Poster: Alterações da mobilidade após internamento prolongado em cuidados intensivos
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A avaliação da autonomia nas AVD foi realizada com uma versão do Índice de Barthel em que a pontuação final pode variar entre zero (dependência máxima) e 20 (máxima
autonomia). Como se verifica no gráfico 5, um número considerável de doentes tem alta da UCI com um grau de dependência significativo.
À alta da UCI:
Esta dependência é bastante variável. Houve inclusive uma situação em que foi obtida a pontuação máxima possível no Índice de Barthel (20 pontos), a contrastar com uma
situação de zero pontos (a menor pontuação possível), numa doente que, em virtude do seu grau de fraqueza e dependência, foi posteriormente transferida para o Centro de
Medicina de Reabilitação da Região Centro-Rovisco Pais para se reabilitar (Diagrama 1).
Os doentes com internamento superior a uma semana representaram cerca de 40% do total de doentes admitidos na UCI do HAL.
Dos 11 indivíduos que constituíram a amostra efectiva desta investigação 9 são do sexo masculino (81,8%) e 2 do sexo feminino (18,2%), com idades compreendidas entre os 36 e os
82 anos (Gráficos 1 e 2). A duração média do internamento foi de 19,3 dias, com mínimo de 8 e máximo de 72 dias.
A patologia respiratória foi o principal factor que motivou o internamento destes doentes, que em 90,9% das situações tiveram necessidade de suporte ventilatório (Gráfico 3). Em média
o suporte ventilatório foi aplicado durante 14,7 dias, com mínimo de 4, máximo de 62 e desvio padrão de 17,41. Após a extubação os doentes permaneceram na UCI em média 6 dias,
com um mínimo de 2 e um máximo de 10 dias.
Para além do tempo de ventilação, um factor de risco para o desenvolvimento de alterações da mobilidade durante o internamento, foi também analisada nesta investigação a exposição
a outros factores de risco referenciados pela bibliografia consultada e cujos resultados são apresentados no gráfico 4.
Alterações da mobilidade articular
Apesar de as alterações da mobilidade articular serem, segundo a bibliografia consultada, um problema importante após a alta, nomeadamente devido ao desenvolvimento de
contraturas, na avaliação realizada não foi verificada nenhuma situação de alteração da amplitude de movimento disponível, de forma passiva nas articulações testadas ou em outras
articulações.
Roberto Mendes ; Olinda Gonçalves
Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Reabilitação, a exercer funções na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Amato Lusitano, ULS de Castelo Branco
Conhecer as alterações da mobilidade no doente com internamento prolongado em cuidados intensivos e possíveis alterações funcionais associadas.
Esta investigação foi realizada na UCI do Hospital Amato Lusitano (HAL), Unidade Local de Saúde de Castelo Branco. Trata-se de um estudo do tipo descritivo, de nível I, que utilizou
uma metodologia quantitativa, envolvendo a colheita de dados à alta da UCI.
A questão de investigação colocada foi: “Quais as alterações da mobilidade que afectam os doentes após internamento prolongado na UCI do HAL?”
A avaliação das alterações da mobilidade foi feita mediante a análise da mobilidade articular (através da goniometria) e da força muscular (através da escala Medical Research Council ).
Foi ainda efectuada uma avaliação funcional, utilizando o índice Barthel, visando avaliar o grau de dependência face às alterações de mobilidade encontradas.
A população em estudo foram todos os indivíduos com alta da UCI após um internamento superior a sete dias, sem história de alterações da mobilidade antes do internamento. Foi
seleccionada uma amostra acidental, constituída por 11 elementos internados no serviço no intervalo temporal entre Novembro de 2010 e Fevereiro de 2011.
0 2 4 6 8 10
Sedativos
Catecolaminas
Bloqueadores neuromusculares
Nutrição parentérica
Costicosteroides
Nº de elementos
9%
82%
9% Não Ventilados
Vent. Invasiva
Vent. Não Invasiva
Índice MRC F f f % F ac F'ac f ac f'ac
100 1 0,09 9,09 1 11 0,09 1,00
[80 - 100[ 5 0,45 45,45 6 10 0,55 0,91
[60 - 80[ 3 0,27 27,27 9 5 0,82 0,45
[40 - 60[ 2 0,18 18,18 11 2 1,00 0,18
< 40 0 0,00 0,00 11 0 1,00 0,00
TOTAL 11 1,00 100,00
Alterações da força muscular
Em 90% dos elementos da amostra verificou-se uma redução do Índice MRC, com valores que
variaram entre 54,2 e 92,5. Em média o valor deste índice foi de 78,71 e o desvio padrão de 13,51.
Para melhor compreensão destas alterações a nível no índice MRC, na Tabela 1 agrupamos os
resultados em 5 classes, que correspondem a 5 graus de força muscular.
Desta análise constatamos que:
• Em cerca de 9% dos casos não se verificou perda de força;
• Em cerca de 45% dos casos houve perda de força ligeira (índice MRC entre 80 e 100);
• Em cerca de 45% dos casos houve perda de força moderada a grave (índice MRC entre 40 e 80).
Autonomia nas Actividades de Vida Diária
50% dos doentes necessita ajuda para o cuidado pessoal, não conseguindo lavar o rosto,
os dentes, ou barbear-se e pentear-se sozinhos;
80% não consegue entrar na banheira e tomar banho de forma independente;
80% carece de alguma ajuda para se vestir, em maior ou menor grau;
50% necessita ajuda para se alimentar;
80% carece de ajuda para se levantar da cama ou de uma cadeira e 40% necessita
mesmo de uma grande ajuda física para consegui-lo;
90% não consegue subir escadas de forma independente;
90% tem dificuldade em andar e 40% não consegue andar nem com ajuda;
90% tem controlo sobre a eliminação intestinal;
80% não controla a função vesical por se encontrarem algaliados;
80% não consegue ir à casa de banho.
A alta da unidade de cuidados intensivos pode acompanhar-se de problemas
significativos a nível físico e psicossocial, com impacto na qualidade de vida
dos doentes e dos seus familiares ou cuidadores.
A perda de mobilidade é dos problemas mais incapacitantes para o doente
crítico após a alta da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). Mesmo na
ausência de trauma, alguns doentes necessitam mais de um ano para
recuperar a mobilidade normal.
A fraqueza muscular adquirida na UCI é uma complicação grave da doença crítica. Esta
fraqueza não é devida à atrofia muscular associada à imobilização, mas a neuropatias ou
miopatias decorrentes da doença crítica.
As alterações da mobilidade articular e as alterações neuromusculares estão
relacionadas com limitações funcionais significativas no momento da alta,
nomeadamente em termos de autonomia na realização das suas Atividades de
Vida Diária (AVD).
0 a 8 pontos 9 a 12 pontos 13 a 19 pontos 20 pontos
40% 40% 10% 10%
Gráficos1. Caracterização da amostra segundo o sexo
Gráfico 2. Caracterização da amostra segundo
o grupo etário
Gráfico 3. Tipo de suporte ventilatório aplicado
Gráfico 4. Frequência de exposição a outros factores de risco
Gráfico 5. Agrupamento de doentes segundo o grau de dependência
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 20 40 60 80 100
Índ
ice
de
Ba
rth
el
Índice MRC Os resultados demonstraram ainda uma correlação positiva entre o índice MRC e o índice de Barthel (coeficiente de correlação de Spearman de +0,79), ou seja, os doentes
que apresentam maior fraqueza muscular são os que têm maior grau de dependência, tal como é evidenciado no Gráfico 6.
Diagrama 1. Caracterização dos doentes/internamentos com pontuação máxima e mínima no Índice
de Barthel
Gráfico 6. Correlação entre o índice MRC e o índice de Barthel
Angel MJ, Bril V, Shannon P, Herridge MS. Neuromuscular funtion in survivor of the Acute
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early course of critical illness: a prospective observational study. Critical Care Published Online
First: 18 Jun 2010. DOI:10.1186/cc9074
O internamento numa UCI é por norma um acontecimento marcante na vida de
uma pessoa.
A fraqueza generalizada após a alta da UCI está relacionada com estados de
dependencia graves, que implicam elevada quantidade e qualidade de cuidados.
Do internamento prolongado na UCI resultam complicações graves a nível físico,
psiquico e social.
A nível físico, as alterações da mobiliade resultantes do desenvolvimento de
fraqueza muscular generalizada são um achado importante.
É clara a necessidade de iniciar um programa de reabilitação ao doente crítico o
mais precocemente possível.
Gráfico 7. Intervenção dos Enfermeiros de Reabilitação na UCIP do HAL
Tabela 1. Distribuição de frequências segundo 5 classes do Índice MRC
A principal causa de alterações na mobilidade articular do doente crítico são as contraturas
articulares, devidas ao encurtamento muscular e/ou alterações a nível do tecido conjuntivo
articular ou periarticular.
0 20 40 60 80
Fortalecimento muscular /mobilização
Cinesiterapia respiratória
Técnicas de vibração / percução
Drenagem postural
Aerossois
Treino de equilíbrio e marcha
Treino da funcionalidade no leito
Reabilitação cardíaca individual
Treino de AVD's
O Gráfico 7 representa o inicio de funções especializadas (em regime de acumulação) dos 2
Enfermeiros de Reabilitação do serviço, no período correspondente aos meses de Abril a Julho de 2012.