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Ao longo das oito séries do Ensino Fundamental, o aluno deve desenvol- ver as seguintes habilidades, segundo propõem os PCN: 1 - Expressar-se em diferentes situações. Em ca- ráter privado, ou seja, com a família e os amigos, ou em público, na apre- sentação de um tra- balho em classe ou numa solenidade escolar. 2 - Saber expressar-se de dife- rentes maneiras. Ou seja, usar a lin- guagem adequada a cada ambiente: a coloquial, em situações de intimidade; ou a formal, que utiliza a norma culta (valorizada socialmente), em situações cerimoniosas. Numa entrevista para obter emprego, as expressões usadas são diferentes das de um “papo de bar”. 3 - Conhecer e respeitar as va- riedades lingüísticas do português falado. O aluno deve entender que em um país grande e de culturas varia- das como o Brasil existem sotaques, expressões regio- nais e maneiras di- ferentes de falar – como o linguajar Ilustrações Vilmar de Oliveira paulista, o carioca, o baiano e o gaú- cho. Nenhum está certo ou errado. Eles são apenas diferentes. 4 - Saber distinguir e compreen- der o que dizem diferentes gêneros de texto. Uma bula de remédio, um bilhete da namorada ou um anúncio de carro têm intenções, estilos e vocabulários muito diferentes entre si. 5 - Entender que a leitura pode ser uma fonte de informação, de pra- zer e de conhecimento. Ela dá acesso às informações necessárias para o dia-a-dia e aos mundos criados pela literatura e pelas ciências. O aluno deve sa- ber, ainda, como recorrer a dife- rentes materiais impressos para atender a necessidades específicas. Para obter informações sobre um filme, usa-se o jornal. Para achar o significado de uma palavra desconhecida, o indica- do é o dicionário. Para uma pes- quisa de História, consultam-se enciclopédias. 6 - Ser capaz de identifi- car os pontos mais relevantes de um texto, organizar notas sobre esse texto, fazer rotei- ros, resumos, índices e esquemas. Com base em trechos extraídos de fon- tes diferentes, o aluno deve saber com- por um novo texto coerente. Em resu- mo, transformar a linguagem em um instrumento de aprendizagem, que lhe dê acesso e meios para usar as informa- ções contidas nos textos que lê. 7 - Expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opções indivi- duais. E também ser capaz de ouvir, interpretar e refletir sobre as idéias de outros, sabendo contrapor-lhes as pró- prias idéias. Quando descreve, em classe, um fato ocorrido na rua, o alu- no está treinando tal habilidade. 8 - Ser capaz de identificar e analisar criticamente os usos da lín- gua como instrumento de divulga- ção de valores e preconceitos de ra- ça, etnia, gênero, credo ou classe. É o que ocorre nas piadas consideradas “inocentes” sobre portugueses, judeus, baianos ou negros. No entanto, refletir sobre o real significado preconceituo- so delas pode gerar uma interessante atividade em classe. Os objetivos do Ensino Fundamental O que são eles O que ensinar com eles O que a turma deve ler, falar e escrever Língua Portuguesa de 1ª a 4ª série Parâmetros Curriculares Nacionais Fáceis de entender blá, blá, blá... Bah, guri! Oxente, menino! Plebiscito... Plebiscito... PCN E nsinar as crianças a ler, a escrever e a se ex- pressar de maneira competente na língua portuguesa é o grande desafio dos professo- res das quatro primeiras séries do Ensino Funda- mental. Existem mudanças importantes sendo real- O desafio de alfabetizar izadas: vários Estados estão remodelando seus cur- rículos e investe-se mais na atualização dos profes- sores. Mas a verdade é que ainda há muito a fazer. O índice de repetência e de abandono no Brasil, um dos mais altos do mundo, é resultado, princi- palmente, da dificuldade que a escola tem em en- sinar a ler e a escrever. A dificuldade da escola em iniciar a criança no mundo das letras está na raíz da evasão e da repetência PCN 1ª a 4ª série - 5

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PCN PORTUGUÊS

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Ao longo das oito séries do EnsinoFundamental, o aluno deve desenvol-ver as seguintes habilidades, segundopropõem os PCN:

1 - Expressar-se em diferentessituações. Em ca-ráter privado, ouseja, com a famíliae os amigos, ou empúblico, na apre-sentação de um tra-balho em classe ou

numa solenidade escolar.2 - Saber expressar-se de dife-

rentes maneiras. Ou seja, usar a lin-guagem adequada a cada ambiente: acoloquial, em situações de intimidade;ou a formal, que utiliza a norma culta(valorizada socialmente), em situaçõescerimoniosas. Numa entrevista paraobter emprego, as expressões usadassão diferentes das de um “papo de bar”.

3 - Conhecer e respeitar as va-riedades lingüísticas do portuguêsfalado. O aluno deve entender que emum país grande ede culturas varia-das como o Brasilexistem sotaques,expressões regio-nais e maneiras di-ferentes de falar –como o linguajar Ilu

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Vilm

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paulista, o carioca, o baiano e o gaú-cho. Nenhum está certo ou errado.Eles são apenas diferentes.

4 - Saber distinguir e compreen-der o que dizem diferentes gêneros detexto. Uma bula de remédio, um bilheteda namorada ou um anúncio de carrotêm intenções, estilos e vocabuláriosmuito diferentes entre si.

5 - Entender que a leitura podeser uma fonte de informação, de pra-zer e de conhecimento. Ela dá acessoàs informaçõesnecessárias parao dia-a-dia e aosmundos criadospela literatura epelas ciências. Oaluno deve sa-ber, ainda, comorecorrer a dife-rentes materiais impressos para atendera necessidades específicas. Para obterinformações sobre um filme, usa-se ojornal. Para achar o significado de uma

palavra desconhecida, o indica-do é o dicionário. Para uma pes-quisa de História, consultam-seenciclopédias.

6 - Ser capaz de identifi-car os pontos mais relevantesde um texto, organizar notassobre esse texto, fazer rotei-

ros, resumos, índices e esquemas.Com base em trechos extraídos de fon-tes diferentes, o aluno deve saber com-por um novo texto coerente. Em resu-mo, transformar a linguagem em uminstrumento de aprendizagem, que lhedê acesso e meios para usar as informa-ções contidas nos textos que lê.

7 - Expressar seus sentimentos,experiências, idéias e opções indivi-duais. E também ser capaz de ouvir,interpretar e refletir sobre as idéias deoutros, sabendo contrapor-lhes as pró-prias idéias. Quando descreve, emclasse, um fato ocorrido na rua, o alu-no está treinando tal habilidade.

8 - Ser capaz de identificar eanalisar criticamente os usos da lín-gua como instrumento de divulga-ção de valores e preconceitos de ra-ça, etnia, gênero, credo ou classe. Éo que ocorre nas piadas consideradas“inocentes” sobre portugueses, judeus,baianos ou negros. No entanto, refletirsobre o real significado preconceituo-so delas pode gerar uma interessanteatividade em classe.

Os objetivos do Ensino Fundamental

■ O que são eles■ O que ensinar com eles■ O que a turma deve ler, falar e escrever

Língua Portuguesa

de 1

ª a

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e Parâmetros Curriculares Nacionais

Fáceis de entender

blá, blá, blá...

Bah, guri!Oxente,menino!

Plebiscito...Plebiscito...

PCNEnsinar as crianças a ler, a escrever e a se ex-

pressar de maneira competente na línguaportuguesa é o grande desafio dos professo-

res das quatro primeiras séries do Ensino Funda-mental. Existem mudanças importantes sendo real-

O desafio de alfabetizar izadas: vários Estados estão remodelando seus cur-rículos e investe-se mais na atualização dos profes-sores. Mas a verdade é que ainda há muito a fazer.O índice de repetência e de abandono no Brasil,um dos mais altos do mundo, é resultado, princi-palmente, da dificuldade que a escola tem em en-sinar a ler e a escrever.

A dificuldade da escola em iniciar a criança no mundo das letras está na raíz da evasão e da repetência

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6 - PCN 1ª a 4ª série

?O que se quer ensinar para as quatro séries iniciais

Os alunos devem terminar a 4a série do En-sino Fundamental dominando a linguagem demaneira eficaz. Em outras palavras, devem sercapazes de produzir e interpretar textos,tanto para as necessidades do dia-a-dia – escre-ver um recado, ler as instruções de uso de umeletrodoméstico – como para ter acesso aosbens culturais e à participação plena no mundoletrado, entender o que é dito num telejornal eler um livro de poesias.

É preciso ler, mesmo antes de dominar o alfabeto

A tradição ensina: alfabetizar é tratar dalinguagem escrita e lecionar Português é trei-nar os alunos a representar graficamente a falapela combinação das letras do alfabeto. Na ver-dade, é muito mais do que isso. Falar e escu-tar, além de ler e escrever, são ações que per-mitem produzir e compreender textos. Cabeà escola desenvolver também a linguagem oralde seus alunos. Aprende-se a falar fora dosbancos da escola, mas na sala de aula é possí-vel mostrar as falas mais adequadas e eficien-tes nas diferentes situações cotidianas.

1 - A linguagem escritaLer e escrever são atividades que se com-

plementam. Os bons leitores têm grandeschances de escrever bem, já que a leitura forne-ce a matéria-prima para a escrita. Quem lêmais dispõe de um vocabulário mais rico ecompreende melhor a estrutura gramatical e asnormas ortográficas da Língua Portuguesa.Quanto mais variados, interessantes e diver-tidos forem os textos que você apresentar àscrianças, maior será a chance de elas se tor-narem leitoras hábeis. Se na sua sala só entra-rem aqueles textos escritos explicitamente paraensinar a ler, que despertam pouca atenção nosalunos, eles se desinteressarão da leitura e te-rão dificuldade em aprender.

Veja o que se espera que os alunos apren-dam na linguagem escrita e algumas sugestõespara ajudar seu trabalho:

No primeiro ciclo■ Eles devem fazer a correspondência dos

segmentos falados com os segmentos escritosda Língua Portuguesa. Isso é possível realizar

Como podemosavaliar se alguémdomina demaneira eficaz alinguagem?

A linguagem,escrita ou falada,pode apresentar-sede várias formas,dependendo deseus objetivos. Um bate-papoentre amigos, umacarta ou uma listade compras sãomanifestações dalinguagem. Nósnos comunicamostambém usandodiferentes registros.É fácil entender: sevocê tiver de falarcom o secretáriode Educação deseu Estado,certamente usarátermos, expressõese gestos diferentesdos que empregaquando cobra alição de um aluno.A comunicação,nesses casos, sedará em doisregistrosdiferentes.Dominar alinguagem é saberusá-la de maneiraadequada a seusdestinatários, ouseja, adaptando-sea diferentesregistros e deforma coerentecom seus objetivose com o assuntotratado.

Dic

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Escreva no quadro-negro umversinho que eles saibam de cor.(Por exemplo: Lá em cima do piano,tem um copo de veneno. Quembebeu morreu.) Leia-o algumasvezes junto com a turma. Em umadelas, pare a leitura no meio. Peçaàs crianças que apontem a últimapalavra lida. Muitas conseguirão dara resposta certa.

com crianças em processo de alfabetização,mesmo quando tiveram pouquíssimo contatocom a linguagem escrita.

■ Os alunos devem, no início, aprender aescrever um texto separando as palavras.

■ Ao final do primeiro ciclo, eles devemser capazes de dividir o texto escrito emfrases, usando maiúsculas no início delas e os sinais de pontuação, como ponto final,exclamação, interrogação e reticências.

■ Os alunos devem conhecer asregularidades ortográficas (quando háregras) e as irregularidades (quando elas não estão presentes) das palavras.

■ Usar dicionários e outras fontesimpressas para resolver dúvidas ortográficas.

■ Nos textos que escreverem, devem podersubstituir o uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” ou“então” por outros conectivo como, porexemplo, “assim”, “mas” etc.

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■ Desenvolver estratégias de escrita,como planejar o texto, redigir rascunhos, relê-los e cuidar da apresentação. Todo texto éprovisório e sempre pode ser melhorado. Nemmesmo escritores experimentados produzemtextos finais na primeira tentativa; elestambém modificam e aprimoram suas obras.

■ Compor textos coerentes com base emtrechos oriundos de fontes diversas, quepodem ser uma combinação de produçõesescritas ou criadas oralmente. ?

Agora não seensina mais o bê-á-bá? Não sedeve mais usar a cartilha noprocesso dealfabetização?

Não é isso.Evidentemente épossível aprendera ler e a escrevercom astradicionaiscartilhas, queusam o método dasilabação. Nessemétodo tem-se porhábito ministrar oensino da LínguaPortuguesa emdois estágios. Noprimeiro (o daalfabetização),apresenta-se osistema alfabéticoda escrita,representando ossons das palavrasgraficamente. Na etapa seguinteé feito o estudo da línguapropriamente dita,com exercícios deredação e treinosortográficos egramaticais.Atualmente sepercebe que oprocesso de ensinobaseado nasilabação édesnecessário elento. Não épreciso dominar obê-á-bá, presentenas cartilhas, paradepois avançar noensino da língua.

■ Eles devem saber separar o discursodireto do indireto e marcar turnos do diálogoutilizando aspas, travessão ou dois-pontos.

No segundo ciclo■ Formar critérios para selecionar leituras

e desenvolver padrões de gosto pessoal.■ Acentuar palavras utilizando as regras

relacionadas à tonicidade.■ As crianças devem saber explorar

diferentes modalidades de leitura, como lerpara revisar, ler para obter informações, lerpara se divertir etc.

Dic

a

Crianças adoram histórias emquadrinhos. Peça a elas quetranscrevam os diálogos dosbalõezinhos. Elas usarão os dois-pontos, o travessão ou as aspas.

Dic

a

Uma regra de ouro: nunca deve ser dado um texto ao aluno semexplicar para que serve e o que se pode extrair dele. Uma boaatividade é distribuir a parte do jornal que traz o roteiro cultural e pedir aos alunos que localizem,por exemplo, o cinema maispróximo da escola ou o espetáculode teatro mais barato.

Dic

a

Proponha aos alunos fazer umarevisão dos termos empregados como marcadores de tempo. Além deaumentar o repertório da turma, querepete as expressões “era uma vez” ou“antigamente”, o exercício permitirásituar os textos em épocas diferentes,no futuro ou no passado. São termoscomo: “há muitos anos”,“antes disso”,“muito tempo depois” etc.

■ Utilizar os recursos coesivos oferecidospelo sistema de pontuação e pelo uso deconectivos adequados, manter o tempoverbal e empregar expressões que marcamtemporalidade e causalidade.

■ Empregar as regências verbais e asconcordâncias verbal e nominal.

■ Fazer resumos.

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8 - PCN 1ª a 4ª série

?2 - A linguagem oral

À medida que a criança avança na escolari-zação, as exposições orais, principalmente naapresentação de trabalhos, tornam-se comunsem sala de aula. Mas são poucas as escolas quecostumam ensinar como falar com fluência emsituações públicas. Não deveria ser assim. Alinguagem oral apresenta dificuldades tantopara quem a produz (clareza) quanto paraquem a recebe (compreensão). As escolasdeveriam tratar da expressão oral desde asséries iniciais.

O que se espera que o aluno aprenda na lin-guagem oral:

No primeiro ciclo■ Em sala de aula, o aluno deve ser capaz

de ouvir com atenção os professores ecolegas e intervir sem fugir do assunto tratado,formular e responder a perguntas e manifestar-se, além de acolher opiniões dos demais.

■ Fazer uma exposição oral com ajudade um texto escrito, adequar o discurso aoconhecimento prévio de quem o ouve e asituações formais de comunicação.

■ Narrar fatos respeitando a temporalidadee registrando as relações de causa e efeito.

■ Contar histórias já conhecidas,mantendo-se próximo do texto original.

Minha escola ficaem um povoado no Maranhão.Não temos livrosdidáticos nemoutro material.Como possomelhorar otrabalho dasturmas?

O professor quequer acertar tratacom carinho osalunos, respeitaindividualidades e écapaz de superar asdificuldades ecarências de umaescola. Estimule adiscussão e a faladas crianças. Umaidéia é explorar evalorizar suasexperiências e osconhecimentos queelas trazem de casa.Por isso procureobservar os hábitosdos alunos e façacom que contem eescrevam sobre suasbrincadeiras maiscomuns, suasmúsicas preferidas,as histórias de quemais gostam. Dosrelatos pode surgiro material didáticode que você sentefalta. Enquanto falae escreve sobre suavida, a turma vaipensando, registra ese corrige. Vocênotará quanto seus alunos vãoaprender e comoseu trabalho ficarámais fácil.

As crianças vão adorar ler em voz alta para os colegas

Um método paradesenvolver o uso

da linguagem oral comcrianças de 2ª série foicriado pela professoraDenise SantoleriFranque, de São Paulo.Ele combina a leiturasilenciosa, a produçãode textos e a leitura emvoz alta. Para tornar aexperiência maisdivertida, Denise montaum pequeno palanqueenfeitado em um cantoda sala. As criançasdevem subir nele paraler em voz alta para oscolegas. No primeirosemestre, a professoradispõe, em caixas

coloridas, textos infantisde gêneros diversos:contos de fadas, poesias,fábulas e aventuras. Aturma escolhe o quequiser, faz uma primeiraleitura e leva para estudarmelhor em casa. No dia

seguinte, cada um lê seutexto em sala. Após odiscurso, três alunossorteados avaliam aapresentação. “Precisagaguejar menos” ou“melhorar a pontuação”,são alguns comentários.

No segundo semestre,Denise coloca imagens e desenhos nas caixas eestimula a turma a criar seus própriostextos para lê-los ourepresentá-los em forma de teatrinho.

■ Descrever cenários, objetos epersonagens.

■ Relatar experiências, sentimentos, idéiase opiniões de forma clara e ordenada.

No segundo ciclo■ Produzir diferentes textos, simulando os

dos meios de comunicação: conversas portelefone, anúncios de rádio ou locuções dosapresentadores de TV. E perceber neles oselementos intencionais: o bom humor, o tomcatastrofista das más notícias ou uma inflexãode voz “garantindo a qualidade” de um produto.

■ Identificar elementos não-verbais –como gestos, expressões faciais, mudanças notom de voz – na comunicação.

■ Empregar a linguagem com maior nívelde formalidade, quando a situação social emque o aluno estiver assim o exigir.

■ Manter um ponto de vista coerente aolongo de um debate ou uma apresentação.

Leitura dramatizada de texto no pátio (aolado), e em sala, no palanque enfeitado

Fot

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Crie com seus alunos uma galeria depersonagens para ser usados nashistórias orais.Você pode fazer, porexemplo, vários tipos de bruxa. Peçaàs crianças que as desenhem edescreverem suas características. Anarrativa da classe vai ficar mais rica.

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?Como o professorpode desenvolver o hábito da leituraentre seus alunos1 - Incentivando a leitura diária

Não se formam bons leitores se eles nãotêm um contato íntimo com os textos. Há inú-meras maneiras de fazer isso: os alunos podemler em silêncio, ou em voz alta, em grupo ouindividualmente, ou o professor lê um textopara a turma. Tais possibilidades devem serescolhidas de acordo com a atividade que estásendo desenvolvida em classe.

2 - Usando textos diversificados Em muitas escolas a Língua Portuguesa

ainda é ensinada de maneira formal, chata, sementusiasmo. Esse tipo de ensino não atendemais às necessidades da sociedade. Cada vezmais o aluno terá de compreender e escrevertextos diferenciados, claros e criativos. Não épreciso quebrar a cabeça para conseguir textosdiversificados para utilizar em classe. Eles es-tão por toda parte: jornais, folhetos de propa-ganda, revistas. Até algumas embalagens deprodutos alimentícios trazem pequenos textosrepletos de informações. O importante é que omaterial escrito apresentado aos alunos sejainteressante e desperte a curiosidade das crian-ças. Textos literários e poesias também devemser usados.

Leciono para a 2a

série e muitos demeus alunosescrevem errado:“papeu”, “cuanto”ou “muinto”. Comoajudá-los a falar e aescrever certo?

A criança pensa quea escrita é arepresentaçãodaquilo que fala.Inicialmente isso éaceitável, poisretrata uma de suashipóteses sobre oque a escritarepresenta. Quandoo aluno atinge ahipótese alfabética,ele já escreve eestabelece umacorrespondênciaentre o falado(fonema) e o escrito(grafema). Pode-se,então, trabalhar o aluno paracompreender que nem tudo oque se fala temcorrespondênciaidêntica na escrita.Exemplo: “casa”,palavra na qual o“s” tem som de “z”.As variantes dalíngua faladaprecisam serconsideradas, masdeve-se ter cuidadoao escrever. Aescrita depende deuma convenção, queé a ortografia,criada para unificá-la e facilitar oentendimento doque se lê.

A turma pode não gostar de leituraporque só recebe textos chatos

O s alunos da 2ªsérie da Escola

Municipal Padre AvelinoCanazza, em Campinas,a 98 quilômetros de SãoPaulo, não gostavam deler e, quando o faziam,

era sem vontade, por pura obrigação.Explicações para issonão faltavam: a escolafica na periferia e muitascrianças tinham paisanalfabetos que não lhes

contavam histórias.Mas não era só isso. Agarotada não lia porqueachava chatos os textosque recebia. “Umacriança da periferia não se identifica com a história de umexecutivo servido pelaempregada, como estavaem um livro didático”, diz a professoraCleuza Albertini. Oslivros didáticos foramsubstituídos porcontos infantis,artigos de revistas,histórias emquadrinhos, notíciassobre o cotidiano dobairro em que está aProfessora Cleuza em sala: notícias do cotidiano

Notícias recortadas: alunosescolhem o que querem ler

Fotos S

idnei Pitoco

A escolha de um bom livro para iniciaro processo de leitura é fundamentalpara cativar a turma. No início de suacarreira, a professora Marisa foi trabalharem uma escola de periferia na Ilha doGovernador, no Rio de Janeiro. Agarotada ia mal em Português edetestava a leitura. Marisa escolheu,então, um livro que falava da vida demeninos numa escola de muitos anos

atrás, na época da palmatória – OCazuza, de Viriato Corrêa – e passou a lê-lo em voz alta. Ela lia em capítulos eparava no auge da narrativa, criandosuspense. Foi um sucesso. Os alunosadoraram e passaram a esperar, ansiosos,pela leitura do episódio seguinte.A partir daí foi fácil apresentar outros livros. As crianças pediam novas histórias e liam com prazer.

Dic

a

escola. Os alunosrecebiam uma cópia dostextos e, em seguida,debatiam o que haviamlido. Em pouco tempo, a turma passou de umtexto lido por semanapara um por dia. Agora,as crianças tomam ainiciativa: trazemsugestões de casa,recortam as notícias que lhes interessam e melhoraramsensivelmente odesempenho escolar.

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10 - PCN 1ª a 4ª série

?A biblioteca escolar

Toda a proposta elaborada pelos PCN parao desenvolvimento da leitura nas quatro sériesiniciais está apoiada na existência de uma bi-blioteca escolar.

A biblioteca deve estar permanentemen-te aberta aos alunos, ter regras de empréstimoe leitura bem liberais e ser agradável e atraen-te. É importante, também, que a biblioteca pos-sua livros e textos bem diversificados.

Há situações em que a falta de espaço ou derecursos parece impedir a criação da bi-bliote-ca. São entraves que podem ser vencidos comcriatividade. A diretora de uma escola públicada periferia de São Paulo improvisou uma bi-blioteca em carrinhos de feira, pintados comcores diferentes, de acordo com a série a que sedestinavam. Os alunos se encarregavam de fa-zer o acervo circular pelos corredores.

Mesmo que a escola possua uma bibliote-ca, a classe também pode ter seu acervo. A bi-

blioteca de classe não precisa de um númeromuito grande de volumes. O que se espera éque ela apresente mais variedade do quequantidade. É preferível que ela disponha de35 livros diferentes a 35 volumes do mesmolivro.

Vídeos, slides, fotografias, transparências,gravadores, fitas e CDs também devem fre-qüentar a biblioteca. Eles cumprem um papelimportantíssimo e combinam sistemas verbaise não-verbais de comunicação.

Abaixo, uma sugestão de textos que vocêpode ter na biblioteca de classe:

■ Histórias em quadrinhos, textos dejornais, revistas e suplementos infantis,anúncios classificados.

■ Parlendas, canções, poesias, quadrinhas,trava-línguas.

■ Contos de fadas e de assombração,mitos e lendas populares, folhetos de cordel.

■ Textos teatrais.■ Enciclopédias, dicionários e afins.

Sou professora nas séries iniciaisdo EnsinoFundamental e percebo que,infelizmente, amaioria de meusalunos não gosta deler. Quero sugestõespara fazer com queas crianças tomemgosto pela leitura.

Para que o alunotenha condições de gostar de ler,precisa tomarcontato comleituras dediferentes níveis eassuntos. Quando acriança já lê textossimples por contaprópria, o professordeve ampliar seurepertório deconhecimentosmostrando-lheoutras leituras. Por exemplo,lendo para a classejornais, revistas e livros infantis.Isso faz com que a criançacompreenda queexistem textos feitospara informar, paradivertir e quepodem ser fonte de prazer. Comeles, o leitor pode“viajar” paralugares diferentes.O aluno logoentenderá que valea pena se esforçar,pois ele tambémpoderá usufruir tais prazeres.

Leitura de textos diversificados melhora a pior turma da escola

Q uando foi nomeadapara a 1ª série de

uma escola municipal deBelo Horizonte, aprofessora Sheila Alvesde Almeida assustou-se.Os alunos, de 7 anos,não liam nem o próprionome e quando lhes erapedido que escrevessema palavra “bola”, porexemplo, muitosdesenhavam uma bola.Para recuperar o tempoperdido, Sheila decidiuque deveria apresentarà turma textos e letrasda maneira maisdivertida possível.Ela trouxe quadrinhasinfantis, históriasfolclóricas, que ascrianças adoraram, usou embalagens demargarina para formaroutras palavras, fez aturma ler e preparar umareceita de doce impressaem uma lata de leite empó, conseguiu carimbos

e letras emborrachadaspara ensiná-los adistinguir letras comforma parecida, como o“B” e o “P”, o “O” e o “Q”.E, principalmente, levourecortes de jornais erevistas com fatos quemexeram com ascrianças. Foi o que elafez quando morreu oelefante Zoca, nozoológico de BeloHorizonte, ou com atragédia da morte dabanda Os MamonasAssassinas. “Fatos assimsensibilizam as crianças

e elas ficam ansiosaspara se manifestar”, dizSheila. Os resultadosalcançados por ela forambons. A turma de Sheilaera considerada a “pior”da escola. Em um ano,dos 26 alunos, dezesseteestavam alfabetizados,dois prestes a começar a ler e o restanteabandonou a escola ou pouco avançou. Atéentão, em uma classecomo essa, a escolanunca havia conseguidoalfabetizar mais de oito alunos.

Histórias do lobisomeme da mula-sem-cabeça:a turma adora

Aluna forma novaspalavras com assílabas de “Doriana”:uma escrita mais divertida

Crianças brincam comletras de borracha: tiran-do dúvidas sobre a for-ma do “B” e do “P”

Os Mamonas Assassinas: emoçãoem classe com a tragédia do grupo

César A

lexandre do Nascim

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Ric

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PCN 1ª a 4ª série - 11

Organize projetoscom sua classe

Os projetos são uma ótima oportunidadepara que seus alunos possam produzir textoscom intenção clara. Os projetos devem ter umobjetivo bem definido e as crianças precisamentender que as pesquisas, as entrevistas, asleituras, se destinam a um fim combinado emconjunto entre a classe e a professora. Umexemplo de projeto: pesquisar contos de as-sombração conhecidos na comunidade paraproduzir, no final, um livro.

Depois da pesquisa de campo, os textos sãorevisados, reescritos e debatidos em classe. Oproduto final de um projeto pode ser mudado em

comum acordo com a turma. Em nosso exemplo,além do livro, os participantes poderiam decidirapresentar o trabalho em uma feira na escola.

Os projetos podem durar de uma semana aalguns meses. A grande vantagem é que elesobrigatoriamente exigem o envolvimento e ocompromisso de todos os alunos. Com isso,mesmo tarefas que em outro contexto parece-riam sem sentido – como copiar, corrigir váriasvezes o texto, exigir ortografia impecável – tor-nam-se reais e necessárias, já que as crianças co-nhecem o objetivo de seu trabalho e sabem queele será lido por leitores de fora da classe.

O propósito dos projetos não é só ensinar aLíngua Portuguesa. Com eles é possível associaros conteúdos de Português a todas as outrasáreas e aos Temas Transversais.

A história e a geografia do bairroMorro Alto contadas pelas crianças

Em um bom projeto

didático, o objetivo

final do trabalho é

definido junto com os

alunos. Foi o que fez a

professora Eneida Maria

Ramos de Macedo Tito,

de Porto Alegre (RS). A

intenção era que os

alunos entrevistassem

os moradores do Morro

Alto, o bairro em que

viviam, e realizarem

pesquisas para produzir

um mapa gigante do

lugar. As principais vias,

a escola, as

lojas, os acidentes

geográficos e as casas

das crianças deveriam

constar do mapa.

O trajeto que elas

percorriam para chegar

à escola também seria

assinalado.

A atividade começou

com os alunos de

2a série redigindo

um texto em que

imaginavam como

teria sido o Morro Alto no

passado. Em seguida,

eles saíram a campo,

com lápis e papel na

mão, entrevistando os

moradores sobre a

Fotos E

dson Vara?

Até que pontopodemos corrigir aortografia do textode uma criança?

Desde cedo ascrianças devementender que épreciso escrevercorretamente. Aexigência de umtexto correto é, noentanto, relativa.Depende da funçãodessa produção(um texto quecircula na classe e outro que teráleitores externosapresentamexigências decorreção diferentes)e da série, ou ciclo,em que foirealizada. O que sepropõe é que noEnsinoFundamental oaluno, além deescrevercorretamente,aprenda tambémprocedimentos derevisão. Se houverum computador, eledevererá conheceras ferramentas decorreção. Se não,as ferramentaspoderão sercriadas: tiras depapel para sercoladas sobre otexto incorreto oupara mudar frasesde lugar.Flechinhas paraindicar o lugar da correção e,claro, a boa e velha borracha.Trabalho de campo: entrevistas com moradores

Alunos seguram mapa do Morro Alto: resultado final de um projeto didático

história do bairro. Com

as informações obtidas,

a classe produziu um

texto coletivo

sintetizando suas

descobertas. As

crianças voltaram às

pesquisas para mapear

a vizinhança. O

entusiasmo da turma fez

crescer a atividade. Os

alunos escreveram um

livro coletivo no qual

contavam as próprias

episódios. As mães

foram convidadas a

vir à classe relatar

histórias familiares. Um

jornalzinho também foi

organizado. Nele

estavam descritas as

melhorias do Morro Alto

alcançadas por sua

associação de bairro.

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12 - PCN 1ª a 4ª série

O que você podefazer para que seusalunos escrevamcom competência

O objetivo da escola deve ser o de formarescritores competentes, habilitados a produzirtextos coerentes, organizados e claros. Um es-critor competente – aqui se entende escritor co-mo alguém capaz de escrever e não um roman-cista ou poeta – está apto a produzir um discur-so apropriado ao objetivo a que se propõe. Porexemplo, se a intenção é convencer o leitor, elefará um texto argumentativo. Se o que se queré solicitar algo a uma autoridade, ele redigiráum ofício em linguagem formal e direta. Paraenviar notícias à família, ele escreverá umacarta intimista.

O escritor competente sabe expressar por es-crito seus sentimentos, experiências ou opi-

niões. Cabe à escola, então, criar oportunidadespara que os alunos escrevam textos diversifica-dos e de aplicações práticas, como são os quecirculam na sociedade.

Peça que eles redijam, mesmo seainda não souberem escrever certo

Os alunos devem ser solicitados a se expres-sar por escrito, mesmo que não dominem a lín-gua escrita de maneira convencional. Desde ce-do, eles já são capazes de criar os mais variadosdiscursos. Narram histórias, defendem um pon-to de vista, inventam diálogos durante uma brin-cadeira ou contam um caso para alguém. O queocorre é que eles já estão aptos a produzir umtexto, mas têm dificuldade para redigi-lo.

Eles vão render muito mais se forem desa-fiados a escrever e se puderem dividir as difi-culdades de coordenar a escrita. Isso pode serfeito, por exemplo, propondo a um aluno queconte em voz alta uma história a outro colega,que a escreverá, enquanto um terceiro fará a re-visão. Os três fortalecerão assim suas compe-tências, podendo depois cumprir sozinhos to-das essas etapas.

Mas que outras razões teríamos para in-centivar a escrita dos estudantes? O fato é queeles gostam de escrever. De resto, a criançatenta andar mesmo antes de poder fazê-lo, fa-lar mesmo quando ainda é bebê ou desenharquando mal sabe pegar em um lápis. Por estar

Ensine a turma a descrever personagens

N as redações desua turma de 2ª

série, a professorapaulista Maria EugêniaLeal lia descrições

1 - A classeexamina a capa,

o título e asilustrações do

livro. Hipótesessobre a principal

personagem esua história são

levantadas.?Como avaliar oaprendizado decrianças queentram na escolana 1a série e vãoestudar com outrasque foramalfabetizadas napré-escola?

No Brasil existemmilhares de criançasnessa situação. Apré-escolapreocupa-se hoje emalfabetizar. Mas hácrianças que nãotêm essaoportunidade e,aos 7 anos, sãomatriculadas numaclasse com colegasque já lêem. Asdiferençasindividuais devemser respeitadas.Existem opções paraajudar essesestudantes: sehouver parentes commais escolaridade, épossível orientá-lospara uma ajuda emcasa. O professorpode, ainda, pedir acolaboração dealunos maisadiantados; tirardúvidas em suashoras de trabalhopedagógico fora de sala ou darrecuperaçãoparalelamente àsaulas regulares. E,também, em algunsmomentos do diarealizar atividadesdiferentes para os jáalfabetizados e osdemais alunos.

assim: “minha mãe éalta, bonita, morena...” esó. A dificuldade era a“descrição funcional”, ouseja, citar informações

descritivas relevantespara o enredo. Paramudar isso, a professorausou o livro Tá Vendouma Velhota de Óculos,

Chinelo e Vestido Azulde Bolinha Branca, noPortão daquela Casa?,de Ricardo Azevedo, emontou esta atividade:

Dic

a

O professor pode sugerir a seusalunos que escrevam uma carta aum jornal pedindo informações sobreum tema em estudo na classe. Paraisso, deve explicar à turma qual é alinguagem adequada. O texto seráfeito em conjunto pelas crianças.

3 - A professoralê as histórias

em voz alta e pede aos

alunos que asrecontem. Elespodem, a todo

momento,consultar o livro.

4 - Cada alunodeve imaginar edesenhar umaquarta versão davelhota. Surgeminúmeras figuras:avó, detetive,doceira e outraspersonagens.

2 - Sem ler otexto, só olhandoas figuras, osalunos tentamcontar as trêshistórias davelhota: no livroela é escritora,feiticeira e atriz.

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PCN 1ª a 4ª série - 13

?num mundo onde a linguagem escrita faz partedo cotidiano, o aluno se sente desafiado a es-crever.

Fazer rascunho, revisar e escrever de novo...

A maioria dos escritores de primeira via-gem se dá por satisfeita com a primeira e úni-ca versão do texto produzido. Muitas escolasincentivam tal procedimento. No entanto, essapostura em nada contribui para o entendimen-to de que a produção da língua escrita é umprocesso que pode ser permanentemente de-senvolvido e melhorado.

O trabalho com rascunhos é, portanto, im-prescindível. A revisão deve ser ensinada demaneira a permitir a quem escreve, coordenaros papéis de produtor, leitor e avaliador dopróprio texto. O professor pode ajudar propon-do uma maneira organizada de executar essatarefa. Pode haver um momento para escrever,outro para ler o que está no papel, e outro ain-da para fazer ajustes, passar a limpo etc.

Dic

a

Fazer a revisão coletiva de um textoproduzido por um aluno que a classenão conheça costuma ser maisprodutivo. Ao examinar o texto nalousa, ou nas cópias que recebem, ascrianças enxergam erros que nãovêem na própria produção.

Mudar de gênero, finalizar histórias, reescrever textos...

Alguns truques que podem fazer a turmaevoluir no domínio da língua escrita e superar asdificuldades na criação de textos:

1 - Propor aos alu-nos que reescrevam ouse inspirem em umtexto que eles já lerampara produzir uma re-dação;

2 - Fazê-los trans-formar um gênero emoutro. Por exemplo,escrever um conto demistério a partir deuma notícia policial;

3 - Sugerir a produção de textos a partir deoutros conhecidos: um bilhete que o persona-gem de um conto teria escrito a outro, por

exemplo;4 - Dar as primeiras

frases de uma históriapara a classe desenvolverou o final de uma históriapara que os alunos criemseu início;

5 - Planejar coleti-vamente o enredo de uma história, para que osalunos discorram sobre ela, individualmenteou em grupos.

5 - Característicasda personagem

imaginada pelascrianças sãoanotadas em

cartolinas. Assim,elas conhecem as idéias umas

das outras.

6 - Cada umescreve maisuma versãosobre a velhota.A professoracorrige ostrabalhos.Todospassam ostextos a limpo.

7 - Deixando olivro de lado, os

alunos criamuma história

mais complexa.As idéias

vão sendoescritas no

quadro-negro.

8 - Todos ostextos, corrigidose passados alimpo, sãoreunidos em umvolume. No final,cada aluno temum novo livrosobre a velhota.

Por que a maioria dashistórias infantiscomeça com “Era uma vez”?

É muito difícil saberonde começou essecostume. Típica delendas, mitos enarrativas antigas,a expressão “Erauma vez” perde-sena memória. Odesconhecimento da origem daexpressão combinacom seu sentidovago. “Era umavez” imprime àsnarrativas umaindeterminação notempo e, quasesempre, no espaço.Por essa razão,aparece comfreqüência naliteratura infantil,especialmente noscontos de fadas,que influenciam a educação decrianças de 5 a 10anos. Há muitasalternativas para aexpressão “Era uma vez”, que as crianças vãodescobrir à medidaque você contar a elas outrashistórias. Algunsexemplos clássicos:“Havia uma vez umrei”, “No tempo emque os bichosfalavam”, “Hámuitos anos”,“Antigamente”,“Faz muito tempo”,“Num certo lugar”.

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14 - PCN 1ª a 4ª série

Criado peloescritor NilsonMachado, o Bichionárioé uma coleção deminipoesias comnomes de animais de A a Z e foi a inspiraçãopara uma atividadefeita na Escola deAplicação, de SãoPaulo. As professoraspropuseram àscrianças recém-alfabetizadas quepreparassem ospróprios minidicionáriostemáticos. Acompanhe a experiência.

Ferramentas paraum bom texto nasoficinas de criação

Escritores competentes precisam dispor deum repertório amplo de modelos para criar seustextos. Ninguém é capaz de fazer surgir uma boaprodução literária do nada. É preciso ter boas re-ferências. Para escrever bem é preciso ler bem.

A proposta das oficinas ou ateliês de criaçãode textos é fornecer às crianças material de con-sulta apropriado para a produção de textos. Aspossibilidades são quase infinitas, desde o ma-terial mais previsível, como dicionários, enci-clopédias, atlas, jornais e revistas, até um bancode personagens criados pelos próprios alunos,que podem ser usados para reforçar as redaçõesproduzidas nas oficinas.

O professor pode avaliar junto com os alunosos caminhos percorridos por eles para criar suasredações. É um dos momentos mais ricos nas ofi-cinas, pois nesse instante são discutidas as prefe-rências, as dificuldades e as alternativas de que osjovens escritores lançaram mão (com sucesso ounão) para chegar ao enredo final. O professor de-ve participar sempre dessa avaliação da estraté-gia de criação. Com o tempo, essa habilidade se-rá assimilada pela classe. E aí, pode apostar, osalunos produzirão textos cada vez melhores.

Ortografia precisade compreensão ede decoreba

Tradicionalmente, ensina-se ortografia – amaneira correta de grafar as palavras – apre-sentando e repetindo as regras ortográficaspara a classe. Tudo se dá meio na base da de-coreba. Depois da explanação, se o aluno de-sobedece a tais regras em uma redação, porexemplo, o professor corrige o erro, e podeaté sugerir que o estudante copie várias vezesa versão correta das palavras escritas de ma-neira errada. Muitos alunos decoram tais re-gras, mas na hora da redação continuam es-crevendo errado.

Muitas normas ortográficas têm de ser mes-mo decoradas. Mas isso não quer dizer queaprender a escrever certo seja um processo pas-sivo. No capítulo dedicado à ortografia, os Pa-râmetros Curriculares Nacionais propõem quea intervenção do professor se dê em dois ní-veis: no “produtivo” e no “reprodutivo”.

Produtivo é o conhecimento explícito das re-gras ortográficas. Tal conhecimento permite aosalunos grafar corretamente mesmo as palavrasque eles nunca haviam escrito anteriormente.Um exemplo: nenhuma palavra da Língua Por-tuguesa começa com as letras “rr”. A regra pode

Vamos consultarum bichionário?

O pequeno Fábio criou o Nominário, queregistra nomespróprios de A a Z.Cada aluno escolheuseu tema e partiu para a pesquisa.As crianças fizeramas ilustrações ediagramaram os livros

Comidas e gulodicesfoi o tema escolhidopor Soraya em seuComidionário.Os alunos que nãoescreviam sozinhosreceberam ajuda. Asprofessoras corrigiamos textos enfatizandoa ortografia, a clareza,o uso de maiúsculase a redundância.A pesquisa emdicionários foibastante encorajado

Iolanda construiu oMeu Livro de Bichoscom rimas. Marcos,autor do Meu Livro de Objetos, encontrouobjetos para todasletras. O texto corrigido foi passado alimpo. No fim, todos osalunos fizeram a capae escolheram o título

?Muitos criticam

hoje o uso daslistas de palavras editados comotreinosortográficos.Como trabalhar aortografia?

O que se critica é aprática de ensinarortografia outrabalhar os errosortográficos usandosomente os treinose exercícios dememorização. Ascorreções de texto editados continuamnecessários, mas ascrianças devemrealizar outrasatividades,principalmente asque as façamentender a realfunção das regrasortográficas ougramaticais.Apesar das muitasexceções, nossalíngua possuiregularidades. Anorma quedetermina o uso daletra “m” antes de“b” e “p” é umexemplo. Você podeensinar isso comoregra acabada.Mas será maisprodutivo e amemorização maisfácil se a criançaprimeiro observaressa regularidade e,só então, souberque existe umaregra para aquestão.

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PCN 1ª a 4ª série - 15

Uma receita pernambucana de pontuação

parecer banal, mas é comum vermos alunos dasprimeiras séries escreverem palavras como “rra-to” ou “rroupa”.

Já o eixo reprodutivo é aquele em que o alu-no memoriza a forma correta de grafar palavrasque não têm regras específicas que expliquem aforma de escrevê-las.

Distinguindo palavras de uso mais e menos freqüente

Tal distinção é fundamental para o trabalhodo professor. Quando as palavras fazem partedo vocabulário médio dos alunos, é mais pro-dutivo que eles apresentem suas hipóteses decomo devem ser escritas.

Com base nessas suposições, eles poderãorefletir sobre as possíveis alternativas de grafiae, comparando-as com a escrita convencional,terão progressivamente condições de tomarconsciência do funcionamento da ortografia. Éum momento em que o “erro” deve ser encara-do pelo professor como fundamental para aconstrução das hipóteses ortográficas desen-volvidas pelos alunos.

Por outro lado, entender que a ortografia dealgumas palavras não é definida por regras fazcom que os estudantes vejam, de maneira práti-ca, a importância de consultar fontes autoriza-das de registro ortográfico da língua portuguesa,como os dicionários ou manuais de redação, ereconheçam a importância da memorização.

A difícil arte de pontuarcorretamente

É freqüente a confusão entre o ensino dapontuação e o ensino dos sinais de pontuação.Em geral, o que se faz é uma apresentação do ti-po “serve para”, “é usado para” e ponto final.Espera-se que a partir daí o aluno seja capaz deincorporar a pontuação a seus textos...

No entanto, a única regra obrigatória dapontuação é a que diz onde não se pode pon-tuar: entre o sujeito e o verbo e entre o verbo eseu complemento. Tudo o mais são possibili-dades. Ao contrário da ortografia, na pontua-ção a fronteira entre o certo e o errado nemsempre é bem definida. Aprender a pontuar éagrupar as palavras do texto de forma a dar rit-mo e ênfase à redação.

Isso é algo que as crianças só aprenderãocom a ajuda do professor. A pontuação deve seranalisada do ponto de vista do sentido que oautor pretende dar ao texto. Cabe ao professorlevantar com os alunos o porquê de terem usa-do determinados sinais de pontuação. Gênerosliterários diferentes têm características de pon-tuação distintas. Jornais abusam de apostos pa-ra condensar o texto. Por exemplo: “Luís, mar-ceneiro, foi preso ontem”. ?

Como utilizardicionários comturmas da pré-escola à 4a série?

Os dicionáriosampliam ovocabulário emelhoram ainterpretação daleitura. Mas, paraas crianças, essaexperiência podeser um tantocomplicada. A principaldificuldade é que a maioria daspalavras temvários sentidos e é o leitor quemdeve verificar qualdeles cabe melhorno texto. Uma boamaneira depreparar o alunopara essa consultaé incentivá-lo adescobrir, porconta própria, osignificado dapalavradesconhecida. Aspróprias crianças,do jardim-de-infância em diante,podem organizarum dicionário,escrevendo cadapalavra numafolha de papel,ilustrando-a eacrescentandouma frase ou umpequeno texto emque apareça otermo em questão.Depois, é só reuniras folhas emordem alfabética efazer uma capa.

1 - A professora fazuma avaliação de umtexto conhecido. Neledevem ser necessáriosvários tipos depontuação, comovírgula, travessão etc.

2 - Detectadas asdificuldades, ela divide a turma emduplas e pede que elasmarquem, em um novotexto, os sinais depontuação, discutindoos “porquês”.

3 - “A pontuação, paraque serve?”, indaga. “Avírgula é para respirar”,responde a turma. “Não ébem assim”, diz. Cinaramostra, sem dar nomes,as funçõessintáticas da vírgula.

4 - Os alunos criamdiálogos ambientados emlocais que freqüentam,como um parque. Oparágrafo e o travessãomostram a diferençaentre o narrador e opersonagem.

5 - Propor piadas eadivinhações garanteaulas divertidas sobre o uso dasreticências, que marcam a interrupção na fala ou na idéiaexposta no texto.

A professora CinaraSantana da Silva, daEscola Matias deAlbuquerque, de Recife,Pernambuco, sabe que apontuação dá sentido aotexto, não servesomente para respirar,

exclamar ou perguntar.Por isso ela propõealgumas atividadesinteressantes a seusalunos de 3

asérie.

Acompanhe:

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O que é precisosaber de gramática

Saber o que é substantivo, adjetivo, verbo,artigo, preposição, sujeito ou predicado nãogarante a ninguém a aptidão para produzirbons textos. Claro, é necessário conhecer asfunções sintáticas e morfológicas das palavras,mas tal ensino deve ser feito a partir da produ-ção de texto dos alunos. O importante é que oestudo gramatical se dê com o objetivo de me-lhorar a produção escrita dos alunos e dentroda capacidade deles.

Um exemplo: nas séries iniciais é necessá-rio saber o que é “proparoxítona”, na medidaem que os alunos, junto com o professor, de-vem analisar e estabelecer regularidades naacentuação de palavras. Eles chegam à regra deque serão sempre acentuadas as palavras emque a sílaba tônica for a antepenúltima. Em to-das as situações em que o aluno estiver traba-lhando com textos, ele está necessariamenteaprendendo gramática.

de uma conversa em classe ou por escrito. Oque se espera é que entenda a trama desenvol-vida no texto – na história de ChapeuzinhoVermelho, por exemplo, o aluno poderá fazerum resumo do que ouviu para ser lido por ou-tra pessoa.

■ Quando escrevem seus textos, as criançasdevem usar a escrita alfabética, preocupar-se

em segmentar o textoem palavras e frasese obedecer às con-venções ortográficas.Mesmo não sabendoutilizá-las adequada-mente, espera-se queo aluno se preocupecom a ortografia.

No segundo ciclo■ Os alunos já devem ser capazes de resumir

as idéias centrais de um texto que foi lido, ou di-to, em voz alta.

■ Predende-se que o estudante faça, oral-mente ou por escrito, o resumo de textos preser-vando suas idéias centrais.

■ Nesse ciclo a criança deve estar apta arealizar a leitura de um texto com o objetivo deencontrar elementos determinados, como o sig-nificado de uma palavra em um dicionário ou ohorário de um filme no jornal (inferências).

■ Mesmo com algumas falhas, os alunos de-vem ser capazes de escrever textos com pontua-ção ou ortografia convencional, utilizando os re-cursos do sistema de pontuação.

■ Espera-se que o aluno esteja habilitado aconhecer as regularidades ortográficas e saibausar o dicionário para sanar dúvidas quanto àspalavras de grafia irregular.

■ O estudante deve ser capaz de produzirtextos respeitando as características próprias de

cada gênero e ascaracter ís t icasgráfico-espaciais(o mesmo que pa-ginação), usandoa pontuação e pa-lavras de ligaçãopara a coesão dotexto.

■ Ele deve es-crever textos auto-

explicativos, que serão lidos por quem não co-nhece o tema. Ao narrar uma festa à qual o lei-tor não foi, o escritor descreverá os personagense o ambiente em que a história se passa.

?Que atividadespodem serdesenvolvidas nolaboratório dePortuguês?

Alguns exercíciosdo laboratório sãosimples, outros dãomais trabalho.Movimente aospoucos os alunos,os professores e adireção de suaescola para montarum acervo delivros, revistas,dicionários, fitascassete (commúsica popularbrasileira) jornais e outros materiais.Veja algumassugestões deatividades.Hora do conto: oprofessor narrapara os alunoshistórias infanto-juvenis, folclóricas,fábulas, contos defadas ou outros. Roda de leitura:um aluno lê em vozalta uma crônica,um conto ou ocapítulo de umromance, depoiscomenta e discute otexto com oscolegas que oouviram. Encontro com apoesia: leitura depoemas.Círculo de leitores:empréstimo e trocade livros. Feira de livros:com livros novos e usados.

Dic

a

Dobre uma folha de papel em trêscolunas verticais. Na primeira, a turmaescreve nomes. Na segunda, ações.Na terceira, lugares. Abra o papel efaça frases com os três elementos.É uma forma divertida de ensinar oconceito de sujeito, verbo e adjunto adverbial.

Como avaliar oaproveitamentoescolar

É possível determinar alguns critérios deavaliação para o primeiro e segundo ciclos noestudo da Língua Portuguesa.

No primeiro ciclo■ O aluno deve ser capaz de narrar histórias

sem perder o encadeamento e a seqüência cro-nológica. O esperado é que ele narre uma histó-ria conhecida, ou um fato que viveu, respeitan-do a ordem temporal e obedecendo a uma orde-nação lógica que torne o enredo compreensível.

■ O estudante deverá compreender, ainda,o sentido global dos textos lidos em voz altapor ele ou por outra pessoa. Deve mostrar quecompreendeu o sentido desse texto por meio