porque ela tinha três

personalidades. Conforme as circunstâncias ela mudava de

personalidade. É claro que não tinha três indivíduos. Era uma

única individualidade, mas estava tripartida, rachou-se em três e

depois eles explicaram por quê. Primeiro ela foi horrivelmente

traumatizada em sua infância, a sua individualidade criou três

personalidades e as três funcionavam independentemente uma da

outra. Por causa de uma tragédia violenta que tinha ocorrido em

sua infância e daí veio a pluralidade das personalidades embora

houvesse a unidade do indivíduo.

Mas nosso indivíduo ainda tem outra razão de ser chamado

indivíduo. Ele não é diviso. Ele não é dividido do infinito. O

nosso indivíduo é o próprio infinito dentro de nós. O indivíduo é a

alma do universo. A alma do universo está em toda a parte,

também está em nós. Em nós, a alma do universo se chama o

nosso indivíduo, nós não somos divididos, separados do universo.

Nós somos indivisivelmente unidos ao universo. Quando alguém

pensa que está separado, então ele está no erro. Quando alguém

descobre que ele é unido ao próprio universo, então está na

verdade.

Então podemos representar o nosso ego e o nosso eu do

modo seguinte: Nós já sabemos que usamos isto e chamamos a

nossa personalidade. Às vezes muitos egos pode haver em nós.

Isto nós chamamos a nossa individualidade. Pode haver diversas

relações entre o ego e o eu. Pelo “eu” nós estamos

indivisivelmente unidos ao universo; pelo ego nós não estamos

unidos. Aqui estamos separados. O ego sempre se sente separado

da alma do universo. Essa separação é uma ilusão porque o ego de

fato não está separado. Mas ele vive na ilusão de que ele e a alma

do universo (vamos dizer a Potência que é a alma do universo),

estão separados. Isto então é o estado que a Bíblia chama

“pecado”. Quando o ego pensa que ele está separado do todo do

universo, da alma, então ele está em estado de pecado. Quando

ele descobre que não está separado do universo, mas que ele está

permanentemente unido ao universo, então vem a redenção.

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Pecado é uma ilusão de separatismo, redenção é a verdade da

unidade entre o homem e o infinito.

Quando o ego é mais forte que o eu, isso se chama pecado.

Isto é estado de pecado. O ego derrotando o eu, a ilusão

derrotando a verdade, a personalidade derrotando a

individualidade, isto se chama pecado. Não tem nenhum outro

significado senão este. Mas se eu inverter ai, eu passei do pecado

para a redenção. Agora está tudo certo. O Eu é maior do que o

ego. O ego está integrado no Eu. O ego menor está integrado no

Eu maior, isto se chama redenção. Porque redenção não é abolir o

ego. Redenção é integrar o ego no Eu. Isto é o estado de redenção,

mas para isto tem que se ter muito conhecimento de si mesmo.

Ego > Eu → pecado

Eu > ego →redenção