Por uma Política de Redução do Consumo de Drogas e da violência: Pressupostos Essenciais Sérgio...
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Por uma Política de Redução do Consumo de Drogas e da violência: Pressupostos
Essenciais
Sérgio de Paula Ramos
Psiquiatra e Psicanalista
Doutor em Medicina pela UNIFESP
Presidente da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas (ABEAD)
Coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus de Porto Alegre
J. Snow e a
Prevenção do Cólera
O caso da bomba d’água de Broad Street
Entre 1845-1852 a Southpark and Vauxhall Water Company e a Lambeth Waterworks Company distribuiram água poluída do rio Tamisa. Em 1852 a Lambeth desloca o seu ponto de captação de água para uma posição a montante, permitindo a distribuição de água mais limpa, isto é, com melhor perfil microbiológico. A concorrente Southpark manteve o mesmo ponto de captação.
Companhia Fornecedora
População em 1851
Número de mortes por Cólera
Taxa de mortalidade por 100.000 habitantes
SouthWark 167.654 844 5,0
Lambeth 19.133 18 0,9
Álcool e Violência
36,2% dos suicidas tem alcoolemia + (Carlini-Cotrim, 1998)
47,7% das pessoas que se envolveram em agressões físicas nos últimos 12 meses disseram-se sob efeito do álcool (Wells & Graham, 2003)
55,7% das mulheres agredidas, em casa, pelos maridos, informaram que o mesmo estava alcoolizado no momento da agressão ( Lemes, 2001)
72,6% dos processos criminais o autor ou a vítima estavam alcoolizados (Duarte, 2000)
81,8% das vítimas fatais em acidentes de trânsito apresentaram alcoolemia + (Oliveira, 1997)
O Álcool é hoje, para a violência, o que a água daquele poço foi
para o Cólera
Droga % Álcool M: 77,3
F: 60,6 Nicotina (Tabaco) M: 46,2
F: 36,3 Qqr outra droga M+F: 19,4
Fonte: Carlini et al., 2002
Prevalência de uso na vida de álcool, nicotina (tabaco) e “outras drogas” nas 107 cidades do Brasil com mais de 200 mil habitantes
PREVALÊNCIA DE USO NA VIDA DE “OUTRAS DROGAS” (OU SEJA, QUE
NÃO ÁLCOOL E NICOTINA) NAS 107 CIDADES DO BRASIL COM MAIS DE
200 MIL HABITANTES
Droga %
Maconha 6,9 Solventes 5,8 Orexígenos 4,3 Benzodiazepínicos 3,3 Cocaína 2,3 Xaropes 2,0 Estimulantes 1,5 Opiáceos 1,4 Anticolinérgicos 1,1 Alucinógenos 0,6 Barbitúricos 0,5 Crack 0,4 Esteróides 0,3 Merla 0,2 Heroína 0,1
Fonte: Carlini et al., 2002
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1987 1989 1993 1997 2002
álcool tabaco maconha solventes cocaina
Evolução da prevalência de consumo de álcool, nicotina, maconha e cocaína, em adolescentes escolarizados na rede pública de ensino na cidade de Porto Alegre, nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997 CEBRID e (Ramos &
Saibro, 2002)
Porcentagem de moradores, nos EUA, que reportaram uso de drogas ilícitas no últimomês, por grupo etário, 1991-1998
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idade 18-25
idade 12-17
idade 26-34
idade 35+
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O uso de drogas e a história pessoalEstudos longitudinais sugerem a seguinte ordem
temporal
Pré-escola
3o grau
Pequenos atos delinqüentes
Uso de álcool e tabaco
Atos delinqüentes + sérios
Uso de maconha
Uso de outras drogas
Comportamento antisocial persistente
Minha marcha pessoal:
1) As palestras em escolas e empresas (início dos anos 80)
2) O Projeto Valorização da Vida (1987)
3) A capacitação do Professor como agente de Prevenção(90)4) O Projeto Veranópolis (2004)
6) A rede de pais, a inclusão do entorno social e os “novos” paradigmas (2006)
5) O ativismo político para a mudança das políticas públicas (2005 a…)
Faces de uma Política
Redução doacesso
prevenção
oferta X procura
Por uma Política Efetiva sobre o Álcool
1) Bebidas alcoólicas não deveriam ser consideradas como um bem de consumo qualquer, mas sim como algo que causa problemas econômicos, sociais e de saúde para o bebedor e para a sociedade como um todo
2) Os problemas gerados pelo consumo de álcool são maiores que o alcoolismo.
Principais Metas
1. Afetar o mercado do álcool
2. O nível e os padrões de consumo
3. A ocorrência de problemas álcool-relacionados
Melhores Práticas (Babor, 2003)
• Idade mínima para a compra de álcool
• Monopólio governamental para a venda de álcool
• Restrições de horário para a venda de álcool
• Restrições a densidade de bares
• Taxação álcool - PREÇO
•Pontos de checagem de sobriedade
•Diminuir limites alcoolemia
•Suspenção administrativa de cartas de motorista
•Intervenção Breve
Melhores Práticas
Medidas Propostas que contam com Apoios Relevantes
idade mínima para o consumo
campanhas de esclarecimento público
programas escolares educacionais
limites de concentração máxima de álcool para dirigir (diminuir para pessoas acima de 25 anos, zerar para os de 18 a 25)
Medidas Propostas que Afetam o Mercado das Bebidas Alcoólicas
aumento da taxação (inclusive de forma diferenciada para fermentados e destilados)
diminuição da acessibilidade (licenças para pontos de venda, horários de venda, restrição à áreas específicas em supermercados, etc.)
proibição de publicidade e patrocínios de eventos esportivos e artísticos-culturais
Diadema: Homicídios por 1000 Residentes
Diadema: Homicídios por 1000 Residentes
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ap—s a regulamenta¨‹oantes da regulamenta¨‹o
Laranjeira, 2004
Homicídios (Laranjeira, 2007)
• Número de vidas salvas (em 4 anos) : 528
• Média antes da lei 22 mortes por mês, logo depois caiu para 12
• Diminuição de 133 mortes por ano numa cidade de 360 mil habitantes
• Ou seja 25 mortes por grupo de 100.000, antes da lei 103 mortes/100.000
Violência Contra as Mulheres (Laranjeira, 2007)
• N de Agressões Prevenidas : 423(4 anos)
• % Redução de agressões : 25,8%
Principais Protagonistas na Arena
Interesses Comerciais
Mídia
Comunidade Científica
Interesse Público de Grupos e ONGs
Opinião Pública
Governos
Coalizações
Nossos desafios
Reconhecer que os determinantes na arena são, como sempre, principalmente econômicos
Geração de dados econômicos.
Articulação com interesses econômicos contrariados, por ex., seguradoras de saúde, de automóveis, etc.
Elaboração de uma agenda mínima, sem grandes conflitos
Resumo
1) Álcool não é um produto qualquer e seu uso por adolescentes precede o de outras drogas
2) Taxação é eficaz desde que não exceda o limite fomentador de produção clandestina
3) É possível controlar a disponibilidade da venda das bebidas alcoólicas e seu controle tem baixo custo
4) Licença para pontos de venda é eficaz
5) Álcool é o principal agente em acidentes de trânsito e violência
6) Certeza de punição diminui consumo no volante
7) Proibição da publicidade baixa consumo a médio e longo prazo
Conclusões:
1) Prevenir o consumo de drogas é algo possível e todos os esforços têm excelente relação custo/benefício.
2) Um programa efetivo deve incluir tanto ações de redução da acessibilidade quanto de prevenção em escola e empresas. Esses programas dão poucos resultados, a médio e longo prazo, se implementados isoladamente.
Mas, para que consigamos algo nesta área, é necessário que
tenhamos a coragem de contrariar interesses econômicos, como fez o
Dr. J. Snow, no século XIX.
Muito Obrigado