PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO … Goncalves... · Roland Barthes A MENSAGEM...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM
COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
ANÁLISE DAS MÍDIAS
A MENSAGEM FOTOGRÁFICA NAS CONOTAÇÕES JORNALÍSTICAS DA
CAMPANHA POLÍTICA PARA PREFEITURA DE SÃO PAULO EM 2012
IVAN GONÇALVES FEITOSA FILHO
ORIENTADORA: Profa. Dra. LEDA TENÓRIO DA MOTTA
São Paulo
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM
COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
ANÁLISE DAS MÍDIAS
A MENSAGEM FOTOGRÁFICA NAS CONOTAÇÕES JORNALÍSTICAS DA
CAMPANHA POLÍTICA PARA PREFEITURA DE SÃO PAULO EM 2012
IVAN GONÇALVES FEITOSA FILHO
ORIENTADORA: Profa. Dra. LEDA TENÓRIO DA MOTTA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre em
Comunicação e Semiótica, sob orientação
da Profa. Dra. Leda Tenório da Motta
São Paulo
2015
Banca Examinadora
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DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado aos meus pais – Ivan Feitosa, Ivete
Maria e dona Carminha, ao meu filho Pedro Ivan, e à minha esposa
Elaine Cunha. Vocês são a razão de tudo.
AGRADECIMENTOS
À agência de fomento à pesquisa brasileira CAPES, pelo apoio
financeiro.
À minha orientadora Profa. Dra. Leda Tenório da Motta, pelos
ensinamentos e por me apresentar ao mundo barthesiano.
Aos membros da banca de qualificação e defesa, Prof. Dr. Juan Droguett
e Profa. Dra. Lúcia Santaella, cujas sugestões foram de extrema importância
para a melhor compreensão e o desenvolvimento deste trabalho.
À Profa. Renata Victor, da Universidade Católica de Pernambuco, pelo
incentivo e pelo desafio barthesiano.
À equipe da Hemeroteca Mário de Andrade – especialmente o pessoal
de apoio à pesquisa e reserva de material.
Ao Prof. Duílio Lanzoni, pelo suporte na impressão dos exemplares.
À Lucilla da Silveira Leite Pimentel, pelo ajuda na revisão de língua
portuguesa do trabalho e pelas valiosas sugestões.
Aos meus alunos e ex-alunos, pelas experiências proporcionadas em
sala que contribuem para reflexão do verdadeiro sentido da educação.
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para me fazer ver
na pesquisa uma forma de contribuir para uma melhor compreensão dos
ensinamentos de Roland Barthes.
RESUMO
Esta pesquisa situa seu objeto de estudo, a «mensagem fotográfica», no
âmbito do jornalismo na campanha política à Prefeitura de São Paulo em 2012
e tem por objetivo a análise das tensões entre a denotação e a conotação.
Trabalha com a hipótese barthesiana segundo com a qual as mensagens
midiáticas desenvolvem sistemas conotados, de dupla significação, uma das
quais – a mensagem conotada – oferece as categorias necessárias para a
análise da imagem e do texto, e seus desdobramentos na mídia impressa que
influenciam notavelmente a escolha do leitor/eleitor, sendo esta última questão
a que justifica a proposta da dissertação. A principal contribuição do trabalho
consiste na aplicação das categorias da «mensagem fotográfica» às
publicações de mídia impressa de dois veículos midiáticos no contexto de uma
campanha política. Metodologicamente, a pesquisa é bibliográfica, analítica e
documental, de caráter qualitativo, mostrando como tais mensagens
ultrapassam, pela conotação, os limites da informação denotativa. O corpus da
pesquisa abrange as publicações dos dois jornais de maior circulação no país:
O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, em seus registros
inseparavelmente fotográficos e textuais das referidas campanhas. A
fundamentação teórica para o campo da fotografia compreende a teoria
barthesiana – notadamente aquela proposta em Mitologias - exegeses de obras
específicas do autor, como O Óbvio e o Obtuso, Câmera clara, «A Mensagem
fogtográfica» e Aventura semiológica. Para o campo do jornalismo, exploram-
se as imagens introduzindo elementos de valorização significativos a respeito
do tratamento jornalístico de tal campanha eleitoral, essencialmente centrado
em mostrar as características definidoras da imagem global dos candidatos e
dos partidos concorrentes, a intenção comunicativa de ambos os jornais no seu
posicionamento ideológico que vai ao encontro da crítica em Mitologias.
Palavras-chave: Roland Barthes, Fotografia, Conotação, Mídia Impressa,
Campanha Política.
ABSTRACT
This research situates its object of study, the « photographic message », in the
context of the journalism in the political campaign to the cityhall of São Paulo in
2012 and has as main target the analysis of the tensions between denotation
and connotation. It works with the barthesian hypothesis in agreement in which
the media messages develop connoted systems, of double signification, one of
which – the connoted message – offers the necessary categories for the
analysis of the image and of the text, and its ramifications in the printed media
that influence notably the choice of the reader/voter, being this last question that
justifies the proposal of the dissertation. The main contribution of the work
consists of the application of the categories of the « photographic message » to
the publications of printed media of two media vehicles of the context of a
political campaign. Metodologicaly, the reaearch is bibliographical, analytical
and documentary, of qualitative character, showing like such messages exceed,
for the connotation, the limits of the denotative information. The corpus of the
research includes the publications of two newspapers of major circulation in the
country: O Estado de Sao Paulo and A Folha de Sao Paulo, in their inseparably
photographic and textual registers of the above-mentioned campaigns. The
theoretical fundamentation for the field of the photography understands the
barthesian theory – especially that proposal in Mythologies - exegesis of
specific works of the author: The Obvious and the Obtuse, Camera Lucida,
«The Photographic Message» and Semiologic Adventure. For the field of the
journalism, the images are explored introducing significant elements of increase
in value as to the journalistic treatment of such a political campaign, essentially
centered in showing the defining characteristics of the global image of the
candidates and of the competing parties, the communicative intention of both
newspapers in his ideological positioning which goes and meets the criticism in
Mythologies.
key words: Roland Barthes, Photography, Connotation, Printed Media, Political
Campaign.
SUMÁRIO
PÁG.
INTRODUÇÃO...................................................................................................01
Capítulo 1. A MENSAGEM FOTOGRÁFICA NO CONTEXTO REFERENCIAL
DO JORNALISMO ............................................................................................18
1.1. Mitologias do entorno social e o processo fotográfico ...........................19
1.2. A mensagem fotográfica conotada e entorno de uma campanha política
...........................................................................................................................30
1.3. A campanha política para prefeitura da cidade de São Paulo em 2012
...........................................................................................................................44
1.3.1. A Folha de São Paulo .............................................................................47
1.3.2. O Estado de São Paulo ..........................................................................47
1.3.3. As eleições para prefeitura de São Paulo em 2012.................................48
Capítulo 2. CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE.....................53
2.1. A trucagem e o protagonismo sarcástico da campanha.............................57
2.2. Pose e tipos sociais dos candidatos ..........................................................63
2.3. Objetos a serviço das ideologias representadas .......................................68
2.4. Fotogenia – foco e luz do candidato em cena ...........................................74
2.5. Esteticismo – aquém e além da arte de fotografar ....................................80
2.6. Sintaxe – fotogramas da ação política .......................................................86
Capítulo 3. MITO E MENSAGEM FOTOGRÁFICA..........................................94
3.1. Trucagem – a alteração proposital da imagem fotográfica denotada
................................................................................................................96
3.1.1. Das bandeiras partidárias às notações caricatas no tom do debate
político eleitoral ...............................................................................................103
3.2. Pose – entre a objetividade e a subjetividade do estereótipo social
..............................................................................................................106
3.2.1. Posicionamento e pose na corrida eleitoral...........................................112
3.3. A sintaxe e a declinação significante do sentido...................................117
3.3.1. Fotogramas de um passeio eleitoral......................................................124
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................134
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................135
INTRODUÇÃO
“A noção de mito pareceu-me desde logo
designar estas falsas evidências;(..)O mito
é uma liguagem”.
Roland Barthes
A MENSAGEM FOTOGRÁFICA NAS CONOTAÇÕES JORNALÍSICAS
DA CAMPANHA POLÍTICA PARA A PREFEITURA DE SÃO PAULO EM 2012
é um estudo pautado pela conotação da mensagem jornalística que tem como
ponto de referência o texto para a escolha das imagens que ilustram, reforçam
e projetam o contexto informativo e de comunicação de atualidade para leitores
que são, por sua vez, espectadores/eleitores. Considera a mensagem
fotográfica conforme a proposta do projeto semiológico de Roland Barthes.
Em um primeiro momento, este trabalho se baseia em uma perspectiva
analítica sobre as campanhas políticas de um modo geral, e de José Serra e
Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo em particular. O período
contemplado vai de 1º de agosto a 31 de outubro de 2012 – período em que
foram oficializadas as candidaturas e no qual aconteceram, efetivamente, as
campanhas políticas. Nesse período trimestral as estratégias comunicativas
afloram e transformam-se em fonte de interesse para os leitores/eleitores.
Em um segundo momento, foi feita a coleta do corpus que se deu a
partir da escolha de capas dos próprios jornais que anunciavam o andar do
processo pré-eleitoral, seja com imagens, chamadas de capa do jornal ou do
caderno interno, e textos complementares; consideraram-se igualmente
cadernos específicos para o período agosto-outubro. No caso da Folha: Poder
e Eleições. No Estado: Nacional e Eleições.
O primeiro capítulo estabelece os pressupostos teóricos da «mensagem
fotográfica» no contexto referencial do jornalismo. Parte da obra Mitologias
para estabelecer como o mito converte-se na categoria do imaginário social
capaz de dar conta do entorno cultural, assim como do processo fotográfico
emergente. Considera-se a mensagem fotográfica conotada como ponto de
2
partida para a análise de uma campanha política, haja vista a prática do
fotojornalismo neste sentido. Por fim, descreve-se o cenário da cidade
escolhida e do momento histórico, político, social e cultural noticiado pela Folha
de São Paulo e por O Estado de São Paulo ao informar e comunicar a situação
pré-eleitoral.
O segundo capítulo constitui-se na análise do discurso dessa campanha
eleitoral, trazendo à tona as categorias da «mensagem fotográfica» –
trucagem, pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe – que incidiram, por
sua vez, no protagonismo, no desenho e nos procedimentos da mesma, e nos
codificadores que permitem a interpretação de tais categorias.
O terceiro capítulo abrange as categorias propostas e o contexto da
página completa que ajudam a reconstrução da trama global da notícia
eleitoral, declinando na categoria da trucagem na sua relação direta com a
imagem fotográfica, da pose que permite a dialética entre a objetividade e
subjetividade dos estereótipos sociais, e a sintaxe, que assinala o sentido
crítico da mensagem semiotizada.
Foram utilizadas como fontes de pesquisa referências bibliográficas,
pesquisas em hemerotecas para captação das capas dos referidos jornais –
que abordam a campanha política para a Prefeitura –, tomando como
procedimentos também metodológicos algumas regras básicas a serem
consideradas para a interpretação fotográfica.
Segundo Barthes, as conotações jornalísticas estabelecem um modelo
de comunicação relacionado com a cultura de massa e com o papel da mídia
na contemporaneidade, afetando os modos de sentir, pensar e agir de seus
receptores. Partindo dos pressupostos de Mitologias, em que o autor desvela
os verdadeiros interesses midiológicos, propõe-se uma metodologia capaz de
desmitificar a articulação das mensagens da mídia impressa - sobretudo, no
que se refere à escolha da imagem fotográfica na sua função referencial, isto é,
na forma como a informação é produzida, armazenada e divulgada bem antes
de ser publicada.
A campanha política para a Prefeitura de São Paulo vem de encontro a
um dos fatores essenciais da mensagem conotada: o ideológico. No sentido
3
lato, ideologia é a forma de mascarar ou ocultar as contradições sociais e
dominação imperante, invertendo o modo de processar o pensamento sobre a
realidade. Assim, a ideologia é uma forma de produção do imaginário social
que corresponde aos anseios da classe dominante como meio eficaz de
controle social e de amenizar os conflitos de classe, seja invertendo a noção de
causa e efeito, seja silenciando questões que impedem a tomada de
consciência do cidadão de sua condição histórica.
Nesse sentido, tal campanha oferece um cenário interessante à
decodificação da notícia veiculada pela Folha de São Paulo e O Estado de São
Paulo, dois jornais de vertentes ideológicas diferentes que informam a cidade
brasileira que é hoje em dia o centro nevralgico da informação e da
comunicação no país.
A principal transformação deste trabalho esteve ligada ao se considerar
literalmente o caráter paradoxal entre a mensagem denotada e a mensagem
contada, destacando-se que a opção de Barthes afere diretamente o caráter
histórico, ideológico e social que o jornalismo tem como prática. Sendo assim,
abdicou-se desse caráter paradoxal para demonstrar através de um profiquo
corpus de pesquisa a validez das categorias conotativas da mensagem
fotográfica: trucagem, pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe.
Deste modo, criaram-se tabelas de análise das imagens fotográficas
sobre a campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo em 2012;
publicadas nos dois jornais Folha e O Estado de São Paulo. Trata-se de um
estudo quantitativo e qualitativo que introduz elementos de valoração
significativos a respeito do tratamento jornalístico de dita campanha,
especificamente centrado em mostrar características definitórias da imagem
global dos partidos e líderes políticos concorrentes na mesma.
Tomando como princípio a própria eloquência informativa da fotografia,
realizou-se uma análise do conteúdo do corpus no qual são contemplados três
grupos de indicadores: 1) atributos documentais – valores denotativos; 2)
codificação fotográfica – valores conotativos; e 3) o tratamento em páginas ou
maquetação – valores conotativos.
4
Enfim, a dissertação abre-se à crítica através das categorias da
trucagem, pose e sintaxe com o fim de demonstrar como estas influenciaram
diretamente no resultado dessas eleições. Do ponto de vista dos
procedimentos metodológicos, considerou-se a página completa do jornal para
a visualização mais abrangente e global do noticiado, da intenção comunicativa
do meio e dos efeitos produzido em leitores, espectadores ou eleitores.
Tais categorias são apresentadas pelo semiólogo francês em O óbvio e
o obtuso (1990), onde Barthes estabelece uma relação dessas categorias com
a fotografia a fim de analisar a mensagem fotográfica em busca da
compreensão do mito.
Portanto o objeto é a «mensagem fotográfica» no âmbito teórico e,
sobretudo, metodológico proposto por Barthes, uma vez que a fotografia
transmite a essência em si do real/literal, criando uma brecha com o
objeto/referente em termos de representação. A escolha do objeto se deu a
partir da leitura de Mitologias (Barthes, 2006, p.162), principalmente, do artigo
«Fotogenia eleitoral».
A obra de Roland Barthes, que apresenta seu olhar e suas análises dos
mitos contemporâneos, revela a densa camada de significações que envolvem
todos os fenômenos e objetos da vida ordinária e que mostram como a ideia de
realidade não deixa de ser absolutamente histórica. Nesse sentido, validam-se
os contextos midiáticos da cultura paulistana.
Em Mitologias, o autor se apresenta como crítico, mas também como
estilista dos mitos que rodeiam a cultura de massas. Segundo o semiólogo
francês, a vida cotidiana nutre-se de mitos: o catch, o strip-tease, a publicidade,
o automóvel, o turismo e das eleições, entre outros, que sempre desbordam o
sentido. Isolados da atualidade que lhes dá nascimento, de pronto aparece o
abuso ideológico que ocultam. Aqui Barthes dá conta de tudo isto com a
preocupação formulada no ensaio que fecha a obra de reconciliar o real e os
seres humanos, a descrição e a explicação, o objeto e o saber.
Por isso, a análise semiológica do cotidiano abrange também o processo
político das eleições, no que se refere a uma das categorias, a fotogenia dos
candidatos na divulgação de sua imagem. Com isto, inaugura-se uma prática
5
intelectual que continua até os dias de hoje, e que busca transcender o corte
entre a «objetividade do sábio» e a «subjetividade do escritor».
Existe, como afirma Barthes no seu artigo: «A mensagem fotográfica»
(IN O óbvio e o obtuso), uma redução: de proporção, perspectiva e cor. A
imagem não é o real e sim uma analogia – analogon – perfeita, o que para o
senso comum define a fotografia. Aparece, assim, a principal característica da
imagem fotográfica: trata-se de uma mensagem sem código, da qual se pode
inferir de imediato que a mensagem fotográfica é uma mensagem contínua
(Barthes, 1990, p.15).
Tal mensagem contínua supõe uma fonte emissora, um canal de
transmissão e um meio receptor. A fonte é o grupo de pessoas que redigem o
jornal. O meio é o público leitor; e o canal o jornal. A estrutura da fotografia está
longe de ser isolada, mantém comunicação com outra estrutura: o texto.
Ambas – uma formada por palavras e outra por linhas, superfícies e tons –
suportam a totalidade da informação. Existe uma redução, como já dito, da
mesma ao passar a ser uma imagem, mudanças na proporção, perspectiva e
cor. Mas, nunca chega a ser uma transformação, é o analogon perfeito da
realidade: é insistentente uma mensagem sem código. O próprio Barthes no
texto se faz a pergunta: existem mensagens sem código? Toda e qualquer
reprodução analógica da realidade – desenho, pintura, cinema, teatro – seriam
mensagens sem código aparente. Como entender isto? As fotografias não
estão «codificadas». Mostra-se o que é na suposta necessidade de codificá-
las. Está tudo aí, à vista, pois não se pode confundir código com conteúdo.
De todas as estruturas de informação, a fotografia seria a única que está
exclusivamente constituída e ocupada por uma mensagem «denotada» que
esgotaria por completo seu ser. Perante uma fotografia, o sentimento de
«denotação», ou se preferir, de plenitude analógica, é tão forte, que sua
descrição é literalmente impossível, já que descrever é justamente anexar à
mensagem denotada um relevo ou uma mensagem secundária.
Mas, há uma probabilidade de que a «mensagem fotográfica» – pelo
menos a mensagem jornalística – seja conotada através do contexto. A
conotação não se deixa necessariamente captar de imediato na mensagem em
6
si. No entanto, pode ser induzida de certos fenômenos que têm lugar na
produção e a recepção da mensagem: por um lado, a fotografia jornalística é
objeto de trabalho, selecionado, composto, construído e tratado segundo as
normas profissionais, estéticas e ideológicas, que são outros fatores da
conotação; e por outro, essa mesma fotografia não é só percebida e recebida,
mas também lida e relacionada mais ou menos conscientemente pelo público
que a consome, com uma reserva tradicional dos signos.
Então, há de se lembrar que na fotografia, a mensagem denotada é
absolutamente analógica, isto é, que não recorre a código nenhum, é contínua;
a mensagem conotada contém um plano de expressão e um plano de
conteúdo, significantes e significados, obrigando, pois, a um verdadeiro
deciframento.
Enfim, a conotação, ou seja, a imposição de um sentido segundo a
mensagem fotográfica propriamente dita, elabora-se nos diferentes níveis de
produção da fotografia – seleção, tratamento técnico, enquadramento,
paginação. Estes procedimentos são conhecidos e nomeados como categorias;
o estudo se limita a traduzi-los em termos estruturais. A rigor, haveria que
separar os três primeiros – trucagem, pose e objetos – dos três últimos –
fotogenia, esteticismo e sintaxe –, já que nos três primeiros procedimentos o
que produz a conotação é uma modificação do real, isto é, da mensagem
denotada – e é evidente que este preparativo não é próprio da fotografia.
Parte-se do princípio de que na mensagem fotográfica coexistem duas
mensagens: a analogia perfeita da realidade – efeito da luz sobre a placa
fotográfica – e a retórica da linguagem fotográfica – produto da história e da
cultura. Por esta razão, a primeira mensagem que denota é realista, objetiva e
literal. Já a segunda mensagem conotada é simbólica e ligada à realidade
social. Este realismo barthesiano combina justamente o realismo mimético e o
estudo da vida dos signos na sociedade.
A retomada do pensamento de Barthes se justifica na medida em que o
realismo que predominava no século XIX era um realismo que fixava sua
atenção sobre a imagem como se esta fosse um reflexo – mímesis. Nesse
sentido, a fotografia objetiva rivalizava com a arte objetiva. Durante aquele
7
século apareceram vários estilos realistas. O primeiro estilo de grande difusão
foi a fotografia de estúdio, que rapidamente deslocou os retratistas. Logo, o
desenvolvimento tecnológico gradualmente aumentou a mobilidade da câmera
e os fotógrafos inventaram novas convenções, muitas vezes, com anseios
científicos, para os propósitos da antropologia, do jornalismo, da geografia e da
documentação das condições sociais e urbanas da época. O principal desafio
deste realismo veio dos fotógrafos que tentaram introduzir a criatividade e
apontar valores estéticos à arte de fotografar, indo além do estilo realista.
Até meados do século XX, vários autores começaram a questionar
seriamente esse realismo mimético não do ponto de vista artístico, mas do
ponto de vista das normas sociais que produzem, transformam ou dirigem a
leitura da imagem. No esteio destas constatações, o trabalho vai de encontro
ao contexto social das campanhas eleitorais divulgadas pela mídia impressa de
dois jornais de ampla divulgação e repercussão na sociedade brasileira de um
modo geral e da paulistana em particular.
Já na contemporaneidade, o resgate do projeto semiológico de Roland
Barthes resulta importante e atual, pois as tendências em fotografia hoje se
concentram em vários processos: o uso das tecnologias, a escolha do tema, os
estilos convencionais, as práticas sociais, a recepção, a interpretação, a
difusão, a legitimação e os próprios usos sociais da imagem como tal.
Para tanto, resulta importante abordar o tema das campanhas eleitorais
narradas na imprensa, haja vista que elas são decisivas em termos de
organização social e no exercício do poder. Deste modo, este estudo procura
demonstrar através da análise dos meios que a construção da mensagem
lança um papel essencial para a argumentação da imagem e da palavra que se
imbricam.
Dentro dos elementos não linguísticos que dão forma aos meios de
comunicação, em especial os jornais, a imagem ocupa um lugar preponderante
como material gráfico. No jornalismo contemporâneo é de tal transcendência
que cumpre o papel informativo – observa-se a profunda transformação
ocorrida na ênfase dada às matrizes visuais em detrimento das verbais –, já
que transmite aspectos de um fato noticiável. O material gráfico que pode ser
8
encontrado em um jornal refere-se a ilustrações, retratos, caricaturas ou breves
histórias em quadrinhos. A imagem desenhada foi evoluindo para a nota de
humor em que se ironizam ou satirizam situações e personagens da realidade
– neste caso, deve-se pensar nas situações em que os candidatos às eleições
aparecem nessas circunstâncias. Trata-se de uma forma de expressão que tem
maior repercussão na atualidade.
Por isso, a mensagem fotográfica traz enfaticamente este tipo de
material que apresenta uma variedade de expressões entre as que
predominam histórias e caricaturas. A fotografia, por sua parte, será o material
gráfico predominante nas unidades de análise desta pesquisa.
Para Roland Barthes há duas observações fundamentais: a fotografia é
um objeto dotado de autonomia estrutural, e a fotografia jornalística é uma
mensagem em si. E o conjunto desta mensagem está formado por: uma fonte
emissora, que é a redação e o grupo técnico que cuida do jornal; o meio
receptor, que é o público/eleitor; e um canal de transmissão que é o jornal em
si. Para Barthes é um conjunto de mensagens, já que desde a compaginação
até o nome mesmo do meio constituem um saber que afeta diretamente a
leitura da mensagem – por exemplo, uma mesma fotografia pode ter diversos
sentidos se se publica em um jornal ou outro/ daí a escolha de duas mídias
impressas. Na base desta configuração, estabelece-se uma teoria da
comunicação, um método semiológico capaz de analisar o corpus de ambas as
mídias e a aplicação em busca de níveis de significância.
A conotação não se deixa necessariamente captar de imediato no nível
da mensagem, mas se pode induzir de certos fenômenos que têm lugar no
nível de produção e de recepção da mensagem. A principal observação que se
faz da análise de Barthes neste trabalho é que o código de conotação é
histórico e cultural. Em um código conotativo, os signos são gestos,
expressões, condutas, efeitos que promovem em certo sentido o uso dado por
uma determinada sociedade. Estes pressupostos presentes no artigo «A
mensagem fotográfica» se reforçaram na proposta de pesquisa na sua
fundamentação teórica e metodológica.
9
Enfim, a significação, isto é, a relação: significante e significado, é
sempre histórica, sempre elaborada por uma sociedade – paulistana – no caso
das mídias impressas escolhidas. Por esta razão a análise da fotografia
depende do «saber» do leitor/eleitor, e adquire significado de acordo com o
meio em que se expõe e ao trabalho de produção ao qual se submete. Sendo
assim, o título desta dissertação traz explícitamente a questão de uma
mensagem sem código – mensagem denotada – que se recria a partir da
mensagem conotada.
Qual é então o papel que joga o texto informativo dessas mídias
impressas junto à fotografia? Hoje o texto constitui-se em uma «mensagem
parasita» que tem como finalidade conotar a imagem, impondo um ou mais
significados secundários. Em princípio, a imagem ilustra o texto; na atualidade,
a imagem se faz mais consistente pelo texto, já que este acrescenta cultura,
moral e imaginação. A mensagem linguística pode cumprir duas funções a
respeito da imagem. Uma delas, a mais frequente nas fotografias de imprensa,
é a de ancoragem; nesses casos o texto ou a palavra fixa um de todos os
possíveis significados que pode ter a imagem. Outra função é a do relevo, a
qual não implica uma relação de redundância entre a mensagem verbal e a
imagem visual, o texto não duplica informação presente na imagem, mas traz
uma nova informação.
Desta forma, a proposta primeira deste trabalho foi analisar a campanha
eleitoral à Prefeitura de São Paulo em 2012 sob as categorias da mensagem
conotativa da trucagem, pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe, a fim
de apresentar algumas propostas:
1) Explorar os fundamentos da crítica ideológica barthesiana de Mitologias
com o fim de estabelecer os procedimentos de desmontagem pela
desmitificação propostos por Barthes.
2) Estabelecer os pressupostos teóricos e metodológicos da «mensagem
fotográfica» para fundamentar as categorias da conotação propostas
para a análise do corpus do projeto.
3) Contextualizar social e culturalmente a campanha eleitoral à Prefeitura
de São Paulo em 2012 no tratamento dado à informação tanto do ponto
10
de vista da Folha de São Paulo quanto do ponto de vista de O Estado de
São Paulo.
4) Caracterizar cada uma das categorias da mensagem conotativa com
exemplos ilustrativos de cada uma delas.
5) Interpretar o corpus do projeto de pesquisa, considerando os
fundamentos do primeiro e segundo capítulos da estrutura da
dissertação com o intuito de demonstrar como as categorias da
conotação influenciam o leitor/eleitor na hora de votar e nos resultados
da eleição.
Para isso, partiu-se do pressuposto de que uma mídia impressa exerce
influência na captura de imagens intencionalmente trabalhadas ou conotadas
junto ao texto para produzir um efeito de sentido eficaz no leitor/eleitor. Desta
forma, as categorias da mensagem fotográfica reforçam o teor ideológico da
mídia na sua tentativa de persuadir o leitor/eleitor a respeito dos modos de
pensar e de agir perante um processo eleitoral. Os resultados das eleições
para a Prefeitura de São Paulo demonstram que as categorias da trucagem,
pose e sintaxe são as mais eficazes para este fim.
A fundamentação teórica deste trabalho reside naquele apontado por
Roland Barthes em Mitologias ([1954-1956]2006), em que está colocada a
questão das tensões entre o conotado e o denotado no campo da fotografia
contemporânea.
Mitologias é uma coleção de 53 ensaios breves que Barthes escreveu
para uma revista literária sob a rúbrica «mitologia do mês». Essa coluna foi a
forma com a qual Barthes fez frente à explosão da cultura de massas na
década seguinte à Segunda Guerra Mundial – a chegada de um grupo híper
mercantilizado de meios: revista, cinema, rádio, televisão, que configurava a
vida social de todos em um nível mais profundo, como uma espécie de nova
forma de gravidade psicológica. Barthes propôs a cultura de massa a partir de
Newton para identificar as leis de seu comportamento, provar suas tensões e
deixar de manifesto os limites invisíveis de sua influência.
A ideia básica de Barthes nesta obra é que os discursos de uma cultura
de massa escalonam-se ou distendem-se em mitologias. O projeto semiológico
11
consistiria em decodificar tais escalonamentos. Esse autor não foi o único a
escrever nos anos 50 sobre esse tipo de trivialidades. Mas seu tom foi único:
um rigor individual teórico que plasmou em aforismos e fez compreender as
coisas familiares do cidadão. Muitas das suas ideias do autor se aplicam
poderosamente à cultura contemporânea – daí a atualidade de seu
pensamento –, como aconteceu com a França do pós-guerra. Nisto reside, por
exemplo, a análise já citada das fotos de campanha – ainda populares hoje em
dia – nas quais os políticos olham à distância, para o futuro.
Barthes define a fotografia como uma nova alucinação, falsa no nível da
percepção, mas verdadeira no nível do tempo. E, em relação à imagem
fotográfica, considera que a fotografia só adquire seu valor pleno com a
desaparição irreversível do referente, com o passar do tempo.
«Na realidade, aquilo que permite ao leitor consumir o mito
inocentemente é o fato de ele não ver no mito um sistema semiológico, mas
sim um sistema indutivo: onde existe apenas uma equivalência, ele vê uma
espécie de processo causal: o significante e o significado mantêm, para ele,
relações naturais» (Barthes, 2006, p.152). É esse jogo de significação que dá
embasamento ao objeto de pesquisa desta dissertação.
A lição básica de Mitologias é que as mídias ultrassignificam
excessivamente seus discursos. E, se a cultura do século XXI tem adotado
algumas das lições de Barthes, o que se explora não é a cultura de massas,
mas uma crítica da mesma, a disecção barthesiana de tudo, sem importar a
trivialidade. Isto acontece em todas as partes agora, quase sempre em tempo
real. E esta análise crítica é vital, interessante e consumível como a cultura que
se discute. Neste sentido, Mitologias situa o crítico no meio e entre, ele não é
um consumidor regular de cultura, entretanto, é alguém profundamente imerso
nela, o suficiente como para apreciar seus mecanismos internos.
No caso deste trabalho, trata-se da aplicabilidade do método
semiológico proposto por Barthes à análise das mídias jornalísticas escolhidas.
O semiólogo defende a ideia de que a fotografia vai além do que se vê e seu
sentido estaria mais associado à essência ou ao referente que acompanha as
imagens.
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Em relação ao método proposto para a análise do corpus, existem três
planos de análise de uma fotografia jornalística: o denotativo, o conotativo e o
cultural. O primeiro se vincula à condição e perfeição analógica da imagem, ao
significado associado à realidade que se observa e que poderia ser
considerada a equivalência da «significação primária ou natural» da iconologia
de Panofsky. O segundo corresponderia aos significados dos significantes que
desbordam a representação da realidade e se relacionam com os elementos do
conteúdo. O terceiro consiste em uma contextualização da visualização da
imagem, levando em consideração os condicionadores sociais e históricos do
momento do espectador.
Da obra derradeira de Roland Barthes A câmera clara ([1980] 2011),
resgata-se a interpretação de sua teoria virando para uma subjetividade pura
que lhe permite realizar um dos textos mais influentes da perspectiva
interpretativa de raiz fenomenológica. Provavelmente influenciado pela sua
monografia «Sobre a fotografia» (1971), Barthes desenvolve e aplica um novo
método de análise que experimenta consigo mesmo, dissecando suas imagens
mais estimadas, enfatizando o protagonismo do receptor.
Dentro desta nova visão personalizada, o autor introduz dois conceitos
fundamentais na sua teoria: studium e o punctum. Enquanto o studium significa
interesse, gosto por algo ou alguém, o estudo cultural da fotografia, seu campo
conotativo conduz a alguma coisa; o puctum viria em busca do analista e o
atravessaria como uma flecha, «seria essa imagem que provoca um
estremecimento do nível subjetivo» da pessoa a partir de suas experiências
pessoais.
Existe um puctum que evidentemente está relacionado com a forma,
mas, por outro lado, também existe um puctum que perturba em nível
cronológico, ligado ao tempo. Este último certifica a caducidade, mostra a
tragédia passada, presente ou futura e, tudo por sua vez, girando entorno do
horror do fim inevitável: a morte. Neste sentido, ao observar uma fotografia se
assiste por sua vez a uma paradoxal dualidade: a realidade atual e a realidade
passada. Os fotógrafos convertem-se, assim, em inconscientes «agentes da
morte».
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Outra referência a este quesito está em O Óbvio e o Obtuso
([1964]2009), onde Barthes visualiza que a fotografia permite ao fotógrafo
escamotear a preparação para a cena que se pensa captar. Reforça-se nesta
obra que a leitura da fotografia sempre é histórica, pois depende de um saber,
do saber do leitor, como se fosse uma língua que só é inteligível para aquele
que aprende seus signos.
Igualmente, observa-se que o texto e a imagem são os principais
procedimentos da conotação da imagem fotográfica – trata-se de técnicas – e,
assim mesmo, pode-se considerar o texto que acompanha a fotografia,
constituída em mensagem, um significante destinado a comentar a imagem,
isto é, infundindo nela um ou vários significados.
Desta forma, a imagem não significa por si, é a palavra que lhe dá
sentido. Essa imagem funciona como um retorno episódico à denotação, a
partir de uma mensagem principal, no entanto, hoje em dia, pode-se visualizar
a amplificação da imagem por parte do texto. A conotação não se vive já, mas
como ressonância natural da denotação fundamental, a qual constitui a
analogia fotográfica, de modo que o processo como um todo se caracteriza
como algo da ordem cultural.
A fotografia, segundo Barthes, guarda certa autonomia frente ao controle
do fotógrafo e dos fotografados. A placa fotográfica pode captar elementos não
previstos, não controlados, já que seu referente é tudo o que aparece à lente.
Nas próprias palavras de Barthes (1984, p.114), a «essência» da fotografia é
sua conexão concreta com o referente real.
Por ser considerado o autor que melhor corresponde aos propósitos
desta dissertação, seus referenciais teóricos concentraram-se na obra de
Roland Barthes. Partiu-se do presente de uma atividade considerada trivial,
como uma campanha de política eleitoral, tratada pela mídia impressa no seu
afã de mitificar práticas sociais.
Um dos primeiros passos dos procedimentos adotados consistiu em
fazer um levantamento bibliográfico na obra de Roland Barthes, capaz de
mostrar a atualidade de seu projeto semiológico no que se refere a esse
período trimestral em que as estratégias comunicativas afloraram e
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transformam-se em fonte de interesse para os leitores/eleitores. Fundamentou-
se teórica e metodologicamente os conceitos de mensagem denotativa e
conotativa, assim como a imbricagem de ambas na «mensagem fotográfica».
Por fim, com outras obras reforçou-se o conteúdo para a elaboração do
primeiro capítulo, assim como a escolha das imagens mais representativas de
cada uma das categorias da conotação.
Um segundo passo neste sentido foi a coleta do corpus que se deu a
partir da escolha de capas dos próprios jornais que anunciavam o andar do
processo pré-eleitoral, seja com imagens, chamadas de capa do jornal ou do
caderno interno e textos complementares.
Foram utilizados como procedimentos também metodológicos algumas
regras básicas a serem consideradas para a interpretação fotográfica:
1º Sujeitos/Conteúdos
Analisam-se fotografias selecionadas e publicadas nas capas do jornal e
nos cadernos específicos das eleições que bem refletem episódios
diretos da mesma – palanques, visitas, entrevistas, entre outras.
Também são incluídas as fotografias do mesmo tema publicadas em
outras secções do jornal, além das capas antes mencionadas e dos
suplementos. São excluídas dessa seleção e do estudo as imagens
fotográficas que, ainda aparecendo nos espaços indicados, por seu
conteúdo e tamanho reduzido carecem de significado informativo.
2º Desenho e procedimento
Toma-se como ponto de partida a ideia de que a análise do conteúdo
pode ser utilizada para dissecar/desmitificar qualquer produto de
comunicação midiática, para conhecê-lo em profundidade, para saber
como foi feito, para inferir e predizer seu mecanismo de influência. Esta
técnica de pesquisa quantitativa se apresenta como idônea para a
finalidade deste trabalho.
Dado que a fotografia é uma representação icônica da realidade datada
da mensagem que além do mais, possui um caráter polissêmico, a
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mesma pode ser admitida como objeto adequado para a análise do
conteúdo. Realiza-se uma ficha matriz para codificar o conteúdo de
todas as unidades de análise, em cuja construção tem-se utilizados
critérios gerais previamente definidos e aceitos pela comunidade
científica. Os registros codificados durante a pesquisa, um por cada
unidade de análise, voltar-se-ão para base de dados sobre a qual se
executarão consultas específicas para estabelecer, classificar e
quantificar as características denotativas e conotativas das fotografias.
3º Instrumentos
O instrumento utilizado para a análise dos dados foi parte dessa
documentação na matriz ou base de dados composta por um conjunto
de indicadores agrupados em três categorias básicas, que interessam
ao propósito da pesquisa: atributos documentais, traços de codificação
fotográfica e de composição/diagramação.
O primeiro instrumento é denotativo – o que se mostra na fotografia –,
enquanto que os restantes são os que refletem a parte conotativa da
imagem – o que se sugere, por meio da mediação subjetiva do fotógrafo
e do diagramador. Aprecia-se neste desenho uma dupla concordância
com as ideias de Barthes sobre a «mensagem fotográfica» com a
presença na fotografia de mensagens denotadas e conotadas; também
o propósito do fotojornalismo como a notificação de acontecimentos
reais, interpretados visualmente por um fotógrafo e orientados por
critérios de contingência, mediatizados por vários processos
codificadores – fotográfico, informativo e de impressão fotomecânica.
A matriz de análise/base de dados foi concebida pelo critério de
adequação às características concretas que apresentam as fotografias
analisadas, obviando alguns aspectos pouco significativos e priorizando
outros.
Elaboraram-se para isto tabelas que recolhem as categorias e
indicadores que compõem a matriz documental ou base de dados:
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Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Identificação do candidato.
Papel Função do protagonista
principal/candidato.
Partido Partido político ao qual pertence.
Episódio Enquadramento episódico específico da
imagem.
Data de obtenção Identificação da data da captação da
imagem.
Meio Folha de São Paulo/O Estado de São
Paulo.
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Campo de visão captado: geral, grupal ou
curto.
Impressão gestual Gestualidade que mostra o candidato.
Ação/Estaticismo Valor dinâmico visível do candidato
Cenografia Entorno, elementos do ambiente,
vestuário.
Verticalidade Captação em picado ou contrapicado.
Equilíbrio Predomínio compositivo de simetria ou
assimetria.
Angulação Presença de efeitos de grande angular ou
objetiva.
Simbolismo Presença de gestos ou objetos
simbólicos.
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Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página Publicação de capa do jornal ou caderno.
Tamanho Medição em colunas de páginas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato noticioso Concordância entre o assunto central e a
fotografia.
O método proposto neste trabalho segue as orientações do próprio
Barthes, uma vez que a desconstrução traz uma estratégia para desmascarar e
expor as inconsistências e contradições que desmentem qualquer interpretação
unívoca, «correta» ou mimética. Este método desconstrutivista tenta
desestabilizar o texto e produzir uma «contra-leitura». Assim, permite ver como
as narrativas textual e fotográfica estão montadas sobre uma estrutura de
dimensões e hierarquias instáveis e questionáveis. Tal estratégia não tenta
construir uma «verdade», mas ver como se tem construído uma «verdade
sobre alicerces arbitrários».
Este trabalho ancora-se na linha de pesquisa Análise das Mídias,
fundamentada na teoria da semiótica discursiva abraçada por Roland Barthes
no espectro semiológico de seu projeto, e na pesquisa sobre o «neutro», o
sentido velado em oposição ao conotado do mito da Profa. Dra. Leda Tenório
da Motta, que orienta esta dissertação.
18
CAPÍTULO 1
A mensagem fotográfica no contexto referencial do jornalismo
Este capítulo inicial trata da imagem fotográfica tal como definida por
Roland Barthes em algumas das principais obras do seu projeto semiológico. O
autor sustenta que a mensagem denotada leva a descrever literalmente uma
fotografia que, por sua vez, sempre conduz a uma inevitável conotação, é a
língua a qual permite tal descrição e, portanto, esta se vê condicionada
culturalmente.
A partir da atualidade do mito na sua obra-prima Mitologias que trata do
entorno social na sua convergência com a imagem fotográfica, a proposta de
análise se dá entre a crítica ideológica da linguagem e a desmontagem das
linguagens pretendidas na análise1. Nesse sentido, as categorias da trucagem,
pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe serão aplicadas à forma em que
O Estado de São Paulo e a Folha abordam a campanha política dos candidatos
à Prefeitura de São Paulo em 2012.
A proposta de uma leitura da imagem na imprensa é relevante uma vez
que a imagem tem se convertido, cada vez com mais força, em um elemento
essencial para a configuração dos meios impressos. Semelhante aos textos, as
imagens devem ser analisadas em sua forma – expressão – e seu conteúdo –
significado. O caráter diversificado reconstrói a imagem e os textos com uma
ampla gama de modos de representação e comunicação.
A leitura da imagem discrimina os distintos elementos que conformam a
imagem jornalística no processo de eleições. Por esta razão, as aplicações das
categorias da mensagem conotada se transferem ao corpus do trabalho que
contempla o período entre 1º de agosto a 31 de outubro de 2012 nos jornais
Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo.
1 Dados biográficos relevantes sobre Roland Barthes podem ser encontrados no livro Roland Barthes –
uma biografia intelectual (2011), de Leda Tenório da Motta. Neste trabalho favorecem-se aspectos teóricos e metodológicos em detrimento do percurso vital do autor, assinalado pela autora, que ressalta a imbricagem dessa trajetória com o conjunto e a atualidade da obra do crítico francês, sobretudo em mitologias.
19
1.1. Mitologias do entorno social e o processo fotográfico
Barthes é um desmitificador de imaginários e oferece novas formas de
ver o mundo. Na década de 1950, lançou sua obra-prima Mitologias, coletânea
que reúne uma série de artigos publicados em jornais e revistas que falam dos
mitos do cotidiano social. Suas mitologias continuam em evidência na
contemporaneidade no que se refere aos temas abordados pela mídia no seu
afã de discutir questões da esfera pública.
Para o semiólogo, o mito é uma forma de fala, despolitizada e produzida
pela conotação. Trata-se de uma distorção, deformação da realidade ou
ideologia. O mito, neste sentido, não nega as coisas, apenas as torna
inocentes, oferecendo-lhes uma significação natural e eterna, com a mediação
de seu caráter imperativo. O mito não se define pelo objeto de sua mensagem,
mas por sua forma2. Pode ser pronunciado através de várias representações
de um fato, de um anúncio, de uma reportagem, ou de uma fotografia
jornalística, entre outras. Usa mensagens factuais, denotativas, mas explora
acima de tudo a conotação.
Barthes sustenta que a função do mito na mídia é a neutralização e
eternização da sociedade burguesa, transformando uma contingência histórica
em transcendente. Estudou a mídia, relacionando-a com o contexto social e
cultural. Concebeu que o signo deve ser estudado tanto na língua quanto na
fala, isto é, através de uma semiologia ativa que se preocupa com o afazer
cotidiano3. O signo é então relativo e histórico, não uma verdade absoluta.
Deste modo, Barthes rompe com Saussure e vai para um estruturalismo
2 O próprio autor é categórico ao afirma que: «a noção de mito pareceu-me desde logo designar estas
falsas evidências... o mito é uma linguagem» (p. 7). E como tal, insere-se na abordagem estruturalista, sendo fiel ao legado de Ferdinand Saussure que prefigurou o projeto semiológico na continuidade que Barthes deu ao mesmo.
3 Tal projeto de uma semiologia sobre o mito favorece a fala, o autor o explica dizendo: « ...é da língua
de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se fala da primeira» (p. 137). Assim, Barthes reforça o dito na nota anterior.
20
dialético, uma percepção que relaciona o signo com seu contexto sócio-
histórico: o translinguístico que interessa ao autor4.
Certamente, a mídia foi objeto invariável em seus estudos,
considerando-a como ponto de partida e chegada, aplicou categorias
originalmente constituídas para sua compreensão. A fundamentação inter e
transdisciplinar das categorias barthesianas permite aplicá-las à análise das
mídias e seus produtos, aliada ao campo teórico e prático, descobrindo o poder
da forma e a invariância estrutural. Nisto reside o interesse deste trabalho que
toma o mito da política eleitoral como um acontecimento histórico presente na
trivialidade do dia a dia para desmitificar a forma através da qual a mídia
impressa lida com este tipo de situação.
Em Mitologias, Barthes reúne cinquenta breves artigos publicados na
revista mensal Letters Nouvelles a partir de 1952. Neste livro, o autor
desmitifica a cultura social, deixando de lado a crítica literária para ser um
crítico da sociologia espontânea. Isto o demonstra ao destruir fetiches da
burguesia francesa dos anos cinquenta. Passa a analisar o mito como um
sistema semiológico e penetra no campo reservado à ciência, com base em
assuntos do cotidiano e com o princípio de realizar por um lado, uma crítica
ideológica da linguagem da cultura de massas e por outro, uma desmontagem
dessa linguagem que se dá por meio da análise.
Barthes consegue decodificar os mitos em que se consideram inúmeros
aspectos de uma realidade mascarada pela imprensa, o cinema, a arte e pelos
demais veículos de comunicação, sempre a serviço dos intesses ideológicos.
A obra citada está dividida em duas partes: a primeira «mitologias» é
constituída por ensaios nos quais Barthes posiciona-se como um
desmitificador, buscando tratar da significação dos mitos contemporâneos,
explorando cenas da vida cotidiana francesa. Na segunda parte «o mito é uma
fala» (BARTHES, 2006: p. 199) trata-se o mito como um sistema semiológico,
4 Sobre essa inovação do estruturalismo dialético, Barthes afirmar: «é preciso não esquecer que,
contrariamente ao que sucede na linguagem comum, que me diz simplesmente que o significante exprime o significado, devem-se considerar em todo o sistema semiológico não apenas dois, mas três termos diferentes...temos, portanto, o SIGNIFICADO, o SIGNIFICANTE e o SIGNO, que é o total associativo dos dois primeiros termos» (p. 134-135).
21
isto é, revestido da capacidade de analisar a forma e o conteúdo, sendo este
último o conceito que possibilita as relações entre a natureza e a história.
Assim, nesta dissertação alguns desses ensaios são considerados como
procedimentos de análise e, a segunda parte, como a fundamentação teórica e
metodológica da análise.
Deste modo, o mito define-se também como um sistema de
comunicação historicamente determinado, uma fala que não se define pelo
objeto de suas mensagens, mas pela maneira como esse discurso é proferido.
Perante suas limitações formais, impõe-se a subjetividade como intenção
comunicativa universal.
O mito como sistema semiológico é caracterizado como a ciência das
formas, haja vista que estuda as significações, independente de seu conteúdo.
Barthes enfatiza que a fala mítica é formada por uma matéria que visa uma
comunicação apropriada, situando o mito em uma relação de dependência de
uma ciência geral dos signos proveniente e extensiva à linguística. A
semiologia é a ciência das formas, explorando o fato que define o mito como
um valor de equivalência. No sistema semiológico existem três conceitos
diferentes: significante, significado e signo5. Este último é pleno e cheio de
sentido graças à imbricagem dos primeiros. Esta equação é repensada a partir
do próprio projeto de Barthes em relação à mensagem fotográfica.
Barthes é herdeiro do sistema semiológico intuído por Ferdinand de
Saussure, que estudou um sistema específico: a língua e, nesse sistema, o
significado equivale ao conceito, o significante a sua imagem acústica e o signo
que estabelece a relação entre o conceito e a imagem podendo chegar ao
sentido da mensagem.
No texto «O mito, hoje», vem à tona o aporte de Sigmund Freud (1856-
1939) que nos seus estudos sobre o psiquismo –«inconsciente» – um
termo/conceito é constituído pelo «sentido manifesto» do comportamento e o
5 A equivalência do mito com o sistema semiológico aparece em Barthes quando este diz: «... o mito é
um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia semiológica que existe já antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo no primeiro sistema, transforma-se em simples significante no segundo» (p. 136).
22
«sentido latente» ou próprio do sonho. O terceiro termo refere-se à correlação
dos dois primeiros: o próprio sonho na sua totalidade, atos falhos ou as
neuroses entendidas como compromissos e economias, realizadas graças à
junção da forma –significante –, e de sua função intencional – significado.
Nesse sentido, o sonho de Freud não é apenas um conteúdo manifesto nem
um conteúdo latente, mas a relação entre ambos (BARTHES, 2006: p. 204). A
equivalência dos termos usados por Freud com a teoria do mito de Barthes
resultam interessantes, sobretudo, para entender que o conteúdo latente é o
que precisa ser relacionado com o manifesto da fala para entender a
mensagem na sua totalidade6.
Tanto em Saussure quanto em Freud a mensagem é o resultado da
exploração do nível icônico e indicial na semiótica peirciana, aos quais Barthes
dá o nome de denotação e conotação 7 . Observa-se igualmente que o
semiólogo francês colhe do primeiro o sentido estrutural do signo e do segundo
suas equivalências. Certamente, Barthes faz extensivo seu método semiológico
com ênfase no referente, isto é, na realidade na qual o signo está inserido,
sendo este o ponto original e nodal no qual o autor constroi sua teoria da
mensagem conotada (IDEM, p.210).
De Jean Paul Sartre, Barthes destaca uma crítica na qual o significado
se assenta na crise original do sujeito – usando como exemplo a separação da
mãe com Baudelaire: poeta, flâneur e teórico da arte francesa –; na literatura
como discurso, em que forma ou significante estabelecem a dualidade
6 A partir de Mitologias, Barthes reforça o caráter imbricante da mensagem: «sabemos agora que o
significante pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final do sistema linguístico, ou como termo inicial do sistema mítico. Precisamos, portanto, de dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo final do primeiro sistema, chamarei ao significante – SENTIDO... no plano do mito, chamar-lhe-ei – FORMA. Quanto ao significado, não há ambiguidade possível: continuaremos a chamar-lhe conceito. O terceiro termo é a correlação dos dois primeiros: no sistema da língua é o signo; mas não se pode retomar esta palavra sem ambiguidade, visto que, no mito (e isto constitui a sua particularidade principal) o significante já é formado pelos signos da língua. Chamarei ao terceiro termo do mito, SIGNIFICAÇÃO... porque o mito tem efetivamente uma dupla função: designa e notifica, faz compreender e impõe» (p. 138-139).
7 Deste modo, a relação que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de
deformação... para Freud, o sentido latente do comportamento deforma o sentido manifesto, assim, no mito, o conceito deforma o sentido. Naturalmente, esta deformação só é possível porque a forma do mito já é constituída por um sentido linguístico» (p. 143). Nesse sentido, Barthes encontra no método psicanalítico freudiano uma correspondência entre o conteúdo manifesto do sonho, isto é, o relato do mesmo e o conteúdo latente que corresponde à interpretação que sugere o analista na exploração das produções do inconsciente.
23
simétrica e arbitrária do signo que, por sua vez, também se instaura em outra
crise -a do discurso que define a obra, gerando significação. Por esta razão, o
projeto semiológico responde a um esquema tridimensional da forma, mas não
funciona sempre do mesmo modo, seu campo é a linguagem, portanto, está
sujeita à leitura e ao deciframento nesse sentido8.
Assim, o mito responde ao esquema tridimensional básico: significante,
significado e signo. Havendo um sistema semiológico secundário em que o
signo corresponde à totalidade associativa de um conceito e de uma imagem
no primeiro sistema da língua, transformando-se em significante no segundo
sistema. As matérias-primas da fala mítica às quais Barthes faz referência – a
língua propriamente dita, fotografia, pintura, cartaz, rito, objeto, entre outras –,
por mais diferentes que sejam inicialmente, do momento em que são captadas
pelo mito reduzem-se a uma função significante: o mito vê nela uma mesma
matéria-prima; sua unidade provém do fato de serem todas reduzidas ao
simples estatuto de linguagem objeto.
Para chegar a isto, o mito incorpora dois sistemas semiológicos, um
deslocado em relação ao outro. No primeiro sistema linguístico, a língua –
linguagem/objeto – o mito utiliza a linguagem para construir seu sistema. Trata-
se de uma metalinguagem porque é uma segunda língua que fala da primeira.
Em decorrência disto, Barthes sinaliza que o semiólogo deve tratar da mesma
maneira a escrita e imagem, considerando que ambas são signos para
alcançar o limiar do mito ao possuir a mesma função significante, a linguagem
do objeto representado (BARTHES, 2006: p. 206).
O significante no mito é o termo final do sistema linguístico ou como
termo final do sistema mítico. No plano da língua, termo final do primeiro
sistema. O significado é nomeado como conceito, em ambos os sistemas, já o
8 O esquema tridimensional da forma em Barthes supõe a «crise do sujeito», apontada por Sartre na
seguinte citação de Mitologias: «Mas o ponto capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido,
empobrece-o apenas, afasta-o, conservando-o à sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas é uma morte suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como uma reserva instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar... jogo de esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito não é um símbolo... é uma presença emprestada» (p. 140).
24
terceiro termo, a correlação dos dois primeiros: no sistema da língua é
chamado de signo e, no mito de significação, porque «o mito tem efetivamente
uma dupla função: designa e notifica, faz compreender e impõe» (BARTHES,
2006: p. 208).
Em «forma e conceito», o significante no mito apresenta
simultaneamente o sentido e a forma, pleno de um lado, vazio do outro. A
forma, diz Barthes, não suprime o sentido, o conservado à sua disposição. O
sentido teria a morte suspensa, conservando-se vivo no mito. A forma do mito
não é simbólica, pois, segundo Barthes, retomando o exemplo do negro da
capa da Paris Match, não é cumplice do conceito de imperialismo francês e se
constitui como uma presença emprestada através do conceito, uma história
nova e incorporada no mito.
Por isto, a principal característica do conceito de mito é ser apropriado,
pois permite que uma história nova seja incorporada no mito9. O conceito
corresponde a uma função precisa e define-se como tendência, já que um
significado pode ter vários significantes; como no exemplo anterior, é possível
encontrar muitas imagens que representem ou signifiquem o imperialismo
francês. O conceito, deste modo, é qualitativamente mais pobre do que o
significante - limita-se com frequência a reapresentar ou reapresentar-se.
No final de «forma e o conceito», Barthes reafirma que o conceito é um
elemento constituinte do mito e o trabalho do analista consiste em nomear
esses conceitos10.
Do item «a significação», o autor disse que esta é própria do mito, ele
não esconde nada e tem a função de deformar. Tal deformação é possível
porque a forma do mito é constituída por um sentido linguístico. No primeiro
sistema, o da língua, o significado não pode deformar nada, porque o
significante, como já dito, é vazio, arbitrário, não oferece resistência nenhuma.
9 «Sabemos que o mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua literalidade»
(p. 145). A atualidade do mito parece ser uma preocupação constante de Barthes que propõe a desmitificação de certos hábitos pelos meios de comunicação social.
10 Trata-se justamente de uma alusão direta ao trabalho crítico para o qual: «... tudo se passa como se a
imagem provocasse naturalmente o conceito, como se o significante criasse o significado» (p. 150-151).
25
No mito, o significante apresenta duas faces: uma plena, que é o sentido
e, uma vazia, que é a forma. O conceito deforma a face plena, o sentido.
Sendo o mito um valor, uma espécie de álibi. O sentido existe sempre que
apresente uma forma, mesmo que seja para distanciar o sentido. Sendo assim,
o caráter do mito é imperativo e interpelatório, pois surge de um conceito
histórico que vem diretamente da contingência, obrigando-se a acolhida da
ambiguidade expansiva ou motivação.
A significação mítica não chega a ser completamente arbitrária, é
sempre, como já dito, motivada, contendo fatalmente uma analogia do sentido
e da forma. O mito é assim um sistema ideográfico puro no qual as formas são
ainda motivadas pelos conceitos que representam, sem encobrir a totalidade
representativa desse conceito (BARTHES, 2006: p. 118).
Em «Leitura e decifração do mito», a questão da análise fica mais em
evidência, partindo do pressuposto que Barthes propõe três tipos diferentes de
leitura semiológica do mito:
1ª. Focalização no significante vazio – o conceito preenche a forma do
mito sem ambiguidades, a significação volta a ser literal.
2ª. Focalização do significante pleno, distinguindo o sentido da forma,
produzindo a deformação que um provoca no outro, é destruída a significação
do mito. Tal focalização do analista que decifra o mito e compreende a
deformação.
3ª. Focalização do significante do mito, enquanto totalidade de sentido e
forma, a significação é ambígua e ocorre uma leitura de acordo com a dinâmica
própria do mito. A focalização é dinâmica e o leitor vive o mito como uma
história verdadeira e irreal (IDEM, p.220).
Contudo, o mito não é uma mentira nem uma confissão. Trata-se de
uma inflexão imperfectível e indiscutível, o tempo e o saber nada lhe podem
acrescentar ou subtrair. Assim, o mito é lido inocentemente quando não é lido
como um sistema semiológico, mas como um sistema indutivo, isto é, quando
há uma equivalência se lê como processo causal, no qual significante e
significado mantém relações naturais, todo sistema semiológico é, portanto, um
sistema de valores (IDEM, p. 223).
26
Por fim, em «Mito como linguagem roubada» destaca-se que a função
específica do mito é de transformar um sentido em forma. A língua, segundo
Barthes, oferece uma fraca resistência ao mito, pois ele pode desenvolver um
segundo esquema, a partir de qualquer sentido ou a partir da própria privação
do sentido. Esta questão do roubo do mito à linguagem demarca a análise a
ser realizada do corpus das campanhas políticas à Prefeitura de São Paulo
como uma conjugação de duas críticas: a ideológica e a semiológica e seus
respectivos métodos (BARTHES, 2006: p. 229).
Em «A burguesia como sociedade anônima», «O mito é uma fala
despolitizada», «O mito, na esquerda», «O mito, na direita» e «Necessidade e
limites da mitologia» justifica-se o método desconstrutivista de Barthes que
reforça a ideia de que o mito nunca está no «grau zero» da língua11.
A ideia básica de Barthes é que o funcionamento da cultura de massas é
análogo à mitologia. Sustenta logo na primeira parte de Mitologias que o
trabalho cultural realizado previamente pelos deuses e as sagas épicas –
ensinar os cidadãos os valores de uma sociedade, proporcionando uma
linguagem comum – o fazem agora as estrelas de cinema, os anúncios
publicitários e os candidatos às eleições que representam ideologicamente o
projeto de um partido político.
Muitas das ideias de Barthes se aplicam poderosamente à cultura
contemporânea como o fizera outrora com a França da pós-guerra. Aí fica, por
exemplo, a análise das fotografias de campanha eleitoral – «Fotogenia
eleitoral», popular ainda hoje – em que os políticos olham à distância: «O olhar
se perde nobremente no futuro, não afronta, domina e fecunda outro domínio»,
o qual se deixa sem definir castamente, trata-se de um além respeituosamente
indefinido (IDEM, p. 164).
Quase todas as fotografias dos chamados «santinhos» de três quartos
de cara são ascencionais, o rosto se eleva para uma luz sobrenatural, que o
11 Para falar de que o mito nunca está no «grau zero da língua», Barthes refere-se a um sistema que
supõe a experiência real da imagem fotográfica que antecede a inserção do texto na sua análise crítica: «...é da língua de que o mito se serve para construir o seu próprio sistema; e o próprio mito, a que chamarei metalinguagem, por que é uma segunda língua, na qual se fala da primeira» (p. 137).
27
banha e o transporta à esfera de uma humanidade superior, assim o candidato
alcança o Olímpo dos sentimentos elevados, onde todas as contradições
políticas se resolvem. Isto da fotogenia e da pose se aplica a personagens
públicos tais como o Che Guevara, Obama, o Papa Francisco, entre outros que
têm sua figura representada nas fotografias.
A lição básica de Mitologias é a de que as mídias ultrassignificam
abusivamente seus discursos 12 . Se a cultura do século XXI tem adotado
algumas das lições de Barthes, é o que é a blogosfera a não ser uma caixa de
Petri da semiologia amadora – a descodificação de tudo? Isto sugere, no
entanto, uma das principais diferenças entre os Estados Unidos pós-milenial e
a França dos anos 1950. Barthes escreveu sobre o que se pensava que era a
cultura de massas: um momento em que a relação do cidadão médio com as
imagens mudava rapidamente, quando os textos compartilhados pelas pessoas
comuns foram repentinamente não só religiosos, cívicos ou locais, mas globais:
um conjunto comum de imagens extraídas do entretenimento comercial.
O amanhecer desse tipo de cultura há muito tempo ocorreu. Hoje se vive
pelo menos no final da tarde, possivelmente o ocaso. Internet, como é notória,
chegou e fraturou a base do modelo antigo. Em lugar de simplesmente
absorver passivamente uma série de broadcasts de Planet Mídia, os
consumidores participam diretamente na criação da cultura.
O que está sendo explorado na contemporaneidade não é a cultura de
massa, mas a crítica desse tipo de cultura – a dissecção barthesiana de tudo,
sem importar que tão trivial esta seja. Isto sucede em todas as partes agora,
quase sempre no tempo real. E essa análise crítica é tão vital, interessante e
consumível como a cultura que se discute. Considere-se, por exemplo, a forma
em que a crônica televisiva tem se convertido em uma forma criativa quase
independente. Assim, a análise crítica da cultura popular converteu-se em uma
espécie de cultura pop. Aproxima-se de algum tipo de singularidade: um
colapso da criatividade e da crítica.
12 Barthes mostra o tempo todo preocupação, uma busca pelo sentido último das coisas: «através do
conceito, toda uma história nova é implantada no mito...» (p. 141).
28
Um crítico da cultura está, por definição, no meio e entre: não é um
consumidor regular de cultura e, no entanto, é alguém perfeitamente imerso
nela, o suficiente como para apreciar seus mecanismos internos. Barthes
escreveu sobre a cultura de massas, quase sempre, como proscrito radical.
Esta é uma das principais fontes do poder de Mitologias. Ele era uma figura
marginal na cena intelectual francesa, escrevendo em uma revista literária, não
para os consumidores de cultura de massa, mas para outros intelectuais. De
fato, um dos aspectos mais chamativos da obra é o desprezo de Barthes à
pequena burguesia, o público objetivo da cultura que ele dissecava – O
«inimigo fundamental», escreve, é a «norma burguesa» (BARTHES, 2006: p.
233).
Mitologias muitas vezes é um livro agressivo, e o que enfurecia a
Barthes era o «senso comum» que ele identificou como a filosofia da
burguesia, um modo de pensamento que sistematicamente entende que as
coisas complexas são simples, que as coisas desconcertantes são evidentes,
que as coisas locais são universais – em síntese, que as fantasias culturais
compartilhadas por todas as contingências sujas do poder, o dinheiro e as
histórias são, de fato, a ordem natural do universo. O trabalho do crítico, na
opinião de Barthes, não consiste em revelar esses mitos de sentido comum,
mas pronunciá-los como fraudulentos. O crítico tem de seu lado a história, não
a cultura. E a história insiste Barthes «não é um bom burguês».
É difícil imaginar na atualidade muitos críticos posicionando-se fora da
cultura pop na medida em que o Barthes o fez. A cultura de massas tem
crescido e evoluído; tem-se «naturalizado» mais a fundo e, portanto, voltou-se
mais resistente à crítica, inclusive quando floresce a crítica cultural. Essa crítica
vem com muita mais frequência das profundezas da cultura, com a atitude
dominante da aceitação.
Tudo isto formula a questão: a crítica profundiza ou debilita as forças,
fazendo do crítico alguém melhor qualificado para interpretar ou simplesmente
reduz aos analistas a simples jogadores no grande teatro capitalista da cultura
de massa? Mitologias é um livro dedicado inteiramente à cultura pop dos anos
de 1960, surpreendente e relevante na atualidade – contemporaneidade.
29
Destas ideias surgidas da obra referencial podem se transpor os
conceitos do autor com o fim de entender sua utilidade para a proposta que
envolve a análise da campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo em
2012. Na análise da estrutura do mito das eleições, Barthes formula três
conceitos teóricos: significante, significado e signo, dos dois sistemas
semiológicos que compõem esse mito – o linguístico, que define o mito como
uma linguagem, um sistema de comunicação que transmite uma mensagem, e
o mítico contemporâneo que pode ser transportado, em termos estruturais,
para o mundo antigo, bem como para o processo eleitoral13.
Considerando que o significante no mito se encontra no final dos
sistemas linguístico e ao princípio do sistema mítico, formando assim uma
corrente contínua de significação. Para distingui-los Barthes nomeia o
significante linguístico como sentido, e o significante mítico como forma. Ao
significado, em ambos os casos, o denomina conceito e ao signo, em ambos os
casos, significação. Explicando a respeito desta diferenciação das categorias
de análise que propõe a forma em que se relacionam ou combinam pode
mudar a função do sistema. Isto é:
Quando o significante – sentido – pertence ao sistema da língua –
linguagem objeto – o significado é chamado de conceito e o signo
que é resultante da combinação destes dois é chamado de
significação. E quando o significado se encontra no sistema do
mito – metalinguagem –é chamado de forma. Entretanto, a
diferença entre forma e sentido é que, no sentido o significante
tem uma riqueza de informação, é representativo da história, do
contexto; uma memória, uma ordem comparativa de fatos e de
ideias razoáveis que demonstram que o sentido já está construído
sobre a significação, o que lhe permite se sustentar. E na forma o
significante se despoja de todo sentido, de história, de ideias, de
contexto, e só ficam letras por assim dizer, só ficam signos que
bem podem representar algo como as simples pictografias – A, E,
13 Partindo do princípio que se estabelece através da natureza do signo na relação deste com seu referente na realidade, Barthes insiste: «conforme se vê, a significação é o próprio mito, exatamente como o signo saussuriano é a palavra» (p. 143).
30
I, O, U – os símbolos como o da cruz, são só captados como uma
simples imagem sem informação a decodificar; são apenas
imagens ou palavras sem sentido útil, o que acontece apesar da
característica do significado que pode ter vários significantes.
Por isso, para que o mito adquira vida, necessita que a forma –
significante no mito – retome o sentido – significante na língua –
da linguagem objeto, para assim ter informação intercambiando o
objetivo pelo subjetivo e o racional e comprovável pelo subliminal.
Isto se consegue ao modificar o enfoque, o contexto e a forma em
que se codifica a mensagem, que em princípio contém informação
lógica, é modificada por outro elemento, mesmo que não seja
mencionado na análise de Barthes. Isto é, o indivíduo, o ser
humano. É este que ao transmitir a informação, como uma
mensagem por meio de qualquer forma de linguagem – oral,
escrita, gestual, entre outras – tem a capacidade de modificá-lo
no momento de expressá-lo ou interpretá-lo, segundo sua própria
concepção ideológica e cultural. É por isto que o mito não possui
a característica – contrário ao que se pode pensar – de ser
perpétuo, isto é, que o mito através do tempo está condenado a
perecer, a se alterar, pois se baseia na história e a história, com
seu processo de evolução e de iluminação no conhecimento, é
que em determinado momento decide sobre o futuro do mito,
qualquer que este seja, decide se desaparece, se transforma ou
continua ou transcende o cenário social.
1.2. A mensagem fotográfica conotada e o entorno de uma campanha
política
Apoiado nos postulados dos modelos clássicos de Lasswell e de
Shannon e Weber, Roland Barthes analisa a fotografia de imprensa partindo da
perspectiva de oferece a configuração da imagem como esquema
comunicativo. Não se limita à análise em bruto da imagem, mas enfatiza
31
estudar também o texto que a rodeia. Qualquer imagem pertencente às
páginas de um jornal poderia participar nos modelos citados.
Desenha-se, assim, uma teoria da comunicação baseada na redação do
jornal como emissor, sendo o receptor, o público que lê o jornal. Barthes leva
em consideração, neste sentido, a situação do indivíduo dentro do sistema
social, como se verá mais à frente. O jornal é o canal. Suas características
conformam uma trama complexa de mensagens textuais que rodeiam a
fotografia: títulos, pé da fotografia, etc.; já a mensagem é a fotografia, dividida
em dois planos, conotativo e denotativo. O contexto fica por conta da situação
social do indivíduo, influências cognitivas, ideológicas e perceptivas.
O daguerrótipo, em 19 de agosto de 1839, foi o processo que marcou o
início da fotografia. Este permitiu fixar a imagem da camara obscura pela ação
da própria luz. Cabe mencionar que existiram anteriormente outros
procedimentos que se aproximavam a lograr um registro visual, mas nem
permanente nem transportável.
Passaram-se quarenta anos até que as fotografias se tornassem ato de
presença massiva nas páginas dos livros e jornais, o que ocorreu muito antes
do que o cinema e a televisão fariam da imagem algo cotidiano.
Quando a fotografia inicia sua atividade, um grupo de fotógrafos
britânicos queria que suas obras recebessem o mesmo trato que a arte de seu
tempo. Aspiravam ao reconhecimento popular e ao direito de pendurar suas
fotografias nas exposições ao lado das pinturas entre os anos de 1850 e 1870,
as discussões eram a respeito da decisão se a fotografia era arte ou ciência
(KOSSOY, 2009). Algo parecido à discussão na atualidade sobre se a
fotografia digital é arte ou só um produto resultado dos avanços tecnológicos.
A aparição desses novos avanços tecnológicos, como a câmera portátil
e a película em rolo, ofereceu aos aficcionados a oportunidade de influenciar
cada vez mais o desenvolvimento do processo. Desde então, pode-se presumir
que a fotografia já sofria manipulações como recurso ou meio para comunicar
ou mostrar algo.
Deste modo, originou-se uma obra muito mais interpretativa e naturalista
que forçou o movimento artístico a derivar para o pictorialismo. Durante o
32
desenvolvimento deste estilo, na imagem importava menos o conteúdo que seu
atrativo estético.
A harmonia e o equilibrio foram os meios para unificar os elementos da
imagem. Evitaram-se os temas feios e mundanos - o detalhe é frequentemente
substituído pela difusão e manipulação do tom. O pictorialismo fotográfico se
desenvolveu durante os anos de 1880 e finais de 1920. Foi o movimento no
qual os artistas puderam expressar sua personalidade e seu talento. A
tendência geral apontava para um trabalho mais objetivo, ainda não
rigorosamente realista.
Aqui aparece o termo objetivo sob a ideia de pensar a fotografia como
fiel representação da realidade fotografada. Assim o sustenta Roland Barthes
em seu texto sobre «A mensagem fotográfica» (IN: O óbvio e o obtuso, 1990):
«de certo, a imagem não é o real; mas ela é pelo menos seu perfeito analogon,
e é precisamente esta perfeição analógica que, para o senso comum, define a
fotografia». Isto seria já um ponto de partida para pensar que a fotografia em si
mesma não é geradora de conflitos éticos, pois a imagem é desde uma análise
denotativa uma reprodução direta da realidade que parou mediante um
processo físico-químico – ou digital. Mas, cabe aqui pensar, do ponto de vista
conotativo, o que pode provocar como mensagem uma imagem fotografada –
não fotográfica.
A partir de 1920, a fotografia objetiva ou novo realismo rompeu a forma
mais radical com o pictorialismo. Uma série de fotógrafos prestou atenção às
novas tendências da arte moderna e se dedicaram a realizar imagens realistas
e rigorosamente detalhadas. As imagens não haveriam de ter nenhum tipo de
difusão nem ser manipuladas durante sua positivação, porque se tratava
justamente de potenciar suas qualidades fotográficas: riqueza tonal e rigor
extremo na reprodução do detalhe. Estas ideias de a fotografia se tornar um
registro de motivos «corriqueiros» supôs naquela época uma autêntica
revolução – ao parecer a mesma revolução que provoca na atualidade a
crudeza ou transparência de toda e qualquer fotografia.
Muitos foram os estilos fotográficos que se sucederam até os dias de
hoje, o dinamismo, o estruturalismo e simbolismo; o romantismo, o surrealismo,
33
entre outros, foram marcados ao longo do tempo: conceitos, técnicas e modos
diferentes de registrar motivos. Mas quem verdadeiramente condiciona e
transforma o motivo fotografado é a mensagem que, desde a própria
subjetividade, pode significar uma imagem. Disse Barthes: «Surge assim o
estatuto particular da imagem fotográfica: é uma mensagem sem código,
proposição de que é necessário extrair imediatamente um corolário importante:
a mensagem fotográfica é uma imagem contínua» (BARTHES, 2009, p.13).
Destes pressupostos sobre a mensagem fotográfica, enunciados por
Barthes, pode-se inferir que o conteúdo dessa mensagem é uma redução da
realidade, que nunca deve ser entendida como uma transformação desta. Não
é a essência em si, não é o real, e sim a analogia perfeita de uma realidade. E
é isso o que perante o senso comum define a fotografia: a imagem fotográfica é
uma mensagem sem código.
Fruto das características próprias do canal, Barthes propõe diferenciar
duas estruturas, a linguística e a fotográfica, que formam um todo coerente.
Apesar da fusão entre texto e fotografia, na hora de analisar a imagem da
imprensa é necessário descompor a mistura em cada um de seus
componentes. Neste sentido, estas constatações levam àquilo que esta
dissertação está formulando: a análise da mídia impressa sob essas duas
categorias da mensagem fotográfica.
Dado que a fotografia se concebe como um elemento que representa a
realidade, parte da mensagem da mesma, e não requer do uso de um código
para processar seu significado. Esta tendência da fotografia de imprensa ser
um reflexo especular da realidade constitui sua característica mais importante:
é a única estrutura informativa de um jornal cujo caráter denotativo está pleno.
Entretanto, é impossível que a imagem seja exclusivamente denotativa:
a objetividade da fotografia é um mito desde o instante em que o fotógrafo
configura a câmera para o clique. Distinguem-se, portanto, dois planos na
mensagem fotográfica: o denotativo – objetivo, não requer código – e o
conotativo – subjetivo. Dito de outro modo: coexistem duas mensagens
fotográficas; uma delas, análoga, pertence ao plano denotativo e se relaciona
com a capacidade de a imagem capturar a realidade; a outra, a mensagem
34
retórica que pertence ao plano conotativo e se relaciona com a leitura subjetiva
que realiza o leitor/eleitor, o público de um modo geral.
A conotação da fotografia de imprensa se constrói ao longo de todos os
processos de produção da mesma, e está intimamente relacionada com a
estrutura textual. Embora o plano denotativo da fotografia não requeira do
conhecimento de um código comum entre o fotógrafo e o público, o plano
conotativo não só se baseia em um código cultural, mas é em si mesmo, uma
codificação da imagem.
Trata-se a conotação como uma atividade capaz de integrar o ser
humano, e definir um tipo de sociedade. Codificar uma imagem permite por sua
vez a comprovação mesma do ser como tal e provar uma razão e uma
liberdade. Portanto, o fotojornalismo, desde sua conformação, codifica um
modo de ser e de agir de uma sociedade, estabelece seus próprios limites – e,
quiçá também, os justificam desde sua conotação, provocando reações
opostas, dualidades conscientes ou inconscientes.
Por isso se fala que a fotografia faz de um objeto inerte uma linguagem e
transforma a incultura da arte na mais social das instituições. Dilemas éticos
são gerados desde as instâncias de conotação, já que a fotografia em si
mesma é uma analogia da realidade fotografada, como já dito anteriormente. A
prudência pode ser uma maneira de enfrentar cada instante de significação,
buscando o equilíbrio na ação mesma, além do resultado. A história por trás da
fotografia é algo que não se pode saber apenas olhando a imagem, essa
essência também afeta o conteúdo.
Portanto, qual seria a ética jornalística que está por trás desse
conteúdo?
Barthes assinala em O óbvio e o obtuso seis elementos que intervêm na
mensagem conotativa – tais elementos passam a se chamar de categorias da
mensagem conotativa que servirão à análise dos produtos midiáticos
escolhidos que tratam do mito das eleições. Vejamos algumas imagens dos
jornais:
35
1. A trucagem que intervém dentro do plano denotativo, alterando de raiz
o significado da fotografia e aproveitando a credibilidade que esta
oferece como reflexo da realidade.
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2. A pose que se refere às pessoas que aparecem na fotografia e que
influi notavelmente na percepção subjetiva, até o ponto de sugerir
pureza, juventude, cansaço; maldade, corrupção e violência, entre
outras. A interpretação da pose tem um forte arraigo nos estereótipos
sociais.
3. Os objetos, também os objetos que aparecem na fotografia permitem
associar ideias: política/eleições, livros/cultura, bola/esporte,
revólver/violência, mercado/alimentação.
37
4. Fotogenia. Segundo o Dicionário teórico e crítico do cinema (2003) de
Jacques Aumont e Michel Marie, a palavra fotogenia apareceu em 1851
para designar os objetos que «produzem» – na realidade, refletem – luz,
suficientemente para impressionar a placa fotográfica. Depois que essa
técnica foi aperfeiçoada pela invenção de emulsões cada vez mais
sensíveis, o termo designa, progressivamente, uma qualidade da
«produção de luz», e dos objetos associados. O objeto fotogênico – na
maioria das vezes, um rosto – é aquele que «sai» bem na fotografia, que
é valorizado por ela, e aparece de uma maneira inesperada,
interessante, poética, encantadora (AUMONT e MARIE, 2003: p. 136). A
beleza que retrata a imagem ou a própria imagem como «suporte»
depende dos mecanismos da tirada e reprodução da mesma –
iluminação, enquadramento, exposição e impressão.
38
5. O esteticismo pode ser considerado de maneira ambígua. Quando a
fotografia, por sua composição e tratamento, configura-se como uma
pintura ou quando trata de impor um significado mais sutil ou complexo
daquilo que permitem outros procedimentos de conotação.
6. A sintaxe se dá quando as imagens se apresentam a modo das
histórias em quadrinhos dos comics ou os fotogramas de um filme. As
séries de fotografias fazem com que o significante não se encontre no
nível de cada fragmento – fotograma – mas em nível global.
39
Outro ingrediente da mensagem fotográfica na imprensa é o texto, que
rodeia a imagem trazendo à tona vários significados secundários. Pode ser
inclusive uma das técnicas conotativas mencionadas anteriormente. Apesar de
a fotografia jornalística ter sido concebida, em principio, como uma ilustração
da palavra, a imagem tem adquirido protagonismo até o ponto de inverter o
esquema. A imagem nem sempre complementa o texto, mas é o texto que
complementa a imagem. Poderia se dizer que o texto conota a imagem e que,
ao mesmo tempo, a imagem contagia seu plano denotativo ao texto, dando-lhe
objetividade. Existe uma relação parasita entre ambos.
O texto tem, definitivamente, a capacidade de amplificar as conotações
que já estão inclusas na fotografia, acrescentando um novo significado ou
contradizendo a imagem. Este efeito de conotação tem muito a ver com a
apresentação do texto: quanto mais proximidade houver entre o texto e a
imagem, maior será a sensação de conotação. Por exemplo, o efeito de
conotação das legendas é menos evidente que o do grande título do artigo.
Tanto as conotações, que têm origem na captura da imagem, como
aquelas acrescentadas pelo texto que a rodeia têm sua origem: nas
concepções culturais do público – leitor do jornal e eleitor no processo de
eleições –, na bagagem histórica que tem configurado seus conhecimentos e
ideologias e, em definitivo, em sua percepção.
Pode-se distinguir a conotação perceptiva - fruto do próprio mecanismo
de percepção - da conotação cognitiva, que depende do conhecimento do
indivíduo; e conotação ideológica ou ética que introduz razões ou valores à
leitura da imagem. A respeito da conotação cognitiva, cabe destacar a citação
de Barthes: «é provável que uma boa fotografia de imprensa – e elas são
todas, pois são selecionadas – jogue facilmente com o suposto saber dos seus
leitores, escolhendo as cópias que comportem a maior quantidade possível de
informação desse gênero de maneira a euforizar a leitura, ao se fotografar»
(BARTHES, 2001). A fotografia de um modo geral deve também cumprir todos
os rigores da ética jornalística em relação a sua veracidade, precisão e
objetividade.
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Enfim, a fotografia de imprensa – Folha e Estado de SP – oferece duas
mensagens – ou planos –: o denotativo e o conotativo. Este último depende do
próprio mecanismo de produção da fotografia e de sua relação com o texto,
ambos os aspectos influenciados pelo contexto sociocultural do fotógrafo – ou
da redação – e do receptor – leitor/eleitor.
O fotógrafo capta um momento que já foi, registrou esse instante
decisivo, assim se refere Henri Cartier-Bresson no artigo «O momento
decisivo» (1952). Bresson fala do momento que é fotografado como o momento
que morreu. A relevância desse instante cobra sentidos diferentes segundo
públicos diferentes, mas verdadeiramente o momento foi «único e que jamais
se repetirá», talvez o fotógrafo seja o único capaz de compreendê-lo.
Retomando Barthes: «a conotação proveniente do saber é sempre uma
força tranquilizadora: o ser humano gosta de signos, e gosta que estes sejam
claros». O problema da conotação ideológica – no sentido lato do termo – ou
ética, introduz na leitura da imagem razões e valores. Trata-se de uma
conotação forte, pois exige um significante muito bem elaborado, quase
sintático: encontro de personagens, desenvolvimento de atitudes, constelação
de objetos. Poderia então se imaginar uma sorte de lei: quanto mais direto é
um trauma, tanto mais difícil a conotação; ou o efeito de uma fotografia é
inversamente proporcional a seu efeito traumático.
Por conseguinte, a aplicabilidade desses princípios teóricos e
metodológicos da «mensagem fotográfica» como objeto de estudo reforça a
ideia de que dentro dos elementos não linguísticos dão forma aos meios de
comunicação; em especial para a Folha de São Paulo e O Estado de São
Paulo a imagem fotográfica ocupa um lugar de destaque.
No jornalismo contemporâneo é de vital transcedência a imagem que
cumpre um papel informativo, pois transmite aspectos de um fato noticiável,
como são as eleições para a Prefeitura de São Paulo. Sendo assim, o material
coletado para efeitos deste trabalho contempla a própria capa de cada um
desses jornais e as fotografias do interior dos cadernos especiais dedicados às
eleições. Trata-se de um material gráfico como desenhos – ilustrações,
retratos, caricaturas, vinhetas, HQ’s – ou fotografias.
41
No entanto, esses procedimentos só fazem sentido na medida em que
se trabalhe o contexto no qual as significações se reconhecem. Como o próprio
Barthes faz ao caracterizar em Mitologias o âmbito político do processo
eleitoral em um ou vários de seus ensaios. Em «Fotogenia eleitoral» referem-
se às práticas corriqueiras dos «santinhos», retratos eleitorais nos quais a
fotografia tem um poder transformador, neles a chamada esfígie do candidato –
imagem – estabelece um elo entre ele e seus eleitores. As mídias noticiam os
programas de governo de cada um deles, mas também reconstroem o clima
físico e psicológico do itinerário em que, segundo o autor, se expressa uma
morfologia nos modos de sentir, pensar e agir. Nesse sentido, a fotografia
restabelece um fundo paternalista. Certamente, por conta da liderança como
modelo a seguir.
Na medida em que a fotografia é uma elípse da linguagem e de uma
condensação de todo esse contexto social e político no qual afloram uma série
de problemas a serem solucionados. Por isso, os candidatos apelam ao
individualismo no sentido de oferecer a seus eleitores um estatuto social e
moral, colocando-se como o melhor exemplo a ser seguido. Assim, o ensaio
também sugere a reflexão extensiva ao posicionamento coletivo em relação à
política e às motivações que dependem de todas as circunstâncias mentais,
eróticas, familiares e de bem-estar. Desta forma, o candidato põe-se como
exemplo: produto e isca. A imagem converte-se em um espelho familiar e
conhecido que encarna valores de um idealismo social e de um empirismo
burguês capaz de produzir efeitos de sentido, sobretudo, a respeito da moral,
apelando à família, à pátria, à honra e ao combate contra as ameaças daqueles
que representam o outro partido.
Um ato social como as eleições para a Prefeitura de São Paulo instala
no público leitor/eleitor certos critérios que determinam condutas e
comportamentos. A comunicação é um ato social, tal como o manifesta Jürgen
Habermas em «A ética comunicativa» (IN: Teoria do agir comunicativo, 2012):
em toda comunicação se pressupõem as bases de um comportamento justo e
correto. Nessa obra, o filósofo alemão, que fez parte do grupo de pensadores –
críticos – da Escola de Frankfurt, discute três áreas temáticas: o conceito de
racionalidade comunicativa; uma concepção de sociedade em dois níveis,
42
capaz de amarrar o paradigma da ação e do sistema; e uma abordagem
teórica, que tenta explicar os paradoxos da modernidade subordinando o
mundo da vida, já estruturado do ponto de vista comunicativo. No que se refere
à ética do discurso, aplicável às mídias impressas, Habermas fala do
desdobramento de sua produção teórica, associada ao discurso libertador
dentro de um processo de emancipação política.
Já que a fotografia é um meio ou linguagem enquanto comunicativa, seja
por analogia ou de modo referencial sobre algo, incide como ato que provoca
no público leitor/eleitor uma reação. A imagem é produto da cultura,
consequentemente a constitui, e como tal tem certa função reguladora sobre os
modos de convivência. Se a fotografia é linguagem, a linguagem é uma
condição de convivência.
Para que haja convivência deve existir responsabilidade como valor
primário e consciente, e só a prudência possibilita ter sentido dos limites
daquilo que está permitido fazer.
Agir com responsabilidade e prudência permite resolver problemas
morais; essa capacidade se vê resguardada por normas socialmente mutáveis,
enquanto o processo moral se conforma desde fora das leis, princípios,
critérios que constroem uma trama própria do processo eleitoral. Aí se localiza
também a fotografia, como um emaranhado de realidades configuradas de
maneira objetiva, mas desenhadas subjetivamente.
As mídias que «usam» a imagem fotográfica deveriam medir os limites
em suas formas de expressar e evidenciar representações ou são os
leitores/eleitores os que estabelecem seus próprios níveis de análise –
denotado e conotado – sem fixar prudência e responsabilidade que marquem
limites justos? Respeitar a dignidade humana – a própria e a alheia – seria o
valor ético que delimite a consciência moral dos eleitores?
A análise do corpus neste trabalho mostra a «mensagem fotográfica»
com hipotéticas epígrafes que complementam a imagem, mas que análise faz o
leitor/eleitor de cada imagem? Mais ainda: que análise fará quando
posteriormente continue observando as mesmas imagens com textos
diferentes? E as mídias escolhidas fotografam com responsabilidade e
43
prudência uma realidade construída segundo a memória e princípios
individuais? A Folha e O Estado de São Paulo poderiam significar uma
fotografia descontextualizando seu momento trans-histórico que a produz?
Pode-se desvincular a própria fotografia de sua intenção comunicativa real ou
imaginada? Pode-se pensar a «mensagem fotográfica» desde uma consciência
moral enquanto reflete o paradoxo da ética?
Na busca de respostas a estas indagações, apresenta-se no item a
seguir o contexto sócio-histórico que permite localizar e posicionar a
«mensagem fotográfica» como imagem, para logo focalizar o protagonismo
ideológico e a função social da fotografia como texto cultural gerador de
significações e conflitos institucionalizantes.
A cidade de São Paulo não é só considerada um centro nevrálgico da
atividade econômica do Brasil, mas também um eixo urbanístico
contemporâneo da informação e da comunicação. Por este motivo, as eleições
políticas converteram-se em um chamaris para analistas destes campos do
conhecimento. Trata-se de um processo de toma de decisões nas quais os
eleitores escolhem com um voto àquele que, neste caso, ocupará a Prefeitura
da cidade na chamada democracia representativa.
O mecanismo habitual de participação política dos cidadões na
democracia liberal são as instituições chamadas partidos políticos. Ainda
existem outros mecanismos para a representação de candidaturas eleitorais –
coalizões eleitorais, agrupamentos de eleitores, entre outras. Esse jogo político
configurou o cenário no qual esse processo das «eleições» se deu na cidade
de São Paulo no ano de 2012.
Contudo, vale destacar que o contexto midiático aparece como o único
fator capaz de articular críticas ao poder público, convertendo-se em ataques
ao governo. Isto é, quando falham as estruturas de mediação entre os cidadãos
e o sistema político, passa-se à midiatização destas relações. Mas, este estudo
examina a forma como a mídia impressa – Folha e O Estado de São Paulo –
noticia o processo eleitoral, deixando latente na «mensagem fotográfica» mitos
que por sua natureza ideológica precisam ser interpretados.
44
1.3. A campanha política para prefeitura da cidade de São Paulo em
2012
«A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554
celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a
primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São
Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa!»
Pe. José de Anchieta14
A povoação de São Paulo de
Piratininga – hoje mais
conhecida como «terra da
garoa», «Sampa» ou
simplesmente São Paulo, se
estabelece em 25 de janeiro de
1554 com a construção de um
colégio jesuíta, cujo propósito era
catequizar os índios que viviam
na região, no alto de uma colina
íngreme, entre os
rios Anhangabaú e Tamanduateí.
Capital do Estado de São Paulo,
a cidade na atualidade está entre
as mais globalizadas do mundo,
além de ser considerada a mais populosa de todo hemisfério sul americano.
Desde as suas origens, a cidade esteve ligada ao apóstolo padroeiro das
comunicações e tanto seu desenvolvimento quanto a sua projeção a situam
entre as grandes metrópolis do mundo contemporâneo.
Um dos maiores produtores e exportadores de café do final do século
XIX e começo do século XX, São Paulo foi fortemente afetada pela Primeira e
pela Segunda Guerra Mundial, e pela Depressão de 1929. No período colonial, 14
Informação obtida no site da Paróquia e Santuário Nacional Nossa Senhora do Loreto. Página (http://www.loreto.org.br/anchieta-o-apostolo-do-brasil/) acessada em julho de 2014.
45
São Paulo ainda era uma cidade em construção, dependente econômica,
política e socialmente de Portugal. Já no período republicano, vivia seu auge
político e uma maturidade organizacional que lhe garantiam destaque no
cenário nacional e internacional, seja pelo seu desenvolvimento econômico que
lhe garantia lugar de destaque mundial no cultivo do café, seja pelo
desenvolvimento urbano.
A Primeira Guerra Mundial (que teve início em 1914 e durou até 1918) e
a Segunda Grande Guerra (que durou de 1939 a 1945) trouxeram uma série de
limitações políticas e de ordem econômica para o Brasil. Politicamente, o país
buscava ampliar seu prestígio junto ao EUA e reforçar suas alianças políticas
interna e externamente.
Em 24 de outubro de 1929 teve início a recessão econômica mundial,
com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que culminou em altas taxas
de desemprego e diminuição do PIB (Produto Interno Bruto) não só nos EUA,
mas em vários países. Em função disso, os Estados Unidos, que era o maior
comprador de café do Brasil, deixaram de comprar este produto, e o seu preço
caiu no mercado mundial, causando uma crise econômica no país. Diante
dessa crise cafeeira, vários empresários investiram na industrialização da
economia. Tais acontecimentos forçaram os «senhores do café» a abandonar a
cafeicultura e investir na industrialização da cidade, tornando São Paulo o
maior centro industrial brasileiro – o que atrairia para cidade, migrantes de todo
o Brasil – notadamente do Nordeste – e imigrantes de todo o mundo. Nesse
sentido, São Paulo transformou-se em uma capital cosmopolita, onde vivem
pessoas de várias partes do mundo.
Outro período de grande importância política e social foi o da ditadura
militar no Brasil (1964-1985). Este período fez da cidade de São Paulo um
lugar ainda mais destacado no âmbito político nacional. Várias manifestações e
movimentos surgiram a partir dos anseios por mudança de uma população que
já se sentia sufocada em seus direitos civis.
Ao todo são 1.522,986 km2 que abrigam uma população atual de cerca
de 20 milhões de habitantes na cidade brasileira mais influente do cenário
global atual. É considerada a sétima cidade mais populosa do mundo, e uma
46
das mais importantes do ponto de vista cultural, econômico e político. Não por
acaso, o lema da cidade de São Paulo, presente no seu brasão é a frase latina
Non ducor, duco - que significa «Não sou conduzido, conduzo».
A importância do município é tanta que sedia 63% dos grupos
internacionais instalados no país e 17 dos 20 maiores bancos de comércio. Um
dos grandes centros financeiros do Brasil e do mundo, a cidade sempre
despertou o interesse econômico e político de vários segmentos.
O aspecto cultural também faz São Paulo se destacar no cenário
nacional e sulamericano. A cidade abriga centros culturais como o Museu de
Arte de São Paulo – MASP –, Teatro Municipal de São Paulo, Museu da Língua
Portuguesa, Museu de Arte Sacra, e Museu do Ipiranga, só para citar alguns15.
Esta cidade foi palco de diversos movimentos artísticos extremamente
relevantes para a história do Brasil. O «movimento modernista brasileiro», por
exemplo, que se consagra com a Semana de Arte Moderna de 1922,
apresentou nomes como Mário de Andrade e Oswald de Andrade para o
mundo.
Também considerada um dos principais centros de comunicação do
Brasil e da América Latina, São Paulo é sede de grandes grupos de
comunicação nas áreas de televisão, rádio, jornalismo impresso, publicidade,
entre outros. Na área impressa, a cidade abriga dois dos principais e mais
influentes jornais diários do país: a Folha de São Paulo, e O Estado de São
Paulo.
Desta forma, tanto O Estado de São Paulo quanto a Folha de São Paulo
são mídias impressas que representam dois posicionamentos ideológicos
diferentes no contexto da cultura de massas no Brasil, de um modo geral, e da
cidade de São Paulo em particular. Por isso mesmo o objeto desta pesquisa é
o estudo da mensagem fotográfica da campanha política para prefeitura de São
Paulo a partir das imagens publicadas nos referidos jornais entre 1º de agosto
e 31º de outubro de 2012, sendo este o corpus de análise.
15
Várias informações foram obtidas a partir do site da própria prefeitura da cidade de São Paulo (http://www.capital.sp.gov.br/portal/) acessado em 09 de julho de 2014.
47
1.3.1. A Folha de São Paulo
«A história da Folha começa em 1921, com a criação do jornal Folha da
Noite». Em julho de 1925 é criado o jornal “Folha da Manhã”, edição matutina
da Folha da Noite. A Folha da Tarde é fundada após 24 anos. Em 1º de janeiro
de 1960, os três títulos da empresa se fundem e surge o jornal “Folha de São
Paulo”. É assim que a página deste jornal apresenta sua história16.
Foi um grupo de jornalistas, liderados por Olival Costa e Pedro Cunha,
que fundou em 19 de fevereiro de 1921 a Folha. O jornal tinha como proposta
editorial textos mais curtos e claros, com enfoque mais noticioso e menos
opinativo, com agilidade e proximidade com os assuntos cotidianos dos
trabalhadores urbanos. A “Folha” surgira em oposição ao principal jornal da
cidade: “O Estado de São Paulo”.
1.3.2. O Estado de São Paulo
Representante das elites rurais e de posição mais conservadora e
tradicional, “O Estadão”, como é conhecido o jornal O Estado de São Paulo, foi
fundado com base nos ideais de um grupo de republicanos em 04 de janeiro de
1875, e com o nome de A Província de São Paulo – usado até 31 de dezembro
de 1889, um mês após a instituição da República no Brasil.
O jornal foi o pioneiro em venda avulsa no país – fato que era motivo de
chacota pela concorrência naquela época. O mais curioso é que a venda
avulsa foi impulsionada pelo imigrante francês Bernard Gregoire que, montado
16
A Folha de São Paulo. Página (http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_folha.htm) Visitada em 20 de julho de 2014.
48
a cavalo, saía às ruas tocando uma corneta para chamar a atenção do público
— e que, décadas depois, viraria o próprio símbolo do jornal, como se pode ver
até hoje.
Politicamente, ambos os jornais sempre foram bastante ativos. O Estado
de São Paulo, por exemplo, declarou em seu editorial do dia 25 de setembro de
2010, intitulado – O mal a evitar –, o apoio ao candidato à Presidência da
República José Serra, afirmando que o candidato é «o que tem melhor
possibilidade de evitar um grande mal para o País», e criticou o então
presidente Lula pelas suas acusações de que a imprensa brasileira estaria se
comportando «como um partido político», bem como pela «escandalosa
deterioração moral» de seu governo17.
Num levantamento realizado pelo portal “Brasil de Fato” sobre o
comportamento dos três jornais de maior circulação no Brasil – “O Estado de
São Paulo”, “O Globo” e “Folha de São Paulo” foi feito a partir das manchetes
de primeira página publicadas por estes jornais sobre a campanha de Dilma
Rousseff, entre os dias 28 de agosto e 27 de setembro de 201018.
Nesses trinta dias, O Estado de São Paulo produziu 22 capas negativas
à candidata petista. No mesmo período, o jornal trouxe somente uma capa com
manchete positiva – «Inquérito da PF esvazia tese de crime político na receita»
- no dia 16. Também houve três manchetes consideradas neutras e quatro
abordando assuntos não ligados às eleições.
1.3.3. As eleições para prefeitura de São Paulo em 2012
De acordo com as informações disponíveis no site do Tribunal Superior
Eleitoral – TSE –, a eleição para prefeitura da cidade de São Paulo ocorreu em
7 de outubro: vereadores e 1º turno para prefeito, e em 28 de outubro: 2º turno
para prefeito, tendo sido eleito o candidato do Partido dos Trabalhadores –PT –
, Fernando Haddad, com 55,57% dos votos válidos.
17 Editorial: O mal a evitar. Em O Estado de São Paulo, de 25 de setembro de 2010. Página visitada em 20 de julho de 2014. 18 Brasil de Fato. Página (http://www.brasildefato.com.br/node/3320) visitada em 10 de julho de 2014.
49
Ao todo, concorreram à prefeitura de São Paulo 12 candidatos: Ana
Luiza – PSTU, Anaí Caproni – PCO, Carlos Giannazi – PSOL, Celso
Russomanno – PRB, Eymael – PSDC, Fernando Haddad – PT, Gabriel Chalita
– PMDB, José Serra – PSDB, Levy Fidelix – PRTB, Miguel – PPL, Paulinho da
Força – PDT, e Soninha – PPS.
Os candidatos foram escolhidos após convenção de seus partidos, que
decidiram quem sairia candidato na disputa da prefeitura mais cobiçada do
Brasil, disputando o voto dos mais de 20 milhões de eleitores, de acordo com o
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Gabriel Chalita, então deputado federal, teve sua candidatura anunciada
em 24 de junho de 2012, pela coligação do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro – PMDB – com o Partido Social Cristão – PSC –, Partido Trabalhista
Cristão – PTC – e Partido Social Liberal – PSL19.
José Serra anuncia oficialmente sua candidatura em 25 de março,
quando vence as prévias do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB –,
com 52% dos votos válidos. O partido firmou coligação com o Partido Social
19 Site do candidato http://www.chalita.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014.
50
Democrático – PSD –, Democratas – DEM –, Partido da República – PR –, e
Partido Verde – PV20.
Fernando Haddad, então Ministro da Educação, é indicado pelo Partido
dos Trabalhadores – PT – por consenso, haja vista o apoio direto que recebeu
da presidente da República, Dilma Rousseff, e do ex-presidente Lula21.
Celso Russomanno, em 30 de junho, foi anunciado pelo Partido
Republicano Brasileiro – PRB –, como candidato oficial do partido para
prefeitura de São Paulo22.
Carlos Giannazi, então deputado estadual, é confirmado como candidato
oficial do PSOL em 31 de março de 201223.
Paulo Pereira – Paulinho da Força – indicado pelo Partido Democrático
Trabalhista – PDT24.
Soninha Francine foi anunciada pelo Partido Popular Socialista – PPS –
como candidata25.
Ana Luiza indicada pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados
– PSTU; Miguel Perez, pelo Partido Pátria Livre – PPL; e Anaí Caproni, pelo
Partido da Causa Operária – PCO26.
Levy Fidélix, pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro – PRTB27.
José Eymael, pelo Partido Social Democrata Cristão – PSDC28.
Muitos dos candidatos eram praticamente desconhecidos da população
– chamados de «candidatos ninicos» pela imprensa, haja vista o espaço na
mídia e a publicidade acerca de Celso Russomanno – PRB –, Fernando
Haddad – PT –, Gabriel Chalita – PMDB – e José Serra – PSDB. Os quatro
candidatos juntos somaram 94,93% de todos os votos válidos no primeiro
turno.
20
Site do candidato http://serra45.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 21
Site do candidato http://pensenovotv.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 22
Site do candidato http://celsorussomanno.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 23
Site do candidato http://giannazi50.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 24
Site do candidato http://www.paulinhoprefeito12.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 25
Site da candidata http://www.soninha.com.br/23/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 26 Não foram encontradas as páginas dos candidatos. 27
Site do candidato http://levyfidelix.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014. 28 Site do candidato http://www.eymael27.com.br/, Acessado em 1º.de junho de 2014.
51
São Paulo é hoje considerado o principal centro financeiro da América
do Sul. Com o 10º maior PIB – produto interno bruto – do mundo, de acordo
com o IBGE, a cidade é responsável por 11,5% de todo o PIB do país. Além
disso, a capital paulista carrega um histórico político e cultural bastante
relevante na história do país.
Notadamente, é só a partir de agosto de 2012 que, efetivamente,
começa-se a observar um trabalho político mais dirigido à campanha para as
eleições municipais. Previamente, o que se notava era muita especulação
política.
Como de costume, várias emissoras e portais de internet organizaram
debates para que os candidatos expusessem suas propostas. Todavia,
nenhum dos debates contou com a presença de todos: os candidatos Miguel
Manso, Ana Luiza, Eymael e Anaí Caproni não foram convidados para nenhum
debate.
No dia 02 de agosto de 2012, no debate organizado pela Rede
Bandeirantes, estiveram presentes José Serra, Celso
Russomanno, Fernando Haddad, Soninha Francine, Gabriel
Chalita, Paulinho da Força, Carlos Giannazi e Levi Fidélix.
No dia 03 de setembro de 2012, no debate organizado pela Rede
TV e Folha de São Paulo, estiveram presentes José Serra, Celso
Russomanno, Fernando Haddad, Soninha Francine, Gabriel
Chalita, Paulinho da Força, Carlos Giannazi e Levi Fidélix.
No dia 17 de setembro de 2012, no debate organizado pela TV
Cultura, O Estado de São Paulo e Youtube, estiveram presentes
José Serra, Celso Russomanno, Fernando Haddad, Soninha
Francine, Gabriel Chalita, Paulinho da Força, Carlos Giannazi e
Levi Fidélix.
No dia 24 de setembro de 2012, no debate organizado pela Rede
Gazeta e Portal Terra, estiveram presentes José Serra, Celso
Russomanno, Fernando Haddad, Soninha Francine, Gabriel
Chalita, Paulinho da Força, Carlos Giannazi e Levi Fidélix.
52
Os debates organizados pela Rede Record (01/10) e Rede Globo
(04/10) foram cancelados pelas emissoras.
Já no segundo turno, os candidatos José Serra e Fernando Haddad
estiveram presentes a três debates: da Rede Bandeirantes (18/10), SBT
(24/10) e Rede Globo (26/10). Já os debates da Rede Gazeta (15/10), TV
Cultura, e Rede TV (21/10) foram rejeitados pelos candidatos. E o debate na
Rede Record (22/10) foi cancelado pela emissora.
53
CAPITULO 2
Categorias e procedimentos de análise
A «mensagem fotográfica» precisa ser analisada através dos produtos
midiáticos – notícias – elaborados pelos jornais que serviram de suporte
aoprocesso de Eleições. A notícia é um relato informativo, no qual é preciso
mostrar com as regras de construção e elaboração – enunciação –, referindo-
se a um fato inovador e não muito comum, ou à relação entre esses fatos
novos ou atípicos, ocorridos dentro de uma comunidade ou um em
determinado âmbito específico, seja este político como no caso das Eleições,
econômico ou social.
Dentro do jornalismo dos meios de comunicação, trata-se de um gênero
no qual a notícia é um «recorte da realidade» sobre um fato da atualidade, que
merece ser informado por um tipo de critério de relevância social.
Assim, este capítulo se propõe à retomada das categorias sugeridas por
Roland Barthes de trucagem, pose, objetos, fotogenia, esteticismo e sintaxe.
Com este propósito, foi feita uma seleção de todas as notícias que
compreendem o período recortado desde as pré-eleições até o resultado das
urnas, configurando deste modo o corpus da pesquisa.
Entretanto, é o protagonismo da campanha que fala dos principais
candidatos e de sua ligação com o partido que representam, alavancando
tabelas que situam episódios retratados pela Folha e O Estado de São Paulo,
respectivamente. Também é montada outra tabela que se refere ao desenho e
aos procedimentos da campanha. Coloca-se a ênfase em aspectos formais da
fotografia, que podem oferecer pistas importantes para entender o caráter
sugestivo das impressões, gestos e ações complementadas pela
contextualização dos espaços carregados de significação e que aparecem
como pano de fundo na linha da análise contextual.
Por fim, os indicadores de codificação de página mapeiam a notícia que
fusiona o texto e a imagem fotográfica, promovendo a mensagem adscrita aos
veículos midiáticos selecionados.
54
Foram analisadas fotografias selecionadas e publicadas nas capas do
jornal e nos cadernos específicos das eleições que bem refletem episódios
diretos da mesma – palanques, visitas, entrevistas, entre outras. Também
foram incluídas as fotografias do mesmo tema publicadas em outras seções do
jornal, além das capas antes mencionadas e dos suplementos. Foram
excluídas dessa seleção e do estudo as imagens fotográficas que, mesmo
aparecendo nos espaços indicados, por seu conteúdo ou tamanho reduzido
carecem de significado informativo.Com este intuito, criaram-se 3 tabelas de
classificação: 1) indicadores e atributos documentais; 2) indicadores de
codificação fotográfica; 3) indicadores de codificação de página.
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Identificação do candidato.
Papel Função do protagonista
principal/candidato.
Partido Partido político ao qual pertence.
Episódio Enquadramento episódico específico da
imagem.
Data de obtenção Identificação da data da captação da
imagem.
Meio Folha de São Paulo/O Estado de São
Paulo.
Esta tabela serve para a identificação do candidato no seu exercício
político como representante de um partido. O enquadramento específico da
fotografia permite observar as determinantes contextuais do tempo e do espaço
reconstruídos pelo meio que está noticiando. Serão usadas as abreviações
FSP para Folha de São Paulo, e OES para O Estado de São Paulo.
A mesma foi aplicada a cada uma das categorias da «mensagem
fotográfica» de ambos os veículos de comunicação.
Tomou-se como ponto de partida a ideia de que a análise do conteúdo
pode ser utilizada para dissecar/desmitificar qualquer produto de comunicação
midiática, com o fim de conhecê-lo em profundidade, saber como foi feito,
55
inferir e predizer seu mecanismo de influência. Esta técnica de pesquisa
quantitativa se apresenta como idônea para a finalidade deste estudo.
Dado que a fotografia é uma representação icônica da realidade datada
da mensagem que, possui um caráter polissêmico, a fotografia pode se admitir
como objeto adequado para a análise do conteúdo. Realizou-se mais uma ficha
matriz para codificar o conteúdo de cada uma das unidades de análise –
categorias da «mensagem fotográfica» –, em cuja construção tem se utilizado
critérios gerais previamente definidos e aceitos pela comunidade científica.
Os registros codificados durante a pesquisa, um para cada unidade de
análise ou categoria, converteram-se na base de dados sobre a qual se
executaram consultas específicas para estabelecer, classificar e quantificar as
características denotativas e conotativas das fotografias.
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Campo de visão captado: geral, grupal ou
curto.
Impressão gestual Gestualidade que mostra o candidato.
Ação/Estaticismo Valor dinâmico visível do candidato
Cenografia Entorno, elementos do ambiente,
vestuário.
Verticalidade Captação em picado ou contrapicado.
Equilíbrio Predomínio compositivo de simetria ou
assimetria.
Angulação Presença de efeitos de grande angular ou
teleobjetiva.
Simbolismo Presença de gestos ou objetos
simbólicos.
Esta segunda tabela também faz referência ao protagonismo dos
principais candidatos à Prefeitura, salientando-se nela o aspecto formal da
«mensagem fotográfica». Assim, desde o enquadramento que delimita o
escopo da imagem até o simbolismo do gestual e das ações fotografadas,
deixam entrever os aspectos subjetivos e subjetividade dos candidatos.
56
O instrumento utilizado para a análise dos dados é parte dessa
documentação na matriz ou base de dados composta por um conjunto de
indicadores agrupados em três categorias básicas, que interessam ao
propósito deste trabalho: atributos documentais, traços de codificação
fotográfica e de composição/diagramação.
O primeiro é denotativo – o que se mostra na fotografia –, enquanto que
os restantes são os que refletem a parte conotativa da imagem – o que se
sugere, por meio da mediação subjetiva do fotógrafo e do diagramador.
Aprecia-se neste desenho uma dupla concordância com as ideias de Barthes
sobre a «mensagem fotográfica» com a presença na fotografia de mensagens
denotadas e conotadas, e com o propósito do fotojornalismo como a notificação
de acontecimentos reais, interpretados visualmente por um fotógrafo e
orientados por critérios de contingência, mediatizados por vários processos
codificadores – fotográfico informativo e de impressão fotomecânica.
A matriz de análise/base de dados foi concebida pelo critério de
adequação às características concretas que apresentam as fotografias
analisadas, evitando alguns aspectos pouco significativos e priorizando outros.
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página Publicação de capa do jornal ou caderno.
Tamanho Medição em colunas de páginas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato noticioso Concordância entre o assunto central e a
fotografia.
Enfim, esta última tabela de catalogação é para inferir mais tarde, no
capítulo 3, o contexto de página que acompanha a notícia neste capítulo 2
recortada.
A seguir, a apresentação das categorias da «mensagem fotográfica»,
cada uma delas acompanhada da notícia anunciada por O Estado de São
Paulo e a Folha, as tabelas com os indicadores fotográficos e uma breve
síntese da mensagem, fruto da fusão da imagem e do texto.
57
2.1. A trucagem e o protagonismo sarcástico da campanha
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB
Episódio Imegem de José Serra comparada a
Hitler
Data de obtenção 10/08/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual José Serra está falando e com a mão
direita levantada.
Ação/Estaticismo Estáticos, pois o candidato tem o
58
movimento paralisado.
Cenografia Por se tratar de uma imagem
capturada com o plano mais fechado,
vê-se pouca informação ao fundo (o
nome São Paulo).
Verticalidade Picado – plongée.
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva.
Simbolismo O simbolismo se dá pela comparação
do gesto do candidato José Serra à
imagem de Adoph Hitler fazendo o
mesmo gesto, comparando Serra a
Hitler.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 10/08/12, Cad.Nacional, pág.
A11
Tamanho As fotos ocupam as 2,5 colunas das 6
colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há correspondência, pois o próprio
texto trata da falha da campanha de
Fernando Haddad ao comparar Serra
a Hitler. Há. Inclusive, um comentário
do próprio candidato Fernando
Haddad informando que o profissional
responsável havia sido desligado.
A notícia veiculada por O Estado de São Paulo mostra o candidato
Fernando Haddad em visita a uma cooperativa de catadores de lixo –
aproximação artificial –, a partir da qual se faz a declaração de que a
divulgação do «rap» que compara José Serra com Hitler resultou inadequado
para os efeitos de sua campanha. Daí a trucagem que mostra do lado
59
esquerdo a figura do ditador nazista na mesma pose de José Serra, o
paralelismo reflexo de uma imagem e da outra, mostrando de modo irônico e
mordaz, igualdade nos modos de agir politicamente de ambas as figuras
políticas.
Mesmo havendo a intervenção de duas categorias da «mensagem
fotográfica», a que prevalece é a trucagem sarcástica e de zombaria feita pelo
marqueteiro da campanha de Haddad, desligado pelo procedimento malicioso
e desleal ao jogo político. Na utilização desta categoria usa-se a denotação
com um interesse metódico de comparar ambas as fotografias para produzir
significação na medida em que existe um signo que esboça um código
histórico: Adolf Hitler e José Serra candidato à Prefeitura de São Paulo no
processo eleitoral de 2012.
60
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra, Celso Russomanno, e
Fernando Haddad.
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB, PRB e PT
Episódio Painéis dos candidatos fotografados
no centro de SP
Data de obtenção 07/10/12
Meio Folha de São Paulo.
61
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual A imagem dos painéis dos candidatos
aparece como se estivessem
«posando para foto».
Ação/Estaticismo Estáticos, pois se trata de painéis dos
candidatos. E dinâmico se
considerarmos o movimentos dos
carros ao fundo.
Cenografia Os painéis dos candidatos estão de
pé, na entrada do túnel do
Anhangabaú, com carros em
movimento ao fundo.
Verticalidade Picado – plongée.
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal.
Simbolismo O simbolismo se dá pelo dinamismo
que o ir e vir dos carros ao fundo
simboliza, retratando bem «a cidade
que não pára» São Paulo. Além disso,
os painéis, da maneira como foram
fotografados, parecem ser os próprios
candidatos – tecnicamente
empatados posando para foto.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 07/10/12, Capa.
Tamanho A foto ocupa todas as 6 colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto – painéis dos
três candidatos – com o título da
62
matéria – «São Paulo enfrenta
empate triplo inédito para prefeito» –
porque aparecem Serra, Russomanno
e Haddad, e junto a eles a
porcentagem de intenção de voto de
cada um.
Sob o título de «empate triplo e inédito», a Folha utiliza o recurso da
trucagem para mostrar os candidatos José Serra do PSDB, Celso Russolmano
do PRB e Fernando Haddad do PT na corrida para a Prefeitura de São Paulo.
Ao fundo a entrada do túnel Anhangabaú no centro que representa o
movimento constante de uma cidade que não pára, tamanho o fervilhar
metropolitano. Sobrepostas, as imagens deles com as devidas porcentagens
28, 27 e 24% das intenções de votos, denota a questão do empate técnico nas
pesquisas, mas deixa de manifesto os «meandros escuros» dessa corrida
eleitoral que deixou o candidato do PRB fora do 2º turno. Usa-se o tal recurso a
favor da credibilidade particular da fotografia, seu poder denotativo na
composição cujo significante é a atitude (da imagem) dos candidatos em pose.
63
2.2. Pose e tipos sociais dos candidatos
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad
Papel Candidato à prefeitura de SP em 2012
Partido PT
Episódio Entrevista de Fernando Haddad à
OESP
Data de obtenção 09/10/12
Meio O Estado de São Paulo.
64
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Braços apoiados sob a mesa e mãos
juntas
Ação/Estaticismo Estático e com olhar dirigido à frente.
Cenografia O candidato veste um paletó
preto/azul e uma camisa azul clara.
De fundo, vê-se uma imagem sua, de
campanha, com um leve desfoque.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva – meia-tele.
Simbolismo O simbolismo se dá pela sua própria
imagem ao fundo
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 09/10/12, Cad. Especial, pág.
H3
Tamanho A foto ocupa 3 das seis colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por se tratar de uma entrevista.
A categoria fotográfica de pose aparece na entrevista de O Estado de
São Paulo feita a Fernando Haddad – o busto do candidato –, o título noticiado
«Serra tem ética seletiva», apresenta o candidato do PT sério – uma reserva
de atitudes estereotipadas que constitui, neste caso, os significados prontos
para a ocasião –, com os olhos em direção ao entrevistador e as mãos sobre a
mesa, dedo indicador assinalando pontos relevantes de sua fala na superfície
da mesa no decorrer da entrevista. Na imagem de fundo, o mesmo Haddad
65
aparece quase na mesma pose, acentuando-se pelo tamanho, traços de
fotogenia. Nada mais apropriado para tratar o tema da ética de seu adversário
que um ar de seriedade para transmitir confiança aos meios a respeito de um
posicionamento nesse sentido. O leitor/eleitor recebe como simples denotação
o que de fato é a estrutura dupla, uma seriedade denotada perante a crítica de
Haddad à ética seletiva conotada.
66
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad e Lula
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012, e o ex-presidente da República.
Partido PT
Episódio Encontro com Lula
Data de obtenção 23/08/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Mão na orelha (Haddad), e mão
levada à testa (Lula)
Ação/Estaticismo Estático e com olhar para baixo.
Cenografia O candidato veste um paletó
preto/azul e uma camisa azul clara.
Lula usa um casaco bege claro. Ao
fundo, vêem-se outras pessoas com
um leve desfoque.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva – meia-tele ou objetiva
normal.
67
Simbolismo O simbolismo se dá pelo gestual de
ambos, que transmite a ideia de
preocupação.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 23/08/12, Cad.Poder/
Eleições2012, pág.A12
Tamanho A foto ocupa 4 das seis colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por se tratar de uma foto que
transmite a ideia de preocupação, e
pelo fato de Haddad ter sido
questionado sobre o apoio de Paulo
Maluf à sua campanha.
A Folha traz uma fotografia que usa o recurso da pose em que aparece
Lula, «padrinho» da campanha de Fernando Haddad. Lula com a mão
esquerda na testa, olhos fechados, com a cabeça para baixo em um gesto de
descrédito. Haddad com a mão esquerda segurando a orelha, de olhos
abertos, esboçando um leve sorriso perante o inquérito da mídia a respeito da
biografia de Maluf. O candidato à Prefeitura rebate as críticas falando que é
contra a «fulanização» do debate, aproveitando para atacar a seus adversários.
A pose do ex-presidente e do candidato à Prefeitura se dá em função desse
conceito que consiste em atribuir nome ou identificação a pessoas cuja
identificação não interessa discutir, pois a mensagem que vem da junção da
imagem fotográfica e do texto consiste em dizer: não adianta fulanizar o debate
porque faz parte do jogo político conquistar aliados.
68
2.3. Objetos ao serviço das ideologias representadas
69
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra
Papel Candidato à prefeitura de SP em 2012.
Partido PSDB
Episódio Entrevista à FSP na casa do candidato
Data de obtenção 28/10/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual Na foto, o candidato aparece com a mão
elevada à testa.
Ação/Estaticismo Estático, pois não há elementos na foto
que transmitem ideia de movimento.
Cenografia O candidato está com a mão elevada à
testa, e ao fundo veem-se vários livros na
sua biblioteca.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da assimetria na imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal ou meia tele.
Simbolismo O simbolismo se dá pelos livros ao fundo
– passa a ideia de erudição e, pelo gesto
da mão à testa, faz alusão ao
pensamento/refexão.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 28/10/12, Cad. Eleições2012, pág.9
Tamanho A foto ocupa todas as 6 colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Embora o título da matéria seja – Carga
Pesada –, a mesma faz alusão ao que
espera do candidado José Serra, caso
vença as eleições para Prefeitura de SP.
Aqui fica clara a ideia de mostrar ao
público um Serra pensador e preparado,
70
especialmente pelas frases de campanha
que ilustram a matéria.
A Folha explora objetos em entrevista feita a José Serra, começando na
lateral esquerda com grandes aspas que transcrevem literalmente a fala do
candidato do PSDB, acentuando a volta à disputa pela Prefeitua de São Paulo.
Questionado a respeito de sua saída do governo em 2006, ele comenta o fato e
sobre a padrinhagem de Kassab. Nesse clima de eleições, no qual o tema do
mensalão que coloca na berlinda o PT, a biblioteca de sua casa oferece o
embasamento dos livros a sua proposta eleitoral. Serra na lateral direita de
perfil, com mão à testa, demonstra preparo, erudição e a inteligência de um
candidato com experiência.
Logo abaixo, sob o título «carga pesada», refere-se à perda no passado
na corrida eleitoral à presidência do Brasil em disputa com Lula do PT. A
matéria do jornal disse que o candidato, agora à Prefeitura, aumentou seu ritmo
para evitar a derrota em São Paulo. O objeto é, justamente, o carrinho de feira
que remete ao passado do pai feirante cujo filho agora o carrega cheio de
caixas de frutas na zona oeste da cidade da qual quer ser prefeito.
O sentido conotado destes signos são os livros e o carrinho de feira, que
fazem parte da biblioteca de Serra e da história do candidato, respectivamente.
Esses objetos fotografados são indutores frequentes de associação de ideias.
A conotação dessas unidades significantes é explicitada em ambos os textos, o
primeiro ao se referir ao traço intelectual do candidato, e o segundo, a um
passado de trabalho e esforço.
71
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PT
Episódio Lula e Haddad na sede do PT
Data de obtenção 23/08/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual O candidato Fernando Haddad sorri
ao ver o ex-presidente Lula mostrar
uma camisa preta com o número 13 e
o nome Lula.
Ação/Estaticismo Estático, pois não há elementos na
foto que transmitam ideia de
movimento.
Cenografia O candidato está em meio a várias
pessoas na sede do PT, e ao lado de
Lula sorri ao ver o ex-presidente
72
mostrar uma camisa preta com o
número 13 e o nome Lula.
Verticalidade Contra-picado – contra-plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal.
Simbolismo O simbolismo se dá pela expressão
de alegria do candidato Fernando
Haddad ao sorrir ao ver a camisa
preta com o número 13 e o nome de
Lula. Diferente do que muitos pensam
ao associar o número treze ao azar,
aqui ele parece representar a sorte,
diante das expressões de felicidade
de ambos.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 23/08/12, Capa.
Tamanho A foto ocupa as 2,5 das 6 colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Não há concordância da foto –
Haddad e Lula na sede do PT – com
o título da matéria – Lewandowski
condena Valério, seus sócios e ex-
diretor do BB. O que há é a palavra –
Ofensiva – seguida de uma
fotolegenda com a informação sobre
a foto.
O Estado de São Paulo traz a imagem de Lula com uma camiseta preta
que tem o número 13 do partido, sendo este um número da sorte para o
mesmo. Ao lado, Haddad dando uma gargalhada na sede do partido pela
«sacada» de seu principal padrinho de candidatura. O objeto é próprio de uma
73
disputa de futebol que reforça a ofensiva, título na lateral esquerda fora da
imagem. Do lado direito, Serra sorri levemente e o ângulo insinua um contorno
em direção a essa ofensiva. O título “explicações” alude à defensiva perante as
acusações vindas desses dois adversários. A camiseta nº13 possui um sentido
conotado que sugere, mais uma vez, o jogo político do PT na corrida à
Prefeitura de São Paulo.
74
2.4. Fotogenia – foco e luz do candidato em cena
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PT
Episódio Projetos e propostas de governo
Data de obtenção 17/10/12
Meio Folha de São Paulo.
75
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual O candidato do PT, Fernando
Haddad, aparece falando.
Ação/Estaticismo Estático pois não há elementos na
foto que transmitem ideia de
movimento.
Cenografia O candidato aparece em um plano
fechado com uma imagem parcial
desfocada ao fundo (ex-presidente
Lula?).
Verticalidade Picado (plongée) e contra-picado
(contra-plongée)
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva.
Simbolismo O simbolismo se dá pela luz
lateralizada no rosto do candidato,
quase que lhe atribuindo uma áurea.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 17/10/12, Cad.Poder, pág.A10
Tamanho A foto ocupa 2 das 6 colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto pois se trata
do próprio candidato Fernando
Haddad.
Sendo a fotogenia um recurso que foca na imagem do candidato, a
Folha faz um paralelo entre Serra e Haddad na apresentação dos seus planos
de governo para a Prefeitura de São Paulo. O título afirma que o plano de
76
Serra depende das ações de Geraldo Alckmin. Insiste em que esse programa
de partido depende de uma parceria com o governo estadual. As imagens de
ambos os candidatos aparecem em um paralelismo. De um lado Serra, olhando
da direita para esquerda, sério, boca fechada com os olhos quase fechados. Já
Haddad, da esquerda para direita, com os olhos para cima e com a boca
aberta, se projeta para o interior do jornal.
A mensagem conotada está na própria imagem dos candidatos,
«sublimada», como disse Barthes, por técnicas de iluminação, impressão e
revelação que prefiguram o sentido ideológico dessas figuras públicas.
De ambos os planos comparados, aparecem ítens essenciais à vida da
metrópole: investimento em metrô, ensino técnico, criação de novos hospitais e
corredores de ônibus, entre seis prioridades da Prefeitura.
77
78
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra, Celso Russomanno, e
Fernando Haddad
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB, PRB e PT
Episódio Disputa Eleição para prefeitura de SP
Data de obtenção 07/10/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Na sequência de fotos, os candidatos
aparecem com uma iluminação
levemente lateralizada.
Ação/Estaticismo Estático, pois não há elementos na
foto que transmitam ideia de
movimento.
Cenografia A imagem dos candidatos foi
capturada em um plano mais curto.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva – meia tele.
Simbolismo O simbolismo se dá pela expressão
de felicidade – todos aparecem
sorrindo –, talvez por estarem
empatados, de acordo com as
pesquisas divulgadas.
79
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 07/10/12, Cad. Eleições2012,
pág. H1
Tamanho A foto ocupa as 6 colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância das fotos – Serra,
Russomanno e Haddad – por serem
os três candidatos empatados e à
frente nas pesquisas de voto.
A rubrica do título «Eleições embolam/disputa voto a voto» traz a
imagem dos três candidatos à Prefeitura no final do primeiro turno. As três
fotografias se enquadram dentro da categoria de fotogenia da «mensagem
fotográfica». Os candidatos aparecem sorrindo para seus eleitores com os 26%
das intenções de voto. José Serra do PSDB é o de aparência mais velha, com
um sorriso aberto e a boca levemente inclinada. O candidato aparece com uma
camisa azul e por baixo camiseta branca. Celso Russolmano sorri, mas com a
boca fechada, olhando diretamente para os holofotes. No último quadro,
Fernando Haddad mostra um sorriso aberto condizente com o olhar, cujo olho
esquerdo aparece levemente fechado.
Neste sentido, a fotogenia considera a fotografia como uma estrutura
informativa relevante, cuja mensagem está na imagem dos três candidatos
acima com porcentagens idênticas na corrida eleitoral. As três imagens
também são sublimadas pelas técnicas da focalização, da iluminação, da
impressão e da revelação feita pelo veículo.
80
2.5. Esteticismo – aquém e além da arte de fotografar
81
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PT
Episódio Entrevista à OESP
Data de obtenção 31/10/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual Haddad gesticula com as mãos sob a
mesa, apontando para frente.
Ação/Estaticismo Estático e com olhar dirigido para
frente.
Cenografia O candidato veste terno cinza, uma
camisa branca, e uma gravata listrada
vermelha. Ao fundo, veem-se as
imagens do próprio Haddad e da
presidente Dilma, levemente
desfocadas.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da assimetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal.
Simbolismo O simbolismo se dá pela imagem de
fundo – em especial da presidente
Dilma sorridente, transmitindo a ideia
de apoio e confiança. Além disso, a
própria vestimenta e pose do
candidato passam a ideia de
seriedade.
82
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 31/08/12, Cad. Poder,
Eleições2012, pág.A12
Tamanho A foto ocupa 4 das seis colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por se tratar de uma entrevista, e pelo
fato da imagem passar a ideia de
aprovação/consenso por parte do
partido, haja vista que a entrevista foi
feita no diretório de campanha no
centro de SP.
O Estado de São Paulo mostra esteticismo na fotografia na
sobreposição de imagens, em primeiro plano Fernando Haddad de terno,
falando de seu plano de governo, as mãos esticadas para frente em paralelo,
assinalam uma via, um caminho a seguir, reforçando o titular da proposta de
coalição. Ao fundo uma imagem enorme da presidente Dilma sorrindo e
também em primeiro plano a imagem serena do candidato do PT. A leve
inclinação do plano fotográfico deixa entrever a proposta de ação do partido e a
negativa de Haddad de não fazer um «toma lá dá cá».
Nessa linha, o esteticismo é também uma composição visual
deliberadamente inclinada para significar e impor um significado mais sutil e
complexo, como é a coalizão política em uma corrida eleitoral que conta com o
apoio da presidente, mas, sobretudo, com a clareza e a delimitação do líder
daqueles partidos que venham a aderir a essa proposta.
83
84
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra e Padre Marcelo Rossi
Papel Candidato à prefeitura de SP em 2012
e religioso da Igreja Católica.
Partido PSDB
Episódio Encontro com Padre Marcelo Rossi
Data de obtenção 31/08/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Serra aparenta estar emocionado –
expressão de choro
Ação/Estaticismo Estático e com olhar para o padre,
que fala ao microfone.
Cenografia O candidato veste um casaco escuro
e uma camisa azul clara. O Padre
Rossi usa uma batina preta e branca.
Ao fundo, vê-se a imagem de Nossa
Senhora e o menino Jesus entre os
dois, levemente desfocada.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva.
Simbolismo O simbolismo se dá pela imagem
religiosa, que representa o sagrado,
no momento em que o candidato
recebe a benção do Padre durante a
missa.
85
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 31/08/12, Cad.Poder, pág.A14
Tamanho A foto ocupa 2 das seis colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por se tratar de uma foto que transmite
a ideia de benção/religiosidade, e pelo
fato de Serra (aparentar) estar
esmocionado.
A Folha traz o tucano José Serra emocionado em uma cerimônia
religiosa celebrada pelo padre Marcelo Rossi. Ao fundo, a imagem estilizada de
Nossa Senhora com uma auréola de estrelas e o menino Jesus nos braços; a
figura do Messias fica no meio, entre o padre e o candidato à Prefitura de São
Paulo. A Virgem inclinada para o lado de Serra, como se estivesse olhando
para ele, reveste o momento sacro. Rossi veste roupas litúrgicas com um
microfone na mão. O candidato tucano olha para o padre, portando uma vela
devocional.
O esteticismo se dá de maneira ambígua na fotografia. Trata-se, neste
caso, de uma composição visual deliberadamente tratada para significar
«espiritualidade» estática, traduzida em termos de um cerimonial litúrgico.
86
2.6. Sintaxe – fotogramas da ação política
87
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB
Episódio Evento de campanha em Ermelino
Matarazzo.
Data de obtenção 22/09/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual Na sequência de fotos, o candidato
aparece chutando a bola de futebol.
Ação/Estaticismo Dinâmico, pois há elementos na foto
que transmitem ideia de movimento.
Cenografia O candidato está em meio a várias
pessoas em um campo de futebol e,
ao bater um pênalti, seu sapato sai do
pé junto com a bola.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da assimetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva grande angular.
Simbolismo O simbolismo se dá pela sequência
de 3 imagens do do candidado se
preparando para bater o pênalti e o
sapato voando junto com a bola de
futebol, transmitindo a ideia de falta
de habilidade e conhecimento sobre o
assunto.
88
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 22/09/12, Cad.Nacional,
Eleições 2012, pág. A6
Tamanho A foto ocupa as 6 colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com a
fotolegenda por apontar que o
candidato estava “gastando sola de
sapato – e todo o resto”, talvez se
referindo ao desgaste da própria
imagem do candidato, que foi capa
em diversas publicações.
A sequência fotográfica de O Estado de São Paulo que mostra o
candidato do PSDB José Serra jogando futebol, durante um evento de
campanha realizado em Ermelindo Matarazzo, corresponde à categoria de
sintaxe da «mensagem fotográfica». Os fotogramas sob o título «gastando sola
de sapato» apresentam em um primeiro momento Serra perdendo o sapato ao
cobrar um falta. A seguir, o sapato voou do pé direito e, por fim, Serra ficou
sem meia. O texto que descreve esta situação informa que, após o chute, Serra
perdeu o sapato do pé direito, o goleiro defendeu a cobrança e o sapato
atravessou a rede e foi parar atrás do gol. Em entrevista, Serra disse que
sentia que o sapato ia sair, rindo de sua tentativa fracassada. Numa segunda
cobrança, o tucano consegue marcar, mas o goleiro afirma que desta vez
deixou a bola entrar.
Neste caso, o recurso da sintaxe possibilita a leitura discursiva de três
fotografias transformadas em uma sequência de movimento. Movimento este
que deixa entrever a ação política de Serra.
89
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB
Episódio Caminhada pelo centro de SP
Data de obtenção 28/09/12
Meio Folha de São Paulo.
90
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Na sequência de fotos, o candidato
aparece sendo beijado na boca por
uma eleitora, e depois com a
expressão de assustado.
Ação/Estaticismo Dinâmico, pois há elementos na foto
que transmitem ideia de movimento.
Cenografia O candidato está em meio a várias
pessoas no centro de SP, há alguns
manequins em frente a uma loja, e
uma mulher de casaco vermelho.
Verticalidade Picado – plongée – e contra-picado –
contra-plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal.
Simbolismo O simbolismo se dá pela sequência
de 2 imagens do candidado sendo
beijado na boca pela vendedora, e
depois com o olhar assustado, visto
que ele não esperava tal atitude.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 28/09/12, Cad. Poder,
Eleições2012, pág.A13
Tamanho A foto ocupa as 2,5 colunas das 6
colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Não há concordância da foto: Serra
sendo beijado por uma eleitora, com o
título da matéria: Alckmin vai
intensificar presença em atos pró-
91
Serra. O que há é uma coluna com o
subtítulo «Apaixonada, lojista dá dois
beijos na boca de candidato».
Todavia, a imagem ganhou destaque
em diversas publicações pelo fato
inusitado.
Em relação às fotografias da Folha que exploram a categoria da sintaxe,
mostra-se uma lojista que pega de surpresa o candidato do PSDB e o beija na
boca. Com o título em caixa de texto azul aparece a palavra «fogo» e, na
segunda fotografia, Serra ainda se recuperando do imprevisto e, assustado,
olha para a lojista que comemora a sua conquista, mas uma caixa de texto azul
na lateral inferior direita aponta a palavra «paixão». Também o texto relata que
Talita Coelho declara seu amor ao candidato tucano e que se pudesse casaria
com ele. O festejo se dá na entrada da loja em que a vendedora de roupas tem
alguns manequins.
Esta leitura discursiva de duas fotografias transforma-se em uma
sequência que vai do instante em que a vendedora toma a iniciativa e, de
maneira espotânea, beija na boca Serra até o momento em que este, ainda
assustado, recupera-se do choque que isso representou. Há uma sequência de
movimento, mais estático que na imagem anterior, mesmo assim, existe por
parte do candidato uma variação de atitude.
De uma maneira geral, as categorias da «mensagem fotográfica»
mostram-se ricas em recursos que apontam para a significação e o sentido.
Não pode haver nesse sentido uma fragmentação da imagem fotográfica. Muito
pelo contrário: deve haver uma leitura em chave que una a imagem conotada
pelo texto e discurso do jornal à imagem denotada que justifique a escolha.
Podem coexistir em uma notícia mais de uma categoria, mas sempre haverá
uma categoria predominante, como o demonstram as análises acima
referenciadas.
Em particular, a trucagem, por exemplo, impõe para
leitores/espectadores e eleitores uma aproximação a um universo artificial feito
pela intervenção e manipulação das imagens com um interesse metódico,
92
localizado dentro do plano da denotação e valendo-se da credibilidade
particular da fotografia. A pose é basicamente a leitura de atitudes, gestos e
movimentos corporais, em muitos casos estereotipados, o que constitui o
elemento de significação preparado pelo meio para conseguir um efeito que
provém do analógico e que fundamenta a fotografia digital ou qualquer outra
técnica da objetiva. Dos objetos - ou pose dos mesmos - pode-se inferir que
tais objetos são indutores frequentes para a associação de ideias e para
desenvolver temas propostos pelos veículos de comunicação.
A fotogenia por sua vez, é um recurso que ajuda a imagem dos
candidatos no que se refere ao foco, iluminação, impressão e revelação da
fotografia que trabalha com efeitos estáticos, assim não há arte nesta ação e
sim sentido. O esteticismo como categoria se explica quando uma fotografia se
faz composição visual, deliberadamente tratada para significar ou imprimir um
significado mais sutil e complexo do que permitem os outros procedimentos da
conotação. Enfim, a sintaxe propõe uma leitura discursiva da fotografia,
transformando-a em uma sequência que representa movimento, repetição,
variações de atitude e tipificação, entre outras.
Especificamente, a «mensagem fotográfica» contida nos veículos
jornalísticos Folha e O Estado de São Paulo declinaram as notícias da
campanha para a Prefeitura de São Paulo com trucagens sarcásticas,
sobretudo, feitas a Serra pela Folha. Já a pose de Serra em O Estado de São
Paulo resulta mais comportada, séria e com um enorme repertório intelectual
para legislar a cidade. Nesse mesmo sentido, Serra é colocado próximo dos
livros também por O Estado de São Paulo, já o ex-presidente Lula é noticiado
pelo apoio ao candidato Fernando Haddad pela Folha, presenteando-o com
uma camiseta do jogo mais popular no Brasil. A fotogenia deixa em evidência o
rosto em foco com incidência de luz em três candidatos empatados
tecnicamente nas intenções de votos dos eleitores. O esteticismo utilizado por
ambos os jornais também divide ideologicamente as estratégias de
comunicação dos partidos. Por um lado, o aquém corresponde às composições
fotográficas que colocam em primeiro plano a realidade do processo eleitoral;
por outro lado, o além é quando a composição se abre ou projeta para outros
âmbitos da subjetividade, como a arte, a religião e imagens de culturas nativas.
93
Por fim, a sintaxe, que é a via que leva a fotografia em direção ao movimento
como efeito de sentido, relaciona-se diretamente com o julgamento ideológico
das ações dos candidatos e partidos.
Neste eixo de reflexões, fruto da análise, se impõe a decodificação, da
qual se ocupa este estudo no capítulo a seguir. Não sem antes insistir em
alguns significantes do mito que vieram à tona neste capítulo. São eles: «ética
seletiva», «fulanização», «carga pesada», «jogo político» «camiseta 13»,
«imagem sublimada», «apaixonada», «espiritualidade estática», «toma lá dá
cá», «gastando sola de sapato», entre outras.
94
CAPITULO 3
Mito e mensagem fotográfica
A problemática da comunicação de massas, nascida no seio da
sociologia, particularmente nas sociedades industrializadas, tem originado a
exigência de metodologias que estabeleçam o conteúdo não explícito das
mensagens, seus problemas e princípios. Roland Barthes, pioneiro do
estruturalismo francês, cuja obsessão fundamental foi combater as falsas
evidências impostas pelo poder no interior das linguagens e dos códigos,
propõe em Mitologias um método de desmitologização.
Ante a adoração mitológica da tecnologia dos meios de comunicação, o
semiólogo francês anteriormente citado defende a ideia de que escrever sobre
isto é um gesto de emancipação cultural.
A reflexão proposta neste capítulo conclusivo assinala a intencionalidade
comunicativa das mídias e seus pressupostos básicos. A incidência mais
importante dos meios de comunicação massiva na sociedade não deriva de
seu impacto tecnológico, mas da mediação ideológica – «a ideologia é a
mensagem». Quem impõe tal mediação é a sociedade com a estrutura de seus
códigos, e não os aparelhos eletrônicos com seus circuitos e redes, cujos
efeitos tecnológicos podem ser em definitivo regulados pelos mecanismos de
controle social.
A partir desses princípios teóricos formulados no primeiro capítulo deste
trabalho, estabeleceu-se um recorte metodológico nas categorias conotadas da
«mensagem fotográfica», também anunciadas por Barthes em obras
posteriores a Mitologias. Embora as categorias da mensagem fotográfica
estejam sistematizadas em O óbvio e o obtuso, e em obras seguintes – tratam-
se de momentos diferentes da produção barthesiana –, escolheu-se o gênero
do ensaio que o autor utilizou nessa primeira obra para a desmitologização da
«mensagem fotográfica» veiculada pelas mídias: O Estado de São Paulo e A
Folha de São Paulo.
95
Esse gênero é um tipo de texto em prosa que analisa, interpreta ou
avalia um tema de maneira oficial ou livre. Considera-se um gênero literário,
igual à poesia, à narrativa e ao drama. Trata-se de um escrito sério e
fundamentado que sintetiza um tema significativo – política/eleições –, possui
um caráter preliminar e introdutório e, por último, apresenta argumentos e
opiniões sustentadas, neste caso, no corpus da pesquisa.
Sendo assim, os ensaios que constituem este último capítulo explicam,
analisam e interpretam o tema político das eleições para a Prefeitura de São
Paulo em 2012. Mesmo que no ensaio não exista a obrigatoriedade
documental, o corpus do trabalho segue o rigor das notícias no percurso desse
processo.
Uma vez instituídas estas premissas, estabeleceu-se uma metodologia
de análise de ambas as mídias impressas, na tentativa de isolar aqueles
elementos que intervêm no processo de sistematização da mensagem
fotográfica e constituem o conteúdo ideológico dos meios. Usaram-se tabelas
montadas em função de indicadores e atributos documentais; indicadores de
codificação fotográfica, e indicadores de codificação de página para, enfim,
ensaiar na linha da desmitologização proposta por Barthes.
Nesse sentido, procurou-se apenas ensaiar a respeito desse processo
inaugurado pelo semioticista, sem nenhuma pretensão, a não ser seguir as
suas orientações sobre o modo de desmitologizar a «mensagem fotográfica»
das mídias escolhidas para este propósito.
Por esta razão, o capítulo aborda através de três ensaios a
aplicabilidade do processo de desmitologização às três categorias – trucagem,
pose, sintaxe – que juntas representam mais de 55% das imagens veiculadas
por O Estado de São Paulo e pela Folha de São Paulo na transmissão das
«mensagens fotográficas» veiculadas no processo eleitoral, segundo
demonstram o corpus do trabalho.
O primeiro ensaio, intitulado «Das bandeiras partidárias às notações
caricatas no tom do debate político eleitoral», descreve o código da trucagem
como possibilidade da imagem ser retocada, transferida ou transformada em
função da intencionalidade comunicativa das alianças políticas. Aborda a
96
caricatura como a expressão mais eloquente para o tema político durante o
processo eleitoral.
O segundo ensaio, intitulado «Posicionamento e pose na corrida eleitoral
à Prefeitura de São Paulo», analisa as estratégias ideológicas por meio da
metáfora da corrida eleitoral, que são colocadas em função dos interesses dos
partidos e das mídias também como uma estratégia de posionamento – pose
do partido e das mídias, determinando os efeitos de pose do candidato.
O terceiro ensaio, intitulado «O esteticismo da fotografia jornalística no
contexto cultural das eleições», interpreta os efeitos de sentido provocados
pelas mídias na convergência das tecnologias e da arte, sobretudo, quando se
trata do fenômeno contemporâneo da catarse oferecido aos leitores/eleitores.
3.1 . Trucagem – a alteração proposital da imagem fotográfica denotada
Roland Barthes, em Mitologias ([1954-1956]2006), coloca a questão das
tensões entre o conotado e o denotado no campo da fotografia contemporânea.
Especificamente no texto «Fotogenia eleitoral», Barthes trata com maestria o
papel da fotografia em campanhas políticas eleitorais, um jogo entre a
realidade, tanto histórica quanto simbólica; e a linguagem, neste mesmo
sentido, tentando explorar a «complexa retórica» resultante da interpretação da
relação imagem/texto.
Mitologias é uma coleção de 53 ensaios breves que Barthes escreveu para
uma revista literária sob a rúbrica «mitologia do mês». Esta coluna foi a forma
com a qual Barthes fez frente à explosão da cultura de massas na década
seguinte à Segunda Guerra Mundial – a chegada de um grupo
hipermercantilizado de meios: revista, cinema, rádio, televisão – que
configuravam a vida social de todos em um nível mais profundo, como uma
espécie de nova forma de gravidade psicológica. Barthes propôs a cultura de
massa a partir de Newton para identificar as leis de seu comportamento, provar
suas tensões e deixar de manifesto os limites invisíveis de sua influência.
A ideia básica de Barthes nessa obra é que o funcionamento de uma cultura
de massa é análogo à mitologia. O projeto semiológico consistiria em
97
desmitificar tais mitos. Barthes não foi o único a escrever nos anos 50 sobre
esse tipo de trivialidades. Mas seu tom foi único: um rigor individual teórico que
modelou aforismos e fez compreender as coisas familiares do cidadão. Muitas
das ideias do autor se aplicam poderosamente à cultura contemporânea – daí a
atualidade de seu pensamento –, como aconteceu com a França do pós-
guerra. Nisto reside, por exemplo, a análise das fotos de campanha – ainda
populares hoje em dia – nas quais os políticos olham à distância para o futuro.
Barthes define a fotografia como uma nova alucinação, falsa no nível da
percepção, mas verdadeira no nível do tempo. E, em relação à imagem
fotográfica, considera que a fotografia só adquire seu valor pleno com a
desaparição irreversível do referente com o passar do tempo. Para Barthes,
«na realidade, aquilo que permite ao leitor consumir o mito inocentemente é o
fato de ele não ver no mito um sistema semiológico, mas sim um sistema
indutivo: onde existe apenas uma equivalência, ele vê uma espécie de
processo causal: o significante e o significado mantêm, para ele, relações
naturais». É esse jogo de significação que dá embasamento ao objeto de
pesquisa deste trabalho.
A lição básica de Mitologias é que tudo significa algo, sobretudo as coisas
que tentam parecer além do significado. E, se a cultura do século XXI tem
adotado algumas das lições de Barthes, o que se explora não é a cultura de
massas, mas uma crítica da mesma: a dissecção barthesiana de tudo, sem
importar a trivialidade. Isto acontece em todas as partes agora, quase sempre
em tempo real. Esta análise crítica é vital, interessante e consumível como a
cultura que se discute. Neste sentido, Mitologias situa o crítico no meio e entre
- ele não é um consumidor regular de cultura, mas, no entanto, é alguém
profundamente imerso nela, o suficiente para apreciar seus mecanismos
internos.
98
99
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Celso Russomanno, Fernando
Haddad e José Serra
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PRB, PT, e PSDB respectivamente.
Episódio Charge de Celso Russomanno,
Fernando Haddad e José Serra.
Data de obtenção 30/09/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual Celso Russomanno está
caracterizado com o fardamento da
Guarda Municipal, ladeado por um
cão; Fernando Haddad segura um
bilhete único ao lado de uma placa de
um ponto de ônibus; e José Serra
está caracterizado como um professor
tendo ao fundo um quadro negro.
Ação/Estaticismo Estáticos, pois a imagem dos
candidatos têm o movimento
paralisado.
Cenografia Por se tratar de uma charge há uma
contextualização com signos que
representam a principal proposta de
campanha de cada candidato: Celso
Russomanno: ampliar o efetivo da
Guarda Civil Metropolitana; Fernando
Haddad: criar o bilhete único mensal
que permite o uso ilimitado em ônibus
municipais por uma tarifa de R$140
100
(trabalhador) e R$70 (estudantes); e
José Serra: criar uma rede municipal
de ensino técnico.
Verticalidade Picado – plongée.
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação Apresenta uma visão geral, mas sem
uso de objetiva por se tratar de uma
charge.
Simbolismo O simbolismo se dá pela
caracterização de cada candidato a
partir de sua princiapal proposta de
campanha.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 30/09/12, Cad.Nacional, pág.
A6
Tamanho As imagens ocupam todas as 5
colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há correspondência, pois o título da
matéria (“As bandeiras levantadas
pelos favoritos”) remete à
caracterização feita nas imagens dos
candidatos. O próprio texto analisa as
propostas de campanha de cada
candidato e busca ouvir especialistas
nas áreas de saúde, educação,
segurança e transporte para avaliar o
projeto de cada candidato.
101
102
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Celso Russomanno, José Serra,
Fernando Haddad e Gabriel Chalita.
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PRB, PSDB, PT, e PMDB
Episódio Charge dos candidatos
Data de obtenção 22/09/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual A imagem dos painéis dos candidatos
aparece como se estivessem
«posando para foto».
Ação/Estaticismo Estáticos, pois a imagem dos
candidatos tem o movimento
paralisado.
Cenografia A imagem caricaturada dos
candidatos aparece como se
estivessem dançando ou tocando um
instrumento musical.
Verticalidade Picado – plongée.
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação Prioriza-se um plano geral.
Simbolismo O simbolismo se dá pela distorção
feita na imagem de cada candidato
somada à referência musical
(simbolizada pelos gestos e
instrumentos musicais).
103
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 22/09/12, Cad. Poder, A14.
Tamanho A foto ocupa 4 das 6 colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância das charges –
candidatos dançando ou tocando
instrumentos – com o título da matéria
– «Candidatos tentam fugir de fórmula
surrada nos jingles» – porque
aparecem Russomanno, Serra,
Haddad e Chalita dançando.
Das bandeiras partidárias às notações caricatas no tom do debate político
eleitoral
Tanto O Estado de São Paulo quanto A Folha utilizam a trucagem como
um código da conotação que influencia a leitura da imagem fotográfica de seus
leitores. Na busca por refletir o cenário político das eleições para a Prefeitura
de São Paulo em 2012, ambas as mídias desenvolvem um discurso jornalístico
no qual assumem clichês, estereótipos e modelos culturais para declinar as
ideologias da redação e fazê-las produzir efeitos de sentidos sobre seus
leitores/eleitores. Além desses códigos e aquém de sua literalidade analógica,
a fotografia é uma marca referencial dessa realidade mostrada e determinada
pelo tempo e espaço do jornal direcionado às massas.
Assim, a trucagem, que trabalha com a imagem fotográfica na sua fonte
documental, pode ser retocada, transferida ou simplesmente transformada em
outra imagem, porta-voz de um enunciado, sendo este político, eleitoreiro ou
partidário. Tal código parece fazer parte de um jogo no qual interessam apenas
os resultados. Neste sentido, a caricatura converteu-se na expressão máxima
da trucagem como crítica bem-humorada e de deboche dos partidos políticos e
de seus candidatos. A técnica consiste em escolher os traços mais marcantes
de um personagem político e de exagerá-los ou simplificá-los para causar
104
comicidade ou para destacar um defeito ligado à sua conduta moral, que, aliás,
parece ser uma estratégia crucial em tempos de eleição.
O Estado abre sua página mostrando as raízes do problema político
incrustadas na aposta dos princípios ideológicos; acreditar neles e na
necessidade de agentes públicos que cuidem e protejam a lei parece ser o
oráculo que introduz à materia objeto da trucagem. É como se houvesse um
corte também radical em relação ao gênero da matéria principal.
Claro, a informação vem da mídia, não podia ser de outra forma, em se
tratando dos programas de governo que apresentam de forma minimalista. As
três bandeiras mais eloquentes das intenções de voto são: Celso Russomanno,
Fernando Haddad e José Serra. A essência da trucagem apresenta a figura
oriunda da imagem fotográfica, pelo menos isso é costume na caricatura
jornalística, que traz os três personagens de cabeça grande em relação ao
restante do corpo, as pernas arqueadas e os pés convergindo à frente.
Contudo, a primeira encarna o agente da guarda civil metropolitana,
acompanhado de um cachorro, também treinado para esta função. O apito para
chamar a atenção recolhe um traço da personalidade do candidato, que se une
à farda daquele que bate continência ao propósito do PRB. A segunda é a
bandeira do usuário do transporte coletivo que sorri no ponto de ônibus,
segurando o bilhete único, rumo ao itinerário petista. A terceira alça o emblema
do PSDB, na haste do ensino técnico de um professor com experiência,
indicando o respeito que se deve ter pela tradição magisterial.
Tratam-se das bandeiras de campanha que, como em qualquer
juramento, representam apenas promessas caricaturizadas que podem virar
marcas de gestão. Chama a atenção o dado surprendente: apenas o candidato
do PT segura a bandeira do usuário, seja por acaso ou de modo proposital –
vide a assesoria de propaganda –, o código de trucagem conota da imagem
seu poder identificatório com o público usuário desta mídia.
Já A Folha, nessa mesma linha, vai para as desculpas do apelo popular
da chamada «fórmula surrada dos jingles» que deram o tom musical verdadeiro
à campanha. Mas, antes, cabe à função fática, aplicada ao leitor nessa dança,
responder qual é a música que quer dançar? Sabe-se dos efeitos da música
105
sobre aqueles que são bons dançarinos, sobre aqueles que terminam,
literalmente, dançando conforme a música e, aqueles que deixam o baile por
aborrecimento ou falta de opção. Nessa sátira da Folha aparece um novo
dançarino: «Chalita» que parece igual aos outros três candidatos saídos de
uma gafieira.
Russomanno, de amarelo, dança axé, sertanejo universitário e a
lambada porque “é dez e ninguém se engana”- nem com a letra, nem com sua
retórica propagandística; Serra, de preto, também na onda do sertanejo
universitário, evoca o clamor de seus eleitores que o querem de imediato no
comando da Prefeitura; ele não tem tempo a perder; Haddad, de azul, em um
mix de recitação, erudito, balada pop e rap, ressalta na letra a imagem de um
homem novo para um tempo novo da cidade, mesmo sendo ele o próprio
semblante de velhos correligionários do partido; e Chalita, de cinza, exalta o
rock rural, em primeiro lugar, mostrando que o sonho de sua candidatura
urbana nessa balada é uma «coisa de louco».
Por um lado o ritmo, por outro, a letra; ambas as categorias notadas
vêm ao encontro de reforço das caricaturas, que usam como referente a
denotação da imagem fotográfica - pelo menos do rosto; já a aplicação plástica
das cores nas roupas contribuem à técnica da trucagem, que permite ao leitor
se identificar com o gosto «da galera», como diria Caetano, citado no pé da
página, a propósito de um comício relâmpago no Rio. Essa é a missão, visão e
valores de uma mídia como A Folha, que clama pelo consentimento popular de
seus leitores.
Entre as bandeiras e o som, a trucagem da imagem fotográfica resulta
em um recurso mais do que apropriado quando se trata de campanhas
eleitorais. A alteração proposital da realidade, como um selo de garantia para o
leitor/eleitor, converte-se em um traço de estilo que define, por um lado, uma
mídia formal destinada a leitores informados e preocupados com o acontecer
político do país e, por outro, uma mídia mais popular destinada a leitores
interessados em aspectos anedóticos e espetaculares da informação.
106
3.2 Pose – entre a objetividade e a subjetividade do estereótipo social
A iminência dos novos cenários de campanhas políticas reascende a
discussão sobre as estratégias de posicionamento de candidatos e propostas
perante as exigências do público eleitor, frente ao reconhecimento da
crescente diversidade populacional na qual emergem questões de índole
procedimental como oportunidades e formas de divulgação. Por isso, a primeira
questão a levar em consideração nesta pesquisa é a mensagem fotográfica
atrelada aos meios de comunicação, que na contemporaneidade exibem uma
grande quantidade de meios e linguagens.
O público cidadão tem se especializado, o que significa que é cada vez
mais heterogêneo – e ao mesmo tempo mais informado; há uma enorme
dispersão informativa, distintas modalidades de entretenimento, ócio e
alienação da realidade, assim como os próprios meios proporcionam distintas
modalidades de percepção do mundo, da verdade observada e relatada.
Nestes cenários de complexidade comunicacional cabe destacar o valor do
discurso político como via de consolidação de uma representação subjetiva,
paradoxal e compartilhada. Trata-se da enunciação que postula valores
apoiados em situações de desigualdade e iniquidades vivenciadas, não
imaginárias, para que a partir daí os meios convoquem vontades
aparentemente dispersas e diversas.
O grande problema atribuído às campanhas políticas por parte da cidadania
é que estas campanhas são mais bem campanhas publicitárias da imagem, ao
invés de campanhas políticas de ideias e projetos. Neste sentido, para Barthes,
a pose assume lugar de destaque por apresentar o candidato à luz de uma
mensagem que vai além.
107
108
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Lula, Marta Suplicy, Fernando
Haddad, e Dilma Rousseff.
Papel Ex-presidente do Brasil, ex-ministra do
governo Dilma, Candidato à prefeitura
de SP em 2012, e atual presidente o
Brasil, respectivamente.
Partido PT
Episódio Comício em Itaquera
Data de obtenção 02/10/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Ex-presidente Lula aplaudindo, Marta
Suplicy falando ao microfone, e
Fernando Haddad abraçado à
presidente Dilma Rousseff.
Ação/Estaticismo Estático e com olhar dirigido ao
público.
Cenografia O candidato Fernando Haddad veste
um casaco preto/azul e uma camisa
vermelha, ladeado pela presidente
Dilma – também de vermelho – sob os
aplauss do ex-presidente Lula vendo a
ex-ministra Marta Suplicy discursar
sob um palanque. Ao fundo, várias
pessoas do partido com um leve
desfoque.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
meia-tele e um corte na foto final.
109
Simbolismo O simbolismo se dá pelo tom de
vermelho da camisa do candidato
Haddad, do vestido da presidente
Dilma, da bandeira do PT ao fundo e
pela presença dos nomes de maior
representatividade no partido: Lula e
Marta.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 07/10/12, Eleições 2012,
Nácional, pág. A5
Tamanho A foto ocupa as seis colunas do
jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por usar no título da matéria uma
frase dita pela presidente Dilma
«Estou aqui metendo o bico», vendo-
se a presença da presidente no
palanque no candidato Haddad.
110
111
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad
Papel Candidato à prefeitura de SP em
2012.
Partido PT
Episódio Comício de Fernando Haddad em
Itaquera
Data de obtenção 02/10/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Na foto vê-se o candidato Fernando
Haddad ladeado do ex-presidente
Lula e da presidente Dilma Rousseff,
que aparece ao centro com os braços
levantados e dados ao candidato e a
Lula.
Ação/Estaticismo Estático, pois não há elementos na
foto que transmitam ideia de
movimento.
Cenografia O candidato está em meio a várias
pessoas em um palanque de comício
em Itaquera, junto ao ex-presidente
Lula e à presidente Dilma Rousseff,
de braços dados.
Verticalidade Picado – plongée.
Equilíbrio Há predomínio da simetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
teleobjetiva ou meia-tele.
Simbolismo O simbolismo se dá pela presidente
do Brasil estar ao centro da imagem,
112
demonstrando seu apoio ao
candidado, e quase que celebrando
uma possível vitória.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 02/10/12, Cad. Eleições2012,
pág.1
Tamanho A foto ocupa as 6 colunas do jornal.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o fato
noticioso porque vê-se a presiente
Dilma marcando presença no comício
de Haddad, demonstrando seu
irrestrito apoio ao
candidado,demonstrando «...o dever
de meter o bico em SP».
Posicionamento e pose na corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo
O partido, a mídia e o candidato, esse é o gride de largada de cada
escuderia na corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo. Antes da largada, o
partido político precisa se posicionar. Tal posicionamento consiste no ato de
determinação perante a situação atual do país e cabe a esse dar conta da
imagem que deseja veicular através da mídia. Já a pose é um código da
conotação que, uma vez decupado, assume sua qualidade de gesto
convencional atribuído ao candidato. Entre o posicionamento do partido e a
pose do candidato, a evolução dos sistemas de informação, destinados a dar
suporte aos processos de tomada de decisão, dão à mídia um papel decisivo
nessa corrida, tratando cuidadosamente dos processos de tomada de decisão
de seus leitores/eleitores e se aproveitando do momento para capturar
audiência.
113
Nesse cenário competitivo de «corrida maluca», a fotografia jornalística
trabalha por captar os traços dos candidatos a partir de uma reserva de
atitudes estereotipadas, devidamente capturadas, registradas e projetadas na
campanha. Estas se convertem em um elemento de significação ideológica a
favor dos princípios emblemáticos do partido. Na pista dos interesses e do
oportunismo, a política e o consenso político seguem o fluxo em e através da
mídia.
Os partidos usam a mídia para seus fins - ganhar na reta final, e os
jornalistas fazem da política o centro de suas reportagens para captar
audiência. Desde diversas repartições dos poderes do Estado, dos partidos
políticos e de outras instituições, exerce-se uma influência direta nos conteúdos
dos meios de comunicação – diretivas sobre o tratamento de um tema ou do
veto sobre assuntos e personagens do cenário público. A mídia é
definitivamente, nos dias de hoje, a fonte mais importante da apreensão da
realidade dos eleitores/leitores da fórmula 13, 45, 10 e 15, entre as mais
cotadas para o grande prêmio da Prefeitura de São Paulo em 2012.
A maior parte do conhecimento do cidadão a respeito da competição
vem das crônicas informativas da mídia. Todo dia começa uma luta nessa
«sociedade da midiocracia», por conseguir a atenção do público sobre os
acontecimentos informativos, luta esta que se dá em diferentes planos. Por um
lado, os candidatos competem pela atenção da mídia; por outro, a mídia
compete para conseguir a atenção de seus leitores/eleitores.
Tudo leva a crer que existem alianças entre a mídia e os partidos
políticos - é isso o que impede o pluralismo ideológico na mídia. Somados a
isto, os interesses econômicos dos veículos midiáticos permitem que cada um
mostre apenas o que lhe interessa mostrar. Levando em consideração que só
uma minoria do eleitorado obtem informação por meio de diversas fontes,
conclui-se que existe ainda grande desinformação e suprainformação - e isto
não faz bem à comunidade porque o espectador que não é informado não pode
ter opinião, e o espectador que não tem opinião não pode tomar decisões. Por
fim, o espectador que não pode tomar decisões não é um espectador com
«liberdade de expressão» para escolher por quem vai torcer na corrida.
114
Não é à toa que a categoria da pose é estatísticamente a mais usada
pela Folha e o Estado de São Paulo – veja-se o corpus deste trabalho. O
brasileiro insiste em considerar que ainda o poder político toma conta do país,
em uma espécie de reedição das culpas de seus antepassados, sem enxergar
no fenômeno da globalização e do multiculturalismo uma oportunidade ímpar
de sair desse engodo e garantir bons resultados.
Mas, vamos aos veículos e seus corredores. A pose destes últimos está
fundamentada na artificialidade proposta pelos modelos e/ou pelo próprio
fotógrafo. Sabe-se que alguém que posa se metamorfoseia, monta-se para o
registro fotográfico do jeito que quiser; e ao fazê-lo, constrói o modelo através
do qual deseja ser conhecido e visto nas mídias sociais.
A pose do modelo prepara a leitura desejada dos significados da
conotação. Definindo-se a partir das atitudes estereotipadas que constituem
feitos já de significação, uma espécie de gramática histórica da conotação
iconográfica que busca seus materiais na cultura de massa. A mensagem dos
veículos não é a pose em si do condutor do veículo, mas os sentidos que ela
transmite sobre o piloto. Aparentemente, ao leitorado/eleitorado é uma imagem
que produz uma mensagem denotada, no entanto, é uma estrutura dupla,
composta de denotação e conotação, como se veio observando em outros
grides de largada.
Então, vejamos: O Estado de São Paulo traz o candidato Fernando
Haddad na pista 13 do PT junto a Lula, Marta Suplicy e a presidenta Dilma
Rousseff, que disse estar aí na corrida para justamente «meter o bico». Tanto o
candidato em segundo plano quanto a presidente em primeiro levam o
vermelho como a cor distintiva do partido, e a comitiva bate palmas e sorri no
comício celebrado na Zona Leste de São Paulo. O ato organizado da escuderia
é para responder às declarações de Serra sobre o «mensalão». Lula chama os
da escuderia tucana de intolerantes. Esta fala politizada se opõe ao mito da
corrida eleitoral, permanecendo o tempo todo fiel ao ideal da política partidária,
pois a revolução esquerdista, sempre velada, adequa-se à comodidade de
suas utopias e não à necessidade que esta escuderia tem de se reafirmar no
cenário político da cidade de oposição.
115
Da pose de Haddad e o posicionamento da sua equipe, estabelece-se o
itinerário do PT em relação ao regime de propriedade, ordem e ideologia
projetada para a cidade. Observa-se o direcionamento do veículo O Estado de
são Paulo para uma leitura crítica de negação, do «capitalismo pelo
capitalismo», e à rejeição a este meio que o usa como alvo de suas críticas. Ao
passar do real para sua representação, o PT se acomoda aos fatos que lhe
oferecem interesses partidários, mas não se integra aos novos valores que
propõe o fenômeno da globalização às escuderias em competição, sendo o
candidato e sua pose apenas um pretexto partidário que signatariamente aceita
o patrocínio do Bradesco, via TV aberta, uma «Presença lado a lado» junto ao
eleitor do PT e contra o PSDB. O apelo na TV de Haddad é o voto útil para
chegar ao segundo turno na corrida eleitoral.
Em contrapartida, a Folha perante essa mesma notícia, acrescenta
«Dilma diz ter o dever de meter o bico em São Paulo». Agora, é a escuderia
inteira que levanta os braços ao céu em sinal de culto ao princípio do dever no
exercício de cidadania e da liberdade de expressão. Lula pede apoio a Haddad.
E Dilma só o estava apoiando porque Lula pediu. O óbvio não está nesse pacto
entre os petistas de apoiar a candidatura de Fernando Haddad. O óbvio está no
complemento da frase da manchete, «estou aqui metendo meu bico porque
São Paulo é um fato» e, sobretudo, o lugar onde moram milhões de brasileiros
eleitores. Não se tem como dirigir o Brasil sem meter o bico em São Paulo, dirá
a seguir a atual presidente.
Depois deste episódio, Haddad ouvirá da madrinha que se ela fosse um
«certo candidato» ela ficaria de bico fechado. Logo, o jornal traz a imagem de
Serra fazendo um sinal de positivo e com a boca aberta. Mais um comercial,
viagem da presidente será pago pelo PT para ninguém sequer imaginar o uso
da máquina pública na direção da corrida da fórmula 13.
Enfim, o recurso estilístico do posicionamento na fotografia jornalística
está destinado a mostrar a pose do partido, enquanto, a pose propriamente dita
dirige-se ao candidato que representa esse partido por meio de gestos, atitudes
e comportamentos condizentes com sua ideologia. Na corrida eleitoral, O
Estado de São Paulo é a mídia que mitologiza pela ordem, usando uma
linguagem que imuniza o imaginário coletivo, com logística para compreender o
116
real atrelado ao fato econômico dos gastos do mensalão. A Folha, por sua vez,
despolitiza o mito neoliberal através de uma linguagem operatória ligada a seu
objetivo de forma transitiva: entre o objeto e o sujeito só existe um ato, o
político, transformando o real em uma experiência revolucionária da população
paulistana. Nessa experiência, a fala do oprimido e excluído é real, emergente
e essencial.
Por esta razão, a desmitologização barthesiana é mais do que
necessária para entender os verdadeiros propósitos dos meios de
comunicação social no contexto eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, cujos
resultados são eloquentes a respeito desse processo que faz eco na atual
situação política do país.
117
3.3 A sintaxe e a declinação significante do sentido
Qualquer estudo ligado à imagem assinala de entrada um problema
ligado às suas origens. Na origem do mito da imagem está a ausência e o
desejo de conservar um vestígio físico da presença por meio do registro, com o
fim de abolir o tempo. Desta forma, a categoria fundadora da imagem não é a
figuração ou imitação de algo que já existe, mas sim a necessidade de
prolongar o contato, a proximidade e o desejo de que o vínculo permaneça.
REGIS DEBRAY (1994) afirma que a imagem nasce da morte, como uma
negação do nada e prolongação da vida, de tal forma que entre o representado
e sua representação se produza a transferência da alma.
Sendo assim, a imagem fotográfica não é uma simples metáfora dessa
ausência, mas uma imagem técnica, produto da modernidade que recupera
essa carga mítica da origem. Contudo, Roland Barthes afirma que a fotografia
é literalmente uma emanação do referente da realidade. Deste modo, a
fotografia conduz ao universo iconográfico uma imagem precisa, objetiva e
literal, porém em essência é um signo emanado diretamente de seu referente.
Isto é, a imagem é testemunha real no passado do corpo ao qual faz
referência. Este é o chamado noema da fotografia que certifica que o referente
já foi. Essa faculdade de atestar o que foi, de reter o que se desvanece, é a
memória, constitutiva da condição humana. Tanto a noção do real quanto a
essência da identidade individual dependem da memória, fazendo com que a
vida seja em essência movimento e transformação.
Deste modo, a memória vincula o passado e o presente, produzindo
uma dupla operação: abolir o tempo e, ao mesmo tempo, representá-lo. É essa
a operação que a fotografia realiza através da detenção, do corte – clique -, a
redução de um instante coloca em evidência o excluído, ou seja, a
continuidade, o tempo que flui. Talvez esta seja a questão fundamental da
fotografia, quem olha uma fotografia valoriza o salto entre o momento em que o
objeto passou e o presente em que se contempla a imagem. A memória, neste
sentido, une o atual com o passado e a ela se recorre para rastrear as origens
das coisas, mas também para decifrar de alguma maneira o que virá. Sendo
118
assim, este trabalho indaga a respeito das campanhas políticas que oferecem
uma prefiguração do sentido, uma vez que se assentam neste princípio.
119
120
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo José Serra, Gabriel Chalita, Fernando
Haddad, e Celso Russomanno
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PSDB, PMDB, PT, e PRB
Episódio Candidatos ‘gastam sola’ com roteiros
conhecidos
Data de obtenção 06/08/12
Meio O Estado de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Geral
Impressão gestual Os quatro candidatos aparecem
andando de bicicleta, e em outro
momento aparecem tomando café e
em companhia do público.
Ação/Estaticismo Estático, embora a posição do
candidado sugira um certo movimento
que foi congelado.
Cenografia Os candidatos vestem roupas
esportivas quando estão andando de
bicicleta, e variam do formal ao casual
quando estão tomando café junto ao
público.
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da assimetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
objetiva normal ou meia tele.
Simbolismo O simbolismo se dá pela imagem de
desportista que todos querem
transmitir quando andam de bicicleta;
121
E de populares quando tomam um
cafezinho em meio ao público.
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página OESP, 06/08/12, Cad. Nacional,
pág.A8
Tamanho As fotos ocupam praticamente
metade da página (5 das 6 colunas da
meia-página).
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
pelo fato de a expressão “gastar sola”
ter o sentido de “andar”.
122
123
Tabela 1 – Indicadores de atributos documentais
Protagonismo Fernando Haddad, Gabriel Chalita e
José Serra
Papel Candidatos à prefeitura de SP em
2012.
Partido PT, PMDB e PSDB, respectivamente.
Episódio Candidatos vão à missa
Data de obtenção 13/10/12
Meio Folha de São Paulo.
Desenhos e procedimentos da campanha
Tabela 2 – Indicadores de codificação fotográfica
Enquadramento Curto
Impressão gestual Tanto a imagem do Haddad quanto do
Serra aparecem sérios e
compenetrados.
Ação/Estaticismo Estático e com olhar para frente.
Cenografia A imagem dos candidatos em meio ao
ato religioso em meio a elementos
simbólicos da igreja católica (biblia,
batina, etc.)
Verticalidade Picado – plongée
Equilíbrio Há predomínio da assimetria na
imagem.
Angulação É provável que tenha sido usada uma
meia-tele/teleobjetiva.
Simbolismo O simbolismo se dá pela imagem dos
candidatos em meio ao ato religioso,
denotando a seriedade e o
compromisso com os ensinamentos
de Deus.
124
Correspondência fotográfica – codificadores da campanha
Tabela 3 – Indicadores de codificação de página
Página FSP, 13/10/12, Pode, A10
Tamanho A foto ocupa 3 das seis colunas do
jornal da meia-página.
Correspondência fotografia/Fato
noticioso
Há concordância da foto com o texto
por se ver o ambiente de uma igreja.
Fotogramas de um passeio eleitoral
A sintaxe é o código da fotografia que retrata o movimento da imagem,
mesmo que esta seja capturada e sinalizada apenas pelo enquadramento ou
pelo posicionamento do objeto – candidato e partido –, insinuando a ordem de
deslocamento, mobilidade e direção.
Trata-se de uma categoria propícia à desmitologização, por isso a
técnica do fotograma e o mito no passeio eleitoral. Na maioria das vezes, essa
ação sequencial está ligada à visitação política dos candidatos a lugares
estratégicos durante o tempo de campanha. Não é à toa que é a categoria
preferida dos leitores/eleitores do Estado e da Folha de SP. Algumas vezes,
para pedalar de capacete pelas ruas da urbe paulistana, outras, para a
peregrinação à missa e ganhar o voto de eleitores fieis e, claro, rumo à padaria
para tomar um cafezinho com seus fregueses.
Com isto, mostra-se serviço por parte do candidato que frequenta os
lugares onde o povo se sente à vontade, forçando uma situação de
proximidade com coisas corriqueiras como saúde, crenças e cultura local.
Vinda do pressuposto discursivo dos objetos-sígnicos, a sintaxe opera
no interior da mensagem fotográfica, produzindo um encadeamento dos
acontecimentos que se ordenam no tempo e no espaço para dar um sentido
mais dinâmico e eleitoreiro à realidade em ritmo de repetição.
Pensar na desmitificação das imagens imbricadas aos textos em ambos
os jornais, é como imaginar o antes e o depois do instante fotografado, porque,
como se sabe, o interesse é sempre «sair bem na foto». Algumas vezes, é a
imagem que movimenta o texto, em outras, o texto que movimenta a imagem.
125
Ambos os códigos, denotados e conotados, mobilizam o olhar do leitor,
conduzido pelo itinerário político do partido que, todas as vezes, é mobilizado
pela mídia.
Desses itinerários, o Estado de São Paulo mostra a «gastação de sola»
dos candidatos à Prefeitura que seguem o roteiro das ruas da zona Leste pela
qual pedalam, vão ao templo religioso e à padaria da esquina. A
intencionalidade desses passeios segue a programação de uma pauta
ideológica bem clara sobre os princípios do bem-estar do cidadão comum que
investe em qualidade de vida.
Nisso, o jornal apresenta pelo menos quatro dos candidatos realizando
esses itinerários que exaltam a seriedade de Serra, a familiaridade usual de
Haddad, o oportunismo de Russomanno e a vibração de Chalita. Embora, tais
candidatos fora do foco da mídia, não realizem este tipo de visitações no seu
dia a dia, mas, em se tratando da campanha eleitoral, vale o voto.
Em contrapartida, a Folha leva seus leitores a uma visita mais
espiritualizada, mostrando Haddad e Serra comungando nessa ocasião do
corpo de Cristo que é a Igreja, a católica, apostólica romana; antes desta visita
canônica havia sido a igreja protestante a anfitrioa de tão ilustres visitantes. O
primeiro dos candidatos escuta de modo casual a pregação do ministro durante
a liturgia da palavra, o segundo, mais formal e austero, participa do fim desse
momento litúrgico em que o padre beija as Sagradas Escrituras em sinal de
veneração.
Embora o espaço seja sagrado, os candidatos parecem não se
fraternizar no momento da paz promovido pelo ato. Estiveram no mesmo culto
como mostram as tomadas, em distintos horários e, ao final, proferiram
acusações via imprensa, em um gesto pagão de pura heresia. Neste sentido, o
ato de desmitologização funciona como uma espécie de exorcismo, que
expurga a imagem fantasiada do candidato possuído por um corpo que não lhe
pertence.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacou-se neste trabalho o valor teórico da «mensagem fotográfica»
que no contexto da referencialidade – informação de atualidades – do
jornalismo sucede a escolha da imagem com o intuito de reforçar o contexto
histórico, político e cultural da mensagem transmitida. Deste modo, a
conotação adquire um papel importante para informar e comunicar a
leitores/eleitores sobre o processo eleitoral em pauta. Este princípio no qual se
insere a «mensagem fotográfica» revela o caráter «desmitificador» proposto
por Roland Barthes na célebre obra Mitologias. Desmitificar, portanto, constitui-
se em um elemento essencial da crítica em que o mito é constitutivo do
imaginário social que se analisa.
A partir do princípio que na «mensagem fotográfica» coexistem duas
mensagens: a analógica, ligada diretamente à imagem, e a simbólica, à
realidade social, escolheu-se esta última para justificar a legitimidade da
imagem no uso que o jornalismo faz dela no contexto contemporâneo da
cultura midiática. Por isso, o uso das tecnologias, a escolha dos temas, a
inovação nos estilos, as práticas políticas de divulgação, recepção e interação
vêem à tona na interpretação do corpus desta dissertação.
Dos objetivos formulados, o geral realizou-se de forma completa, haja
vista o uso do corpus da Campanha Eleitoral para a Prefeitura de São Paulo
em 2012, seja para a ilustração das categorias da «mensagem fotográfica»,
seja para a análise da mesma no período contemplado do dia 1º de agosto ao
31º de outubro de 2012. No que se refere aos objetivos específicos, também
foram contemplados a fundamentação crítico-ideológica da proposta
barthesiana, extraída de Mitologias, relacionada com a desmontagem e
desmitificação, assim como a atualização do contexto social e cultural no qual
se deu a Campanha Política e a aplicação das categorias da «mensagem
fotográfica» expressas na Folha e em O Estado de São Paulo.
Pode-se constatar a influência da mídia sobre o público leitor/eleitor que
escolheu Fernando Haddad, como prefeito da cidade de São Paulo, a
exploração feita sobre a pose, a trucagem e a sintaxe na imagem do candidato
que recebeu o apoio irrestrito de figuras emblemáticas de seu partido,
127
permitindo inferir o peso da mídia que lhe deu apoio, do mesmo modo que a
assessoria de imprensa, o trabalho de propaganda e o uso das tecnologias
digitais a favor da imagem de um prefeito jovem e com projeto inovador.
A fundamentação teórica capitalizou-se na obra de Roland Barthes
Mitologias e em «A mensagem fotográfica», utilizando-se apenas alguns
reforços em obras consideradas menores para este propósito.
Sobre a metodologia foi feito um levantamento do corpus em anexo que
veio ao encontro da leitura de Mitologias e aos princípios da «mensagem
fotográfica», resultando em uma análise de sujeitos e conteúdos, isto é do
protagonismo, do desenho da campanha e seus procedimentos, como também
dos codificadores da campanha que foram tabelados.
Deste modo, a estrutura ficou constituída por um primeiro capítulo que
contém os alicerces teóricos e metodológicos da «mensagem fotográfica»,
suas categorias e o contexto sócio-cultural das mídias escolhidas para este
propósito. O segundo capítulo foi uma amostragem dessas categorias
anunciadas e acompanhadas da notícia jornalística junto às tabelas de
classificação. Já o terceiro capítulo interpretou a página completa do jornal na
qual as notícias eram colocadas conforme os critérios de comunicação da
mídia impressa, mais um ensaio para cada uma das três categorias de maior
destaque nos jornais (pose, trucagem e sintaxe) de acordo com a pesquisa.
Contudo, este estudo trouxe alguns conteúdos como resultados a
considerar:
Do estruturalismo dialético de Barthes considerou-se o aspecto mais
imediato da percepção na tríade: signo, contexto sócio-histórico e o
translinguístico, utilizado pela mídia impressa na imbricagem da imagem e do
texto na mensagem jornalística. Mitologias (1952) desbrava uma sociologia
espontânea na qual o mito converte-se em um sistema semiológico eficaz para
a crítica ideológica da cultura de massas.
A conotação das narrativas midiáticas é uma categoria formal dos meios
impressos que constituem a sua mensagem, e a própria imagem emite um
significado que secretamente supera o teor do imediato. Este conceito é um
elemento essencial do mito e o trabalho de análise consiste em nomear este
128
conceito. Nesta mesma linha, constatou-se que os processos de significação
trabalham a formação do sentido linguístico que vão além da significação
mítica motivada por um sentido ideológico da forma.
Para a análise desses mitos, que circulam no contexto social, levou-se
em consideração a proposta de leitura de Barthes que sugere: 1) a focalização
no significante vazio, conceito que preenche a forma do mito sem
ambiguidades, assim o significado é literal ou denotado; 2) a focalização do
significante pleno que discerne o sentido da forma que produz deformação; e 3)
a focalização do significante do mito, que transforma o sentido em forma. A
ideia principal destes procedimentos é que a cultura de massas é análoga às
mitologias. Uma ideologia política representada que se corresponde com a
cultura contemporânea. Tudo significa algo, sobretudo, as coisas que tentam
parecer além do seu significado. Neste ponto, infere-se um projeto semiológico
reinventado de Barthes em relação ao estruturalismo de seus antecesores,
prefigurando um futuro na dissecção de tudo aquilo que pode resultar trivial.
No meio de uma «sociedade de consumo» e do «espetáculo», o projeto
semiológico de Barthes atualiza-se no contexto histórico, político, econômico e
estético em que se codifica o papel do ser humano, segundo a própria
concepção ideológica e cultural.
Nessa linha, a introdução da dissertação assinalou o estudo da
mensagem fotográfica dentro do projeto semiológico de Barthes, adequando-o
ao modelo de comunicação no contexto da cultura de massa e ao papel da
mídia na contemporaneidade. Trata-se de uma campanha recente que trouxe
como novidade a escolha de um prefeito do partido de oposição ao governo de
São Paulo, estabelecendo, assim, um jogo político no qual a desmitologização
permitiu visualizar o papel dos meios de comunicação no resultado dessas
eleições.
A escolha da imagem fotográfica feita pela mídia impressa nos níveis de
produção, armazenagem e divulgação das notícias, antes de sua publicação,
corresponde a um trabalho de bastidores no qual prevalecem as negociações
entre os partidos, a mídia e os candidatos. E por se tratar de ideologias
dominantes, que mascaram e ocultam as contradições econômicas, políticas,
129
sociais e culturais de uma cidade que é centro neuronal do sistema, estas
deixam em evidência a necessidade de desmitologizá-las na base do próprio
corpus dos jornais trazidos à pauta neste trabalho.
Sobre o projeto de pesquisa que serviu de pretexto à dissertação, ele foi
necessário porque teve a função de ser um arcabouço preenchido com o objeto
– a mensagem fotográfica, extraída de uma das obras posteriores à Mitologias,
mas que a resgata no afã de situar a desmitologização como uma metodologia
ad-hoc ao momento da campanha. Só se pode ser crítico perante essas e
outras situações do cotidiano político no Brasil uma vez que o distanciamento
se faz mais que necessário para dissertar a respeito. Justificou-se a imbricação
da mensagem denotada e conotada como resposta à miragem do paradoxo e
perante o realismo barthesiano, e, assim, concentraram-se os esforços em
analisar a campanha eleitoral no corpus de ambos os jornais. Nesse instante,
constatou-se que as amostras serviriam de suporte à critica ideológica dos
mitos ali presentes, suscetíveis de serem interpretados conforme o princípio
semiológico do apelo.
A hipótese no começo parecia um clichê, a influência das mídias na
captura de imagens. Mas com o passar do tempo, foi se transformando em um
processo bem claro de escolha, tratamento e consolidação na eleição do
candidato mais popular, resultado da mídia de maior tiragem e penetração nas
classes sociais emergentes de São Paulo. Fruto disto e de outros fatores
determinantes, como as negociações, anteriormente citadas, demonstrou-se
que o papel da mídia nesses processos é categórico.
Ao encontro disto, a fundamentação teórica se calcou na obra
Mitologias, de Roland Barthes, que é o embrião dos mitos contemporâneos que
perpassam a realidade social, e “A Mensagem Fotográfica”, que define uma
das práticas fundamentais do jornalismo, entre a obviedade dessa realidade e
o obtuso da intencionalidade comunicativa das mídias.
Por esta razão, os procedimentos metodológicos escamotearam os
princípios ideológicos para estabelecer uma direção em prol da perspectiva
crítica, cuja antessala foram as tabelas sugeridas, na qualificação, e que
assinalaram questões relativas aos atributos documentais na linha da
130
denotação e da conotação dos traços, também documentais da composição e
diagramação da mensagem fotográfica presentes no corpus.
A atualidade do mito é a principal lição de Mitologias – obra prima que
aborda a realidade social da França na década de 1954. Ela serviu de modelo
para transferência operada ao entorno social da cidade de São Paulo na sua
convergência com as mídias impressas de caráter informativo e
comunicacional: O Estado de São Paulo, e a Folha de São Paulo. Dentro da
prática profissional da fotografia jornalística foram desmontadas nas suas
linguagens através das categorias da trucagem, pose, objetos, fotogenia,
esteticismo e sintaxe. Por sua vez, foram aplicadas na forma como estes
jornais abordaram a campanha política à prefeitura da cidade.
Assim, veio à tona que a leitura da imagem impressa é usada como
força expressiva do texto que outrora era o baluarte dessas mídias. Neste
sentido, constatou-se que o mito não se define apenas objeto de sua
mensagem, mas pela forma em que este se apresenta. Deste modo, os clichês,
estereótipos e modelos culturais verbais deram lugar às formas visuais dos
mesmos .
Do sistema semiológico do significante, significado e signo propostos por
Barthes, inferiu-se a noção de signo como um conceito pleno e cheio de
sentido, graças à imbricagem dos primeiros na sua relação com a mensagem
fotográfica que interessava decupar.
A fotografia impressa demandou uma análise direta na base das
categorias da trucagem, da fotogenia – a qual já existia um modelo utilizado
pelo próprio Barthes – e dos objetos, sendo a pose, o esteticismo e a sintaxe
categorias mais indiretas da latência do mito.
Nessa aproximação ao método de desmitologização, configurou-se um
modelo de comunicação no qual o emissor, a redação dos jornais O Estado de
São Paulo e Folha de São Paulo, sendo eles mesmos o canal ou veículo
através do qual se transmite a mensagem fotográfica nos dois planos,
denotativo e conotativo, indo ao encontro do contexto da situação social que a
cidade de São Paulo vivenciou na campanha eleitoral de 2012.
131
Entre a objetividade da fotografia e o contraponto de sua mensagem
fotográfica, ancorou-se o mito da objetividade, fazendo com que o texto
complete a imagem, preenchendo-a de sentido e fazendo da conotação um
surtidor de novos significados. O contexto histórico, econômico, social e político
de São Paulo converteu-se, assim, no pivô de uma contemporaneidade na qual
esses jornais foram decisivos para definir a vaga para prefeitura da cidade de
São Paulo em 2012.
Sendo as categorias da pose, sintaxe e trucagem as mais utilizadas
pelas mídias impressas do Estado e a Folha de São Paulo, a desmitologização
formulou-se como o processo mais do que necessário para desvelar suas
verdadeiras intenções destas. Para isto, o ensaio resultou o gênero mais
apropriado para explorar os aspectos qualitativos da pesquisa.
Em relação à trucagem, o Estado que postou 25 imagens,
correspondendo a 6,26% do total dos dados coletados e, a Folha, com 69
imagens que correspondem a 14,87% do total, concluiu-se que o uso
emblemático dos programas de governo propostos pelos candidatos, cujas
denotações caricatas ironizadas por meio do exagero resultaram eficazes como
proposta. Atribuiu-se a esses a função midiática esperada pelo partido e pelos
leitores/eleitores de ambas as mídias, sendo a Folha a que utilizou a categoria
como uma estratégia comunicativa mais popular em detrimento da fotogenia
usada pelo Estado.
Já a pose se conjugou em torno do posicionamento do partido que
determinou a pose do candidato propriamente dita, nela o Estado escoou 173
imagens que equivalem a 43,36% e a Folha 186 imagens, 40,09%. Entendeu-
se a pose, em primeiro lugar como posicionamento do partido e, em segundo
lugar, como a pose decorrente do candidato. Ambas as ações demonstram o
potencial da categoria nesse processo da corrida eleitoral que, por um lado, no
caso do Estado, mitologiza a ordem no país e, por outro, a Folha terminou
despolitizando o mito econômico na sua formulação neoliberal como pode se
observar no gráfico a seguir:
132
CATEGORIAS
Por fim, a sintaxe que traçou os itinerários de viagens dos candidatos e
seus partidos, O Estado colocou 136 imagens, 34,9% das mesmas, e a Folha
com 149 imagens, ou seja, 31,11% demonstraram, assim, como o leitor/eleitor
monitora os movimentos do candidato convertidos em um signo do partido,
simbolizado pela mitologização dos veículos na tentativa de consagrar suas
alianças partidárias. Não sendo a diferença porcentual muito expressiva,
ambas as mídias utilizaram a pose na sua dupla acepção como um recurso
eficaz de campanha, valorizando o uso da própria imagem como pode se
constatar no gráfico abaixo:
IMAGENS PUBLICADAS
4225
13
173
136
10
38
69
8
186
149
14
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
OESP
FOLHA SP
388
11
407
57
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Fotografias Charges/Caricaturas
OESP FOLHA SP
133
Estas últimas constatações deram-se em relação principalmente ao
segundo turno da campanha eleitoral à Prefeitura de São Paulo, no qual os
candidatos José Serra e Fernando Haddad, representando o PSDB e o PT
respectivamente, foram noticiados tanto por O Estado de São Paulo quanto
pela Folha de São Paulo que alavancaram através da pose e da sintaxe os
partidos mais representativos do país. Coube estabelecer a diferença às
categorias da fotogenia e da trucagem, decisivas no escrutínio final.
O resultado concluído demonstrou que o candidato vencedor era
possuidor de competências relacionadas com a imagem do usuário do
transporte coletivo, posando o tempo todo ao lado dos «padrinhos no poder» e
marcando nas suas ações um plano do governo sintonizado com as tendências
de gestão, renovadas nas suas bases partidárias, pelo menos isso foi o que a
mídia mostrou antes da consagração do candidato escolhido.
Conclui-se que esta dissertação abre uma série de possibilidades
importantes à leitura da mensagem fotográfica conotada pelas mídias
impressas, na sua tentativa de informar e comunicar, utilizando a mitologização
como uma linguagem direcionada às massas. No entanto, os especialistas do
campo da comunicação têm a obrigação de saber desmitologizar estes
procedimentos a favor da crítica com o devido distanciamento. Cada vez mais
a crítica é mais do que necessária em uma sociedade «deslumbrada» com os
desdobramentos do imaginário coletivo e «indiferente» com os compromissos
simbólicos do poder perante os desafios econômicos que demanda a cultura
contemporânea.
134
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