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TEIXEIRA, Anísio. Porque "Escola Nova". Boletim da Associação Bahiana de Educação. Salvador, n.1, 1930. p.2-30. ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE EDUCAÇÃO ___________________________________________________________________ BOLETIM Nº 1 PORQUE "ESCOLA NOVA"? POR ANISIO SPINOLA TEIXEIRA http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/nova.htm 1 de 12 22/04/2015 11:06

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  • TEIXEIRA, Ansio. Porque "Escola Nova". Boletim da Associao Bahiana de Educao.Salvador, n.1, 1930. p.2-30.

    ASSOCIAO BAHIANA DE EDUCAO

    ___________________________________________________________________

    BOLETIM N 1

    PORQUE "ESCOLA NOVA"?

    POR

    ANISIO SPINOLA TEIXEIRA

    http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/nova.htm

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  • Professor de Philosophia da Educao

    _________________________________________________________________________________

    BAHIA 1930

    Livraria e Typographia do Commercio

    Rua Silva Jardim, 85 Telep. C. 1260

    PORQUE "ESCOLA NOVA"?

    Anisio Spinola Teixeira

    Eu me proponho a discutir, hoje, aqui, o seguinteproblema: Porque escola nova? Porque toda essaagitao transformadora, e to custosa!.. de

    praticas e habitos j to queridos e que vinhamdando os seus resultados? Porque no satisfaz,

    nem pode satisfazer a "escola velha"?

    MOTIVOS SOCIAES DA RENOVAO

    ESCOLAR

    Natureza da civilizao moderna

    Para responder a essa pergunta, devemos, antes do mais, voltar os olhos ao derredr de ns e inquirir:que h de novo no mundo? Vivemos ns hoje como viviam os nossos antepassados?

    O cuidado benevolente de um amigo levou-me, outro dia, a visitar, em So Paulo, o museu Ypiranga, ofamoso museu paulista de historia e sciencias naturaes. Em uma de suas salas o observador encontra,construida em gesso, com um detalhe e uma perfeio notaveis, em miniatura, a cidade de S. Paulo em

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  • 1840. Apenas 89 anos atraz So Paulo era uma cidadesinha sertaneja, de casinhas brancas e solarescoloniaes, com algumas igrejas e conventos a assommarem, aqui e alli. Na longa galeria que noslevara at essa sala, alinham-se as "cadeirinhas" que serviam de transporte sua gente fidalga.

    A quem se detivr na observao, e quizer fazer nascer alli, numa reconstituio imaginativa, o S.Paulo moderno, no lhe parecer menos que milagre a immensa mudana.

    O "progresso" tomou conta da cidade e fez della o que ella hoje. Mas, que "progresso"? Naimaginao popular nelle que se resume o caracter da civilizao de nosso tempo. E em "progresso"ella v mais que tudo a transformao material do mundo. So as casas maiores e mais confortaveis. o transporte mais rapido e mais barato. So as ruas mais bonitas. a diverso mais interessante emais accessivel. a luz e agua mais faceis e melhores. So os jornaes e as publicaes maisnumerosos e mais bem feitos.

    Mas isso, tudo que faz o nosso tempo to differente do tempo dos nossos antepassados de 1840? isso e mais alguma cousa.

    Porque progredmos? Que foi que se deu no mundo para que podessemos, em to pouco tempo,mudar tanto que um romano teria menor surpreza em se encontrar na crte de Luiz XV, do que teria umcontemporaneo de Pedro I que surgisse hoje no Rio?

    O que se deu foi a applicao da sciencia civilizao humana. Materialmente, o nosso progresso filho das invenes e da machina. O homem conseguiu instrumentos para luctar contra a distancia,contra o tempo e contra a natureza. A sciencia experimental na sua applicao s cousas humanaspermittiu que uma serie de problemas fossem resolvidos e que crescessem essas enormes cidades queso a flr e o triumpho maior da civilizao.

    Mas, no foi s isso. O facto da sciencia trouxe comsigo uma nova mentalidade. Primeiro, determinouque a nova ordem de cousas de estavel e permanente passasse a dynamica. Tudo est a mudar e a setransformar. No ha alvo fixo. A experimentao scientifica um methodo de progresso litteralmenteillimitado. De sorte que o homem passou a tudo vr em funco dessa mobilidade. Tudo que elle faz um simples ensaio. Amanh ser differente. Elle ganhou o habito de mudar, de transformar-se, de"progredir", como se diz. E essa mudana e esse "progresso", o homem moderno o sente: elle que ofaz.

    Elle constre e reconstre o seu ambiente. E cada vez elle mais poderoso, nesse armar e desarmarde toda uma civilizao. Nesse seu grande afan, por tudo transformar, pareceu, primeira vista, que sa ordem material era attingida.

    A ordem social e moral, essas eram eternas e obedeciam a "verdades eternas" que no soffriam oschoques e contrachoques da sciencia experimental.

    Mas, o homem mais logico do que os seus philosophos.

    Com a nova civilizao material, feita e governada por elle, comeou a velha ordem social e moral a seabalar. Mudou a familia. Mudou a comunidade. Mudaram os habitos do homem e os seus costumes. Eraciocinava-se. Si em sciencia tudo tem o seu porque e a sua prova, prova e porque que se encontramnos resultados e nas consequencias dessa ou daquella applicao; si em sciencia tudo se subordina experiencia, para, sua luz, se resolver, porque tambem no subordinar o mundo moral e social mesma prova?

    E nisso que est a maior transformao de nossos dias.

    Si fosse somente o quadro externo da civilizao que estivesse a soffrer as mudanas de uma ordemmaterial essencialmente dynamica, no teriamos sino pequenos problemas technicos de ajustamento.No fundo teriamos a mesma civilizao de nosso avs, com a differena de nossa riqueza. Ontem cemde ns gozavamos vantagens materiaes de conforto, de bem-estar, de prazer, hoje cem mil de nstinhamos essas vantagens. Mas, o homem era o mesmo, com os mesmos habitos moraes, as mesmasdocilidades autoridade e o mesmo sentimento de permanente dependencia s cousas invisiveis que ogovernavam e dirigiam.

    No isso, entretanto, que succede. O periodo de reviso e reconstruco muito mais profundo emais universal. O homem est com responsabilidades novas em toda a sua vida. Elle ensaia no mundomoral e social, sino com a mesma audacia, por certo, sob o influxo dos mesmos principios que lhe

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  • permittem experimentar no mundo material. S um esclarecido e nitido porque, por elle visto e por ellesentido lhe podem determinar a sua aco. A velha ordem, pre-estabelecida, e que lhe era dictada pelaautoridade, seja ella religiosa ou tradicional, no lhe merece j respeito.

    O homem, assim como est reconstruindo o ambiente material em que vive, quer tambem reconstruir oambiente social e moral, luz dos mesmos processos de julgamento e de experiencia: o seu beneficiona terra onde vive.

    Nessa nova ordem de mudana constante e de permanente reviso, duas cousas resaltam que alteramprofundamente o conceito da velha escola tradicional:

    A. Precisamos preparar o homem para indagar e resolver por si os seus problemas;

    B. Temos que construir a nossa escola, no como preparao para um futuro conhecido, mas para umfuturo rigorosamente imprevisivel.

    TENDENCIAS DA CIVILIZAO DO NOSSO TEMPO

    Si a natureza da civilizao do nosso tempo o de uma civilizao esteiada na experimentaoscientifica, e, como tal, animada de um permanente impulso de movimento e continua reconstruco,nem por isso deixam de existir certas grandes tendencias, mais ou menos fixas, que marcam as linhasgeraes por onde a nossa evoluo se est processando.

    A primeira dessas directrizes deixamol-a apontada na nova attitude espiritual do homem. A velhaattitude de submisso, de medo e de desconfiana na natureza humana foi substituida por uma attitudede segurana, de optimismo e de coragem diante da vida. O methodo experimental reivindicou aefficacia do pensamento humano.

    Por certo, no substitue elle o velho dogmatismo das "verdades eternas". Antes toda verdade passou aser eminentemente transitoria. Mas, dentro dos limites da prova experimental, o que o homem pensaest certo. Um facto novo, uma prova mais cabal e experimental que se corrigiu a si mesmo. As suasconcluses podem ser e so falliveis, mas o methodo sempre digno de confiana. O acto de f dohomem moderno esclarecido no repousa nas concluses da sciencia, repousa no methodo scientifico.Elle que est dando a ns, modernos, um senso novo de segurana e de responsabilidade. Desegurana, porque, graas a elle, podemos construir a civilizao progressiva que estamos iniciando,toda feita pelo homem e para o homem. Porque, graas a elle, ganhamos o governo da natureza e doselementos e podemos ordenal-os para o maior beneficio do homem. Temos ainda inimigos somosainda vencidos, ahi temos as molestias e os cataclysmas - mas sabemos porque somos vencidos etemos esperana de dominar e de conquistar, um dia, esses ultimos obstaculos.

    Esse "novo senso de segurana" e de independencia acompanhado de um novo sentido deresponsabilidade. O homem moderno sabe que pode mudar as cousas e sabe que deve mudal-as. Ohomem antigo podia ser um irresponsavel. A ordem em que elle vivia lhe era dictada por auctoridadeestranha e superior. A vida era um castigo e o homem era mo, viceralmente mo. Tudo era permitido.Tudo se tolerava. A um homem fraco e mo e a uma natureza inclemente e aspera, no havia limites acriar.

    Nem sempre podemos vr com a clareza que o caso exige, como s agora, o progresso, o realprogresso do homem comea a ser possivel.

    Quantos de ns ainda crmos que a vida no mudar essencialmente, que a guerra sempre estarentre ns, que o crime e a molestia sempre flagellaro o homem! Entretanto, quando percebemos ques ontem comeamos a progredir, que no conhecemos ainda nem o decimo millionesimo do quepoderemos e precisamos conhecer, que estamos realmente iniciando uma "nova ordem de cousas",como vemos, pelo contrario, que s um sopro de robusto e organico optmismo que nos deve animardiante da rapidez com que o homem est refazendo a vida, para sua maior tranquilidade, seu maiorbem estar, sua maior dignidade e a sua maior felicidade.

    Outros podero achar que, em outros tempos, nesses outros sempre dourados tempos do passado, ohomem foi mais sacrificado e mais honesto. De mim, eu s reconheo um credito aos que meprecederam: elles soffreram mais do que ns e por isso tudo lhes deve ser perdoado.

    Maior sinceridade, porm, um desejo mais lucido pela effectiva melhoria da vida do homem na terra, umsentido de responsabilidade mais agudo pelo que resta a fazer, um espirito maior de sacrificio e de

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  • heroismo pela conquista objectiva do progresso, ninguem os teve como os tem o homem moderno.

    essa a nova attitude espiritual: a sciencia tornou possvel o bem do homem nesta terra e ns temos aresponsabilidade de realizal-o, pela reviso completa da velha ordem tradicional do "valle de lagrimas".Esse novo homem, independente e responsavel, o que a nova escola deve vir preparar.

    A segunda grande directriz da vida moderna, o industrialismo, como a nova viso intellectual dohomem, tambem filho da sciencia e da sua applicao vida.

    A industria est tornando possvel a completa explorao dos recursos materiaes do planeta e mais doque isto est articulando e integrando a terra inteira. Graas machina, no somente, o homemmultiplicou o rendimento de seu trabalho na America, o trabalho actual de um homem equivale ao de40 homens physicamente validos, como, pela facilidade do transporte e da communicao, criou umanova interdependencia entre todos os pontos do globo. No somente somos immensamente mais ricos.Temos alm disto um sentimento novo da nossa profunda dependencia dos demais centros deproduco ou de cultura.

    A industria est integrando o mundo inteiro em um todo inter-dependente. No s a materia prima, masa ida e o pensamento hoje so propriedades communs de todo o homem. O vapor, o trem, oautomovel e o aeroplano, como o telegrapho, o telephone e o radio, pem todo o mundo emcomunicao material e espiritual.

    Essa enorme unidade planetaria, apenas esboada, ha-de se reflectir profundamente na mentalidadedo homem moderno, que tem que pensar em termos muito mais largos do que o do seu esplendidoisolamento local ou nacional de outros tempos.

    A "grande sociedade" est a se constituir e o homem deve ser preparado para ser um membroresponsavel e intelligente desse novo organismo.

    Mais perto de ns, porm, um outro effeito da industria o de retirar familia as suas antigas funceseconmicas. Uma por uma as velhas funes caseiras do preparo da roupa, de alimento, da diverso,etc., foram destacadas para a fabrica ou para a industria.

    A familia com isso se est alterando profundamente. O homem moderno no trabalha em casa e no sediverte em casa. Em centros muito adiantados, o antigo lar, to decantado, no mais do que o "logaronde alguns individuos voltam, noite, para dormir".

    Um outro aspecto o da super-especializao do trabalho na grande industria. O trabalho torna-se comisto uma simples tarefa, desintegrada na vida do homem, que sente, assim, cada vez mais, que elle uma simples "pea da machina," no havendo logar para pensar, nem para ter essa natural satisfaode saber o que est fazendo e que o que est fazendo vale a pena.

    Dessa desintegrao das pequenas unidades anteriores o trabalho individual, o lar, a cidade e apropria nao at a vinda da grande integrao da "grande sociedade," muitos problemas tm de serresolvidos e mais uma vez se ha-de exigir do homem mais liberdade, mais intelligencia, maiscomprehenso, si que no queremos ficar em uma simples interdependencia mechanica edegradante.

    E todos esses problemas, so problemas para a educao resolver.

    A terceira grande tendencia do mundo contemporaneo, a tendencia democratica. Democracia essencialmente esse modo de vida social em que "cada individuo conta como uma pessa". O respeitopela personalidade humana a ida mais profunda dessa grande corrente moderna.

    Nessa nova vida social, o homem no s ter opportunidade para a expresso maxima dos seusvalores, como lhe assistir permanentemente o dever de se exprimir de sorte a no reprimir valores deninguem, mas, antes facilitando a maxima expresso de todos elles.

    curioso notar que de todas as correntes modernas, essa de "respeito pelos homens ou democracia" a que mais de longe se filia sciencia. No falta quem diga que antes a ella se oppe. Mas,

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  • democracia acima de tudo um modo de vida, uma expresso ethica da vida, e tudo leva a crr que ohomem nunca se encontrar satisfeito com nenhuma forma de vida social, que negue essencialmente ademocracia.

    Dois deveres se desprendem dessa tendencia moderna e se reflectem profundamente em educao: ohomem deve ser capaz, economicamente e individualmente e o homem deve se sentir responsavelpelo bem social. Personalidade e cooperao so os dois polos dessa nova formao humana que ademocracia exige.

    A ESCOLA E A SOCIEDADE

    Resumindo, ns temos que graas ao desenvolvimento da sciencia e sua applicao vida humana,ns entramos em uma phase de movimento e de transformao continua.

    No s as condies materiaes da vida mudam dia a dia, como sobretudo a viso do homem sobre avida.

    Nesse aspecto, ressalta hoje acima de qualquer outro, o seu desapego aos velhos systemasautoritarios do passado, sejam elles tradicionaes ou religiosos. Esse movimento muito maispronunciado entre os moos. A noo actual de liberdade envolve, caracteristicamente, essacapacidade de se orientar exclusivamente por uma autoridade interna.

    Nenhuma autoridade exterior hoje acceita. As idas e os factos so examinados nos seus meritos eresolvidos de accordo com as luzes da razo de cada um.

    Estamos a iniciar uma civilizao, essencialmente dynamica, onde o "progresso material" promette tudovir a mudar, em escala cada vez mais crescente, e onde a viso social e moral soffre, naturalmente,transformaes correspondentes.

    Esse novo homem, com novos habitos de adaptabilidade e ajustamento, no pode ser formado pelamaneira estatica da escola tradicional que desconhecia o maior facto da vida contemporanea: aprogresso geometrica com que a vida est a mudar, desde que se abriu o cyclo das invenes.

    Ns podemos perceber a nova finalidade da escola, quando reflectirmos que ella deve hoje prepararcada homem para ser um individuo que pense e que se dirija, por si, em uma ordem social, intellectuale industrial eminentemente complexa e mutavel. Antes a escola supplementava com algumasinformaes dogmaticas uma educao que o lar e a communidade ministravam ao individuo, em umaordem, por assim dizer, estatica de cousas. Toda educao consistia em ensinar a seguir e a obedecer.

    Hoje, sem nenhum exaggero, si quizermos que a nova ordem de cousas funccione com harmonia eintegrao, precisamos que cada homem tenha as qualidades de um leader. Pelo menos a si elle temque guiar, e o tem que fazer com mais intelligencia, mais agilidade, mais hospitalidade para o novo eimprevisto, do que os velhos leaders autoritarios de outros tempos.

    No seriam, pois, precisas outras razes que as da profunda modificao social porque vamospassando, para justificar a alterao profunda da velha escola tradicional preparatoria e supplementar para a escola nova de educao integral.

    A ESCOLA TRADICIONAL E SEUSPRESUPPOSTOS

    A escola uma replica da sociedade a que ella serve. A escola tradicional era a replica da sociedadevelha que estamos vendo desapparecer.

    facil desmontal-a e mostrar como todos os presuppostos em que ella se baseava foram alteradospela nova ordem de cousas e pelo novo espirito de nossa civilizao.

    A escola nova no pretende, por sua vez, se apoiar sino nesses factos e nessa nova mentalidade.Como a escola tradicional, ella a replica da sociedade renovada em que vivemos.

    I A escola presuppoz, e com razo, que a educao se fazia no lar e na vida da communidade,cabendo-lhe, to somente, supplemental-a, dando opportunidade para a acquisio dos instrumentosfundamentaes da cultura: lr, escrever e contar; e, mais de informaes e factos de natureza livresca,que o alumno assimillaria e mais tarde poria em pratica.

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  • II A escola presuppoz uma ordem estatica para o mundo, cabendo-lhe preparar a criana paracumprir quando adulta o seu papel, que substancialmente seria o mesmo de seus pais.

    III A escola presuppoz que, no interesse da tranquillidade, ella deveria manter, pelo dogmatismointransigente de seu ensino, as approvadas attitudes sociaes ou moraes ou religiosas. To bemandaram as escolas nessas funces, que Igreja e Estado, geralmente, porfiavam por seu controle,certos de que esse seria o melhor modo de garantir a permanencia de seus crdos religiosos oupatrioticos.

    IV De accrdo com essa theoria, a escola presuppoz que no tinha mais que ensinar s crianascertas technicas e certos factos e certos modos de proceder, que as preparassem para o periodo deadulto, futuro que se suppunha perfeitamente conhecido.

    Assim a escola, nada mais era do que uma casa onde as crianas aprendiam o que lhes era ensinado,decorando as lices que os professores marcavam, depois tomavam, e que lhes forneciam elementosde informao e saber, que, s mais tarde elles deveriam utilizar.

    Todas as noes, mesmo pedagogicas, relativas escola velha se prendem a esses presuppostos:

    Estudo o modo de apprender uma lico. Apprender, significa acceitar e fixar na memoria ou nohabito um facto ou uma habilidade. Ensinar, simplesmente uma doutrinao daquelles factos ouconceitos. O cyclo era simples: professor preleccionava, marcava a seguir a lico e tomava-a no diaseguinte. Os livros eram feitos adrede, em lices. Os programmas determinavam o periodo para sevencerem taes e taes lices. Exames, que verificavam si os livros ficaram apprendidos, condicionavamas promoes. O alumno bom era o mais docil a essa disciplina, aquelle que melhor se adaptava aesse processo livresco de se preparar para o futuro.

    A INDISPENSAVEL RENOVAO ESCOLAR

    Ora, tal escola, simplesmente supplementar e preparatoria inadequada para a situao em que nosachamos.

    E o , sobretudo, porque a educao que a criana recebia directamente da familia e da communidadeperderam o seu antigo caracter de efficiencia e integrao. E os deveres que cabiam antes a essasduas foras educativas, vieram accrescer os primeiros deveres puramente supplementares da escola.

    Porque, observae bem, nunca se deixou de julgar que a criana se educa, vivendo. Era a sua vidafamiliar a sua vida social que a educavam. A escola simplesmente ensinava certas artes e certosconhecimentos necessarios l para fra onde a sua vida transcorria.

    Mas, hoje a vida de familia se desintegrou na sua harmonia de agencia educadora e a vida socialtornou-se to eminentemente complexa que offerece criana, para sua viso e analyse, apenasaspectos fragmentrios do seu todo; e por outro lado, essas instituies ganharam uma certavelocidade de transformao, que lhes no permittem ser conscientes de sua aco educativa. No sessa aco mais vaga e menos directa, como a celeridade de transformao lhes impede deexercel-a com lucidez e consciencia.

    A necessidade, pois, da escola tomar em grande parte, a si, as funces da familia e do meio socialcorresponde a uma verdadeira premencia dos nossos tempos, si quizermos dar s nossas crianasuma chance de se adaptarem e se ajustarem ordem social do nosso vertiginoso presente.

    Dahi esse relevo impressionante que ganhou o movimento educativo. Estamos com responsabilidadesdobradas, diante do fracasso porque as velhas agencias tradicionaes de educao esto passandocom o advento da nossa era. E essas responsabilidades se reflectem sobretudo nos responsaveis pelaeducao escolar, porque s esses podem reorganizar os seus institutos para o fim de servirem snovas funces que lhe dita o nosso momento de civilizao.

    Essa reorganizao importa em nada menos do que trazer a vida para a escola. A escola deve vir a sero logar onde a criana venha viver plenamente e integradamente. S, vivendo, a criana poder ganharos habitos moraes e sociaes de que ella precisa para ter uma vida feliz e integrada em um maiodynamico e flexivel tal qual o nosso.

    Si a escola deve hoje mais do que informar e ensinar algumas artes uteis, preparar a criana para serba, servial, operosa, tolerante e forte, como pode ella obter tudo isso pelo velho systema de

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  • disciplina e lices? Como posso eu marcar uma lico de bondade, uma lico de tolerancia, desympathia, de enthusiasmo? S uma situao real de vida pode fazer com que a criana apprendaessas attitudes sociaes indispensaveis vida moderna.

    A nova escola precisa dar criana no somente um mundo de informaes singularmente maior doque o da velha escola s absoluta necessidade de ensinar sciencia era bastante para transformal-a como ainda lhe cabe o dever de apparelhar a criana para ter uma attitude critica de intelligencia: parasaber julgar e pezar as cousas, com hospitalidade mas sem credulidade excessiva; para saber discernirna formidavel complexidade da integrao industrial moderna as tendencias dominadoras,discernimento que lhe habituar a no perder sua individualidade e ater consciencia do que vaepassando sobre ella pelo mundo afra: e ainda, para sentir, com lucida objectividade, ainterdependencia geral do planeta e a necessidade de conciliar o nacionalismo com a concepo maisvigorosa da unidade economia e social de todo o mundo.

    Isso com respeito ao proprio aspecto externo da civilizao. E com relao ao que poderiamos chamara sua estructura espiritual, com relao ao espirito democratico moderno?

    Primeiro, a escola deve prover opportunidade para a pratica da democracia: o regime social em quecada individuo conta plenamente como uma pessa. Democracia na escola importa em democraciapara o mestre e democracia para o alumno, isto : um regime que procure dar ao mestre e aosalumnos o maximo de direco propria e de participao nas responsabilidades de sua vida commum.

    Segundo, como democracia acima de tudo o modo moral de vida do homem moderno, a sua ethicasocial, a criana deve ganhar atravez da escola, esse sentido de independencia e direco, que lhepermitta viver com outros com a maxima tolerancia, sem entretanto perder a sua personalidade.

    Devemos ter sempre presentes que a escola no vae dar solues j feitas nossa juventude. Tudoque podemos fazer dar-lhe methodo e juizo para ella luctar com os problemas que vae encontrar edar-lhe o sentido de responsabilidade social que lhe assiste na soluo desses problemas.

    Em democracia no ha sino uma tendencia fixa: a busca do maior bem do homem. Como tal ella essencialmente progressiva e livre e para o exercicio dessa frma social progressiva e livreprecisam-se de homens conscientes, informados e capazes de resolverem os seus proprios problemas.

    esse o fim da escola, nesse respeito: ajudar os nossos jovens, em um meio social liberal, a resolveros seus problemas moraes e humanos.

    Que enormes pois so as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir, formarhomens livres em vez de homens doceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez detransmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais intelligencia, com mais tolerancia, maisfinamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou tresinstrumentos de cultura e alguns manuaesinhos escolares.

    Para essa finalidade, s um novo programma, um novo methodo, um novo professor e uma novaescola podem bastar.

    MOTIVOS PEDAGOGICOS DA RENOVAO ESCOLARA nova concepo de apprendizagem

    At o presente, nada mais fizemos do que insistir nas exigencias novas que uma ordem social faz sobrea escola.

    Como a escola deve ser uma replica da sociedade a que ella serve, urge reformar a escola para queella possa acompanhar o avano "material" de nossa civilizao e preparar uma mentalidade que morale espiritualmente se ajuste com a presente ordem de cousas. Alem disso, porm, uma viso maisaguda do acto de aprender, vem em muito, alterar a psychologia da velha escola tradicional.

    Apprender, significou durante muito tempo simples memorizao de formulas obtidas pelos adultos. Ovelho processo catechetico de pergunta e resposta um exemplo impressionante disto. Decorar umlivro era apprendel-o. Mais tarde, comeou-se a exigir que se comprehendesse o que era decorado. Umpasso mais, foi o de exigir do alumno que elle repetisse, com palavras proprias o que se achaformulado nos livros. No bastava decorar, no bastava comprehender, era ainda necessario aexpresso verbal pessoal, ento assim estava apprendido o assumpto.

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  • Pois isso que a nova psychologia veiu provar ser ainda insufficiente. No isso ainda apprender.Fixar, comprehender e exprimir verbalmente um conhecimento no tel-o apprendido. Apprendersignifica ganhar um modo de agir. Isso dito assim parece excessivamente limitado. Para muitahabilidade puramente mechanica, no h duvida. Apprender significa a acquisio de uma determinadahabilidade. Mas, uma ida? Apprende-se uma ida ganhando um novo modo de proceder ou agir? exactamente isso que se d. Ns apprendemos, quando assimillamos uma cousa de tal geito, quechegado o momento opportuno ns sabemos agir de accrdo com o apprendido. A palavra agir temvulgarmente um sentido estreito de aco material. Mas um acto sempre uma reaco a umasituao em que nos encontramos. Ns reagimos contra estimulos que recebemos atravez os nossossentidos internos ou externos. E o que apprendemos sempre uma forma especial de reaco.

    Quando que ns apprendemos dois mais dois so quatro? Quando diante de qualquer situao quesuggira esta resposta, o nosso organismo a d fatalmente. O que apprendemos tem assim uma forade projeco que nos fora a reagir daquelle modo diante, supponhamos da pergunta: 2 x 2 igual aque?

    Ora, do mesmo modo que ganhamos essa resposta especifica para essa situao, do mesmo modoapprendemos qualquer outra cousa. Uma habilidade, uma idea, uma emoo, uma attitude, um ideal,apprendemol-o do mesmo modo, fixando uma certa reaco do nosso organismo a uma certa cousa.

    No apprendi uma ida quando apenas a sei formular, mas quando o fiz de tal modo minha, que ellapassa fazer parte do meu organismo e exigir de mim, quasi automaticamente, uma reaco ou umaserie de reaces especiaes.

    Logo, no se apprende sino aquillo que se pratica. Apprender um processo activo de reagir a certascousas, seleccionar as reaces appropriadas e fixal-as depois em nosso organismo. No se apprendepor simples absorpo.

    AS LEIS DA APPRENDIZAGEM

    Assim ns chegamos hoje a fixar certas interpretaes geraes do acto de apprender que chamamos de"leis".

    As duas leis mais importantes so a de pratica e effeito e de inclinao (readiness).

    Pela primeira se quer dizer que apprendemos, pela pratica, certas reaces que causam certos effeitose no apprendemos outras. As reaces que so satisfactorias, tendemos a repetil-as e apprendel-as.As reaces que no nos satisfazem, tendemos a no as repetir e portanto a no as apprender.

    A lei da inclinao completa essa ultima lei. Pode-se definil-a: quando um individuo est inclinado a agirde um certo modo, agir satisfaz e no agir aborrece. Quando, um individuo no est inclinado a agir deum certo modo, no agir satisfaz e agir aborrece.

    A primeira fonte da apprendizagem est nas necessidades physicas, intellectuaes ou moraes do nossoorganismo. Taes necessidades, no homem, so immensamente variaveis e dependentes do ambientesocial, dos habitos, das attitudes e das informaes que tem o individuo que apprende.

    Mas, o mais importante, para ns no momento, notar como o acto de apprender dependeprofundamente de uma situao real de experiencia onde possamos praticar, tal qual na vida, asreaces que devemos apprender e, no menos profundamente, do proposito em que estiver o alumnode apprender essa ou aquella cousa.

    Uma situao real de experiencia No se apprendem somente idas ou factos, apprendem-se aindaattitudes, idas, appreciaes. Para apprender uma ida, eu posso preparar mesmo na escolatradicional um ambiente efficaz. Devo, apenas, preparar as condies para o exercicio daquelleconhecimento novo a agua composta de oxygenio e hydrogenio, por exemplo e praticar com acriana at que ella apprenda.

    Mas si eu quizer ensinar a uma criana a ser ba, no ha meio de fazel-a praticar bondade e ter assatisfaes que o exercicio de bondade poder trazer, sem que, na escola, haja condies sociaes reaesque desenvolvam esse sentimento de bondade.

    No se pode praticar tolerancia ou bondade, como se pratica arithmetica.

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  • Logo, si a escola quer ter uma funco integral de educao, ella deve organizar-se de sorte que acriana encontre ahi um ambiente social em que ella viva plenamente. A escola no pode ser umasimples classe de exercicios intellectuaes especializados.

    Assim, a nova psychologia de apprendizagem que obriga a renovar a escola em um centro onde seprepara para viver.

    Proposito ou intento do alumno A lei do effeito nos diz que no apprendemos tudo que praticamos,mas aquillo que nos d prazer ou satisfao.

    Esse prazer ou satisfao dependem, porm, essencialmente do proposito ou intento do individuo quevae apprender. Si eu quero apprender a fazer uma certa carambola ao bilhar e passo a exercitar-mecom as bolas, tanto me aproveito com os golpes errados quanto com os certos. Os primeiros golpes eudesapprendo de fazer e os segundos, os certos, eu os apprendo.

    O proposito ou intento de apprender os segundos fez-me apprendel-os.

    O mesmo succede com relao aos demais actos de apprender. O desejo do alumno, o seu interesse,para usar a palavra consagrada, orienta o que se vae apprender.

    Outro aspecto tremendamente importante da nova psychologia do acto de apprender, que no seapprende nunca uma s cousa.

    Imaginemos uma criana que apprende a escrever. Toda sua actividade physica est empenhada nisto.Os musculos do brao e da mo, a cabea, o Pescoo, o tronco, tudo est em movimento. Variassensaes de presso, esforo, de respirao, elle est experimentando. Toda sua actividade mentaltambem trabalha. Elle observa, recorda, imagina, planeja processos especiaes, experimenta de ummodo e de outro. Mais do que isso, porem elle sente. Pode estar satisfeito ou aborrecido, esperanadoou desanimado. Para com o escrever, para com a classe, para com os collegas, para com o professor epara com a propria vida, elle est alli experimentando uma attitude favoravel ou desfavoravel que lheser util ou prejudicial.

    De sorte que se apprende no s o objecto primario, que se queria apprender, como varias outrascousas associadas ou concomitantes, o que torna o acto de apprender summamente complexo.

    Muitas vezes isso que se est apprendendo, concomitantemente ou por associao, mais importantedo que o objecto directo do estudo. Ora, a escola tradicional nunca percebeu que, em uma licosimplesmente de arithmetica, ella podia estar ensinando a crianas a no ter coragem, a no sersociaes, a alimentar complexos de inferioridade, etc, de que ellas iriam soffrer por toda a vida.

    Ento vemos como a velha escola, onde as crianas iam para fazer aquillo que no queriam, com umadisciplina semi-militar, est profundamente inadequada no s para a sociedade presente, como para apropria concepo moderna da apprendizagem.

    A ESCOLA NOVA

    Diante de tudo isto de que escolas precisamos ns?

    Conforme Kilpatrick, a escola que pode satisfazer as exigencias sociaes e pedagogicas que apontamosatraz, deve ser:

    1 Uma escola de vida e de experiencia para que sejam possiveis as verdadeiras condies do acto deapprender.

    2 Uma escola onde os alumnos so activos e onde os projectos formem a unidade typica do processoda apprendizagem. S uma actividade querida e projectada pelos allumnos pode fazer da vida escolaruma vida que elles sintam que vale a pena viver.

    3 Uma escola onde os professores sympathisem com as crianas sabendo que s atravez daactividade progressiva dos alumnos podem elles se educar, isto , crescer; e que saibam ainda quecrescer; ganhar cada vez melhores e mais adequados meios de realizar a propria personalidadedentro do meio social onde o alumno vive.

    Essa escola totalmente diversa da escola tradicional, onde os alumnos recebem uma tarefa e soffrem

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  • uma ordem imposta externamente.

    Para a nova escola, as materias a propria vida, distribuida por "centros de interesse ou projectos".Estudo o esforo para resolver um problema ou executar um projecto. Ensinar guiar o alumnona sua actividade e dar-lhe os recursos que a experiencia humana j obteve para lhe facilitar eeconomizar esforos.

    Nesta palestra, estamos mais empenhados em analysar as razes da escola nova e a sua estructuraque os detalhes de sua organizao.

    Os motivos sociaes e pedagogicos da renovao escolar ficaram sublinhados nos primeiros topicos.Cabe-nos, para encerrar o nosso trabalho, commentar as bases da escola nova, traadas por Kilpatricke que, em subtancia, so as mesmas que traam os diversos reorganizadores modernos da escola.

    ESCOLA DE VIDA E DE EXPERIENCIA

    O phenomeno educativo, na phrase de Dewey, a reconstruco da experiencia, luz dasexperiencias passadas, para melhor e mais rico controle da situao. Diante dessa concepo,confirmada pela presente psychologia, o processo educativo se opera em uma situao real de vida,onde o que apprendido funcciona com seu proprio caracter e produz as suas naturaesconsequencias. Alem disto, para que a apprendizagem seja integradora, o que vale dizer educativa, asituao escolar e a vida do alumno devem se ajustar e harmonizar como um todo continuo.

    Diante disto, como organizar a escola sob a base de materias a estudar? A unica materia para a escola a propria vida, guiada com intelligencia e discriminao, de modo que a faamos progressiva eascencional.

    Est claro que no vamos fazer a criana repetir a experiencia racial toda desde o principio. Isso seria,como diz Dewey, simplesmente estupido, porque impossvel. As experiencias e as actividadesescolares ho-de ser sempre seleccionadas e para ellas o concurso da experiencia do passado sempreinestimavel.

    Seleco e organizao das experiencias escolares no representar, porem, nunca dar promptinhoss crianas os resultados formulados pelos adultos em seus compendios finaes.

    Imaginemos que algumas crianas desejam fazer uma repreza. Est ahi uma actividade que delles eque representa uma situao real de vida, porque elles, varias vezes, foram at esse pequeno rio esempre cogitaram de ter alli um reservatorio dagua maior para que pudessem tomar banho,supponhamos.

    Mettem mos obra. O professor suggere estudar o assumpto. Antes delles toda a humanidade fezreprezas. Os meninos vo buscar livros, examinam, averiguam, apprendem. Ahi est como aexperiencia j ganha da raa entra na actividade escolar.

    Est ahi como os livros podem e devem ser utilizados. Nem por isso a situao deixou de ser umasituao real de vida e de experiencia.

    Si a propria concepo da apprendizagem impe hoje essa organizao escolar, que diremos sireflectirmos sobre as novas funces sociaes da escola? Como pode uma escola que no seja,realmente, de vida, dar criana os habitos sociaes que, conforme as nossas consideraesanteriores, so indispensaveis ao proprio bem estar da communidade democratica em que vivemos?

    ALUMNOS ACTIVOS

    Corollario immediato de uma escola de experiencia e de vida que os alumnos sejam activos. Em vezda velha escola de ouvir, a nova escola de actividade e de trabalho.

    No basta, porem, que os alumnos sejam activos. necessario que elles escolham as suasactividades. Vimos o papel que tem na apprendizagem o intento, o proposito e o interesse do alumno.Si s se apprende aquillo que a criana entende, em cada caso, como successo summamenteimportante.

    Ponhamos uma criana a praticar tennis. Si ella no tem interesse no jogo e no quizer apprender taese determinados golpes, poder exercitar toda sua vida e nada apprender. Os insuccessos no lhe

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  • aborrecem, nem lhe do prazer os successos. Umas e outras experiencias lhe passaro peloorganismo sem nelle deixar mssa. Possivelmente apprender uma poro de cousas. Mas associadasou concomitantes. Desgsto pelo sport, m-vontade contra o professor, etc. etc.

    No precisamos, pois, insistir no ponto. indispensavel, como diz Claparde que as crianas si nofazem tudo que qurem, queiram tudo que fazem.

    Podemos resumir, com Kilpatrick: "tanto que um activo interesse guie os alumnos a se empenharem ememprehendimentos adequados nem muito difficeis nem muito faceis melhor probabilidade desuccesso haver, com todos os bons effeitos que o successo traz; melhores sero as condies daapprendizagem total; e melhor ser a organizao escolar resultante".

    S em uma vida onde todos trabalham com o sentimento de que participam, como individuos, daactividade collectiva, que tambem a sua, podemos ns realizar as condies de responsabilidade ede prazer que so indispensaveis para o crescimento educativo dos alumnos e para a sua preparaopara a participao na sociedade adulta.

    OS MESTRES DA NOVA ESCOLA

    Toda educao at hoje foi autocratica! Os mestres soffriam a autocracia dos administradores, e ascrianas as dos mestres. Na reorganizao democratica das escolas, a uns e outros temos que darindependencia. Educar uma arte to alta que no se pde subordinar aos methodos de imposio dassimples tarefas mechanicas. Mestres e alumnos trabalharo em liberdade e luz do que o philosopho escientista esclarecerem sobre a profisso dos primeiros e o labr dos ultimos.

    Mas assim como o administrador deve confiar no mestre, deve o mestre confiar no alumno. Perca ellepara sempre a ida de que lhe cabe qualquer soberania sobre o pensamento do seu discipulo. D-lheopportunidade para pensar e julgar por si. Os problemas delle s podero ser resolvidos por elle. Ellevae viver a vida um passo adiante de ns. Com as novas responsabilidades que elle vae assumir,demos-lhe nova liberdade de pensar.

    No passe pela cabea de ninguem que isso seja completa anarchia. To habituados estamos a impras nossas formulas, que, parece, que o dia em que ellas desapparecerem, desapparecer a ordem.

    Lembremos que estamos passando de uma civilizao baseada em uma autoridade externa, para umacivilizao baseada na autoridade interna de cada um de ns.

    E nessa nova civilizao, o que desejamos uma vida melhor e mais ampla. A unica finalidade da vida mais vida. Si me perguntarem, o que essa vida, eu lhes direi que a liberdade e a felicidade. Sovagos os termos. Mas, nem por isso elles deixam de ter sentido para cada um de ns. A medida queformos mais livres, que abrangermos em nosso corao e em nossa intelligencia mais cousas, que ()

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