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32 d Terapia da Mente Trazer o corpo para a psicoterapia «Bioenergética é trabalhar com o corpo para aprofundar a respiração e ter mais sentimento», Alexander Lowen. Por Lúcia Soares * Uma das mais importantes tarefas desenvolvimentais do bebé é construir uma imagem do seu próprio corpo, rumo à consciência de si mesmo. Acredito que o corpo, além de precursor da noção de Eu, é também um fiel guardião da nossa história, pronto a revelar- -nos os registos que esquecemos da mesma. Como o corpo não mente, apenas necessitamos de o saber olhar e ler, com atenção, carinho e sagacidade. Análise bioenergética

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32 d Terapia da Mente

Trazer o corpo para a psicoterapia

«Bioenergética é trabalhar com o corpo para aprofundar a respiração e ter mais sentimento», Alexander Lowen.

Por Lúcia Soares *

Uma das mais importantes tarefas desenvolvimentais do bebé é construir uma imagem do seu próprio corpo, rumo à consciência de si mesmo. Acredito que o corpo, além de precursor da noção de Eu, é também um fiel guardião da nossa história, pronto a revelar--nos os registos que esquecemos da mesma. Como o corpo não mente, apenas necessitamos de o saber olhar e ler, com atenção, carinho e sagacidade.

Análise bioenergética

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As técnicas psico-corporais são feitas em contexto terapêutico individual ou grupal, com um terapeuta formado em AB, por uma das sociedades europeias ligadas ao IIBA – Interna-tional Institute of Bioenergetic Analysis. Vinculados com a respiração, os exercícios permitem trabalhar o enraizamento, libertar as tensões acumuladas no organismo, melhorar o padrão respiratório e a capacidade de sentir de um modo pleno e sem constrangimentos, energizando todo o corpo. Existem exercícios para todos os segmentos corporais: olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma, pélvis, pernas e pés. As vivências resultantes do trabalho psico-corporal permitem a libertação da energia reprimida através do choro, riso, catarse e vibração espontânea e aliviam as

tensões, possibilitando a oportunidade de observarmos os nossos comportamentos automáticos e de os modificar. Desta forma, conseguimos ser mais reais, mais espontâne-os, mais conscientes e mais conectados com o desejo de viver, reconquistando a capacidade vibratória do corpo e aprendendo uma nova e mais satisfatória maneira de nos relacionarmos. Habitar o nosso corpo é conhecê-lo por dentro, descobrir a verdade que mora nesse palco de histórias e memórias, descobrir a sua existência através da exploração do mundo sensorial e emocional e conquistar um novo sentido de presença e enraizamento. Lowen disse que a AB «leva o adormecido homem-mente a despertar para o seu corpo, com riso e lágrimas». Despertemos...

e não resolvidos na infân-cia, na génese das afec-ções psicológicas; Reich veio acrescentar que esses conflitos provocam também reacções defensivas ao nível corporal, de modo a bloquear as emoções provocadas pelos mesmos, anestesiando o sentir doloroso.

ExpEriências ao longo da vida

O conjunto de experi-ências ao longo da vida determina a nossa estru-tura interna, a maneira de ser e de actuar. Porém, quantas vezes a nossa forma de actuar não coincide com

A análise bioenergé-tica (AB) concep-tualiza o indivíduo

como uma unidade psicosso-mática: o que afecta o corpo afecta a mente e vice-versa. Como abordagem terapêuti-ca psico-corporal, a AB foi criada por Alexander Lowen nos anos 50, no seguimento do trabalho corporal iniciado por Wilhelm Reich, aluno de Freud. Aborda os proble-mas psicológicos através de técnicas que combinam os princípios fundamentais da psicanálise com o trabalho somático-energético. Freud postulava a existência de conflitos e traumas vividos

Técnicas psico-corporaisM

EN

TAL

Terapia da Mente d 33

contradiçõesQuantas vezes a nossa forma

de actuar não coincide com os nossos sentimentos e desejos e as contradições que vamos

vivendo começam a gerar sintomas de angústia,

ansiedade, insónia, medo, inquietude, melancolia.

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qualidade relacional e em-pobrecimento da capacidade de amar e ser feliz. Através de exercícios corporais e de libertação emocional, a AB promove a dissolução dos bloqueios emocionais-cor-porais, ajudando à tomada progressiva de consciência das tensões musculares cró-nicas e do seu significado psicológico. Recuperar essa vasta memória corporal vai auxiliar na compreensão do

facto das tensões musculares, ontem uma forma de sobrevi-vência infantil num ambiente de desprotecção ou de pouco suporte afectivo-emocional, serem hoje um obstáculo a uma vida mais plena e enraizada. Existe no corpo uma pulsação de vida, um permanente movimento de contracção e expansão (como o batimento cardíaco), que se estende dos animais unicelu-lares ao universo. Face à dor,

os nossos sentimentos e desejos e as contradições que vamos vivendo começam a gerar sintomas de angústia, ansiedade, insónia, medo, inquietude, melancolia. Se a história de vida, com as suas vivências familiares, conflitos, perdas sofridas (separações, abandonos, lu-tos), sentimentos e emoções (amor, tristeza, raiva...), está gravada no corpo, é neces-sário libertá-lo dos medos e tensões, de modo a podermos estar mais perto das

(*) sociedad Andaluza de Analisis

Bioenergético

liverte-seSe a história de vida, com

as suas vivências familiares, conflitos, perdas sofridas

(separações, abandonos, lu-tos), sentimentos e emoções

(amor, tristeza, raiva...), está gravada no corpo, é necessário libertá-lo dos

medos e tensões

emoções autênticas, rumo a uma forma de sentir e actuar mais genuína.

dEfEsas psicológicas

As defesas psicológicas traduzem-se no corpo sob a forma de padrões de tensões musculares crónicas, que retêm a carga emocional dolorosa mas que impedem simultaneamente a auto-expressão e a esponta-neidade, provocando rigidez corporal, alterações da

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1. Exercício Básico de Vibração (Grounding) De pé, com os pés separados cerca de 25cm. Incline-se para a frente tocando o chão com os dedos das duas mãos, como na figura. Joelhos ligeiramente dobrados. Não deve haver peso nas mãos; todo o peso do corpo deve estar nos pés. Deixe a cabeça pendurada o máximo possível. Respire devagar e profundamente pela boca. Deixe o seu corpo ir para frente, de modo que caia no peito do pé. Os calcanhares podem ficar um pouco erguidos. Estique o joelho devagar até que os músculos posteriores das pernas estejam esticados. Os joelhos não devem ficar totalmente esticados. Permaneça nesta posição cerca de 1min.

2. O Fio de Lótus (Grounding Invertido)Ponha toda a sua atenção no nervo, delicado como o fio de Lótus, no centro da sua espinha dorsal. Transforme-se neste fio.

3. Exercício do ArcoDe pé, com os pés separados 40cm. Co-loque ambos os punhos fechados com os polegares voltados para cima, na linha da cintura. Dobre os joelhos tanto quanto pu-der sem levantar os calcanhares do chão. Arqueie-se para trás, dobre os punhos, mas atenção para que o peso do corpo continue sobre o peito dos pés. Faça respiração abdominal profunda. Volte ao exercício anterior - básico de vibração. É muito mais fácil conseguir a vibração das pernas partindo da posição do arco.

4. Mobilizar-se (Alongar e Esticar)Tome a posição inicial e levante os braços na vertical, por cima da cabeça. Entrela-ce os dedos de ambas as mãos, com as palmas viradas para o tecto. Empurre uma das mãos para cima até sentir uma rígida distensão na região abdominal. Segure durante algum tempo e depois relaxe.

Faça também com a outra mão. Enquanto faz o exercício, respire profundamente e ao expirar faça um som ‘a’ prolongado.

5. Mobilizar-se (Sacudir e dar Socos)Sacuda todo o seu corpo com movimentos vigorosos, sem se preocupar se são coor-denados. Comece com as mãos, braços e ombros e deixe que as sacudidelas tomem conta do tórax. Depois inclua a pélvis e as nádegas nos movimentos, como se alguém o (a) estivesse a segurar pelos quadris e se quisesse libertar. Enquanto isso desfira socos e movimente o seu rosto vigorosa-mente. Acompanhe as sacudidas e os socos com sons.

6. Expressar agressividadeLevantar os braços bem para trás e depois bater com toda a força numa almofada à sua frente.

7. Tirar a MáscaraRelaxe o rosto. Coloque as pontas dos dedos de uma mão na testa, logo acima das sobrancelhas. A outra mão deve ser colo-cada com a superfície interna atravessada sobre o dorso do nariz e os ossos molares. Puxe ao mesmo tempo, ambas as mãos, separando-as e fazendo uma pressão sensí-vel sobre a pele do rosto.

8. Céu e TerraEste exercício ajuda a relaxar tensões acumuladas no abdómen, distúrbios mens-truais, da próstata ou função digestiva reduzida. Deitado, puxe os joelhos para junto do peito e estique as pernas separa-das, na distância da largura dos quadris, na vertical, para o alto, e vire as plantas dos pés para o tecto. Os joelhos permanecem flexionados. Agora, pressione os calcanha-res para cima, fazendo com que os dedos dos pés apontem em direcção ao rosto.

ExErcícios dE análisE bioEnErgéTica

a tendência é a contracção e a respiração limitada. O trabalho com a respiração constitui-se num pilar da AB, juntamente com o grounding (enraizamento). No dia-a-dia a respiração tende a ser torá-cica, curta e superficial, pelo que é importante a tomada de consciência da mesma para que ela possa ser plena, o que vai melhorar a circu-lação sanguínea, permitindo uma maior oxigenação das células, com o consequente aumento da vitalidade corpo-ral e da energia vital. O sentimento de enraiza-mento permite a conexão dos pés com o chão, ou seja, o contacto com a realidade.

técnicas psico-corporais

As vivências resultantes do trabalho psico-corporal per-

mitem a libertação da energia reprimida através do choro, riso, catarse e vibração espontânea

e aliviam as tensões, possibilitando a oportunidade

de observarmos os nossos comportamentos automáticos e de

os modificar

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