Por que somos diferentes dos profanos
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Por Que Somos Diferentes dos Profanos
Por Que Somos Diferentes dos Profanos
Helio P. Leite
Queridos Irmãos, creio que podemos iniciar nossa conversa de hoje
apresentado os conceitos de Iniciado e Profano, e a partir daí tentar explicar
por que, enquanto iniciados na Arte Real, não somos iguais aos profanos.
Profano [de pro e fanum] é a denominação que se aplica a todos aqueles não
são iniciados em nossa Ordem Maçônica. Esse nome ou denominação vem
correndo o mundo desde os primeiros iniciados nos mistérios antigos que
chamavam de profanos aos estranhos aos seus segredos. Não se trata de uma
denominação ofensiva, mas, apenas, uma distinção entre iniciado e não-
iniciado. Iniciado, ao contrário de profano, denominam-se todos aqueles que
têm conhecimento dos mistérios, isto é, aquele que conhece a ciência oculta, a
arte sagrada, ou aquele que conhece os fundamentos da doutrina esotérica.
Em suma, iniciado é aquele que se submeteu a um procedimento iniciático
específico.
Grosso modo, podemos concluir afirmando que em Maçonaria, o iniciado é
aquele que passou pelas provas da iniciação, melhor dizendo, iniciado é aquele
que vive a iniciação.
Entretanto, para uma melhor compreensão do assunto, julgo que valeria a pena
discorrer sobre iniciação e outros temas correlatos, como simbolismo,
esoterismo, misticismos e filosofia maçônica, mas o espaço e o tempo de que
disponho é insuficiente para tal desiderato. Vou me ater, rapidamente, ao termo
iniciação. Fico devendo o resto.
Iniciação [do latim initiatio] é um termo que remete o nosso pensamento à idéia
de começo, entrada: iniciar um evento, ação, circunstância ou acontecimento.
Também tem um significado de ascensão de um nível de existência para um
outro de nível superior ou mais elevado.
A iniciação é um tipo de cerimônia adotada em muitas sociedades místicas e
esotéricas, na qual é recepcionado um novo membro após alguma tarefa ou
ritual particular. Normalmente o ritual de iniciação envolve a condução do
neófito por um veterano do grupo, e costuma consistir na exposição de novos
conhecimentos - inclusive segredos e mistérios.
Entre os objetivos de alguns tipos de iniciação, destacam-se o aprendizado de
valores fundamentais para a vida no nível seguinte. O iniciado deve aprender a
se fortalecer com o isolamento, sobreviver em condições precárias, estar
preparado para as dificuldades da vida [por exemplo, muitas iniciações exigem
que o iniciado construa a cabana em que ficará isolado durante o ritual],
aprender a caçar, pescar, conhecer a fauna e flora, etc. O nosso ritual de
iniciação maçônica é de todos conhecidos, por isso estou me referindo a outros
tipos de iniciação em outras Ordens.
A propósito da iniciação, os novos adeptos são “obrigados” a observarem ou
cumprir as regras da associação a que deseja pertencer. Na Ordem maçônica,
temos por livre convicção, entendido que:
Um iniciado maçom, por livre e espontânea vontade é “obrigado”, pela sua
condição de iniciado, a obedecer à lei moral e viver segundo os ditames da
honra, praticar a justiça, amar o próximo e trabalhar incessantemente pela
felicidade do gênero humano. E, se bem compreende a Arte Real, nunca será
um ateu estúpido nem um libertino irreligioso. Mas, embora, nos tempos
antigos, os pedreiros fossem obrigados, em cada país, a ser da religião desse
país ou nação, qualquer que ela fosse, julga-se agora mais adequado obrigá-
los apenas na religião na quais todos os homens concordam, deixando a cada
um as suas convicções próprias; isto é, a serem homens bons e leais ou
homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as denominações ou
crenças que os possam distinguir. Por conseqüência, a Maçonaria converte-se
no Centro de União e no meio de conciliar uma amizade verdadeira entre
pessoas que poderiam permanecer sempre distanciadas uns dos outros.
Creio que com essas primeiras informações conceituais já podemos responder,
em parte, porque somos diferentes dos profanos: Nós passamos e vivenciamos
a nossa iniciação maçônica.
A estrutura conceitual que acabo de apresentar constitui a introdução ao tema
que me trouxe aqui nesta noite.
E, prosseguindo, direi que o homem profano é aquele imerso nos erros e na
mediocridade material, irremediavelmente submetido aos sete pecados
capitais: orgulho ou soberba, inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxuria.
Capital significa “cabeça”, como ensina São Tomás de Aquino [1224-1274], são
capitais os pecados que nos fazem perder a cabeça e dos quais derivam
inúmeros males.
A propósito, o contrário da soberba, é a humildade; da inveja, o despojamento;
da ira, a tolerância; da preguiça, o compromisso; da avareza, a partilha; da
gula, a sobriedade; e da luxúria, o amor.
E o homem iniciado, neste contexto frasal, é aquele que aprendeu a superar e
a vencer os pecados [ou vícios] capitais que afligem o homem profano.
E, aqui temos mais um indicativo da razão pela qual somos diferentes dos
profanos com que convivemos em nosso dia-a-dia.
Para bem se distinguir o iniciado do profano há que se considerar, ainda,
muitas outras coisas, e essas outras coisas só se dão a conhecer mediante
uma variedade de símbolos, ferramentas de trabalho, conceitos e idéias
filosóficas, espirituais e sociológicas, sobretudo mediante o exercício de tarefas
e trabalhos que revelem os diferentes níveis de consciência, esforço intelectual
individual, estudo e disciplina férrea para, entre muitas outras competências,
reconhecer no próximo um irmão com quem haveremos de repartir nosso pão e
nossa água até que possamos alcançar, pelo livre-arbítrio, o domínio dos
sentimentos e dos vícios, e pela ascese, a iluminação.
Eis aqui, mais um forte argumento a indicar porque somos diferentes dos
profanos. Somos diferentes dos profanos pelos laços de amizade, sinceridade,
irmandade que assentada na tríplice argamassa que a iniciação maçônica nos
une à liberdade, à igualdade e à fraternidade.
Uma vez maçom, sempre maçom. Diz o lema que norteia a vida em Maçonaria.
Quando o profano é admitido numa Loja Maçônica à iniciação, sua condição de
iniciado perdura além do simbolismo da “pedra bruta” que caracteriza sua
condição individual de aprendiz nos mistérios da Arte Real, para passar pela
“pedra polida” e depois pela “pedra angular”, que é aquela apta a ser usada em
toda e qualquer espécie de construção individual, e esta evolução processa-se
junto com a responsabilidade individual que se assume com os próprios atos,
constituindo-se um conceito a ser desenvolvido à medida que o iniciado
progride em direção aos graus de companheiro e Mestre, até alcançar a
plenitude maçônica.
Atentem-se que a iniciação e os graus da escalada maçônica estimula o
iniciado a olhar para o interior de si mesmo e das transformações da sua
psique, e esta é a razão pela qual distingue-se o iniciado do profano.
Tenho, assim, como acreditar que estou respondendo por que somos
diferentes do homem profano. Somos iniciados e aptos a nós transformar,
quando se fizer necessário, em iniciadores.
Antes de concluir, talvez valha a pena apontar o que é necessário para um
profano se tornar um iniciado.
Em primeiro lugar, é preciso que ele tenha vocação maçônica, ou seja, que,
para além de uma identificação com os grandes valores éticos da Maçonaria
regular, tenha vocação para o simbolismo e para o ritual, e sobremodo,
vocação para a prática maçônica.
Para isto é necessário que o profano bata à nossa porta, isto é, que manifeste
o seu interesse em entrar para a Maçonaria regular, isto no caso de não ter
sido ainda cooptado por algum ou alguns maçons.
O contacto com a Grande Loja leva a um conjunto de conversas, entrevistas ou
inquéritos que poderão e deverão avaliar se o profano está em condições de
entrar para a Maçonaria.
É evidente que, segundo a tradição, só pode ser maçom aquele que for “livre e
de bons costumes”, o que quer dizer, nos nossos dias, que deve ter meios de
sustento, para si e para a sua família; que não deve ter problemas com a
Justiça, e que tenha um comportamento ético e moral íntegros.
Depois do Inquérito, é feita a votação, na Loja respectiva, uma vez que os
Padrinhos e os Inquiridores tenham apresentado os seus relatórios; depois, no
caso de uma votação positiva, é marcado o dia da Iniciação. Para além das
condições éticas, vocacionais e espirituais, é preciso também que o futuro
maçom possa satisfazer as suas obrigações materiais para com a Ordem
[jóias, quotizações, etc.], para que ela possa ter condições materiais para
exercer a sua ação.
Profanos e Iniciados, um ponto de vista diferente – Acredito que num futuro não
muito distante, a humanidade não mais precisará se distinguir entre iniciados e
profanos, mas até lá, iniciados e não-iniciados [profanos], precisam
desenvolver a consciência plena de que todos somos Filhos do mesmo Pai,
seres da mesma espécie, e iguais entre si, independentemente de raças,
origens, crenças e posições sociais ou desenvolvimento sócio, econômico,
político e cultural.
E encerro este quarto de hora com essa frase magistral do filósofo Friedrich
Nietzsche:
“Ao invés de mostrarem à altura da insustentável solidão da sua condição, os
homens continuam à procura do seu Deus despedaçado e por Ele amarão até
as serpentes que moram em meio das Suas ruínas”.
Por isso, a concepção de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ministrada aos
iniciados maçons precisa ser expandida para toda a humanidade até congregar
num só estado o gênero humano inteiro.