Pós Produção - Como a arte reprograma o mundo contemporâneo - Nicolas Bourriaud
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~ a MUNDO CONTEMPORANEO
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COMO A ARTE REPROGRAMAo MUNDO CONTEMPORANEO
POS-PRODUC;:AO
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C InterpretJr as nOVJ:.mf~l.l~ .1rtisllC:JS em nos
Sol epocJ,. Jbon:lJndo JS rclJ,ficSentre J cultun l' J obr.l emparticulJr Tod.1s essas pclticJs,embora muito dlfercnles em Ionmos fonnais, recOrT\'m J formJSIii prodUZldJs. Elas lnsae\'\,m Jobra de Jrte num,} redc de signosC slgmfiCJlOOes, em vez de eonsiderii-Ia, como form.. aulonomaou oopnol!.o ponto de polrtldJ d.. obr.. e 0espac;o menul mutantc que J
Inlernet - ferrament.. central d..eTa da informalO'lO - abrlu p"'r..o pcns.:amenlo. Jpreendendo asformas de saber que gera. ASSlrn.e possh'el Oflcnlar-se no COlOScullurJ.\ em qu~' estolrnos mergulh..dos, dele deduzlndo no\'osmodus de produC;'lo.
£-,101 obr.l l' um prolong.lOlImlo
l' wmpll'ffil'nlo d~' f:::;ttiicll rdadmhll, IJmb~m publieJdo pelJMJrtms Edll~IrJ. S~'u Iitulo, umI~'rmo I~xnico u......do no mundodol n', do (\O~'mJ l' \"id~'il, dl'~;g
OJ " (onlunlO d~' IrJIJmento'>dJdo.. .I urn mJteriJI regi .. lrJdo:.I m"nIJg~'m, 0 J(r~~lmo de {,u·Ir.l" fonll'" n"UJl" ou ..unor,1 .. ,.IS kgendJ", 01" n'"'" "ff, 0.. cf~'i
10" l·"plX1Ji...r("'.!,n..lu~,j"~ en
Icnd...liil
o I.e~ "'" tftl. Dijon. 2004o :lOO9.lroWtinf lalon lhnno U!b" SJo ~ulQ, fW:& ~ prelmlt~
suMARJo
Pu.~ £N",:I",A~At.:2TIuIs rOllb~NircrioI ~ Jt.wm
F'ltdui;iD NllCIn.lI ~ IkImo c..=.t.I'lo.b;Iolit~ s..w. s-wa.~&rifi::o ~ M,y.o..... l.W:l~ flr,o!rl:r~Jbono.i.>
~~z-.. ...koois>o Dmut Jl c.v.u.p
a.-~.u Si1:v
~1"'--"d<C"''''~ ... '''bU<~ioIOI'llOoNr•••..aN. do u.... SI'•••ooll)
o uso dos objetos ..._ .._ ..__._. 19
o uso do prodllto, de Dllchllmp a Jeff Koons •.,_..~__. 22
A feira de usados. forma domlnante da arlc dos
7
35
35
._.
o uso das fonnas _ ..~
Os anos 1980 e 0 naKimcnto da cultura OJ: pam um
comunismo das formas_
A forma como enredo: urn modo de utlliz.at30 do
mundo (Quando os enll!dos Sf.' tomam fonnas) . ..RukntTIr,wa,,¥_ _ 51
Pierre Hun;he 55
Dominique Gonzalez·Foc!rster 61
liam Gillick ::-========== ..M,Iurizio Cattebn _ _ 68Pierre Joseph: utllt Dnnoaaty 73
anos 1990 ~ _
Introdu~30 __,
01 mlo6 coo.~
1_,..... coU.... olaloa!ll<r.I ....,.clo~ .. h;/o ....... _ S+culoM 7tIO.!Ol
a....rn-L :-'looIooPl»-po<>Ib;'" .....,.....~.,.".o_l'>Ib_~",""""ltl<OI
Si«Ilot -.......J lo..t~0...0..."""".."" _Slo 1'",,1.> '-Uri;,... 2009.-lCcI«ioThdo, .. Ano.l
111111.. t:IripoI. I'\>ol p<o4u<tion..!SllS r.t4$-it635-II.'
o usodo mundo 79Pfaymg tJ~world reprogramar as formas SOCialS ._. 79
Phlhppt" ParTCno &. -_. ---,_.- .. 85
Hl::chng. emprcgo e tempo lIvre -- --_.._ •.~. 89
Como habitar a (uHura global (A cstclka dcpois doMP3) __"_,__,,, .~ _ _~~-_.__ 97
A obra de :ule como superHde de ~tocagem dl' m(oT-
L"fRODU<;AO
~- - - -- ,-_ _ ~,
o .:IUIOI', t.'SS.:I cntklade juridlcaEde1:ISff\Ot' p65.prod~ _
_.__ . 9799
'0'.t. slmp1t's,osu IlUnmno p..oou;; oOnlS;
polS brol, II gtultIa:: rom tIns 0 quI' ','m qUi !itT fl'llo. U
Sluff !it ~n.,. ddll$."
SerGe Dancy
"'P6s-produ,50"': termo tee-nico usado no mundo dOl
televisao, do cmema e do video. Deslgna 0 conjunlo de
tratamentos dados a urn material rcg;istrado: a montagem,
o acrescimo de oulras (onles visuais ou sonoras, as legen
das, as vozes off, os ('(CltOS espcci3is Como conjunto de
atividades hgadas ao mundo dos scrvi{OS Cdol reciclagcm,
a pOs.produ.;ao faz parle do setor terci5rio em oposH;ao ao
seier mdustrial ou agricola, que lida com a produ,50 das
malcrlas-primas.
Dcsde 0 com~ dos o1nos 1990, uma quantidade ca
da vez maior de artistas vern interprclando, rcproduzindo,
rccxpondo ou utihzando produtos cullurais dlSponi\-eIS ou
obras realizadas por tercciros. Essa arlc da p6s.produ~ao
coll'CSponde tanto a urna mulhpltc<l,ao da oferta culturalquanto - de forma mais indlrela - aancxiI,ao ao mundo da
artc dl' formas ;lIe cnlao ignoradas ou d('sprczadas. Pode
sedlZcrquccssesarhstasquc lO5erem seu trabalho nodos
oulros rontnbuem pam abolir a distin,ao tradicional en
tre produ(iio e consumo, cria,50 c c6pia, ready-made c abra
original Ja nao lidam com uma matena-prill/a. Pam cles,050 se lrata de clabor3r uma forma a p:1rtir de um material
brula, e SlID de trabalhar com obJctos atuais em C1rcula~o
no mercado cultural. iSla c, que /5 pOssuem umaJorma da
d.1 pot outrem. Assim, as no¢es de originalidade (eslar na
ongem de-) e mesmo de cna\5.o (faze! a partir do nada)
esfumam-se nessa nova p;;usagem cultural, marcada pclas
figuras gemeils do OJ e do programador, cujas tarefas con
51stem em selec10nar objelos culturais c mscri-]os em contextos defimdos.
A Estetka relaciollol, que de ccrta mi1neiri1 se prolon
8i1 ni1 presente obrn. descrevia i1 scnsibilidade colellva ni1
qual se inserem as novas fonnas da pratica artistica. Am
b.:1s tomam como ponto de partidi1 0 cspa\O mental muti1nIe que a mternet, instrumento central di1 era da inform'l(;ii.o
em que mgressamos, abriu para 0 pensamenlo. Mas a Est£.I!CD relDaontd tral d •ava 0 aspcclo conViVial e mterativo des-sa re...ol~o (as - Irazoes ~ as quais os arllst<Js sc dcdic<Jma produzir modelos d . 1
e SOCia ldade para sercm inscridosna esfera mler-humana)•• f • enquanto a PtSs'produrao apreen-uc as orrnas de saber
geradas pelo surgimento da redc:
8 NICOlAS IIOlJRJuAuo9
em sum.;!, como se onentar no caos cultural e como dedu
zir nm-os modos de produl;ii.o a p.utir dele. Dc fato, esur
preendente que as ferramcntas malS usadas para produzlr
esses modclos rclaC'ion'IlS scjam obras ou cstrutur.:lS for
mais ph.-existcntcs, como sc 0 mundo dos produtos cullu
rais e das obras de arte constituissc urn eslrato .:Iutonomo
capaz de forneccr instrumentos de ligal;ii.o enlre os mdivf
duos; como sc a mstaUr.:ll;ii.o de novas formas de social idadc
e uma \ocrdadC'I!a rnltca as formas de vida contcmporoineas
passa.ssem por uma ahtude dlfere-nte em rclal;ii.o 010 patri
monio artfstico, pela produl;iio de novas rdllriks com a cui
lura em geral I.' com a obra de arle em particular.
Algumas obras cmblcmiitici1s pcrmitem esbof;'ar os
contornos de uma tipologla da p6s-produl;iio.
Reprogramar obras existentes
No video Frrsli Accollci (1995). MIKe Kelley e Paul
McCarthy usam manequins e alorcs profisslOnals para as
performances de Vila AeconCl. Em 011t' RrooIII,ioll per MI
'Iule (19%), RirknlTIravanija incorpora .i sua instalill;ao
~as de Olivicr Mosse\, Allan McCollum I.' Ken Lum, no
MaMA, cle ancxa uma constru"ao de Philip Johnson. convidando cnanl;as para dcscnhar Unlltled (Playtime). 1997.
Pierre Huyghe projeta um filme de Gordon Matta-Clark..
CO/lia21 IIItt'rstCt, nos mesmos locais em que foi rodado
(UglIt eo,deal Illtersect, 1991). Swetlana. Hegl'r c Plamcn
Dejanov, na sene Plrnty Objects of Des'", cxpOem em pla-
Usar as imagens
Ulilizar a sociedadc como urn rcperl6rio de formas
Matthleu Laurette obtem ° rlX'mbolso dos produtosque consome utllizando sistemalicamenle os cupons ore
recidos pelo marketmg ("Sua s.llisfac;.lo au seu dlnhciro de
volt3"') c, 3SSUll, drcula entre as brechas do sistema pro
moclonal Quando produz 0 pilato de um game sl/ow 00
bre 0 pnnciplo dil Iroca (£1 Gmt! tfllequi', 2000) ou monlil
urn banco olftJlore com os fundos arrecildados numa $C.
gundil bllhetena na entrada dos centros de Mle (LAurette
Bauk UIJIIIU;II'II, 1999), de est,5 Jogando com as form3s cco
nornicas como $e fassem hnhas c corcs de urn quadro
11
NoAprrloda BienOlI de Venczade 1':193, Angela Bulloch
aprcscnta 0 vIdeo So/arlS, 0 filme de tiq'ao clentfticOl de
Andrei Tarkovski, substitumdo a Inlha sonora por seus
pr6prios dl,51ogos. 24 HOllr Psycho (1997) C uma obm dc
DougtOls Gordon que conslslc numa proJcc;50 do tong.l-me·
tragem de Alfn.'<1 HItchcock em baixa rotac;ao, de modo que
dOl se cslende 010 lange de 24 horas Kendell Geers Isola $C
qi"lcncias de fitmcs conheddos (um esgar de Harvey KeItel
em Bad LtelllellQIlI Wlcio !r.>II/tiro), urna cena de 0 aor·cisla) e coloca as passagens em ClfCUlto fechado em suas
mstalac;Ocs de VIdeo, ou escolhe cenas de llroteios do rt!
perlorlo cmematografico conlcmporfinco para projeta-Ias
em duas lelas frenle a frente (TW-SlJoot, 1998-99).
H3bitar eslilos e formas historicizo:adas
taformas mmlmahsl1l5 as obras dc arlc ou os objclos d"
&!sIgn que rompraram Jorge P.udo. em suas instala~Oc.'S,
manipulJ ~JS de AlvaT Aalto, Arne Jakobsen l' !SJmu
Noguchi.
FelIX Gonzalez-Torres utlhzava 0 \-ocabul5rio formi'llda Ollie mimmahst,} ou da anti(orma r~ificando-as,
m,lIS de Innta anos depols, segundo suas pr6pnas prcocu~ poH't1cas. Esse mesmo glossario da arte rnmimalista ecmpregado por Li3.m Gillick para uma arqueologia docJplt.:lhsmo; por Dominique Gonzalez-Foerster, para a cs
fera da mtimldade; por Jorge Pardo, para urna problema
bca do USO; poT Daniel Pflumm. para urn questionamcnto
da n~ao de produ<;ao. Sarah Morris utiliu a grade modemista em sua pmtura P'lra descrcvcr a 1lbstr;:l(;ao dos fluxes econamicos. Em 1993. Maurizio Cattclan cxpOc SailS
tlfJl', UffiJ. tela que reproduz 0 famoso Z de Zorro no esti.
10 d3.S lacerac;Ocs de Lucio Fonlana. Xavier Veith'll' eXpOeLl Forti (1998), onde a rcitro marrom evoea Joseph Beuys
e Robert Morris, nurna eslrutura que fuz lembrar os /N"elrlfms de Solo. Angela Bulloch, Tobtas Rehberger CarstenN I . 'I \CO ai, SylVIe Fleury, John MIller e S)'dney Stucki, para CI-
tar i1penas ill,"" d,a i1plam cstrulul'3s e formas minimaIlstas, pop au cone'l . •
CI uals as suas problemallcas pcssoaischegJndo a reproduzlr <:t>n i! . . '.1_ __,u nClas mleiras de oulms obras...., arte eJtlslentes.
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12 NICOLAS BOURRIAUD
lens Haaning lrnnsforma centros de aac em Jojas de im_
porta~ao·exporta~50 ou em oficinas dandcstinas; DanielPllumm apropria-se de logos de muJtinadonais e conferc
a eles vida pl.:istica pr6pria. $wctl,lna Heger l' PIa men Dcjano\' tr.Jwlham em fodos os emprcgos possivcis para <ldquirir ·objctos de desejo'" c v('ndem sua fou,-a de trilbalho
p.:lril a BMW durante todo 0 ana de 1999. Michel Majerus,
que inrorporou a h~cnica do S<lrnpleamento em sua protica pkt6riro. cxplora a abundante mina visual da cmbalagem publicitaria.
Rerorrer ~ mod.. c aos meios de (omunica~ao
As obras de V.lnessa Beecroft deri\'am de urn ceuzamento entre a performance e 0 protocala da fotografia de
moda; remetem 11. forma da performance, mas nunca sc rcduzem a cla. Syl..;e Fleury vincula sua produ"ao ao univer
se glamourizado das tendencias aprcsentadas nas revistasfemmin.ls MQuand - h "
• 0 nao ten 0 uma Idcla clara da cor quevau usar em mlOhas obras", diz cIa, "'pego uma das novas
cores de Chanel~, John Miller realiza uma sene de qu',dros - I - ..
e lO:t.a al;oes a partir da estctiea dos estudios de jogos teleVlSlvos Wa 0 l' .. . ng uS<! celona lmagens publicadas naImprensa e Ihes d' I
. a vo ume, sob a forma de esculturas degessa pmtado.
Todas essas praf • .. lcas artlStleas, embora muito hetero-
geneas em termos formais co .rer a form ., ' mpartllham 0 falo de recor-
as I produzid~ £1. as mostram urn.. VOntade de
13
inscrever a obril de <Hte numa rede de signos e slgnifiea
"oes, em vel'. de cOllsider.1-Ia como forma autoJ\oma au ori
ginal. Nao S<! trata mals de fazer tabula rasa 0\1 de criar a
partir de urn milterial virgem, e sim de encontrar um mo
do de insen;3.o nos imlmeros fluxes dil produo;3.o. "As eOI
sas c os pcnsilmentosN
, cscreve Gilles Dcleuze, "crcscern
ou aumentam pclo meio, e caf que a genie tem de se insta
IoU, csempre cste 0 ponto que eedc~1 A pergunl.1 artistica
nao em:us; ~o que fazer de novidade?", c sim: "0 que fa
zer com isso?". nito em outros termos: como produl'.ir sln
gularidadL'S, como e1aborar scnlidos a partir dcssa massa
caotica de oblctos, de nomes proprios e de refercncias que
eonstituem nosso cotidiano? Assirn, os arlislas aluais nao
compoem, mas programmll formas: em vez de transfigu
rar um clemento brulo (a tela br.lncil, a argil ..), eles utili
zam 0 dado. Evoluindo num universode produtos avenda,
de formas preexistentes, de sinais 1.1 emitidos, de prCdios la
construfdos, de itinerarios bahzados per seus desbrnvado
res, eles nao considcram mais 0 campo artistico (e pederfa·
mos ilereseentar a televisiio, 0 cinema e a literntura) como
urn museu com obras que devcm ser dtadas ou "supera·
das", como pretcndia a Ideologia modernista do novo, mas
sim como uma lola eheia de ferramcntas para usar, esto·
ques de dados IXlrn manipular, reordenar e lan.,ar. Quando
Rirkrit Tiravanlja nos prop6e a experienci.. de uma estru·
lura formal ondc prepara pratos culin5rios, de nao est,i
1 Gill.,.. Dolcuu, """'1'"1,.,,. F.ri... tAo Minult, 1m, p. 219, [Ed. .".••• eo.,.'''_rW>. 'r.>d. r'<!Of T'.lII"'IN.r~ Rio <I~ ).n~It", F.di'o<> 3-1, 1m.)
l' NICOLAs IIoURkLwo
fazendo uma pe-rformJncc. mas ulllizando a forma-per_
fomance Seu objetivo n50 {: queslionar os Ilmltcs dOl <ltfe;el(' ullhza farmas que scrviram nos anos 1960 p<Jra Inter_
ragar esses hmltes, mas rom a fin<alidade de produzir cfei
tos lotalmen!{' dllerentes. TIravanija, ahas, cit.. vjrias ve;.:cs
a frase de Ludwig Wittgensteln° "'Nao procure 0 sIgnifica_do. procure 0 u5O".
AquJ,. 0 prefixo "'pOs'" n50 indica nenhuma ncga(ao,nenhuma sUperJ~50. mas designa uma zona de atividades.uma <1lttude. Os procechmentos aqUl lrarndos nao consis
tern em produzlr imagens de lrnagcns - 0 que sena uma
postUi.1 maneirista - nem em lamentar que luda ",5 foi felto", e SlID em lnwntar protocolos de usc para os mOOos de
represcnla~jo e as cstruturas formalS eXlslcnles. Trata-se
de tomar todos os COOlgos da cullura, todas as formas concret'as da VIda cotidiana. tooas as obras do patrim6niomundla], e cotod-los em funcionamento. Aprender a usaras formas, como nos convidam os artlstas que seTiio aquiabordados -
, c, em pnmeiro lugar. saber tOllltlr posse deJas ehablta-las..
A pnihc.a do OJ, a ahVldade do internauta, a alUa{aodos artlstas da p6s-prod - _
U{ao supoem uma mesma figu-ra do sabel" que sc ( .
, araetenza pela Im'Cn-oao de itinerariesporenlreacultura Os It' -
- es saoSt'nlUmaldas que produzemanles de mOllS nada, ......cu . 'Toda obra P' rsos ongmals entre os signos.
resulta de urn ('nredobrc a cult.,..... que 0 artista prOleta so-•consnoerada como\"iI-que por sua \........ 0 quadro de uma n<trrati-
, .... prO)eta novos ",-,__ "enr..~ pasSlvelS, num
15
mO\"Imento sem lim 0 OJ aClOna a hlSl6na da mUSlca, co
plilndolcolando Clrcultos sonores. relaClonando produtosgra\"ildos Os arlislas, por sua WZo habltam alivamenle asforma~ culturais e socials. 0 inlernaula cria seu prOpno SIte ou l'OIll/, pagr, levade a consult..u constantcmentc as 1Il
formal;'Oes oblidas, ele inwnt,l percursos que pede salvarem $Cus favontos e rcprocluzir avontade Quando procuraurn nome ou urn assunto num buscador, surge na tela urn..mfinldade de informa{'Oes said"s de urn labinnto de ronCOS de dados. 0 inlernauta Imagina conexOcs, rc1a-ooes e!;
pedficas enlre siles dfsparcs. 0 sampleador. instrum('ntoque digitaliza sonoridildes mUSicalS, lolmbCm supOc umaattvidade p('rmanente; escular discos lorna-s(' urn trolbol[ho ('ffi si que atenua ol fronteirol entre reccpr;ao e praticagcrando, assim, novas cartografias do saber. EsS.1 rccidagcm de sons, imilgens ou formas implica uma nilwgar;iiomressante pclos meandros da hlst6ria cultural - navega{50 que acaba se tornando 0 proprio tema da pr,Hica artlstica. Pois nao ea ;ute. segundo Marcel Duchamp, "urn jogoentre toclos os homcns de toclas as cpocas""? A pOs-produ{SO ea forma conlemporanea dcsse jogo.
Quando urn mUsICO faz uma digilahzar;;io sonora, desabe que sua contribUlr;50 podera ser rClomada e usada como material de rose para uma nova composi{50. Para de,enormal que 0 tratamento sonoro aphcado ao audiO gravado \"cnha a gerar, por sua \'CZo oulras interprclac;Ocs, e assim sUCCSSlvamentc. Com as musicas sampleadas. 0 tm/lo
represcnta .lpertas uma sahcncla numa cartografia movel
multiplo. N.lo emais urn ponlo final: eum momento na ca
dCla mfimla d,lS contnbul¢lcs
Ess."J cultura do usa lmphca uma profunda lransfor
ma~ao no estatuto da obm de .ute Ultrapassando seu pOl
pcllradlclonal como recept,ku[o da vis.io do arlista, <'Igom
cia funciana como um <'Igente <'Ilivo" uma dlslnbul~,10.urn
enrcdo rcsumJdo" uma grade que dls~ de aulonomra e
rnatenalidade em diversos graus, rom urna forma que pa
de vanar dOl simples ldeia ale a escultura ou 0 quadro. Pas
sando a ger;Jr comporlamcntos c potcnciais rcutlliz;ro;o~,
;J arte contr;Jdiz;J cullura ~passiva" ao opor mcrcadorias cconsumidores e no a/ivaI' as formas dentro das quais se de
scnrola nosS<! vida cOlidlana, sob <'IS quais os objetos cui·
tumis se aprescnlam a nossa ;rpreciao;ao. E sc a criao;.io
artfstk<'l, hOJc. pudesse ser compi1rdda d um csporte cole
Iivo, lange d;r mltologia d.issica do ~foI\O $Olitlino? "'Sao
os espectadoms que fazem OS quadros", dizia Marcel Du,
champ: a frase 56 adqulfI.· sentido quando;J rel;Jcionamos
com a intuil;ao duchampian;r sobre 0 surgimenlo de um;J
cultum do liS(), na qual 0 sentido nascc de uma rotabom
o;.io, de uma negociil~o entre 0 arlisla e as pessoas que
"i1m obscrva-la. Por que 0 scnlido de uma obm nao hoi de
provir do uso que Ihe e dado, alem do S('ntido que Ihe e
conferido relo artlsta' t essa a acepvio daqullo que pode
riamos nos ;JfrlSCJr a chamar de comwl/smo fomral.
16
Ele enlra numa cad("la. c sua signific<l{50 dcpcndc, em p.:lr
Ie, da pos!{50 que ocup.1 nesse canjunto. Da mCSma form"numa s:ala de bate-pi'lpo on-lint', urna mensagcm adquirc
valor no momento em que e r('temada c comentada poc
outra pesS03. Assim.. a abra de arte conlcmporanea 050 SC
roIoca como h~rmino do "'processo criativo'" (urn ·produ_
to acabado" pronto para sec contcmplado), mas Como urn
local de manobras, urn portal urn gcrador de iltividades.
Brirotam-se os produtos, navega-se em redes de signos,
m5erCm-se suas formas em Iinhas cxistentes.
o que une todas as figuras dOl pr5tica artistica domundo C L'SS3 dissolUl;ao das frontciras entre consume
e p~u\ao "Mesmo que seja i1us6rio e ulaplco.... explicaDomImque Gonzalez-Foerster, "0 que Importa einlroduZIr uma espeae de igualdade. e Supor que, entre mlm _
que estou na ongem de urn disposihm, de urn sistema _ c
o outro. as mesmas cClp3cidades e a possibiIidade de urna
~Ia~ao Iguahtana vao Ihe permilir organizar sua pr6priahlSt6na em rCS1'V'><:ta . h" .6 "
• . I'-~ a IS na que acaba de vcr, com suaspropna,s referCnc:ias"l. Nessa nova forma cullural que pode
ser dcsignada comocultura do uso ou cultura dOl allVldadea obra de arte fuflCtOna " '
COmo 0 leonina provisOno de umarede de elementos anlil"YYY\n.........
_.__ ·'~~''''~ldUOS" como urna narralivaque prUl<}(lga e remtern I
• '1't'C a as narrativas anteriores Cadaexposll;ao COnt&n cd .ser ansenda 'm d'
Oenr 0 de UIT\il Oulm; cadO! obm podC'
IVC'!'SOS P'~ "-oramns e scrvlr como enn.'!lo1. COl!. do e>'1Q1(.Io 0"".; •
"wtP........ (P.n., Mu....,doA"..~c.o.r..okl:.1<ttrw"~ I/wyg",", PJU.do <:Ido.dode P..... 1999, P. 82).
11
o USO DOS OBjETOS
A dlfcren{,} entre os artistas que produzcm obras a
partir de obJctos jti produzidos c os arllslas que opec.lnl
ex Ili/ulo Ca mcsma que Karl M,mc, em A idi'Ologia II/emil,
aprcscnt.wa entre ~os Instrumcntos de produ~iio nalue.lis·
(o trabalho da terra, por cxcmplo) c "os mstrumcnt05 de
produ{iio cnados pela civlhz.a,.'io". No primclro caso, prossegue M'lr)c.. os indivfduos est50 subordinad05 3 natureza.
No segundo, e1es Iidam com urn "produlo do lrabalho", ISla e, com 0 COpltD./, mescla de lrabalho acumulado C lnslru·
mcntos de produ\So. Agor.l eles sO se "'ffianlem juntos I'd"
Iroca", comcrcio inter-humano encilmildo por urn Icrecleolerma, il moeda.
A nrlc do sccuJo xx descnvolvc-sc num esquema se
mc1hanlc; cia mostra, .1mdil que t.udHlfficntc, os dCllos ciaRcvolu{ao Industrial Quando Marcel Durhamp, em 1914,
cxpOc urn portJ.-garrafJs c utihza como "'InSlrumcnto dc
produl;'ao" um obJcto f3bnClldo cm senc, ele tr.msporta 0
o consumo, longe da pura passividade a que geralmen!c ereduzido, ex~uta uma quantidadc de operJ~Oes comp..1r5·
'leis a umil verdadcira "produ~5.o silendosa" e c1<1I1dest ina.
Usar um objeto C, neccssariamentc, intcrprcl-3-lo. Utili:tJr
urn produto C, as vczes, trair seu conccito; 0 ate de Icr, de
olhar uma obra de arle ou de asslstlr a urn filme signifita
lambcm saber contorn6-los: 0 uso curn aID de micropira
taria, 0 grau zero da p6s-produ~3.0. Ao utilizar sua tdevl
s50, seus livres, seus discos, 0 usu<irio da cultum cmprC'gaIOOa uma ret6rica de pr31kas e "ilrtimanhas" semelh;:mtc a
uma enuncia~50, a uma linguagcm muda possivC'] de clas
sificar em seus c6digos e figums.
A partir dol lingua que [he e imposta (0 sist/'ulIl de
produl;30), 0 loculor constr6i suas [rases (os alos da vida
cotidiana), reapropdando-se, como rnicrebricolagens clan
destinas, da ultima palavra na cadeia produtiva. A produ
~30 torna-sC' "0 lexico de uma pr5tica", isto e, 0 mated;!l
intC'rrnediado a partir do qual se artlcularn no\'os enunciil
dos, e n30 urn rC'sultado final. 0 irnportantC' C0 que fazc
mas com os elementos anossa disposi~<1o. Dcssa milneira,
somos locat<irios dol culturJ, a sodedade c urn lC'xto cuja
regra lexical ea prOOul;<10, lei contornada de del/lro pelos
usuanos supostamente passives, por rneio d(' pr<ilicas de
p6s-prOOu~iio. Cada obra. sugere Cerleau, "e habit<ivel co
mo urn ;!partamento alugado". Ao ouvir muska, ao [er um
livro, produzimos novas matthias, aproveitando diaria
mente novos meios tccnicos para organizar essa produ~5.o:
zappers, videos, cornputadorcs, MP3, ferramentas de scle-
20 NICOLAs BOu"'"~","
processo capit<'llisla de produ(50 (tr.1balhar a pMtir do trll_OO/lro aClIIuulado) para a csfcra da arte, .10 meSmo t
empoinscrt'vcndo 0 papel do artista no mundo das ttOcas: dl"repent.:' rIc pal\'C'e urn comerci,mte, c\lje trabalho co .nSlsteem t~nsferir urn produto de urn local para Dutro.
Duchamp parte do principlO de que 0 consumo I.1m_bern eurn modo de prodUl;5.o, tal como Marx havi" c .• ... Scntoem sua l/llrodllfll0 il (r{fica dn eCQllomil1 poUt/ea: "0 consumotamlXm cimediatamenle produ(5.o, aSSlrn como, na natu_reza, 0 consumo dos elementos e das substancia, qu,' ., ' .mIcase produyio da planla-. Scm contar que "na nutri\ao, que cu.ma forma de consumo, 0 homcm produz seu corpo". AsSlm, urn produto sO sc loma realmente produto no ata do
consumo, pois, prossegue ele, "uma roupa apenas se tor
n: uz:na roupa real no ato de vesti-Ia; uma casa desabitada
naa e de. fata uma casa~. Alem disso, ° consumo, ao criar
il. neressldade de uma. nova. produt;5.o, constitui ao mesmo
tempo°motor e 0 motivo dessa cria~5.o. Tal ea virtude pri-mordIal do rt!Qdy-mad I L._]
e; cs a= ecer urna equivalencia entreesc,_.olher e ~abricar, entre consurnJr e produzir. a que edi
ICI! de acellar num m dd , un 0 governado pela ideologia crist5.
o es or~o (·Trabalha -do her6i ] _ ras com 0 suor de tua testa") ou pela
pro et5.no slakanovlsla.Em SCtI d •
"nsalO Arls defi' r -MlCheld C IlIre, mve"t/Oll dll qllotidiclI'
e erleau examma os 'sasuperficiedad ] p _movlmenlosocultossobaH_
up a rodu~ao-consumo, mos!rando queI. M"""l do c..r,~
[Ed. brb.. It I>o""'f.' .... ~n'4<}:i.... I'i........r.... it ..4<-1_narD, v-..~d4
j<Oli4""". orI" d.~"'" 1"'4.",9"Dltd"~,I'~n~ f-oli", 19811.
. l'lIrohTl ftonwa Alvn. Rio
!'OS·I'llODUcAo 21
22 NICOLAS IlOURRIAl1l)
{.io, recomposi{iio, recorlc... Os artistas "POS-pm<1 Iu Ores~
sao os oper<'irios qualificados desS.l re.1propn<l{ao Cllitural.
o usa do peodula, de Duchamp a Jeff Koons
•Dc ~to, a apropna"iio ca prilnclra fase cia pas.pro_
dU\<lo: nao se trata mals dc f.lbrkar urn objcta, mas de es
colher entre os objetos existentes e utilizar ou modificaf 0
item cscolhido segundo uma inten"ao especifica. Mtlrccl
Broodthacrs dlzia que, "desde Duchamp, a arHsta c0 au
tor de urna dcfini,J:o~ que vern a substituir a defini"ao dos
objetos esculhidos. Mas 0 lema desle hvro n50 Ca hlst6ria
da apropria"iio (ainda por ser escrita), c apenas tomarcmos
alguns exemplos utels para a comprcens.io da artc mais
recente. Ass\l~, cmbora 0 proccdimenlo da apropria,,50
tenha suas ralZCS na Hist6ria, minha narrallv.l inicia-se
c~m 0 Iwrdy-madl!, que representa sua primeira manifesta
,,'10 conceitualizada, pensada em rela,,50 ahistoria da arte.
~u~ndo Marcel Duchamp expoe urn objelo manufutura
;mu:por~a-garrafu.s,urn urinol, uma pa de neve...) como
r I esptnto, ele desloca a problematica do processo cr;f1roo, co OCando a enfasc -
nao em algurna habilidade manuale Slm no olhar do arl1sta b' 'ato de esco\l.' . so rc 0 obJcto. Ere afirma que 0
ller c suficlcnte ,\:, f dca, tal como 0 'd ...~ra un ar a opera"ao artfsti-
a 0 e fabncar .uma nova id(ila~ , pmtar ou cscuJpir: "atribuir
il um obJcto c .SoC modo Du h ,em Sl, uma produ"iio. Des-
, camp completil a d fi . -lnscrir urn objeto C nJ~ilO do terma: cdar e
num novo Cored '.p<-rsonagem numa . 0, consldera_to como urn
narmtlVa.
i'OS.PRODUo.O
Nos anos 1960, J principal difeTen(;<l entre 0 novo rcaUsmo europcll {' 0 pop amcric.lno reside na naiUTCl;l do
olhar sobre 0 consumo. Arman, Cesar au Daniel Spacr
ri piHcccm fasclnados 1'('[0 ato de conSUlmr, c cXpOcm as
r('liquias desse g('510. PMil ell'S, 0 (anSUllla C urn feno
mena abstralo, tlm mito cup lema invisfvcl c irrcdut(Yd
a quolqucr rcprcsenta<;Jo figurativ.l. InvcrsJIllCnle, An
dy Warhol, Claes Oldenburg c ]amcs Rosenquist orien
tam 0 olhilr para a compra, p,H;l 0 impulso visunl que lcv,'
urn indivfduo a adquirir tal ou tal produto: 0 objctivo de
les, mais do que documentar urn fenomeno sociol6gi
co, c explorar uma nOV<l materia iconogrMka. Porlanto,
des interrogam sobretudo a publicidadc e a mec.ill1ca da
frontalidade visual, ao passo que os europeus exploram
o mundo do consumo pdo filtra da grande metMora or
g5nica, privilegiando mais 0 valor de uso do que 0 valor
de troca das coisas. Os novos re.1listas intercssam-sc mais
pelo usa impcssoal c coletivo das formas do que pdo uso
individual, como mostram admirawlmente os Irnbalhos
dos cartazistas Raymond Hains e Jacques de la VllIeglc' a
autor multiplo e an6nimo das lmagcns que eles rccolhem
e exp6em como obms t! a pr6pria cidadc. Ningucm conso
me, "isso" se consomc. Daniel Spocrd mostra a poesia dos
restos de mesa, Arman revela a lirica dos depositos e la
tas de lixo, Cesar eXpOe 0 autom6vel esmagado, chcg<lndo
ao termo de seu destino de vciculo. Acxcc,,50 de Martial
Raysse, 0 mais "americano" dos curopcus naquela epo
Cil, csempre uma quest50 de mostr.lr 0 fim do processo de
consumo reahzado por outrem. 0 novo rcalismo invcn.
tou, assim, uma espklC de p6s·produ~ao aD quadrado: 0tema c, scm duvida, 0 consumo, mas um Consumo reali_
uda de manCIT;) abstrala e geralmenle anonima, ao passo
que 0 pop explor.l os condicionamentos vlsuais (publicida.
de. embalagem) que arompanham 0 consumo de maSS<!Ao rccuperar objctos ja usados, as novos realistas sao os
primciros paisagislas do consuma, os autores d.,ls primci
ras nolturezas-morlas dOl sociedade industrial.
Com a pop arl, por sua W2, a nO{ao de consumo constituia urn tema. abstrato hgado aprodU';ao de massa, que sOvern a :Idqumr urn valor concreto, vinculando-se a dese
jos individuals, no com~o dos anos 1980. Os artislas filia
dos ao sunultlcumismo irao considerar a obra de arte como
uma "mercadoria absoluta" e a criar;ao, como urn simplessimulacro do ato de consumo. Compro. logo aisto. escrc
w Barbara Kruger na epoca. Trala-se de mostrar 0 obJe
to sob 0 angulo dOl eompulsao aquisitiva, do desejo. a meio
GlrnlnOO entre 0 inaeessl\'el e 0 disponivel. Essa e a ta~
refa do marketmg, que representa 0 verdadeiro tema das
obras simu!aoonistas. Assim. Haim Steinbach dispOe ob-)etos de produ"""o em -"--.. ,. ··d d.... ""'II.. au an 19u1 a es em prateleirasmlnlrnahstas e monoc ',' Shroma leas errie Levine exp6e c6-plaS de obras de Joo M· 6n Ir, Walker Evans au Edgar Degas.Jeff Koons cola anu •Gl bolas de ba noos. recupera lcones btsclJ ou colo-
Soquele nutuando.- .AshlPv 8 I.A__ "'" rec:lplent~lrnaculados.
-~ l(o..<:Imn faz urn aUImarcas dos prod o-retrato COrnposto por logo-
utos que ele usa em $CU cotidiano.
25
Para as slmul3cionlstas, a obr,} result.. de urn con
tralo que estipub igu,}llmportancl3 30 consumidor e 30
artista forncccdor. Assim. Koons utlliza os objetos como
ronvectores de desejo, paiS 0 "'slstem3 capitalist,} oclden
tal concebe 0 objeto como uma r«ompensa pclo trab.l
Iho cx«ut3do ou pela reallz,}~ao alcam;,ada 1.. 1 Uma R'Z
acumu]ados, esses objetos definem a pl'rsonalldadc do
cu, realium e cxpflmem scus descjos'" Koons, Levine
e SteinbJch apresentam-sc como \'erdadciros interme~
diiinos, corrtlortS do dtMjo> cujos trabalhos represent;1m
simples simulacros, imagens nascldas de urn estudo de
mercado, e nao de Ollguma "necessidade mlerior", vOllor
mlnimo. a objeto de consumo corrente duplicOl-se em ou
ITO, puramenle virtual, que designa urn "eslado inacessi
vel"', uma falta Ueff Koons) 0 artista con50me 0 mundo
em lugar e em nome do espcclador. Ele displie os obJe
tos em vltrines que neutralizam a no~ao de uso em favor
de urn,} especie de trot'a Interrompida em que 0 momen
to da apresOItflfQO surge sacralizOldo. Ao utiJizarOl eslrutu
ra gencnca das pratelelras ness,} epoca, Haim Steinbach
Insiste na presen~a domlnante delas em nossa universo
menial: olha·se apenOls 0 que cstfi bem expaslo, VOlle dlzer,
deseja-se apenOls 0 que edcscjado par outros, as objetos
que ele mstala em su3s prateleirOls de madeira e f6rmi·
ca foram "comprados ou juntados. dispostos. reunidos e
Z. Ann ColdslM -l<'lfJ:oonJ" In A F"""'cf""'" (tof~ MOCA.1989, nt11of;oj.
3. &."""..10 l.t'lI CQ""1ns of" dim (p.ri$. Cfn(n) Pumpldou. 1987).
26
cnquanto malrizes formalS, suplantam a vitrme c a orgil
nlza~o em pr.:Jtdclras.Por que 0 mcrcado se (ornau a refcrcncI3 ubfqUJ das
pr3tlcas aellS!lcas conlcmporancas? Em pr1ll1clro lugar,
porquc rcprt.~nla um3 forma colchva, um3 agtomcr3(ao
ca611Cil, borbulhantc c sempre r('nevada. que n50 dcpcndc
de um3 aulona mdlvidual urn Mercado Cfomlado por mulhplas conlnbuH;Oc'S pcssoais. Dcpois, porqu(', no caso da
felr.! de COisaS usadas, Curn local onde SoC reofl,"alllz.1, bern
ou mill, a produ(ao do passado. Por fim, porque 0 mcrl'ildo
encarna e materializa fluxos e relal;6c$ humanas que tcn
dem a sc d<.'SCnl'arnar com a mdustnahziu;50 do l'om~r{"lo
eo surglmento do comerclo eletrOmco. A fcira de usados,
portanto, e 0 lugar para onde convergem prodUIOS de v.i.ri ..s proced~nclas, aguardando novos usos A ve1ha m.1qui
na de costura pode sc tornar uma mesa d,. cozinh.., urn
obJelo publldt.'irio de 1975 ou urn enfelte para a sal,) Nu
rna hornenagem involuntanil il Marcel Duchamp, trala-sc
de atrlbuir "uma nova idei.:l'" a urn objcto. Urn item antes
utihzado de acordo com 0 conceito com q~fora prodUZI
do encontm novas possIbilidades de usa nasbancas dc ar·
tlgOS de segunda milo.
Em 1996, Dan Cameron rclomou a aposi~50 de Clau·
de Uvi-Slrauss enlre a "cru· e a "cozido" como titulo de
uma de SUilS exposu;Ocs: de urn lada, artlstas que trans·
form3m m3tenais I,' os fornam IrrccanhL'Cfvcis (a cazida);
de oulro, os que prcservam 0 aspccto pr6prio desscs ma
terials (0 cru). A forma-mercado e 0 lugar par excelcnaa
comparados. Ell'S pod(,nl ser mudados, arrumadosd"~ Ull1a
detenmnada manClra. e quando sao embalados Beam no-
\,;lmenle scp.1r3dos, (' sao 1'50 pcrmancnles quanto os ab.jetos que se comprarn numa loja...• 0 lema de Sua abca C0
que ocone em tOOa troea.
A feira de usados. forma dominante
da 3rte des ;toos 1990
warn Gillick exphca que, "nos anos 1980, uma grande
parte dOl produ(ao artistica parecla indlcar que os <trtislas
{aziam suas compras nas IOJils adl.'quadas. Agora, ecomo
se os novos artlStas tambem fizessem suas compras, mas
em IOlas madequilclas, em todos os tipos de 10jas"'J
Poderiamos represenlar a passagem da dcc3da de
1980 para a de 1990 camparando duas fOlografias: a pri
meir.I rom uma Vltnne de 10].1, a segunda com uma. fel
ra de usados au uma galena comerdal nurn aeroporto. De
Jeff Koons a Rirkrilliravanilil, de Haim Steinbach il Jason
Rhoades, urn sistema formal substituiu outro, e 0 mode.
10 \'1SUa1 domlnante parcce ser a (cira ao ar hvre, 0 bazar,o mercado aberto C.U.-- fA, ..
, .. ,,1l10 e emera e nomade de rnatcn<llSprecarios C "'"odutos d d' 'A..r' C 1\'Cfs.1S provemenClas. A TC('lcla.gem (um metodo' d -'I e is ISposl<;ao ca6tica (urna estetica),
27
7 ld<m (","I<: of pip<'$. pik of (I,m"" pil< of pap". pll<: of fAbrk. aU,~lndu.Irial quanl ilks of Ib I"go. "j,
8./d<1n-
tamente - pelo menos no inicio - aos mercados populaR'S
dil California, suas inslalal;Oes s50 a imagcm cnlouquece"
dora dc urn mundo scm centro possi\'cL quc desmorona
por todos os lados sob 0 peso da prodUl;JO e d;l impossi
bilid;ldc pr5tic;l de uma reciclagem. Ao visita-Ias. pressen,
timos que a tarda da arle n50 {> mais propor uma s;ntcsc
artificial entre elementos heterogcncos, c sim gcrJr -mJS
sas criticas" formais, por melo dJS quais a estrutura fami
liJr do mercado se transforma num imenso entreposto de
linhas de venda, e, nJ verdade, numa monstruosa cidade
do refugo. Seus trabalhos consistem em mJlerials c fena
mentas, mas numa escala descomunal: "monte de C.IllOS,
monte de bral;adeirJs, monte de pJpcis, monte de lecidos,
tadas essas quantidades industrJais de coisas._'" Rhoades
adaptJ a junk fll;r Jmericana.'is dimensOcs de Los Angeles
por meio da experlentia, fundamentJI em sua obra, do uso
do Jutom6veL Quando lhe pediram pam justificar a e'Jolu·
l;JO de sua pel;a Perfrct World, el(' rcspond('u: "A vcrdadeim
grande mudanl;3 em meu novo trabalho e 0 carro". An
dando em seu Chevrolet Caprice, ele eslllva Udentro e (ora
Ide siJ, dentro e fom da realidade"', ao passo que a compra
de uma Fermri modificou sua rc1a~50 com a cidadc c com
seu trabalho: "Dirigir do Jtelie ate varios lugares e diri·
gir fisicamente, cuma imensa energia, mas n50 {> mais urn
passeio sonhador como era Jntes...•. 0 espal;o da obra e 0
2$ ~ICOl.AS BOURR.lA\JI)
dessa cruez.a: uma instal<1~ao de ].lson Rhoades p, or C'xern_
plo, apres..?Tlla-Se como UlTla composh;ao unitaria farma
da por objetos que, mcsmo assim, mantcm sua au' ..onOmla
cxpressiva, como os quadros de Arcimboldo Em t. • ., . CTmos
formals, seu trabalho csta malS proximo ao de Rirkrit lira.
vanija do que pode pare(cr aprimeira vista- Untitled (P. cace~Ils), que TIravanija exe<:utou em 1999 tambcm s' . c aprc.senta como urna cxuberante exposi<,ao de elementos drspares, mostrando claramentc uma aversao aformata\aodadiversidade, visivel em todas as suas obras. Mas Timva_
nila organiza os multip[os elementos que comp6em suns
instalal;'Qes para ressaltar seu valor de usa, ao passo que
Rhoades apresenta objclos que pare-cern dotados de urna
logica autonoma, indifercntc ao ser humano. Perccbemos
~ma .ou v.irias linhas diretrizes, estruturas mutuamente
1mbncadas, mas sem que os atomos reunidos pero artis
ta se ~glutinem plenamente num conjunto organico. Ca
~a. objeto parece rcsistir asua unifica~ao dentro de uma
lma~m cc:erente, conlentando-se com sua fusao em subconluntos as vezes transplantados de uma estrutura para
ouhtra. 0 d0m.lnio de formas a que se refere Rhoades cvocaa cterogeneldade das b dtiv ancas e urn mercado e as re-spec-
as perambulal;Oes entr I _~as T\I><. e cas: c sobre as relat;6es entre
..-~so.as. entre mim em·ab6bora os, .~ eu pal, ou entre os tomates c a
. elJocs e as alga Ia terra a terra'" s, as a gas c 0 milho, 0 mllho e
. .. as cerc,,)s de a "_-,-_ rame ',Referindo_se explld.
6. 'h'. aboo..l r<1.>liolu~'~ bu... ,., -4>, .ps to 1""'>l'1<:. lik~ .... ~ndground '" tt.. 01 ' and~.,., It.. _ ... 1M my~ or tom..DeS to~noOn:bl""- <cnJ", fn I",,"~ ro.n to),tur f;.OIlnd 3nd , ....
,,",,11m do l-ta",b<,,~ (liarnbu' 1'''/'01 ....'101. <3t~1ogo d. u.rgo, OI:"gco,. 2000).
l'Os PRODUO\O 29
31
30
CSPJ{O humano pcrrorrido a uma dCI('r~inadavc10Cidadcos objl.'lOS que suhsisfenl. portanto. om sao enormcs, ora Screduzcm 0.0 t.'lmanho do carro-habit.lculo que, ao PCrnu.nr seleoonar as (armas. descmpcnha 0 papeJ de urn Ins_trumento ohm.
o trabalho de Thomas Hlrschhom aprcscnta cspal;osde trocas e locais onde 0 indivfduQ p('rdc 0 contata com 0
SOClal e se Inousta num fundo abstmto: urn acroporlO In
temaoonal \'ltnnes de grandes lojas de departamento, asede social de uma emprcsa- Em suas instaJal;~, as formas vagas do cotldmno cst50 embrulhadas em papel-alu.
mimo ou filme plaslico e, dessa maneira. uniformizad..s,
sSo pI'Ojctadas em monstruOS<1S formas-redes que prolifer.1m tentacul.armente. Esse trabalho, parem, reencontra it
forma-mercado na rnedida em que introduz nesses locJlS
tiP1COS d.1 economia globalizada elementos de rcsistendac de mforma,,ao: panfletos politicos, recorles de arligos deJOffial te\-es, Irnagens rnidlatlcas_ a visltante que circulapeIos amblentes de Hirschhorn perrone com desconlortoum OTgamsmo abstrato, pastoso e caOtico. Ele pode identlficar os obJetos que cncontr.. - JornalS, produtos, vei'culos,ob,etos do cOlxhano -, mas sob a forma de cspectros vis
cosos. como se um virus de computador tivesse assoladoo tspeticulo do rnundo para subslllui-Io por urn suced'Sneo ~nehcamenlc modificado. Esses produlos comquciros ~o 3pr~tados em estado larvar, como monstruosasmatn:zes Intercon.....~d
~".. as numa rede capllar que nao leva 3lugar algum _0 que H
L_ ,ern SI, JU eonslltui om comentano so-Ule a l"Conorrua
ros 1'RClOlI(I.O
Um mal-csl:.lr p3Tccido rerca as inSlala{Ocs de Ceo~
ge Adeagbo, que apn.'$(!ntam uma imagem da recupera{aoeconOmIC3 afneana ao )ongo de urn lablrinlO de capas ,"(')has de diSCOS, refugos ou rerorlt$ de lomals, que sao como legendas de anota{Ocs pcssoalS de urn diano in~lmo,
trrup{ao da conscicncla humana nos reccssos da IlltsCnildos prodUIOS expostos.
Desde 0 final do skulo X\'IIl,. 0 termo "'mcrt'ado'" afasIOU-5e de seu referenle f{SlCO e passou a dcsignar 0 proccsso abslralo de (Offipm e venda No bazar, explu:a 0
economista MIchel Hcnochsbcrg. "3 transa{50 \'ai alem dosimphsmo SCC'O (' rroUClonista com que cia cf,mlaslada pe
la modemidade...·, assumindo seu eslatuto onglOal de negocla{50 enlre duas pessoas. 0 comcrcio c, .:lntes de matsnada, uma forma de rcla~50 humana, ou melhor, urn prelexlO para eriar uma rcta{50, Assim. tada Iransa{50 pode
ser defimda como "urn encontra de hlsl6rias, .:lfinidadcs,vontadcs, pressaes. chanlagens, condums, tensOcs"'.
A arle visa oonfcrir forma e peso aos m,IIS invisi\."Clsroressos. Quando paries intetras de nossa vida C.:lcm nil
~bslra{aO devido a mudan~a de escala da globaliza{iio,uando fun¢es roSICas de nosso cotidiano sao gradual
~ente transformadas em produtos de consumo (incluid.1sas rcla¢es humanas, que se lomam urn ~"Crdadeira inlerL'Ssc dOl industria), pilI'Cce muito 16gioo que os artisl.1sprocurcm IYmnf('rinllZAf essas fun{Oes c esses processos, C
9.Mo<htl Hftloo<;~,'k:u""'__.--_uk"J*r I"~rlt, Drnail. 1m r-1J9.
32
estctica rcl<lc;onal - CUjil caracterlslica determinante c can·siderar 0 interdmbio humano como obielo esteltco em Sl
Com twrylilillg NTS20 (amos Minimal), Surasi Kusol·wong amontoa em bancas retangulares rnonocromaticas,com umil g<lmil dc tons vivos, milharcs de obietos fabricados na Tallandla: camiselas, buglgangas de plastico,cestas, bTlnquedos, utcnsflios dc cozinha etc. Os montescoloridos vao dlminuindo aos poucos (como as NpilhasNdeFelix Gonzalez-Torrcs), pois as visitantes da exposi~ao podem levar os objetos em troca de algum dinhciro. colocadoem grandcs urnas transparentes de vidro fume, que ('vocam explicitamente as cs<:ulturas de Robert MorrIs. 0 queo dlsposltivo de Kusolwong mostra daramentc C0 universe da transa~iio: a dissemina~iio dos produtos mullicoloTldos nas salas da ex.posi~50 e a substitui~iio progressivi1dos pacoles por moedas e notas, que ofereeem urna imagem conereta dJ. troca comerciaL Quando jens Haaningorganiza em Friburgo uma loia de produtos lmporlados daFr.mr;a, com prci;os c1J.ramente inferiorcs aos praticados naSUI(a, e1e tambem esta questionando os paradoxos de urn.)economia {alsamente "'globalizad-1" e atribuindo ao artistaurn pape! de contrabandista.
NICOlASil()~
devoh-er roncreludc ao que sc furta anossa vista ~
b" " "fi . . . N.,o Comoo jctos, 0 que sIgn! leana calf na armadilh,1 d ..'• a (Clflca
~ao, mas como suportcs de experiencias: a art -• _ C, ilO !('!'ltar
romper a 16glca do espctaculo, rcstitui-nos 0 mundo cexperiencia a set vivida. orno
Como 0 sistema cconomko nos priva pmg'o "."Sslvamcl).
Ie dessa cxpcriencia, cabc inventar modos de T'""prCSCntil_
~ao dessa realidade oiio vivida. Urna serie de p"'n'uras deSarah Morris, que mastra as fachadas das sedes d. _ . egran_~es multinaclonalS num estilo abstrato geomctrico, rcstitui
as marcas que parccem puramente imatcriais 0 lugar fisi
co a que pertcnrem. Segundo a mesma logica, 0 !emil das
pinturas de Miltos Manetas ca internet, 0 parler da in for
matic~, mas apresentada sob os trar;os dos objetos que nos
pernutem 0 acesso a cia: os computadares, num cenariodomestko. 0 atual succsso do mercado au do bazar entre
os artistas contemporaneos deriv3 da vontade de devolverurn carater pal""",-el I -,..- a essas re ar;oes humanas que a eco-nomlapOs-modcmaro "bolhnSlgna a a financeira Mas essarnesma i " .
rnatenahdade se revela fietkia, diz Michel Henochsbcrg, na med-d
I a em que os dados que nos surgemComo os rnais abst tna' ra os - POT exempJo, os pre,os das male-
s-pnrnas au da e .do - nergla, grandes definidorcs do merca-
-sao, na realidade b' darbitra . ,0 Jeto e negocia,ocs muitas vczcsTlas.
Assirn, a obTa de art od _. • .formal qu e p e conslstlr num disposltivO
c gera relai;Oes eprocesso sod I r' ntrc pCSSQ.3s, ou nasc£.>r de urn
a - enOrncnoque aprcScntei com 0 nome de
1'Os·I'RODUCAO 33
o uso DAS FORMAS
Sc urn l'Spt."Ctador 01(' diz. ~o filme <lue \1 niio
prcsta\';,1~, eu ~spond<):;,1 culpa i'! SU;;J..
pois 0 que voce fez p;,1ra tornar 0 difilogo born?
Jean-Luc Godard
Os ;mos 1980 e 0 nasdmento da cultura OJ:
para urn comunismo das formas
Durante os anos 1990, a democratiza~50 da Informatica e 0 surgimento do samp[eamento cdaram uma nova
p<lisagem cuhural, cUJ<lS figuras emblem5ticas sao os DIse os programadores. a remixador tornou-se mais impor
t<lnte do que 0 instrumentista, a rave, mais exdtante do
que urn concerto. A suprcm<lda das culturas da apropria
~50 e do novo tratamcnlo dado as formas gera uma moml:
as obras perlenccm a ladas, parafrascilndo Philippe Tho
mas_ A arte conlemporanca lend" a aboJir J propricdade
I A.-lin J.ppo'. CItY [)dim(. M.,...lN. V..~ 1m fffd. f'utJ,.Dmoil2001.
dils obras cXlslentes para "dC\'Olver patx<io avida oolldlana", pn'Yllcglando a construl;ao de situa¢es \tlvtdas em \'Czda fabricac;ao de obras que ratlficam a dh'155.o entre atorese espeetadorcs da existencla. Para Guy Debord. Asger lorne GIl Wolman, os prinCIpals artffices da tI~oria do desvio,as cidadcs, os ediHclos e as obms clevem SN consideradoselementos dccor.3ti\'OS ou inSlrumcnlos ludu:os c f{'Sll·vos. Os situaciOnlstas pregam a pr.ihca dOl derlt'lI, tecnicade peroorrer varies ambientes urbanos como sc fassem 1$
ludios cinematograficos. Essas silual;Ocs a ser conslruldas55.0 obras vlvldas, eRmeras e ImalerlalS, uma "arle da fugado tempo" rebclde .3 qualquer fixal;ao. A tarda des Sllua'cionistas conslste em erradlcar, com fcmmenlas lomadas,10 lexico modemo, a mcdiocridade de urn;) vida cotidlanaalienada, peranle a qual a obra de arte funciona como lelaau premio de consola~ao, pois nno representa nada alem damaterializa~ao de uma falla Como escreve Anselm lappe,"'e curioso obscrvar como a condena~ao sltuacionista daobm de arle se assemelha aconcc~ao psicanalftlca, quevi na obra a sublima~ao de urn descjo irrealizado""
o desvio sltuacionista n50 euma opl;'ao denlro de urnleque de temicas arti'slicas, mas conslste no linko modoposslwl de utihz.l~50 da arte - que representa <1pen<1s urnobst,kulo ii real;za~iio do projeto vanguardista. Todas asobras do passado, afirma Asgcr Jorn em seu ensaio Pl!illtllrc
ditollmh (PilltllntlfCStJiada) (1959), dc\'cm ser "'reln\'L'Slidas~
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10 menos. a .....rturbJr css;1S antigas JU-das !ormas au. pc r-
rod" "r'l,rem05 nos dmgmdo para uma cullurarnp eOO;]>. &.1> _
...._.. t"tVn'Tlght em troc3 de urna gestao do di-que a..,.,.nuooa 0 ~-rJ
d ~., obras n.'fJ uma CSpCclC de es~o do co-rellO e acesso.... r-mUlllsma dllS fornI/IS'
Guy I);.>bord, em 1956, publica Mode d'emp/ol riu de-louT/lfml'Uf [Modo d~ liSt) do dcsvjo]:
A~~leclri.l e arti'sbca da humanidade, comourn toOO. dc\~ stf ublttada pa~ fins de propagandamihunle. I-I Todos os clemenlO$, tornados em qual~ JugaL podem ser ob;etode OO\;'lubordagens. r JTudo pode str\ll £eo.,d/mte que sc pode NO 56 comPI unu obra au Inlo.'gtJ.l' di\\'fSOS fragmcntos de obrasantigas numJ; nO'o'a <>bra. como tambem mudar 0 scnhdo desses fr..1gmenlos e fillsifiCilr de lodas ilS milnelras aqwlo que os 1mb..'ds sc obstinam em chilmar deOtl~.
Com a IntemaoonaJ Jetnsta.. e depois a Inlernadoni11SltuaCJOnista. que Ihe suctdeu em 1958, surge assim umanova ~ao. 0 dt'SVlO artist1co. que pode ser descnto comoum usa politico do rtJJdy-tMdt r«lproco de Duchamp (quediw<l 0 exempJo de urn "Rembrandt usado como tabua depaSSJr roup,") Esh" " ". "'" reutllza~ao de elementos artisticospreelnstent~ numa nova unJdadc" Cuma das f('rramen-las que contribuem n.'ril _.1____ r- a supera~ao da atividade artlstica,U<.~ arte "5eparada"I .l__ e'Xerulada por produtores espccia-tZ.lI~ A Intemacional tu .SI aClOmsla prcconlZa 0 desvio
",,-"001"'.10 37
15culos. e SlID malcn:I.IS de COnSlrU{j,o. Qualquer OJ hOle
trabalh3 a partir de pnndplos herJados da hislona das
v.lnguardas artisticas: desvlO, ready-111mit's rccfprocos OUajudados, desmatcrJilltza<;.io da otlvld3de.
Segundo 0 musico j:lpones Ken [Shll,
a hislOna di! mUSICI Itdmo ~ p.treeida com a cia mh:rnet Agora cada urn pode wmpor mllslC"JS ao infiMo~'liisKas que se dmdem cadit \~ m.:llS em dlrereo
1('5 Gcncros. wnforme a pcrsollilhdade de (',10:13 urno mundo intelro ficari repleto de rnUsl('JS dlfelentes.pE."SsoalS, que scmprc Ir;'io insplrar oulras 1n3is. Tcnhocerleza de que agora n5.o \'5.0 parar de surglr 00\';)5
music3S'
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Durante SC'U 5d, 0 DJ hda com dISCOS, 1510 e, produlOS.$cu trabalho consiste em mostrar scu Itiner.ino pcsso.1l 00universo musical (sua p/nylisl) e em encadear esscs elemenlos numa delermmada ordem, cuidando tanto do encadl'amento quanto da conslru,iio de urn arnbientll (c111 trabalha010 vivo sobrll a multidiio danr;ante e podl' reagir a 5CUS 010vimentos). Ah~m disso, ele podc aglr fiSlcaml'nte sobrl' 0obJeto utilizado, praticando 0 scrntclllllg ou lanr;o1ndo maode todD urn repert6rio de a¢es (61tros, regulagl'm dos pa'
riimetros na mesa de mixagcm. acrCsomos sonoros etc.).o set do DJ assemelha·se a uma exposlr;iio de obJetos queMarcel Duchamp teria dllnominado "rrndy-madts ajuda-
l'O5·l~
odcs.'ID de obras pn.'C'Xistentcs ccomum hOJe em di.:l,
mas os artisLls I'l"C'OfTCffi.:l elc nao p,ml "desvalorizar a obra
de arte: e slm para uhllU-la. Asslm como as t&nicas da
daistas foram usadas pelos surrealistas com uma finalidildeconsl:rutr.-a,. a ,ute atual manipula os proccchmentos sllUilCloruslas sem pli:teuclcr a aboUr;,ao lotal cia arte.. Notemos
que urn mista como Raymond Hams, geni3l praticanlc ciadem", e ll\Sllgador de uma mfimta rede de signos interconcclados, surge aqul como precursor. Hoje, os artistas pra
tJcam a p6s-produr;ao como uma operar;ao ncutra, de somazero, 30 passo que os S1tuaclOnistas pretendiam corromper 0\"31or d.1 obra desvIa.l· _ .
....... au sqa. Investtr contra 0 capital cul-tul'3L A~30. dlZMw:hel de Ccrteau. curn capital a partir do qual os consumklor
• cs podem rcaJlzar urn conjunto deopel'3~ que os oonvertem em locatfinos da cullura,
Agora que as recentcs tC!ndcnclas musicals banalizaram a dcsVio, as obras de artc J.i nao sao conSldcradas obs-
38- pod;,> cxistir uma ",ute Si!UilC10_
au &."'SJp.ln~r Logo. naom uSO SllUacionisl3 da arlc, que passa
rusla~. mas 3p:-n:1S U- 0 RD.ltlilrl slir la Cl'mstrl/ctloll de SIll/a_
pot sua depn'CIol('.lO. rr - • • _Irons (Rr/a!6rwsobn'1l (Ouslmf/lodt'sltr/arJtsl, pubhcado porDebord l'm 1957, incenti":1 0 uSO das formas cultural$ eXIS
tent~ "rontcstando·lhes qualqucr valor pr6prio~_ 0 dcsvio,
como Dclxud espl'cifka mJ,IS tarde em I.A Soc,IU dll s~ta~ IA~,ro rsptliculo). "nao e uma negat;.5:o do csli
lo. nw 0 e:st:tIo da nega('<io", definido por Asgcr Jom como·um,ogo dem-.xlodJ. CJ:p.1Cid.ldc de desvalonuu;ao".
<0
005" [rtady-m4Jtos aidtdJ; prodUIOS rnais ou mcf'lOS "modifi.
('ados:, cup encadeamenlo produz uma dl/fJ1(iJo <'Specifica.Assim,. 0 t..'$!do de urn DJ I"('wla-se em sua capacidadc dehabitar urru rede a~rtJ (,l hlstOnil do som) e na 100ica queorganiZJ as lig<!{Qes entre os trechos que de junta. 0 decFymg supOe uma cultura do usa das formas qu(' une 0 rap.a ttdllW e todos os seus dcnv:ldos posteriorcs
DJMarkthe45 King; "Eu niiorouboa musica toda dek~ usa.1 Plst,) de bJtena. usa esse pequeno hip de (ulano,uso a hnha do leu baIXO. j.i que voce nao est;; mais inleres_SOldo mesmO·'.
aI''!: Clmpbell. 3h:iS, Kool Here. ,5 nos anos 1970prabcava uma esp&ie de samplc.1mento pnmitivo, 0 bunk.
ml, que ronsistJa em lsolar uma {rase musical e coloca-Iaem orCUlto (!.'Chado, transferindo-a de uma copia para outra do mesmo dISCO em VIn"
CNtJJYlng e arte contcmpor.i.nea: as figuras sao - .I.1res. Simi
Ow:ndo 0 C'miS t...l~r da. J""" mesa de mlXagem cstii no
mew, os dOlS trechos locam juntos: Pi Hsenta uma en--~.- . erre uyghe apre4
....~ rom Joim C- -deAndyWa..k-r 0 lOlTloJuntocomumfilme
"Il). PJtd~ pem'-tdodl~~" u Pr-.,~I Ie conlrolar a veloeidade
.....u. -'0 nOUl • ~:fU1O de 0talkoutr Angela Bulloch ouglas Gordon. Toasting. rap.lillIS, de Andrei TarkOVSk~UbL:l a tnlha sonora do filme $0
Cut- Alex Ba- - g grava Ircehos de
V1SaO; CandICe Breltz lsol PfOgramas de tele-a e rnonta fragrnentos curtos de
JS.ll~)o.n.......6w" L11r.. k.orp. 2llOO.
41
imagens. Playlists para seu proJeto comum ClI/emD Lzbt'lIf Bar Lmmgc (1996), Douglas Gordon propunha uma sele
\.10 de filmcs censurados no lan\amenlo, enqu:anto Rirkril
Trravanija construfa urn quadro de convfvlo em torno dessa programa\.1o.
Em nossa vida colidiana, 0 interstido que separa 3
produ\ao e 0 consumo se retr.1i a cada dia I:: passfvel prodUZlr uma obra musical scm saber toear uma unica nota,
utiJiz.ando os discos existcnles. Oc modo mais geral 0 con
sumidor eus/om;ZJ1 e adapla os produlOS comprados asua
personalidade e as suas necessidadcs. 0 ZLlppmg tambCm
euma produ{ao, a timida produ\iio do tempo alienado do
lazer:. 0 dcdo na tecla, e csla construfda uma prograrna\clo_
Logo 0 Do il YOllrself atingirfi todas as camadas da produ
\.10 cultural: os musicos do Coldcut vao lncluir em seu al
bum Let 115 play (1997) urn CD-ROM que pcrmile remixaras faixas do disco_
. 0 consumidol em ex/ase des anes 1980 dcsapilrece
dlante de urn consumidor inteligente e potenaalmenle
su~rsl~;.ousuariOdas formas. A cullura OJ nega a oposl\ao bmana entre a cml1l0IJfifo do emissol e a pnlticipo(ifo
do lcct'pfoT, que cstevc no centro de muilos debates sabre a
arte modema 0 trabalho de um OJ consistc na concep\liode um encadeamento em que as obras dcshzam umas so
bre~ outras, rcprcsentando ao mcsmo tempo um produto,
urn. mslrumento e urn suportc. Urn produtor eurn Simples
cmlSSOr para 0 produtor seguinle, c agora lodo artista sc
move numa rcdc de formils conliguas que se encaixam.ao
42NICOlAS BoURRto.un
mfinito. 0 produto pode servir para fnzer uma bo ra,<lob
pode ,'Ollar a ser um objeto: instaura-se uma rot _ 1<\
termmada peJo uso dado as formas. illiilO, dc_
Angela Bulloch: "Quando Donald Judd fazia m6vetselescmpredlZJa algoassim:umaGldcira naoe urn '
• a escullu+
ra. porque so podemos vc-Ia quando estamos sent.dos ncla
A5$1I11. seu \';l\or funcional impede que cia SC)' um b" "o jClode
arre. mas eu acho que ISSO n50 tern ncohum scnhdo".A quahdadc de uma obra depende da Ir,)o'6 "ria que
descre-.-e na palSJ.gcm cultural. Ela ('Iabora um cncadea_mento entre {ormas, signos, imagcns.
Mike Ken?" em sua instalaliao Trsl room COI/lail/iug
multlpll! sllmulr kllown to elicit cllnasity alld mallipulator
rtSpOlI~ (1999), faz uma vcrdadeira arqucologia da cUltur~modemlsta 030 organizar a conflucncia de (cntes iconogra-ficas no " h
. mmlma ctcrogencas: as cenografias de Nogu-
C~I p~fira os bal6; de Martha Graham, ccrlas expericnciasClentl cas sobre • .
. as reat;Oes de cnanl;as a violencia na h~-\'e. as expen- d
enctas e Harlow sobre a VIda afetlva des macacos. a performance 0 -dDutra de su ob • VI eo e a escultura mlnimalisla.
as ras. Fral1ltd & Fr: 'M""hon "Onnalow __ I amt Imature reproduc-
" wQl1mg ~I/'" built .... .nllltUrt rtpI'oducflon c____ y~ Mitt KLllty after "/If1-
""'<.'Vl stilt CQtltn " •Lu). reconstr6t e deeorn........ "P I Ifdt by Pro! K. H.
r~ 0 O!;o dos dMtown. em Los Angt'1cs. em d esqos" de Chl-
uas tnst<al,..... _ .como se a cscullura \IOI:JVa pop 1 ""vcs dlfercnles.
u ar e seu f\!Sdramenlo turiStlco (uma muret ~hvo enqua-
<I CCrcada detenct'Ssem a categonas dlStint~ De r grades) "pcr-
i1lo. aqu"j 0 t'Onjun!o
43
tambCm mesda umvcrsos estctleos hetcr~neos: 0 kitsch
sino-amerlcano, a estaluana budlSI<1 e cnsta. 0 spr<1Y de
tinta dos grafiteiros. as IOfr.h'Struturas lurlst1C1S. as es·culturas de Max Ernst e a arte mformal Com Frnmcll b
Fram,., Mik~ Kelley de(hca-se a "'transmltlr as formas qu('normalmenle servcm p.:tra represent-ar 0 amodo.... a figurar
a ronfusiio Visual 0 estado mforme da Imagl'm. "'010 mstablhdadc das culturas que sc entrcchocam", Esses cntrecho,
quest que reprcsentam a eXp<'ncocla rolld,ana do mor.ldordas Cldildes deste rom{'{o do sCculo XXI. reprcsenlam 10101
bern 0 tema da obm de Kelley. Seu trabillho mostra 0 cnsol ca6tico da cullum global. em <Iue entram a illlil e a billl(acu[turil. 0 Oriente e 0 Ocidenle, a arle e a nao-arle. uma
mfinldilde de registros lcQnlcos e de mados de produ~ao t\
dlvlsao do China/owlI w;sllirlS wdl, al~m de ObrigM a pensar seu cnquadramento como uma "'cntidade visual distinta~, mdlca mais genericamente 0 grande lema de KdJe}'"o aphque Ide/ourogel, isto~. a mancira como nossa cullur.l funClona por Iransplantes, cnxcrtos e dcscontcxtu.lhZil\6CS. 0 enquadramenlo eao ml-'Smo t('mpe um Indlcador,um dedo que ilpenta 0 que se deve oJhar. e urn limIte queImpede que 0 obJeto enqu.ldrado cala na Inst.lbilidacle. nomformallsto e.. na vertlgem do "iIo-njrl'l'IIc;ado. dOlo cuJlura'"'sel\'agem'" As s'gnifiC3l;Oes ~o. em pnmeuo lugar. pro'duzidas por urn enquildramento SOCial Mtlllllllg IS co'l/usell sputIiJlity,fmmtd. dlz 0 titulo de urn texto de Kell!!)' quepoderfamos traduz,r por. lode s,snific3do ~ uma espaciah+dade vaga. ronfusa. m3S enquadrada_
42 NICOlAS IlOlJRRlAun
mfinito. a produto pode scrvir para fazer lima obra b' a 0 ta
podc \'Olt,n a seT urn objclO: inSlaUT.:l-SC uma rot,,(,]o, de.lerminada pdo uso dado as formas.
Angela Bulloch: "'Quando Donald Judd fazia n,' ,OVCIS
ele semple diZI<1 algoassim: uma cadcira nao Cuma esc I' 'u u-ra. porquc s6 podcmos ve-lil quando cstamos sentados nela.
Assim,. seu valor fundon'll im~deque cIa scja urn objCIO dl:
arre, mas ell achoque isso nao tern nenhum sentido".
A quahdadc de urna obm depende da tmjel6ria que
dcscrt"\'e na paisagcm cultural. Ela elabora urn eneaclea_
mento cnlre farmas, signos, imagens.
~1ikc .Kcll~}', em sua instala\iio Test room cOIl/nil/illg
lJIultfpll! stmlllil know" /0 diCIt curiosity mId IIlGllipulnfory
rrsp,mses (1999), faz uma verdadeira arqucologia da cultura
modernista ao organizar a conflu~ncia de Fontes konog,'-ficas " h
no mInima cterogeneas: as cenografias de Nogu-
c~ p~ra os bales de Martha Graham, certas experienciascl.entLficas SObre as rea~OL'S de crian~as i'I violencia na te-ve, as expenencias de H [ b
ar ow so re a vida afetiva dos ma-cacos, a performance 'dO ' 0 VI eo 12' a escultura minimalist,]
utra de suas obras F d & F •t ~CI ,Tame Tame (MilllntuTe reprodllc-'::hm1;;::111 ~islllllg well'" built IJy Mike Kelley nfleT "miL ) ~c IOn Stwll slaT CQWTn" buill by Prof. K H
11 , rceonstr61 e decom~ ~p . . .natown, em Los An••_. 0 01;0. dos descjos" de Chi-
e ....~, em duas Instala _ .como se a escuhura VOllva I ~ocs dlferentes,
popu aT e seu respedramenlo turistico (uma muret.. CIl\'oenqua_
... cercada detenccssem a categonas dlstintas~ D f grades) "per-
l' ato, aqui 0 .CQnjUnto
tambcm mescla uniwrsos csteticos hetcrogcneos' 0 kitsch
sino·americano, a eslatuaria bu<hslJ. c crista, () spray de
tmta dos grafiteiros, as infra'Lostruluras turfstic..s, as es·culturas de Max Ernst e .. artc lllform..1. Com FMll/rd &
Fmme, Mike Kelley d('dica-se a "lransmitlr as formas que
normalmenle servern parJ represenlar 0 :Ilnodo", a figurJr
a confusao visual, 0 estado mforme da imagcm, ..... inSIJbi
lidade das culturas que se entrechocam~.Ess('s el1trecho·
ques, que representam a experJencia cotidfana do morador
das cidades desle comc.;o do scculo XXI, represent.1m lam
bern 0 tema da obra de Kelley. Seu trab.Jlho moslra 0 Cfl
sol caolico da coltura global, em que enlram a alIa t" a b.lixa
cullura, 0 Oflente e 0 Ondentc, a artc e a n50-;ute, uma
infinidade de registros lcol1icos t" de modos de produ~50. A
divlsaO do Chma/own wlsMllg wdl, alcm de obrigar a pen
sar seu enquadramento como uma Ncntidade Visual diSlin
taN, indica mollS geneflCamente 0 gr.ll1de lema de Kt'Jlcy:
o aplique [df/oumge], isla C, a maneira como nossa cullu
ra fundona por transplantes, enxerlos e dcsconlexluJliza·
,;Ocs.O enquJdramenlo Cao mC'Smo tempo urn lndicador,
um dedo que Jponta 0 que sc cleve olhar, e urn limile que
impede que 0 objClO enqu.1drado caia na instabllidade, no
informal, isto C, na vcrligcm do 1/I1o·,.fer.mdlldo, da cullura
Nselvagem". As significJ~6es 55.0, em priml'iro lugJr, pro·dUZldas por um enqulldramcnlo SOCIaL MfJ1l1il/g is COIl/II
St'd simtialily, /rmllt'd, diz 0 titulo de urn texto de Kelley quepodcriamos lraduzir por: todo significado cumJ esp.Kiali
dadL' vaga, confusa, lllas enquildradll_
44
4 -A,t mlUf wn<:<,rI'I Il$('lf with th~ ,.~t bul,t II"eM' .ny notion 10 Ihc' TNllnlo qunllon. II ,lw.Y' turns th~ IN1 Into .I,t"<lc•• r~l'T""nl.tlon.and • <Q<IS'UU<:tion. Ilut .lso n ~I...,. 'lU",lon••boutli'le motl'.... 01 th.ll <OIUlIU<'Ilon:
conccpl;.3o do rcaL Ela scmpre transforma a realidade nu
rna fachada, numa rcpresenta~iio,numa construl;iio. Mas
cla tambem indaga as motivos dessa constru~iio~·. E cs
sas [azoes, esses molivos, se exprimcm I'm cnquadramcn~
los, em pcdl'Stais, em vitrines m('ntais. Ao r{'cortar formas
culturais au sodais (uma cstatua votiva, historias em qua
drinhos, ccnarlos de lcatro, dcsenhos dc c!lan~as mallra
tadas) e aplica-Ias num outro contexto, Kelley uliliza as
formas cnquanto ferramcntas cogmlivas, libcrtadas de seu
condidonamento original.
John Armleder manlpula fontcs igualmente hetero
geneas: objctos em scric, indicadores eslilfslicos, obras
de arte, move!s... Poderlamos consider5-lo 0 prot6tipo
do artista p6s-modcrno, prindpalmentc por ter sido urn
dos pnmciros a entender a urg~nda de substituir a no
~iio moderna de novldade par um conceito mais operado
nOll. Afinal, explica ele, essa ideia de novidadc em <lpenas
urn estfmulo. Parece-Ihe inconcebfvcl "'ir 010 campo, parar
na frente de urn c.uvalho e dizer: mas co j5 vi isso!u. 0 fim
do lc10s modernista (as no¢cs de progresso e vanguarda)
abrc urn novo espa~o para 0 pensamento: agora cques
tSo de ..llribuir urn valor positivo 0.0 remake, de articular
usas, rclaclonar formas, em IUS'lr dOl hcr6ica busca do inc
d1to e do sublime que caractcrizava 0 moclernismo. Ad
quinr objclos e dispO-los de uma cerm manelra: Armledcr
NICOlAS IlOURIUAUO
A altn cullum b.:lseia·sc numa ideoJogia do pedestal
e do enquadraffiento ou moldul1L 0 exato delincamenlo
dos objelos promovldos, eogastados denteo de categorins
e TegJdos por cOdigos de aprcsenta{.1o. A cullura POpular,
ao contr.ino, desenvolve-sc na exalta{.1o do mau gosto, da
transgrcssao, do descomcdimcnto - 0 que nao significa
que cla nao produzil seu proprio sistema de enqlladml1lclI_
los. 0 trabilllio d(' Kelley opera por curtos-circuitos entre
esses dais focos: 0 enquadramento cerr<ldo da cultura de
museu mesclando·se com a vagueza indistinta que ccrcaJ. cultura pop.
o aphque, geslo fundJ.dor do trabalho de Kelley, apaecce CQmo a figura principal da cullura contemporanea:
mcrusta~ da lconografia popular no sistema da gran
d~ a~te, descontextuahu,ao do objclo em serie. transfercnoa das obms do rCl"ll>rt' .
• p ono consagrado para contcxtostnVltllS- A arte do seeulo xx e d
_ uma arte a montagcm (a~ucessao das Imagens) e do aphque (a suPCrpos1~iio daslmagens)
Os Garbagt Drawings (988) de Mike Kelle
rexcmplo, partem dOl represemal;iio do r .y, ~em quadnnhos Pod _ lXQ nas h1slonas
. emos compara-Ios It se b.
ProducllOm. de Bertrand' _ ne f,all DisneyL4V1er, na qual os d
Culturas que formam 0 ""'no d f qua ros e ('S-.- e undodeumaa
Mickey no Museu de Arte Mod ventura def erna, publlcada em 194
trans ormam em obras re;lis M·l.- ... ~ 7, sc• 1M:' N:lley escrcvc
de~'C sc ocupar do rcal, mas ela quest' . ~A arlelona toda e qualquer
POs·rROOUV\O 45
'6NICOlAS 1l()l!JUu.u.JO
rompara essa artc do shopping c do dISplay; Ique cs film
I'CJOrallVamenfe chamadO$ de clam 8 U fil ,~• • m I me class
BmscrC\'C-$e nurn delt.'rmin<ldo genera '0 b '\' angllc-biln_
sue, 0 filmc de horror au de a,iio) Como sub od• pr ulo 1>.1.
mlo, mas manlem a po5Slblhdadc de mlrodUZlf van<lntcs
denlro dcssa grade riglda que, ao mesmo tempo ••lh • r ~m que
e lmpoc lmlles, eo que the pcrmitc cxistir ':> JAI led - r"ilra Ohn
m ;:Of, locla a arte moderna ronstitul um •haOO genera fc-
c com que SC pode bnnear. tal como Don Sicg"l ]Pierre Mcl\,IIe, e hOJe John Woo Q _ c, ('.:tn·
t au uenhn Tarantinogos <lm de manJpular as con\'en~6es do fit .' _seus trab.1lh me IlOlr. Asslnl,
R" os mostram urn usa defasado das (ormas sgu""o urn pnnci d • cSl'its entre clem plO e.apresenl<l{30 que pm'llegla as fell-
cntos trivia IS e QUiros duma cadClfil de COli h b consl ern.dos senos:
n a so uma tela "ta, ~Ipiros de hnm alac p geomeltl('a abstra_tana 1.'lctnca_ 0 as ry oons nos Jados de uma gui
de Armledl'c nos a ~o9S0austl'ro c rninimahsla das obmsnos rcflele os h - . •
a esse modl'TnJsmo dasse 8 EI c avoes Inltln5('COS. e exphca:
"LUIS X\ol. Mo.'u lrab.llho delona a SI pr6pno; lodJS as
jusllflcatw"s lconlan-IS sJo nt'gadas uu riweu1anz.ldaspela c,,,x'u(5o da obra'
No trabalho de Armll-der, os quadros abs!r.:ltos e m6
vels p6s-Bauhaus.:lll reumdos sc transformam em elemen
tos rftmicos, tal como 0 Sdcclor dos pnmelros tempos do
hlp-hop mixava dOls diSCOS com 0 cross IlIIler da mesa de
ffilXilgl'ffi "Uma pintura de Bernard Buffet sozmha 050 fica mUlto bern, mas uma pmtura dc Bernard Buffet com um
Jan VCTcruysse fica uma coisa extraordln.lria'"
No infcio dos anos 1990, 0 tr.:lbalho de Armlcder ml
t.:l-se para urn uso mais CxplfCllO da subcullura Globus cs·pclh.:ldos. ~osde Imltat;.lo como enfclle de jardlln, filml'S
de VIdeo classc B, a obra de aele torna-se 0 local de urn
scratching pcrm.:lnentc. Quando reloma ;IS esculturas em
pleXiglas feitas por lynda Benghs nos anos 1970, sobre urn
fundo op art pmtado em papel, ele opera como urn mlxa
dor de rcalJdadcs. Quando superp5c uma poltrona e uma
ge[;ldeira (Bralldt Sl,r Rllt de Hissy) au dOiS perfumes (N 5
Slir SllII/lIIlIIr), Bl'rtrand Lavier cst.i enxl'rlando objctos
num qucstlonamenlo ludlco da categona Nescuhura"_ Seu
TV Pail/Illig (1986) moslra sell' pHlluras de Faulrier, La
picquC', Dc Stae!. lewcnsbcrg. On Kawara, Yws KlelO e
lucio Fontana proJctadas em tC\'CS de tamanho igual ao da
obra onglOal.
5. Nio:olu Il<Juni.Mld ~ Ene T.....,.. ·(ftIrr'......~ John Anftk<dor-, Do<--..1I_'.rl., ....._I9'U.......
48 NICOlAS 6OuRRiAL'D
No trabJ.lho de Lavic(, sao uS categorias, os gcncros c
os modos de represenml;ao que gcram as (armas, c n50 0U\vcrso. ASSlm, 0 cnquadramento fOlogr56co produz umn
esrultura. e nao uma folo. A id6ia de "'pintar urn piano'" re
sulta num p13no recoberto de urn,] camada de pintura eJ(pressiomsta. A VlSSo de uma vltrine de IOJiI pmtada COm
br,)nro-de-espanha gera uma pmtura abstrata. Bertrand
LaVler. que msso esti mUlto pro)umo de Armleder e ~hke
Kellel', lorna como material as catcgonas estabeletid:ls que
dehmltam nossa pe:rcep{ao da cullum. Armleder as consi
<!era como subgeneros na c1asse B do modemlsmo; KelleydesconstrOt as figuras para confront<i-lascom as pr.itico15 dacultuta popubr; LaYler mostra como as proprias categorias
artisticas (a pU\tura, a escultura. a arquiletura. a fotografu), tratadas lrorllcamente como bios lOeg;ivcis. procluzem
fonnas que constctuem sua cnbca mollS aguda.
Podemos pensar que essas est:rategJas de reabva,ao
ede d«pyrng das formas ViSualS representam uma rea,.1odl.ante <b!OII~ ~ .. ~ fl _
~-I'~.y,,,.....~, Ud In a.;ao de Ifnagens. 0 mun-do em saturado de MVoI - d
""l" os, Jol IZI3 Douglas Huebler nosanos 1960 - e acrescmta _ _
. va que nao quena produzir OlindamatS Se a prohf~ •
_.......... C.lOllca da produl;3o Jevava os arbstas C'Clr'IcertuaIS ~ desma I. la..l-_ ten.a lza.;ao dol obm de arte, ho-je e -,.,..,na nos olnlStas da...,(... _.. _ • _rruxa~edecombl • ~ p,uuu';.10cstratcgtasden30 emalSvivlda nat;oes de produtos. A superprodut;50
como um I"DbInna$l~tema cultural ,e sim como um cros.
,
,
,
I
A forma como enredo: um modo de Uliliz.a~Jio do mundo(Quando os enredos se (Omam formas)
Os artlstasda p6s-produ.;50 Innmtam novos usos paraas obras, inclulOdo as formas 5Onoras ou visualS do passadoem suas pr6prias oonstru~. Mas des tambem trabalhamnum novo rccorle das namllvas hlst6ricas e K1rol6gKas,IOscnndo scus elementos em enredos altemallvo$..
POlS a sociedade humana Ccslrulurada por narrativas, por enrcd05 ImalenalS mollS ou menos n?lVindl<:adosenquanto 1.11, que sc traduzem em manelrilS de VIYer, emrela¢es no trabalho ou no lazer, em IOStJl~ ou emidrologias. Os responsavcls pclas dccisbes l'C'OnomlcasPfOJetam ccnarios sobrc 0 mercado mundlal 0 poder po_litico elaborn prcvtSOcs c planc)Jmentos. Vi\-emos dentrodessas narratlvas. ASSlm. 0 emprego segue 0 enn:do dado pela divisiio do mbalho; 0 casal helerossexual segueo enrcdo sexual domlOante; a televl$iio e 0 lurismo oferecem 0 enrcdo privdcgiado para 0 lazer. "Todos nOs ('S.
lamos presos no enredo do cap1talismo tardio"', esctC\~
Llam Gillick.Para 05artlstas que hOle contnbuem para 0 naSClmen
to de uma culIunI da tJliuidadc, as lormas que nos (crcam saoas matenaliZ<l¢es desses enredos Ess.:is narrahvas "resumidas" e embutldasem todosos produlOS (ulturais, e tam-
, ·w".rnll callYII withIn I""ocnunoplayOfl.lC capilal..tn- f'JCfn~1M",Qllkk "$cIrIw illlulto nunIJlllW~ Iht rcdtnlqucs ol'rr<VisiDn' "'.....:h ...¥'f.. 10.llow,,", molh·.lion t(>~·
mdlscullWIS, mas como CSlruturolS prl'Canols quC' utlltz.amcomo ferramentas, produlcm esses cspa,os nilfT.1tl\'OS Slngulares que l':m sua .:lpresenlol'.lO n:lS ohras. E0 usa domundo que permlte cnar I'I0\'il5 nanallvas. 30 p;:iSSO quesua contempla,ao p;:iSSI\';l suhmete as produ\&'s hum3nasao cspclficulo cOmuntli'ino Nao eXISle. de urn lado, a cna,ao \·iva e, de oulro, 0 peso morlO dOl hlsl6na das formas.os artlSI.:lS da p6s-produ,.lo n.lo eslabck'Cem uma dlfC'ren{a de natureza entre seus trabathos e os Irnbalhosdos QU
Iros. nem entre seus gcslos e os gl'Slos dos observadori!S
Nos Irabalhos de Pirne Hu}'ghC', Llarn Gillick, DomInIque Gonzalrz-Focrslcr. Jorge Pardo ou PhIlippe Patfeno,a obra de arte represenlil 0 lugar de uma negociJ'J.o entre reahdadc c fic{ao, narratlva e coment.irio Quem visllauma exposi,ao de Rlrkril Tiravalllj.l- U"/ll/ril (O"t' Rt'{.'O
Ii/tioll per Minl/f,'), por excmplo - tern dificuldade em dIStinguir a fronleira entre ,1 produ{ao do arhsta e sua pr6priaprodu{ao. Urna b.:lncada com crepes. (('«ada por uma meS<I invadlda pelos viSltantcs, ocupa 0 centro de urn labmntode bancos, coltfilogos, laJX"\.1nas; quadros e esculturas dosanos 1980 (David Diao, ~hchcJ VcrJux. Allan J\lcCollum )dao nlmo 010 esp~. Dlant(' d(' um.l obra que conSlste csscnci.llmenle no consumo de urn prOllo, e por melO dOl qualos visltantes, tal como 0 artl$la. sao kovOldos a cxc<ular gcstos cotidianos, onde termtna a coztnhil conde comC{a ;}
511'OS Ml.OOUc;.J.o
I
I
~m em nossa aOlbicnlC cotidlano, reproduzem cnredos
comumlanos m,ll$ OU mcnos impli"citos: i'\SSlm, urn cclu_
IJ.rou urna roup3.. uma vinhcta de urn program" de IclcVl_
s30 ou uma l0g0marca IOduzem a cerlos comportamentos
l' promo\'em \"Jlorcs colcllvos. VlsOcs de mundo. Os Irab.1_lhos de Liam Gllhd: queslionam a frontcua enlre fic{50 c
mforma~ redlstribuLnoo essas duas n~Oes a parhr deurn concello de tmrJo do ponto de vista socIal, Islo e: co
mo n.io 56 a con/unto dos discursos de previsao c plilne
Jolmenlocom que 0' universo socioeronomico mas tam~m
.:1S mdtistn.1Sdo lmaginano de Hollywood inventam 0 prc
sentc ~A produ{ao de enredos eurn dos pnncipais coo1
ponentes neccsstinos para m<lnlcr 0' nivcl de mobilid.:ldce de rem\'en{ao neressario para fornccer a aura de dina
mlSmo dol thamad.:! econQffila de mcrcado.·~ as artistJs
da pOs'produ(3o uhhz.:tm c deroclificam cssas (ormas para produzlT linhas narrallVa5 divcrgentcs, relatos alterna
lr.'05. Asslm como nosso mconsaente tenta, bem ou mal,escap.lr asuposta futahdade da histori.1 familiar par mcio
d " "'a PSlQN. lSC, a artc oonsclentiza os enredos coletivos e
propOe outws percursos dentro da reahdade, com a aJud,]... " "
propnas formas que malenahzam essas narrallvas im-pastas. Os amstas, 010 mampular as linhas esqucmfihcasdo enredo coIctl\"O 1St. ,- :.. _ _, , ao cons...era-las nao como fatos
52 53
arfl'? Essa exposi~50 mOSlrJ c1aramente urna vontadc de, ,..,-n""'" v{nrolos entre a atividadc artistic« c 0 COn,nven af ...... v.:>
Junto d.15 alh'ldades human;)$, com a constru~5.o de urn
~ narrahvo que cnCalX<l obms au cslruluras do co
ttdi:mo dcntro de urna form3-enrcdo, 15.0 difcren!c da .:Jr
tc tradlClOlUl quanta uma festa rave comparada il urn slur,»
d,nd.Os titulos dos tr3balhos de Rirkrit TiravaniJ<l semprc
\~m 3COmpanhados por esSol men~5.o entre parcntcscs: lots
of proplt. montes de genie A "gente- eurn dos romponcn
tes dJ. exposit;50. Em vez de ncar olhando urn conjunlo deobjctos exposlOS asua aprecl<u;5.o, as PCSSOilS sao lcvadas
a arcular ease senm deles Assim. 0 scntido da exposi(50 consbtut·se confonne cia eusada pelas pesS03S queromparerern. tal como uma reecII,) culinana s6 tern sentidoquando~executada por 3Jguem e, depois. i1predada pc
los ronvxbdos. A obra fomKC umil trama narrativ3, urna
estrutura a partir dOl qual se forma urna realidade plastica:espal;OSdeslmados area!iul(.ao de fum.Ocs cotidlanas (ouVlr mUslca., romer. descansar. let, discutn), obras de arte,ob;etos. 0 vtsitante de uma exposl(.ao de Rirlmt Tiravani}.:l. eco1ocado dtante do processo de conshtuic;ao do senlldo de sua propria vkla, por meio do processo paralelo (esernelhante) de C'OMhtUlc;io do sentido da obra Tal comourn dlfC~tor de CInema"'" _, ,Iravam}.:l. e altemadamentc ativo epass1\u, IfIC1tando os ato do . •res a a tar uma <ltItude cspeClfica., para depois deJxar
que ImprOVI$(!rn; pondo a mao narnas.sa,antesdcdewratra d .
S C$1 os restos ou urna simples
rL'Ccita. Assim, ele produz modos de SOClalidade em parteImprCVIs'veis. uma esl~t1ca reiliciollal que tern nol moblhdade sua pnmeltol C01facteristicol Sua obra c (elta de barra
cas precarias, de acampamenlos, de workshops, de Im/etose cncontros cfCmcros. 0 verdad"iro temol da obra de Tirav;mlJa e0 nomadlsmo, e c por melo dol prob!cm5t1ca daviagem que conscguimos rcalmcntc enxergar seu universo (ormaL Em Madri, ell.' filma 0 trajclo entre 0 aNoportoeo Centro Rainha Sofia, onde particlpa de uma exposIC;.10 (U"tttlra, pam Cuellos de Inranta /0 TorrepJ1l de arden '0Cos/ada to Reina Sofia, 1994) Para a Bienal de LYOIl, ele expOe 0 autom6vel que Ihe permitlu chcg.lr ao museu (BOil
Voyage, MOIlSlmr Ackermallll, 1995) 01/ tile Road wI'h Jlt'W,
JtaW,Jieb. Sri and Moo (1998) consiste nurna vlagern de LosAngeles ate 0 local da eXp05IC;''io, na Filadclfia, com cincoestudanles da univcrsidade de Chiang MaL a 10ngo percurso foi documentado em video, com fotos e urn diariode viagern na internet. O1prcscntado no Museu da Filadclfiaantes de resultar nurn catalogo em CD·ROM.
Tiravanila reconstitui tambCrn cstruturas arqulletonlcas por onde passou, tal como 0 imigranle que faz a relac;Sodos locais que deixou: 0 3part3rnento de Lower East SIdereconstitufdo em Colonia; urn dos oito estudios do COlltert
shldw em Nova York,. que ele frcqiientava olnteriormentc(RtlltaTSQ/ stlldio II. 6); a galena Gavin Brown, transforrnada em Arnsterd5. num IOC31 de rcpetic;ao._ Seu trabalho mostra-nos urn uniwrso fcilo de quartos de hotels,de rcstaurantcs, de IOJas, cares, locais de trabalho, pontos
dl' cncontro (' acampamcntos (a barrac-a de Ci"t'f'/IJ de viii'.1993). Os tlPOS de esPJ~ propostos por Tiravanljol sSo osque fOrm3rn 0 cotidiano do Vla)anlc scm raizcs: todos sao
csp.1c;os publtcos, acXCC\ao de seu <lPJrtamenIO. CU}a forma 0 ,xompanha pelo estrangciro, como urn fantasma de
sua \'Jd.:l p;:assadaA ,ute de TIraVJOljil sempre m:lnlem uma re1;:1I;5.0 COm
a oferta ou aabcrtura de urn espa~. Ell' nos oferece as for
mas de- sell passado, ~us mstruffil'ntos, e transforma os 10
('.lIS de suas exposi¢CS em areas abertas a lodes, como em
sua pnmeira mostra nOV;:Horquina, quando convidav:l os
scm·tela para if tomar uma sop<! Podemos rdaclonnr 1.'SSa
OltitUde (e a Imagem resultantedo artlsta) com aqucla genefOSIdade lmediata d.1 cullum tillbndcsa. nOJ. qual os menges
bud1St1S 530 3mparados~ mcrnhcanCla mShtuclonal.Essa precariedade ocupa 0 centro do universo format
de Ruknt liravanqa; nad.l eduradouro, tudo emO\'lrnen+to- 0 lrajeto entre dols pontos cmais Importante do queo propno ponto, e os enrontros 550 malS pnvllcglados doque os mdlViduos postos em rontato. Os musicos de umaJQm ~iOfI, a cilentcla de urn cafe ou de urn rcstauranle,as cnan~as de urna CSCQla, 0 publico de urn espct6culo dernarioTlctes. os coTlvldados de urna rcfel~30' cornumdadeslemporanas que s50 organl2.adas e materiahl..adas por sua:;atlV'ld01des em estruturas que funclonam COmo alratores dehumamdJde. AD associar asn~ de comunidade e efemere. Tiravamp op6e-se a ld6a de uma Iden,·"-· . d
........1.' In IS·soIil1.,,1 au permanenlc nossa elma., nO$Sa cultura naaonal
5' NICOL.\S aoUll.lllAUO 55rQS-rROOUQ,O
J. • ......rsonalidadl' sao apenas oogagens qUl' len()55<l prupna r-
e 0 nomadc descnto na obm de TiravamJ;I CvamOS conOSCO·
. . 1""''''lfic3\Oes naClonalS, scxu:us au tnlxus. CIalerglco;lS C ..~dadlio do esPill;O publico IntemaClonal. ell' apcnas sc cruzacom esS3S c1assifica{Oes por urn tempo determinado an
tes de adotar uma nova idenndade: cle cuniWrSillmente
cotlCO Ell' conhece pcssoas de todos os genews. lat comonOS hgamos a dcsconhecidos durante uma vlilgem a lerrilS
distantes. Assim, podemos dizerquc urn dos modelos formals de seu tr;'lbalho e0 aeroporlo, esse local de trJnsiloonde ilS pcssoas v50 de loja em loja, de lIlforma~.io em informal;50, fazendo parte de microcomunidadcs rcunidas 3
espero de urn destino. As obros de TiravilOlj;'l sao os ilCCSsarlos e os cenarios de urn enrcdo planetario, de urn rotcifO m progress CUJo lema seria como habllar 0 mundo scm
rt'Sldir em IUS'lr algum?
Pi"~ Hllyglle
Se Tiravamja propOc ao publrco de suas exposil;'Ocsmodelos de narrativas posS[VCIS CUJas formas mesdllm II
arte e a vida colidlanil, Pierre Huyghe organiz.1 $CU lr:lbalho como um.:l crltlca as nilrrntiv.:ls-modelo qu(,.' nos sJopropostilS pela soclcdilde. As SItcoms, ~r e~~~plo, ofcrecern a uma iludll~naa popular quadros Imagm.mos rom osquais de pod~ sc identificar $eus enredos sao cscritos apartir de um rolciro b.1siro chamadobfb/la, urn modele quedefine 0 carnlcr gcral da. a,.io e des personagcns c 0 qua·
56 NICOlAS IlOlJRRLwo
dro em que dcwm sc mover 0 mundo dcscri!o po p'r leT_Te Hu)'ghc csustcntado por eslruturas narmtivas Ina'
IS Oumenos opressoras que tcm na sitcom arwnas uma , _r- 'Cr5;]O
mals branda, c a funtao da pratica artistica e adonar es
sas estruturas para rc"'l.'lar sua l6gica coercitiva, antes deIl."COlod-13S adlSposl\.lO de urn publico capaz de se rca_
propriar dclas. Ess.:i VlsaO de mundo estti mUlto proxima
da teona de Michel FoUCilUl1 sohre a organiza,.lo do pod'r.uma -rntcropOlitIC3" reprodul.,. de dma a baiXO da escala
sooaJ. fic¢es ldeol6glcas qUe" prescrevcm modos de vida corganizam taotamentc 0 sistema de domimu;ao. Em 1996
Pierre Huyghe propOs fragmentos de roleiros de KUbric~Tab e Godard aos carnlldatos p:lr.l sua sel~ao de atores
(Mulhplt Sctnarfus). Urn In<i1viduo que Ie no palco 0 roteiro
de lOOt, u1fUlod~ llolSpll'fO apenas ampha urn processo
que pelcone a totahdadc de nossa vida social: nOs redla
mos urn tecto escnlo nn oulro IU811f Eesse lexlo se chama
~logta.~rala-se.portanto, de aprender a se tomar 0 in-tetptete cntlco desses enredos ndo
• )Oga com eles e depoisconstrum~comechas de S1tua-;:30 que vern se sobrepor asnarratn.';1S Impostas 0 trabaltlO de P'de truer aluz • Icrre HUyghe preten-
esses rote1ros ImpholOS e. a partir deles in\"entaroutrosquenostomanammaishvres:se..., -d d'-Pudessem . ~"C1 a o1OS
partle'par dOl elaboral;ao da "hi"", • d- I 101 a Sl'com
soaa, em Vel: de doofrar Suas hnhas, g;lnhari .tonamia e liberdade. am m.llS au-
Ao fotografar opeclrios no trabalho d '• • e epois ao ex
essa Imagem durante todo 0 pcriodo de co • pornstru.;ao nurn
571'()S·M-:ODU<;J.O
Irna do cnnleiro de obras (ClImllier BarIldoor urbano ac
" I I 1994) cle L'Sta propondo uma imagcm dobls-Rocll« !Ollar, • . •
I mpo rcal: nunca se documenta a ah"ldadetraba1ho em c .
de operarios num canteuo de obras urbano, Cdcumgrupo
. """ntar50 vern duplica-Ia, como urn documen-aqUl a repr....... ~
. ,_ Pois a reprcscntat;50 mdireta, no trabalho declno ao "hv.
Huyghe, C 0 ponto central da falsificat;50 social' cle quer
devolver a palavra aos individuos, ao mesmo tempo mos
trando 0 trabalho invisivel de dublagem em curso. Dubbing,urn video que rnostra atores sincronlzando a dublagem
de urn filme em frances, contribu' para rnostmr c1aramen
te esse processo geral de cspohat;50: a timbre da \'Oz rc
prcscnta e manifesta a smgularidade de uma palavra que
Cmlnimizada ou apagada pelos impemllvos dOl comumca
t;ao g1obalizada. A legcnda contra a vcrsao onginal. Padro
nizat;ao global dos c6digos. Essa ambit;ao faz Icmbrar a de
Jean-Luc Godard des Olnos de militancia, quando linha 0
projeto de rcfilmar 1...lJw Story e distnbuir camerasaos ope
ranos das fiibricas para se contrapor.i imagem burguesa
do mundo, essa lmagem falsifkada que a burgucsla chama
de Mrellcxo do realM Como clc escrcveu "As vezcs a luta de
c1;lsscsea luta de uma imagem contra outra imagem e de urn
scm contra outro scm" AssifT\, Huy-ghc filZ urn filme sobre Lucie Dolcne (Blallc/II: N~W Luei.., 199i), um.a cantorafmncesa cup, voz fOI utlliZilda pclos esludios Walt Disney
para a dublilgem do filme Bmllca d~ Nroc- elil pn'wnde rcivindicar os dlrcltOS sobre sua voz Urn processo scrnelhan-te rcge sua vcrsao de Dos day uj/rnlfxm fUll apm-mldl de
58 NICOl-AS 1IOl.JJUuA
elrinl (Um dia dL' cifo)) em que 0 hcr6 d un• . ' I 0 cpis6eho
ocaSI<JO leve $Cus ducilos comprados S ' que napor }'dncy Lfinalmcnte pOOc di.'SCmpcnhar sell pa 1 Umet,pc antes co fido por Al PaclllO: em ambos as casos '.. n 'SCa., os mdlVldupropnam.se de sua hlstona ou de seu trabalho > os rca_desfoIT';) da 6,,50. Todo 0 trabalho de Pier..... H ' '" 0 real s('
." uyghc al -resIde nesse mlersttcto que os scr'l."Ira I" • las.. r- ,a IrnCnl..ldo por scatlVlsmo (Om favor de uma dcmocracia d ~ u, os papl:lS SOCiais:dublagem xredublagem Esse retorno d fi . .a c,ao para a rca-tKiade ena bn.>chas noespcl-3culo ·A qu-'· • c.• ..... aD e 5.1lJ\:f se os
atores nao se tomaram mterpretes'" cscreve Hu h b• ygcsoreseus cartazes com trabalhadores ou lr.mscuntesno~ urbano f: . expostos
preo.so parar de mterpretar 0 mundoparon de desempenha I 'r 0 papc de figur.mtc numa n."1rbtu~~~ID~- r- fa
r· 1"'-'" e se lornae alor au co-roteins- 0D\O • .... mes-~nto as olxas de arte' quando Hu)'ghe refilma cadi!
cena \Ie urn filme de Hitchcock .pOe urn filme de W ou Pasolml, quando justa-G athol e Ulna entrevista sonora de John
IOrt\O, ISSO Slgnl6ca que leobras de\cs, e lhes"- _. e se consldera TtSpOnstfuel pclas
.....UI\"e a dlmensao dtocada outra \......._ e pactltura para ser
...... \Ie mstrumentornundo i1tual Jorge P rdo p.ara a compreens.'io doquando expIIQ ..... ,.. I..~ expi\'SSa uma idcla semelhante
"-'lOImullasCOlSasque SC\I trabalho rna rnals Intercssantes do
, s que suas obras sao "ra oIhar essas COIsas" H "'~A urn modelo pa-do \1)6'''' e Pardo
da IJtll1ld4dt as obras de i1rte do rntregam 010 mun-plrata (Mobilt TV. 1997) Passado. Com sua te~, .suas sessoes deou com a Criill;30 da AssocUition d escoIha do elenco
ts Ttmps libhts. HU}'ghe
59r6S 11lOl)llQO
(abnca
estrutur.JS que rompem a cadcia dOl interpretal;.Jo
en' favor de figuras da ahvldlldl!" dentro desses dlsposih
vOS. a propria troca sc transforma em local de uso, e;\ for
ma-enrcdo torna-SC uma posSlbilidade de wdefinn essa
hnha de separ.Jl;.JO entre lazer e lr.Jb.:1lho, dada pelo enredo
colctiVO.l-luyghe trabalha como um montador E"'a nO(:.1o
politlca fundamental"', cscrevc Jean-Luc Godard, ca mon·
tagcm umillmagem nunca estJ. sozinha, ela eXlstc apenas
sobre um fundo (a Ideotogia) ou relaclonada com J,S Ima
gens: anleTlores ou posteTlorcs: Ao produziT iIIltJge/IS qlltfa/fail/ 3 nossa compreens5o do Teal, Huyghe faz urn trabalho
politiCO: 010 contraTlo do que sc costuma pensaT, nao rsta
mos saturados de Imagens:; estamos submehdos aescassez
de ceTtas: imagens, que tem de ser produZldas contra a omsura. rreencher os espal;OS cm branco quc puntuam a lma
gem ol1elal da comunidade.Rmmkt (1995) IS urn vfdeo filmado num Imm.·e1 pan
slcnse que retoma. cena por cena. a i1C;SO e os dl.1l0g0s do
filme Janda lIIdtsereltJ, de Alfred Hitchcock. remterpretllda
por }O\ocns atores franceses no cen.1rio de urn biUTTo popu
lar de Paris. 0 remake afirma a Idc;la de uma pnxluY)o de
modc1os remont.1WlS ao IOfiOito. de sinopses diSpOnfvcls
para a aC;ao cotldlana.As casas macabadas que comp<km 0 cenario de I.e;
inC/flits (1995), rcfilmagem de UcctlIam e UCCtlIml IGavlCtst passarmJ,os} de Pasohnl. represcntam "'um estado provl
5Orio, urn tempo suspenso", vista que e5SilS construc;oes fi·cam desoc:upadas par.1 ~apar 3 Icglslac;,io fiscalltahana
Em 1996, Pu::rrc Huyghe ofefcda aos visilanles dOl Cl(POSi.l;ao Tntffic urn passcio de onibus ate as docas de Bordeau
,"Durante a viagem noturna, os passageiros podiam aSsis_
tir a urn vidro que rnostmva 0 percurso que cslavam fa.
zenda, poreffi durante 0 dia. Essa dcfasagcm entre 0 dia
e OJ. nOlte, e tambem 0 Iigeiro dcscompasso entre 0 real e a
fi~o. deV1do <lOS SlOillS \'crmelhos e ao transito. introdu_
ziam uma dU"'lda na realidadc da cxperiencia: aSStm, a so
brepo5l~o do tempo real e dOl filmagem gera urn polenclal
narrativo. Quando a Imagem se torna urn la~ que nos liga art"olhdade, urn gum esquem5tico da expenencia vivi
da. 0 se:nbdo da ohm pro\-em de urn SIStema de dif~mlpzs:
d~ entre 0 dm~to C0 indireto; entre uma ~a de
Gordon Mattt.Clad:. ou urn fitmc de Warhol e a proj~ao
dessas obras pot Hu)"ghe; entre tn.'s vcrsc>es de urn mesrna filme (;\.Uanhc); entre a unagem do trabalho e a reah
dade desse tTaba}ho (B.:ubis-RDchtehOUQ11); entre 0 sentido
de uma £rase e~tJad~ (Dubbmg), entre urn momento
VlVldo e sua \-ers30 rotcinzada (Thmi' Mtmory). £ na difer~a que se <U a expe:rMhlaa humana. A arte e0 produtode uma distafItU..
AD refilmar todas as emu de urna pelicu1a. representa-se outra COISa que nao est.,) na obraoriginal. Mostra-se 0
tempo decomdo eo sobretudo. mantfesta.se a capacidade decircular entre OS Signos. de hahrt.i·Ios. Ao ff:filrnar um grande dasslCO de Alfred HItchcock num conjunto habilacionalpanSlense. com atores desconheddos,. Huyghc expOe urnesqucleto de ac;iio despopdo de sua aura hoIlywoooiana,.
61~oouO\O od
!'OS. nrao da artt> como pr u-urna concen ,afirmllndo, ass
lm, laveis '10 infinito, roteiros dlspoRl·
'
So de modelos ren\od~ ,Po, que nao utihzar um filmc
~50 COtl Ian . ,",cis para a a melhor 0 trabalho dos operanos quede .1,50 para en:~~~o bern na frcnte de nossa Janela? E
constrocm
um I I palavras de Ucctlfacd e Uccelll-- confrontar as dpor que naO ~. de constru~OcsInacaba as,I' . com um ccndno
nJ de PaSO Int. t (? Por que n50 usar a artc paranuma periferia ilaliaM ~:~anter0 olh.u prcso as formasolhar 0 mundo, em Vl"Z
que ela pOe em rena'
Doml1uque Gonza/ez-FtxTSla
As Charnbres, os 1IOrne·mOfli~c os ambi~ntcs irnpres·. G zalez-Foersler as vezcs cho-
sionlstas de Dominique o~ d _"" os" ou "demasiado'"demaSla 0 In m
cam a crmea por ser r. ra domestlcaf ' cos· No entanlO, eJa explora a es e
.lImos en . . . " ,.nden-rob!ematlcas SOCialS rna
relaclonando·a com as P . tatura do queI mas 0 fato eque cIa trabalha malS na_ .es. . _ da ima m Suas inst.:llat;OCS hdam com
na composl~ao "ge~ de arte'" indizi\"Cis; usanatm05feras, dimas; sensa m enquadrado urn repcrt6rio de lm3gens vaporosas e:a Dianle de
ndo ainda postas em .mento - imagens se be 30 espectador 3 l.a.
d Gonz.alez-Focrster, caum3 ~a e I I ~, como sua relina tern, istum ~IS TX., IoUrefa de 3zer 3 m tilhad05 de $eur3t
" <llca ......r:mte os pande fazer 3 rntSturo u ,,- d precis<>R' (1998) 0 especla orEm seu curt3-melragem 'YO • . • d s-
dos prot3g0RlSta5, cup Iinclusive Im3gin3r os tr3~OS
62
cussia ~lo telcfonc segue urn lr.welling no Jonga do rioque atraVl..'SS<.l QUIOlo, e as roslos nUllca apare<-em As fa_
chadas dos lm6--'Cls filmados num plano contfnuo nos dilo
oquadro dOl a,50. romosc a esfem da intimidadc. em tOOa
a sua obra. Si.' projCI3.SSC IIteralmcnlc em objctos comuns cquartos. lmagens·lembrant;a c plantas de casas. Ela n50 sehmib a rnostrar 0 mdlvfduo contcmporSnco sc dcbalcn_
do rom suas obsessOes intimas, elil aprescnta as cslTUlurascomplexas do cinema mental rom que esse mdividuQ daforma asua expcnencm, e 0 que chama de aulomolllagem,
que parte da conslJtl~o de uma ('\"olu\3o de nossos mo
dos de VIda. POlS '".1 tecnologlla{aO dos Interiores"', diz dOl.
""transfonna a rela~o rom os sons e as Im<lgcns"', levande
o lnihviduo a se larnar uma mesa de montagem ou de mi
lQgem. 0 programador de urn hom~ mcrL1lt', 0 habitante de
urna zona de rod.1gem h1nuQ permanente, a qual nao esenao sua pr6pna exisl~nCla.
"Tetefones. cds. filmes,. prograrnasdl! radiO I! televisao.mtenores audKJV1suais. atmosfern regl(!.1 pel.1s ondas....
Aqul tambem estamos diantl! dl! uma probll!m.iOC.1 quI! COTnpafil 0 unl\~ do trabalho coda tlXTlOlo
gt.l. esta considffada como uma fonte de r('Cncant.J.rnentodo cotxliano e como urn modo de prod~ de SI Seu tIa
hllho C uma pili50lgem em que as maqulnas 51! tomaramobJetos apropn.ivcls, dorneshe.iveis.. DominIque Gonzalez_
Foerster mostra 0 fim da teentea como apal\!lho de Estado.sua pul~'enzaC;30 na vida cottdlana sob a forma de dl3riosintimas no cornputador. de cldi05-dcspertadort-s au de ca-
63
rOS l'l:OOlJ().O d estico nao represen-1 ospal;'o am 1
'Para e a, 0 ' • [=r princlpadlgll:U • -0 mas e 0 uo-
nleras
I de uma interlOnl.al;'a .' . d'os intimas.ta 0 sirnbo 0 mooos SOCli:US e os esC)
do confronto l.!ntrl! os ~ das e as imagens projetndas. Urna
entre as Imagcns-~~o interior domestiro fundona na
...vIe de proJC{ao. ° a rotetrlz.1{ao da VI-C:Sr-~ rratlva conSlllul umchaw da autona 'd m, psiqw:: rccriar 0 aparla-
as lambem I! u 993'da cotldian<l. m . W Fassbmder (RWF. 1 ~,Ramer ernermenta do cml!asta d' dcrora{ao dos anos 1970, urn
{oram mora lao aquartos que _ J '.,·,m Gonzalez-Foerster'd 0 por-do-so . ...." •parque pc~rn 0 a em v;3rios proJetas. como uma tecnicaullliza a pslcan;3!lsc. d nredos: diantl! de uma
mite 0 surgimento e novos e °
que per 1 ° ida 0 analisado !rabalha para rerealidade pessoa repnm • 0d plano do mcortSClentc,ronstltulr a narrativa de sua \'I a no . de romper-
lh pcrmite sc asscnhorear de Ilnagens,o que e _ yam Ela pedet3mentos e lormas que ale ent<lo Ihe escapa
~ ue dcscnhe a planta da casa emao vlslt3nte da CXposl'.lO q 0 _ I ttl Estherque morava quando cnanl;'a au sohCtta a sa_ens inlSnSchIpper qUI! Ihe fom~a objctos e rerorda,ocs d~
cIa 0 local central das expencncias de Gonzalez,'. "(",'d ........ueletO.1 ehvo a-e0 quarto de dormir redUZI 0 a um --, _ 0 _
uns objetos e cores), cia matenaliza 0.110 mnemoOl~n~o
g 'm~s cstctlCO VlStO quc sua organlZa,110apenas emOClona... u • , •
I;3Stica. n3S instalac;Ocs. remctc a arte mlnlmahsta.P • romposto de ob,etos afctivos e plantasScu UnlVcrse,
• ~n do cinema expenmental e dos "om~a cores, aprmuma-"". , Jon~s Mekas. 0 trabalho de Gonzalez-Foerster.mOVlN .. u 0 •
d" PO' 'U3 homogencldadc. parC(:c ConstitUlrque surprC('n '" •
N1COl.As~uma pdicula de formas domesticas sob
. rc il qualtam Irn3gens. EJa <'prescnta estruturas d . S<! prajt'.t Ol1esCInembr..tn\3s, locais c falas cotidianos Es ,Screven)
.(..,}.,; . sa peheulac .....,eto de urn trat"'mento mais ('boo d rnentill
• Til odoqucatnarratlYa. mas sufiC'lcntcmente abe I "'""r a para aealher 0 ..do espcctador, e ate para Ihe despc , VIVIc!O
• r ar a mem6nanuma sessao pslcanalitica. Sena 0 caso d" ' COmob Iho, • JanIe de sell ta de prnhcM Urn oIlwr fllItllQlIte, semclhante a m-
Iii J1utuantr com a qual 0 analist<l perm ttl.' que 0 n esculembra IlUXQ das
n(.lS sc C'Ooverla numit materia scnsivcp 0 .so de Dommi Go . Ufllver_
que nzalez-Foerster caractcriza_se !ado V<.l se por es·
go. ao mesma tempo intima e im...-" Ie livre que form r .:a ... austerevida ~ldiilna. a OS contomos de todas as narrativas dOl
Lam Gl1llck
o trab.1lho de Uam Gl1lickconJunto de estTat........- f apresenta-se como urn
..,. ....., tn onna~ ( "tazes. patnbs m, \ arqu....os. renas. car-
• • 'f05/~ essas obras pod "cenano de um 61 enam conshtUir 0
me 0I.l a redalOao dtras palavras. a narrattv e um rotelro. Em ou-
aemqueoon'tla por entre e ao redor -,__ SiS e Sua obrn circu-
~ elementosestes se hmltern a Ilustra.b Mas expostos. SCm quefunaona como um rotelro kin. c.ada um desscs objelos
--,~emfihco ""- d"proYenJentes de cam......... I I • ~~.., IT'I Icadores...-~ para e os do sabe ,~urb.:inlSmo. polftica ) Po' r .... rte. industria- . r mel() dos •cos que desempenham um ?apel f :rsonagens hlst6n_
u amental na HiSI6ria
•
65
rnesrno permaneccndo na sombra (Ibub, 0 vlce-presldenIe dOl Sony; Erasmus Darwm. 0 irmao Jibertano do tronco
da c\'01UlO50 das cspkiCSf Robert Mac Namara, S<'Cretano da dcfesa duranle a guerra do Vicln5). GIllick elabora instrumcntos de mvestigalOiio que deem mtehglbihdadcao nossa lempo_ Asslm. cle procurn dlssoln>r a fronll'l
ra existenle entre os dlSPOSlh'o'OS narralivos da f~Jo c osda interpretalOao hlst6nca e lenla eslabclccl'r novas conexOcS entre documentjno e fiClOiio. A inluilO50 da obra de arIe como mslrumcnlo de anahse dos l'nrooos Ihe pcmHlesubstitulr a SUCesso10 emplrica do histonador ("CIS 0 queacontc«!uj por narrallvas que oferecem cutras possibilidades de pensar 0 mundo "'tu",l, outros enredos c modos de"'lOaO. 0 real. para ser vcrd",dClramenfe vislo e pcnS.1do. dew se insenr em narrali\'as de fi~50. a obr.1 de arle-que m·Icgra folios SOCialS na fiqao de urn UnJ\'CrSO formal rocrente-. segundo Gillick. deve por sua vcz gerilr usos pOlenciaisdessc mundo. uma espCclC de logislicil mentill que favor('{'ca transformalOao. Adema.ls. t.:ll como as CJ(POSI~ de Rlrknt liravanija.. asdc Uam Gillick supaem iI partklpa{ao dopublico. milS scm ostcnlalOao: sua obra ccomposlil por me$ilS de negoclalOao. estranhas plataformas ilr di5(:us.qJo. cenas "auas. paJnBs de camzes. pranchctas. tclas. S<ilas deinformalOiio: eslruluras coletlVas. abcrtas - como as Qgorosconccbidas pclos urbamstas dos anos 1970. 1'cnto Inc('nllvOIr as pcssoas a areilar que'" obrn de art.:' llprcscnlada nurna galena nao C II r~lu{50 de ldclas C objclos.... cscrevcde_ Quando sc manlcm a Ienda da ob~ de arlc como pro-
66 NlCOl.AS~
blema resolvido, 0 que sc <lJuda a antqullar Ca a"ao d" olnd ••
,<{duo ou dos grupos na Histona. Sc as formas expO"'~ as pOr
U",m Gillick pareccm sc confundir com 0 (c"aria da Ia lC-na~ao cotidlana (logos. elementos de- arqui\'os burocr.iticos
e guiches.. salas de reuniiio. espa~ espccificos dol abslra_
1\50 ('CQnomica), os titulos c as narrahvas a que Temctern
('"ocam lnC{!rtezas, cngJJamentos possfvcis, dcdsoes a lamar. SU<lS formas sempre pareccm em suspenso; clas Pl"('_
servam a amblgUldade entre 0 "acabado'" C0 "inacabado".
Em sua CXposll\.lO Erasmus is laft: ill Berli" (1996), todos oslados das paredes da galena Shipper & Krome fcram re
robertos rom pinceladas visiwls de varias cores, mas a ca
mada. de Imta se InterTompia OJ. mc.ia·altura. Nada emOllS
vlo!entamente estranho ao mundo mdustnal do que esse
estado de nao-acabamentQ. do que essas mesas fabrll:adas3.5 pressas ou esses trabalhos de pintuf.1 (Ibandon3dos anles do final. Um objeto manufuturado nao pode Bear inacab3do.. 0 tarater "incompleto" das obms de Gillick Jevantauma questao para a memoria operaria; a partir de que mo.mento do dcscn\'olVimento do processo mdustri(ll a meC;l
mza~5.o anula os 131timos lra~ de inlerven~5.o human(l?Qual 0 papel que desempenha a ;,ute modema nesse proresso? Os modos de od -pr u~o em massa anulam 0 objetoco.me cnredo para ronsolldar seu carater prCVisi\'et doml-n3\'CI, rotmeiro. t preclSO remtroduzir 0 lmp'-" I '
,,-~lslve, a Ln'certeza, 0 J08O" assun. ~rtas ~as de Liam Gilhck podemser rcahzadas per outras pe:ssoas na trad - f• ~ao UnClona_hstalIlaugurada par Moholy-Nagy t"sldt .....H
'-"', U~ U!Qlad
67
Ill/a n room with Coca-Cola pni"'<'il walls (1998) curn iI'lll/
drawing que deve scr pintado por va rios assistent~, de aoordo com regras prcclsas: trala-sc de tcntarchegar. plIlceladaap6s pmcclada.. 3. cor do famoso rcfngerante segUlndo urnmesmo proc~so. pois ele eproduzldo ...m f5bricaslocais apartir do po fornccido pela Coca-Cola Company. Analoga·mente. quando fOl curador de uma cxposl~50. Gllhck pedlUa dezes5C1S artistas inglcscs que Ihe enVlassem mstru~
para que ele propno eXl,<ulasse pcssoalmcnle as pc(a5 flO
local (Ga/eric Gia Marcom, 1992).Os m;;Jler1<1is utilizados pro\'cm d<1 <1rquitctura da cm
presa' plexigl<1s. a~o. cabos. madeira tratad<l ou 3tumfIllOrolondo. Ao conectar a estetica da arle minim<lhst3 ao If
mido d~lgn das empr~as multln3C1onais. Uam Gillickfaz urn par31elo entre 0 modernismo universalista e a Rra
gnllomics. entre 0 projeto de emancipa(iio das v.1nguMdllseo protocolo de nossa aliena(ii:o gcrilda por um3 cronomill"'moderna" Estruturas p3ralelas: a Black BoxdeTony Smithlorna-se em Gillick urn "Projected think lank" As mesasde documentos que apareciam n3S exposi~oes de arle conceituill organizadas por Seth Siegcl3ub 3gora SCf\'('m paraler fi~iio; a cscultura mlIllmalista lransforma-se ern elemento de urn ioso de papeis. A grade modernlSt3 denv.1da da ulOPI(l da Bauh3us c do conslrutlVlsmo dep.-tra-secom SUil recuper3(iio politica. islO e. com 0 conjunto dosmotivos 3tra\'t.'is dos qU<lls 0 podcr economlco estabelco.'usua dommil(iio. Niio foram alunos da Bauh.1us que. na Scgunda Guerra Mundial conC'Cberam os bUllurs do fJmoso
os69
NlCOfJ\S !lOUtH',.. '~un
Mum do Al/dlltlCO? Essa arqueologia d. ' 0 modernisl
Cil espeoalmcnte vlslvc! numa sen ~ d no fl.•. C C pC\as Te<lHz I
partIr de seu hvro L'Tle de In dlscussio1l Le .<1.( as <I," ' grand Ccntr d
col~erence (1997), fic~ilo que aprcscnta" C c_ urn gTUpO de Tef!)
xao sobre os grupos de' reflex50" CI' 'fi d c·. ....SSt lea as segundvocabul.5.rioformaldc Donaldjudd ino, I d 00, ~aa asnoteto eltrazcm titulos que rcmetcm a fllll,oes dcntro d • asd . 1: -D' e Urn qua"ro cmpresana . lS("ussion island rcslgn,ltion platform"conference sen.'c:n"; "dIalogue platform"" d .'If" ' rno eratlOn~ at arm - A fenomenologtil, cara aos artistas do minima_hsmo, converte-se num m
. onstruoso bchaviorislllo [mrocrn-tlOO; a teona da Gestalt tfansforma_sc em p,o"cd'
bl .•~. 0 ~ lmentopu ICll.<l.flO. 5 trabalhos d(' Liam Gil" kAnd d
I Ie ,como os de Carl. re, malS 0 que esc ltu
, u ras, rcpresentam zonas c desCOl'lStituem a SJna!etica desS<! ." ',. d' s zonas, aqUl, e uma ques-ao e renunaar discur . ,
negOClaf, aC'O~lhar ,I: proJetar Imagens, falar, legislar,essas f ,dmglr, preparar alguma eoisa." Mas
ormas, que projetam enr d .que 0 observador l.'labo e os poSslvels, implicam
re outras formas para si mesmo.
lI.1allriZIO Cottelutl
Sans litre (1993)' anfl'co bIJ e rasgJda tres vez:S em
lf so re tela, 80 x 100 cm. A te-onnJdeZ n •
Z de lorro no cshlo de tu' F ,Uma referencia JOCIO ontana N
simples, JO mesmo tempo m" , - CSsa obra muitolnlma!LslJed
to, encontramos todas as fi I.' accsso imedia_Ih guras que com -
ode Cattelan' 0 desvio CJ', 1 poem 0 traba_TlCJ urJ de obras d
• 0 passado•
rOS.''RODlIcAO
a fabula nlor.Jlista e, sobrt'tudo, cs~ maneira insolente de
retotn<lt aD sistema de valores, nTrombando-o, 0 que con
tinua a ser a principal carncteristica de seu cstilo (' conSlS
te ('nl tomar as formns ao pc dOl letra. Enquanto a Incern\ao
de uma tela, para Fontann, eurn gcsto simb6lico c trans
gressor, CaUelan aprcsenta-nos (>Sse ato em SUil ilcep<;50
mais corrente, 0 lisa de uma arma como 0 gcsto de urn justlceiro de opcreta. 0 gesta de Fontana, vertical, abria-se
P.1ril 0 espac;o infinito, para 0 otimismo modernistn que
imaginava urn alcm-tela, urn sublime ao alcance da mao.
Sua relomada (em ziguezague) em Cattelan liln(a Fonlanil
ilO ridlculo ao classifid-fo junto com umil serie de televi
siio de Walt Disney (20rro) praticilmente contempor,inca a
ell.'. 0 ziguezague e0 movimcnlo m.1is utihz.1do por Cat
lelan: eurn movimento por essenci.1 comico, chapliniano,
que corresponde a um perJmbul.1r por entre as colsas. 0artista·skatista faz fintils, scu porte vacI!ante dcspcrta 0 ri
so, milS ele circunda as formas que va/ rO(ando por dc·
volve-Ias i'l sua condi(iio de ccn5rio e acessOrios. SmlS litre
(1993) ecertamente uma obm progrilm5tica, do ponto de
vista da forma e do metodo: scm dlivida 0 zIguezague c
scu smal distintivo. Se ronsiderarmos as vririas "rctoma
das" que cle reallza, percebercmos que 0 metodo Cscmpre
igual: a l.'Struturil formal parece famJliar, mas uma camada
de significao;3es aparece de maneira quasc ins/diosJ, pa-
ra subverter radical mente nossa percep{iio. As forma$ deMaurizio Ca!t('lnn nos mostram semprc elementos fami"
lI,lres reproduzidos, numa voz il/ off. em ancclotas crucis
71
70NICOcu
" E ~ou 5.lrCastlcas. m MOil ollele, de Jam .,."~..ues I.J.!I, Urn h
observa uma lofoqueira dCjX'nando f orncm. urn rango En,-lOlIta 0 cacarc~JO da ;WC, e a pobrc m Ih . '10 e]{'
u Ctd5uffi Isusto, uchando que 0 frango Olcabou d . pu 0 det c ressu5Clta r
urn cl.mo pareddo que ('maM da 01'" . dd ~- ulorlaasob
C'-<IUclan. quando de ·faz uma ",.. I ro,~nop asha'" do hI no
Zarro em rima de urn Fontilna, quando ou . dod VlffiOS as Onp
as vermelhas na (rente de uma obr .,.a que eYOea Smith
au Kounelhs. quando pensamos nurn tumulo d 'Onf' lante de
urn on \(10 ao t'Shlo dos earl1mlOrJ..-s dos anos 1960 Qdo msta!a . uan·
urn !umento vivo numa galena nOva-lo Ulnasobumcmdelabrodecnst<1I(1993) . A .rq~ , e uma rcfercnclJ. indl_
rdJ. .lOSdo:zecavalosque]annis Kouncllis exnA.: IL'AttK"Oetn Roma.em 19 • r-~ nJ. ga ('na
. 69 Mas 0 tJlulo (WQrlllllg! Enter nIyour Own rtSk. Do not foucll do, tfi"" .log phs A....... ,w, 110 sl1tokmu 110 pllo-
h. , no '""'3'> IJIllttI: ) ;;"d. ._ d ' you Im'erte radicalmente 0 sentido
.. OUIa. espo,ando dbdl~ t I -;I e sua hlstoncidade c de sua sim.
a V1 iI lSta e remet:endo 'no 5enhdo malS -......~_., 'iI 010 SIStema d(' representa~o,
-~,... .....u ar do t('nno'I!Sp('lacu!obur'---o". 1 - 0 qu(' v('mos eurn
"""C ""'U a ta V1gll' •nos sao puramenle noh'..l ancla,. cuJos IiOlltes exter-
' .......IICOS 0 ammal ""- ~.sent-ado como be\eza ...-0 nao c <Ipr('-ou como nOVIdad
proposllt.lO pengosa . e. mas COmo umapara 0 publICO C
blem.itic:a par.l 0 ""Ierista A • extJ"emam('nte pro·<r refcrenaa y _
gr.llulta, e fica claro qu'" a "'l.JUnelhs n50 C. .. a arle P'O'Veraopal rn<itnz formal da obfa de rcprcsenta a prin.
_~ , MaunZIO Cal ._se H.,ere a composl,iio da, le....n no que. lmagens e;} d b
clal dos elementos ulUiy-mad 0 _ ISln U1ltao espa.lS. fato e que rara_
••....11," ele
"" ..-K'"I oblelOS em sene 01,1 a tecnologia Scu reglstro for-
uti 1z<Jmal comporta de prefercncl3 elementos naturalS OannlS
Kouncills. GIUseppe Pcnone) 01,1 antropoOl6rficos (CIUllo
Paoh"" Ahghlcro e Boetti). lao sao influencl3s, c me
nos <linda homenagens .i arte po,,-era, I," sim uma espe.elC
de "'HO'" IInguistlca. alias. Oluito dISCTct-a, que ccflete uma
educ3ltJO visual itahanaErn 1968, Pier Paolo CalzoJ:Ir1 expOs SaliS litre (Ma
fllla), mSlalati"ao onde aprcscnta urn dio albino amarrado
ii p<Jrede, num amblente com urn monte de terra e blocos
de gelo Lembramos rnalS urna vcz 0 cnat6rio de Calte/an,com c.1valos, Jumentos, dies, avestruzcs, pombos c esqul
los Com a fCSS.1lva de que sellS ammais nJO simbohzamnada, n50 remetem a nenhum valor transcendente, e scconlenlam em cncamar tlpos, pcrsonagens 01,1 Sltlr.lc;Oes:o univcrso simbOhco dcscn\-olvldo pcla arte pm'era 01,1par Joseph Buys desmtegra-se na fabula caltl'lani.1na sob.l prcssiio de urn "'espirito maldoso'" detonador que opOcformas I.' contradi¢CS, I.' que rccusa ser habll.1do por qual·quer valor positi,,-o que scJ<l Essa manl'lra de \'oltar as for·mas rnodernlstas contra a ideologl.1 que Ihes deu ongem(contra a Ideologia moderna da emancipa,50, contra 0 su
blime), mas tambCrn contra 0 melo artfstico e suas cren,as,demonstra n30 urn Clnlsrno vulgar, e sirn uma ferocidadecaricalural Algumas de SU35 exPOSI{Ocs podem lembrar,apnmelra VIStol, urn Michael Asher au urn Jon Kmght.. naffil'dida em que prelcndem r(,\'i'lar as estruturas ('(OnOffil-cas CSOCialS do sIStema da arle, enfocando 0 g;:Jlensta 01,1
72'1<OW ""'""""'"
o CSp.1~ da CXPOS1~O_ Mas logo essa referenda COn...... t~'"I uill
d.i Jugar a uma outra lmprcssno, mnis difusa' uma v'" d.. r a.dcira pcrsomfica,50 da crrt:ica, que rcmete nao so" , (dar_rna da fabula. como veremos dcpois, mas tilmbCm a Uffia
Jutenhca \'Ontadc de prejudkar im, em 1993, CalleJan
rcahza uma~ que ocupa todo 0 espa{O da galena MasSimo de C:lTlo, em M1150, C 56 podl,' set Vista pcla vitrinc. 0arllsta acabJ. admllmdo: NEu tambcm queria bot'lr Massimo de Carlo para fora da galena durante urn mes."
&pinto maldoso, 0 espintodo clemo mau a/lltlo que sc
senta no fundo cia c1asse. Tem-se a impressao de que Catlel,m considern seu repert6no formal como um conjunto de
1l\'6ts de CIlSll e de figuras tmpostas, como uma especlCde programa csro1:l.r que 0 artisl<l-Cilbulador S(' diverIe transfonnando M\ togO de <:cna Urna de SUilS pnmetras~ Importantes, Edciollj ddI'obtigo (1991), conSlslc
em ll\'fos esrol;lfeS com ;l C;lpa e 0 titulo m()(:hficados porcnam;;ls, numa esp{'{Je de desfolT;l e 807...11;50 contra lodesos progrnmas. Quanto.los lecidos e cortmados da arle po_\"ern e dOl anlifonM des anos 1%0 e\..., Ih, .." e 5er..em._ pa-ra fuglr do Castello dl RMra, onde CSlava partiCIpando desua pnrrara COletlVil lmportanle, em 1992. '"Eu goslavad: olh~ar 0 que os outros artlstas fazlam, como reagiam .1sltua(;'ao. Esse trJbalho nao era a.....nas mn'"(6 "...~ .. " nco, era tam-hem urn lnstrumento: na noile antes do tIl.'rn
I5SQgt,lranspusa pncla e rugl.'"' A obra aprescntada era pura e slmplesmcn.te essa escada ImprtJV1sada, {etta de \en......c, d.."......" marra os largada na fachada do castelo. Segundo 0 mesmo . '.pnnclplO,
73
""..--d 'e 0
ManifeslJ. II ern Lu);cmburgo, CaUeJan1998 ural' '
"" ' I vcira plantada num lmensa quadnlalero deCXl'5e urna 0 I
bs >rvador mais apressado podena pensar numterra. Urn 0 c
ke de Bcuys ou de Penone; ora, ao fim e ao cabo. essererna ..• d
_tal nao tern nenhuma partlclp;l(;'aonoscnll 0c1eJT1enIO\~o-
b 0'0 ser articular-sc em torno da smtaxc ofensl\'adao ra,a ..
desenvolvida pclo artista. culucar os limllcs ffS1COS e ideo·
16 icos dos individuos e das comunidades, lcstar as pasSI-S "dt"'"bihdades e. sobretudo, a padencia as ms I UI~.
felix Gonzalez·Torrcs ulilizaV3 urn repcrt6no fomlal
hlstoridzado para revelar os embasamenlos IdcolOgICOS epara constituir um novo alfabcto de luta contra as normassexuais. Jii Catlelan puxa as formas para oconflilo e para acomedi01: a provoca(;'ao de atntos com os operadoft.>sdosistema dol arte, com lrabalhos que envolvcm cada ...cz maisinromodos. cslorvos e entulhamento; a Te\'ela~.lo da comedia que suslenla as rela(;'Oes de fOfl;'a nesse sistema, como uso de grades narrnlivas que diio uma guinada burlcsca ahisl6ria da arte rccenle. Em suma, seu comporlilmcnto deartista consiste em oricnlar as (ormas pam a dehnquenda
Pi"" Jr>sqJh: Utile Democracy
Nossas vidas transcorrcm sabre urn (undo cilmbiilnIe de Imagen$, enlre fluxes de mfonnil(;'Ocs que en\'oh-ema vld.1 cotidlana.Toncbdas de Imagens sao fonnatadas como produtos ou dCSlinadas a ...cnder outros obJelOS. ~rculam volumes mad(;'OS de informa(;'Oes. 0 proJcto artisllCO
75
74N'ICOi.As 8()
de l'lerr(: Joseph consisle em co I . l1RRv.uol.. n Crlr scnrdlIIente: nao sc trala de urn.... I 0 il esse.. encslma pes' ~ am_de uma pratka produtiva, sernl'lhant ,llI
aocritica, Csinl
n _...... eadcquurna u:ue. manta urn illncrario CI1l naVCft;,
• OU sUrfa oa 0"IOtcrntlvas dos vldcogames EI. S Sll1lulat;o($d . C Imta. em pri .
as condl~ de surg1mento fu' melro lugar,e nClonarnento d .
gens, partmdo do po$lulado d as Ulla_
d e que ilgora cstc uma imensa zona-imagem • . amos denlro
• e nao millS dlanl dgens: a arte nao eum cs t _ I e as Irna__ pc .leu 0 a rnais e Slm
CICIO de apllqlll.'... Joseph d • urn Cxer_. escnvoh'C uma reI - " .Instrumental COm as f .1\010 udlca e
onnas que ell.' manip Ira ou adJpta a novos u a, rompa_
dUSO$ estabcleccndo dh-crsos p
50S e reallVa¢es. Ass" • • racesbase 1m, 0 mmunalismo Ihe serve COmo
para Cache cache killer (1991) Ata uma~ _ .. olrle abslrata SUSlen-
-r"-"l~O em forma de jogo d .fliscr Olll'at'mt d e PistolS (La c11~ Qil
de Delaunay o:~. II ~Qtt!urdispomb!e, 1993), eolS obmsaunZJo Nannuc - ..
nanos para nO\ a sao recldadas em ce-'as cenas do fUme e
PtTSlmnages il rlru:r E m que se movem seuslOaS qu.... (he mteres:
r~ 1992, ele chega a "refuzer" pc_
OJtlCICa, Richard P m CIO Fontana. Jasper Johns Helloflnee Essa '
lura nao demOTiSt InstrumentallZJt;ao dOl. cuI-• _ fa urna dcsenv It
t;ao a Hlst6na,. mUlto 10 0 ura qualquer em rela-d pe COntrfiOO' el f
e um comportamcnlo 1 a unda as condlt;Ocsd .. IVre numa
Ingldo POlS. em J...........h SOCledade de consumo--I" • a rCOClag ",
Imagcns COI1ShtUI a base d em .....s formas e dase uma mOlal .
modos de h,,1bitar 0 mundo So, e preclso inventarem r .. rer uma for
po ItlCa. dltadura Uma democ:raoa rna chama_sc,_____ 'IRversamCTII_ e. COn-
"" ""ou<AOpermanenle jogo dos pilpeis, a uma dlscussao In-
v~aaum ." .'"ogoclat;50. t 0 regime politiCO mills falanle, dlzJa
finlta, i.l
Hannah Arendt. Port<lnto, p'lli."Ce plena mente /6glco que
Pierre Joseph tenha cscolhido 0 titulo de Wt/e Dt!mocrocy
P'Jra designar 0 conjunto dos pcTSOllngms t!lUOS n n-.nllVor
pol cle conrebidos. Esses personagens, a pnmeiro dclcs
surgido em 1991, se aprcsentam como figurantes \.....stJn
do uma p.1n6pha, '"mstalados'" na galeria au no muS("u co
mo se fossem uma obra qualquer, na noile dOl aberlurOl; a
seguir, des serno substituidos par fotogmfias, simples m
dicador que permite que seu futuro propnet.irio "'rc.ltivc·
i:I ~a avonlade. Esses personagens pro\"cm do imllgma
no da mltologia, dos videogames, das hlstanaS em qua
drinhos,. do cmema ou d:l pubhddade: 0 Super-Homem, a
Mulher-Gato, os LadrOes de cores da Kodak, um Jogador
de paill/ball, Gasparzinho, a repJici:lnte de Bladr RUIlIIU. As
vczcs. um levc toque macabro mtroduz uma defasagem 0
surfistil cst.i morlo, um personagem aC'ldentado cst.i rom
:I ci:lbct;i:I enfi:llxadOl, 0 chao i:lOS pes do Super-Homem es-
ta chelo de bltuci:l$ e de gamfns de cer...eja, 0 C.lUbOl eslS
de barco na terra_. Alguns sao .lpresenlados em seu verda
delro po:ano de fundo: 0 azul que serve para as incrusta¢es
do video, manifeslando.lo mesmo li:!mpo sua Irreahdilde escu potencial de deslocamcnto sobre dlWrs05 fundO$, P3-fa infinitos enrcdos. Outros se apresentam romo os alon~s
de urn iogode po:a~ls lconogriifiros, clTCulando pelo museuou pelo espo:a(O de uma colctiva, ceTC3dos de outros obra$;scguindo Duchamp. que prelendla ~usar urn Rembr3ndt
n
76l\'ICOLAsIIQ
<'Omo lima liibua de passar roup. J """"una, OSCph pi
sonagms num museu de <Jrlc mod anla S(>us ~r.C'Cnario. Seu trabalho bUSC'<l se Cfna COrWCrtido (1m
. mprc 0 horizontI!XpOSlrOoolllleoJleroit;op/lblico-a b d C de lima,oraCarlel
('lelta espttJal numa encen,Jt'ao '"nf'" orna-se Urn, ~ rntlVa, 0 r
rca\i\'at;ao da fig ula Cduplc' 1m..... P OCesSQ de. •..·se Igualment d
Wlf as obms junlo as qU<lis e... • e e reat!_"" msc:revcm as
e assim 0 unn'erso intciro ...... , personagens,.... ama Urn campo d
palco. urn tabuleiro. e Joge, Urn
Esse sistema tambem e Urn ro'Clo ..do ronvi\'lo intehgente entre os p. ~ pohtico: ('Ie fulab SUJCIIOS Cos (undh::~als cl~~~tivam. do convivio intcligcnte ('n~eS:
.........." c as VU'lil5 expost •l;ao dos icones. que carilctcn': a sua ild~ira~.'io.A rcahva_d'a->nn' essa galena de personagens-r~ 1\"'1$ em que consiste a little ~n
uma forma """'__ I fOCTQcy, representa-'-"';;'1\...1.1 mente demOCTiir-
n~ d~monstra~ n-~d . IC.1, sem dem.1gogiilh t.. r~"'" ilS. PIerre Joseph ".1mtar olS nalTat nos convlda a
was .1ntenores a .santemente olS formas nos, a rcfabrie.lr inccs-d que nos COnvi'm Aqu" fi.l arte emtroduzlr . I, a malidildc
o togo nos s tevitar que eta se petn6qu IS ~mas de represcnlilt;aO,alienante ao qual ad 1.', descolar as formas do fundo
l'Tem quando 5.50C'OIsas adqUJrldas. Urna let COnslderadas comopod . turn supcrAcial dos
ena sugerir que Joseph c . personagenstTetenlmento popular. 0 ufim arhSfa do meal, do cn-
ra, as gur.lS dos pefsonilgens dos q,,,, "hos OS COntos de fadas·fica nn e os h 6i '
tI que povoom es5,1 ..d--..... . .. er S de fictao den_A_ ~·"......racla n30
glr .... reahdade;- pelo COnlrano COnvldam a fu-, essas Imagrlls quI' faum
""."""""'"/ . (Ill do real nos lcvam, poT ncochc!c, a f.lzcr iI
11 npmll rU1g
d " gem de nossa rcahdadc, mas a parhr da fiC'{.1oapren IZii
d" POSltl\'O comp[cxo que regc os pcrsonngcns VIVOS,No IS-",-ho C,pido ou a fada funClonilm como lmilgensGaspa ... " ,
"t,das no sistema da diVisao do lrabalho: esscs sereslIl(n
ImOiginJTlos, cxplica joseph, obedcccm a "um programa
definido, comandado e imutavel', C seu cstatuto funclonal
n.30 cdlferente do de urn opecirio que trilbalha nurna lmha
de montag-em na Renault nem do de urn garr;om que pega
o pedido, scn"C 0 pmlo e traz a conta Esses personagcns
sao extrema mente tiplficados, sao retratos-robOs, Irongens pcrfcitamenle assoclildilS a urn personagem-modelo•
a uma funtao detcrmmada. 0 verdadeiro fundo mllologi
co de onde brotilm ca Ideologia dil divisao do tr.lbOilho e da
padronizar;ao dos produtos. a ordem do Imagimino, rodifi·cada segundo 0 regime da produtao, afeta por Igual os en
canildores c os supcr-herois. J\ fada Ilumrna COlsaS com SU.1
vannhil magle.1, 0 mccSnico de earroccri.1 aJusta c/ementos
em hnha: 0 trabalho eIgual por toda pilrtc. e Cesse mundo
de opcrar;Ocs imut.iwis e de possi\'cisdis~ em elr·
cuito fe<hado que dcscrc\'C Joseph - mundo euja safda po-
de ser mdicada pela lmagemAs imagens propostas por Joseph devcm ser vividas:
cumpre "propriar-se d('las, rNllv.i-las com SUOi inclusaoem no\'os conjuntos. Em oUlros termos. lraln-se de dcslocar assignific3r;Ocs.lnfimas defasagcns crlam movimcntosimcnsos. por que \'oce aeha que ,,,ntos "rtlsf"s se cmpenham em rdazer, TC'COplar. dcsmontar c remonl", os com-
7$ NICOlAS IlOURRlAliD
ponenlCS de noSSO mundo visunP Por que Plerre Huyghe
refilmJ. Hitchcock ou Pasohlll? Por que Philippe ParrcnoreronstJtUl urn,) lmha de montagem destmada '10 Inzer? 0
arllslJ. dt.."'\"C remantac ao maximo possivel dentro do maquma-rio ro1cIt\'O para produ:m urn t('mpo-l?Spa~ altl'rna_11\'0, Isio e, para (cJnlroduziro multlplo (' 0 passlvel denlro
do cirnnto fechado do SOClal Pierre Joseph.. COm 0 auxihode dlSpOSltt\'05 CJp;u:es de '"ahnglc C.lfetar seu local de cx
pos~•. prop6e-nos ooJetos de expeflcnClil, produtos ali\'OS, obras que sugerem 00...0$ mOOos de ilpreensao do reale I\O\'OS hpos de 1n\15hmenlo do mundo da aTtc. A nOs cabe habltar a uJlIt Dtmocmcy.
o USO DO MUNDO
Todos os rontcidos 530 bons. ronlanlo que ndO
sqam InlcrprCIa~e que digam respellO 010 uso dohvro. mulbpbquem sell usa e fonnem uma
lingua dentro de sua lingua.
Gilles Deleuze
Playing tilt world: reprogramar as formas sociais
A exposi,iio p nao cmais 0 resultado de urn processo, seu "happy end" (parreno) eurn local de produt;ao Ne
la, 0 artista coloc.1 ferramentas adisposit;ao do publico, lal
como, nos anos 1960, as mamfeslat;Oes de arte ronceitual
orgamzadas por Seth Slcgelaub prelendlam slmplcsmente colocar informat;Ocs adlsposlt;aO do visit.lnte Sempre
rccu5:lndo as fonnas acad&mlcas da exposit;ao, os arhstas
dos anos 1990 vlam 0 local da mostra como um cspat;O deconvfvlo, um palco aberto a meio camlnho entre cen.:irio,esh'idlO de cinemil e s.lla de documentat;<1o.
so NICOlAS IIOUAAlAun81
Em 1989, OommKJu(' Gonzalez-r'OCJ'Ster, Bernard Joisten" Plerre Joseph (' Phlhppe Pam.>llO, em Ozone. propuseram uma CXpo51('"dO em (anna de "cslralos de m(orma,do·sobre.l CC'OIoglol politIC;]. 0 \'lsdanlc dNia p<'rrorrcro cspa\0 de m3T1Ctrll que de mesmo fi.:l"SSe sua monlagcm VISUal. AssIIl\ Qzoneaprt"'St'ntava-sc como urn esparo Ollcgi!lIicocode 0 Vlsltantc ideal sen.1 urn 310r - urn ator di'l mforma_
,30. No ana segum1c. em Nil:". a exposu;.io Lcs Alchersdu P:aradlS(' foi rt"ahzada como urn "filmc em tempo rcal";durante todo 0 pro)cto, Plel1'C Joseph, Philippe Pam:moc PhilIppe I\?mn ficam Morando na gal{'ria AIr de Paris,moblil3da rom obms de arte (de Angela Bulloch a HelmutNewton), engenhocas absurdas (urn trampolirn de ginas·tJca. uma caw de Coca que sc mcxe 30 ntmo dos CDs) eUII\.J se1e?o de videos, em que 05 Ires artist3$ SC movcmsegundo 05 hor.inos programados (aulas de mgles. vl5im de
urn pstOOlogo). Na nolle da <lbertura, 05 Vlsllanles hnham
de \~r Ulna camiset:l (CllX'ffiplar unlCO) que mostrava urnnome gminro (0Bern. Hello Especia'" G6hro-.), enquantoa reahzadora Manon Vemoux.. a partir desse logo de IdentJdadcs. podIa redlgU urn rotelro ern tempo real.
Em suma. urn processo de exposit;ao em tempo reoll,um motor de pesquisas em busca de scus conteudos. Quando Jorge Pardo rcahza PIer em Munster, em 1997, clc constr6t urn ob)eto aparcnlemente funclona!. mas a funt;.io realdcsse pier de madel.ra e mdelermmada_ Pardo aprcscnta cstruturas cotl(!Ianas. Instrumentos, m6ve1s l.im""'das mas.Ihes ' r- ,
nao atnbul funt;Oes prects.l$: CmUlto possiVel que cs-ses obJetos nao 5lm:Im para mula a que fazer numa cabana
aberta. no final de um pier' Fumar um Clgarro, como sugere 0 dispenser fixado numa de suas p.uroes' a VlSllanteobservador deve inventar fu~ e ca\'OUcar seu pnSpnorepcrt6rio de compoctamenlos. Arcahdade SOClal fomere aPardo urn conJunto de eslruturas uillilanas, que ele reprogl'3ma em funt;.io de urn saber :Irlistlco (a compos~o) e deuma mem6riil das forrnils (a pintura modemlsta)
De Andrea Z,ttel a Philippe P.1treno. de C<lrsten HolIer a Vanessa Beecroft, a gerat;.io de arllStas aqUl traladamescla arte conceitual e flOP art, antiforma e jllIlk art, mastambcm certos proccdimentos do deSign. do cinema, daeconomla e dol mdustria.: aqul C Impassivel dissodar asobras de scu pano de fundo social, os estllos e a Hisl6rill.
As ambl~, os rnetodos e os postulados ideoJ6glCOSdesses arlistas, porem, nao se dlstanClarn mUlto dos de urnDaniel Buren. urn Dan Graham au urn MKhael Asher devmte ou mnta anos atm. Eles mostram a mcsrnil vontadede dcsvendamento das estruturas invisiveis do apdratoIdeolOglco, desronslroern sistemasde representil{.lO e adotam uma definl{.lo da arte como "mformat;ao Visual" capaz de dcstrUlr 0 entrctenirnento Mas a gerat;.lo de DanielPflumm e Pierre Huyghe sc dJstingue das anteriores porurn aspecto essenClal: cia recusa qualquer metonimla. Sabemos que ess" figura de cstilo conslste em dcsignar umaCOISa por urn de scus elementos consillutivos (por exem·plo, dlzcr "os telhados~ para se referir a'"'C1dade->. AcriticaSOCial que faziam os artistas dil arte conCCllua!. portanto,p<1SSilVil pclo fillro de uma cnbca da lRShtult;ao: para mostrar 0 funclOnamento do ronJunto da SOCle<bde. eles ex-
rcntemente em galen;;!s, c1ubes e quaisqucr outras cstrutura5 de difus3o, dcsde a camlscta atc os diSCOS que ronstamdo c;lla!ogo de seu r6tulo Elektro MUSIC Dept. Ele lambemfaz um VIdeo sobre urn produto mUlto espcclfico, sua propna galena em Bcrlim (Nell, 1999), Dcssa forma, niio se
Irat;) de opor a galeria de arte (local da ·arle sepamdo",portanlo, mau) a urn cspa\O pubhco ideallZ<ldo como localdo ·bom olhar'" sabre a arle, 0 olhardos transcuntes. mgcnuamcnte fetlchlZ<ldos 1.11 como antes se idealizava 0 "born
sclvagcm". A galeria eurn local como os demais, um ('S
p;1l;0 1mbricado num mecanismo global urn acampamcnto de base Indispcms;ivcl a qualquer cxpedl\iio. Urn c1ulx',uma cscola au uma rua niio s.'io lugares mdllorcs, s.'io Slmplesmente outros lugares p.1ra moslrar a orle,
Em Lermos tTh1is gemIS, lomou-sc dificil con5lderarmoso corpo social como uma totahdade ocg;imca_ N6s 0 percebcmos como urn conJunlo de estruluras destaC'ih'Cls enlre SI,ii. scmelhonl;a dos corpos contemporiincos que gonh.lm volume com protescs e podem ser modificados a,"ontadc Pamosartislas do final dosCculoxx. a SOCledade tornou·sc urncorpo dividido em lobb!.es. cotasou comunidades, c .10 mesrna tempo um Imenso ca1310g0 dc tramos n.:matwas
o que se costuma chomor "realidadc" euma montagem Mos a monl<:lgem cm que vr.~mos serii a unica possivel' A partir do mcsmo malerlal (0 cotldlano), podc-secriar dlfercntes vcrsOes da rcahdade. Asslm, a .:Irle contcmporiinca aprcsent>l-se como umo mes.1 de montagemaltCTn>ltiva que perturb,], reorganiz.a ou msere as formassocialS em enredos OriginalS. 0 artlsta dcsprogmma para
1 0 1""'.11 csnt.'Cifico em que sc descnrolavam SU<lSpO!,W,1ffi"'" r-" "d d"" <WC1mdo os prindplos de urn I/lntennliSfUQ (/11/1_allVl a ..... ~o-
Ii'trro de Lnspirat50 m3rxislJ. Por cxcmplo, Hans Haackedenunaa as mulrin;lOOf\3.1S ('\"ocanda 0 financiamcnto
da artc.: Michael .~shcr tr.lbalha sobre 0 conjunto arqui.!clomCO do museu ou da galeda de arlt:'i Gordon MattaClad:. perfuT,) 0 duo da gJ.leri3 Y\"on Lambert (Desccndmg Steps for &tan. 1977); Robert Barry dcdara fechada agalena ondc esta expondo (Closed Callery, 1969)
Enquanlo 0 local de- exposl~50 constituia urn melO emSI para os artlStas conccltuais, hoje ele sc tornou urn local deprod~ entre Olltros. Agor.:a n50 C tanto uma questaode analIsar ou cnticar esse cspa~, C Sirn de slwar SUil po
S10;5.o dentm de SIstemas de produ{.1o mais amplos, com osqwlS Cpreaso ~tabelecer e codificar rcli1{Oes. Em 1991,P1erre Joseph enumera uma hsta intermin.i\'cl de i1\5es liegalS au pengosas que (lColiem nos C'Cntros de art... (desde·ahrar em av16es"', como fez Chris Burden, atc "'fazer gra6tes~, -destfulr 0 Im6ve\'" ou "trabalhar aos dommgos"),que os con\1!I1em num ·Iocal de slmula\ao de hberdades cde expenenaas v-.rtua\S- Urn modelo, urn laborat6rio, urnespa\O hidlCO: em todo casa, nunca 0 simbolo de coisa a\guma, e mctlos ainda uma mctoni"mla.
t. 0 SOC1US, ou SCI,], a tot.1hdade dos canais que distnbuem e repercutem a mforma~o, que se lorna 0 \'Crdadeiro local de~ para 0 Imaginano dos arlistas dess<lger~. 0 ~ntro de arte ou a galena S<io casas particulares. mas fazem parte de urn conlunlo millS amplo: a pral;;)p(ibllca. Asslrn, Damel PDumm expOe seu trabalho lO(hfe-
S3
..reptog,amar, sugcnndo que eXlslcm oulros usos po5Sl\'CISdolS t&mcas c fm'3,mentas anossa dlsposi{ao.
GillIan Weanng ~ Pierre HU)1;he l'Cahzam urn video apartir de sistl'm;l.s de cameros de V1gl1iinclil Christine Hilicn3 uma asenciil de \'Iagcns em Nov.l York que funcionaromo outrJ ag.}n(lil qualquer MIChilci Elmgrecn & Ing,nDr.1g5ct monlam uma galena de arl~ dent rode urn mu.scu
durante a ~'IJ.rufesta 2000, na Eslo..-ema. Alexander G)'Orfiutlhuas fomus do estlidlOOlJ do palco. Carslen Holler rec:orre as expl'n.moas de laborat6no. a ponto claro em comum entre lodes esses artislas,. e mUitos oulros entre os
millS CTIJII\'OS da atualidade, consiste nessa capacidade de
utlhur as form.1S sociais existentcs.
Tochs as estruturas cultur.l.Is ou sockns. porlanto, rcpresenum apenas roup.1S que dewm ser \'CSlidas, objCIOSque de\"elTl set lestados e expenmentados, como fez Ahx
Lambert em Wtddlng Plea, obm que documenta seus cinco Qs,unent05 seguldos no mesmo dia.. Malthllro Laurette
us:l como suporte de seu trnbalho os pequenos c1asslfica
dos de pmal, os game shows, as ofertas de marketing. No.\'tn Rawanch;ukul trnbalha sobre a rede dos taxIS como
outros dcsenham em rapel Fabricc Hybcrl,,)o montar suaempres.:J UR. dedara que quer "fazer urn usa artistico da
economla- joseph Gngelyexp6eas mensagense os peda~ de P3pel rabtscados que usa para se comUnlco.r com osoutros devtdo asua surdez: ele rtprogramn umo. deficlenclafislCa como urn processo de produl;iio. Mostrando em SU(lSexpos;~Ocs a reJlldadc concrela de sua oomunJc<Jl;50 COtldlJ.n.1, Gnge.ly toma como suporte de seu trnbalho a csfera
,," """'""'"da intcrsubjchvldadc e dfi forma a seu um\-erso reJaclon~L
"OuvlmOS a voz" dos que 0 {"Cream; quanto ao (Irl!sta, poell:'gcndas n<:ls oonversas. Etc rcorganiz.a palavras humanas,fr.,gmcntos de discursos, tral;os l,.'SCntos das convcrS<lS, nu
m" especie de samplci'lnlento de proxlmldadc, de ccologiadomestica. A nota por cscrilo f! uma forma socii'll a qual
n50 se da mUlta 3tenl;30, gCr.Jlmcntc dl'Stln3da 3 um usaprofissional ou domktko sccundario. No tr.Jbalho de Grlgely. dOl percle $CU cstaluto 5ubalterno c adquire a dimen
sao existendal de urn mslrumento de romuniea~50 vital;
mcluida em suas eomposl\Ocs, cia parlidpa de uma polifo
ma nasddJ de urn dcsvio.Dessa mJneira, os objclOS soci.:lis, dcsdc as rou(XIs .:lte
as lnstitui~,passando pclas cstrutUfi1S mais hanais, naofieam mcrtes Inlroduzindo-se no unlVcrso fundonal, a .Jr
te fCVl\"e esscs obJetos au rc\"ela sua in;)nidadc.
PhilIppe ParrellO 6'
A origmJlidadc do grupo General Idea, dcsde 0 infdodos i'lnos 1970, consistc em trJbalhar em fun\,lo di'l formatJl;aO socii'll: a emprcsa, a tcleVisao, JS rC!vistas, a publicldade. a fi~50_ Dlz Philippe PJrrcno:
A meu vcr, des fOfilm os pl'imell"OS a pensar a l"XJlOSlo;:ao, n.1o mats em tcnnos de fonnas au obJct05. e Slm
como (onnMo. Formatos de repTCSC'ntayio, de JeHur..do mundo. A pcrgunt.. que sc roloc.. em ml'U Irab.11nopodl'ria scr a scgumle: quais 53.0 as ferr.lmcn!3S quepcrmill'm compreendcr 0 mundo'
S6 NKX>LAs 1lOUJuu.wnotrabJ.lho de Parrcno parle do principia de qu
c a rCa_hdadc eestruturada como uma hn(>uagcm c de qu
Q, caar_Ie permit\," artu:ular cssa linguagem Ell," t.lrnbem m
OS!raque toda (ntiro social csta fadada ao fracasso c.."..... 0
' ..~ ar-hst,] sc rontente em sobrcpor Sua lingua iii lingua (<llada
pela autoridacll." Denunnar, fazer a ·cri"llc<1" do mund 'o.N;i:o sc denuncl" nada de fora; primciro epriXiso aSSUmIT,ou pelo menos cn\'crgar, a forma daquilo que se quer cri
llear A muta¢o podc seT sub\'crsiva, mUlto mais do que
celtos dlSCUfSOS de oposl~ao fronm! que apcnas cnccnamgestos de subo.~o. t: exatamentc esse dcsafio .'is ahrudes cnlll:as eslabelecldas na arte conlemporiinca que leva
Parrcno a adolar uma postura oomparaveI it psicanalise 13caniana. to mconSClcntc, dlZI", Ji'lcqucs Lacan, que Inter
preta os smtomas e 0 fOlIo mUlto melhor do que 0 anaUsta
louIs Althusser de seu ponto de VlSt.1 maoosta, dlzla .11
gopareoda. a \madeira cn1ica e uma crihca do real eXls~
lentc pclo propno real cXIstente Intcrpretar 0 mundo naobasta, e prcciso transforma_lo. ~ cssa opcrn~ao que tenta
PhiliPPe Parreno a parbr do campo das imagens. conslderando que elas desempenharn n.l reahdade 0 mcsmo pa_pel q~e os sinlomas desempenham no mconSCIente de urntndlVlduo. A pe.....·nta ........1 •
• 'D~ r~~ a por uma anahse freudlana ea segUlnte: como se organlZi1 0 desfilc des aconteclmentos numa Vida' Qual ea ordem em que SoC repetem' Parreno tnterroga 0 real de manciTOl SCTnclhanle atTa\..t.. dtrabalho de I.............. . ..." e urn_ _~omuagcm das fonnas SOCialS e da explora
"00 SISlemahca dosI~ qUl.' unem OS mdrviduos OSpes l.' as Imagens. • gru-
'--
87
Nilo por aCilSO cle incorporou a dlmensao da COlabo~
ra,,3.o como urn dos dxos pnncipals de sculrohalho; 0 In
consciente, segundo Ucan. n50 CIndIVidual nem co!elivo,
('Ie eXlste apenas no entre-dols, no encontra, que e0 come
~ de todas as narrativas. Constr6i-se urn sujelto "'Parreno
&.~ (&. Joseph, &. Caudan, &. GIllick. &. Holler, &. Huyghe.
poralembrar algumas dessas coI3boro~ocs)30 longo de ex
posu;oes que multas vezes se aprescnl3m como modclos
relacionais em que sc negodam cc-prescm;as enlre dife
renles protagonistas por melo da constru(iio de urn enre
do. de umi1 ni1rrahvaAssim, no traoolho de Philippe Pi1rreno, gCr.'llmente
eo coment6rio que produz {ormas, e n3.o 0 inverso: des
monta-se urn enn..>do pam rcconslrUlr novos cnrcdos, poisi1 mlerprela,,3.o do mundo curn sintomi1 entre oulros Em
scu video Ou (1997), urna cena aparenlemente banal (uma
mO'Oi1 tirnndo sua camiseti1 W31t Disney) YOU em busca dasrondl,,6es de seu surgimento. Assim dcsfilom ni1 telil, num
tongo rewind, os !ivros, filmes e discuss6cs que result"ram na produ"ao de uma Imagem que dura i1pcnas trinti1 segundos. Aqui - como no processo psicanalfliro ou nasdiscussOes infindaveis do Ttllmud~ - (i 0 comentano queproduz narntivas. 0 artlsli1 n50 de\'(' tr.:msfenr il ningucmo cuidado de lcgendi1r suas Imogens, pois as legendas ttlmbern sao lmagens, e assim ao Infinito.
Uma das pnmciras obras de Parrcno, No Mort' Rrallty(1991), 15 coIocava cssa probltmlatKa, ao hgar i1 ~50 deenredo e a n0'>50 de m3nlfesta{5o. Ern uma sequencia lrreal que mostTilV.l uma mamfcsla,,50 composta de cnan{as
8SN1cou.s 8OuR.ltLwn
rom bandeirolas e cartazes, repclmdo 0 s/1'K>n "N_,')•.11 '0 m
re reality· '·chcga de rcahdadc·). A queshio e . o·ra COm qual
palavra de ordem. com quallegcnda dc:sfilam h' .• ole as una_gens' A mam(cstac;ao tern como finalidadc Plod .. UZIr urnaImagem colcliva quees~aC'enlinos poHticos P (
ara 0 uluroo A insl<JI,It;ao Spm-lz Bubbles (1997) compost
• . ' a por umanu\'cm de baloes chelOs de gas hclio imitando aq,"1 c.I- ' "CSlId_O('zmhos de hist6rias em qundrinhos ap',~• ... ....... COmo urnronjunto de "lOstrumentos de mam{estac;ao que pcrmilem
a cada urn CSoCre\'el S!;?us propnos slogallS C se singulan'~dentro do ",f
grupo e, portanto, dentro dOl imagem que serasua~I~·' Aqui. Phihppc Parreno opera no intet'S~que sep;1ra Imagem c legenda, trabalho e produto,produc;ao e oonsumo. Seus trabalhos, rcportagcns sobre ahberdadc individual. Icndem a :lbolir 0 espac;o que scparaa produC;.Jo dos obJetos e os seres humanos, 0 trabalho e 0
laze.r C~m Wtrktl.schell'Ctabll 0995), Parreno desloca a (or-ma dol linha de montag hem para os obblcs praticoldos aosdon\l~gos;: com 0 proJt"to '0 ghost, Just a shell (2000), inlCl<ldo JUruamente com Pierre H gh_ d uy e. cle compra os dlrel-•...." c uma JK'TSOllagetTl de -,la d ,-_ manga.. Ann Lee, e faz c:om que
1SC'OrTa so",e seu 0000 ded - personagem; num conJunto
e mtervem;oes rcunldas sob 0 n I L:Hreno fomere a Y"'t'$ I............ I U0 omm~ publIc. Par-
-""'1' fumoso Imltador francl'S tex-tos que de dedolmol Imitando a VOl. de I b 'Sylvester Stallone ate 0 papa. EsS<!s tr~~:~~~~C: desdesegundo as modalidadcs dOl vcntnloq,,, d l"'rnm
e a mascara: ao
jon ~lEN,"nudoPhI~P~",..... <wn I"'jl,~"'''~no"'..,....., ""264.
•89
c:olocar (ormas SOCl'US (0 IUJbby, 0 nO{loario dOl tele\'is.io ),Irna8'!ns (uma lembran{<l de in(SnCla. urn personagem demanga_) ou obJctes c:otldianos na posi{.Jo de revdar suasongens c !>Cus proccssos de fabnca(Olo, Pamno expOc 0
inconsciente da produc;ao humana e 0 e!CVOl arondll;,5o deurn milterial de constru~ao.
Hacking, emprego c tempo livre
As prnllcas de p6s-produ~.lo g;,>ram obras que qucstlon.:lm 0 uso das (ormas do trabalho. a que se torna 0
emprego, quando.:ls atlvldades prolissionals sao reproduzidas pclos arlislas? Wang Du dl"(Jara: "Eu tambCm quemscr urna midia Quero sero Jornahsla depois do Jornalista~
Ele realiza esculluras a partir de Imagens difundidas pdosmelOS de comunlC'ol{ao, reenquadrando-ils ou reproduzindo-as fielmenlc na escollil e nos enquoldramentos originais.SUil Instalil{aO Strntfglc (II chambrc (1999) Cuma Imagemde dimensOes enonncs que obnga 0 vlSltlnte a atI1Jv'essarvarias toneladas de JOrnalS pubhcados durante 0 c:onnilode Kosovo, milS5a Informc encim3dol pelas efigics csculpldas de Bill Chnton e Bons YelISIn, por algumas outrnsfiguras em fotos da lmprensa da epoc<1 e urn enxame deaviOes de pape! A fOr{a do Irab3lho de Wang Du denVOIde sua capacidilde de dar [aslro as Imagens mais csquivas:de qU3ntilica aquila que quer fugir amatcnalidade, recupera a volume e 0 peso dos aconlCClmenlos, colore 3 maoas inforrna¢es geral$. Wang Du Ca wilda da informa(.loem leilao e por peso. Com sua Io,a de imagcns esculpJdas,
90
arte, do design e do marketing pubhcltoino_ Sua produ~ao
IllSCrevc-se no mundo do trabalho, dupheando seu sistema.mas scm sc subordlllilr a scus resultados nem dcpcnder de
seus mctodos. 0 art Isla como fundonano·fantasma._Swetlana Heger & Plamen Delanov tinham resolvi
do dc<i1car suas exPOSl\Ocs, durante urn ana. a uma relaI;ao conlralual com a BMW; "1,'nderam.. entao, sua fOr{3 detrabalho, milS tambCm seu polencial de vislblhdilde (as exposil;Oes as quais foram convidados), assim criando urnsuportc "'pirala'" para a ,ndustria de aulom6....cis Folhetos.c.utazes, brochuras, novos veiculos e acess6nos: Heger &
Dejanov usaram, segundo 0 (ontexlo das cxposit;6es. 10do 0 (onlunto de obielos e representat;6cs produ:ddas peIII firma alcmii. Suas rcspedivils paginas nos catalogos deCXPOSl(i)cS coletivas tambCm foram ocupadas por propagilndas para a BMW.
Urn artista podc entregar dehberadamenle sua obraa uma marca' Maurizlo Caudan tinha sc contenlado comurn pape1 de intermediario, durante 0 Aperlo dol Blena! deVeneza, quando alugou seu csPJt;O de exposit;50 a urn..marca de cosmeticos. Essa pct;ol se chamoll'a "'Trabollholr IicholtO" (Lnoomre e WI bruno melt,e.", 1993) Heger & Dejol0OV, em SUol pnmeira eXp05l1;50 em Viena. fizernm exalamente a mcsmol roisa .10 fcchar a galent! durante todo 0pcrfodo d" cxp05lt;iio, pcrmllindo que 0 pes~1 saissc de(CriolS. 0 olssunto de seus trabalhos Ii 0 pr6pno trabalho;como 0 lazer de uns produz 0 cmprego de oUlros, comoo trabalho podc ser finolnclado por outros meies "Iem docapitalismo dassico. Com 0 proJeto BMW. eles mostrnrilm
NICOLAS~
ele 1O\"Cnla urn Olrtcsanato da romunica,.io que rep odr UZQ
lrabalho das agcnaa5 de Irnprcnsa. lembrando-nos der L.'<-b q"os lalos lamU\:m sao 0 Jctos que dcvt>mos rode'lr.
Pode-se dl'l'inir 0 metoda de trabalho de Wan D• sid. Su
com a cxpressao corpomlC Ia O'tumg, que n50 ccxalamcntcuma espiofUlgrm tmprf'SllrlaJ' Ccopiar. duphcar as cstruturasprofissionalS. mas lambCm esplona·las, St'glll.las.
Damel Ptlumm. quando trabalha a partir des logos de
grandes marcas rome AT&T, tambem excrre 0 mesmo off.
00 de urn l?SCnt6no de comUnlC;3t;ao. E1e '"'aliena c desfigura'" essas slglas. '"hbcranclo suas formas" em mmes de.1nUTl';:l(;~o. c:ujas tnlhas sonoras elc mz. Seu trabalho ;;lpro.Xlma·se tilmbCm ao de urn escritorio de design. quando expOe, em calX<1S lummosas abstratas que cvoeam a hlst6nado modermsmo p1ctOrico, as foT1ll.lS Olmda identl6ciwis deuma marra de Sgua nuneral au de produtos alimcntares.Pflumm exphca; "'Tudo na pubhadade, desde 0 plane/amento ate a execu~ao, passando por todos os intermcdlanos unagmiivets, Cuma solu~So concili:;lt6na e urn conJunlo.1bsolutamente Lncompreensi"vel de etapas de trabalho~l.
Sem esquecer 0 que ele chama de"o verdadeiro mlll"'; 0cllente. que loma.ll PUbllCldade uma ahvKiade subor<linlldae aillmada. que n50 pertIllte qualquer U'Io.....~iio. Ao "'duplicar""' 0 tTabalhodas agencas de pubhodade com seus c1ipesplratas e suas Insignias abstratas, PfIumm produz objetosque parecem apltques num espa1;O fluhlame denvado da
91
92NICOlAS 1lQ1JRRiAl1l)
romo 0 proprio trabalho pode ser fcmixad b". o,SOrCP0da Imagem oficml das rnarcas Qutra, 'm~l" n 0
• "oens, SUs ..porcm ap.uenlemcntc livles de quafqucr " pertas,
• • mperativQ ComcroaL Em ambos os casos, 0 mundo do tr"b Ih -fi ~ "a 0, ellJ"19urdS sao roorgaOlzadas por Beg" & D . as
cJanoy cab'de uma p6s-produ~~o. ' Jeta
Mas as rela\Ocs que Heger & DeJ'anayest b'lBM\ I a C ('«('mm
coma I' '\ ndotama[ormadeumcontrato do I"• , .. umn a lanc;aA pratlca de Daniel Pflumm, tot3lmentc selval". . .• oem, sllua-sca ~argt'm dos circuilos profisslonais, fora de qualquer relac;ao entre cIJentc e fornecedor 0 trabalho d pob, . cuummso_~" <l: m:ucas define urn rnunda onde 0 emprcgo naD seria
dlstnbUldo segundo a lei da ttoca e regido por cont t
~ue hgasS<'m .diferen~l.'S enticlades economicas, mas fi:r~:~ntrcgue ao ~vre.arbltnode cada urn, num polfach perma+
ne~te que nao :ldmite nenhum dom em troca. 0 trabalhoaSSlm redefinido ap,S' f "z.er . as rontelras que 0 St'param do Ia-co~:spe~~t~ ~ma ~arefa que ningucm Ihe pede aparcce
ropna e nto;ao do tempo livre As v .mItes sao transpost I . ezl'S, l'SSt's 1\-Ltam GIllick a res;t~d~~~P~I~S empr~, como notou
separa~o entre a ordem pro~ Es~mos dlante de umaCol, que fOI Lntciramcnte criad s;ona e a ordem domesti1_]. Os gravadores, por CXCmaIre as cmprcsas de eletronica
p O,nosanos 1940-' ,_no campo profisslonal _ "" eXlst,am
, e as pessoas nao t d"p.1ra 0 que aquilo poderia sc en en lam bern
rVle na Vida dlaCla Sogou a fronteira entre 0 profissJonal d .' nyap:l-
e 0 omestJco~'
I
93
Em 1979, Rank Xerox im:lgina transpor 0 uni\"Crso do
escrit6rio para a interface grafica do computador, 0 que ge.
ra os "iconcs", a "lixeira", os "documentos" e a "area de tra·
balho"; dnco anos dcpois, Steve Jobs, fund:ldor da Apple,
re-toma esse sistema de apresentJ~ono Macintosh. A par
tir dar, 0 tratamento do texto serS regido pelo protorolo for
mal do setor terciano, e 0 imaginario do PC sera moldado e
colonizado pelo mundo do trabalho. HOje,:l gcneraliza(.'io
do home studio leva a economia artlstica a urn movllnento
Inverso: 0 mundo profissional ingressa no mundo domcs
tico, pois a dlvisiio entre J:lzer e tmb:llho constilui urn obs·
taculo a figur:l do emprcgado exigid:l pel:l cmpCl'Sa,. :l de
alguem flcxlvcl c accsslvcl il qualquer momento.
1994: Rirkrit Tiravanija organiz:l urn "'espa(o de descanso" - com poltronas, uma mesa de pcbolim, um<l obf<l
de Andy Warhol, um:l gcJadcim - p<lra que os artistas d<lexposi(iio "Surfaces de reparaflon", em Dijon, possam rclaxar durante os preparativos do espetaculo. A abril, quedesaparece no mesmo momento em que e abertil <10 publico, e a lm:lgem invertida do tempo de trab<llho ilrtistico.
Em Pierre Huyghe, a oposi~ao entre a divcrs50 e <I arIe rcsol\'C-se no. <ltividolde. Em ..-ex de sc definir pelo trabalho (~o que voce fuz nol vid3?"), 0 indivfduo abordadoem SU<lS exposit;6cs constitui-se pda fonna como usa seutempo ("0 que voce faz da vida?~). EllIpse (1999) aprescnt<lo ator alem50 Bruno Ganz, que IfI.'m fazer urn engate entre duas ccnols de 0 Ilmigo ameru:aIlO, de Wim WcndeTS, fil·mlldo mais de vintc anos antes. Gam: dc~·e simplcsmcnlepcrcorrer urn triljeto apenils sugerido no filme de Wenders:
N1CO/J.S 1lOull.Ru.uo
em outras p3.lavrns, prcencher uma eli..., \~. r · "'las qUi'lnd
aOOt C$ttJ lrabalhando, c quando eshi de ff" 0 01:f1,)S Se CSI
empn.-gado como ator em 0 Qmigo nt1lcnCatlo t. aVa
de tr.Jbalhar quando, 21 anos depols (az u ' efa parada, m engale Cntf
du.lS cmas do filme de- \-Vim \Venders? S • C_ Cf;1 que, afinal
chpsc nOlO ~ urn,) tmagem do lazer como me .' ilb.:i ? fa ncgatl\'O do
tra Iho Quando 0 tempo livre signifie, 'Iempo va.z.io'"
au tempo do consumo organizado nao sc"":' ., .u uma simples
passagem entre duas sequcnclas, urn v;uio'
Posters om) conSlStc numa sene de (Olos colo 'dque mostram urn mdlViduQ tlmn.-"ndo um bu-, n "d ,,- .. co na c.d-c;a a e r~ndo plantas numa prac;a public,). Mas exlS
tc.ho]e urn espa~ [calmente pubhco? Esses atos isolados
fr.igCIS, dlzcm respello an~ao de responsabJlidadc: se h~um bur.!co na calc;ada, por que h5. de ser urn fundontirioda P~CfCltUl<1 a tampa-lo, c nao voce ou eu? Pretendcmopartdhar urn esparo sd ' comum, mas na realidade ell.' c gena por e~presas pnvada.s: estolmos cxcluidos desse cnredo
somas V1umas dcssa legend 'des.fila sob agem errad~ menllrosa, que
as Irnagens da COmumdolde politic,]As Irnagens de Daniel Pilumm s~ Prod~tos d
m1croutop!a semelhanle na e urn,]narn afetadas pclas • qual a aferta e a demanda 5('
deo tempo IN,. ~ruaahv.1slndWlduais, urn rnundo on-o-·~naotrabalho e -
onde 0 mbalho SC JUnta L __ • VlCe·\'eI'sa. Urn mundoao nuoang mfarmatlCO. $abe
que certos hadns entrarn nos discos . . masos StStemas de C!1TI .........,.., ngidos e deC'Cxhficam
... -... au mstmul;Oesde sub-l.'Cf'S30 .,.1,., par uma \'Ontade, vezes tambem narem remunerados ""fa aperf.........~ esperanc;a de sc-
_.,_r SCU$ slStCfnil$ de defcsa
9S
prllTieiro demonstram sua ~ap;lcidade de provocar danos,e depois oferecem seus SCfV1(OS pilra 0 orgamsmo que aCabou de ser atacado, 0 tratamento que POumm mfhge illmagem publica das multmaaonalS dcnv<l do mcsmo {'Spinto: 0 trabalho nao cmais remunerado por um cbente - aorontr;irio dOl pubhCldade -, mas c dlstnbUldo num arcultoparatelo que ofercre recursos financclros e uma VlSlhllidadl'lotalmente difcrenh!_ Swctlana Heger & P1amen Dejano\'
rolocam-se como falsos prcsladon.'S de SCf\~ para: a ('(0
nemia real, enquanto Pl1umm f.:Jz uma chantagem visualsabre a ceonomia em que opera: romo paraSl1<i Os logossiio tornados como refcns, rerolocados em Iiberdade parcial,como umfreruxtre que os usu6nos podem apcrfel{Oar porconta propria. Heger & DeFlnov vcndem urn programa 10
f~tado de virus aemprcsa da qual divulgam a lmagem, aopasso que pflumm pOe em circul:lC;ao im:lgens e, ao nlL'Smotempo, 0 piloto, 0 eM/solonte que permitI.' dupHc.i-/:ls.
Eslctica terdtina: retralo1mcnlO da produ,50 cuhurJl,construc;ao de pcrcursos dcnlro dos fluxes CXlstcntes; produzir servil;OS, ltlnerarios, dentro dos protocolos cu/lur'us.Pl1umm dedica-se a "encoraJar 0 caos de uma m:lneira prodUllva"', EIe cmprega essa cxpn."SS.io para descrcvcr suasintervenc;aes em video nos c1ubcs techno, mas cia lambemse aplica .10 conJunto de scu trab.1Jho, que se apodera: dedeletes fonnals, de "restos de c6chgo" saidos da vida coildiana em sua \"(!rsao mldl6tlC3" potra construir urn UOlvcrso fonnal onde a grade modernisW se Junta aos jfash6 daCNN segundo urn plano coerente 0 de uma pir..ltaria gcr.:ll dos signos.
96 /'..'1CCl1J\S !lOUItJuAuu
Pflumm n.1Q sc content.. rom OJ Idem de piratana: cleronstrol monlagl'ns de grande riqucza fonnal. Suas obras
•de urn 5utH ronstrutivismo, s.io trab.llhadas 11;1 busca de
uma tcns.io entre a fonte ironogrMica (' a forma abstra_
ta. Aromplexidi!dc de suas refc.rencias (abstrac;Ocs histori.
cas, pop art, Iconogr3fia dos panflctos,. videochpcs, Cullura
cmpresanal) seguc ao lildo de urn grande dominic 1("Coieo:
it quahdadc d(' $Cus filmes esl5. mollS pr6xim<l da qualidad~' vlgentc na industrli1 fonogr.ifica do que do nivel media
dos \ideos de am. Assim. 0 Irab;]lho de Damel Pilumm
It:present.l. por ora. urn dos l'Xcmplos rnalS ronclusivos docnronlro entre 0 Unl\"Crso da .ute e 0 unlVerso dol musica
techno. Sabc-sc que a Tedma NatiOIl tern 0 h5bito, f"z tempo, de tTanspor logos fumosos para camISCtas: sao incoo
taM..'is as \'erSOes d&i Coca-Cola au dOl Sony recheadas dernensagens subl.'et'SlYaS au de COrlVltes ao usa de maconha.Yi\~OS num mundo onde as formas cstiio indiscrimma
damente disponiwls 01 todas as rnampu[a~Oes, para 0 bern
e para 0 moll. onde Sony e Damel Pflumm sc cruzam nurncspo1\O Solturado de leones e Imagens
o moe. tal como eprahcado por csscs artlstas, euma
atttude,. uma postura moral, mais do que uma reCl~ila_ A
pOs-p~utao do trabalho permite que 0 artista escape apostura IOterprctatlva. Em vez de sc dedlcar a comcntoirios
aihcos, delo'~-~ I?XpCnmentar E 1550 tambem que Gilles
Deleuzc pedlil. a pslCiln.1h.se- paron de IOterprctar os Slntomas e tentar arranJOS que nos con\'C1\ham.
,
I
I
,
aida HABITAR A CULTURA GLOBAL~ ESTETICA DEPOIS DO MPJ)
A obra de arte como superffcie de estocagem
de inforrna~ocs
A arte dos anos 1960. do pop.i arte minimalista c con
ceitual, correspondc 010 apogcu da dupla formada pela pro
du,ao industnal e peto consumo de rni'lssa. Os materials
utilizados na escultura minimalista (alumfnlo anodizado,
a~o, chapa galvanizada, plexiglas. ncon) remelcm .i I('(no
logl3 industrial e, malS particularmcnrc, aarqUilctura das
f5bricas e dos depOsItos gigantes. A iconografia do pop, por
sua ve:z. remete acra do consumo, ao surgtmCnlo do su
pcrmC'rcado e das novas formas de marketing associoJdas a
de: a frontalidade visual, a scrio1lizatiio, a i1bundiinciaA esll~tica contratual e admmistriltiva da artc COncel
tual, de sua parte. marca os inklos do domInic da cconomia tcroaria E Importante notar que a .ule conreltual CcontemporiinC'a ao avan{O dccisivo das pesqUISJ.S em m-
9S 99NICOlAs IJOlJRkJAlJI)
formalicJ no comlXO dos nllOS 1970: 5e 0 cornpu"dorsurg~
em 1975, C 0 Apple II em 1977, 0 primciro microprocessa_
dordatadc 1971. Neste rncsmonno, Stanley BroulVn expOe
arqUivos de metal contcndo as fkhas que documentam cre<:onstltucm seus ltincninos (40 steps a"d 1000 sterle) A
r~.e rt&. Language produzcm Index 01, urn conjunto de {jcharios
que se apresentam na forma de urn;] CSCultuTa minimalls_
tao On Kawara. com seu Sistema de registro em arqul\'OS
(seus encontros. suas "iagens. SUilS Iciluras) ja defimdo.
reahz.a em 1971 Ont' ,mIlIO" years, dez ficharios que mantern uma contabiltdJde que vai mUlto alem das normas hu.
manas, apro:llamando-se assim das opcra~descomuoaisexJgK!as aos compuladores.
Essas obras mtroduzem na pcinca artistica a esIOC;lgem de dldos, a andet dOl classificar;ao em fich<ls. a pr6pna~de '"arqul\"O'" a ;utc conceitual utI!iza 0 protorolo In,. .".OI"IThlhco 3J"...."" em gesta~. pais os produtos em ques-
tao sO surgirao realmente em pubhco na dec.1d.1 seguinte_
Desde 0 final dos anos 1960, a emprcsa mM e .1 precur
sora no domimo da imaterializ.a~ao:controlando na epoc.1
70% do mercado de computad~, a Internahonal Busine:' Machine passa a se chamar IBM World Trode CorporatiOn,. e de:scn\'oh.oe a pnmelfil estfillegia ddiberodamente
mU!hnaoonal. adaptada aC1Vlhza(.1o global que se aproxi
~3. Em~resa fUgldl3, seu aparato produth,'o ehterolmenteilocahza\'~l,.como uma obra concelwal-.J' '. ,.
- . ,.." aparencla lSI-ca nao Importa mUllo, e que pede se matcri3lizar em qual-quer lugar Vma obra de Lawrence Weln"'~ pod
~" que e ser
II
I
p()S I'f:OOuQ.O
. d u nao c porqualquer urn, 050 reproduz 0 modoreahza aO ' ,. •
od ·0 de urna garrafa de Coca-Cola? A umca COlSilde pr U(;';1
porta ca f6rmula, e n.io 0 local oode ela se matena-que 1m 'hza nem a ldentidadc do executante.
Quanta 3 figura do saber anunciada pc/a 161-.,1, ela sc_n, Black Box (1963-1965) de Tony Smith. urn blo('ncarn..
co opaco destinado a tratar urn real SOCial transformado
em bits, passando entre IIlplilS C OlltPlits. Em seu manual de
.1prescntal\:ao. cspeelfica-sc que a IBM 3750, 0 Big Brother
de silicio, permite que a empresa centralize, "'para os csl.1
bclCClmentos numa mesilla rCgJao, todas as informa(Ocs
Indicando quem cntrou ou salU, em qU.11 C'drffdo da em
prcsa, por qual porta c a que horas ..
o autor, ess~ entidade juridic.a
Um sJlat'l!ware nao tcm <:tutor, e sim nome propno, Aspr5ticas mUSlc<:tIS derivildas do 5.1mpk·amcnto tambemcontnbuir<:tm para deslrulr a figurn do aulor lut protlrQ,
atem de promo\oer sua dcsconstru~ao teOnea (a ·morlc doaulor"'. dlsSC("ada por Roland Barlhes e },.·lrchel Foucault)
Dlz Douglas Gordon:
Sou mUllo cehco quanta.1 no;;io d.. ilutoc;. c 6co (011'
ll"nlc l"m cstar em segundo plano nurn pro;cto como
24 Hour PsychD Hltchrock e 3 ligura doffilrlJ.nte D.1
m3mOl fonn.:l, em fi'Qlurt Film. dMdo a rcspons;\bihdade com 0 l'l..bt'nt... d.... orqul'Slra Jilmes Conlon c rom
10'
100NICOlAs flO
URJu.\Ul;lo MUska Bernard Hcrrmann I I A •
.. propnando.tl\.'Chos de filmes c music;). pod • nos de
cnamOS diZ\'rde fato, cnamos ready-mades tempo_ . que,
..,IS a partIr nil dObjCIOS rolidianos, e sim de ab",,,,,, q f 0 ,
tiC azcm po,de nossa cullum. Ie
o universo da Muska banalizou a explos:; d..0 0 proto
colo da assinatura do autor, sobretudo com as white labels
esscs maxis de 4S roltll\Oes tfpicos da Cullura OJ, COm tira~gem limitada c em envelope an6nimo cScilp'ndo .
, ", aSSlm,ao controle da industria. 0 musico-programador, ao mu-
dar de nome a cada projeto, rcalizil 0 ideal do intclectual
co!etivo, e a maiaria dos DIs passui varios names de ilU
tor. Mais do que uma pessoa fiska, urn nome agora dcsig
na urn modo de aparecimento au de prodw;ao, umn hnha,
uma ficc;ao. £a mesma 16gica das rnultinadonais que aprc
~ntam Iinhas de produtos como se fossem de crnpresasautonorn.)S confonno 'd . .- ... a na ureza e seus prOJctos, urn mu-s;co como Rom Size va; se c-hamar Br.'akbeat Era ou Re
praze71t, assim como a Coca-Cola ou a VIvendi Universalpossuem urna duzia de '" d f 'rca.s I erentes, e 0 publiCO nemdcsconfia que Il!m a mcsma origem.
A ane dos anos 1980Cfltlcava as nOl;oes de autor ou
de assinalura, mas scm as abol' SIr. e comprar {' uma arte
a aSSLnalura do artista-corretor q", ', sc enCarregil das ven,
das mantem todo 0 seu valor; indus;\' .<
-. '(! <: a garanlla de umatransa~ao IUtr.lllva e bcm-fclta Aap ,
- rCS('nta"ao dos produ-
pOs_!'ROlJuc:A0
toS de consumo organrza-sc em figuras de estilo, e os as
plradorcs de Jeff Koons distingucm-se ao primclro olhar
das pratelciras de Haim Steinbach, tal como duas rojas que
vendem os mesmos produtos se distingucm por seus mo
dos cspedficos de disposi,iio dos artigos.
Entre os artistas que queslionaram dirctamcnte a no
,50 de assinalura, estao Mike Bidlo, Elaine Sturiev.lllt e
Sherrie Levine, todos com trob.l1hos que se baseiam na
rcprodu,.lo de obras do passado, apesar de serem <lCSt'n
volvidos com cstrah!gias multo divcrs.lS. Bidlo, ao expor a
cOpia idcntica de urn quadro de Warhol, d5 0 titulo Not DII
c/lamp (Bicycle Wheel, 1913). Quando Sturtevant expoe a
copia de uma tela de Warhol, da mantcm 0 titulo origmal:
Dllc1lamp, coi" de elias/eM, 7967. J5 Levine suprime 0 titu
lo para mencionar urna ddasagcm temporal: Ulllilled (Afler
Marcel Dllelsamp). Para esses Ires artistas, n30 S<' trala de
usar essas obras, mas de expo-las novarnenle, disp6-las
segundo princfpios pessoais, cada qual criando M uma no
va idciaM para os objetos reproduzidos, segundo 0 prindpio
duchampiano do ready-lIlllde redproc() Mike Bidlo monta
um museu ideal, Elaine Sturtevant c1i1boril uma nilrraliva
reproduzindo obras que apresentam momentos de ruplura
na His!6na, ao passo que 0 Irabalho de copiSlJ de Sherrie
Levine, inspirJda nos IrJbalhos de Roland Darlhcs.. iltlrma
que a cultura c um palimpseslo infimto. Ao considerJr cada Iivro "feilo de CSC"rilas mlilliplas... saidas de varias cultu-
102N1COI..AS~
ras c enlrclrodas no diiilogo. na par6dlOl no, COntCSlall.'io·'
B.lrlhes confe!"C ao l'SC'nlor urn csl'atulo de ,. •• fa ('lnSln, de
oper-.ldor Intertextual- 0 lugar t'inieo par<1 ande COm'crge
essa multlpliCldade de fontcs C0 cerebre do ]('ilo. •r pos-pro
dutar. No rom~ do serulo xx,. Pilul Vale')' ~ .r~nS<1va que
era possiw] escrever "urn,] hlSlona do cspfritocnquilnto
produz eu consomc a litt'ratura I.~l SCm que o. p'o .-- • nunCle
o nome de urn umeo escrilor'" Vista que as r'W><:cn...1'- 5 C'SCTc-
vcm lendo. (' produzem obms de arte enquanto obser"a_dorJs, 0 receptor toma-se a figur..l central da cultura _ emdetrimento do culto.:lo autor.
Desde os anos 1960, 3. n~o de ·obm aberta" (Urn.berto ~) opi>e-se 010 esquema dasslco de comumca,ao:ue supoe urn emlssar e urn receptor passivo. Todnvl:J, sc aobra aberta~. mle.ratlva au partiapntwa. como, por exem
pto, urn happnllng de Allan Kaprow, atribUi uma rem am
phtude ao rettptor, ela Ihe !'Cmute tao-somcnte reagir '10
lmpulso Imcial diJdo pdo cmlssor partielpar ecompletilr
o esquema proposto. Em outros termos, a "participar;5.o do
cspectador'" collSiste em rubncar 0 contrato cstctico que
o arusta se reserva 0 direlto de assmar ~ por isso que aobra aberla, para Pierre l' .. dcvy, am a continua prcsa no pa_radlgma hcrmcncutico·, VISto que 0 r«eptor C convidadoapen3s a "prcencher os brancos a --'h~__ • _ _ ' =--.... er entre os sentl-uu:. poss~'ris" Levy • _
• 0JXle ess.l~.loS<lft da intefilhvi'dade as lmensas posslbihdadcs oferl.ld.l~ ""I L.
~ r~ 0 C1uo:rcsp.lr;o:I. R.:>bf\d ","'11let. u h",w,.""., k l.r l4Io
IO"'-l&u.of\&l'.I~M_L&"'n\ri ....Sklr~~:- ~'l~"'" s.....1~ 1984, P. 661ft E4>t0t-. 20010 I a.. ....... 1m. ~101t1,,. foil
•
103
"0 ;lmbientc tccnocultural emergenle dl.'Spcrta 0 descnvol
vimenl'O de novaS especies de arte, ignorando a scparar;5.o
enlrc emlssao c rccc~50, composlr;5o e mterprcta\ao"~.
Ec1etismo c p6s·produ{Jo
Com seu sistema muscol6gico c seus aparelhos hlst6
nros. bern como com sua nccessidade de novos prodUIOS
e novos "amblentcs"', 0 mundo ocldenlal aCilbou por rceo
nhccer como uma cullura em si ccrlas tradlr;Ot..'S que ate
entao se conslderava fadadas a des.apacccer no movimen
to do modernlsmo mdustnal, ataboo por accll,u como <lr
te aquila que em visto <lpcnas como folclore ou sc/VOIgcn<l
Lcmbremos que, pam urn cidad50 do corner;o desle sccu
10, 01 hist6na dOl escullum as vezcs sallava da AntlgiiJdade
grega para 0 Renasarnento l' sc rcstnngla .1 names curo
peus. Hail', ~ cullum global e uma gigantcsca anamncsc,
uma enorme ffilscigena{5.o, cujos principios de scl~,jo sao
muito dlffcels de identificar Como evitarque essa visiio Ie
lesc6plca de culturas e estllos rcsuhe num edellsmo KItsch,num alexandrinismo cool que CXCIUI qu.:l!quer /ulgamento
cri"tico? Ceralmente, quallfica-se de edHlco urn gOSlo inseguro ou scm cnlcrios, urn proccdimento inle!cctual.scm
coluna vcrtebr.ll. urn conjunlo de escolhas que niio sc funda em nenhuma VlsaO rocrcnte. A hnguag('m comum.,10
2 1""", 1..1'7. L 1~'riI't""'"" toU«l"'" 1\-.,., ~'" .RL~"""""f"" d~ ')f"'$J'"\.I DkouYnteJ"""" 1'191 ]A '~lt/rgbI<'Iotm'ni.. p ....""""vt..."",.,...,...... ,,<0<1_ ,"",Is P...,10 R.oo.u",",- SkI~ Looyol.o. 1991l.1
101NlCOI.AS~
oonsidcrar pelorativo 0 lermo "cdellco'" na V\" d. . • r ildc Tilttf!.
ca a ldela de que eprL'<:ISO focar 0 rntc!\."'Ssc nu Im certa Ii
de artc, de Iilcralura ou de musica, do rontr.ino poas COlsas S('
perdcnam no btsclt, por 050 consegulT <lfirmar .Urna Iden
ltdc1dc JX'Ssool sufkll:~nlemenlc forte - ou, quando menos"r{'(Onhecivd. Esse carater vergonhoso do ('dellsmo <. .
I.: lnsc~
p.lr.h'e:l dOl ideia de que 0 mdlviduo cquivalc SOcialmcntc a
SUilS esrolhas cultu"ns;: sUpOc-se que eu sou 0 que leio, 0
que OU~, 0 que olho. Cad;;l urn de nos eidentificado COm
sua e5lrategta pessoal de consume d(' signos; 0 Iolsell fl,'
presmb urn gostu de fora, uma esptX-IC de opiniiio difu
sa e impessoal que substitui a cscolha mdividual. Assim,
nosso uRlvcrsosoclal em que 0 plor defeito ronsistina em
MO ser $1lUa\"el em tcrmos <!as normas eulturals, leva-nos
a nossa propna relfic'll;ao. St.."gundo essa visao da cullura,o que cada urn pode fazcr com 0 que consome nao tern im
ponanaa alguma. om,. urn artlSt:l pode muito bern llSarum
folhetlm amencano lastlln.ivel para desenvolver urn proje-to lnteressa ti· I fn SS1mo. n ellzmente, C 0 Im-erso que ocorrecom maior freqiiencia.
o dlSCUrso antiecletKO tomou-se. portanto, urn discurso de ades5o, 0 dP<:Mn d
-I~ e uma cultul'il marcada combahus bern c1arO'lS, que deixam todas 3S suas produ';Oc5
~m organlz.ldO'ls. claramente identdidvelS sob tal ou ualratulo, smal de hga~ corn uma vlS3Q qcultura EI • ._. estereot:ipada da
- e esta Vlncu",do a consblul"30 do dd ~ lSCUrso mo-
ermsla, 1.11 como e aprescnlado .......los Ie, _".C r~ Xos kvncos de
lement Greenberg.. para quem a hlst6ria d _a artc conslllUl
105
uma narrativalinear, teleol6gica, dentro dOl qual cada obm
do pass.:ldo se define por sua rcla.;30 com as obras prcce
denies e subscquenlcs. Segundo Greenberg. a hlSt6na dOl
arte modema consislc numa "'punfica.;ii.o'" progressiva dOl
pintura c da escu[tura Piet Mondrian explicJria, aSSlm,
que 0 neoplJstlcismo era a consequenCla logicJ - e a su
prcssao - de lodJ a arte anteflor. Essa teona, que considera
a hlsl6na da arle como uma duplica.;.'io dJ pesqUISJ cientf
fica, traz como cfcilo secund5rio a exclusiio dos parses n50
oc:idenlalS, considcrados "nao hisl6ncos'" ~ essa obscss.'io
pelo "'novo", criada poressa vlsiio dJ ilrtc histoncisia ettn
tradJ no Ocidenle, que scrii 0 objClO de zombada de urn
dos grandes protagonistas do movimenlo Fluxus, George
Brecht, ao exphcar que emuito mids dlfidl ser 0 nono il fa
zer alguma coisa do que ser 0 primeiro, polS agora euma
questao de aprender J olhJr bern.
Em Greenberg e na maioria das hist6rias dOl arte od
dentill, il cultura eslii hgada aquelil monomaniil q\K' con$.!
dera 0 edClismo (ou seja. qUillqu('r lentatlv,) de sair dessa
narr.ltiva purisla) urn pecado capllal. A Hisrona deve ler
urn sentido E esse scnlido dC\-e 5(' orgamzar numa narra
tiva linear.Em HlstonSlltlOl1 all ill/Clition. Ie retour d·/I1l llIrl/X debat
IHls/onClZllpio Oil. II/tel1,iio; 0 n·tomo dc rl1ll vc/ho debilliL lexto pubhcado em 1987, Y,-e-AI.l1n Bois faz uma analise cntiea da vcrsao p6s-modema do edetismo, l,ll como ele scm3nlfcslil nas oblOls d3S nco_expressionlstas europCias ouentre pinlorcs como Julian Schn3bcl c D.lVld Salle "E.ibcr-
106 107
tados da hlst6ria, podcmos Teeoeref a cia como a uma cs
pc..'cie de entrctcmmcnto, trata-Ia como urn espac;o de pum
Im..--sponsablhdade- a paThr de agora. luda tern p;.lra nOs a
mesma sigmfiC'J:(;'iio, 0 m~mo valor"',No rom~ dos anos 1980, a transvanguarda ddcn
dia uma l6gK'il do bn<abraque. ao aplainar os valorcs cui·
tunus num3. 01"-~e de estilo intcrnacional que misturava
Chinco e BeU)'$, Pollock c Alberto 5.1vinio, numa tot<'ll ind,
kre~a pclo ronteudo de seus trabalhos e por SUilS rcspecm'3S~ hlstoocas. Nessa epoca.. Achille Bonito Olivaddendeu esses artlslas em nome de uma "idcologia dn!
Cd do traidor",~ndo a qual 0 artista seria urn "nomadc"orrulando a\"(mlOlde entre todas as cpocas c cstilos, como
urn vagabundo Tev\r.1ndo os dep6sitos ptibhcos de lim p<lfa pegaT alguma COI5a qualquer E ('X"ltamentc cstI.' 0 problema. sob 0 pinccl de urn Jull."n Schnabel ou de urn EnzoCucchI. a hlSt6ria da ;ute aparecc como uma glganlesca Jala
de lao de fonnasocas. amputad3S de qualquer sigmficaS'aopropria em favor de urn culto ao artista - dcmiurgo·rccuperador sob a figura tutelar de Picasso. Nesse V<:Isto em
preendimento de t'elfica~So das formas, a metunorfose dosdeuses assemelhol-se a transfonnar;ao do museu imagtna.rio ern papel de parede. Uma tal olrtc da citar;ao. praUcada pelos neofauvlstas, TC<onduz a HIst6ria a urn valor de
mercadoria. 'Estamos mUlto pr6xImos daquela "igualdade
de tudo. entre 0 bern C0 mal, 0 beto C0 fcio, 0 JnslgnificJn.
Ie e 0 camCleristico", que Flaulx-rl usou como lema de $eU
ulhmo romance, e cujo advcnlo dcspcrta\'a tanto rerelo em
seus $drrarlOs pollr BOlluard ct PtOlc1/ct_
Jcan-Franr;ois Lyolard nao suportava que confundls
scm a rondi(iio p6s·modema, tal como elc ha"la leorizado,
rom a arte prclcnsamente pas-modermsl:! des anos ]980~
MistufOlT numa mesm3 superf'lCic os motlV05 noo ouhipcr-re.1hstas cos mot1\'Q5 abslfOllos, liricos ou OOncel
tuals Cdlttr que tudo se equl\';lle ponJUC' rudo e born
pafOl consumir r J 0 qll(' csahel/ado pclo edctlsmosSo os h.1Dltos do leitor d(' 1'C\-1sta$,. as nt.'«'SSidadcs doCOI\SUmldor das lmagens Induslnais padrumLldas.. C0
cspfrito do cbenle dos slIpermercados'
Segundo Yvc-Alam Bois, apcnas a hlstonclZ<Jt;5.o das
Connas pode nos preservar do ClnLsmO e do nLvclamcnto
por baixo. Par.:l. L}'ol.:ircL 0 ec1etismo dCSVlil os .:artIstas daqucstao do ~inaprescnt.h·d~, que ele con$lder.1v.1 fundamental par ser a g.:arantHi de uma "Iensao enlre 0 0110 deplnlar c a essenCla dol plnlura"; se os arllslas se cntrcgam.10 "cdellsmo do consumo", C'S1.io servmdo .105 mlcTCSSCSdo "mundo Iccnocicntffico e p6s·induslrial'" c faltando a
$CU dewr relire.
~ lt~,,·F,.~ohl.)'OI.ud lJpofIooo:>J"N urf"~ .u~ 'on... 1'."'"c.J,lh,I'u<lx ~<bllo,. 1m I" lOlL [O,w_.:.......qi.....:.:. II'" T......". eo.-u.o. 2....... UtNo4 Oom QIlhoDtt 19n1
109lOS
Mas a Unlca contr<lposi,50 a esse I. ' cc etlsmoedetlsmo banahzador c consumidor ' eSSe
d'f' que prega uma .I cren,<1 OOlen em rclil(;50 aHist6na canula . :n• \" d as lrnphca,0e5 po lhcas as obras, sera apcnas a visa d " .o anvlOlSt"a d
Greenberg ou uma vlS50 puramcntc !ll'to ' 'nClzanle da aIe? A cha\'(~ do d.lcma cncontra·sc nn IOsla' ,.• • ur<1,<lo de pro-cessos e prahC3s que nos permlte n.'SSJr dr- e uma cullurado consumo para umit CUllura da ativld d d 'a C, a passlVlda_de dlante do estoquc disponivel de signos para pr.itic d
respons3bthza,ao. Cada mdivfduo e amda ma'" dJS
'• • Col a aT-tlSta. vtsto que orcula entre os signos d"''''''~ -d. • ... ~ .. = conSl Cr.1T
respons.n-el pelas formJ.S e por seu funclOnamento social:o sUrglmenlo de um "consume cldad50" a'-'''<'' d_ _ ......... a cons-CJentlZ.1¢o ooIehva a respelto das condl\6es desumanas detrabalho na produc;ao de h~nis esportivos ou dos d- _tes «'O!6gkos ""gas
J>fO\'OCados por tal ou tal atividade indus-tnal f3z partedessa responsabtliza\5.o. 0 boicole 0 desvioa plrataria pe:rtence "rn a essa cultuTa da ativldade QuandoAllen Ruppersber •g COPI" nurna sene de telas 0 rrlmlo de~an Groy, de Oscar \\'tlde (197,0, ele adot.1 urn texto lite-rano e se con';ldera res • Ireescre...e_ ponsave par ele dlantc de todos: de
Quando louISe Lawler -gar de urn caVilla do expoe urn quadro vul-empreslado .....1a N~ntav ~rHenryStuliman e que Ihe foi
r~ nD '0'" RttCltlgAssccno moo de um fet d latum. colocando-oxc e spots lummosos cia olfirm
Ie 10005 que 0 reviV<lhsmo d.1 pmtura ' a perannaquc1a P.v.ra (1978) , _que .1t1nge scu auge
~r~ um.1 converu;ao fifi'por tnlercs'ieS mercanlJ,. ar Clal msplrada
rOS I'RODUVW
Reescrevcr a modernidade ea tarefa hlstorica dcssc
corn«o do s6(u[0 XXI: niio partir novamcntc do zero nem
sc sen1ir sobrccarrcgado pclo acurnulo da Hlst6ria, mas in
\'entanar c scleclOnar, utilizar e recarregar.Vamos dar urn saIto no tempo.;:1IC 2001: ascolagens do
artista dina marquesJakob Koldt ng reescrcwm os trabaIhos
de EI Lissitski ou de John Hearfield a parllr da realidade
SOCial contcmpor5nea Em seus videos ou fotos, Fatimah
Tuggar mescla os anunoos americanos dos anos 1950 com
cenasda VIda cotidiana africana, e Gumlla Khngberg war·gamZil os logos dos supermcrcados sueros em mandalas
emgmatlcas. Nils Norman e Sean Snyder montam c.1lo1lo
gos de S1gnos urbanos e reescrevem a modermdade a p;:tr
tir de sua vulganza,iio na hnguagcm arqUllclonica Essas
priiticas, cada qual asua maneira, afirmam a imporlanCla
de manter uma atividade diante da produ,ao ~ral Todosesses elementos sao utlhzaveis Nenhuma ImJgem publica
deve p;:tssar impune, em hip6tcse alguma: um logo perlen
ce ao espa\O publ1co, pais esla nas ruas e consta nos ob/elos que ulthUlmos. Esla em cursa uma guerra Juridica quecoloca os arltstas na hnha de frente. n('nhum slgno dC'\'C fi
car Inerle, nenhuma Imagem deve Sf:' manler inloGkd Aarte reprcsenta um contrapoder Nao que ol larefa dos artlstaS seja denunclar, mllitar ou relviOdicar: loeta artc Cen·gapda, qualquer que 5ep sua natureza ou finahdade. HOJcexislc um cmbalc cnlre as reprcscnlil~oesque cn\ulw aarte e a imagcm ofielal da reahdadc, difundida pdo dlscurso publicit5no, Iransmllida pclos mcios de comunica~;:jo, orgamzada por urn;! idrologla 1./lm/lgM do ronsumo c
da concofrenda SOCial Em nossa vida cOlldiana, COnvivc_mos rom~, rcprcsenta\Oes e fannas que alimentarn
urn tmJgm.lno colchvo cujos conteudos sao ditados pdopoder. A 3rl(' aprcsenlll-nOS contr.l-lmagcns ?ianle dessaabstr.t('50 eoonomlca que dcsrcahu a ,..dol rohdlanil. armaabsoluta do podcr tccnomcrcantiL os arllslas reall'-am as
formas,. habltando-as, piratl."ando as propnl.'dades pnvadaseosropyngllts. 3S m.ll'cas c os prodUIOS, as (ormas museificadas C.1$ asstnaturas de Jutor
Se essas "recargas" de farmas. CSSJ.S sel~ e retomadas ho,e n.'Presentam uma questao importantC'. cporque elas ronvtdam a considerar 3 cullur;) mundial como
uma ('3uta de fcrramentls, como urn csPJ~ namlivoaberto. C 050 como urn relata uni'voro c uma gama de produtos 3C'olb:Jdos.
Em vez de se 3Joelhar diantc das obms do passado,usa-las.
Como TIfiwamp. Lnscrevendo seu trab3.lho numa arqUllctura de Philip Johnson, como Pierre Huyghe refil
m'lndo Pasohnl, pensar que as obms propOcm cnredos eque a artc e uma forma de usa do mundo, uma negod.u;5oinfimta entre pontos de VISta. Cabe a nOs, espectadorcs, ("C
..'elar essas relac;Qes. Cabe a nOs Julgar as ohms de artc em
fu~50das rela~ que elas cnam dcntro do contexto especifico em que se debatem. Pois a arte - e afinal nao vcJOOUtTa definu;ao que englobe todas as dcmalS _.! uma allVidade que conslSte em produzlr rela«les com 0 mundo, emmatenahzar de Um3 au outra forma suas rc1a«lcs com 0l..-mpo e 0 e:spa'>O.
110 NICOlAS IlOURRIAl/l)
NicolilS Bourriaud (Fr.Jnc;.1,1965). Escrilor, critico de arll',cUfador de vSrias cxposic;ocs e fundador da revisl.1Documents SlIr ['Art, C aulorde tcorias sabre a artc contcmpor5nea, explidl.1d'lS emseus tftulos: ForUles If/! uie L'arl moden/I? et ['illl'l?1ItiOIl dt'
soi c EsUtka rdadol/al, larnbern publicado pela Martins.