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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração O ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO: um estudo de caso em empresa de biotecnologia Marina Oliveira Venuto Belo Horizonte 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

O ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA E ESTRAT ÉGIA DE

NEGÓCIO: um estudo de caso em empresa de biotecnolo gia

Marina Oliveira Venuto

Belo Horizonte

2010

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Marina Oliveira Venuto

O ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA E ESTRAT ÉGIA DE

NEGÓCIO: um estudo de caso em empresa de biotecnolo gia

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Dr. José Márcio de Castro

Belo Horizonte

2010

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Venuto, Marina Oliveira V471a O alinhamento entre estratégia tecnológica e estratégia de negócio: um estudo

de caso em empresa de biotecnologia / Marina Oliveira Venuto. Belo Horizonte, 2010.

140f. : il. Orientador: José Márcio de Castro Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. 1. Administração Estratégica. 2. Tecnologia biomédica. 3. Previsão

Tecnológica. I. Castro, José Márcio de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.012

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Marina Oliveira Venuto

O Alinhamento entre estratégia tecnológica e estrat égia de negócio:

um estudo de caso em empresa de biotecnologia

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Dr. José Márcio de Castro (Orientador) – PUC/Minas

Dr. Humberto Elias Garcia Lopes – PUC/Minas

Dra. Maria Terezinha Angeloni – UNISUL/Santa Catarina

Belo Horizonte, 21 de maio de 2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Bernardo, pelo apoio, compreensão e ajuda em todos os momentos, e

por sempre acreditar nos meus esforços.

Agradeço aos meus pais pelo suporte e incentivo.

Agradeço à empresa, por ter autorizado a realização do estudo, e a todos aqueles

que participaram da coleta de dados e contribuíram para o desenvolvimento da

pesquisa. Agradeço em especial, à Neucilene, pela atenção e incentivo durante todo

o Mestrado.

Agradeço ao meu professor orientador pela orientação, dedicação e ensinamentos.

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RESUMO

A tecnologia e a capacidade de inovação tecnológica estão estreitamente

ligadas à construção da vantagem competitiva sustentável. Para garantir maior

eficácia na exploração da tecnologia é fundamental que a estratégia tecnológica

esteja alinhada à estratégia de negócio de uma empresa. A partir de uma pesquisa

empírica, Chen, He e Jin (2008) desenvolveram um modelo explicativo dos fatores

que influenciam o alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de

negócio. Os autores identificaram quatro fatores capazes de influenciar esse

alinhamento – ambiente externo, administração superior, aquisição de recursos

tecnológicos e habilidade de convergência organizacional – os quais são

caracterizados por indicadores. Com o objetivo de avaliar o potencial explicativo do

modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do

fenômeno de alinhamento entre estratégia tecnológica e de negócios, foi

desenvolvido um estudo de caso em uma empresa nacional de biotecnologia. Os

resultados desta pesquisa demonstraram a adequação do modelo, assim como

permitiram a confirmação das conclusões propostas pelos autores. Além disso, este

estudo também permitiu identificar aspectos não contemplados pelo modelo, mas

que se mostraram importantes para o alinhamento das estratégias. Os achados da

pesquisa contribuem de dois modos para o desenvolvimento da área: contribuem

teoricamente, permitindo aprofundar a compreensão do alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a de negócio, e contribuem também de maneira empírica,

apresentando os indicadores do modelo, que são ferramentas proveitosas para

utilização nas empresas.

Palavras chave: estratégia tecnológica, estratégia de negócios, capacidade de

inovação tecnológica.

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ABSTRACT

Technology and technological innovation capacity are closely linked to the

construction of a sustainable competitive advantage. In order to guarantee effective

exploration of technology, it is crucial to have technological strategy aligned to the

organization’s business strategy. Based on empirical research, Chen, He and Jin

(2008) developed an explanatory model of the various factors that influence this

alignment. The authors identified four factors – external environment, high

administration, technological resources acquisition, and organizational convergence

ability – and they also proposed indicators to characterize these factors. Aiming at

evaluating Chen, He and Jin’s model (2008), and willing to contribute for the

understanding of the alignment between technological and business strategy, a case

study in a national company of biotechnology was developed. The results of the

current research demonstrated the adequacy of the model, as well as confirmed the

model’s conclusions. Moreover, important aspects related to the alignment of these

strategies, not predicted in the original model, were identified. These findings

contribute to the development of the area in two different ways: it offers a theoretical

contribution, deepening the understanding of the alignment between technological

and business strategies; moreover, it adds an empirical contribution, as the model’s

indicators can be seen as useful tools to be adopted by the companies.

Key words: technology strategy, business strategy, technological capability.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Fatores que influenciam no alinhamento entre estratégia

tecnológica e estratégia de negócio................................................. 56

FIGURA 2 A influência do ambiente externo no alinhamento entre estratégia

tecnológica e estratégia de negócio................................................. 90

FIGURA 3 A influência da administração superior no alinhamento entre

estratégia tecnológica e estratégia de negócio................................. 97

FIGURA 4 A influência da aquisição de recursos tecnológicos no grau de

alinhamento....................................................................................... 103

FIGURA 5 A influência do ambiente externo na aquisição de recursos

tecnológicos...................................................................................... 104

FIGURA 6 A influência da administração superior na aquisição de recursos

tecnológicos...................................................................................... 105

FIGURA 7 A influência da habilidade de convergência organizacional no

alinhamento entre a estratégia tecnológica e estratégia de

negócio.............................................................................................. 110

FIGURA 8 A influência da administração superior na habilidade de

convergência organizacional............................................................ 111

FIGURA 9 O alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio na

empresa estudada............................................................................ 118

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Tecnologia de produto e processo e estratégias genéricas....... 41

QUADRO 2 Requisitos funcionais e as estratégias tecnológicas.................. 42

QUADRO 3 Indicadores dos fatores de influência do ambiente externo....... 46

QUADRO 4 Indicadores dos fatores de influência da administração

superior....................................................................................... 48

QUADRO 5 Indicadores dos fatores de influência dos recursos

tecnológicos.............................................................................. 51

QUADRO 6 Indicadores dos fatores de influência da convergência

organizacional.............................................................................. 53

QUADRO 7 Indicadores do grau de alinhamento entre estratégia

tecnológica e de negócio............................................................. 55

QUADRO 8 Relação de entrevistas realizadas............................................... 64

QUADRO 9 Relação de documentos internos analisados.............................. 66

QUADRO 10 Relação de documentos externos analisados............................. 66

QUADRO 11 Dimensões e indicadores do modelo para análise dos dados 68

QUADRO 12 Exemplos de políticas de incentivo à inovação tecnológica........ 71

QUADRO 13 Exemplos de órgãos e instituições federais ligados ao incentivo

à inovação tecnológica................................................................ 72

QUADRO 14 Exemplos de órgãos e instituições do governo local ligados ao

incentivo à inovação tecnológica................................................ 74

QUADRO 15 Indicadores de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de

negócio: presença e influência na empresa estudada 117

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Distribuição de empresas de biotecnologia por setor de atividade 62

GRÁFICO 2 Distribuição das empresas de biotecnologia por idade................. 87

GRÁFICO 3 Evolução do faturamento do mercado de diagnóstico in vitro........ 87

GRÁFICO 4 Participação percentual do número de empresas que

implementaram inovações, segundo atividades selecionadas da

indústria e dos serviços – Brasil – período 2003-2005.................. 120

GRÁFICO 5 Importância das atividades inovadoras realizadas, segundo

atividades selecionadas da indústria e dos serviços – Brasil –

período 2003-2005......................................................................... 122

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Perfil setorial das empresas beneficiadas pelos incentivos fiscais

da Lei do Bem, 2006 e 2007.......................................................... 76

TABELA 2 Programa Pró-Inovação da FINEP – 2005 a 2008........................ 77

TABELA 3 Linhas de Financiamento à Inovação do BNDES – 2007 e 2008.. 78

TABELA 4 Projetos aprovados no edital de 2007 da Subvenção Econômica

da FINEP........................................................................................ 79

TABELA 5 Projetos aprovados no edital de 2008 da Subvenção Econômica

da FINEP........................................................................................ 80

TABELA 6 Percentual de empresas que utilizaram os novos instrumentos

de política tecnológica nos últimos três anos................................. 83

TABELA 7 Percentual de empresas que responderam não saber da

existência ou ter poucas informações dos instrumentos................ 83

TABELA 8 Desempenho inovador por porte das empresas das empresas,

período 2003-2005......................................................................... 121

TABELA 9 Importância das atividades inovadoras realizadas para a

indústria no período de 2003-2005................................................ 122

TABELA 10 Dispêndios nas atividades inovadoras como percentual da

receita líquida de vendas, segundo atividades selecionadas da

indústria e dos serviços – Brasil – 2005......................................... 123

TABELA 11 Razões apontadas para não inovar, segundo atividades

selecionadas de indústria – Brasil – período 2003-2005

(PINTEC)........................................................................................ 124

TABELA 12 Problemas e obstáculos apontados pelas empresas que

implementaram inovações, segundo atividades selecionadas de

indústria – Brasil – período 2003-2005 (PINTEC).......................... 125

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LISTA DE ABREVIATURAS

RH Recursos Humanos

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

LISTA DE SIGLAS

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ABRABI Associação Brasileira de Biotecnologia

ANPEI Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de

Empresas Inovadoras

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CBDL Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial

EUROSTAT Gabinete de Estatísticas da União Europeia

FAPEMIG Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

IBGE Instituto Brasileiro de Estatística

IEL Instituto Euvaldo Lodi

OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OEM Original Equipment Manufacturer

PIB Produto Interno Bruto

PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................15

1.1 Problema de Pesquisa ........................... ...........................................................15

1.2 Justificativa.................................. ......................................................................19

1.3 Objetivos ...................................... ......................................................................22

1.3.1 Objetivo geral ............................... ..................................................................22

1.3.2 Objetivos específicos........................ .............................................................22

2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................. .......................................................23

2.1 Inovação tecnológica e vantagem competitiva .... ..........................................23

2.1.1 Estratégia tecnológica ....................... ............................................................28

2.2 Alinhamento entre estratégia tecnológica e estr atégia de negócios............37

2.2.1 O modelo de Chen, He e Jin de alinhamento ent re a estratégia tecnológica

e a estratégia de negócio.......................... ..............................................................43

3 METODOLOGIA DE PESQUISA.......................... .................................................59

3.1 Estratégia e método de pesquisa ................ ....................................................59

3.2 Unidade empírica de análise .................... ........................................................61

3.3 Estratégia de coleta de dados.................. ........................................................63

3.4 Estratégia de análise de dados ................. .......................................................67

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............... ....................................71

4.1 Fatores que influenciam o alinhamento entre a e stratégia tecnológica e a

estratégia de negócios ............................. ..............................................................71

4.1.1 Ambiente externo ............................. ..............................................................71

4.1.1.1 Macroambiente ............................................................................................72

4.1.1.2 Ambiente tarefa ...........................................................................................86

4.1.1.3 Ambiente do setor .......................................................................................90

4.1.1.4 A influência do ambiente externo ..............................................................92

4.1.2 Administração superior ....................... ..........................................................93

4.1.2.1 Background tecnológico da administração sup erior ...............................93

4.1.2.2 Preferência tecnológica da administração su perior ................................95

4.1.2.3 Grau de participação da administração super ior e influência nas

atividades tecnológicas ..........................................................................................96

4.1.2.4 Diversificação na equipe da administração s uperior ...............................97

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4.1.2.5 A influência da administração superior ....................................................99

4.1.3 Aquisição de recursos tecnológicos........... ...............................................100

4.1.3.1 Recursos internos .....................................................................................100

4.1.3.2 Recursos externos ....................................................................................103

4.1.3.3 A influência da aquisição de recursos tecno lógicos .............................105

4.1.3.4 Aquisição de recursos tecnológicos: influên cia do ambiente externo e

da administração superior ....................................................................................106

4.1.4 Habilidade de convergência organizacional .... ..........................................108

4.1.4.1 Status do pessoal de P&D ........................................................................108

4.1.4.2 Grau de participação do pessoal de P&D no e stabelecimento da

estratégia ...............................................................................................................110

4.1.4.3 Comunicação e cooperação entre os departame ntos ...........................111

4.1.4.4 A influência da habilidade de convergência organizacional .................111

4.1.4.5 Habilidade de convergência organizacional: influência da administração

superior ..................................................................................................................112

4.2 Grau de alinhamento entre estratégia tecnológic a e de negócios .............115

4.2.1 Atitude tecnológica .......................... ............................................................115

4.2.1 Desenvolvimento de novos produtos............ .............................................116

4.2.3 Inovação em processos........................ .......................................................118

4.2.4 Grau de alinhamento entre estratégia tecnológ ica e estratégia de negócio:

análise global..................................... ....................................................................119

4.3 O alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócios e a

capacidade de inovação tecnológica ................. .................................................119

5 CONCLUSÃO ........................................ ..............................................................126

5.1 Principais resultados .......................... ............................................................126

5.2 Contribuições da pesquisa, limitações e sugestõ es futuras ......................131

REFERÊNCIAS.......................................................................................................133

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ................. .......................................139

APÊNDICE B – GLOSSÁRIO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA.... ........................143

APÊNDICE C – PROTOCOLO DE PESQUISA................. .....................................119

APÊNDICE D – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTAS ....................125

APÊNDICE E – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – DOCUMENTOS INTERNOS 129

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APÊNDICE F – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – DOCUMENTOS EXTERNOS133

APÊNDICE G – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – TRIANGULAÇÃ O ................137

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Problema de Pesquisa

A tecnologia foi a força direcionadora do século XX e promete continuar

sendo no século XXI, provavelmente de forma até mais importante. Com o aumento

da competição global, empresas começaram a reconhecer o papel essencial da

tecnologia e das inovações tecnológicas como fator determinante de sucesso no

mercado. A criação, o desenvolvimento, e a aplicação da tecnologia tornaram-se

então elementos essenciais para que as organizações fossem bem sucedidas.

Como observam Antoniou e Ansoff (2004), as empresas de maior êxito e as mais

admiradas são as que se encontram à frente, em termos de inovação tecnológica.

Em uma pesquisa realizada com executivos seniores globais (RIGBY; ZOOK,

2002), 80% dos entrevistados escolheram como prioridade da empresa visando ao

sucesso no mercado “tornar-se mais inovador”, e 91% disseram acreditar no

aumento da capacidade de inovação tecnológica como um fator crítico para o

estabelecimento de vantagem competitiva e crescimento dos lucros da empresa.

Dois terços dos executivos admitiram que seu negócio ainda não se encontrava

próximo de atingir seu pleno potencial de explorar novas ideias, e apenas um terço

disseram estar satisfeitos com a qualidade e frequência das inovações tecnológicas

apresentadas em produtos e serviços oferecidos aos clientes (RIGBY; ZOOK, 2002).

Assim, a importância estratégica da tecnologia na criação de valor e

vantagem competitiva para as organizações vem sendo sistematicamente apontada

(PAPPAS, 1984; RIGBY; ZOOK, 2002). Essas questões tornam-se ainda mais

críticas na medida em que o custo, a complexidade e a taxa de mudança tecnológica

têm aumentado rapidamente e as fontes de tecnologia têm se globalizado (PHAAL;

FARRUKH; PROBERT, 2001; ANTONIOU; ANSOFF, 2004).

A tendência é que a introdução de inovações tecnológicas no mercado se

intensifique, impactando diretamente o sucesso das organizações (ANTONIOU;

ANSOFF, 2004). Uma vez que o desenvolvimento econômico do mundo moderno é

fortemente estimulado pelas inovações tecnológicas (BETZ, 2004), e que as

mudanças tecnológicas constituem um dos principais direcionadores da competição,

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com importante papel nas alterações estruturais dos setores assim como na criação

de novos, elas se tornam capazes de mudar as regras da competição (PORTER,

1985). Quando novas tecnologias criam novas funcionalidades – por meio de novos

setores ou de setores já existentes –, seu impacto no sistema econômico é

significativo (BETZ, 2004).

Sob tal perspectiva, torna-se então essencial o gerenciamento eficaz das

inovações tecnológicas nas organizações, para que possam garantir de fato uma

posição competitiva sustentável no mercado (ANTONIOU; ANSOFF, 2004;

PORTER, 1985; ZAHRA; COVIN, 1993; CHEN; HE; JIN, 2008; PAPPAS, 1984).

Além disso, é também essencial que a gestão tecnológica seja tratada como parte

do desenvolvimento estratégico organizacional, já que novas tecnologias, protótipos

e o lançamento de novos produtos devem ser desenvolvidos e explorados conforme

a estratégia da empresa. Nesses termos, a seleção de tecnologias e produtos

inadequados pode levar ao declínio da lucratividade da empresa (ANTONIOU;

ANSOFF, 2004). Dentre os principais fatores considerados decisivos para o sucesso

das inovações tecnológicas, ressalta Abetti (2000), destaca-se o alinhamento entre

os objetivos tecnológicos e os objetivos do negócio.

Assim, para que a tecnologia se constitua como fonte de vantagem

competitiva e o portfólio de tecnologias seja efetivo é necessário que esse seja

consistente com a estratégia de negócio definida pela organização (PORTER, 1985;

PAPPAS, 1984). Da mesma forma, se a tecnologia e os objetivos empresariais não

forem definidos conjuntamente, a empresa corre o risco de desenvolver uma

estratégia potencialmente atraente baseada em informações financeiras, e

posteriormente descobrir que ela não contempla as tecnologias necessárias para

alcançar seus objetivos (PAPPAS, 1984).

Dessa forma, o que se argumenta na literatura da área é que o alinhamento

entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio tem impacto significativo no

desempenho da empresa, ressaltando-se a importância desse alinhamento para se

alcançar um desempenho superior (ZAHRA; COVIN, 1993). Esse alinhamento pode

garantir maior eficiência na capacidade tecnológica e na alocação de recursos

tecnológicos, na implantação dos objetivos de longo prazo, além de contribuir para a

construção de uma vantagem competitiva sustentável e melhorar o desempenho

financeiro da empresa (PORTER, 1985).

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Some-se a isso o fato de que o alinhamento é também necessário para

manter a consistência das diretrizes da corporação para o desenvolvimento de

novos produtos, e das atividades de planejamento de pesquisa entre a política de

pesquisa tecnológica e a sua aplicação prática. Ainda, a necessidade de

alinhamento está relacionada com a facilitação do desenvolvimento de metas

realistas e com o estabelecimento de um entendimento mútuo sobre o planejamento

estratégico entre gestores seniores e planejadores tecnológicos (SCOTT, 2001).

Assim, os benefícios que uma empresa pode obter ao integrar a estratégia

tecnológica à estratégia global são inúmeros e têm sido extensivamente

reconhecidos. Autores diversos sustentam a ideia de que fortes alinhamentos devem

ser estabelecidos entre atividades tecnológicas no processo de formulação da

estratégia, empregando-se uma perspectiva global da organização e não apenas

uma perspectiva funcional, e adotando uma abordagem multidisciplinar com

esforços convergentes (ANTONIOU; ANSOFF, 2004; PORTER, 1985; PAPPAS,

1984; ZAHRA; COVIN, 1993; SCOTT, 2001; CHEN; HE; JIN, 2008).

O que se observa comumente, no entanto, é a ausência dessa integração

entre a gestão da tecnologia e o planejamento empresarial, o que tem sido descrito

extensivamente como uma deficiência estratégica e uma das raízes da desvantagem

competitiva (BERRY; TAGGART, 1998). Scott (2001) identificou que o principal

problema relacionado à gestão tecnológica nas empresas é o desalinhamento entre

o planejamento das tecnologias de produtos e o planejamento estratégico. Segundo

o autor, esse problema de integração pode ser definido como:

(...) a ausência de procedimentos adequados para alinhar o planejamento estratégico tecnológico com as outras atividades de planejamento da empresa, onde uma dimensão importante envolve o alinhamento entre o planejamento estratégico corporativo e o tecnológico. (SCOTT, 2001, p.17)

Apesar do reconhecimento da importância desse alinhamento, a relação entre

a estratégia de negócio e a estratégia tecnológica não tem sido, em geral,

pesquisada empiricamente, de maneira extensiva e sistemática (ZAHRA; COVIN,

1993; CHEN; HE; JIN, 2008). Boa parte da literatura da área é de natureza teórica.

Poucas pesquisas têm se dedicado a estudos empíricos sobre a relação entre

tecnologia e estratégia de negócios (CHEN; HE; JIN, 2008). Com isto, há poucas

evidências de como a estratégia tecnológica se relaciona com a estratégia de

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negócio e, consequentemente, poucas informações sobre como isso afeta o

desempenho da empresa (ZAHRA; COVIN, 1993). A carência de estudos empíricos

sobre a natureza da estratégia tecnológica e a forma de integrá-la na estratégia de

negócio tem sido obscurecida pela abundância de modelos conceituais que propõem

o alinhamento desses constructos. Esses modelos continuam a proliferar sem a

devida atenção à validação empírica de suas proposições (ZAHRA; COVIN, 1993).

Examinando-se o histórico das pesquisas sobre o alinhamento entre

estratégia tecnológica e estratégia de negócio percebe-se: i) a orientação conceitual

de grande parte da literatura nesse campo; ii) a necessidade de mais estudos

empíricos que documentem as associações entre tecnologia e estratégia de

negócio; e iii) a necessidade de se avaliar os conceitos sob uma perspectiva

multidimensional (ZAHRA; COVIN, 1993).

Diante da importância do alinhamento entre a estratégia tecnológica e a

estratégia de negócio para assegurar o desenvolvimento de uma vantagem

competitiva sustentável para a organização, e da necessidade de se estudar esse

fenômeno empiricamente, Chen, He e Jin (2008) desenvolveram um modelo com

base em uma pesquisa empírica, procurando identificar os fatores que influenciam

esse alinhamento, explicar os mecanismos envolvidos na relação entre esses

fatores e propor mecanismos para se avaliar o grau de alinhamento entre as

estratégias tecnológicas e de negócio. O modelo é uma contribuição importante,

tanto em termos teóricos quanto empíricos, visto que ele pode orientar, na prática, o

alinhamento entre essas estratégias de uma empresa (CHEN; HE; JIN, 2008).

O modelo de Chen, He e Jin (2008), sinteticamente, propõe que o

alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio é influenciado

por quatro fatores: ambiente externo, administração superior, recursos tecnológicos

e habilidade de convergência organizacional. Todos esses fatores têm correlação

positiva com o grau de alinhamento, ou seja, afetam a aderência entre as

estratégias. Ainda, segundo o modelo, o fator ambiental tem correlação positiva com

a aquisição de recursos tecnológicos, e o fator da administração superior tem

correlação positiva com a habilidade de convergência organizacional e com a

aquisição de recursos tecnológicos. Os autores propõem também indicadores para a

análise de cada um desses fatores e do grau de alinhamento entre a estratégia

tecnológica e a estratégia de negócio (CHEN; HE; JIN, 2008).

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A fim de contribuir para a compreensão do alinhamento entre a estratégia

tecnológica e a de negócio, e permitir o avanço teórico e prático dessa questão, o

presente estudo examinou empiricamente as proposições do modelo desenvolvido

por Chen, He e Jin (2008) em uma empresa do setor de biotecnologia em Minas

Gerais. Esse setor caracteriza-se pelo uso intensivo da tecnologia e por passar por

inúmeras mudanças e evoluções tecnológicas, em especial no atual contexto

brasileiro. Desse modo, o modelo de Chen, He e Jin (2008) foi avaliado em uma

empresa na qual a gestão estratégica da tecnologia é essencial (RESENDE, 2005;

FERRER et al. 2004; FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007).

Dado esse contexto, a seguinte questão de pesquisa passa a nortear o

presente estudo:

Qual é o potencial explicativo do modelo de Chen, He e Jin (2008) para a

compreensão dos fatores que influenciam o alinhamento entre a estratégia

tecnológica e estratégia de negócio de uma empresa do setor de biotecnologia?

1.2 Justificativa

Uma vez que as empresas vêm respondendo à competição global, o

reconhecimento do papel central da tecnologia e das inovações tecnológicas surge

como determinante do sucesso no mercado (CHEN; HE; JIN, 2008). Em decorrência

disso, as empresas têm ampliado a utilização de tecnologias avançadas e a

introdução de produtos tecnologicamente sofisticados no mercado (ZAHRA; COVIN,

1993). Com isso, a necessidade da gestão estratégica da tecnologia torna-se cada

vez mais imperativa.

Evidências significativas sugerem que a tecnologia será a principal fonte de

crescimento econômico mundial. Como consequência, considerações a respeito da

tecnologia deverão fazer parte de praticamente todas as decisões dos gestores de

negócio, principalmente em razão dos grandes avanços tecnológicos e das rápidas

mudanças do setor, que induzem as empresas a definirem uma gestão tecnológica

eficaz (PAPPAS, 1984; ANTONIOU; ANSOFF, 2004). Isto significa que a estratégia

tecnológica deve estar alinhada e ser consistente com estratégia do negócio

(PORTER, 1985), uma vez que o alinhamento alicerça a promoção do

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desenvolvimento bem sucedido das capacidades e recursos tecnológicos

necessários para alcançar os objetivos da estratégia de negócio. Esse

desenvolvimento é o que ajuda a construir a vantagem competitiva sustentável que

impulsiona o desempenho empresarial (ZAHRA; COVIN, 1993).

Porém, com raras exceções, os executivos não estão preparados para lidar

com a implantação estratégica da tecnologia em suas empresas. Embora

reconheçam a importância da tecnologia, a maioria deles não se sente confortável

para tratar dessas questões. Na maioria das empresas, a tecnologia é colocada em

segundo, terceiro ou até mesmo em quarto plano, quando comparada com os

setores habituais de atividade como vendas, marketing, finanças e operações

(PAPPAS, 1984; RIGBY, ZOOK, 2002).

A chave para superar essas dificuldades é posicionar a tecnologia como um

recurso estratégico, elevando sua importância no processo de planejamento

empresarial e assegurando a congruência entre os investimentos tecnológicos e a

estratégia de negócio. Prioridades tecnológicas devem ditar os esforços de

investimentos, e o efetivo uso da tecnologia deve evitar desalinhamentos entre os

objetivos estratégicos e os investimentos tecnológicos (ANTONIOU; ANSOFF, 2004;

PORTER, 1985; PAPPAS, 1984; BERRY, TAGGART, 1998).

Percebe-se também, além das dificuldades práticas de se alcançar o

alinhamento entre tecnologia e estratégia de negócio, a existência de lacunas na

literatura sobre o assunto. Apesar de a literatura apontar o problema do alinhamento

entre estratégia tecnológica e estratégia de negócio, poucos estudos se preocupam

em examinar como se estabelece uma estratégia tecnológica integrada aos objetivos

do negócio. Boa parte da literatura trata separadamente a estratégia tecnológica da

estratégia de negócio. Quando muito, limita-se a indicar a necessidade de

integração, sem aprofundar no entendimento e explicação das variáveis envolvidas e

dos fatores que influenciam o alinhamento entre as estratégias (ANTONIOU,

ANSOFF, 2004; PORTER, 1985; PAPPAS, 1984; BERRY, TAGGART, 1998;

ZAHRA; COVIN, 1993; CHEN; HE; JIN, 2008).

Os estudos sobre o assunto podem ser divididos em unidimensionais e

multidimensionais (ZAHRA; COVIN, 1993). Os unidimensionais descrevem

dimensões particulares da estratégia tecnológica, que normalmente se relacionam

com uma determinada dimensão da estratégia de negócio. Eles não consideram a

estratégia tecnológica em sua totalidade nem como as variáveis se inter-relacionam

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para influenciar determinadas estratégias de negócio (CHEN; HE; JIN, 2008),

negligenciando possíveis sinergias entre diferentes dimensões (ZAHRA; COVIN,

1993). Já os estudos multidimensionais investigam mais de uma dimensão da

estratégia tecnológica e examinam suas relações com a estratégia de negócios

(ZAHRA; COVIN, 1993; CHEN; HE; JIN, 2008).

Zahra e Covin (1993) apontam a necessidade de estudos multidimensionais

mais profundos, que associem diferentes perspectivas teóricas, desenvolvendo uma

compreensão integrada e dinâmica do fenômeno. Uma visão holística dos fatores

que influenciam esse alinhamento, na qual eles não sejam tratados isoladamente,

pode contribuir para o entendimento de como se relacionam para produzir diferentes

efeitos.

Um potencial foco para pesquisas sobre o processo de alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócio, acrescentam Zahra e Covin (1993),

pode ser dado com estudos de caso e pesquisas de campo que ajudem a completar

a lacuna existente na literatura. Ressaltam que há muito a aprender sobre como

estratégias tecnológicas são formuladas, como seu alinhamento com a estratégia de

negócio é estabelecido e mantido, e como as empresas podem efetivamente

desenvolver seus ativos para alcançar os objetivos competitivos.

O presente estudo incide exatamente sobre a problemática acima delineada.

Ele pretende contribuir para a literatura aprofundando a compreensão sistêmica dos

fatores que influenciam o alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia

de negócio, a partir da análise do modelo proposto por Chen, He e Jin (2008)

aplicando-o a um estudo de caso. Além disso, esta pesquisa espera também

contribuir para o avanço da compreensão do setor de biotecnologia, um importante

setor para o desenvolvimento econômico do Brasil (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007),

em que a tecnologia possui papel fundamental na competitividade das empresas

(RESENDE, 2005; FERRER et al., 2004).

Em termos empíricos, a análise e compreensão dos fatores que influenciam o

alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio podem gerar

subsídios importantes para que as organizações sejam capazes de gerenciar a

tecnologia de forma eficaz, alinhada à sua estratégia de negócio, e assim

estabelecer uma vantagem competitiva sustentável (ZAHRA; COVIN, 1993; CHEN;

HE; JIN, 2008; PORTER, 1985; PAPPAS, 1984). Além disso, a confirmação e

entendimento das proposições do modelo contribuem para que ele possa ser

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aplicado nas empresas, auxiliando-as a identificar os fatores que estão contribuindo

para a compatibilidade ou incompatibilidade da sua estratégia tecnológica e de

negócio, e para avaliar o grau de alinhamento que estão obtendo. A partir disso,

podem-se estabelecer ações de reestruturação organizacional e de redefinição das

estratégias, orientadas pelo próprio modelo, para garantir a eficácia da capacidade

tecnológica e da alocação de recursos tecnológicos e, consequentemente, elevar o

desempenho empresarial (CHEN; HE; JIN, 2008).

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Este estudo tem como objetivo geral avaliar o potencial explicativo do modelo

de Chen, He e Jin (2008) para a compreensão dos fatores que influenciam o

alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio de uma

empresa e, consequentemente, na capacidade de inovação tecnológica, estendendo

seu entendimento para a compreensão do alinhamento no caso estudado.

1.3.2 Objetivos específicos

O objetivo geral enunciado desdobra-se nos seguintes objetivos específicos:

• Compreender fatores críticos que influenciam o alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócios, bem como a relação

existente entre os mesmos.

• Analisar empiricamente as conclusões do modelo de Chen, He e Jin

(2008), buscando compreender o potencial explicativo de cada uma delas,

a partir do caso estudado.

• Avaliar a relação entre o alinhamento da estratégia tecnológica com a

estratégia de negócio e a capacidade de inovação da empresa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Inovação tecnológica e vantagem competitiva

Nas empresas, um dos efeitos da globalização foi elas terem experimentado

crises dramáticas no que diz respeito ao acesso à informação e a novos mercados.

Devido a vantagens em tecnologia e ao acesso a maiores fluxos de informação, o

conhecimento vem sendo cada vez mais percebido como condutor central do

crescimento econômico e da inovação (OECD; EUROSTAT, 1997).

Hoje se aceita amplamente que a inovação seja vital para o crescimento do

produto e da produtividade. No entanto, um número surpreendente de inovações são

mal sucedidas, seja por falha tecnológica ou pela falta de preparo do mercado.

Muitas vezes esse fracasso se deve ao fato dos executivos e da organização não

possuírem capacidades adequadas para absorver o processo de inovação

(CHRISTENSEN, C. M.; RAYNOR, M. E., 2003).

O conhecimento e a tecnologia têm se tornado cada vez mais complexos,

ampliando a importância das interações entre empresas e outras organizações como

uma forma de adquirir conhecimento especializado (OECD; EUROSTAT, 1997). A

necessidade de gerenciar a tecnologia e a inovação tornou-se clara para as

empresas dos Estados Unidos a partir das décadas de 70 e 80, quando ficou

evidente que a América já não possuía mais a supremacia tecnológica mundial.

Japão, Coréia e países da Europa ocuparam espaços em setores industriais, como o

automobilístico, antes considerados setores fortes dos Estados Unidos.

Até então, o desafio gerencial se concentrava nas indústrias tradicionais de

capital intensivo e manufatura, como a de aço e a automobilística. No entanto, a

partir das décadas de 80 e 90 esse desafio passou a incluir eletrônicos,

semicondutores, computadores, telecomunicação e biotecnologia. A partir daí,

empresas americanas começaram a perceber a gestão efetiva de inovações

tecnológicas como fator de alta prioridade nos negócios, determinante para o

estabelecimento de vantagem competitiva e para o sucesso no mercado

(BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004; ITAMI; NUMAGAMI, 1992).

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A inovação pode ser entendida como a exploração bem sucedida de novas

ideias. Nesse sentido, a inovação tecnológica é um processo no qual a tecnologia

surge de uma nova ideia e termina com sua comercialização (CHEN; GENG, 2004).

Burgelman, Christensen e Wheelwright (2004) distinguem as inovações

incrementais, aquelas envolvidas em adaptações, refinamento e melhoria de

produtos e serviços já existentes ou no processo produtivo e sistemas de entrega, e

as inovações radicais, que envolvem novos produtos, serviços e processos ainda

não existentes no mercado.

Reconhecendo que a geração, exploração e a difusão do conhecimento são

fundamentais para o crescimento econômico, o desenvolvimento e o bem-estar das

nações, e para orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de

estatísticas e indicadores de pesquisa de P&D de países industrializados, o

Departamento Estatístico da Comunidade Europeia (Eurostat) e a Organização para

a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) desenvolveram o Manual de

Oslo . 1 Ele traz diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre inovação de

maneira internacionalmente comparável, constituindo assim um passo importante

para o entendimento desse complexo processo. Nele estão definidos também o

conceito e os tipos de inovação, as atividades incluídas no processo de inovação, os

fatores que o influenciam, seu impacto e as interações do processo de inovação.

De acordo com o Manual de Oslo inovação é definida como:

“a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. (OECD; EUROSTAT, 1997, p. 55)

Observa-se nessa caracterização que um aspecto geral da inovação é sua

implementação. Um produto novo ou melhorado é implementado quando introduzido

no mercado. Novos processos, métodos de marketing e métodos organizacionais

são implantados quando forem efetivamente utilizados nas operações das

1 No Brasil, o Manual de Oslo é utilizado pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) como

referência para pesquisas por meio da Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC. Com o objetivo de construir indicadores setoriais, nacionais e regionais das atividades de inovação tecnológica nas empresas industriais brasileiras, e de indicadores nacionais das atividades de inovação tecnológica nas empresas de serviços de telecomunicações, informática e pesquisa e desenvolvimento, a PINTEC se baseia nessas recomendações internacionais tanto em termos conceituais quanto metodológicos (IBGE, 2005).

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empresas. Por sua vez, uma empresa inovadora é aquela que tiver implementado ao

menos uma inovação. Essa característica geral está presente na definição de todos

os tipos de inovação apresentados no Manual (OECD; EUROSTAT, 1997).

Assim, a inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou

significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos

previstos. As inovações de produto podem utilizar novos conhecimentos ou

tecnologias, ou podem basear-se em novos usos ou combinações de conhecimentos

ou tecnologias existentes. O termo “produto” abrange tanto bens como serviços. As

inovações de produto incluem, portanto, a introdução de novos bens e serviços, e

melhoramentos significativos nas características funcionais ou de uso dos bens e

serviços existentes (OECD; EUROSTAT, 1997).

Já a inovação de processo é a implantação de um método de produção ou

distribuição novo ou significativamente melhorado, incluindo mudanças significativas

em técnicas, equipamentos e/ou softwares. As inovações de processo podem ter por

objetivo reduzir custos de produção ou de distribuição, melhorar a qualidade, ou

ainda produzir ou distribuir produtos novos ou significativamente melhorados. Um

exemplo de um novo método de distribuição é a introdução de um sistema de

rastreamento de bens por código de barras (OECD; EUROSTAT, 1997).

A inovação de marketing é a implementação de um novo método de

marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou sua

apresentação, no seu posicionamento, na sua promoção ou na fixação de preços.

Inovações de marketing são voltadas para a melhoria do atendimento das

necessidades dos consumidores, abrindo novos mercados ou reposicionando um

produto com o objetivo de aumentar as vendas. Novos métodos de marketing podem

ser implantados para produtos novos ou para os já existentes. Essas inovações

compreendem mudanças substanciais no design do produto, constituindo um novo

conceito de marketing, e também incluem mudanças na forma de apresentar

produtos como alimentos, bebidas e detergentes, em que a embalagem é o principal

determinante da aparência do produto (OECD; EUROSTAT, 1997).

Finalmente, uma inovação organizacional é a implantação de um novo

método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu

local de trabalho ou em suas relações externas. Inovações organizacionais podem

visar à melhoria do desempenho de uma empresa por meio da redução de custos

administrativos ou de custos de transação. Os aspectos distintivos da inovação

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organizacional, comparada com outras mudanças organizacionais em uma empresa,

são a implementação de um método organizacional (em práticas de negócios, na

organização do local de trabalho ou nas relações externas) que não tenha sido

usado anteriormente na empresa e que seja o resultado de decisões estratégicas

tomadas pela gerência (OECD; EUROSTAT, 1997).

Com relação à difusão e grau de novidade, o Manual de Oslo descreve

mudanças que envolvem um grau considerável de novidade para a firma. Isso exclui

mudanças pequenas ou com grau de novidade insuficiente. Entretanto, uma

inovação não precisa ser desenvolvida pela própria empresa, podendo ser adquirida

de outras empresas ou instituições por meio do processo de difusão. Três outros

conceitos para a originalidade das inovações são discutidos: nova para o mercado,

nova para o mundo e inovações capazes de provocar rupturas. Assim, além da

característica geral da implementação, o requisito mínimo para se identificar uma

inovação é a novidade da mudança introduzida. Um método de produção,

processamento e marketing, ou um método organizacional podem já ter sido

implementados por outras empresas. Mas se ele é novo ou, em caso de produtos e

processos, se é significativamente melhorado, então se trata de uma inovação para

essa empresa (OECD; EUROSTAT, 1997).

Os conceitos de novidade para o mercado e novidade para o mundo dizem

respeito ao fato de determinada inovação ter sido ou não introduzida por outras

empresas, ou de a empresa ter sido a primeira no mercado, na indústria ou no

mundo a introduzir tal inovação. Empresas pioneiras na implantação de inovações

podem ser consideradas condutoras do processo de inovação. Definindo-se

mercado como a empresa e seus concorrentes, podendo incluir uma região

geográfica ou uma linha de produto, as inovações são novas para o mercado

quando a empresa tiver sido a primeira a introduzi-la aí. Uma inovação é nova para

o mundo quando a empresa tiver sido a primeira a introduzir a inovação em todos os

mercados e indústrias, domésticos ou internacionais (OECD; EUROSTAT, 1997).

O Manual de Oslo distingue também a inovação radical ou disruptiva,

definida como aquela que causa um impacto significativo em um mercado e na

atividade econômica das empresas nesse mercado. Esse conceito é centrado no

impacto das inovações, em oposição a sua novidade. O impacto pode, por exemplo,

mudar a estrutura do mercado, criar novos mercados ou tornar obsoletos produtos

existentes (OECD; EUROSTAT, 1997).

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Com relação aos fatores que influenciam a inovação, pode-se dizer que as

empresas engajam-se em inovações por inúmeras razões (BURGELMAN;

CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004; CHEN; GENG, 2004). Seus objetivos

podem envolver produtos, mercados, eficiência, qualidade ou capacidade de

aprendizado e implantação de mudanças. É fundamental entender as razões pelas

quais as empresas inovam. A razão última é a melhoria do desempenho, pelo

aumento da demanda ou pela redução de custos, por exemplo. Assim, um novo

produto ou processo pode ser uma fonte de vantagem mercadológica para o

inovador. Introduzindo inovações de processo que aumentam a produtividade, a

empresa conquista uma vantagem sobre seus competidores, permitindo uma

margem sobre custos mais elevados para o preço de mercado prevalecente.

Dependendo da elasticidade da demanda, pode utilizar uma combinação de preço

menor e margem sobre custos maior em relação aos competidores, o que lhe

possibilita ganhar fatias de mercado e aumentar os lucros. No caso da inovação de

produto, a empresa pode obter vantagem competitiva com a introdução de um novo

produto, o que lhe confere a possibilidade de maior demanda e maiores margens

sobre custos (OECD; EUROSTAT, 1997).

As empresas podem também aumentar a demanda em virtude da

diferenciação de produto, objetivando novos mercados e influenciando a demanda

de produtos existentes. Mudanças nos métodos organizacionais podem elevar a

eficiência e a qualidade de suas operações, e assim aumentar a demanda ou reduzir

os custos. A inovação pode também melhorar o desempenho da empresa, pois ela

faz aumentar a própria capacidade de inovação. Melhoramentos nos processos de

produção, por exemplo, podem permitir o desenvolvimento de um novo leque de

produtos, enquanto novas práticas organizacionais podem melhorar a capacidade

empresarial de adquirir e criar novos conhecimentos que poderão ser usados para o

desenvolvimento de outras inovações (OECD; EUROSTAT, 1997).

As atividades de inovação podem ser obstruídas por diversos fatores. Pode

haver razões para que não sejam iniciadas bem como fatores que as refreiem ou as

afetem negativamente. Incluem-se aí fatores econômicos, tais como custos elevados

e deficiências de demanda, fatores específicos de uma empresa como a carência de

pessoal especializado ou de conhecimentos, e fatores legais, que incluem

regulamentações ou regras tributárias (OECD; EUROSTAT, 1997).

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A decisão de inovar geralmente é acompanhada de grande incerteza. Os

desenvolvimentos futuros em conhecimento e tecnologia, mercados, demanda de

produtos e usos potenciais de tecnologias podem ser imprevisíveis, embora o nível

de confiança varie de acordo com diversos fatores tais como o setor e o ciclo de vida

do produto. A incerteza pode levar empresas a hesitarem em processar mudanças

significativas quando encontram um ambiente volátil, que aumenta as pressões para

a introdução de novos produtos, a busca de novos mercados e a introdução de

novas tecnologias, práticas e métodos organizacionais em seus processos de

produção. A incerteza pode também tornar difícil a obtenção de financiamento

externo para os projetos de inovação da empresa (OECD; EUROSTAT, 1997).

2.1.1 Estratégia tecnológica

Com o reconhecimento do importante papel da inovação tecnológica, torna-se

essencial a gestão das inovações, uma tarefa desafiadora devido ao risco e à

complexidade do processo (CHEN; GENG, 2004). O critério para o êxito é mais

comercial do que técnico: uma inovação de sucesso é aquela que permite um

retorno adicional ao investido. Isso requer a coordenação de diferentes esforços

(BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004), e o resultado satisfatório

está significativamente relacionado às boas práticas no gerenciamento do processo

(CHEN; GENG, 2004).

Nesse sentido, segundo Porter (1985), para que inovações tecnológicas

sejam capazes de produzir vantagem competitiva é necessário entender o papel da

tecnologia para as organizações, e com isso determinar a forma de gerenciá-la. A

tecnologia está no centro das competências organizacionais (CHEN; GENG, 2004;

ITAMI; NUMAGAMI, 1992), podendo ser definida como um corpo de conhecimento

presente nos indivíduos, máquinas e procedimentos da empresa (ITAMI;

NUMAGAMI, 1992). Para Porter (1985), ela está presente em toda a cadeia de valor

da organização, indo além das tecnologias diretamente envolvidas no produto. Tudo

o que a empresa faz envolve algum tipo de tecnologia, que pode ser dominante no

produto ou no processo produtivo. Dessa forma, diz o autor, a empresa pode ser

vista como uma coleção de atividades e, consequentemente, como uma coleção de

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tecnologias. Isso demonstra a importância estratégica da tecnologia tanto para

empresas de alta tecnologia como para as de menor intensidade tecnológica, já que

uma mudança nesse setor pode afetar a competição com o seu impacto em cada

atividade de valor da organização (PORTER, 1985; ANTONIOU; ANSOFF, 2004).

Todavia, a importância da tecnologia como fonte de vantagem competitiva

não é função apenas de seu mérito científico ou sua proeminência no produto. A

tecnologia é importante para a competição quando afeta significativamente a

vantagem competitiva da empresa ou a estrutura do setor, o que pode ocorrer não

apenas por meio de inovações radicais, mas também por meio de pequenos

incrementos tecnológicos (PORTER, 1985).

Uma questão importante, então, é como traduzir a capacidade tecnológica em

vantagem competitiva, uma vez que a liderança tecnológica não necessariamente

produz retorno econômico substancial. Por outro lado, em diversos casos, empresas

que lideraram o desenvolvimento de uma importante inovação tecnológica

conquistaram uma vantagem decisiva e duradoura (ROSENBLOOM; CUSUMANO,

1987). Assim, o desenvolvimento de uma estratégia tecnológica capaz de orientar as

ações da empresa e garantir a gestão eficiente dos recursos tecnológicos é

fundamental (BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004;

ROSENBLOOM; CUSUMANO, 1987; PORTER, 1985).

A estratégia tecnológica pode ser definida como a forma de desenvolver e

utilizar a tecnologia estabelecida pela organização (PORTER, 1985). Ela consiste no

portfólio de escolhas e planos que permitem que a empresa responda efetivamente

às ameaças e oportunidades tecnológicas (MAIDIQUE; PATCH, 1978). Seu papel é

prover um meio viável para promover o sucesso do desempenho empresarial. Dessa

forma, os executivos devem planejar cuidadosamente o processo por meio do qual

as escolhas tecnológicas serão definidas e implantadas, garantindo o alinhamento

entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio. Sem a coordenação entre

essas decisões, os investimentos em P&D, os esforços em automação, e a inovação

e desenvolvimento de produtos podem não resultar na performance financeira

superior pretendida. Quando o alinhamento é alcançado, a empresa pode empregar

seus investimentos e capacidades tecnológicas para criar uma vantagem

competitiva que sustente seus objetivos estratégicos (ZAHRA; COVIN, 1993).

A definição da estratégia tecnológica torna a direção do desenvolvimento da

tecnologia claro e estável (CHEN; HE; JIN, 2008), e ajuda a responder questões

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como: i) quais as competências e capacidades necessárias para estabelecer e

manter a vantagem competitiva? ii) que tecnologias devem ser usadas no

desenvolvimento de produtos essenciais e como essas tecnologias devem ser

incorporadas nos produtos? iii) qual deve ser o nível de investimento em

desenvolvimento de tecnologias? iv) como as tecnologias devem ser originadas,

internamente ou externamente? v) quando e como as novas tecnologias devem ser

introduzidas no mercado? vi) como a tecnologia e inovação devem ser organizadas

e gerenciadas? (BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004).

Assim, e em conformidade com o European Institute of Technology

Management, pode-se dizer que a estratégia tecnológica refere-se à

(...) efetiva identificação, seleção, aquisição, desenvolvimento, exploração e proteção de tecnologias (produto, processo e infraestrutura) necessárias para manter uma posição de mercado e performance empresarial em acordo com os objetivos da organização. (PHAAL; FARRUKH; PROBERT, 2001, p. 2)

A gestão da tecnologia abrange, então, todos os procedimentos necessários

para manter o fluxo de produtos e serviços para o mercado, integrando diferentes

processos do negócio, dentre eles o desenvolvimento da estratégia, o

desenvolvimento de produtos e a gestão das operações (PHAAL; FARRUKH;

PROBERT, 2001).

São duas as dimensões principais da estratégia tecnológica a serem

identificadas: i) a seleção do portfólio de tecnologias e ii) a definição pela busca da

liderança tecnológica (PORTER, 1985; MAIDIQUE; PATCH, 1978; ZAHRA; COVIN,

1993; BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004). Para o

estabelecimento da estratégia tecnológica, as primeiras decisões da empresa são

definir o seu portfólio de tecnologias, identificando quais as tecnologias a serem

desenvolvidas, e identificar as fontes de recurso e as políticas organizacionais

necessárias (FUSFELD, 1978; MAIDIQUE; PATCH, 1978; PORTER, 1985).

Isto implica em identificar as competências e capacidades tecnológicas

necessárias (FUSFELD, 1978; BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT,

2004), as tecnologias promissoras para a linha de produtos existentes ou para novos

produtos, e as tecnologias capazes de melhorar a performance dos produtos e

processos ou diminuir os custos da empresa (MAIDIQUE; PATCH, 1978).

Identificadas as tecnologias existentes, a organização passa a escolher as que

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precisam ser desenvolvidas, selecionando aquelas que irão melhor contribuir para a

estratégia global da empresa (BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT,

2004; MAIDIQUE; PATCH, 1978; PORTER, 1985). Essa escolha se baseia no

entendimento da contribuição de cada tecnologia em toda a extensão da cadeia de

valor, não se limitando àquelas que representam grandes avanços e rupturas.

Melhorias modestas em diversos pontos da cadeia de valor, incluindo aquelas não

diretamente relacionadas ao produto ou processo produtivo, são capazes de

promover grandes benefícios para a vantagem competitiva (PORTER, 1985).

Diversos aspectos envolvidos na gestão tecnológica devem ser considerados.

Dentre eles, é necessário avaliar o nível de competência requerido, ou seja, a

proficiência desejada no entendimento e aplicação da tecnologia, a ênfase a ser

dada no desenvolvimento de conhecimento relativo à tecnologia (MAIDIQUE;

PATCH, 1978), e o nível de investimento necessário para o desenvolvimento das

tecnologias, ou seja, o montante de recursos a ser investido nas tecnologias e em

P&D (FUSFELD, 1978; MAIDIQUE; PATCH, 1978). Além disso, deve-se avaliar

também a ênfase a ser dada ao desenvolvimento de produtos e ao nível de

automação dos processos, ou seja, a adoção de tecnologias de última geração na

produção, e a alocação de capital em novos equipamentos e maquinários na

empresa (ZARA; COVIN, 1993).

Avaliar o modo como as diversas tecnologias serão desenvolvidas, se interna

ou externamente (CHEN; HE; JIN, 2008), a disponibilidade de fontes de recursos

internos ou se é importante buscar fontes externas de recursos, incluindo parcerias e

contratos de pesquisa (FUSFELD, 1978; MAIDIQUE; PATCH, 1978), é também

crucial nesse processo.

Outro fator relevante para a estratégia tecnológica é a determinação das

políticas organizacionais e de P&D que irão sustentar o desenvolvimento das

tecnologias (CHEN; HE; JIN, 2008). Além disso, devem ser avaliados e definidos a

necessidade de um laboratório central de pesquisa, o sistema de carreira e

remuneração específico para os cientistas, o tipo de organização a ser adotado, se

por estrutura de projetos ou com estrutura matricial, o nível de envolvimento da

administração superior com projetos de P&D e a proteção do conhecimento por

patentes (MAIDIQUE; PATCH, 1978). Em muitas empresas os programas de P&D

são guiados mais pelos interesses científicos do que pela busca da vantagem

competitiva, ou seja, não são integrados aos objetivos do negócio (PORTER, 1985).

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32

Assim, a definição de políticas é essencial para manter o foco e o alinhamento

estratégico no desenvolvimento das tecnologias (MAIDIQUE; PATCH, 1978).

A estratégia tecnológica da empresa abrange também definições sobre os

objetivos da busca da liderança tecnológica e o tempo de entrada no mercado. A

primeira diz respeito à decisão da empresa entre ser líder na introdução de novas

tecnologias ou seguidora de outras empresas e, assim, envolve também a definição

de quando introduzir os produtos no mercado (PORTER, 1985; MAIDIQUE; PATCH,

1978; BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004).

As empresas que buscam liderança tecnológica aspiram comandar as

mudanças tecnológicas do setor construindo a reputação de ser a primeira a

experimentar novos métodos e tecnologias, sendo líder em esforços de inovação

(ZAHRA; COVIN, 1993).

Maidique e Patch (1978) sugerem que diferentes estratégias podem ser

adotadas pelas empresas para definir o momento de colocação do produto no

mercado: first-to-market, second-to-market, late-to-market ou market-segmentation.

As empresas que adotam a estratégia first-to-market (líder de mercado) procuram

colocar o produto no mercado antes dos concorrentes, construindo um monopólio

temporário na exploração da tecnologia. A estratégia second-to-market (seguidora)

envolve a rápida imitação das inovações pioneiras dos concorrentes. A ênfase está

em ganhar os clientes da concorrência e não em gerar demandas primárias. Já a

estratégia late-to-market (diminuição de custos) está relacionada à entrada no

mercado em estágios tardios do ciclo de vida do produto. Nesse caso, o ganho da

vantagem competitiva se dá pelo uso da tecnologia para introduzir modificações em

processos e produtos para reduzir os custos. Finalmente, na estratégia de market-

segmentation (segmentação de mercado), a entrada no mercado ocorre tipicamente

nos estágios iniciais do ciclo de vida do produto, embora possa também ocorrer em

estágios posteriores. O foco dessa estratégia é o atendimento a pequenos

segmentos de demandas com aplicações especiais e não tanto o tempo de

introdução do produto no mercado (MAIDIQUE; PATCH, 1978; BURGELMAN;

CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004).

Aspectos relacionados à capacidade de sustentação da liderança tecnológica,

às vantagens e desvantagens da liderança no mercado orientam a escolha da

empresa entre ser líder ou seguidora (PORTER, 1985; BURGELMAN;

CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004).

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33

A liderança tecnológica é sustentável quando os concorrentes não são

capazes de replicar a tecnologia, ou quando a empresa inova mais rapidamente do

que eles conseguem acompanhar. A sustentabilidade está relacionada: i) às fontes

de mudanças tecnológicas, ou seja, se o desenvolvimento da tecnologia é interno ou

externo; ii) à presença ou ausência de uma vantagem competitiva a partir do

desenvolvimento da tecnologia; iii) às habilidades tecnológicas da empresa,

incluindo estrutura organizacional, sistemas, cultura e gestão; iv) à taxa de difusão

tecnológica. Quando as fontes são externas a sustentação da liderança tecnológica

se torna mais difícil (PORTER, 1985; MAIDIQUE; PATCH, 1978).

As vantagens relacionadas à liderança tecnológica incluem o estabelecimento

da reputação de pioneira em inovação, a apropriação de uma posição de mercado, o

acesso a um canal único de distribuição, o acesso favorável a fontes de recursos, o

estabelecimento de padrões, o aproveitamento de barreiras institucionais tais como

patentes, e a obtenção inicial de altos lucros (PORTER, 1985; MAIDIQUE; PATCH,

1978; BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2004).

Apesar das possíveis vantagens da liderança tecnológica, existem

desvantagens a serem avaliadas. Dentre elas destacam-se o alto custo do

desenvolvimento, o risco e a incerteza da demanda futura, as mudanças de

necessidade dos clientes, a descontinuidade tecnológica e o baixo custo de imitação

(PORTER, 1985; MAIDIQUE; PATCH, 1978).

A decisão da empresa entre ser líder ou seguidora envolve avaliar também

aspectos relacionados a: o nível de competência dos técnicos; a existência ou não

de tecnologias obsoletas; a habilidade organizacional de pesquisa para liderança; as

habilidades em prover suporte para os produtos e serviços; os processos existentes

versus os que precisam existir para prover suporte futuro e para os produtos e

serviços (ANTONIOU; ANSOFF, 2004).

Assim, na escolha pela liderança a empresa precisa avaliar a interação de

todos esses aspectos. A opção de ser seguidora, por exemplo, deve ser consciente,

e estar explícita na estratégia da empresa (PORTER, 1985). A empresa pode avaliar

os benefícios de deixar o concorrente entrar no mercado primeiro e assim poder

observar a aceitação do mercado (MAIDIQUE; PATCH, 1978). Além disso, a escolha

deve ser feita em toda a cadeia de valor e não apenas em termos de produto e

processo de produção (PORTER, 1985).

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34

Os diversos aspectos relacionados ao portfólio de tecnologias e liderança

tecnológica devem, então, compor a estratégia tecnológica da empresa. Para a

elaboração da estratégia tecnológica alinhada à estratégia de negócio, podem-se

identificar alguns passos essenciais que englobam a análise e compreensão das

variáveis do ambiente interno e do ambiente externo, com a identificação das

tecnologias significativas da cadeia de valor da empresa, e a evolução e mudanças

tecnológicas do setor. A partir disso, define-se a estratégia tecnológica que reforce a

vantagem competitiva e a estratégia global da empresa (FUSFELD, 1978; PORTER,

1985; CHIESA; MANZINI, 1998).

Primeiramente, cabe identificar as distintas tecnologias e subtecnologias

presentes na cadeia de valor da empresa e compreender as que estão presentes na

cadeia de valor dos fornecedores e compradores, uma vez que normalmente elas

são interdependentes com a sua própria cadeia de valor. Porter (1985) e Pappas

(1984) ressaltam que a empresa não deve focar apenas em tecnologias

relacionadas aos produtos e manufatura, mas em toda a cadeia de valor.

Para Chiesa e Manzini (1998), uma vez que os produtos e tecnologias

adotados em ambiente dinâmicos mudam rapidamente, a análise interna precisa

incluir variáveis como conhecimentos e habilidades, que são mais estáveis e

representam componentes chave para a empresa. Assim, da análise interna é

preciso constar o mapeamento das competências tecnológicas da empresa, com a

identificação das competências básicas existentes; a comparação das habilidades

com as de outras empresas, e a identificação de habilidades críticas que criam valor

para o cliente, possuem uma ampla aplicabilidade e alto grau de apropriabilidade.

A análise das variáveis internas engloba também a identificação dos recursos

disponíveis tais como os recursos financeiros, organizacionais, de pesquisa e

desenvolvimento, de produção, marketing e distribuição. Isso é importante uma vez

que os aspectos relacionados à tecnologia podem afetar diversas atividades da

organização como a manufatura, o marketing, os resultados financeiros e o

crescimento a partir de novos produtos e novos mercados (FUSFELD, 1978). A

análise das variáveis internas permite ainda a identificação da necessidade de

alterações na estrutura organizacional e do estabelecimento de políticas específicas

que contribuam para o desenvolvimento e implantação da estratégia tecnológica

(CHEN; HE; JIN, 2008).

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35

Feita a análise interna, segue-se a identificação de potenciais tecnologias

relevantes para o setor e para outros setores, assim como em desenvolvimento

científico (PORTER, 1985; ANTONIOU; ANSOFF, 2004; CHIESA; MANZINI, 1998).

A capacidade tecnológica da organização é fortemente influenciada pelo ambiente

no qual a organização está inserida (CHEN; HE; JIN, 2008). Não raro as tecnologias

vêm de fora do setor, tais como sistemas de informação, eletrônicos e novos

materiais, que produzem grandes impactos tecnológicos, podem ser fonte de

descontinuidade tecnológica, e podem determinar mudanças de tecnologias chave

(PORTER, 1985). Além disso, o ambiente de organizações de orientação

tecnológica é mais instável, os consumidores são mais informados e exigentes, e os

custos de capital humano são mais elevados (CHEN; HE; JIN, 2008).

O ambiente competitivo externo é também avaliado para a identificação de

investimentos tecnológicos realizados pelos concorrentes tanto em produtos quanto

em processos, para cada tecnologia vital da empresa. A importância de tecnologias

em desenvolvimento também deve ser avaliada, considerando as empresas que a

desenvolvem e o provável caminho futuro das inovações (PAPPAS, 1984).

A atenção para mudanças no ambiente sociopolítico e o reconhecimento de

como as “regras do jogo” irão impactar o comportamento futuro são fundamentais.

Mudanças sociais e políticas influenciam tanto a velocidade quanto o impacto da

introdução de novas tecnologias na sociedade, afetando o desenvolvimento das

tecnologias na organização (ANTONIOU; ANSOFF, 2004). A existência, por

exemplo, de políticas governamentais que incentivem a inovação tecnológica, e que

promovam subsídios para a aquisição de recursos contribuem para que as

empresas desenvolvam atitudes tecnológicas positivas (CHEN; HE; JIN, 2008).

O futuro tecnológico da organização é um fator decisivo para sua

sobrevivência. Tendências futuras, oportunidades e ameaças devem ser traduzidas

em decisões sobre a substituição tecnológica, ou seja, o fomento à extensão ou

invenção de novas tecnologias, e sobre a aquisição de tecnologias, isto é, a compra

ou desenvolvimento da nova geração de tecnologia (ANTONIOU; ANSOFF, 2004).

Para Chiesa e Manzini (1998), a análise externa deve incluir também a

identificação do valor para o cliente, e o entendimento de sua evolução. O valor para

o cliente está relacionado à funcionalidade do produto e ao desempenho crítico. O

produto é visto como uma solução tecnológica transitória para satisfazer as

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demandas do cliente, as quais podem não ser apenas a satisfação de necessidades

já existentes, mas também a criação de necessidades não articuladas.

Assim, a análise do ambiente resulta em informações que ajudam a identificar

oportunidades, tais como as ações regulatórias do governo em planejamento ou

novos padrões que irão influenciar a participação em determinado mercado; as

necessidades imediatas e futuras dos clientes; as tendências do setor; os

posicionamentos dos concorrentes e, finalmente, os objetivos e priorizações fruto da

análise de mercado (WHALEN, 2007).

O acesso às variáveis externas e internas e sua interpretação orientam os

gestores na escolha da estratégia tecnológica por meio de: a previsão das

turbulências tecnológicas futuras; o diagnóstico da agressividade tecnológica atual

da empresa; a determinação da lacuna da tecnologia futura da empresa; e o

diagnóstico de ações e prioridades para o desenvolvimento futuro da tecnologia

(ANTONIOU; ANSOFF, 2004).

A seleção da estratégia tecnológica engloba tanto aspectos relacionados à

estratégia de produtos, serviços e sistemas quanto às capacidades e tecnologias

necessárias para apoiá-los. A estratégia de produto representa a maneira pela qual

o negócio irá responder à estratégia de mercado, ou seja, os objetivos e metas

definidas a partir da análise do ambiente. Essa estratégia explicita como a empresa

decidiu converter as necessidades dos clientes em oferta de produtos e serviços que

vão diferenciá-la dos concorrentes e ganhar o mercado (WHALEN, 2007).

De posse da análise das variáveis internas e externas é necessário

determinar que tecnologias e potenciais mudanças de tecnologia são mais

significativas para a vantagem competitiva, uma vez que nem todas as tecnologias

produzirão grandes impactos na competitividade. As tecnologias críticas são aquelas

que produzem maior efeito no custo ou diferenciação, que são sustentáveis

(PORTER, 1985) e que criam valor para os clientes (CHIESA; MANZINI, 1998).

A empresa passa a avaliar, então, sua capacidade relativa nas tecnologias,

ou seja, suas forças nas tecnologias chave e o custo de aperfeiçoamento. O próximo

passo é a seleção de uma estratégia tecnológica que englobe todas as tecnologias

importantes e capazes de reforçar a estratégia geral da empresa (PORTER, 1985).

A seleção da estratégia tecnológica deve ser feita a partir do alinhamento

entre os resultados da análise externa e interna. Para sustentar as decisões a serem

tomadas, uma análise sistemática precisa ser feita, avaliando-se as habilidades já

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existentes na empresa e as novas. A ação de seleção significa decidir em que

combinações de habilidades e aplicações vai se investir. A formulação da estratégia

tecnológica deve ser feita por meio da definição de programas de ação para os anos

seguintes, incluindo os projetos de P&D e, finalmente, determinando o orçamento

que fixa a alocação de fundos para o programa (CHIESA; MANZINI, 1998).

Dessa forma, as saídas da seleção da estratégia tecnológica compreendem a

definição dos elementos dos produtos, serviços e processos, e as capacidades e

tecnologias necessárias para alcançar os mesmos. Devem ser geradas informações

sobre os produtos atuais e as novas gerações de produtos, com datas de início e fim

para o seu desenvolvimento; data de lançamento; indicação da sua disponibilidade

no mercado, incluindo o tempo de encerramento do ciclo de vida, quando aplicável;

atributos e especificações chave necessárias a cada produto, para que o mesmo

alcance o sucesso financeiro; produtos de parceiros e fornecedores críticos, que irão

fornecer os subcomponentes ou os sistemas necessários. As informações sobre as

tecnologias devem incluir dados como: data de início e fim de desenvolvimento da

tecnologia; alternativas tecnológicas; data de disponibilização da tecnologia no

mercado; tecnologias necessárias de parcerias ou fornecedores; informações sobre

custo, recursos disponíveis e riscos associados (WHALEN, 2007).

2.2 Alinhamento entre estratégia tecnológica e estr atégia de negócios

Conforme o que vem sendo argumentado até aqui, a definição da estratégia

tecnológica deve ser feita de forma alinhada com os objetivos empresariais, ou seja,

deve ser adequada à estratégia de negócio, para garantir sua eficácia (ANTONIOU;

ANSOFF, 2004; PORTER, 1985; PAPPAS, 1984; ZAHRA; COVIN, 1993; SCOTT,

2001; CHEN; HE; JIN, 2008). No alinhamento da tecnologia com a estratégia de

negócio a integração não é unilateral, ou seja, não apenas a estratégia define

objetivos para a tecnologia, como também a tecnologia define oportunidades e

limites para a estratégia da empresa (TIDD, BESSANT, PAVITT, 2001). É essencial,

portanto, criar relações e alinhamentos entre os objetivos específicos da empresa,

as necessidades dos clientes e as prioridades identificadas com a capacidade da

organização em gerar receitas (produtos, serviços e sistemas) e a habilidade de

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desenvolver essas capacidades para sustentar tais receitas, como tecnologias,

inovações, parceiros e fornecedores (WHALEN, 2007).

Podem-se identificar as seguintes formas de relação entre a tecnologia e a

estratégia de negócio: i) a estratégia atual capitaliza a tecnologia atual; ii) a

estratégia atual cultiva a tecnologia futura; e, iii) a tecnologia atual dirige a cognição

da estratégia futura. A primeira perspectiva foca na combinação da estratégia

desenvolvida pela empresa com a tecnologia que ela possui. Assim, a tecnologia

pode atuar na estratégia da empresa como uma força a ser utilizada em seu favor,

uma restrição à qual a empresa deve se adaptar, e uma ameaça com a qual precisa

lidar. Já a segunda perspectiva considera que as decisões quanto à estratégia atual

geram impactos de longo prazo quanto ao acúmulo de tecnologia, fazendo

necessário o investimento em desenvolvimento tecnológico. Finalmente, a terceira

perspectiva está relacionada com os efeitos da tecnologia atual com a definição da

estratégia futura da empresa (ITAMI, NUMAGAMI, 1992). Assim, na elaboração da

estratégia tecnológica e da estratégia de negócio é necessário que todas essas

perspectivas sejam levadas em consideração.

Para o desenvolvimento da estratégia de negócio podem-se identificar

algumas estratégias genéricas, que irão demandar determinada estratégia

tecnológica também genérica. Essas estratégias envolvem tanto o posicionamento

do produto (custo, segmentação) quanto seu tempo de entrada no mercado

(ROSENBLOOM; CUSUMANO, 1988).

Para Porter (1999, p. 63), estratégia “(...) é criar uma posição exclusiva e

valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades.” Cabe à empresa escolher

a posição que pretende ocupar no seu setor de atuação, determinar as atividades a

serem desempenhadas e a maneira como as mesmas estão relacionadas, de forma

a proporcionar uma mistura única de valores para os clientes.

Dessa forma, para estabelecer uma estratégia de sucesso, é necessário que

a organização defina claramente o seu posicionamento estratégico e a sua

proposição de valor para o cliente, ou seja, o valor único que somente ela pode

entregar a um mercado selecionado. A proposição de valor define a combinação

única de produto, preço, serviço, qualidade, desempenho, relacionamento e imagem

que o negócio oferece aos clientes. A partir disso, a empresa também precisa definir

seu modelo operacional, ou seja, a combinação de processos operacionais,

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sistemas gerenciais, estrutura empresarial e cultura necessárias para cumprir a sua

proposição de valor (TREACY; WISERMA, 1998).

Nesse contexto, a empresa deve adotar uma estratégia genérica, que pode

ser diferenciação, liderança em custo ou foco. As empresas que optam pela

diferenciação obtêm vantagem competitiva oferecendo produtos ou serviços

melhores do que os concorrentes em termo de qualidade, performance, suporte,

dentre outros (PORTER, 1999). Segundo Treacy e Wiserma (1998), as empresas

podem optar por conquistar a liderança em produtos ou a intimidade com os clientes.

Liderança em produtos significa ofertar o melhor produto para os clientes, ampliando

a fronteira do desempenho, e buscar a inovação constante, a cada ciclo de produto.

Já a intimidade com o cliente significa oferecer a melhor solução e suporte,

satisfazendo necessidades únicas dos clientes, e cultivando relacionamentos.

A estratégia de liderança em custo, por sua vez, consiste em oferecer

produtos ou serviços a preços mais baixos do que os concorrentes (PORTER,

1999). Empresas que dirigem seus esforços para esse tipo de liderança buscam a

excelência operacional, e fundamentalmente não são inovadoras em produtos ou

serviços, nem cultivam relacionamentos profundos e individuais com seus clientes.

Elas oferecem produtos médios em relação ao mercado ao melhor preço, com o

mínimo de inconveniência (TREACY; WIERSEMA, 1998).

As empresas que optam pela estratégia de foco oferecem os seus produtos

ou serviços para um determinado segmento do mercado, podendo ser por meio da

liderança em custo ou da diferenciação (PORTER, 1999).

Uma vez que a tecnologia permeia toda a cadeia de valor da organização, e

tem grande impacto na sua competitividade, ela é uma ferramenta importante para o

desenvolvimento das estratégias genéricas do negócio, visto que em cada caso é

requerida uma estratégia tecnológica diferente (PORTER, 1985). Dessa forma, a

empresa deve definir a sua estratégia tecnológica em conformidade com a estratégia

de negócio (CHEN; HE; JIN, 2008), especificando quais, quando e como novas

tecnologias devem ser introduzidas no mercado (FUSFELD, 1978).

Em resumo, todas as escolhas feitas sobre cada uma das questões da

estratégia tecnológica – portfólio de tecnologias e liderança tecnológica – devem se

voltar para a decisão de como a estratégia tecnológica será capaz de aumentar a

vantagem competitiva sustentável da empresa (PORTER, 1985).

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As tecnologias que devem ser desenvolvidas são aquelas que mais irão

contribuir para a estratégia genérica estando, portanto, equilibrada com a

probabilidade do seu sucesso (PORTER, 1985). É necessário fazer uma análise de

como uma determinada tecnologia pode ser aplicada nos produtos ou processos da

empresa e quão efetiva ela será. Devem-se avaliar fatores relacionados ao

desempenho funcional, ao custo de aquisição, a características de fácil uso, custo

de operação, necessidade de realização de serviços, número de patentes

tecnológicas, forças relacionadas aos recursos humanos, histórico do produto, custo

do produto e compatibilidade com outros produtos, os quais devem estar alinhados à

estratégia do negócio (FUSFELD, 1978; PAPPAS, 1984).

O desenvolvimento do portfólio de tecnologia deve identificar, então, as

prioridades tecnológicas, levando-se em consideração a importância da tecnologia e

sua posição relativa. A importância tecnológica deve se basear em critérios que

incluam adição de valor, taxa de mudanças, potenciais mercados e suas respectivas

atratividades. A posição relativa pode ser determinada pelo acesso da posição atual

e futura da tecnologia e a expectativa de desenvolvimento futuro (PAPPAS, 1984).

A decisão pela busca da liderança tecnológica, da mesma forma, também

deve estar alinhada à escolha entre a diferenciação ou a diminuição de custos. A

diferenciação pode ser alcançada pela liderança tecnológica, e a diminuição dos

custos pode ser conseguida por empresas seguidoras (PORTER, 1985). Assim, na

diferenciação, a ênfase em fornecimento de produtos especiais está associada à

postura tecnológica agressiva e ao uso proativo da tecnologia para se posicionar. A

adoção de tecnologias de última geração na produção, e a alocação de capital em

novos equipamentos e maquinários estão intimamente relacionadas com a

dimensão de liderança em custo (ZAHRA; COVIN, 1993).

No entanto, uma empresa que opta pela diminuição de custo pode ser líder

tecnologicamente ao adotar um processo de menor custo, e uma empresa que opta

pela diferenciação pode ser uma seguidora tecnológica ao aprender com os erros da

líder e alterar a tecnologia para melhor atender os clientes (PORTER, 1985).

As empresas que optam pela liderança tecnológica devem investir grandes

quantidades de recursos em P&D, e o desenvolvimento da tecnologia deve ser

próximo ao estado da arte, o que implica na ênfase em pesquisa aplicada primária

(MAIDIQUE; PATCH, 1978).

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Em relação ao tempo de entrada no mercado, a estratégia first-to-market

(líder de mercado) normalmente requer grande comprometimento e investimento em

pesquisa e desenvolvimento, enquanto a estratégia second-to-market (seguidora)

normalmente requer uma forte e ágil capacidade de desenvolvimento e engenharia,

com pouco investimento em pesquisa. Já a estratégia late-to-market, (diminuição de

custos) demanda habilidades em engenharia de produto e processo, e a estratégia

de market-segmentation (segmentação de mercado) requer grande capacidade de

engenharia e flexibilidade na área de manufatura, não sendo requeridas aí as

competências de produção em massa (MAIDIQUE; PATCH, 1978).

As relações entre a tecnologia e as estratégias de negócio genéricas estão

apresentadas de modo resumido no Quadro 1.

Mudança tecnológica

Liderança em custo Diferenciação Foco em custo Foco em

diferenciação

no

produto

Desenvolvimento de produto para reduzir seu custo, com a diminuição de materiais, facilitação da manufatura, simplificação de requerimentos logísticos, etc.

Desenvolvimento de produto para elevar sua qualidade, características, entrega ou alterar custos

Desenvolvimento de produto para projetar apenas o desempenho suficiente para atender as necessidades dos segmentos alvo

Desenvolvimento de produto para alcançar necessidades específicas de um segmento particular, melhor do que os competidores

no processo

Curva de aprendizado de processo para diminuir a utilização de materiais ou do trabalho

Desenvolvimento do processo para elevar a economia de escala

Desenvolvimento do processo para apoiar tolerâncias elevadas, melhor controle da qualidade, cronogramas mais confiáveis, tempo de resposta mais ágil, e outras dimensões que aumentam o valor de compra

Desenvolvimento do processo para ajustar a cadeia de valor às necessidades do segmento, a fim de diminuir os custos do segmento

Desenvolvimento do processo para ajustar a cadeia de valor às necessidades do segmento, a fim de aumentar o valor de compra

Quadro 1: Tecnologia de produto e processo e estrat égias genéricas Fonte: Adaptado de Porter (1985)

A escolha da estratégia tecnológica também tem implicações em outras áreas

funcionais da empresa, como manufatura e marketing (MAIDIQUE; PATCH, 1978), e

na definição de políticas organizacionais (CHEN; HE; JIN, 2008). A estratégia

tecnológica direciona escolhas quanto à escala de manufatura, os recursos de

produção, a capacidade produtiva e as capacidades de engenharia. Da mesma

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forma, direciona as ações de pesquisa de demanda por produtos e necessidades

dos clientes (MAIDIQUE; PATCH, 1978). Além disso, devem ser definidas as

políticas específicas de P&D, incluindo as políticas de Recursos Humanos (RH) e a

estrutura organizacional, necessárias para sustentar o desenvolvimento das

capacidades tecnológicas da organização (CHEN; HE; JIN, 2008). Tais implicações

enfatizam, então, a importância do alinhamento da estratégia tecnológica à

estratégia de negócios (CHEN; HE; JIN, 2008; MAIDIQUE; PATCH, 1978). No

Quadro 2 são apresentados alguns requisitos necessários para as áreas funcionais,

de acordo com a estratégia adotada pela empresa.

Estratégia Área

First-to-market (líder)

Second-to-market (seguidora)

Late-to-market (diminuição de

custos)

Market-segmentantion (segmentação de mercado)

P&D Estado da arte em P&D

Flexibilidade e capacidade de resposta de P&D

Habilidade em desenvolvimento de processos e custo efetivo de produto

Habilidade em aplicações e desenho de produtos avançados

Manufatura Ênfase em piloto e média escala

Agilidade em manufatura de média escala

Eficiência e automação em larga escala de produção

Flexibilidade em curto e médio tempo

Marketing Ênfase em estimular demanda primária

Ênfase em diferenciação do produto e estimulação da demanda secundária

Ênfase em minimizar os custos de venda e distribuição

Ênfase em identificar e alcançar os segmentos favoráveis

Finanças Acesso a capital de risco

Rápido acesso de média a grande quantidade de capital

Acesso ao capital em larga quantidade

Acesso ao capital de média a grande quantidade

Organizacional Ênfase na flexibilidade e não na eficiência; assume riscos

Ênfase na combinação de flexibilidade e eficiência

Ênfase na eficiência e controle hierárquico

Flexibilidade e controle

Tempo de entrada

Entrada inaugura o ciclo de vida do produto

Entrada no estágio inicial e de crescimento

Entrada tardia no estágio de crescimento ou maturidade

Entrada tardia no estágio de crescimento

Quadro 2: Requisitos funcionais e as estratégias te cnológicas Fonte: Adaptado de Maidique e Patch (1978)

Em resumo, dada a íntima relação entre a tecnologia e a estratégia de

negócio, a fim de se construir uma vantagem competitiva sustentável e melhorar o

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desempenho financeiro da organização, deve-se garantir o alinhamento da

estratégia tecnológica à estratégia de negócio, em que ambas devem ser

correspondentes, operar de forma efetiva e se estimularem mutuamente

(ANTONIOU; ANSOFF, 2004; PORTER, 1985; PAPPAS, 1984; ZAHRA; COVIN,

1993; SCOTT, 2001; CHEN; HE; JIN, 2008).

2.2.1 O modelo de Chen, He e Jin de alinhamento ent re a estratégia tecnológica

e a estratégia de negócio

O alinhamento entre a estratégia tecnológica da empresa e sua estratégia de

negócios tem papel de destaque na criação de uma vantagem competitiva

sustentável, assim como na intensificação do desempenho financeira do negócio

permitindo, dessa forma, assegurar o desenvolvimento das capacidades

tecnológicas e dos recursos tecnológicos da organização (CHEN; HE; JIN, 2008).

Nesse sentido, com o objetivo de avaliar os fatores que influenciam o alinhamento

entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócios, Chen, He e Jin (2008)

propuseram um modelo explicativo baseado em uma pesquisa empírica.

A partir da revisão da literatura, os autores definiram quatro fatores –

ambiente externo, administração superior, recursos tecnológicos e habilidade de

convergência organizacional – como influenciadores no alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócio. Para testar e validar o modelo foi

realizada uma pesquisa empírica quantitativa, com diversas empresas da China

(CHEN; HE; JIN, 2008).

Os fatores que influenciam o alinhamento entre a estratégia tecnológica e a

estratégia de negócio, assim como o grau de alinhamento foram divididos em

dimensões, para as quais foram definidos indicadores (CHEN; HE; JIN, 2008). Cada

um desses fatores é discutido a seguir, e os indicadores propostos pelo modelo

apresentados nos Quadros de 3 a 7.

O primeiro fator identificado por Chen, He e Jin (2008) é o ambiente externo.

Ações governamentais e fatores relacionados ao setor no qual a empresa está

inserida, tais como o grau de desenvolvimento tecnológico do setor, o

posicionamento dos concorrentes e o nível de influência de fornecedores e

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compradores são críticos para o alinhamento das estratégias tecnológicas e de

negócio. Cohen (1990) concorda com os autores, apontando que o ambiente no qual

a organização está inserida e o desenvolvimento de uma rede de relacionamentos

entre fornecedores, compradores, clientes e até mesmo órgãos governamentais

influenciam a capacidade de inovação da empresa. A rede de relacionamento

permite que a organização tenha acesso às capacidades e conhecimentos de outras

empresas, contribuindo para o desenvolvimento das suas habilidades tecnológicas.

Devido às rápidas mudanças do mercado, o sucesso da empresa requer um

entendimento estratégico aguçado das influências do ambiente externo, para que a

mesma responda de forma a garantir sua sobrevivência no mercado (ALBRIGTH,

2004). A administração do conhecimento sobre o mercado e a coleta de informações

do ambiente externo permite a redução das incertezas intrínsecas às decisões nas

organizações e a diminuição do risco de uma decisão errada (GARBER, 2001;

CALOF; WRIGHT, 2008). Assim, a identificação, coleta e tradução das informações

relativas ao ambiente externo são úteis para formular os planos e as decisões da

empresa (ALBRIGTH, 2004), sendo necessário que as empresas criem estruturas

para compreender a complexidade do mercado e integrar tais informações ao seu

planejamento estratégico. Essa estrutura envolve o planejamento, coleta, análise,

comunicação e gerenciamento das informações (CALOF; WRIGHT, 2008).

As fontes de informação podem incluir dados sobre o governo, o setor, a

tecnologia, os consumidores, os fornecedores e concorrentes. Com relação ao

governo, pode-se dizer que mesmo em mercados nos quais a concorrência é mais

evoluída, existe um conjunto de regras que não são oriundas do sistema produtivo.

São as regulamentações governamentais que visam a proteger a competitividade

das empresas ou do consumidor final, ou para destacarem incentivos para o

desenvolvimento das atividades econômicas da nação. Além da legislação, o

governo possui agências para fiscalizar e o orientar o cumprimento dessas leis.

Incentivos fiscais, por meio dos quais o governo reduz a taxa tributária das

atividades, são outra forma de atuação em mercados competitivos, assim como o

controle das alíquotas de importação para regulamentar a entrada de produtos

estrangeiros, o que protege o desenvolvimento de uma atividade econômica, uma

região geográfica, etc. (GARBER, 2001). Além disso, as regulações e padrões bem

delineados podem fornecer um forte indício para sustentar e guiar atividades

inovadoras. Eles afetam o acesso à informação, os direitos de propriedade,

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encargos tributários e administrativos (em particular para empresas pequenas) e

padrões ambientais (OECD; EUROSTAT, 1997).

Com relação ao setor, a identificação do principal meio de competição no

mercado, a compreensão do papel dos concorrentes e a relação entre os mesmos e

entre seus clientes e fornecedores proveem informações úteis sobre tendências e

problemas potenciais para as organizações. Informações sobre tecnologia também

são necessárias, uma vez que a emergência de novas tecnologias pode impactar de

forma significativa o negócio da empresa e o processo produtivo. É importante,

então, que sejam monitoradas as mudanças em tecnologia, particularmente aquelas

que influenciam diretamente a eficiência do negócio, as mudanças no processo

produtivo, na infraestrutura, e as mudanças que determinam novos produtos ou

serviços (ALBRIGTH, 2004). Os processos de inovação diferem muito de setor para

setor em termos de desenvolvimento, taxa de mudança tecnológica, interações e

acesso ao conhecimento, assim como em termos de estruturas organizacionais e

fatores institucionais. Alguns setores são caracterizados por rápidas mudanças e

inovações radicais, enquanto outros se caracterizam por mudanças menores e

incrementais (OECD; EUROSTAT, 1997).

Em setores de alta tecnologia, a atividade de P&D tem papel central nas

atividades de inovação, enquanto outros setores se fiam na adoção de

conhecimento e tecnologia. Diferenças na atividade de inovação entre setores (por

exemplo, se as inovações são principalmente incrementais ou radicais) também

levam a diferentes demandas na estrutura organizacional das empresas (OECD;

EUROSTAT, 1997).

Com relação aos consumidores, esses são peça importante do mecanismo de

marketing. A empresa deve quantificá-los, entender suas necessidades,

disponibilizar produtos e serviços distribuídos por meio dos melhores canais para

conquistá-los, satisfazê-los e retê-los (GARBER, 2001). Os consumidores

representam os fatores de demanda, os quais conformam a atividade de inovação

em vários aspectos. A demanda afeta o desenvolvimento de novos produtos, uma

vez que as empresas os modificam e diferenciam para aumentar suas vendas e seu

market share. Os fatores de demanda podem também forçar as empresas a

melhorar processos de produção e de abastecimento com o objetivo de reduzir

custos e preços. Em muitos casos, eles são também o principal condutor da

inovação. Empresas costumam despender recursos substanciais para pesquisar a

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demanda, e podem adotar medidas de marketing para influenciar ou criar demanda

para seus produtos. Fatores de mercado determinam o sucesso comercial de

tecnologias e produtos específicos, e afetam a trajetória de mudança tecnológica.

Eles também definem se as empresas inovam ou não: se elas não acreditam que

haja demanda suficiente para novos produtos no mercado, podem decidir não inovar

ou adiar as atividades de inovação (OECD; EUROSTAT, 1997).

Os fornecedores impactam o processo de inovação, uma vez que pode haver

inovação cooperativa ao longo das cadeias de fornecimento, com o envolvimento de

fornecedores no desenvolvimento conjunto de novos produtos, processos ou outras

inovações (OECD; EUROSTAT, 1997).

Finalmente, informações sobre a concorrência também podem afetar o

processo de inovação. Em um ambiente competitivo, as regras são definidas pelas

leis de mercado e os consumidores escolhem livremente seus fornecedores, o que

leva à necessidade de se conhecer ao máximo o comportamento dos concorrentes.

Dentre essas informações estão as características dos produtos fornecidos por cada

fabricante, seus pontos fortes e fracos; a rede de distribuidores de cada fabricante;

notícias vinculadas na mídia sobre cada distribuidor, fabricante ou produto; preços;

principais parceiros comerciais dos concorrentes; volume de novos lançamentos de

produtos dos concorrentes e sua imagem na mídia (GARBER, 2001).

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Fator: Ambiente externo

Dimensão Indicador

Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

Suporte das políticas pelo governo local

Macroambiente

Aquisição de subsídios financeiros nacionais

Influência dos consumidores

Influência dos fornecedores

Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

Desenvolvimento tecnológico do setor

Estratégia dos concorrentes Ambiente do setor

Foco em informação competitiva

Quadro 3 : Indicadores dos fatores de influência do ambiente externo Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008) O segundo fator identificado por Chen, He e Jin (2008) é a administração

superior da empresa. A equipe da administração superior tem influência direta no

alinhamento da estratégia tecnológica e de negócios, uma vez que é responsável

pela definição e implantação das estratégias. Ela exerce impacto positivo, direto e de

longo prazo na detecção, desenvolvimento e organização de novas tecnologias na

empresa. Empresas nas quais a administração superior tem foco no futuro e no

ambiente externo são mais ágeis para detectar oportunidades de novas tecnologias

e são melhores para desenvolver produtos baseados nessas oportunidades. Suas

escolhas referentes ao foco da empresa implicam na alocação dos recursos; a

comunicação e ações refletem seu foco de atenção e guiam a cultura e as atividades

da empresa (YADAV; PRABHU; CHANDY, 2007).

Assim, a capacidade de controle e liderança, além do background

tecnológico, a preferência tecnológica, a participação nas atividades tecnológicas e a

diversidade da equipe da administração superior interferem no alinhamento (CHEN;

HE; JIN, 2008). A diversidade da equipe e o background facilitam o aprendizado e o

entendimento do processo tecnológico e, consequentemente, a capacidade de

inovação. A diversidade faz com que pessoas com diferentes conhecimentos

interajam e compartilhem experiências, aumentando a capacidade de geração de

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ideias e associações para a inovação (COHEN, 1990). Além disso, uma

administração superior com forte cultura de trabalho em equipe e que concentra

seus esforços em tecnologias consegue disseminar o entendimento do negócio e a

coesão organizacional (MAIDIQUE; HAYES, 1984). O papel da administração

superior é garantir a busca da estratégia pretendida a partir de mecanismos

administrativos e culturais que unam iniciativas estratégicas do nível operacional

com a estratégia desejada (BURGELMAN, 1991).

Fator: Administração superior

Dimensão Indicador

Experiência da administração superior em projetos tecnológicos

Experiência da administração superior em gerenciamento tecnológico

Background tecnológico

Status do executivo tecnológico na equipe de gerenciamento

Visão da administração superior em explorar mercados através de tecnologias

Preferência tecnológica

Foco da administração superior no status tecnológico da empresa

Pessoa chave responsável pela implantação da estratégia tecnológica na alta gestão

Participação em atividades específicas de P&D

Grau de participação e influência nas atividades tecnológicas

Comunicação periódica entre administração superior e equipe de P&D

Estilo de trabalho da administração superior

Background profissional da equipe da administração superior

Diversidade na equipe

Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

Quadro 4: Indicadores dos fatores de influência da administração superior Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

O terceiro fator identificado refere-se aos recursos tecnológicos disponíveis. A

disponibilidade dos recursos e a habilidade de aquisição de recursos tecnológicos

influenciam diretamente a implantação da estratégia e, consequentemente, o

alinhamento da estratégia tecnológica com a de negócio. Os recursos tecnológicos

podem ser provenientes de fontes internas ou externas. As fontes internas se

constituem a partir do laboratório de P&D da empresa, cujos recursos tecnológicos

podem ser avaliados a partir da capacidade do P&D e da capacidade de

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comunicação tecnológica interna (CHEN; HE; JIN, 2008). A capacidade interna de

P&D pode ser avaliada a partir do tempo de colocação dos produtos no mercado,

porcentagem de vendas com novos produtos e redução de custos de produção.

Pode-se também avaliar a capacidade de P&D pelo nível de performance de

projetos, tais como o alcance dos objetivos, o cumprimento do orçamento, dos

prazos e das especificações técnicas (ROBERTS, 1995).

As capacidades de P&D são reconhecidas como uma das características

primárias que ajudam a diferenciar as empresas bem sucedidas. A função principal

de P&D é gerar novo conhecimento a partir da recombinação de conhecimento já

existente. Essa recombinação de conhecimento pode se dar nos limites internos e

externos da empresa. Diferentes escolhas do uso dessa recombinação podem levar

a diferentes capacidades tecnológicas e, consequentemente, a diferentes

performances. A capacidade tecnológica pode ser definida como a especialização

ou concentração das atividades da empresa em determinadas áreas, que representa

a habilidade da empresa para realizar atividades específicas (NERKAR;

PARUCHURI, 2005).

Outro fator que influencia a capacidade de P&D interna são os recursos

humanos. Muitos conhecimentos sobre inovação estão incorporados nas pessoas e

suas habilidades, e habilidades apropriadas são necessárias para o uso inteligente

das fontes de conhecimento externas ou codificadas. O papel do capital humano na

inovação é importante tanto para a empresa quanto em nível agregado. Nesse

sentido, a qualidade do sistema educacional e como ele integra as necessidades

das empresas inovadoras e de outras organizações, assim como os esforços que as

firmas fazem para investir no capital humano de seus empregados são fatores que

podem influenciar a capacidade de inovação (OECD; EUROSTAT, 1997).

A comunicação tecnológica interna é também importante para a gestão dos

conhecimentos adquiridos. As decisões sobre como usar e compartilhar os

conhecimentos existentes e como obter novos conhecimentos são fundamentais

para a operação das empresas, podendo melhorar a competitividade e a capacidade

inovadora (OECD; EUROSTAT, 1997).

A gestão do conhecimento envolve atividades relativas à apreensão, ao uso e

ao compartilhamento de conhecimentos pela organização. Ela envolve a gestão das

interações externas e dos fluxos de conhecimento no interior da empresa, incluindo

métodos e procedimentos de busca de conhecimento externo e o estabelecimento

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de relacionamentos mais estreitos com outras empresas (fornecedores,

concorrentes), consumidores ou instituições de pesquisa. Além das práticas de

obtenção de novos conhecimentos, a gestão do conhecimento envolve métodos

para o compartilhamento e o uso dos conhecimentos, incluindo a implantação de

sistemas de valores para o compartilhamento do conhecimento e práticas para a

codificação de rotinas (OECD; EUROSTAT, 1997).

Já os recursos tecnológicos externos são aqueles obtidos de fontes externas

à organização, por meio, por exemplo, de parcerias e cooperação com outras

empresas, com universidades e instituições de pesquisa, e também com a compra

de patentes tecnológicas (CHEN; HE; JIN, 2008). As fontes de inovação não

residem exclusivamente dentro das empresas. Ao contrário, elas são comumente

encontradas no interstício entre empresas, universidades, laboratórios de pesquisa,

fornecedores e clientes (POWELL et al., apud HARDY et al., 2003).

A inovação cooperativa permite que empresas tenham acesso ao

conhecimento e à tecnologia que não estariam aptas a utilizar sozinhas. Há também

um grande potencial para sinergias na cooperação, pois os parceiros aprendem uns

com os outros e, além disso, o compartilhamento de informações tecnológicas pode

intensificar as inovações (OECD; EUROSTAT, 1997; ARMOUR; TEECE, 1980). As

estruturas hierárquicas organizacionais nem sempre são flexíveis o suficiente para

assegurar o acesso às competências tecnológicas necessárias, e as empresas

devem estender suas fronteiras tradicionais (SCHIFRIN, 2001). Ao estender as

fronteiras da inovação com vendedores, consumidores e até mesmo competidores,

as empresas aumentam a importação e exportação de novas ideias, melhorando a

velocidade, custos e qualidade das inovações (ARMOUR; TEECE, 1980).

Além disso, o estabelecimento de parcerias externas pode oferecer às

empresas fortes recursos quando surgem situações não previstas e que requerem

rápidas competências, ou quando é necessário que diferentes fontes de inovações

sejam unidas para produzir uma ideia promissora para o mercado (RIGBY; ZOOK,

2002). A colaboração entre organizações resulta no compartilhamento de recursos

críticos e facilita a transferência de conhecimento já existente, assim como a criação

de novos conhecimentos, permitindo que as organizações adquiram recursos e

habilidades que não são capazes de produzir internamente (HARDY et al., 2003). As

parcerias estabelecidas para pesquisa e/ou desenvolvimento de novos produtos ou

serviços podem resultar também em redução significativa dos custos de P&D,

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expansão das saídas de inovação e abertura de novos mercados, que de outra

forma seriam inacessíveis. O codesenvolvimento pode também aumentar o retorno

de P&D interno, pela alavancagem das capacidades da firma parceira

(CHESBROUGH; SCHWARTZ, 2007).

As redes de conhecimento externas podem ser informais ou formais. As

informais tendem a basear-se em contatos pessoais ou em “comunidades de

prática”, ou simplesmente surgem no curso normal dos negócios. As redes formais

ou coordenadas podem ser orientadas por organizações de negócio como as

câmaras de comércio, associações de pesquisa, companhias de serviços

tecnológicos, consultores, universidades, organizações públicas de pesquisa ou

patrocinadas por recursos de governos locais, regionais ou centrais (OECD;

EUROSTAT, 1997).

Têm-se também as fontes de informação abertas, que oferecem acesso ao

conhecimento sem a necessidade de pagamento para obtê-lo. Algumas fontes

abertas, como a participação em feiras e exposições, podem possibilitar contato com

conhecimentos tácitos por meio de interações pessoais com outros participantes

(OECD; EUROSTAT, 1997).

A aquisição de conhecimentos e tecnologias envolve sua compra externa sem

cooperação ativa com a fonte. Esse conhecimento externo pode estar materializado

em máquinas ou equipamentos que o incorporam, pode ser introduzido pela

contratação de empregados, ou com o uso de pesquisas contratadas e de serviços

de consultoria. A tecnologia ou o conhecimento desincorporados também incluem

outras formas de know-how, patentes, licenças, marcas registradas e softwares

(OECD; EUROSTAT, 1997).

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Fator: Aquisição de recursos tecnológicos

Dimensão Indicador

Comunicação tecnológica interna Recursos internos

Capacidade interna de P&D

Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

Compra de patentes tecnológicas externas

Comunicação tecnológica entre o setor

Recursos externos

Cooperação tecnológica com outras empresas

Quadro 5: Indicadores dos fatores de influência dos recursos tecnológicos Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

Finalmente, o quarto fator apontado é a habilidade de convergência

organizacional, que pode ser definida em termos da estrutura organizacional

estabelecida na empresa. Políticas organizacionais específicas para P&D e aspectos

relacionados ao status da equipe de P&D, participação da equipe de P&D no

desenvolvimento da estratégia, e a comunicação entre os departamentos da

empresa afetam o desenvolvimento da estratégia tecnológica e, consequentemente

o alinhamento com a estratégia de negócios (CHEN; HE; JIN, 2008). A estrutura

organizacional de uma empresa pode afetar a eficiência das atividades de inovação,

sendo algumas estruturas mais apropriadas a determinados ambientes. Por

exemplo, um grau maior de integração organizacional pode melhorar a coordenação,

o planejamento e a implantação de estratégias de inovação. A integração

organizacional pode funcionar particularmente bem em fábricas caracterizadas por

mudanças incrementais em conhecimento e em tecnologia. Uma forma de

organização mais livre e flexível, que permite aos trabalhadores maior autonomia

para tomar decisões e definir suas responsabilidades, pode ser mais efetiva na

geração de inovações mais radicais (OECD; EUROSTAT, 1997).

Segundo Cohen (1990), uma estrutura organizacional que facilite e encoraje o

fluxo de informações eficiente entre os departamentos, e garanta a comunicação

efetiva entre as pessoas com background e conhecimentos diversificados

contribuem para a inovação. O estabelecimento de um relacionamento próximo e

cooperativo entre os laboratórios de pesquisa e as funções de marketing, por

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exemplo, é essencial para o sucesso de novos produtos (COHEN, 1990). Para o

alcance dos objetivos tecnológicos é necessário um diálogo entre pessoas de

departamentos diversos, criando um entendimento mútuo acerca das necessidades

requeridas para atingir os objetivos (ARMOUR; TEECE, 1980).

Nesse sentido, a coesão organizacional é um fator chave para o

desenvolvimento de tecnologias (CHEN; HE; JIN, 2008), devendo existir uma

cooperação entre os departamentos para que ocorra a tradução eficiente de novas

ideias em novos produtos e processos (MAIDIQUE; HAYES, 1984). As pessoas das

áreas de desenvolvimento de produtos, marketing e manufatura devem colaborar em

uma causa comum, e não competir entre si, como comumente ocorre. Assim,

políticas mal elaboradas, que podem elevar uma dessas funções em relação à outra,

em termos de prestígio e recompensas, por exemplo, podem prejudicar a atmosfera

de colaboração e cooperação (MAIDIQUE; HAYES, 1984).

Além disso, o status da equipe de P&D e políticas organizacionais e de

recursos humanos específicos contribuem para a convergência organizacional

(CHEN; HE; JIN, 2008). Emprego de longo prazo e treinamento intensivo, por

exemplo, são mecanismos de integração importantes. Gestores e tecnologistas

costumam desenvolver relações de trabalho mais satisfatórias quando eles sabem

que precisam um do outro por um longo período de trabalho. Além disso, sua

lealdade e comprometimento aumentam quando sabem que a empresa investe

continuamente em suas capacidades (MAIDIQUE; HAYES, 1984).

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Fator: Habilidade de convergência organizacional

Dimensão Indicador

Nível salarial do pessoal de P&D

Voz do pessoal de tecnologia

Status do pessoal de P&D

Status do departamento de P&D na empresa

Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

Grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Comunicação e cooperação entre os departamentos

Comunicação entre os gerentes dos departamentos

Quadro 6: Indicadores dos fatores de influência da convergência organizacional Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

Além da definição dos indicadores relacionados aos fatores que influenciam o

alinhamento entre estratégia tecnológica e estratégia de negócio, Chen, He e Jin

(2008) definiram os indicadores para aferir o grau de alinhamento das estratégias,

apresentados mais adiante no Quadro 7. Foram definidas três dimensões de análise

do grau de alinhamento: atitude tecnológica, desenvolvimento de novos produtos e

inovação em processos.

A dimensão postura tecnológica agressiva se refere à preferência e à

propensão da empresa para usar a tecnologia de forma proativa para se posicionar

e construir a reputação de ser a primeira a introduzir novos métodos e tecnologias. A

dimensão desenvolvimento de novos produtos se refere à intensidade das atividades

de pesquisa e desenvolvimento e a taxa de introdução de novos produtos no

mercado. Já a dimensão inovação e automação de processos relaciona-se com o

nível de automação das fábricas, com a adoção de avançadas tecnologias na

produção, e com a alocação de capital em novos equipamentos e maquinários.

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Grau de alinhamento

Dimensão Indicador

Posição tecnológica no setor Atitude tecnológica

Status da tecnologia na empresa

Velocidade de entrada em novos mercados

Velocidade de lançamento de novos produtos

Desenvolvimento de novos produtos

Quantidade de novos produtos

Automação dos equipamentos de produção

Avanço tecnológico do processo

Inovação em processos

Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

Quadro 7: Indicadores do grau de alinhamento entre estratégia tecnológica e de negócio Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

De posse da análise dos resultados da pesquisa, Chen, He e Jin (2008)

chegaram às seguintes conclusões para explicar os fatores que influenciam o

alinhamento entre estratégia tecnológica e estratégia de negócio:

• Conclusão 1 – O fator ambiental tem correlação positiva com o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio, uma

vez que fatores favoráveis no ambiente externo da organização podem

encorajar a empresa a aplicar atitudes tecnológicas ativas e aumentar o

grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios.

• Conclusão 2 – O fator ambiental tem correlação positiva com a aquisição

de recursos tecnológicos, uma vez que o suporte eficiente dos fatores do

ambiente externo da organização pode aumentar a sua habilidade de

aquisição de recursos tecnológicos.

• Conclusão 3 – O fator da administração superior tem correlação positiva

com a aquisição de recursos tecnológicos, uma vez que o suporte eficiente

da administração superior da empresa pode reforçar a sua capacidade de

adquirir recursos tecnológicos.

• Conclusão 4 – O fator da administração superior tem correlação positiva

com a habilidade de convergência organizacional, uma vez que a atitude

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positiva e ação da administração superior podem aumentar a habilidade de

convergência interna.

• Conclusão 5 – A aquisição de recursos tecnológicos tem correlação

positiva com o grau de alinhamento, uma vez que o aumento da habilidade

de aquisição de recursos tecnológicos pode acelerar o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios da empresa.

• Conclusão 6 – A habilidade de convergência organizacional tem

correlação positiva com o grau de alinhamento, uma vez que o aumento

da convergência interna da organização pode acelerar o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios.

• Conclusão 7 – O fator da administração superior tem uma correlação

positiva com o alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios

da empresa.

Chen, He e Jin (2008) conceberam, então, o seguinte modelo para explicar os

fatores que influenciam o grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e a

estratégia de negócio de uma empresa:

Figura 1: Fatores que influenciam o alinhamento ent re estratégia tecnológica e estratégia de negócio Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

O modelo proposto permite aos autores discutir os mecanismos de influência

dos fatores ambientais, da administração superior, dos recursos tecnológicos e da

habilidade de convergência organizacional no alinhamento entre a estratégia

tecnológica e estratégia de negócio.

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Com relação à Conclusão 1, os autores concluem que os fatores ambientais

afetam positivamente o grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e

estratégia de negócios da empresa. As políticas dos governos central e regionais,

por exemplo, podem encorajar a organização a aplicar atitudes tecnológicas

positivas, reforçar as atividades de inovação do processo de produção, e fazer com

que a estratégia tecnológica se ajuste à estratégia da corporação. Além disso, o

desenvolvimento tecnológico do setor e a influência de consumidores e fornecedores

também são direcionam o processo de inovação e de desenvolvimento de novos

produtos, podendo contribuir para o alinhamento entre as estratégias.

Com a Conclusão 2 afirmam que os fatores ambientais também afetam a

aquisição de recursos tecnológicos e, dessa forma, o grau de alinhamento entre a

estratégia tecnológica e de negócios. A disponibilidade de recursos tecnológicos no

ambiente pode estimular o desenvolvimento de projetos com recursos

governamentais, por exemplo, enriquecendo os recursos tecnológicos externos da

organização. Os fatores ambientais podem também ajudar a empresa a entender e

adquirir inteligência tecnológica, assim como convertê-las em recursos tecnológicos

úteis e, dessa forma aumentar o grau de alinhamento entre as estratégias.

A Conclusão 3 sugere que fatores relacionados à administração superior,

como o background tecnológico, a visão para explorar o mercado por meio da

tecnologia e o grau de participação na definição da estratégia tecnológica afetam a

aquisição de recursos tecnológicos e, assim, o grau de alinhamento entre as

estratégias. O background tecnológico da administração superior, por exemplo,

influencia a eficiência interna de P&D devido a sua capacidade para análise

tecnológica do setor e forecast. Além disso, a equipe da administração superior é

mais ávida para estabelecer cooperação com universidades, institutos de pesquisa e

outros tipos de corporação em termos de desenvolvimento tecnológico. A visão forte

e a participação ativa da administração superior encorajam significativamente as

atividades internas de P&D, estimulando a busca de recursos tecnológicos externos.

A Conclusão 4 identifica que ações da administração superior afetam a

habilidade de convergência organizacional, influenciando, assim, o grau de

alinhamento entre as estratégias tecnológica e de negócio. A administração superior

pode, por exemplo, coordenar favoravelmente a comunicação eficaz entre as

equipes de marketing e de tecnologia, assegurando que as atividades de P&D se

encaixem na estratégia de negócio, com forte embasamento e direcionamento.

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Com a Conclusão 5, os autores afirmam que a aquisição de recursos

tecnológicos tem uma influência ativa no alinhamento entre a estratégia tecnológica

e estratégia de negócios. As principais tecnologias de empresas de base tecnológica

são de P&D interno, e os recursos tecnológicos externos influenciam o

desenvolvimento de novos produtos e o processo de inovação. Além disso, com o

desenvolvimento da economia global, essa influência se torna cada vez mais óbvia.

Várias organizações baseadas em P&D fazem bom uso de recursos de

universidades para aprimorar sua habilidade de P&D.

Já a Conclusão 6 define que a habilidade de convergência organizacional tem

uma influência ativa no alinhamento entre a estratégia tecnológica e estratégia de

negócios como, por exemplo, a participação da equipe de P&D no desenvolvimento

da estratégia tecnológica e de negócio, e a comunicação entre o pessoal de P&D e

marketing. Para as empresas de base tecnológica, se a equipe de P&D entende

claramente as tarefas e conhece as direções de desenvolvimento da empresa, ela

se tem mais chance de se comprometer com os objetivos da empresa. O

entendimento mútuo entre as equipes de marketing e P&D favorece o correto

direcionamento de P&D e as atitudes tecnológicas ativas. Assim, a comunicação

entre esses departamentos possui influência ativa no alinhamento.

Finalmente, a Conclusão 7 reitera que a administração superior influencia

diretamente o alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios. A

diversidade na administração superior, por exemplo, leva à diversidade de visões na

tomada de decisões e pode melhorar a qualidade das decisões. A diversidade na

administração superior também permite que a organização formule estratégias

baseadas tanto em aspectos tecnológicos como não tecnológicos, que asseguram o

alinhamento entre as estratégias a partir de uma visão mais ampla.

Assim, o modelo proposto por Chen, He e Jin (2008) para discutir os fatores

chave que influenciam no alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia

de negócios, e os mecanismos envolvidos, provêm sugestões empíricas importantes

para se aprofundar a compreensão do alinhamento entre as estratégias.

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59

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Estratégia e método de pesquisa

Com o objetivo de avaliar o potencial explicativo do modelo de Chen, He e Jin

(2008) sobre os fatores que influenciam o alinhamento entre a estratégia tecnológica

e a estratégia de negócio, escolheu-se como método de pesquisa o estudo de caso,

de natureza qualitativa.

O estudo de caso se caracteriza como um método de pesquisa cujo objeto é

uma unidade que se analisa profundamente, podendo esta ser um ambiente, um

simples sujeito ou uma situação particular. Estudos de caso são a estratégia mais

adequada de se adotar quando os pesquisadores procuram responder a “como” e

“por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle

sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais,

que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real. No estudo de

caso, o pesquisador geralmente utiliza uma variedade de dados em diferentes

momentos, obtidos por meio de variadas fontes de informação (GODOY, 1995;

HALINEN; TÖRNROOS, 2003; DUBOIS; GADDE, 2002). O estudo de caso é uma

estratégia de pesquisa que permite focar o entendimento da dinâmica de um

determinado cenário, a partir da coleta de dados por meio de vários métodos,

incluindo arquivos, entrevistas, questionários e observações. Ele pode ser usado

com diversos propósitos, tais como descrever ou explicar uma situação, explorar um

objeto ou fenômeno e testar ou gerar teorias (EISENHARDT, 1989). Pode ser

explanatório ou descritivo, permitindo conhecer um tema complexo ou reforçar algo

que já foi conhecido por meio de pesquisa anterior (YIN, 1994).

O estudo de caso tem diversas vantagens como, por exemplo, permitir ao

pesquisador gerar novas teorias, relevantes e de utilidade prática; é adequado para

fazer inferências em relações causais, uma vez que permite a observação de

determinada unidade por um longo período (NUMAGAMI, 1998). Ele é também

particularmente importante para avaliar novas situações, quando se conhece pouco

acerca do fenômeno, e situações nas quais as teorias disponíveis não são capazes

de explicar o fenômeno estudado (HALINEN; TÖRNROOS, 2003).

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60

Os estudos qualitativos envolvem a obtenção de dados descritivos sobre

pessoas, lugares e processos interativos, procurando compreender os fenômenos

segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em

estudo (GODOY, 1995; NUMAGAMI, 1998). Essa estratégia de pesquisa permite o

entendimento do fenômeno em contexto, utilizando múltiplas fontes de evidências,

de maneira detalhada e em profundidade (EISENHARDT, 1989; YIN, 1994).

A pesquisa de natureza qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta

de dados, e o pesquisador como seu instrumento fundamental. Nessa abordagem,

valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e com a

situação que está sendo estudada. A pesquisa é de caráter descritivo, e o ambiente

e as pessoas nele inseridas são olhados holisticamente. Assim, a pesquisa

qualitativa possibilita explorar em profundidade o impacto das variáveis estudadas a

partir da aproximação do pesquisador com o fenômeno estudado, permitindo a

compreensão de dados latentes (GODOY, 1995; BONOMA, 1985; MILLES;

HUBERMAN, 1994). Os dados qualitativos permitem a compreensão de significados

compartilhados pelos participantes da pesquisa, e esboçam critérios que não

poderiam ser desenvolvidos com dados quantitativos apenas (NUMAGAMI, 1998).

De maneira geral, e conforme apontado anteriormente, a literatura sobre a

relação entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio tem contribuído

pouco para a compreensão holística de como os fatores externos e internos à

organização afetam o alinhamento entre a tecnologia e a estratégia de negócio

(ZAHRA; COVIN, 1993; CHEN; HE; JIN, 2008). Assim, a escolha do método de

estudo de caso para avaliar o modelo de Chen, He e Jin (2008) permite ampliar o

entendimento do fenômeno, contribuindo para o desenvolvimento de uma teoria que

integra reflexões de diferentes estudos, e para a identificação de elementos

envolvidos no processo e que não são acessíveis por meio de métodos quantitativos

tradicionais (HARDY et al., 2003).

Dessa forma, em função da natureza do problema investigado, e sendo ele

pouco conhecido, pode-se dizer que o método de estudo de caso e a abordagem

qualitativa são os mais adequados. Ainda, a abordagem se mostra também

apropriada considerando que o objetivo principal desta pesquisa é o entendimento

do fenômeno como um todo, na sua complexidade, e a compreensão da teia de

relações sociais e culturais que se estabelecem no interior de organizações acerca

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61

do mesmo, buscando explorar em profundidade e compreender os fatores que

interferem no alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio.

3.2 Unidade empírica de análise

Para a realização desta pesquisa, optou-se tomar uma organização como

unidade empírica de análise do estudo de caso, selecionando-se uma empresa na

qual o alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio é

fundamental para a manutenção da sua vantagem competitiva. Nesses termos, a

seleção da unidade de pesquisa tomou por base o tópico central de pesquisa e as

questões propostas (PETTIGREW, 1990).

A empresa escolhida pertence ao setor de biotecnologia, caracterizado por

fazer uso intensivo da tecnologia, e por passar por diversas mudanças e evoluções

tecnológicas, principalmente no atual contexto brasileiro. Assim, empresas desse

setor tornam-se objetos importantes para a gestão estratégica da tecnologia

(RESENDE, 2005; FERRER et al., 2004; FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007). Tendo

como referência a Nature Biotechnology , a Fundação Biominas (2007) define:

(...) uma empresa de biotecnologia é aquela que tem como atividade comercial principal a aplicação tecnológica que utilize organismos vivos, sistemas ou processos biológicos, na pesquisa e desenvolvimento, na manufatura ou na previsão de serviços especializados. (NATURE BIOTECHNOLOGY apud FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007, p.7)

A indústria de biotecnologia nasceu há muitos anos nos Estados Unidos,

havendo atualmente um grande interesse mundial no setor. Sua aplicação industrial

multidisciplinar oferece potencial para resolver muitos dos problemas da sociedade

moderna, como maior produtividade em agricultura, degradação ambiental,

combustíveis e saúde humana e animal (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007).

Estudo realizado pela Fundação Biominas em 2007 identificou 71 empresas

de biotecnologia no Brasil, a maioria delas empresas jovens, o que sugere grande

crescimento do setor. Minas Gerais (29,6%) e São Paulo (42,3%) são as unidades

da Federação que concentram a maior parte delas. Belo Horizonte e microrregião

(15,5%) aparecem como o local que abriga o maior número de empresas do país.

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62

O setor de biotecnologia tem natureza multidisciplinar e envolve um conjunto

de tecnologias, divididos nas grandes áreas de saúde humana e animal, agricultura,

meio ambiente e alimentícia (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007). O Gráfico 1 mostra a

distribuição das empresas de biotecnologia do Brasil por setor de atividade.

Gráfico 1: Distribuição de empresas de biotecnologi a por setor de atividade (%)

Fonte: Biominas 2007

Dentre as diversas áreas de atuação da biotecnologia, destaca-se o setor de

saúde, no qual o Brasil é visto como tendo grande potencial de crescimento, e com a

possibilidade de construção de um sistema que reforce e contribua para o fluxo de

conhecimento e inovações (RESENDE, 2005; FERRER et al., 2004). O setor de

saúde humana compreende 16,9% das empresas de biotecnologia, conforme mostra

o Gráfico 1. Na categoria de empresas de saúde humana enquadram-se empresas

que desenvolvem/comercializam produtos ou serviços especializados voltados para

a saúde humana como kits de diagnóstico, vacinas, proteínas recombinantes,

anticorpos, materiais para próteses, próteses e dispositivos médicos especializados,

meios de cultura, produção de reagentes e antígenos, terapia celular, curativos e

peles artificiais, identificação de novas moléculas e fármacos, e biossensores

(FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2007).

A empresa selecionada tem como principal foco de negócios o

desenvolvimento, produção e comercialização de soluções para o mercado de

diagnóstico in vitro. A empresa foi fundada há mais de 35 anos, e atua em todo o

território nacional, além de exportar seus produtos para alguns países da América

Latina. A tecnologia pode ser considerada um dos pontos mais importantes da

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estratégia global da empresa, estando presente principalmente no processo de

pesquisa e desenvolvimento de produtos.

3.3 Estratégia de coleta de dados

As fontes de evidências principais em um estudo de caso incluem entrevistas,

documentos, arquivos e observação (YIN, 1994; HALINEN; TÖRNROOS, 2003;

DUBOIS; GADDE, 2002). Nesta pesquisa, as técnicas de coleta de dados foram a

entrevista em profundidade, a observação, bem como a análise de documentos.

Fontes múltiplas de evidências, como as utilizadas neste estudo, permitem ao

investigador tratar extensivamente de questões históricas, atitudinais e

comportamentais (YIN, 1994). O potencial das conclusões se torna mais convincente

e confiável com o uso de múltiplas evidências, ou seja, de diferentes fontes de

informação. Essa combinação de fontes diversas de evidência é comumente

chamada de triangulação e oferece, então, maior potencial de complementaridade

de dados e maior confiabilidade (JICK, 1979; DUBOIS; GADDE, 2002).

O primeiro instrumento, a entrevista em profundidade tem como objetivo

estabelecer ou identificar as perspectivas ou pontos de vista sobre fatos, buscando

compreender detalhadamente as crenças, atitudes, valores e motivações dos

comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos (FARR, 1982). Ela é

realizada a partir de um roteiro inicial, ou tópico guia (BAUER; GASKELL, 2002),

elaborado com flexibilidade suficiente para que, a partir das respostas dos

entrevistados, questões possam ser acrescentadas ou eliminadas (GODOY, 1995).

Mantém para isso a documentação metodológica de todas as mudanças detalhando-

as, posteriormente, no relatório de pesquisa (BAUER; GASKELL, 2002).

Assim, no presente estudo, foi elaborado um roteiro de entrevista baseado

nos indicadores e conclusões do modelo de Chen, He e Jin (2008) (Apêndice A). A

primeira entrevista teve por objetivo a validação do roteiro, tendo sido realizada com

a Gerente de Qualidade da empresa. Foram avaliadas questões como a duração da

entrevista, o entendimento das questões, e o tipo de respostas obtidas. Foi

selecionada para a entrevista de validação uma pessoa cuja função lhe conferisse

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64

conhecimento das questões abordadas na entrevista. Após essa entrevista foram

feitos ajustes nas perguntas para facilitar o entendimento das mesmas.

Foi elaborado também um glossário com os principais termos abordados na

entrevista, utilizando as definições correntes na literatura (Apêndice B). O objetivo do

glossário foi uniformizar o entendimento das perguntas entre os entrevistados.

Após a validação do roteiro, foram realizadas entrevistas com outros

membros da organização. A escolha dos entrevistados foi feita com base na análise

do organograma e descrição de cargos da empresa estudada. Os profissionais

foram selecionados de acordo com dois critérios: i) aqueles que participam do

processo de definição da estratégia tecnológica e de negócio, fazendo parte do nível

da administração superior; e ii) aqueles que exercem as ações definidas no plano

estratégico, sendo esses de nível gerencial. Assim, foram selecionados os seguintes

membros da organização: presidente, diretor de inovação e tecnologia, gerente de

produtos, gerente de desenvolvimento organizacional (responsável pelas áreas de

recursos humanos e marketing), coordenadora de pesquisa e desenvolvimento, e

coordenadora de vendas. O critério utilizado para definir o número de entrevistas foi

o de saturação do sentido, isto é, o número de entrevistas foi considerado suficiente

quando os dados começaram a se repetir, o que sugeria que o acréscimo marginal

de informações tornava-se mínimo com o prosseguimento de novas entrevistas.

(BAUER; GASKELL, 2002; EISENHARDT, 1989).

As entrevistas foram gravadas, com autorização dos entrevistados, e

posteriormente transcritas. Do total de sete entrevistas realizadas, foram gravadas

aproximadamente 5 horas e 10 minutos, e transcritas 34 páginas.

Ordem Entrevista

1 Gerente de Qualidade

2 Presidente

3 Diretor de inovação e tecnologia

4 Gerente de produtos

5 Gerente desenvolvimento organizacional

6 Coordenadora de pesquisa e desenvolvimento

7 Coordenadora de vendas

Quadro 8: Relação de entrevistas realizadas Fonte: Desenho da pesquisa

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65

O segundo instrumento utilizado foi a observação. Essa técnica tem como

objetivo apreender aparências, eventos e/ou comportamentos que podem não ser

passíveis de captura com outros instrumentos (GODOY, 1995), dando a

oportunidade de se estudar diferentes aspectos relacionados ao fenômeno

pesquisado (HALINEN; TÖRNROOS, 2003). A observação de eventos que estão

além do controle do pesquisador contribui com dados que provavelmente não

surgiriam de outra forma. Novas questões podem ser geradas, a partir das quais

novas entrevistas podem ser feitas. Além disso, observações adicionam novas

dimensões para o sujeito, o que eventualmente pode resultar em uma nova visão do

fenômeno (DUBOIS; GADDE, 2002). A observação foi feita com base nos objetivos

da pesquisa (GODOY, 1995), registrando-se as ocorrências relacionadas ao estudo.

O terceiro instrumento de coleta de dados foi a pesquisa documental. A

análise de documentos consiste em avaliar o conteúdo de documentos importantes

a respeito do tema pesquisado (GODOY, 1995). Os documentos são fontes

relevantes, uma vez que proveem fatos diretos, sem a interferência da percepção

dos sujeitos (PETTIGREW, 1990). A pesquisa documental foi feita a partir de

documentos e arquivos internos e externos à organização. As fontes internas

incluíram planos estratégicos, planos tecnológicos, projetos de desenvolvimento de

produtos, políticas organizacionais, e pesquisas de mercado. As fontes externas

compreenderam dados relacionados ao macro ambiente e ao setor de biotecnologia,

e incluiu a análise de órgãos e instituições públicas e privadas, assim como políticas

governamentais e outras ações de apoio à inovação tecnológica. Os Quadros 9 e

10, apresentados na página seguinte, trazem a lista dos documentos internos e

externos examinados.

Para a coleta dos dados do presente estudo, foi elaborado um protocolo de

pesquisa, a partir das categorias ligadas ao modelo de Chen, He e Jin (2008), com o

objetivo de orientar a coleta (DUBOIS; GADDE, 2002). Esse é apresentado no

apêndice C.

Assim, a utilização conjunta dessas três técnicas permitiu a triangulação, o

que enriquece e aumenta a confiabilidade do estudo de caso. Isso ocorre porque as

fragilidades de uma técnica podem ser compensadas pela outra, permitindo maior

confiabilidade dos resultados, além de possibilitar a comparação e a confirmação

dos dados obtidos e melhorar a explicação sobre o problema de pesquisa (JICK,

1979). Isto porque, enquanto os dados das entrevistas proveem percepções

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pessoais, profundas e tênues, os documentos proveem fatos diretos, mas estão

sujeitos à sobrevivência seletiva. Já a observação provê acesso a processos e pode

confrontar o pesquisador com discrepâncias entre o que as pessoas disseram nas

entrevistas e o que elas realmente fazem (PETTIGREW, 1990).

Ordem Documento Interno

1 Modelo Estratégico – Dezembro 2008 (Missão, Visão, Objetivos Estratégicos, Planos de Ações e Projetos)

2 Descritivo de Planos de Ação e Projetos – 2009

3 Painel de Indicadores de Desempenho – 2009

4 Organograma – 2009

5 Descrição de Cargos e Dicionário de Competências – 2009

6 Política de Remuneração e Benefícios – 2009

7 Relação de pessoal lotado nas áreas – 2009

8 Relatório Análise Pesquisa CBDL 2009

9 Relatório Pesquisa de Preços – Julho 2009

10 Relatório Dispêndios com P&D – 2008

Quadro 9: Relação de documentos internos analisados Fonte: Desenho da pesquisa

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Ordem Documento Externo

1 Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004

2 Lei nº 9.297, de 14.05.96

3 PL 3.476/04 - CD - Lei de Inovação

4 Lei nº 17.348, de 17 de janeiro de 2008

5 Decreto nº 5.563, de 11.10.2005

6 Decreto nº 6.041, de 8 de fevereiro de 2007

7 Estudo das Empresas de Biociências – Brasil 2009

8 Estudo de Empresas de Biotecnologia do Brasil – Fundação Biominas 2007

9 Pesquisa CBDL 2009

10 Os novos instrumentos de apoio à inovação: uma avaliação inicial – ANPEI 2009

11 Pesquisa de Inovação Tecnológica PINTEC/2008

12 Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC/2005

Quadro 10: Relação de documentos externos analisado s Fonte: Desenho da pesquisa

3.4 Estratégia de análise de dados

A etapa de análise de dados consiste na interpretação dos dados obtidos, de

forma a estabelecer a relação entre o objeto de estudo, os dados e as questões de

pesquisa (SOY, 2005). Essa etapa deve ser realizada de forma que ocorra alguma

sobreposição entre a coleta de dados e a análise dos mesmos, permitindo uma

coleta mais flexível e a construção das categorias de análise necessárias.

(EISENHARDT, 1989)

Os conceitos existentes na literatura devem ser usados de forma a criar uma

referência e funcionar como um guia para o trabalho empírico. A literatura também

ajuda a delinear as variáveis importantes, sugerir relações entre elas e direcionar

interpretações dos achados. Além disso, quando os pesquisadores estão lidando

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com a confirmação de teorias, a literatura permite que sejam identificadas pesquisas

anteriores na área, assim como identificar lacunas (DUBOIS; GADDE, 2002).

Para a análise dos dados do presente estudo, foram elaboradas matrizes de

análise, a partir das categorias ligadas ao modelo de Chen, He e Jin (2008), com o

objetivo de orientar as avaliações (DUBOIS; GADDE, 2002). Essas são

apresentadas nos apêndices D a G.

Primeiramente foram avaliados os indicadores do modelo, individualmente,

propostos para cada fator, a saber, ambiente externo, administração superior,

aquisição de recursos tecnológicos e habilidade de convergência organizacional.

Essa primeira análise teve como objetivo verificar como cada um dos indicadores do

modelo de Chen, He e Jin (2008) atuavam na empresa. Essa atuação foi

classificada em i) forte presença do indicador na empresa estudada, ii) média

presença do indicador na empresa estudada e iii) fraca presença do indicador na

empresa estudada e representada conforme a seguir.

+++ Forte presença do indicador na empresa estudada ++ Média presença do indicador na empresa estudada + Fraca presença do indicador na empresa estudada

Posteriormente foi feita a análise da influência de cada um dos fatores –

ambiente externo, administração superior, aquisição de recursos tecnológicos e

habilidade de convergência organizacional – no grau de alinhamento entre as

estratégias. Essa influência foi classificada em i) forte influência do indicador no grau

de alinhamento entre as estratégias, ii) média influência do indicador no grau de

alinhamento entre as estratégias e iii) fraca influência do indicador no grau de

alinhamento entre as estratégias, e representadas conforme a seguir.

↑ Forte influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias → Média influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias ↓ Baixa influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias

Posteriormente foi feita a análise do alinhamento entre a estratégia

tecnológica e de negócio da empresa, tendo como base os indicadores do grau de

alinhamento propostos no modelo para as dimensões atitude tecnológica,

desenvolvimento de novos produtos e inovação em processos, seguindo-se com a

avaliação da relação entre os fatores – ambiente externo, administração superior,

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aquisição de recursos tecnológicos e habilidade de convergência organizacional –,

sua influência no alinhamento da estratégia tecnológica e de negócio da empresa, e

os mecanismos envolvidos na interação dos fatores.

Finalmente, foi feita a análise da influência do grau de alinhamento entre as

estratégias tecnológica e de negócio com a capacidade de inovação da empresa.

O Quadro 11 a seguir identifica os fatores, dimensões e indicadores do

modelo utilizados para análise dos dados.

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Fator Dimensão Indicador

Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica Suporte das políticas pelo governo local

Macroambiente

Aquisição de subsídios financeiros nacionais Influência dos consumidores Influência dos fornecedores Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

Desenvolvimento tecnológico do setor Estratégia dos concorrentes A

mbi

ente

ext

erno

Ambiente do setor Foco em informação competitiva Experiência da administração superior em projetos tecnológicos Experiência da administração superior em gerenciamento tecnológico

Background tecnológico da administração superior

Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento Visão da administração superior em explorar mercados através de tecnologias

Preferência tecnológica da administração superior

Foco da administração superior no status tecnológico da empresa Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na administração superior Participação em atividades específicas de P&D

Grau de participação da administração superior e influência nas atividades tecnológicas Comunicação periódica entre a administração superior e a

equipe de P&D Estilo de trabalho da administração superior Background profissional da administração superior

Adm

inis

traç

ão S

uper

ior

Diversificação no time da administração superior

Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica Comunicação tecnológica interna Recursos internos Capacidade interna de P&D Cooperação com universidades e institutos de pesquisa Compra de patentes tecnológicas externas Comunicação tecnológica entre o setor

Aqu

isiç

ão d

e re

curs

os

tecn

ológ

icos

Recursos externos

Cooperação tecnológica com outras empresas Nível salarial do pessoal de P&D Voz do pessoal de tecnologia

Status do pessoal de P&D

Status do departamento de P&D na empresa Entendimento da estratégia tecnológica do pessoal de P&D Entendimento da estratégia de negócio do pessoal de P&D

Grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

Grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Hab

ilida

de d

e co

nver

gênc

ia

orga

niza

cion

al

Comunicação e cooperação entre os departamentos

Comunicação entre os gerentes dos departamentos Posição tecnológica no setor Atitude tecnológica Status da tecnologia na empresa Velocidade de entrada em novos mercados Velocidade de lançamento de novos produtos

Desenvolvimento de novos produtos

Quantidade de novos produtos Grau de automação dos equipamentos de produção Grau de avanço tecnológico do processo

Gra

u de

alin

ham

ento

Inovação em processos

Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

Quadro 11: Dimensões e indicadores do modelo para a nálise dos dados Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Fatores que influenciam o alinhamento entre a e stratégia tecnológica e a

estratégia de negócios

O modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere quatro fatores influenciadores do

alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócios: ambiente

externo, administração superior, aquisição de recursos tecnológicos e habilidade de

convergência organizacional. Cada fator é dividido em dimensões, e são propostos

indicadores para caracterizá-los. Cada fator, seus respectivos indicadores, e a forma

como os mesmos atuam na empresa estudada são tratados a seguir.

4.1.1 Ambiente externo

O modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere que o ambiente externo afeta

positivamente o alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de

negócios da empresa, uma vez que fatores favoráveis no ambiente externo da

organização podem encorajar a empresa a aplicar atitudes tecnológicas ativas e,

assim, aumentar o grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de

negócios. O ambiente no qual a organização está inserida inclui uma rede ampla e

complexa de agentes, como fornecedores, compradores, clientes, concorrentes e

órgãos governamentais, os quais podem influenciar diretamente as atividades

tecnológicas da empresa, contribuindo, então para o grau de alinhamento das

estratégias tecnológicas e de negócio.

O ambiente externo no modelo de Chen, He e Jin (2008) é composto das

dimensões macroambiente, ambiente tarefa e ambiente do setor. Cada uma dessas

dimensões do ambiente externo é avaliada a seguir.

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4.1.1.1 Macroambiente

Para o macroambiente, os indicadores propostos no modelo de Chen, He e

Jin (2008) são: políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica, suporte das

políticas pelo governo local e aquisição de subsídios financeiros.

Com relação às políticas de incentivo à inovação tecnológica, elas são

importantes no sentido em que podem criar mecanismos de apoio e facilitação de

atividades relacionadas à inovação tecnológica, tais como incentivos fiscais,

financiamentos de projetos, estabelecimento de cooperação entre instituições

públicas e privadas.

Na empresa estudada, todos os entrevistados consideraram que existem

políticas nacionais de incentivo à inovação disponíveis no Brasil, e que essas são

importantes para o desenvolvimento tecnológico da empresa: “(..) elas dão mais gás

e agilidade para empresa, e mais potencial para a empresa desenvolver produtos”.

(Entrevista 2).

De acordo com os relatos obtidos, essas políticas de incentivo afetam a

capacidade de inovação da empresa, na medida em que lhe dão acesso a recursos

financeiros, e também porque incentivam a criação de novos projetos, como se lê

nos exemplos abaixo:

com esses recursos a gente tem maior condição de fazer projetos maiores e desenvolver produtos que antes a pesquisa era limitada pelo volume de recursos. (Entrevista 3) (..) o edital da FINEP desse ano tem grupos/tipos de projetos para os quais são dados incentivos. Nós não temos nenhum projeto que se encaixaria nesses grupos, então isso forçaria a empresa a buscar algo novo para conseguir o subsídio. (Entrevista 2)

Estudo realizado pela ANPEI (2009) sobre novos instrumentos de apoio à

inovação aponta que a agenda política tecnológica brasileira experimentou

mudanças expressivas nesta década, tendo sido instituído um novo marco legal para

o apoio à inovação, e criado um amplo e diversificado conjunto de instrumentos para

incentivar a adoção de estratégias inovadoras pelas empresas. De forma geral,

essas iniciativas visam à criação de mecanismos de cooperação mais efetivos entre

as esferas pública e privada, ao reforço das externalidades positivas, à redução do

custo de capital e diminuição dos riscos associados às atividades de inovação.

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O fortalecimento dessa agenda refletiu-se sobretudo no esforço de integração

da política tecnológica a estratégias mais amplas do Governo Federal voltadas para

o desenvolvimento industrial, e na ampliação expressiva do volume de recursos

públicos destinados ao fomento e financiamento das atividades empresariais de

inovação. De fato, pode-se dizer que nos últimos anos houve uma mudança na

escala e no alcance do apoio governamental à inovação no país (ANPEI, 2009).

Como exemplos de políticas de incentivo à inovação, pode-se citar a Lei no

10.973, de 2 de dezembro de 2004; a Lei nº 17.348, de 17 de janeiro de 2008; o

Decreto Nº 6.041, de 8 de fevereiro de 2007; a Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior; e a Lei nº 9.279, de 14.05.96. Os principais objetivos de cada

uma dessas políticas são apresentados no quadro a seguir.

Política Objetivo

Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004 – Lei de Inovação.

Esta lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do país. São previstas na lei medidas de estímulo à construção de ambientes especializados e cooperativos de inovação, estímulo à participação das ICT (Instituição Científica e Tecnológica) no processo de inovação, estímulo à inovação nas empresas, estímulo ao inventor independente e instituição de fundos de investimento.

Decreto Nº 6.041, de 8 de fevereiro de 2007 – Política de Desenvolvimento da Biotecnologia

Política que tem por objetivo o estabelecimento de ambiente adequado para o desenvolvimento de produtos e processos biotecnológicos inovadores, o estímulo à maior eficiência da estrutura produtiva nacional, o aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras, a absorção de tecnologias, a geração de negócios e a expansão das exportações.

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior consiste em um plano de ação do Governo Federal que tem como objetivo o aumento da eficiência da estrutura produtiva, aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras e expansão das exportações. Esta é a base para uma maior inserção do país no comércio internacional, estimulando os setores onde o Brasil tem maior capacidade ou necessidade de desenvolver vantagens competitivas, abrindo caminhos para inserção nos setores mais dinâmicos dos fluxos de troca internacionais.

Lei nº 9.279, de 14.05.96 – Lei de Propriedade Industrial

Esta lei regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considera o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. Essa lei efetua-se mediante a concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; concessão de registro de desenho industrial; concessão de registro de marca; repressão às falsas indicações geográficas; e repressão à concorrência desleal.

Quadro 12: Exemplos de políticas de incentivo à ino vação tecnológica Fonte: Diversas fontes do Governo Federal e institu ições relacionadas

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Além dessas políticas, estão presentes atualmente no Brasil diversos órgãos

e instituições federais que têm por objetivo apoiar a inovação tecnológica. Exemplos

desses órgãos e instituições, e alguns de seus objetivos e ações encontram-se no

Quadro 13 abaixo, apresentados em ordem alfabética.

(Continua)

Órgãos/Instituições Objetivo Principais ações/projetos

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

Promover a execução da Política de Desenvolvimento Industrial.

Programas: 1. Competitividade Setorial 2. Promoção da Política de Desenvolvimento Produtivo e do Ambiente de Inovação 3. Áreas Estratégicas 4. Inteligência Competitiva e Gestão da Política de Desenvolvimento Industrial 5. Inserção Internacional

ABRABI – Associação Brasileira de Biotecnologia

Promover o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil e defender os interesses das empresas associadas.

Plano de Desenvolvimento Setorial para a Biotecnologia no Brasil: 1. Projeto Diagnóstico Setorial – Parque Tecnológico Nacional 2. Projeto Acesso das Empresas de Biotecnologia aos Mercados Nacional e Internacional 3. Projeto Bioprospecção 4. Projeto Interação com a Indústria Farmacêutica

ANPEI – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras

Atua junto a instâncias do governo, visando a elevar a inovação tecnológica à condição de fator estratégico da política econômica e de ciência e tecnologia do Brasil.

Programas: 1. Alavancagem Tecnológica 2. Qualificação em Gestão Tecnológica nas Micro e Pequenas Empresas

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país.

Ações de apoio à inovação: 1. Linha Capital Inovador 2. Linha Inovação Tecnológica 3. Fundo Tecnológico - FUNTEC 4. Programa CRIATEC

Fundação BIOMINAS Instituição dedicada à criação e ao desenvolvimento de empresas de biociências no Brasil.

Ações/serviços: 1. Serviços Especializados – Aos mais variados estágios de uma empresa 2. Propriedade Intelectual e Regulamentação 3. Capital Investimento 4. SEARCH – Identificação e seleção de oportunidades em biotecnologia 5. Prospecta 6. Habitat – Incubadora de empresas 7. PRIME Primeira Empresa Inovadora 8. Proj. de Promoção de Exportação e Internacionalização de Biociências 9. Disseminação de Conhecimento

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(conclusão)

Órgãos/Instituições Objetivo Principais ações/projetos

Ministério da Ciência e Tecnologia

Coordena a execução dos programas e ações que consolidam a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e lidera um conjunto de instituições de fomento e execução de pesquisa. Desenvolve pesquisas e estudos para geração de conhecimento, novas tecnologias e criação de produtos, processos, gestão e patentes nacionais.

Políticas: 1. Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2. Política de Desenvolvimento da Biotecnologia Linhas de Ação para Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas: 1. Apoio à Inovação Tecnológica nas Empresas 2. Tecnologia para a Inovação nas Empresas 3. Incentivo à Criação e à Consolidação de Empresas Intensivas em Tecnologia

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Tem como área de competência os seguintes assuntos: política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços; propriedade intelectual e transferência de tecnologia; metrologia, normalização e qualidade industrial; políticas de comércio exterior; regulamentação e execução dos programas e atividades relativas ao comércio exterior; aplicação dos mecanismos de defesa comercial participação em negociações internacionais relativas ao comércio exterior; formulação da política de apoio à microempresa, empresa de pequeno porte e artesanato; execução das atividades de registro do comércio

Programas e ações de Tecnologia industrial: 1. Projetos em cooperação com a Comissão Europeia 2. Incentivo à inovação na empresa 3. Prospectiva tecnológica 4. Barreiras técnicas

Quadro 13: Exemplos de órgãos e instituições federa is ligados ao incentivo à inovação tecnológica Fonte: Diversas fontes do Governo Federal e institu ições relacionadas

Sobre o segundo indicador, suporte das políticas pelo governo local, os

entrevistados consideraram que as ações do Governo do Estado para incentivar a

inovação tecnológica reforçam as políticas nacionais (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

A Lei nº 17.348, de 17 de janeiro de 2008, dispõe sobre o incentivo à

inovação tecnológica em Minas Gerais, e suas medidas dão suporte à Lei no 10.973

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(Lei Federal de Inovação). Há também instituições do governo local destinadas a

promover o desenvolvimento tecnológico (Quadro 14).

Órgãos/Instituições Objetivo Principais ações/projetos

FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Agência de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico de Minas Gerais

Ações: 1. Financiar projetos de pesquisa científica e tecnológica. 2. Incentivar a capacitação de recursos humanos para Ciência e Tecnologia, por meio de bolsas em diversos níveis. 3. Contribuir para a fixação de grupos de pesquisa científica e tecnológica. 4. Promover a integração entre o setor produtivo e instituições de pesquisa e desenvolvimento. 5. Apoiar a realização de eventos de caráter científico e tecnológico. 6. Realizar intercâmbios entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, e estabelece laços de cooperação com instituições nacionais e internacionais. 7. Orientar e encaminhar as ações de patenteamento e comercialização de produtos ou processos inovadores.

FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

Liderar o processo de desenvolvimento sustentável da Indústria em Minas Gerais. Por meio de suas entidades SESI, SENAI, IEL, o Sistema promove capacitação profissional, estimula o ensino de qualidade e leva conhecimento e inovação aos setores produtivos.

Áreas de atuação: 1. Capacitação empresarial 2. Centro Internacional de Negócios 3. Consultoria civil e comercial 4. Crédito e financiamento 5. Inovação e tecnologia

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

Empresa pública vinculada ao MCT, tem o objetivo de promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos, centros de pesquisa e outras instituições públicas ou privadas.

Programas: 1. Apoio à inovação em empresas 2. Apoio às Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) 3. Apoio à cooperação entre empresas e ICTs 4. Apoio a ações de C&T para o Desenvolvimento Social

IEL – Instituto Euvaldo Lodi (Regional Minas Gerais)

Promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico da indústria.

Ações para inovação e tecnologia: 1. Recursos para Apoio à Inovação 2. Rede de Tecnologia - RETEC 3. Assessoria para Projetos de Inovação 4. Gestão Estratégica da Inovação 5. Programa Anual de P&D Tecnológico Cemig/Aneel

Quadro 14: Exemplos de órgãos e instituições do gov erno local ligados ao incentivo à inovação tecnológica Fonte: Diversas fontes do Governo Federal e Estadua l, e instituições relacionadas

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Finalmente, com relação ao indicador aquisição de subsídios financeiros

nacionais, a empresa estudada possui um projeto de desenvolvimento de uma linha

de produtos financiado pela FINEP (Entrevistas 1, 3, 4, 5, 6), tendo sido apontado

nas entrevistas que a empresa pretende buscar outras fontes de financiamento

(Entrevistas 2, 3, 4, 6): “esse é meu grande sonho, que a gente passe a trabalhar

com mais entidades de fomento”. (Entrevista 4)

Segundo relatado, esse é o primeiro financiamento obtido pela empresa. O

projeto é considerado inovador para a empresa e para o mercado, quando levado

em consideração seu tipo de cliente específico, que são de pequeno e médio porte

(Entrevistas 1 e 3).

A pesquisa da ANPEI (2009) destaca, dentre os instrumentos de apoio à

inovação estabelecidos pelo governo, os seguintes: incentivos fiscais; linhas de

financiamento reembolsáveis; linhas de financiamento não reembolsáveis; fundos de

capital de risco; os programas RHAE e Capital Semente/Criatec.

Os novos incentivos fiscais para a inovação, instituídos pela Lei do Bem (Lei

nº 11.196) representaram uma ampliação significativa dos benefícios concedidos às

empresas pela Lei nº 8.661 de 1993, e trouxeram como grande atrativo a sua

aplicação automática. Em 2006, primeiro ano de vigência dos novos incentivos

fiscais, 130 empresas foram beneficiadas. Em 2006, as despesas de custeio em

pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica informadas pelas

empresas que se beneficiaram da Lei do Bem foram de R$ 1,44 bilhão. Como antes

dessa lei as empresa já podiam excluir as despesas de P&D da base de cálculo da

CSLL e do IR, os benefícios gerados pela nova lei corresponderam a

aproximadamente R$ 230 milhões. Em 2007 o número de empresas beneficiadas

passou para 321, e as despesas de custeio daquelas que usufruíram dos incentivos

fiscais alcançaram o valor de R$ 4,3 bilhões (ANPEI, 2009).

Percebe-se que o número de empresas beneficiadas pela Lei do Bem varia

de acordo com o setor de atuação, conforme mostra a tabela a seguir. A empresa

estudada pode ser enquadrada no macrossetor “químico”, o qual teve 22 empresas

beneficiadas em 2006 e 11 em 2007.

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TABELA 1 Perfil setorial das empresas beneficiadas pelos inc entivos fiscais da Lei do Bem, 2006 e 2007

Número de empresas beneficiadas Setor

2006 2007

Mecânica e transportes 30 79

Metalúrgico 22 24

Químico 22 11

Farmacêutico 11 13

Eletroeletrônico 13 44

Outros 32 120

Total 130 291

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

Já para as linhas de financiamento reembolsáveis, as duas agências públicas

federais que concedem financiamentos com encargos reduzidos para apoiar a

inovação tecnológica nas empresas são a FINEP e o BNDES. Nessas duas

agências, essas linhas de financiamento foram estruturadas há poucos anos (o Pró-

Inovação, da FINEP em 2004; o Programa de Desenvolvimento da Inovação, do

BNDES, em 2006), e sofreram reformulações relevantes em 2008. Há também

grandes semelhanças na concepção das linhas de financiamento e nas suas

modalidades de operação, de forma que ambas as instituições tenderiam a atrair os

mesmos clientes potenciais. Como, além disso, elas não atuam de forma

coordenada, o canal de financiamento fica a critério das empresas (ANPEI, 2009).

Para a FINEP, pode-se destacar o programa Pró-Inovação. Até o final de

2008, o programa oferecia crédito, no valor mínimo de R$ 1 milhão a projetos de

inovação de empresas com faturamento superior a R$ 10,5 milhões. O valor da

operação de financiamento dependia do conteúdo do projeto, da capacidade de

pagamento da empresa e da disponibilidade de recursos da FINEP. O nível de

participação da agência poderia chegar a 90% do custo total do projeto e o prazo de

financiamento a 120 meses, incluída carência de 36 meses. A empresa deveria

apresentar garantias para concretizar a operação. A inexistência de critérios

objetivos para o enquadramento dos projetos não apenas impunha maiores

dificuldades ao processo de análise técnica da agência, como também significava

que a empresa demandante de crédito só conheceria os encargos aplicáveis à sua

operação após conclusão do processo e aprovação de seu pedido (ANPEI, 2009).

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Em 2008 foram contratadas 34 operações e o valor das operações

contratadas foi de 370,2 milhões para o programa Pró-Inovação. A FINEP deu início

à reformulação do seu programa de financiamento em 2008, sob a justificativa de

adequá-lo à política de desenvolvimento produtivo. O novo programa foi batizado de

Inova Brasil e as primeiras contratações foram realizadas em outubro. A mais

importante alteração foi a diferenciação de três grandes categorias de projetos, cada

uma delas fazendo jus a uma taxa de juros determinada. No final de 2008 o

Programa Inova Brasil havia contratado 16 operações, com cerca de R$ 496

milhões, contanto ainda com 36 operações aprovadas e em processo de

contratação, no valor de R$ 560 milhões (ANPEI, 2009). A Tabela 2 mostra alguns

dados do Pró-Inovação.

TABELA 2 Programa Pró-Inovação da FINEP – 2005 a 2008

Carteira de Financiamento 2005 2006 2007 2008

Nº operações contratadas 41 50 47 34

Valores das operações (R$ milhões) 526,0 576,0 557,8 370,2

Valor médio das operações (R$ milhões) 12,83 11,52 11,87 10,88

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

A FINEP dispõe ainda de uma segunda linha de financiamento, com encargos

financeiros reduzidos e procedimentos operacionais simplificados, em operação

desde 2006. É o Programa Juro Zero, especialmente concebido para apoiar projetos

de inovação de micro e pequenas empresas (faturamento até R$ 10,5 milhões). O

financiamento varia de R$ 100 mil a R$ 900 mil, limitado a 30% do faturamento da

empresa no ano anterior. Foram contratadas 17 operações em 2006 e 30 em 2007,

sendo seu valor R$ 9 milhões e R$ 17 milhões, respectivamente (ANPEI, 2009).

Com relação ao BNDES, principal fornecedor de crédito de longo prazo para o

investimento produtivo no país, pode-se dizer que ele tem pouca tradição no

financiamento de projetos de inovação. As linhas de financiamento com encargos

reduzidos, destinados a essa finalidade, são recentes e ainda pouco conhecidas

pelas empresas. Por essa razão, a carteira de financiamento do Banco não registra

operações contratadas nas duas principais modalidades de apoio à inovação

(ANPEI, 2009).

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Cabe ressalvar que o BNDES dispõe de programas setoriais específicos que

oferecem condições diferenciadas para o financiamento da inovação. Entre eles

destacam-se: o Profarma, o Prosoft, e o Pro-Aeronautica. Esses programas

apresentaram um desempenho expressivo no período considerado (ANPEI, 2009).

A principal linha de financiamento horizontal do Banco é a Inovação

Tecnológica, destinada a financiar projetos de pesquisa, desenvolvimento e

inovação com valor superior R$ 1 milhão, que apresentem risco tecnológico e

oportunidade de mercado, compreendendo o desenvolvimento de produtos e/ou

processos novos (para o mercado nacional) ou significativamente aprimorados.

Criada em 2008, substitui o Programa de Desenvolvimento de Inovação, instituído

em 2006, preservando muitas características da linha original (ANPEI, 2009).

A segunda linha de financiamento do BNDES, Capital Inovador, também

resultou da reformulação recente de um programa, o Inovação-Produção, criado em

2006, incorporando mudanças de orientação. O foco da linha Capital Inovador é a

empresa e não o projeto, ou seja, a avaliação do Banco está centrada na estratégia

da empresa e nos seus planos de inovação. A segunda linha de financiamento

também se propõe a financiar parques tecnológicos e incubadoras de empresas. O

valor mínimo do financiamento é de R$ 1 milhão e o máximo de R$ 200 milhões por

grupo econômico, a cada 12 meses (ANPEI, 2009). A Tabela 3 apresenta os dados

referentes às linhas de financiamento para inovação do BNDES.

TABELA 3 Linhas de Financiamento à Inovação do BNDES – 2007 e 2008

2007 2008 Item

Contratação (R$) Nº de projetos Contratação (R$) Nº de

projetos

Capital Inovador 1.464.000 1

Inovação P&D 75.466.777 7 12.756.000 3

Inovação Produção 200.300.690 11 29.867.784 9

Engenharia Automotiva 123.086.000 2

Profarma Inovação 21.672.716 5 9.325.000 3

Protvd Empresa 266.283.347 12 229.858.844 9

Protvd Fornecedor 6.000.649 1

Outros (Desenvolvimento Tecnológico) 4.195.536 6 31.741.133 5

Total geral 567.919.066 41 444.099.410 33

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

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Quanto às linhas de financiamento não reembolsáveis, pode-se destacar a

subvenção econômica da FINEP, a subvenção para contratação de pesquisadores

também da FINEP e o Funtec do BNDES (ANPEI, 2009).

A subvenção econômica consiste em aporte direto dos recursos

orçamentários nas empresas para a realização de atividades de pesquisa e

desenvolvimento. O objetivo desse instrumento, utilizado em diversos países, é

promover um significativo incremento da inovação no país, com base na avaliação

de que ao partilhar riscos e custos associados às atividades inovadoras, o setor

público pode induzir empresas a incorporar essa preocupação às suas estratégias

de negócios ou possibilitar maior ousadia por parte daquelas que já realizam gastos

em P&D de forma contínua (ANPEI, 2009).

O Programa de Subvenção Econômica da FINEP teve início em 2006, por

meio de chamadas públicas, nas quais são especificados os temas/áreas a serem

apoiados, o valor mínimo da subvenção, os critérios de pontuação dos projetos e as

exigências de contrapartida por parte das empresas, dentre outros (ANPEI, 2009).

Conforme mostram as Tabelas 4 e 5 a seguir, em 2007 foram aprovados 174

projetos, totalizando 314,2 milhões. Destes, 28 eram relacionados à Biodiversidade,

Biotecnologia e Saúde, totalizando 25,5 milhões. Em 2008, foram aprovados 209

projetos, com 453 milhões. Destes, 30 projetos eram relacionados à Biotecnologia

(89,6 milhões) e 38 relacionados à Saúde (com 56,0 milhões) (ANPEI, 2009).

TABELA 4 Projetos aprovados no edital de 2007 da Subvenção E conômica da FINEP

Área Projetos aprovados

Valor aprovado (R$ milhões)

TICs e Nanotecnologia 63 97,6

Biodiversidade, Biotecnologia e Saúde 28 25,5

Programas Estratégicos (Segurança e Defesa) 34 105,9

Biocombustíveis e Energia 19 50,6

Desenvolvimento Social 30 34,6

Total 174 314,2

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

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TABELA 5 Projetos aprovados no edital de 2008 da Subvenção E conômica da FINEP

Área Projetos aprovados

Valor aprovado (R$ milhões)

TICs 52 91,0

Biotecnologia 30 89,6

Saúde 38 56,0

Programas Estratégicos 31 89,7

Energia 20 67,6

Desenvolvimento Social 38 59,1

Total 209 453,0

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

A subvenção para contratação de pesquisadores da FINEP consiste numa

modalidade de aporte de recursos não reembolsáveis, destinado à contratação de

novos pesquisadores com titulação de mestre ou doutor, para serem empregados

em atividades de inovação tecnológica nas empresas. A ideia é que esses recursos

humanos qualificados elevem a capacitação das empresas para executar atividades

inovadoras e reforcem sua competitividade. A única chamada pública dessa

modalidade foi em 2006. Foram aprovados 37 projetos, no valor total de R$ 10,5

milhões. Esse valor seria destinado à contratação de 132 pesquisadores, sendo 84

mestres e 48 doutores (ANPEI, 2009).

O Fundo Tecnológico (Funtec) do BNDES destina-se a financiar projetos em

áreas ou temas considerados de interesse estratégico do país, com recursos não

reembolsáveis. O Funtec não apoia empresas diretamente, mas instituições

tecnológicas e instituições de apoio ao desenvolvimento tecnológico, com a

participação de empresas. As áreas atualmente definidas como prioritárias são:

energias renováveis, meio-ambiente e saúde. Os recursos são concedidos

diretamente às instituições beneficiadas e podem financiar até 90% do projeto,

envolvendo, entre outros, a aquisição de equipamentos e softwares, despesas com

salário da equipe de P&D, despesas com treinamento e capacitação tecnológica. A

escala de operações do Funtec ainda é relativamente limitada. Em 2007 o Banco

contratou um total de quatro propostas, que somaram R$ 54,0 milhões; em 2008

foram seis propostas contempladas, no valor de R$ 62,5 milhões (ANPEI, 2009).

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Outro programa de subsídio é o programa de Formações de Recursos

Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE), criado em 1987. Foi inicialmente

gerenciado pelo MCT e o CNPq desempenhava o papel de agência executora.

Desde 2007, com a nova denominação RHAE – Pesquisador na Empresa, o

programa é direcionado para ampliar a absorção de mestres e doutores em

atividades de P,D&I em micro, pequenas e médias empresas. O edital de 2007

destinou o valor de R$ 20 milhões e o de 2008 R$ 26 milhões (ANPEI, 2009).

Os fundos de capital de risco da FINEP compõem dois programas voltados

para capitalização de fundos de investimentos em empresas inovadoras: a

Incubadora de Fundos Inovar e o Inovar Semente. O Inovar é um consórcio voltado

para seleção e análise conjunta de fundos de venture capital e private equity, e para

disseminação das melhores práticas de governança. O Inovar Semente objetiva a

capitalização de fundos voltados para o aporte em empresas inovadoras em estágio

inicial, com faturamento de até R$ 2,4 milhões no ano. Até o final de 2008, a agência

havia aprovado o investimento em 22 fundos, dos quais 13 são de venture capital,

seis de capital semente e três de private equity (ANPEI, 2009).

Finalmente, o Programa de Capital Semente/Criatec do BNDES foi lançado

em janeiro de 2007, com um patrimônio de R$ 80 milhões, com o objetivo de

capitalizar micro e pequenas empresas inovadoras em estágio inicial e com grande

potencial de conhecimento. A expectativa é de que o programa permita a

capitalização de até 60 micro e pequenas empresas inovadoras, com investimento

médio entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão.

De maneira geral, com relação à percepção dos instrumentos políticos de

apoio à inovação, apesar dos entrevistados reconhecerem que existem iniciativas do

governo de incentivo e recursos financeiros disponíveis e que as mesmas são

importantes para o processo de inovação tecnológica, foram relatadas algumas

dificuldades de acesso a esses recursos. Segundo eles, as dificuldades estão

relacionadas à própria inexperiência da empresa nessa área e ao formato dos

programas existentes:

a dificuldade na minha percepção é da empresa, tem dinheiro disponível no mercado, mas nós que temos que nos organizar para conseguir esses recursos (...). (Entrevista 4) tem projetos disponíveis, mas a forma como são ofertados dificulta o processo. A burocracia, a avaliação, tempo, demora para resposta. (Entrevista 5).

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Essa percepção é corroborada pela conclusão do estudo da ANPEI (2009),

que realizou uma pesquisa nas instituições públicas federais responsáveis pela

aplicação dos novos instrumentos de política tecnológica e em empresas

selecionadas sobre a aplicação desses novos instrumentos. O estudo concluiu que

as instituições de fomento não se mostram devidamente preparadas para a

formulação e execução de políticas e estratégias de longo prazo que lhes permitam

orientar de forma mais consistente e articulada o conjunto de instrumentos de que

dispõem. Na área de política tecnológica, isso se traduz numa atuação mais

fragmentada e reativa à demanda, o que tende a limitar o alcance potencial dos

instrumentos nos estímulos às atividades de inovação.

Analogamente, as empresas também não estão adequadamente estruturadas

para retirar o maior proveito dos novos instrumentos de política tecnológica

disponíveis. As entrevistas com as empresas confirmaram que, na gestão da

inovação, é baixo o nível de profissionalização e formalização, principalmente no

que diz respeito ao acompanhamento das políticas e dos novos instrumentos. É

necessário haver registro da aplicabilidade de cada instrumento, sendo esse registro

compartilhado por profissionais de diferentes áreas da empresa ou que,

alternativamente, haja uma unidade específica na empresa que tenha por tarefa

centralizar essas informações e disseminá-las entre os profissionais envolvidos com

o tema da inovação na empresa (ANPEI, 2009).

Em termos gerais, a pesquisa concluiu que a proporção das empresas que

utilizam os novos instrumentos de apoio à inovação é muito baixa (Tabela 6). Para

explicar esse quadro, foram levantadas algumas hipóteses (ANPEI, 2009):

• Esses novos instrumentos ainda não são plenamente conhecidos pelas

empresas. (Tabela 7)

• As agências não conseguem operacionalizar os novos instrumentos de

forma vantajosa para as empresas.

• Os novos instrumentos não atendem as necessidades das empresas.

• As empresas ainda não percebem que esses instrumentos podem

contribuir positivamente para suas estratégias de inovação.

• As empresas não estão devidamente organizadas para aproveitar os

estímulos decorrentes da utilização dos novos instrumentos.

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TABELA 6 Percentual de empresas que utilizaram os novos inst rumentos de política tecnológica nos

últimos três anos

Instrumento %

Linhas de financiamento reembolsáveis com juros reduzidos 29

Linhas de financiamento não reembolsável – FINEP 32

Linhas de financiamento reembolsável com juros reduzidos – BNDES 22

Linhas de financiamento não reembolsável – BNDES 0

Subvenção econômica 49

Subvenção para contratação de mestres e doutores 22

Bolsa RHAE Inovação 24

Criatec e Fundos de Capital de Risco 3

Incentivos fiscais 54

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

Reforçando esses resultados, a Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC

2005 – do IBGE revelou que, no período de 2003-2005, com relação apoio do

governo para as atividades de inovação na indústria, 19,2% das empresas

receberam suporte. No que diz respeito aos programas, o mais usado pelas

empresas industriais é o financiamento a projetos de inovação, sendo que apenas

0,7% das empresas inovadoras da indústria utilizaram incentivos fiscais para P&D.

TABELA 7

Percentual de empresas que responderam não saber da existência ou ter poucas informações dos instrumentos

Instrumento %

Linhas de financiamento reembolsáveis com juros reduzidos 37

Linhas de financiamento não reembolsável – FINEP 32

Linhas de financiamento reembolsável com juros reduzidos – BNDES 51

Linhas de financiamento não reembolsável – BNDES 54

Subvenção econômica 30

Subvenção para contratação de mestres e doutores 30

Bolsa RHAE Inovação 51

Criatec e Fundos de Capital de Risco 65

Incentivos fiscais 24

Fonte: Adaptado de ANPEI, 2009

Já com relação aos incentivos fiscais, a pesquisa da ANPEI (2009) revelou

que os mesmos se constituem importante mecanismo de estímulo ao

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desenvolvimento tecnológico. As avaliações das entrevistas e o número de

empresas que utilizam esse mecanismo parecem confirmar a sua atratividade. Não

obstante, ele é um benefício redutor de custos, e, nessa medida, não parece ter

contribuído para a ampliação e intensificação da atividade tecnológica.

Outro aspecto importante do macroambiente não contemplado diretamente

nos indicadores propostos no modelo de Chen, He e Jin (2008) é a influência dos

fatores econômicos conjunturais sobre a decisão de inovar. Segundo a Pesquisa de

Inovação Tecnológica – PINTEC 2005 – realizada pelo IBGE, os resultados obtidos

confirmam a influência do ambiente macroeconômico na decisão empresarial de

investir em inovação.

Conforme dados relatados na pesquisa, o ano de 2003 caracterizou-se por

modestas taxas de crescimento da economia (1,1%) e da indústria (1,3%). Já em

2005 a economia brasileira apresentou um desempenho melhor: o PIB cresceu 2,9%

e a indústria 2,2%. Segundo a pesquisa, o cenário de 2005, com condições

favoráveis provenientes tanto da economia mundial quanto do mercado interno,

impulsionou um maior número de empresas industriais a inovar, gastando mais com

as atividades inovadoras e desenvolvendo mais inovações em parceria com outras

empresas e institutos, em comparação com o ano de 2003 (IBGE, 2005).

4.1.1.2 Ambiente tarefa

A segunda dimensão do fator ambiente externo proposta no modelo de Chen,

He e Jin (2008) é o ambiente tarefa. Para essa dimensão são propostos os

indicadores de influência dos consumidores, influência dos fornecedores,

prospecção tecnológica do setor e desenvolvimento tecnológico do setor.

Os consumidores são importantes para a capacidade de inovação da

empresa, na medida em que eles estão diretamente ligados à demanda de mercado.

Desse modo, as informações sobre as necessidades dos consumidores e suas

experiências sobre os produtos assumem um papel chave na inovação. A demanda

de mercado pode conformar a atividade de inovação em vários aspectos, podendo

afetar o desenvolvimento de produtos, e os processos de produção e distribuição.

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A influência dos consumidores foi avaliada na empresa estudada como baixa

(Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7). Foi relatado que os consumidores não conseguem

estabelecer entradas para o processo de desenvolvimento de produtos, pois não

têm conhecimento nem percepção suficientes das tendências do mercado

(Entrevistas, 2, 3, 4). A influência foi considerada um pouco maior (média influência)

para a determinação de preço, principalmente com relação aos planos de saúde,

devido ao valor pago para a utilização dos produtos (Entrevistas 4, 5).

No entanto, apesar da influência dos consumidores ter sido considerada

baixa, a empresa tem procurado buscar mais informações sobre as necessidades

dos consumidores. Está desenvolvendo um projeto para criar um sistema

estruturado que irá receber informações do pessoal de campo e aplicar pesquisas

junto ao mercado a ser atendido. A obtenção dessas informações tem como um dos

objetivos a alimentação do processo de P&D.

A gente está investindo mais nisso gora, com o novo modelo estratégico, que está ancorado na perspectiva de oferecer valor para o cliente. Agora mais do que nunca, é necessário saber o que o cliente quer, para oferecermos o que ele precisa. (Entrevista 1)

Essa percepção da empresa da importância de se estabelecer relações de

parceria com os clientes está alinhada com o resultado da pesquisa PINTEC do

IBGE (2005). Dentre os dados dessa pesquisa, destaca-se a importância das

relações de cooperação com os clientes ou consumidores, que foi de 59,2% para a

indústria, e o percentual de 60,9% das empresas industriais que disseram utilizar

clientes ou consumidores como fontes de informação para a inovação.

Os fornecedores também são capazes de influenciar o processo de inovação

tecnológica, uma vez eles podem se constituir como fontes de informação. Na

empresa estudada, a influência dos fornecedores foi avaliada pelos entrevistados

como sendo de média a alta para os fornecedores multinacionais da empresa.

Nós seguimos muito a tendência do mercado internacional, e a maioria dos nossos fornecedores é internacional, e a gente fica sabendo muito das tecnologias disponíveis a partir deles. (Entrevista 3)

Foi avaliado que os fornecedores contribuem para o processo de inovação da

empresa, podendo mesmo incentivá-lo quando trazem novidades e “oferecem” para

a empresa. “Os fornecedores trazem para gente algumas vezes novidades e levam

a gente a utilizar produtos inovadores”. (Entrevista 4)

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Além disso, entrevistados explicitaram que se o fornecimento de produtos

OEM for finalizado, isso representa uma forte ameaça. Isso pode impulsionar o

processo de inovação, uma vez que a empresa, ciente da ameaça, tenta internalizar

o conhecimento, e desenvolver o seu próprio produto (Entrevistas 1 e 2).

Assim como ocorre com a influência dos clientes, a influência dos

fornecedores também está alinhada com o resultado da pesquisa PINTEC do IBGE

(2005). A importância das relações de cooperação com os fornecedores foi de

61,5% para a indústria, e 63,8% das empresas industriais disseram utilizar como

fontes de informação para a inovação os clientes ou consumidores.

Com relação à prospecção tecnológica e desenvolvimento tecnológico do

setor, percebe-se que os processos de inovação diferem muito de setor para setor

em termos de desenvolvimento, taxa de mudança tecnológica, interações e acesso

ao conhecimento, sendo alguns setores caracterizados por rápidas mudanças e

inovações radicais, outros por mudanças menores e incrementais.

Foi considerado pelos entrevistados que o desenvolvimento tecnológico e

taxas de mudanças tecnológicas são intermediários no Brasil (Entrevistas 1, 2, 3, 4,

5, 6 e 7). De maneira geral, os produtos e tecnologias não são de fácil e rápido

desenvolvimento. No Brasil, a situação é ainda mais crítica, porque as metodologias

mais avançadas, disponíveis no exterior, são caras e de difícil acesso para o

mercado brasileiro (Entrevistas 1, 2, 4 e 7). Entrevistados apontaram que ocorreu,

há alguns anos, uma grande automação dos laboratórios, devido à globalização,

mas isso já se estabilizou. Assim, o próprio mercado não consegue absorver

rapidamente grandes mudanças tecnológicas, principalmente o setor público

(Entrevistas 5 e 7). Além disso, existe o processo legal de registro dos produtos no

Ministério da Saúde, o que torna o processo de colocação de um produto no

mercado ainda mais lento (Entrevista 4).

Essa visão também está alinhada com o resultado do estudo de empresas de

biotecnologia realizada pela BIOMINAS (2007). Segundo ela, 59,4% dos

empresários relataram ter alta ou altíssima dificuldade no que se refere a aspectos

regulatórios no Brasil, o que inclui o processo de registro dos produtos.

Apesar da prospecção tecnológica e o desenvolvimento tecnológico do setor

de biotecnologia não ser avaliado como tendo altas taxas de mudanças, percebe-se

um crescimento do setor. O estudo das empresas de biotecnologia da BIOMINAS

realizado em 2007 revelou que mais de um quarto das empresas tinha no máximo

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dois anos (26,7%), enquanto outra faixa representativa incluía empresas de 2 a 5

anos de idade (23,9%). Isso evidencia que o conjunto de empresas de biotecnologia

no país são jovens, sendo que 51% delas foram fundadas a partir de 2002 e apenas

28% foram fundadas antes de 1997. Esses dados são um claro sinal não só da

juventude das empresas como também do crescimento do setor. Já o estudo da

Fundação BIOMINAS realizado em 2009 mostrou o significativo crescimento do

setor comparando dados referentes a 2006 e 2008, tendo havido redução das

empresas com até dois anos de fundação, e expansão das empresas que fatura

acima de R$ 1 milhão e empregam de 21 a 50 funcionários.

Gráfico 2: Distribuição das empresas de biotecnolog ia por idade

Fonte: Biominas, 2007

Com relação ao segmento de diagnóstico in vitro, que faz parte do setor de

biotecnologia, dados da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL)

mostram que o setor apresentou crescimento entre 2006 e 2008, conforme Gráfico 3

apresentado abaixo.

Gráfico 3: Evolução do faturamento do mercado de di agnóstico in vitro

Fonte: Pesquisa CBDL (2008)

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Quando se avalia os dados da CBDL sobre o crescimento do faturamento do

setor de diagnóstico in vitro por segmento de linha de produto, percebe-se que

algumas linhas de produto que quase não apresentavam faturamento em 2006

tiveram grande crescimento até 2008. Este é o caso, por exemplo, da linha de

Parasitologia (de R$ 48.070,37 passou a R$ 289.447,21) e da linha de Anatomia

Patológica e Imunohistoquímica (de R$ 28.8000,00 passou a R$ 1.232.269,3634). A

linha de Automação Pré e Pós-Analitíca, que não apresentava faturamento, passou

a faturar R$ 2.760.525. Esse crescimento pode indicar a introdução de novas

tecnologias no mercado.

Assim, mesmo que as taxas de mudanças tecnológicas do setor não sejam

consideradas altas, percebe-se que o setor está em crescimento, inclusive com a

introdução de novas tecnologias no mercado.

4.1.1.3 Ambiente do setor

Finalmente, o ambiente do setor é outra dimensão do ambiente externo que

também influencia no alinhamento entre a estratégia tecnológica e estratégia de

negócio. Os indicadores propostos no modelo de Chen, He e Jin (2008) são a

estratégia dos concorrentes e foco em informação competitiva.

Com relação à estratégia dos concorrentes, pode-se dizer que compreender o

papel dos concorrentes, a relação entre eles e deles com os seus clientes fornece

informações úteis sobre tendências e problemas potenciais, sendo portanto fontes

importantes para o processo de inovação.

Na empresa estudada avaliou-se que a mesma tem acesso a informações de

preços e posicionamento de produtos, informalmente, não estando sistematizada a

forma de coleta de informações (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). As informações são

obtidas principalmente por meio dos consultores de mercado que atendem os

laboratórios. Alguns entrevistados percebem que a empresa deveria se organizar

melhor para obter essas informações (Entrevistas 2, 3 e 6).

Apesar disso, a empresa tem o objetivo de melhorar a busca de informações

sobre os concorrentes, tendo sido estabelecida, como ação no plano estratégico da

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empresa, a avaliação das soluções ofertadas pela concorrência para guiar o

posicionamento dos produtos da empresa (Documento 1).

Os dados da pesquisa PINTEC do IBGE (2005) revelaram que a importância

das relações de cooperação com concorrentes foi de 16,6% para a indústria. 43,5%

das empresas industriais disseram utilizar os concorrentes como fontes de

informação para a inovação. Quando comparado com os clientes e fornecedores

anteriormente discutido, esse menor número pode indicar que outras empresas

também têm dificuldade de realizar esse processo, assim como a empresa estudada

indicou. No entanto, esses números revelam que parte das empresas se preocupa

em obter informações de seus concorrentes, apesar das dificuldades.

Com relação ao foco em informação competitiva, um sistema estruturado de

planejamento, coleta, análise, comunicação e gerenciamento de informações obtidas

no mercado permite à empresa adquirir conhecimento sobre o mercado, sendo fonte

importante para a definição dos objetivos estratégicos, além de contribuir para a

redução das incertezas intrínsecas às decisões. Na empresa estudada, avaliou-se

que ela tem acesso a informações de mercado, mas não tem processo estruturado

para obter essas informações (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

Dentre as fontes citadas para o conhecimento do mercado está a participação

da empresa em congressos e feiras internacionais (Entrevistas 2, 4, 6). Foi dito

também que há poucos dados disponíveis sobre o setor (segundo o IBGE, o

mercado IVD representa 0,6% do PIB) (Entrevista 3). Um dos entrevistados relatou

que isso pode ser melhorado reforçando-se a interação da equipe de P&D com o

mercado:

ainda é um pouco pobre, isso vai fazer parte do processo de maturação da equipe de P&D, ela precisa estar inserida no mercado e entender a aplicação das tecnologias atuais e aquelas que estão vindo. (Entrevista 3)

Três entrevistados percebem que a empresa busca informações, mas que

poderia se organizar melhor (Entrevistas 1, 2 e 3): “Eu percebo que, a gente tem um

projeto, a gente tem interesse em buscar tendências de mercado, mas tem algumas

dificuldades”. (Entrevista 2)

No entanto dois entrevistados percebem que as informações são suficientes.

(Entrevistas 4 e 5)

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4.1.1.4 A influência do ambiente externo

De acordo com a Conclusão 1 do modelo de Chen, He e Jin (2008), o fator

ambiental possui correlação positiva com o grau de alinhamento entre a estratégia

tecnológica e a estratégia de negócios, uma vez que fatores favoráveis do ambiente

externo da organização podem encorajar a empresa a aplicar atitudes tecnológicas

ativas para se posicionar no mercado, além de impactar os processos de

desenvolvimento de novos produtos e inovação de processos e, assim, aumentar o

grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios.

Figura 2: A influência do ambiente externo no alinh amento entre estratégia tecnológica e

estratégia de negócio Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

As políticas dos governos central e regionais, por exemplo, podem encorajar a

organização a aplicar atitudes tecnológicas positivas, reforçar as atividades de

inovação do processo de produção, e fazer com que a estratégia tecnológica se

ajuste à estratégia da corporação. A aquisição de subsídios enriquece os recursos

tecnológicos externos da organização, e ajuda a entender e adquirir inteligência

tecnológica relacionada, assim como convertê-las em recursos tecnológicos úteis. A

rede de relacionamentos estabelecida com clientes e fornecedores, e o

conhecimento sobre as estratégias dos concorrentes podem ser tomados como

fontes de informação e entradas importantes para o processo de inovação. Além

disso, as características tecnológicas do setor no qual a empresa está inserida, tais

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como as taxas de mudança tecnológica, interações e acesso ao conhecimento,

podem também incentivar a empresa a aplicar a tecnologia mais ativamente.

A partir análise das entrevistas realizadas na empresa estudada, assim como

dos resultados das pesquisas do IBGE (2005) e da ANPEI (2009) apresentados,

pode-se identificar que os fatores favoráveis no ambiente externo podem contribuir

para que a empresa desenvolva atitudes tecnológicas ativas, aumentando, assim, o

grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios. Assim, a

Conclusão 1 do modelo de Chen, He e Jin (2008) pode ser confirmada.

4.1.2 Administração superior

O modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere que a administração superior

influencia positivamente o alinhamento entre a estratégia de negócio e estratégia

tecnológica, uma vez que a equipe da administração superior é responsável pela

definição e implementação das estratégias, e suas escolhas têm impacto direto no

desenvolvimento e aplicação das tecnologias da empresa, e no modo como elas

serão utilizadas para alcançar os objetivos da estratégia de negócio. O modelo

define indicadores para se avaliar o fator da administração superior para as

seguintes dimensões: background tecnológico da administração superior;

preferência tecnológica da administração superior; grau de participação da

administração superior; influência nas atividades tecnológicas, e diversificação na

equipe da administração superior. Cada uma dessas dimensões é analisada a

seguir.

4.1.2.1 Background tecnológico da administração sup erior

O background tecnológico da administração superior é capaz de influenciar o

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio, pois o entendimento do

processo por parte dos executivos e a disseminação do conhecimento adquirido

podem facilitar o aprendizado organizacional e, consequentemente, a capacidade de

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inovação. O modelo de Chen, He e Jin (2008) propõe os seguintes indicadores para

avaliar essa dimensão: experiência da administração superior em projetos

tecnológicos; experiência da administração superior em gerenciamento da

tecnologia; e status do executivo tecnológico no time da administração superior.

Com relação aos primeiro e segundo indicadores, foi relatado que o diretor de

inovação e tecnologia da empresa estudada possui ampla experiência em P&D e

gerenciamento tecnológico. O presidente da empresa que exerceu o cargo até maio

de 2009 também possuía experiência nas áreas de P&D e gerenciamento da

tecnologia. O atual presidente também tem experiência, porém um pouco mais

restrita (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, e 7).

De maneira geral, essa experiência foi avaliada pelos entrevistados como

sendo importante para o entendimento do processo de P&D, para o entendimento de

como a tecnologia contribui para a estratégia de negócio da empresa, e,

consequentemente, para tornar possível o alinhamento entre a estratégia

tecnológica e de negócio (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, e 7).

No entanto, apesar da avaliação positiva para esse item, relatou-se que,

apesar da experiência da diretoria, ainda existem membros do corpo gerencial que

não conseguem entender o processo de P&D como um todo, mencionando-se

dificuldades e os tempos envolvidos no mesmo. Isso algumas vezes faz com que

existam dificuldades durante o estabelecimento da estratégia de negócio, pois é

cobrado que sejam estabelecidos objetivos de negócio nem sempre factíveis:

existem algumas dificuldades de se entender o processo de pesquisa, até o tempo de desenvolvimento, e estrutura do processo. Algumas pessoas estão dentro do processo e conseguem enxergar melhor, mas eu não diria todos conseguem. (Entrevista 2)

Com relação ao indicador status do executivo tecnológico na equipe da

administração superior, o diretor de inovação e tecnologia é reconhecido como

sendo uma pessoa respeitada, com status alto (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Isso

também foi avaliado como importante para possibilitar que a estratégia tecnológica

seja elaborada de forma alinhada à estratégia de negócio, uma vez que a sua

opinião tem grande influência no processo de tomada de decisões relativas à

estratégia empresarial (Entrevistas 1, 2, 3 e 7):

tem um papel fundamental (diretor de inovação e tecnológica), porque é ele que consegue alinhar a estratégia de negócio com estratégia específica,

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transita entre as duas coisas, porque senão fica uma coisa estranha. (Entrevista 7)

4.1.2.2 Preferência tecnológica da administração su perior

A preferência tecnológica da administração superior tem impacto direto nas

escolhas que serão feitas para a definição da estratégia tecnológica, e a importância

que será dada à tecnologia como um componente da estratégia de negócio o que

irá, consequentemente, influenciar no alinhamento entre as estratégias tecnológica e

de negócio. Ela é composta pelos indicadores: visão da administração superior em

explorar mercados por meio de tecnologias, e foco da administração superior no

status tecnológico da empresa.

Foi avaliado pelos entrevistados que a administração superior reconhece o

papel importante da tecnologia, e procura explorar novos mercado a partir dela.

(Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). A tecnologia é vista como um componente

importante para a estratégia e obtenção de vantagem competitiva:

(...) é reconhecido pelo grupo de administração da empresa que a tecnologia é que vai fazer a empresa se manter viva e sobreviver no mercado. (Entrevista 1) Temos em mente que se a gente não se desenvolver tecnologicamente vamos nos tornar um distribuidor, então tem a necessidade de ter área de desenvolvimento para termos a produção local dos nossos produtos. (Entrevista 4)

No entanto, foi relatado que a busca de novos mercados a partir da tecnologia

não tem sido feita de forma sistemática, o processo está no início, mas é visto como

um ponto importante no qual a empresa deve investir e se aperfeiçoar (Entrevistas 1,

2 e 3). Foi criado recentemente na empresa a função de Gerente de Produtos e,

segundo relatado, essa função poderá explorar melhor a questão (Entrevistas 2 e 3).

A tecnologia é um fator importante para a empresa e faz parte da estratégia

empresarial (Documentos 1, 2 e 3). Mas ela não é líder no desenvolvimento de

tecnologias inovadoras para o mercado. Pode-se classificar a inovação tecnológica

da empresa como inovadora para a empresa e, em alguns casos, inovadora para o

tipo específico de cliente que a empresa possui, que são de médio e pequeno porte.

Segundo relatado, as empresas líderes em tecnologias são multinacionais, e

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atendem clientes de grande porte. Com relação às empresas brasileiras, a empresa

estudada pode ser considerada como uma das mais desenvolvidas

tecnologicamente (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7; Documentos 1, 2 e 3).

4.1.2.3 Grau de participação da administração super ior e influência nas

atividades tecnológicas

O grau de participação da administração superior e sua influência nas

atividades tecnológicas tem impacto no alinhamento entre as estratégias tecnológica

e de negócio, uma vez que quando a equipe da administração superior possui

cultura de trabalho em equipe e concentra seus esforços em tecnologias a

disseminação do entendimento do negócio e a coesão organizacional são

facilitadas. Para essa dimensão são propostos os seguintes indicadores: pessoa

chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na administração

superior, participação em atividades específicas de P&D, e comunicação periódica

entre a administração superior e a equipe de P&D.

Para o indicador de pessoa chave da administração superior responsável pela

implementação da estratégia tecnológica, verificou-se que a empresa estudada

conta com um Diretor de Inovação e Tecnologia, que exerce essa função. No nível

gerencial, foi criada recentemente a gerência de produtos, cuja função também está

relacionada à implementação da estratégia tecnológica (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e

7; Documentos 4 e 5).

O Diretor de Inovação e Tecnologia possui, dentre outras funções, a

responsabilidade de definir as estratégias e objetivos da empresa, delinear as

políticas e diretrizes das áreas funcionais, fazer análise do ambiente de negócio e

perspectivas de mudança, avaliar novidades tecnológicas desenvolvidas ou em

desenvolvimento, gerenciar a aplicação das competências individuais aos recursos

organizacionais, e promover a aplicação de técnicas e ferramentas de

desenvolvimento do produto e suas fases de implantação (Documento 5).

O Gerente de Produtos tem como principais atribuições gerenciar e apoiar a

linha de produtos, a fim de definir o portfólio da empresa em função das demandas

de mercado; pesquisar novos produtos a fim de atender à demanda do mercado;

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atuar na gestão de parcerias tecnológicas; atuar em conjunto com o marketing na

elaboração, aplicação e análise de pesquisas de mercado e outras atividades de

planejamento e gestão das atividades de pós-venda para o mercado (Documento 5).

Além disso, a empresa conta com um Comitê de Inovação. Esse comitê é

composto pelos gestores de cada área, que são responsáveis pela implantação da

estratégia tecnológica na sua área de atuação. O comitê se reúne quinzenalmente

para discutir e acompanhar os aspectos referentes ao desenvolvimento de

tecnologias, além de acompanhar os projetos de desenvolvimento produtos

(Entrevistas 4 e 5).

Para o indicador grau de participação nas atividades de P&D, foi avaliado que

o diretor de inovação e tecnologia tem participação direta no processo de P&D. Além

disso, o presidente da empresa participa de algumas reuniões da área de P&D nas

quais são discutidos os projetos em andamento (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5 e 7).

No que diz respeito ao indicador comunicação periódica entre a administração

superior e a equipe de P&D, foi dito que a comunicação ocorre por meio de: o

Diretor de Inovação e Tecnologia, que é bastante presente nas atividades de P&D;

as reuniões de acompanhamento de projetos de P&D, que tem a participação da

equipe de P&D; o Diretor de Inovação e Tecnologia e a Presidente; e a partir das

reuniões do Comitê de Inovação, das quais participam diretorias, presidência,

gestores de cada área da empresa e os pesquisadores da P&D. A comunicação foi

avaliada como boa por todos entrevistados. Apenas um dos entrevistados avaliou

que a comunicação poderia melhorar em alguns aspectos, podendo haver maior

interação entre os membros da administração superior e a equipe de P&D

(Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

4.1.2.4 Diversificação na equipe da administração s uperior

A diversificação na equipe da administração superior é importante para o

alinhamento entre as estratégias tecnológica e de negócio, uma vez que a

diversidade faz com que pessoas com diferentes conhecimentos interajam e

compartilhem experiências, aumentando a capacidade de geração de ideias e

associações para a inovação.

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A diversificação no time da administração superior é composta pelos

indicadores estilo de trabalho da administração superior, background profissional da

equipe da administração superior e discordância no estabelecimento da estratégia

tecnológica. Para o primeiro indicador foi relatado que o estabelecimento da

estratégia é feito a partir de reuniões e discussões em grupo (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e

5), mas foi dito também que em algumas situações as discussões não são objetivas:

“a discussão é boa, mas existe uma questão cultural de decidir pelo consenso, e

algumas discussões tornam-se inconclusivas”. (Entrevista 1)

O background profissional da equipe da administração superior foi

considerado diversificado por diversos entrevistados (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5). No

entanto, foi relatada certa dificuldade de se obter uma diversidade maior na equipe

de P&D, devido principalmente à falta de disponibilidade de mão de obra

especializada no mercado:

Tem pouca gente trabalhando em pesquisa aplicada em indústria. A pesquisa está muito ligada a universidades. É muito difícil encontrar pessoal diferenciado para P&D. Então você seleciona pessoas recém-formadas, e elas vão seguir o que está acontecendo dentro da empresa, se espelhar aqui, não havendo uma diversificação, levando a todo mundo ir acumulando o mesmo conhecimento. Isso é um fator que perturba e inibe, ou não estimula a inovação. A diversificação estimula a inovação. (Entrevista 4)

Já para o indicador discordância no estabelecimento da estratégia

tecnológica, foi dito que existem discussões, e que as visões são compartilhadas

(Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5). No entanto, e conforme relatado anteriormente, em

algumas entrevistas relata-se que as discussões são inconclusivas (Entrevista 1), e

em outras afirma-se que nem todas as pessoas participam ativamente das

discussões, como se pode ver no segmento abaixo:

De modo geral na empresa, pouca gente dá opinião. Não sei se as pessoas têm temor de dar opinião, mas eu não consigo entender porque isso acontece, a pessoa não vai ser desligada porque emitiu opinião. Mas tem espaço para opinar. As coisas são feitas para discutir, dar a opinião. (Entrevista 4)

De maneira geral, alguns dos entrevistados avaliam que a maior participação

de pessoas do corpo gerencial (função de gerentes) e de pessoas que estão em

contato com o mercado (consultores de negócio) seria necessária no

estabelecimento da estratégia tecnológica. Quando essa análise foi feita pelo diretor

da empresa, ele afirmou que as pessoas não opinam porque não querem. No

entanto, quando feita pelo nível gerencial, relatou-se que o peso da opinião de

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determinadas pessoas é muito grande, e outras opiniões acabam não sendo muito

valorizadas (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5).

4.1.2.5 A influência da administração superior

A administração superior possui correlação positiva com o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio, conforme afirmado na

Conclusão 7 do modelo de Chen, He e Jin (2008).

Figura 3: A influência da administração superior no alinhamento entre estratégia tecnológica e estratégia de negócio

Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

O background e a diversificação na administração superior têm o potencial de

levar a uma diversidade de visões durante a tomada de decisões, e de melhorar a

qualidade das decisões. A diversidade na administração superior também permite

que a organização formule estratégias baseadas em mais aspectos tecnológicos e

não tecnológicos, a partir de uma visão mais ampla, o que pode assegurar o

alinhamento entre as estratégias. O grau de participação da administração superior

nas atividades de P&D facilita o entendimento do processo e contribui para a

definição e implantação da estratégia tecnológica alinhada à estratégia de negócio.

A partir das entrevistas realizadas, essa correlação positiva pôde ser

confirmada, uma vez que foi considerado pelos entrevistados que as diretrizes da

administração superior, e as suas preferências com relação à tecnologia são

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essenciais para todas as ações realizadas pela empresa, inclusive aquelas capazes

de reforçar o alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio.

Outro fator importante observado na pesquisa, não identificado no modelo de

Chen, He e Jin (2008), é que a administração superior pode ser afetada por fatores

do ambiente externo e, assim, influenciar o grau de alinhamento. Um ambiente com

alta taxa de mudanças tecnológicas com alto nível de desenvolvimento tecnológico,

por exemplo, pode influenciar a preferência tecnológica. Isso pode reforçar a

necessidade da administração superior de aplicar atitudes tecnológicas positivas

alinhadas aos objetivos empresariais para manter a competitividade no mercado.

4.1.3 Aquisição de recursos tecnológicos

O modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere que a aquisição de recursos

tecnológicos influencia positivamente o grau de alinhamento entre a estratégia de

negócio e estratégia tecnológica, uma vez que a habilidade de aquisição desses

recursos e a disponibilidade dos mesmos afetam diretamente a implementação da

estratégia, podendo, então, acelerar o grau de alinhamento. Os recursos

tecnológicos são divididos nas dimensões recursos internos e recursos externos.

O modelo também sugere que a aquisição de recursos tecnológicos é

influenciada positivamente tanto pelo ambiente externo quanto pela administração

superior. O suporte eficiente do ambiente externo e o da administração superior

podem fortalecer a capacidade da empresa de adquirir recursos tecnológicos. Cada

um desses fatores é avaliado detidamente a seguir.

4.1.3.1 Recursos internos

Os recursos tecnológicos internos são avaliados a partir dos indicadores

comunicação tecnológica interna e capacidade interna de P&D. A capacidade da

empresa relativa à apreensão, uso e compartilhamento do conhecimento da

tecnologia, assim como sua capacidade de desenvolvimento de produtos, influencia

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a implementação da estratégia tecnológica e, consequentemente, o alinhamento

entre as estratégias.

Com relação ao indicador de comunicação tecnológica, a comunicação

interna acerca da estratégia tecnológica é percebida como eficiente nos níveis da

administração superior e gerencial. No nível operacional aponta-se que pode ser

melhorada, e que a forma de tornar a comunicação mais eficiente ainda não foi

encontrada (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5):

A comunicação é feita, mas de uma maneira global, não entra em detalhamento, e não é todo mundo que tem condição de entender e precisa de todo detalhamento. (Entrevista 2) A informação chega onde deveria? Pela minha experiência a gente tenta levar a informação aonde ela deveria chegar. Talvez a forma a gente não tenha encontrada a melhor forma. (Entrevista 5)

Os entrevistados também percebem que a comunicação eficiente acerca dos

aspectos da estratégia tecnológica é importante para o processo de inovação

tecnológica (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5). Isso, de certa forma, pode ser reforçado pelo

resultado da pesquisa PINTEC do IBGE (2005), segundo a qual 64,6% das

empresas industriais consideraram que utilizam como fontes de informação para o

processo de inovação as áreas internas à empresa.

Já para o segundo indicador, a capacidade interna de P&D foi avaliada pelos

entrevistados como média (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Foi relatado que a criação

da nova função de Gerente de Produtos tem como uns dos objetivos melhorar a

capacidade interna de P&D, a partir da promoção de maior interação entre a equipe

de P&D com o ambiente externo, e com a equipe de Marketing (Entrevistas 2, 3 e 5).

A equipe de P&D da empresa é composta por sete empregados com

dedicação exclusiva. Com relação à escolaridade, um tem doutorado, dois têm

mestrado, dois são especialistas e dois são de nível técnico. Além dos empregados

com dedicação exclusiva, funcionários de outras áreas participam do processo de

P&D, quando pertinente (Entrevista 2; Documento 7).

Com relação ao número de produtos introduzidos no mercado, a empresa

lançou seis produtos no ano de 2008, sendo todos novos para a empresa, e um

produto significativamente melhorado. Atualmente estão em andamento quinze

projetos de produtos na empresa. Desses projetos, apenas um é para melhoria de

produto, e os outros são para produtos novos. Dos projetos de produtos novos, seis

podem ser considerados novos para o mercado, quando se avalia o segmento de

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clientes específicos da empresa, e os outros são novos para a empresa (Entrevista

2; Documentos 1, 2 e 3)

Com relação aos dispêndios totais da empresa com P&D, incluídos os custos

com pessoal, com a aquisição de material para P&D, a contratação de consultoria

externa para P&D, e o custo geral dos projetos de produtos, a empresa gastou

R$1.359.985,40 no ano de 2008, representando 2,97% do seu faturamento

(Documento 10). A pesquisa PINTEC (2005) revelou que os dispêndios realizados

com atividades internas de P&D foram de 0,57% para a indústria. Assim, a partir da

comparação dos dados da empresa com os dados da PINTEC, pode-se dizer que a

empresa estudada realiza um alto investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Com relação à obtenção de patentes, a empresa relatou não possuir

nenhuma patente (Entrevistas 2, 4 e 7). A pesquisa da BIOMINAS (2007) revelou

baixa taxa de depósito de patentes pelas empresas de biotecnologia. No período

avaliado, foram 17 patentes, depositadas por apenas 11 empresas. Os resultados

mostraram que 84,5% das empresas não têm patentes depositadas no Brasil, e das

15,5% restantes, 10% têm uma, 2,8% têm duas e apenas 2,8% têm três patentes

depositadas. A pesquisa PINTEC do IBGE (2005) mostrou que apenas 6,7% das

empresas industriais utilizaram a patente como método de proteção deas inovações.

As principais dificuldades relacionadas ao processo de P&D relatadas nas

entrevistas são a experiência da equipe de P&D, a disponibilidade de mão de obra

qualificada no mercado, a pouca interação da equipe de P&D com o ambiente

externo e a disponibilidade de recursos financeiros. Essas dificuldades refletem

principalmente no tempo de colocação de novos produtos no mercado (Entrevistas

1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7), como exemplificam os segmentos abaixo:

(...) tem uma preocupação muito grande com o desempenho final do produto, o processo de P&D é bem detalhado e bem pormenorizado. Isso não é um impeditivo, eu acho positivo, mas às vezes isso é enxergado como tendo um tempo maior de lançamento. (Entrevista 2) Outro fator é o conhecimento. O que leva obter bom resultado é fazer experimentos, quanto mais experimentos maior a velocidade, para responder as perguntas que eu tenho. (Entrevista 4) Eu acho que falta experiência, desenvolvimento de conhecimento. E não é porque as pessoas que estão aqui sejam inexperientes, mas é porque no nível que estamos para desenvolver produto tem que ter mais conhecimento. (Entrevista 5)

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4.1.3.2 Recursos externos

Os recursos externos são importantes para a implementação da estratégia

tecnológica, uma vez que as fontes de inovação não residem exclusivamente dentro

das empresas. Ao contrário, elas são comumente encontradas no interstício entre

empresas, universidades, laboratórios de pesquisa, fornecedores e clientes. As

redes de conhecimento e o compartilhamento de informações tecnológicas podem

facilitar e intensificar as inovações. Os recursos externos são divididos nos

indicadores de cooperação com universidades e institutos de pesquisa, compra de

patentes tecnológicas externas, comunicação tecnológica entre o setor e

cooperação tecnológica com outras empresas.

Com relação ao indicador de cooperação com universidades e institutos de

pesquisa, foi dito que a empresa tem um primeiro projeto para estabelecer parceria

com uma universidade, e pretende investir mais nesse tipo de cooperação

(Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5; Documento 1). Foram relatadas também diversas

dificuldades burocráticas para se estabelecer tais parcerias:

É uma das coisas mais difíceis, devido burocracia. (Entrevista 5) Eu percebo que a dificuldade maior é da universidade, se eles fossem mais abertos e mais ágeis para estabelecer o relacionamento a gente teria mais facilidade. (Entrevista 4)

Essa percepção de dificuldades está alinhada com o resultado do estudo da

ANPEI sobre os novos instrumentos de apoio à inovação (2009) que revelou que,

em relação às instituições de ensino e pesquisa, é recorrente a reclamação de que a

postura das universidades dificulta a cooperação, ao exigir parcela muito elevada

dos direitos de propriedade sobre o desenvolvimento conjunto. Em síntese, várias

empresas relataram que, após a vigência da Lei de Inovação, algumas

universidades endureceram as negociações sobre projetos cooperativos. A

realização de seminários com enfoque interdisciplinar e o relato de experiências

exitosas de cooperação entre universidades e empresas no Brasil e no exterior

poderiam contribuir para criar um ambiente propício para tornar a negociação entre

as partes menos conflituosa (ANPEI, 2009).

As empresas foram unânimes em apontar que os problemas encontrados nas

parcerias com as instituições científicas e tecnológicas – segundo elas, marcadas

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pela excessiva burocracia e rigidez das universidades na negociação de direitos de

propriedade intelectual – são suficientemente fortes para dificultar a cooperação,

mesmo com a disponibilidade de recursos públicos para esse fim (ANPEI, 2009).

Além disso, a pesquisa PINTEC do IBGE (2005) mostrou que 12,0% das

empresas industriais utilizam universidades e institutos como fontes de informação

para o processo de inovação, e 31,4% das empresas industriais consideram as

universidades e institutos de pesquisa como parceiros importantes nesse processo.

Apesar das dificuldades relatadas, os entrevistados acreditam que essas

parcerias podem influenciar positivamente o processo de inovação tecnológica,

contribuindo para o desenvolvimento de novos produtos e processos (Entrevistas 2,

3, 4 e 5): “Como a gente tem limitações de recursos, se a gente não for por essa via,

nós vamos estagnar”. (Entrevista 3)

Além disso, no mapa estratégico da empresa está definido como objetivo

estratégico o estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento de produtos.

(Documento 1).

Já para o indicador compra de patentes tecnológicas externas, a empresa

informou nunca ter adquirido patentes tecnológicas (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5). Foi

relatado que, alguns anos atrás, houve uma tentativa que não foi bem sucedida

devido principalmente a questões burocráticas:

Tentamos uma aquisição de uma patente há uns dois anos atrás, mas não tivemos sucesso, pois a patente não foi confirmada pelo detentor da patente, (..) nós não ficamos seguros. A gente não poderia comprar patente e depois ter dificuldades. (Entrevista 4)

Para o indicador de comunicação tecnológica entre o setor avaliou-se que a

comunicação com o setor é feita de maneira informal, através da participação de

associações, participação em eventos (congressos e feiras) e atuação dos

consultores de negócio no mercado (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Segundo a

pesquisa PINTEC do IBGE (2005), 58,3% das empresas industriais utilizam as feiras

e exposições como fontes de informações para o processo de inovação.

Foi relatado nas entrevistas que o corpo gerencial deveria ter maior contato

com o ambiente externo, a fim de obter um maior número de informações do

mercado:

a empresa prende muito o corpo gerencial dela internamente, tem muita reunião, comitê, e atividades internas, a cultura é de prestar conta diária, mas a pessoa tem que sair. (Entrevista 3)

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105

Finalmente, para o indicador cooperação tecnológica com outras empresas,

foi relatado que a empresa tem um projeto em andamento para desenvolvimento de

um produto em conjunto com outra empresa. Mas a cooperação com outras

empresas ainda é tida como baixa. Além disso, a empresa atualmente conta com a

consultoria de um pesquisador externo para o desenvolvimento de uma linha de

produtos (Entrevistas 1, 2, 3, 4 e 5). Segundo a pesquisa PINTEC do IBGE (2005),

apenas 12,2% das empresas industriais utilizam empresas de consultoria como

fonte de informação para a inovação e 22,6% das empresas consideram que as

consultorias são importantes para o processo de inovação.

4.1.3.3 A influência da aquisição de recursos tecno lógicos

A Conclusão 5 do modelo de Chen, He e Jin (2008) propõe que a aquisição

de recursos tecnológicos tem correlação positiva com o grau de alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócio, uma vez que o aumento da

habilidade de aquisição de recursos tecnológicos pode acelerar o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio.

Figura 4: A influência da aquisição de recursos tec nológicos no grau de alinhamento

Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

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Os recursos tecnológicos internos, como a capacidade interna de P&D, e os

recursos tecnológicos externos disponíveis e adquiridos pela empresa interferem

diretamente na capacidade de inovação da empresa.

A Conclusão 5 do modelo pode ser confirmada a partir das entrevistas

realizadas na empresa, conforme apresentado anteriormente, destacando-se o

papel fundamental da capacidade de P&D interna e da cooperação com institutos e

outras empresas para a capacidade de inovação tecnológica da empresa. Como

análise global do fator aquisição de recursos tecnológicos, pode-se dizer que a

disponibilidade de recursos é essencial para a estratégia tecnológica, reforçando a

Conclusão 5 do modelo.

4.1.3.4 Aquisição de recursos tecnológicos: influên cia do ambiente externo e

da administração superior

O ambiente externo influencia a aquisição de recursos tecnológicos, conforme

a Conclusão 2 do modelo de Chen, He e Jin (2008), afetando, consequentemente, o

grau de alinhamento entre as estratégias tecnológicas e de negócio.

Figura 5: A influência do ambiente externo na aquis ição de recursos tecnológicos Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

Percebe-se que a disponibilidade de subsídios financeiros no ambiente pode

contribuir para o desenvolvimento de produtos, aumentando a capacidade interna de

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P&D da empresa. Além disso, os fornecedores, as informações de mercado e as

tendências são entradas para as escolhas dos produtos a serem desenvolvidos. Foi

enfatizado nas entrevistas que a interação da equipe de P&D com o ambiente

externo contribui para a capacidade de inovação da empresa, uma vez que

informações do ambiente, como por exemplo a respeito das tecnologias que estão

sendo desenvolvidas no mercado, são importantes fontes de entrada para o

processo, influenciando assim na capacidade interna de P&D e o desenvolvimento

de novos produtos. Assim, a Conclusão 2 do modelo também pode ser confirmada.

A administração superior também influencia a aquisição de recursos

tecnológicos, conforme afirmado na Conclusão 3 do modelo, afetando então, o grau

de alinhamento entre as estratégias tecnológicas e de negócio.

Figura 6: A influência da administração superior na aquisição de recursos tecnológicos Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

No caso estudado, foi considerado pelos entrevistados que a administração

superior incentiva a aquisição de recursos tecnológicos. Foi relatado ter sido

realizada uma transferência de tecnologia no ano de 2001. Na percepção do gerente

de produtos esse incentivo poderia ser mais ativo. Na percepção do diretor de

tecnologia existem dificuldades para adquirir recursos tecnológicos, impostos pelas

grandes empresas detentoras da tecnologia, que minimiza o processo de aquisição

de recursos externos. (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7)

Assim, a partir da pesquisa pode-se confirmar a Conclusão 3 do modelo: a

administração superior tem papel importante nos recursos tecnológicos da empresa.

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108

4.1.4 Habilidade de convergência organizacional

O modelo de Chen, He e Jin (2008) propõe que a habilidade de convergência

organizacional possui influência positiva no grau de alinhamento entre a estratégia

de negócios e estratégia tecnológica, uma vez que o aumento da habilidade de

convergência organizacional pode acelerar o grau de alinhamento. A estrutura

organizacional pode contribuir para o fluxo de informações eficiente entre os

departamentos e a comunicação efetiva entre as pessoas com background e

conhecimentos diversificados, afetando a inovação.

De acordo com o modelo de Chen, He e Jin (2008) a habilidade de

convergência organizacional atua através das dimensões de status do pessoal de

P&D, grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia, e

comunicação e cooperação entre os departamentos. Além desses indicadores, o

modelo define que a habilidade de convergência organizacional é influenciada

positivamente pela administração superior, uma vez que a atitude positiva e as

ações da administração superior podem aumentar a convergência interna, e assim,

influenciar o alinhamento. Cada um desses fatores é avaliado a seguir.

4.1.4.1 Status do pessoal de P&D

O status da equipe de P&D pode contribuir para o aumento da lealdade e

comprometimento dos empregados, influenciando a capacidade de convergência

organizacional. O status do pessoal de P&D é avaliado pelos indicadores nível

salarial do pessoal de P&D, voz do pessoal de tecnologia e status do departamento

de P&D na empresa.

Para o indicador nível salarial de P&D, foi relatado que não há política salarial,

nem outras políticas de RH diferenciadas para a equipe de P&D. Existe um

programa de remuneração variável de participação nos lucros e resultados, baseado

em cumprimento de metas e contratos de resultados. O sistema de metas é

estabelecido para os empregados cujas funções são consideradas como não

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relacionadas diretamente com a estratégia empresarial, e são estabelecidas para as

equipes setoriais. O sistema de contrato de resultados inclui os funcionários cujas

funções são consideradas estratégicas e diretamente relacionadas ao negócio da

empresa, e que são mais afetadas por mudanças tanto organizacionais como no

ambiente externo e mercado de atuação. Os contratos de resultados são

estabelecidos individualmente, e a remuneração é baseada no percentual de

cumprimento das ações definidas, o qual vai determinar o número de salários a

serem recebidos. Essa remuneração é superior à estabelecida para os empregados

que participam do sistema de metas. A equipe de P&D está incluída no sistema de

contrato de resultados (Entrevistas 1, 2, 5; Documento 6).

Além disso, existe a política de remuneração fixa que estabelece métodos e

parâmetros de valorização e reconhecimento dos profissionais da empresa. A

remuneração não está vinculada apenas a cargos, estando atrelada, principalmente,

ao desempenho individual e da equipe. Dessa forma, procura-se incentivar os

empregados a investir na melhoria de sua capacitação e a desenvolver habilidades e

conhecimentos capazes de gerar a evolução da empresa (Documento 6).

Com relação ao indicador de voz do pessoal de tecnologia, alguns

entrevistados avaliaram que a equipe de P&D tem voz ativa (Entrevistas 4, 5 e 6): “O

nível de influência, eu percebo, que o pessoal, as demais áreas confiam na área de

P&D, nas informações que são prestadas”. (Entrevista 4)

No entanto, outros avaliaram que essa atuação poderia ser maior:

Status ainda é de equipe em formação. Para aquilo que a empresa já adquiriu conhecimento ao longo dos anos eu acho que vai bem, mas para o que se exige de P&D de uma indústria de base tecnológica, estamos longe. (Entrevista 3)

Quanto ao indicador status do departamento de P&D na empresa, algumas

pessoas avaliam que a imagem do departamento de P&D melhorou, pois há algum

tempo a equipe era muito cobrada por resultados mais rápidos, o que tornou a

imagem da área um pouco desgastada:

Até um tempo atrás as pessoas do departamento se sentiam mal por não conseguir alcançar os resultados esperados, com dificuldade de atingir as metas. Isso melhorou, tanto em termos de resultado quanto em autoestima, a equipe mudou bastante. Tem haver com ações da empresa, a estruturação de como trabalhar e como cobrar, vem mudando. (Entrevista 1)

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4.1.4.2 Grau de participação do pessoal de P&D no e stabelecimento da

estratégia

O grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia é

importante para sua concretização, uma vez que o conhecimento dessa área acerca

das ideias de novas tecnologias e novos produtos pode contribuir para determinar os

fatores viáveis que deverão compor a estratégia. Essa dimensão é medida pelos

indicadores entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D,

entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D e grau de participação

do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia.

O indicador entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D foi

avaliado por parte dos entrevistados como sendo adequado (Entrevistas 4, 5, 6 e 7),

e por outra parte como podendo ser melhorada (Entrevistas 1, 2 e 3).

De forma semelhante, o indicador grau participação do pessoal de P&D no

estabelecimento da estratégia foi avaliado por alguns como adequado (Entrevistas 4,

5, 6 e 7), e por outros como podendo ser melhorado (Entrevistas 1, 2 e 3):

Em termos de opinar em relação à estratégia isso poderia melhor, a P&D não tem uma participação ativa. Por outro lado, a P&D precisaria trabalhar outro lado para poder opinar, se capacitar. A P&D trabalha muito internamente, ela precisaria ter mais contato externo. (Entrevista 2) É ruim, é decorrência da introspecção. Uma vez que você fica viciado num modelo atual, você pouco contribui para novos modelos. É uma barreira a ser vencida. (Entrevista 3)

Conforme relatado anteriormente, percebe-se que a interação da equipe de

P&D com o ambiente externo foi mais uma vez apontada como fator importante para

o estabelecimento da estratégia tecnológica, e também como sendo um ponto fraco

na empresa estudada. A interação da equipe de P&D com o ambiente externo foi

considerada importante para aumentar a capacidade do pessoal em contribuir para a

formulação da estratégia tecnológica.

De maneira geral, o grau de participação do pessoal de P&D no

estabelecimento da estratégia foi avaliado pelos entrevistados como sendo

importante para garantir que a estratégia tecnológica e de negócio sejam formuladas

de forma alinhada (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

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4.1.4.3 Comunicação e cooperação entre os departame ntos

A comunicação e a cooperação entre os departamentos promovem um fluxo

de informações eficiente entre os departamentos e a comunicação efetiva entre as

pessoas com background e conhecimentos diversificados, contribuindo assim para a

inovação. O estabelecimento de um relacionamento próximo e cooperativo entre os

laboratórios de pesquisa e as funções de marketing, além do diálogo entre pessoas

de diversos departamentos, é importante para criar um entendimento mútuo acerca

das necessidades requeridas para os objetivos tecnológicos, e assim garantir o

sucesso de novos produtos.

Comunicação e cooperação entre departamentos é medida pelos indicadores

comunicação entre o pessoal de marketing e P&D, encorajamento da comunicação

entre departamentos, e comunicação entre os gerentes dos departamentos.

Foi relatado que a comunicação na empresa é feita em reuniões em geral,

incluindo a reunião do Comitê de Inovação (que tem como participantes a

presidência, diretoria, os gestores de cada área, e os analistas de P&D), por meio de

e-mails, além da comunicação informal cotidiana (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

Alguns dos entrevistados avaliaram que a comunicação e cooperação de

forma geral na empresa são boas e suficientes:

A comunicação entre as áreas é muito boa. Temos exemplos disso nos lançamentos de produtos, o pessoal tem uma interação boa. Entendo que a interação é apropriada. (Entrevista 4)

No entanto, outros entrevistados acreditam que a mesma pode ser

melhorada:

Existe uma queixa permanente de que em algumas situações há falta de comunicação, não envolvendo todas as partes interessadas, e em outras há excesso deve buscar o equilíbrio. (Entrevista 1) Melhorou bastante, mas dá para ficar melhor (Entrevista 3)

4.1.4.4 A influência da habilidade de convergência organizacional

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A habilidade de convergência organizacional tem correlação positiva com o

grau de alinhamento, uma vez que o aumento da convergência interna da

organização pode acelerar o grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e de

negócio, conforme afirmado na Conclusão 6 do modelo de Chen, He e Jin (2008).

Figura 7: A influência da habilidade de convergênci a organizacional no alinhamento entre a estratégia tecnológica e estratégia de negócio

Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

Uma estrutura organizacional coesa pode contribuir para o fluxo de

informações eficiente entre os departamentos e para a comunicação efetiva entre as

pessoas com background e conhecimentos diversificados. A participação da equipe

de P&D no desenvolvimento da estratégia tecnológica e de negócio, e a

comunicação entre o pessoal de P&D e marketing facilita o correto direcionamento

de P&D e favorece também as atitudes tecnológicas ativas.

As análises das entrevistas apresentadas anteriormente, permitem confirmar

a Conclusão 6 do modelo, destacando que o bom entendimento da equipe de P&D

acerca da estratégia tecnológica e a boa comunicação da estratégia são

fundamentais para sua execução.

4.1.4.5 Habilidade de convergência organizacional: influência da administração

superior

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A administração superior influencia positivamente a habilidade de

convergência organizacional, conforme sugerido pela Conclusão 4 do modelo de

Chen, He e Jin (2008). Com isto, ela afeta o grau de alinhamento entre as

estratégias tecnológicas e de negócio.

Figura 8: A influência da administração superior na habilidade de convergência organizacional Fonte: Adaptado de Chen, He e Jin (2008)

A administração superior pode afetar a habilidade de convergência

organizacional, uma vez que sua participação em atividades de P&D e a

comunicação periódica com a equipe de P&D contribuem para o entendimento da

estratégia tecnológica pelas diversas áreas, incluindo a de P&D, o que favorece

implementação da estratégia tecnológica. Além disso, a administração superior pode

coordenar positivamente a comunicação eficaz entre as equipes de marketing e de

tecnologia, assegurando que as atividades de P&D se encaixem na estratégia de

negócio, com forte embasamento e direcionamento.

Na empresa estudada, avaliou-se a administração superior como sendo

influenciadora das atividades de P&D e tendo papel importante no estabelecimento

de uma comunicação eficaz entre os departamentos, contribuindo, dessa forma,

para o alinhamento entre as estratégias tecnológicas e de negócio:

(…) o incentivo vem mais da administração superior para baixo. (Entrevista 3) É ele (executivo tecnológico) que consegue alinhar a estratégia de negócio com estratégia específica, transita entre as duas coisas, porque senão fica uma coisa estranha. (Entrevista 7)

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Assim, a Conclusão 4 do modelo de Chen, He e Jin (2008) pode ser

reforçada, tendo como base a empresa estudada.

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4.2 Grau de alinhamento entre estratégia tecnológic a e de negócios

O modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere que o grau de alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócios pode ser avaliado a partir das

dimensões atitude tecnológica, desenvolvimento de produtos e inovação em

processos, para as quais são definidos indicadores. Cada uma das dimensões e os

seus respectivos indicadores são discutidos a seguir.

4.2.1 Atitude tecnológica

A atitude tecnológica refere-se à escolha da empresa em adotar uma postura

tecnológica agressiva, ou seja, usar a tecnologia de forma proativa para se

posicionar no mercado e a partir ela construir sua reputação. O modelo de Chen, He

e Jin (2008) propõe os indicadores posição tecnológica no setor e status da

tecnologia na empresa para avaliação da atitude tecnológica.

Com relação ao primeiro indicador, pode-se dizer que a empresa é seguidora

em termos de desenvolvimento de produtos. Nas entrevistas apontou-se a

dificuldade de se investir em novas tecnologias no Brasil. No entanto, se se

considerar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a própria empresa, e

para o mercado específico de atuação (clientes de baixo e médio porte) a empresa

poderia ser considerada como inovadora. Além disso, a empresa é reconhecida no

mercado pela prestação diferenciada de serviços. Desde a sua criação, a empresa

investe no serviço de atendimento ao cliente, tanto no atendimento interno, por meio

do SAC, quanto no atendimento externo, por meio das visitas aos clientes,

investindo na implantação de sistemas e softwares para dar suporte a esse serviço.

Também são feitos esforços para a promoção da educação continuada, a partir da

realização de seminários e treinamentos, tanto para a rede de revendedores quanto

para os clientes finais (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7; Documentos 1, 2 e 3).

Assim, considerando a definição de inovação de produto proposta pelo

Manual de Oslo , e também adotada pelo IBGE, que engloba bens e serviços, a

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116

empresa pode ser considerada inovadora para a prestação de serviços. Relatos dos

entrevistados ratificam esta análise.

A empresa é reconhecida pela prestação de serviço. Tem um serviço de atendimento ao cliente desde a sua fundação, quando isso era uma coisa incomum. (Entrevista 1) Por característica do Brasil, dificuldades de se desenvolver novos produtos no ponto de vista tecnológico ela não seria vista como líder, ela é seguidora, nós estamos fazendo vários esforços para ser líder. Nós já fomos líder em vários momentos, sobre o ponto de vista de mercado brasileiro, de introdução de tecnologia que não existia no Brasil, nesse aspecto a gente tem liderança, de trazer, ou de desenvolver esse tipo de tecnologia. Tem empresas desenvolvendo tecnologias que não existem, estão criando essa tecnologia. No Brasil isso não é muito difícil. (Entrevista 7)

Com relação ao segundo indicador, a tecnologia é vista como importante pela

administração superior, e reconhece-se que, se a empresa não investir em

tecnologia, tanto para produtos como para processos, ela não será capaz de se

manter no mercado. Foi relatado que sem o desenvolvimento de tecnologias a

empresa se tornará uma distribuidora de produtos, o que não é o seu objetivo

empresarial (Entrevistas 2, 3, 4, 5 e 7).

Assim, a partir da análise do indicador de atitude tecnológica, pode-se dizer

que há um alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócios na

empresa estudada, uma vez que a empresa investe em tecnologias de forma a

atender os seus objetivos estratégicos. Os esforços não são realizados

intensamente, no sentido de alçar a empresa à posição de liderança tecnológica. No

entanto, não podem ser desconsiderados.

4.2.1 Desenvolvimento de novos produtos

O desenvolvimento de novos produtos se refere à intensidade das atividades

de pesquisa e desenvolvimento de produtos, e à taxa de introdução de novos

produtos. O modelo de Chen, He e Jin (2008) propõe os indicadores velocidade de

entrada em novos mercados, velocidade de lançamento de novos produtos e

quantidade de novos produtos para análise do desenvolvimento de novos produtos.

Para a velocidade de entrada em novos mercados, os entrevistados

consideraram que a taxa apresentada é a média, mas que tem melhorado ao longo

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do tempo, devido principalmente ao acúmulo de experiência pela empresa como um

todo. Já a velocidade de lançamento de novos produtos também foi considerada

pelos entrevistados como sendo média, e que também tem melhorado ao longo do

tempo, devido também ao acúmulo de experiência e conhecimento. Além disso,

foram apontados fatores limitantes no processo de lançamento de novos produtos,

decorrentes de diferentes fatores como, por exemplo, a legislação sanitária vigente

(Entrevistas 1, 3 e 7).

Por outro lado, apontou-se também que a empresa já conseguiu estabelecer

um bom posicionamento referente à imagem da marca, o que facilita, em algumas

situações, a entrada em novos mercados:

A marca é forte, a empresa é muito reconhecida pela qualidade do produto, pelo trabalho científico, e pelo conhecimento que ela tem. Ela entra fácil no mercado. (Entrevista 6)

De forma semelhante aos primeiro e segundo indicadores, no que diz respeito

ao indicador de quantidade de novos produtos foi considerado pelos entrevistados

que a quantidade tem aumentado ao longo dos anos, devido à aquisição de

conhecimento e experiência. Conforme discutido no indicador de capacidade interna

de P&D, a empresa lançou seis produtos no ano de 2008, sendo todos eles novos

para a empresa, além de um produto significativamente melhorado. Ainda, estão em

andamento quinze projetos de produtos na empresa (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7;

Documentos 2 e 3).

Apesar de terem sido relatadas dificuldades no processo de P&D, a empresa

realiza esforços significativos para o desenvolvimento e lançamento de novos

produtos, o que é uma das premissas básicas da estratégia da empresa. A

estratégia de negócios da empresa, definida no mapa estratégico, na missão e

visão, está voltada para a oferta de valor ao cliente a partir da antecipação das suas

necessidades e entrega de uma combinação ótima de soluções, incluindo produtos e

serviços. Ou seja, a estratégia genérica de negócios da empresa poderia ser

traduzida como a busca da diferenciação a partir da oferta de serviços diferenciados

agregados ao produto. Assim, pode-se dizer que, quanto ao desenvolvimento de

novos produtos, a empresa exibe alinhamento entre a estratégia tecnológica e a

estratégia de negócios (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7; Documentos 2 e 3).

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118

4.2.3 Inovação em processos

A inovação em processos relaciona-se com o nível de automação das

empresas e a adoção de avançadas tecnologias na produção e alocação de capital

em novos equipamentos e maquinários. No modelo de Chen, He e Jin (2008), a

inovação em processos é avaliada pelos indicadores de grau de automação dos

equipamentos de produção, grau de avanço tecnológico do processo, e investimento

de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção.

Quanto ao primeiro indicador, o grau de automação foi considerado adequado

para o tamanho das operações da empresa:

Não é até o momento um gargalo, uma necessidade de aumentar o nível de automação. O produto tem valor agregado alto, mas a produção é simples. (Entrevista 1) O nível de automação, pelo volume produzido, ele atende, não há razão para ser mais automatizado. Onde temos um volume de produção maior as máquinas são automáticas, onde o volume é menor, é manual. (Entrevista 4)

Da mesma forma, o segundo indicador, grau de avanço tecnológico do

processo, foi considerado adequado para o tamanho das operações da empresa. Foi

relatado que nem todos os processos da empresa são automatizados mas, sempre

que necessário, a empresa investe na aquisição de softwares e automação de

processos, conforme os relatos a seguir:

Tem pontos para serem melhorados, mas no geral, dentro da média das empresas brasileiras, a empresa emprega tecnologias boas no processo. (Entrevista 3) Nos locais onde isso é possível, e benéfico, está sendo implantado sistemas (automatizados). Nós temos um nível de automação bastante bom para a atividade da empresa. (Entrevista 4)

Quanto ao terceiro indicador, apontou-se que são feitos investimentos de

acordo com a necessidade. De forma semelhante ao primeiro e segundo

indicadores, foi relatado que os equipamentos não são os mais modernos, mas

tampouco são obsoletos, uma vez que são adequados para o nível de produção

(Entrevistas 1, 3, 4 e 7).

Assim, pode-se dizer que, quanto ao indicador inovação em processos, existe

alinhamento entre a estratégia tecnologia e a estratégia de negócios, uma vez que

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119

os esforços da empresa não são concentrados na inovação de processo e

diminuição de custos, o que está alinhado com a estratégia genérica de

diferenciação.

4.2.4 Grau de alinhamento entre estratégia tecnológ ica e estratégia de negócio:

análise global

Como análise global do alinhamento entre a estratégia tecnológica e de

negócio, identificou-se que os entrevistados percebem o alinhamento entre

estratégia tecnológica e a estratégia de negócio:

(..) tem uma sintonia grande entre as partes, até porque a prioridade da pesquisa e desenvolvimento de produtos, determinada em conjunto pelos departamentos, em função da necessidade do mercado. (Entrevista 6)

Foi apontado que normalmente a estratégia de negócio é estabelecida em

primeiro lugar e, a partir dessa, é desenvolvida a estratégia tecnológica. No entanto,

em algumas situações, a tecnologia pode guiar os objetivos do negócio, como por

exemplo, quando novas tecnologias são disponibilizadas pelos concorrentes. A

tecnologia é vista como fator importante para o crescimento e a sustentação da

empresa. A empresa procura desenvolver novos produtos e investir na

automatização de processos, dentro da sua capacidade de recursos e de acordo

com o tamanho da sua operação. Além disso, a partir da análise de documentos

internos da empresa, identificou-se que os objetivos referentes à estratégia

tecnológica estão incorporados no mapa estratégico da empresa, documento no

qual estão estabelecidos os objetivos de negócio de médio e longo prazo da

empresa (Entrevistas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7; Documentos 1, 2 e 3).

A estratégia de negócios da empresa está focada no crescimento a partir da

entrada em novos mercados e na fidelização de clientes, através da oferta de

soluções diferenciadas. A estratégia de negócio genérica está voltada, então, para a

diferenciação, com foco na prestação de serviços e relacionamento diferenciado

com o cliente. A estratégia tecnológica da empresa, definida no seu modelo

estratégico, está focada no desenvolvimento interno de novos produtos e na

internalização da produção de produtos adquiridos em OEM (Documentos 1, 2 e 3).

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Assim, pode-se dizer que existe alinhamento entre a estratégia tecnológica e

a estratégia de negócios da empresa. Além disso, os entrevistados consideram que

esse alinhamento é fundamental para garantir o sucesso de ambas as estratégias:

O sucesso está relacionado a esse alinhamento. Eu posso adquirir uma tecnologia que não vai ter como colocá-la no mercado com o modelo de negócio da empresa, por exemplo. Então eu vou ter que mudar minha estratégia, as pessoas, o modelo de negócio. Assim, eu acho que é uma coisa (tecnologia) bem junto com a outra (estratégia negócio). (Entrevista 4)

O Quadro 15 e a Figura 9 apresentam o alinhamento na empresa estudada.

Dimensão Presença Influência

Macroambiente ++ ↑

Ambiente tarefa ++ →

Ambiente do setor + →

Conjuntura macroeconômica ++ ↑

Background tecnológico da alta direção +++ ↑

Preferência tecnológica da alta direção +++ ↑

Grau de participação da alta gestão e influência nas atividades tecnológicas +++ ↑

Diversificação no time da alta gestão ++ →

Recursos internos ++ ↑

Recursos externos + →

Status do pessoal de P&D ++ →

Grau de participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia ++ ↑

Comunicação e cooperação entre os departamentos ++ ↑

Atitude tecnológica ++ NA

Desenvolvimento de novos produtos ++ NA

Inovação em processos + NA

Legenda: +++ Forte presença do fator na empresa estudada ++ Média presença do fator na empresa estudada + Fraca presença do fator na empresa estudada ↑ Forte influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias → Média influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias ↓ Baixa influência do fator no grau de alinhamento entre as estratégias NA Não se aplica

Quadro 15: Indicadores de alinhamento entre a estra tégia tecnológica e de negócio: presença e influência na empresa estudada Fonte: Elaborado pela pesquisadora

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Figura 9: O alinhamento entre a estratégia tecnológ ica e de negócio na empresa estudada Fonte: Elaborado pela pesquisadora

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4.3 O alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócios e a

capacidade de inovação tecnológica

O alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio é

importante para garantir a capacidade de inovação tecnológica da empresa, se

constituindo, então, em uma forma da empresa conquistar sua vantagem competitiva

no mercado. Nesse sentido, foi feita uma análise da capacidade de inovação

tecnológica da empresa, e a sua relação com o alinhamento entre a estratégia

tecnológica e de negócio da empresa.

Para essa análise foram utilizados como referência os conceitos de inovação

definidos no Manual de Oslo e alguns indicadores medidos pelo IBGE por meio da

PINTEC (2005).

Com relação à empresa estudada, a partir das definições de inovação e de

empresa inovadora do Manual de Oslo , a empresa pode ser considerada como

inovadora, uma vez que vem implementando produtos (tanto bens quanto serviços)

e processos novos ou significativamente melhorados ao longo de sua trajetória,

conforme informado pelos entrevistados, e já discutido anteriormente na análise de

cada um dos indicadores do modelo de Chen, He e Jin (2008).

Com relação grau de novidade e difusão da inovação, pode-se dizer que a

grande maioria das inovações realizadas pela empresa pode ser classificada como

nova para empresa. No entanto, algumas delas podem ser consideradas novas para

o mercado quando se avalia os clientes específicos da empresa, que são de médio e

pequeno porte. Além disso, está em desenvolvimento na empresa uma linha de

produtos, cuja metodologia pode também ser considerada nova para o mercado.

Com relação ao tempo de entrada no mercado, a empresa pode ser

classificada como seguidora. Foram relatadas grandes dificuldades para se

acompanhar o desenvolvimento tecnológico de empresas multinacionais.

Segundo o panorama da inovação tecnológica no Brasil, a taxa de inovação

encontrada na pesquisa PINTEC do IBGE foi 33,4% no período de 2003-2005.

Considerando o tipo de inovação realizada pelas empresas industriais, a taxa de

inovação de processo (26,9%) foi superior à taxa de inovação de produto (19,5%). A

taxa de inovação tecnológica é o indicador mais utilizado para aferir o dinamismo

tecnológico de um país, e corresponde à relação entre o número de empresas que

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120

realizaram alguma inovação em determinado período e o número de empresas do

universo considerado (ANPEI, 2009; IBGE, 2005).

Gráfico 4: Participação percentual do número de emp resas que implementaram inovações, segundo atividades selecionadas da indústria e dos serviços – Brasil – período 2003-2005

Fonte: IBGE 2005

Quando se consideram inovações para o mercado nacional, somente 9,7%

das empresas introduziram produtos novos para o mercado, e 5,0% implantaram

processos novos para a indústria. Esses resultados qualificam o resultado

predominante das inovações no país como sendo esforços de atualização e

modernização tecnológica (ANPEI, 2009).

Outro resultado que aponta na direção de um esforço inovador muito limitado

da indústria brasileira diz respeito ao grau de novidade do principal produto ou

processo implantado. O principal produto representou uma novidade para o mercado

mundial em menos de 1% dos casos; para o mercado nacional, em 15%. Ou seja,

mais de 80% das empresas indicaram que seu principal produto representava uma

novidade apenas para elas próprias. Em termos técnicos, para a maioria absoluta

das empresas (56%), o principal produto representava o aprimoramento de outro já

existente (ANPEI, 2009).

Observa-se que as taxas de inovação são tão mais elevadas quanto maior é o

porte da empresa. A taxa de inovação foi 79,2% para empresas com mais de 500

empregados, 55,5% para empresas de 100 a 249 empregados, e de 28,5% para

empresas de 10 a 29 empregados (ANPEI, 2009).

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TABELA 8 Desempenho inovador por porte das empresas das empr esas, período 2003-2005

Porte Universo Empresas inovadoras

Taxa inovação

geral

Taxa inovação produto

Taxa inovação processo

Total 91.055 30.377 33,4% 19,5% 26,9%

De 10 29 59.338 16.931 28,5% 16,8% 22,8%

De 30 a 49 12.962 3.992 30,8% 17,7% 24,5%

De 50 a 99 10.036 4.076 40,6% 22,8% 33,2%

De 100 a 249 5.338 2.962 55,5% 31,1% 44,8%

De 250 a 499 1.843 1.201 65,2 35,9% 56,0%

Com 500 e mais 1.537 1.216 79,2% 58,1% 68,4%

Fonte: ANPEI, 2009

No entanto, apesar do porte ser um elemento definidor da taxa de inovação, a

determinação estrutural, características específicas dos setores industriais, parece

ser ainda mais forte. Por exemplo, o desempenho do setor de siderurgia apresentou

um faturamento médio de cerca de R$ 350 milhões em 2005, e uma taxa de

inovação geral de 30,8%, o que é inferior à taxa da indústria como um todo. Já a

atividade de fabricação de máquinas, aparelhos e equipamentos de sistemas

eletrônicos dedicados à automação industrial teve faturamento médio superior a R$4

milhões, e taxa de inovação geral de 92,9% (ANPEI, 2009).

O terceiro condicionante da taxa de inovação é a origem do capital. A taxa

geral de inovação das empresas estrangeiras (64,8%) foi o dobro das empresas

nacionais (32,7%); a taxa de inovação de processo também foi maior (53,5% contra

26,5%), assim como a de inovação de produto (53% e 19,2%). No entanto, deve-se

chamar atenção para o fato de que mais de 90% das empresas nacionais são

constituídas por empresas que empregavam até 50 pessoas (ANPEI, 2009).

Com relação às atividades inovadoras realizadas pelas empresas na indústria

brasileira, o desenvolvimento e absorção de tecnologia por meio da aquisição de

máquinas e equipamentos foram a atividade de maior relevância no esforço inovador

do setor (81,3%). As atividades complementares à compra de bens de capital, como

treinamento (59,2%) e projeto industrial (39,4%), ocuparam a segunda e terceira

posições. Com relação à intensidade do esforço inovador, medida pelo dispêndio

total com atividades inovadoras sobre a receita líquida de vendas, foi de 2,8% para a

indústria em 2005 (IBGE, 2005).

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Gráfico 5: Importância das atividades inovadoras re alizadas, segundo atividades selecionadas

da indústria e dos serviços, Brasil - período 2003- 2005 Fonte: IBGE 2005

O traço marcante da indústria brasileira é a alta participação da aquisição de

máquinas e equipamentos na estrutura dos gastos realizados com inovações. A

atividade de treinamento é a segunda em grau de importância, e figura com a menor

fração do gasto no faturamento (0,5%), junto com a aquisição de software (90,5%)

(PINTEC, 2005; IBGE, 2005).

As tabelas 9 e 10 mostram a importância das atividades inovadoras

realizadas nas empresas e os dispêndios nas atividades inovadoras.

TABELA 9 Importância das atividades inovadoras realizadas pa ra a indústria no período de 2003-2005

Atividade inovadora Importância

Aquisição externa de P&D 5,0 %

Aquisição de outros conhecimentos externos 10,9%

Aquisição de software 14,0%

Atividades internas de P&D 19,9%

Introdução das inovações tecnológicas no mercado 28,2%

Projeto industrial e outras preparações técnicas 39,4%

Treinamento 59,2%

Aquisição de máquinas e equipamentos 81,3%

Fonte – adaptado de PINTEC/IBGE 2005

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TABELA 10 Dispêndios nas atividades inovadoras como percentua l da receita líquida de vendas, segundo

atividades selecionadas da indústria e dos serviços – Brasil – 2005

Atividade inovadora Dispêndio

Aquisição de máquinas e equipamentos 1,34%

Introdução das inovações tecnológicas no mercado 0,19%

Treinamento 0,05%

Aquisição de outros conhecimentos externos 0,13%

Projeto industrial e outras preparações técnicas 0,36%

Aquisição externa de P&D 0,08%

Atividades internas de P&D 0,57%

Aquisição de software 0,05%

Fonte – adaptado de PINTEC/IBGE 2005

Entre todas as atividades inovadoras, a realização direta de pesquisa e

desenvolvimento pela empresa se destaca pelos seus desdobramentos e pela sua

capacidade de gerar diferenciais competitivos. A realização de P&D interna

possibilita a criação de novos conceitos e de novos ativos competitivos. A partir

dessa atividade as empresas produzem novos conhecimentos e geram novidades

para seus produtos e/ou processos de produção. A P&D interna também representa

uma das principais formas de aprendizado, principalmente naqueles setores

industriais intensivos em tecnologia (ANPEI, 2009).

É importante chamar atenção para o fato de que a atividade de P&D realizada

pelas empresas caracteriza-se em geral como sendo de desenvolvimento

propriamente dito e não de pesquisa básica ou aplicada. Embora isso não seja uma

peculiaridade brasileira, pode-se dizer que a constatação se aplica particularmente

ao país, tendo em vista a pouca tradição do segmento empresarial na realização de

atividades tecnológicas (ANPEI, 2009).

Dois indicadores significativos são o indicador de intensidade de P&D e o

esforço de P&D. O primeiro corresponde ao montante de recursos que as empresas

de uma atividade industrial aplicam em P&D interna, em relação à receita líquida de

vendas de todas as empresas dessa mesma atividade industrial. Para a indústria

como um todo, em 2005 a intensidade de P&D foi 0,57%. Já o indicador de esforço

de P&D é definido como a relação entre o dispêndio em P&D interna e a receita

líquida de vendas das empresas que realizaram esse tipo de atividade inovadora, e

não do setor como um todo (ANPEI, 2009).

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De maneira geral, as pesquisas de inovação do IBGE mostram que a

realização de atividades inovadoras ainda é restrita entre as empresas brasileiras.

Entre aquelas classificadas como inovadoras pela PINTEC, mais de um terço não

realizou qualquer investimento em atividades inovadoras em 2005. As inovações

foram na sua maioria incrementais, não exigindo esforços significativos das

empresas na sua implementação. Entre as atividades inovadoras, a mais

diferenciada, porque permite a geração de conhecimento e o aprendizado, é a

realização de P&D interna. Em 2005, apenas 17% das empresas inovadoras da

indústria de transformação fizeram gastos com essa atividade (ANPEI, 2009).

Os dados referentes à empresa estudada estão alinhados com o panorama

da inovação no Brasil, onde ainda existem diversos problemas e obstáculos à

inovação. Na indústria, 34,3% das 30,4 mil empresas que realizaram inovações no

período de 2003-2005 afirmaram ter enfrentado problemas que tornaram mais lento

ou inviabilizaram o desenvolvimento de determinados projetos. No setor industrial,

os elevados custos da inovação (76,8%) são os mais significativos, vindo a seguir

riscos econômicos excessivos (74,7%) e escassez de fontes de financiamento

(58,6%), portanto, todos eles problemas de natureza econômica. Na indústria, as

empresas que não inovaram em produto e/ou processo e não desenvolveram

projetos foram 64,4% de 91 mil empresas em 2005. As condições de mercado são a

principal razão apontada por 70,1% das empresas industriais para não terem

realizado inovações tecnológicas (PINTEC, 2005).

Na Tabela 11 estão listadas as razões para não se inovar. Na Tabela 12 são

apresentados problemas e obstáculos apontados por empresas que implementaram

inovações. Em ambos os casos foram consideradas atividades selecionadas de

indústria no Brasil, no período de 2003 a 2005.

Tabela 11 Razões apontadas para não inovar, segundo atividade s selecionadas de indústria - Brasil -

período 2003-2005

Razões para não inovar Percentual

Inovações prévias 113,%

Condições de mercado 70,1 %

Outros fatores impeditivos 18,6%

Fonte: Adaptado de PINTEC/IBGE 2005

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TABELA 12 Problemas e obstáculos apontados pelas empresas que implementaram inovações, segundo

atividades selecionadas de indústria - Brasil - per íodo 2003-2005

Problemas e obstáculos Percentual

Elevados custos da inovação 80,6%

Riscos econômicos excessivos 48,4%

Escassez de fontes de financiamento 77,4%

Falta de pessoal qualificado 38,7%

Escassez de serviços técnicos 12,9%

Falta de informação sobre tecnologia 16,1%

Dificuldade para se adequar a padrões 22,6%

Falta de informação sobre mercado 45,2%

Fracas respostas dos consumidores 19,4%

Escassas possibilidades de cooperação 38,7%

Rigidez organizacional 41,9%

Centralização da atividade inovadora em outra empresa do grupo

1,3%

Fonte: Adaptado de PINTEC/IBGE 2005

Dados adicionais corroboram as dificuldades para a inovação. A pesquisa

realizada pela BIOMINAS (2009) revelou que os empresários encontram maior

dificuldade em aquisição de máquinas e equipamentos (27%) e, principalmente, no

acesso à mão de obra especializada (35%). A dificuldade na aquisição de máquinas

e equipamentos pode estar relacionada tanto com a disponibilidade de oferta quanto

com o financiamento, ambos em condições inadequadas. Sobre a mão de obra, o

maior problema é a relativa escassez de profissionais especializados.

Apesar das dificuldades existentes no contexto brasileiro, a inovação

tecnológica é uma fonte de vantagem competitiva, e diversas empresas brasileiras

tem realizado esforços no sentido de implementar inovações tecnológicas. Conforme

já discutido, um dos fatores que contribuem para a capacidade de inovação

tecnológica da empresa é o alinhamento entre sua estratégia tecnológica e a

estratégia de negócios. Essa afirmação pôde ser confirmada por meio desta

pesquisa, mediante a análise das entrevistas e documentos, e dos indicadores do

modelo de Chen, He e Jin (2008). Foi constatado que existe alinhamento entre as

estratégias tecnológica e de negócios da empresa estudada, tendo os entrevistados

considerado esse alinhamento fundamental para sustentar a capacidade de

inovação da empresa.

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126

5 CONCLUSÃO

5.1 Principais resultados

Com o objetivo de avaliar o potencial explicativo do modelo de Chen, He e Jin

(2008) para a compreensão dos fatores críticos que influenciam o alinhamento entre

a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio de uma empresa, e os

mecanismos envolvidos nesse alinhamento, foi realizado um estudo de caso em

uma empresa brasileira do setor de biotecnologia.

O modelo de Chen, He e Jin (2008) propõe quatro fatores capazes de

influenciar o alinhamento entre as estratégias: ambiente externo, administração

superior, aquisição de recursos tecnológicos e habilidade de convergência

organizacional. Ao lado desses distingue três dimensões para análise do grau de

alinhamento entre as estratégias: atitude tecnológica, desenvolvimento de novos

produtos e inovação em processos. Para cada um desses, o modelo define

indicadores que os caracterizam.

O primeiro fator identificado por Chen, He e Jin (2008) é o ambiente externo.

De acordo com seu modelo, o ambiente pode afetar positivamente o grau de

alinhamento das estratégias, uma vez que fatores favoráveis no meio externo podem

encorajar a empresa a adotar atitudes tecnológicas ativas e aumentar o grau de

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócios. As ações e políticas

governamentais, a promoção de subsídios financeiros pelo governo, o grau de

desenvolvimento tecnológico e taxas de mudanças tecnológicas do setor e as redes

de relacionamento entre clientes, fornecedores e concorrentes são características do

ambiente externo de uma organização que podem contribuir para a escolha de uma

atitude tecnológica mais agressiva, para direcionar o desenvolvimento de produtos e

a inovação em processos e, assim, reforçar o alinhamento entre as estratégias.

A partir da pesquisa realizada, pôde-se confirmar que o ambiente externo

afeta o alinhamento entre as estratégias tecnológica e de negócio, uma vez que,

para a empresa estudada, os entrevistados consideraram que as características

favoráveis do ambiente externo de fato contribuem para este alinhamento. No

entanto, para o caso estudado, constatou-se que alguns fatores considerados

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127

importantes precisam ser mais bem desenvolvidos pela empresa, tais como a

aquisição de recursos financeiros governamentais e a coleta de informações de

mercado, como dados de clientes e de concorrentes.

Outra variável do ambiente externo identificada como importante é a

conjuntura macroeconômica. Segundo dados do IBGE, fatores favoráveis da

economia do país e também da economia mundial podem impulsionar inovações.

Essa variável não está contemplada nos indicadores do modelo de Chen, He e Jin

(2008), podendo constituir-se como possível complementação deste.

O segundo fator identificado por Chen, He e Jin (2008) é a administração

superior da empresa. De acordo com o modelo, o background tecnológico, ou seja, a

experiência dos executivos com gestão tecnológica e com o desenvolvimento de

projetos tecnológicos, a preferência e o foco tecnológico da administração superior,

o grau de participação da administração superior nas atividades de P&D, a

comunicação com a equipe de P&D e a diversificação ma equipe da administração

superior podem influenciar a atitude tecnológica da empresa, o desenvolvimento de

novos produtos e a inovação de processos e, assim, o grau de alinhamento.

Essa relação também foi confirmada no caso estudado. Foi identificado que a

participação da administração superior nas atividades de P&D facilita o

entendimento do processo, contribuindo para a definição da estratégia tecnológica

alinhada à estratégia de negócio. Na empresa estudada a influência da

administração superior no processo de P&D foi considerada significativa.

O terceiro fator capaz de influenciar o alinhamento entre as estratégias

tecnológica e de negócios, segundo o modelo de Chen, He e Jin (2008), é a

aquisição de recursos tecnológicos. Os recursos tecnológicos internos da empresa

são caracterizados pela capacidade interna de P&D, comunicação tecnológica

interna, e a aquisição de recursos tecnológicos externos, a partir do estabelecimento

de cooperação e parcerias com universidades, institutos de pesquisa e outras

empresas, a compra de patentes tecnológicas e a comunicação tecnológica com o

setor. Todos esses elementos podem promover uma influência direta no

desenvolvimento de novos produtos, na automação de equipamento e processos, e

assim, contribuir para o alinhamento.

Na empresa estudada, a influência do fator aquisição de recursos

tecnológicos foi confirmada, tendo sido também identificados alguns pontos críticos.

Segundo os relatos, existem dificuldades de contratação de mão de obra

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especializada e no estabelecimento de parcerias com universidades, o que interfere

na capacidade interna de P&D. Segundo avaliação dos entrevistados, esse segundo

obstáculo está relacionado não somente às dificuldades internas da empresa, mas

também às questões burocráticas impostas pelas instituições.

Finalmente, o quarto fator apontado no modelo de Chen, He e Jin (2008)

como influenciador do alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio é a

habilidade de convergência organizacional. Conforme o modelo, o status da equipe

de P&D, o grau de participação e entendimento das estratégias pela equipe e a

comunicação e cooperação entre os departamentos, em especial o de marketing e

de P&D, podem contribuir para a atitude tecnológica, desenvolvimento de novos

produtos e inovação em processos e, assim, para o alinhamento das estratégias.

Essa influência pôde ser confirmada nesta pesquisa, tendo sido identificado

que as variáveis de participação na elaboração da estratégia e comunicação entre

os departamentos poderiam ser mais bem desenvolvidas na empresa em questão.

Além da influência direta dos fatores ambiente externo, administração

superior, aquisição de recursos tecnológicos e habilidade de convergência

organizacional no grau de alinhamento entre as estratégias tecnológica e de

negócio, o modelo de Chen, He e Jin (2008) sugere que o ambiente externo afeta a

aquisição de recursos tecnológicos e, assim, o grau de alinhamento entre as

estratégias. O modelo sugere também que a administração superior afeta tanto a

aquisição de recursos tecnológicos quanto a habilidade de convergência

organizacional e, consequentemente, o alinhamento entre as estratégias.

Segundo o modelo de Chen, He e Jin (2008), o ambiente externo afeta a

aquisição de recursos tecnológicos e, dessa forma, o grau de alinhamento entre as

estratégias, uma vez que fatores como a disponibilidade de subsídios financeiros,

políticas governamentais de incentivo ao estabelecimento de parcerias entre

instituições de pesquisa e universidades e as empresas, a disponibilidade de

informações no mercado a partir da rede de clientes, fornecedores e concorrentes

podem contribuir para a capacidade interna de P&D. Dessa forma, pode-se estimular

o desenvolvimento de novos produtos e também os esforços de inovação em

processos, aumentando-se, então, o grau de alinhamento entre as estratégias.

A influência do ambiente externo na aquisição de recursos tecnológicos e no

alinhamento entre as estratégias foi confirmada no caso estudado. Um fator

destacado nas entrevistas realizadas na empresa em estudo foi a importância da

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interação da equipe de P&D com o ambiente externo, para garantir o acesso às

informações sobre as tendências tecnológicas e fornecer as entradas para o

processo de P&D, aumentando a capacidade de P&D interna e, consequentemente

o desenvolvimento de novos produtos.

Outro fator identificado nesta pesquisa foi a influência do ambiente externo na

administração superior e no alinhamento entre as estratégias. Um ambiente

caracterizado por um elevado grau de desenvolvimento tecnológico e por altas taxas

de mudanças tecnológicas podem influenciar a preferência tecnológica da

administração superior e, dessa forma, reforçar a aplicação de atitudes tecnológicas

positivas da empresa. Tal relação não é contemplada no modelo de Chen, He e Jin

(2008), podendo ser uma complementação do mesmo.

Segundo o modelo de Chen, He e Jin (2008), a administração superior afeta a

aquisição de recursos tecnológicos e, então, o grau de alinhamento entre as

estratégias. O background tecnológico e a preferência tecnológica da equipe de

executivos podem resultar em atitudes ativas para se estabelecer parcerias com

institutos e empresas. Buscando-se informações tecnológicas disponíveis no

mercado e com isto reforçando os recursos tecnológicos internos da empresa e a

capacidade de P&D, pode-se também acelerar o desenvolvimento de produtos,

promover a atitude tecnológica ativa e a inovação em processos. Tal relação foi

evidenciada na empresa estudada, tendo sido destacado que, apesar da existência

do incentivo por parte da administração superior para a aquisição de recursos

tecnológicos, esse incentivo poderia ser maior em algumas situações.

Finalmente, o modelo de Chen, He e Jin (2008) identifica a relação positiva

entre a administração superior e a habilidade de convergência organizacional, e, em

última análise, com o grau de alinhamento entre as estratégias. A experiência e a

participação da administração superior no processo de P&D podem contribuir para

que seja percebida a importância da participação do pessoal de P&D na estratégia

tecnológica, para a valorização do pessoal de P&D e também para encorajamento

da comunicação entre os departamentos. Essas ações podem afetar a atitude

tecnológica, o desenvolvimento de produtos e a inovação em processos.

Tal relação também foi confirmada nesta pesquisa. Foi avaliado que a

administração superior da empresa possui participação e influência ativas nas

atividades de P&D, contribuindo para a habilidade de convergência organizacional.

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O grau de alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de

negócios é caracterizado no modelo de Chen, He e Jin (2008) pelas dimensões de

atitude tecnológica, desenvolvimento de novos produtos e inovação de processos. A

atitude tecnológica está relacionada com a escolha da empresa em usar a

tecnologia de forma proativa para se posicionar. A empresa pode escolher ser líder,

ou seja, ser a primeira a introduzir novos métodos ou tecnologias, ou ser seguidora

de outras empresas.

A empresa estudada pode ser caracterizada como seguidora em termos de

mercado nacional, tendo sido relatada a existência de grandes dificuldades por

partes das empresas brasileiras para acompanhar o grau de desenvolvimento

tecnológico das empresas multinacionais. No entanto, foi considerado que a

empresa reconhece a importância do papel da tecnologia para a construção de

vantagem competitiva, e que realiza diversos esforços para internalizar as

tecnologias existentes no mercado, os quais resultam em inovações para a própria

empresa. Além disso, algumas inovações da empresa podem ser consideradas

como inovações para o mercado quando se avalia o tipo específico de clientes da

empresa, que são clientes de pequeno e médio porte, e que, dessa forma, não têm

acesso a produtos tecnologicamente mais desenvolvidos.

A dimensão de desenvolvimento de produtos refere-se à velocidade de

entrada em novos mercados e à velocidade e quantidade de novos produtos

lançados. Identificou-se que a empresa estudada investe no desenvolvimento de

novos produtos, e que a velocidade e quantidade de lançamento de produtos tem

melhorado ao longo do tempo. Destacam-se a importância da aquisição e acúmulo

de conhecimento na área de P&D, que contribuem para a eficácia do

desenvolvimento de novos produtos.

Finalmente, a dimensão inovação em processos é caracterizada pelo grau de

automação dos equipamentos de produção e os investimentos realizados para

aperfeiçoamento destes e o avanço tecnológico do processo. Concluiu-se que a

empresa estudada investe na inovação de processo quando necessário, dando

maior ênfase ao desenvolvimento de novos produtos.

De maneira geral, concluiu-se que existe alinhamento entre as estratégias da

empresa estudada. O foco da estratégia de negócios é a diferenciação a partir do

oferecimento de serviços agregados aos produtos e o desenvolvimento de produtos

de tecnologia própria, sendo realizados esforços tecnológicos condizentes com esse

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objetivo. Concluiu-se também que esse alinhamento entre as estratégias contribui

para a capacidade de inovação da empresa. Apesar da empresa estudada não ser

líder em inovações tecnológicas, ela possui boa capacidade de inovação quando

comparada com os dados do IBGE referentes às empresas nacionais. Os

entrevistados avaliaram o alinhamento como um fator crítico para garantir a

implementação da estratégia tecnológica, e, assim, construir uma boa capacidade

de inovação.

Portanto, a partir da pesquisa realizada foi possível concluir que o modelo de

Chen, He e Jin (2008) é adequado para explicar fatores críticos que influenciam o

alinhamento entre a estratégia tecnológica e de negócio no caso da empresa

estudada. Foi possível também identificar importantes aspectos que interferem no

alinhamento no caso da empresa estudada e que não estão contemplados no

modelo.

5.2 Contribuições da pesquisa, limitações e sugestõ es futuras

O alinhamento entre a estratégia tecnológica e a estratégia de negócio de

uma organização é fundamental para garantir a gestão eficaz da tecnologia,

contribuindo para a construção da capacidade de inovação tecnológica da empresa

e, consequentemente, para o estabelecimento e manutenção de uma vantagem

competitiva. Dessa forma, a compreensão de quais são os fatores críticos que

exercem influência no alinhamento entre as estratégias tecnológica e de negócio, e

dos mecanismos nele envolvidos pode contribuir significativamente, tanto em termos

teóricos quanto empíricos.

Apesar do reconhecimento da importância desse alinhamento, a literatura

sobre o tema tem uma orientação conceitual e segue uma abordagem

unidimensional, não explorando o fenômeno como um todo. Dessa forma, limita o

entendimento acerca das variáveis envolvidas no processo e o modo como estas se

relacionam entre si. Assim, este estudo contribui para a literatura da área ampliando

o entendimento holístico sobre como as estratégias tecnológica e de negócio são

formuladas pelas organizações e quais os fatores que exercem impacto no

alinhamento dessas estratégias, garantindo assim a sua efetividade.

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Além disso, os achados deste estudo contribuem de forma empírica,

constituindo-se como uma fonte importante para as organizações que desejam

alcançar um potencial de inovação tecnológica capaz de se traduzir em vantagem

competitiva. A partir da análise dos indicadores propostos no modelo, uma empresa

pode avaliar qual o grau de alinhamento entre a sua estratégia tecnológica e a de

negócio, verificando quais os fatores que estão contribuindo positivamente e os que

estão contribuindo negativamente para esse alinhamento. Assim, os executivos

podem identificar e propor ações necessárias para desenvolver efetivamente os

seus ativos tecnológicos, garantindo um maior grau de alinhamento entre a

estratégia tecnológica e a estratégia de negócios e, com isto alcançar os seus

objetivos e sustentação no mercado.

Apesar das contribuições teóricas e empíricas desta pesquisa, podem-se

identificar algumas limitações. A utilização da metodologia de estudo de caso único

permitiu a validação do modelo de Chen, He e Jin (2008) para a empresa estudada,

sendo necessário avaliar sua aplicação e extensão para outras organizações, de

diferentes setores e com características distintas. Além disso, os fatores

considerados críticos para o alinhamento entre as estratégias tecnológica e de

negócio podem não refletir a totalidade de variáveis e suas relações existentes no

ambiente complexo e dinâmico no qual as organizações estão inseridas, e que

podem variar de um ambiente para o outro. Segue-se daí uma sugestão de pesquisa

futura, que é a aplicação do modelo de Chen, He e Jin (2008) em um número maior

de empresas, com características diversas e em ambientes variados.

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Ambiente Externo

1. A empresa tem acesso a subsídios financeiros e/ou projetos governamentais de

incentivo à inovação tecnológica? Em caso positivo, quais? Na sua opinião, como

isso afeta a capacidade de inovação tecnológica da empresa?

2. Na sua percepção, qual é o nível de influência dos consumidores sobre a

empresa (baixa/média/alta)? Como isso afeta a capacidade de inovação

tecnológica da empresa?

3. Na sua percepção, qual é o nível de influência dos fornecedores sobre a

empresa (baixa/média/alta)? Como isso afeta a capacidade de inovação

tecnológica da empresa?

4. Qual a sua percepção sobre o nível de intensidade tecnológica e as taxas de

mudanças tecnológicas do setor de biotecnologia e de diagnóstico in vitro?

5. Na sua percepção, a empresa busca informações sobre a estratégia dos seus

principais concorrentes? Em caso positivo, como? Essas informações são

utilizadas na formulação da estratégia de negócio e tecnológica da empresa?

6. Na sua percepção, a empresa busca informações sobre o seu mercado de

atuação? (Ex: dados de patentes, inovações e mudanças tecnológicas, novos

produtos) Em caso positivo, como? Essas informações são utilizadas na

formulação da estratégia de negócio e tecnológica da empresa?

Administração superior

7. Existe uma pessoa na empresa responsável pela implementação da estratégia

tecnológica? Em caso positivo, essa pessoa faz parte da equipe da

administração superior? Qual a sua percepção sobre o papel dessa pessoa?

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140

8. Os membros da administração superior possuem experiência em atividades ou

projetos de desenvolvimento de tecnologia e P&D?

9. Na sua percepção, a administração superior considera a tecnologia como um

componente importante para a estratégia da empresa?

10. Você considera que a administração superior incentiva a aquisição de recursos

tecnológicos externos?

11. Como você percebe o processo de comunicação entre a administração superior

e a equipe de P&D? Quais são os principais mecanismos utilizados nessa

comunicação?

12. Você considera que existe diversificação no time da administração superior?

(equipe multidisciplinar/background profissional diversificado)

Recursos tecnológicos

13. Como a estratégia tecnológica é disseminada pela empresa? Na sua percepção

a estratégia tecnológica é bem entendida pelas partes interessadas?

14. Qual é a sua percepção sobre a capacidade interna de P&D? (baixa/média/alta)

(avaliar, por exemplo: tempo e quantidade de colocação de novos produtos no

mercado; porcentagem de vendas com novos produtos; performance dos

projetos de P&D)

15. A empresa possui parcerias com universidades e institutos de pesquisa? E com

outras empresas? Na sua opinião, quais são os resultados dessas parecerias

(compra/troca de tecnologia)?

16. A empresa adquire patentes tecnológicas externas?

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141

17. Como é o processo de troca de informações entre a empresa e outras empresas

do setor? Qual o resultado disso?

Habilidade de convergência organizacional

18. Existem políticas de RH diferenciadas, incluindo remuneração e incentivos, para

a equipe de P&D?

19. Na sua percepção, qual é o nível de influência do pessoal de P&D e o status do

departamento de P&D na empresa?

20. Como você avalia o grau de participação e de entendimento do pessoal de P&D

na elaboração da estratégia tecnológica e de negócio da empresa?

21. Como você percebe o processo de comunicação e cooperação entre o pessoal

de P&D e marketing? Quais são os principais mecanismos utilizados nessa

comunicação?

22. Como você percebe o processo de comunicação e cooperação entre os

departamentos e os gerentes dos departamentos? Quais são os principais

mecanismos utilizados nessa comunicação?

Alinhamento entre estratégia tecnológica e estratég ia de negócio

23. Como foi elaborada a estratégia de negócio e a estratégia tecnológica da

empresa? Quais são as principais características (objetivos) dessas estratégias?

24. Na sua percepção, existem conexões entre a estratégia tecnológica e a

estratégia de negócio da empresa? Quais?

25. Na sua percepção, qual é o posicionamento da empresa no mercado (a empresa

oferece produtos e serviços diferenciados e/ou produtos com menor custo)?

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142

26. Na sua opinião, como a empresa se situa em termos de inovação tecnológica em

relação ao setor de biotecnologia e diagnóstico in vitro? (a empresa é líder ou

seguidora no desenvolvimento de tecnologias e produtos)

27. Como você avalia a velocidade de entrada da empresa em novos mercados

(baixo/médio/alto)?

28. Qual é a sua percepção sobre o nível de automação dos equipamentos de

produção e investimento de capital no aperfeiçoamento dos equipamentos

(baixo/médio/alto)?

29. Qual é a sua percepção sobre o nível de avanço tecnológico dos processos

(baixo/médio/alto)? (Exemplo: utilização de softwares)

30. Você considera que a empresa foca no investimento em equipamentos de

produção e avanço tecnológico do processo para diminuição dos custos?

Questão geral

31. Na sua opinião, quais são os principais fatores que contribuem para o processo

de inovação tecnológica da empresa? E quais são os principais fatores

dificultadores?

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143

APÊNDICE B – GLOSSÁRIO DO ROTEIRO DE ENTREVISTA

Inovação

� Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou

significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de

marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na

organização do local de trabalho ou nas relações externas.

� A P&D é apenas uma etapa no processo de inovação. A inovação envolve

várias atividades não incluídas na P&D.

� A inovação pode ser nova para a empresa, para o mercado ou para o mundo.

Tecnologia

� Corpo de conhecimento presente nos indivíduos, máquinas e procedimentos

da empresa.

� A tecnologia está presente em toda a cadeia de valor da empresa, podendo

ser dominante no produto, processo ou infraestrutura.

Inovação tecnológica

� Inovação que envolve algum tipo de tecnologia.

Estratégia tecnológica

� Forma estabelecida pela organização de como desenvolver e utilizar a

tecnologia.

� Envolve a identificação, seleção, aquisição, desenvolvimento, exploração e

proteção de tecnologias envolvidas no produto, processo e infraestrutura.

Estratégia de negócio

� Definição da posição que a empresa pretende ocupar no mercado, e

determinação das atividades a serem desempenhadas para alcançar essa

posição e proporcionar um mix único de valores para os clientes.

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119

APÊNDICE C – PROTOCOLO DE PESQUISA

Fator Dimensão Indicador Objetivo Entrevistas Documentos Observações

1

Identificar se existem políticas de icentivo à inovação tecnológica; identificar se a empresa tem acesso à políticas de inovação tecnológica

Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

2

Identificar se existe suporte das políticas de icentivo à inovação pelo governo local. Identificar se a empresa tem acesso à tal suporte.

Suporte das políticas pelo governo local

3

Identificar se a empresa tem acesso a subsídios financeiros nacionais relacionados à inovação tecnológica.

Obtenção de subsídios financeiros nacionais

Macro ambiente

4

Identificar se a empresa participa de projetos nacionais relacionados à inovação tecnológica.

Participação em projetos nacionais

5 Identificar qual é a influência exercida pelos consumidores (baixa/média/alta)

Influência dos consumidores

6 Identificar qual é a influência exercida pelos fornecedores (baixa/média/alta)

Influência dos fornecedores

7 Identificar a prospecção tecnológica do setor

Prospecção tecnológica do setor

Ambiente Externo

Ambiente tarefa

8 Identificar o desenvolvimento tecnológico do setor

Desenvolvimento tecnológico do setor

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120

9

Identificar se a empresa adota mecanismos para identificar/monitorar a estratégia dos concorrentes e utiliza tais informações para desenvolvimento das suas estratégias.

Estratégia dos concorrentes

Ambiente do setor

10

Identificar se a empresa busca informações de mercado e utiliza as mesmas para o desenvolvimento de suas estratégias.

Foco em informação competitiva

11 Identificar se a alta direção possui experiência em projetos tecnológicos.

Experiência da alta direção em projetos tecnológicos

12 Identificar se a alta direção possui experiência com gerenciamento tecnológico.

Experiência da alta direção em gerenciamento tecnológico

Background tecnológico da alta direção

13

Identificar qual o status do executivo tecnológico no time de gerenciamento (tem baixa/média/alta influência/reconhecimento).

Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento

14 Identificar se a alta direção tem como objetivo explorar mercados através da tecnologia

Visão da alta direção em explorar mercados através da tecnologia

Preferência tecnológica da alta direção

15

Identificar se alta direção tem como foco o status tecnológico da empresa, ou seja, se o avanço tecnológico é valorizado

Foco da alta direção no status tecnológico da empresa

16

Identificar se existe uma pessoa responsável pela implementação da estratégia tecnológica da empresa, e se a mesma faz parte da alta direção

Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na alta direção

Administração Superior

Participação da alta direção e influência nas atividades tecnológicas

17 Identificar se membros da alta direção participam das atividades de P&D

Participação em atividades específicas de P&D

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18 Identificar se existe comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

Comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

19 Identificar se a alta direção é caracteriza-se por uma equipe multidisciplinar

Estilo de trabalho da alta direção

20

Identificar o background profissional da equipe da alta direção (experiências anteriores com áreas/atividades diversas)

Background profissional da equipe da alta direção

Diversificação no time da alta direção

21

Identificar se existem discordâncias no estabelecimento da estratégia tecnológica, a partir de visões diferentes, estimulando a discussão em grupo

Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

22

Identificar se existe uma comunicação tecnológica interna, e se a mesma é eficiente (ou seja, se os assuntos referentes às tecnologias são disseminados e entendidos pelas partes interessadas)

Comunicação tecnológica interna

Recursos internos

23

Identificar a capacidade interna de P&D, em termos de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias (tempo/quantidade/performance)

Capacidade interna de P&D

24

Identificar se a empresa trabalha em cooperação com universidades e institutos de pesquisa

Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

25 Identificar se a empresa compra patentes tecnógicas externas

Compra de patentes tecnológicas externas

Aquisição de Recursos Tecnológicos

Recursos externos

26

Identificar se a empresa estabelece algum tipo de comunicação tecnológica com o setor

Comunicação tecnológica entre o setor

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27 Identificar se a empresa possui alguma cooperação tecnológica com outras empresas

Cooperação tecnológica com outras empresas

28

Identificar se existem políticas de RH (remuneração e benefícios) diferenciadas para a equipe de P&D

Nível salarial do pessoal de P&D

29

Identificar se o pessoal de P&D possui participação ativa nas decisões relacionadas à estratégia da empresa

Voz do pessoal de P&D

Status do pessoal de P&D

30 Identificar qual é os status do departamento de P&D da empresa

Status do departamento de P&D na empresa

31

Identificar se o pessoal de P&D possui bom entendimento da estratégia tecnológica da empresa

Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

32

Identificar se o pessoal de P&D possui bom entendimento da estratégia de negócio da empresa

Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

33

Identificar se o pessoal de P&D participa do estabelecimento da estratégia de negócio da empresa

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia de negócio

34 Identificar se existe um boa comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

35

Identificar se existem uma boa comunicação entre os departamentos, e se de alguma forma, a comunicação é estimulada

Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Habilidade de Convergência Organizacional

Comunicação e cooperação entre os departamentos

36 Identificar como é a comunicação entre os gerentes de departamentos

Comunicação entre os gerentes dos departamentos

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37

Identificar qual a posição tecnológica da empresa em relação ao setor, com relação à dimensão da estratégia tecnológica de líder/seguidora. Identificar se a empresa adota a estratégia de diferenciação (oferece produtos/serviços inovadores) Identificar se

Posição tecnológica no setor

Atitude tecnológica

38

Identificar qual é o status da tecnologia na empresa (alto/médio/baixo), ou seja, se a mesma é valorizada e considerada como fonte importante para a estratégia

Status da tecnologia na empresa

39

Identificar a velocidade de entrada no mercado quanto à dimensão da estratégia tecnológica time-to-market (first/second)

Velocidade de entrada em novos mercados

40

Identificar a velocidade de lançamento de novos produtos, e a sua relação com a estratégia de diferenciação/liderança em custo

Velocidade de lançamento de novos produtos

Desenvolvimento de novos produtos

41

Identificar a quantidade de novos produtos, e a sua relação com a estratégia de diferenciação/liderança em custo

Quantidade de novos produtos

42

Identificar o nível de automação dos equipamentos da empresa, e se a empresa foca a inovação em processos para a dimuinuição dos custos.

Automação dos equipamentos de produção

Grau de Alinhamento

Inovação em processos

43 Identificar o nível de avanço tecnológico do processo, e se a empresa foca a inovação em processos para a diminuição dos

Avanço tecnológico do processo

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124

custos.

44

Identificar o nível de investimentos de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção, e se a empresa foca a inovação em processos para a diminuição dos custos.

Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

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APÊNDICE D – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTAS

Análise individual das entrevistas Fator Dimensão Indicador

1 2 3 4 5 6 7 Análise global

1 Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

2 Suporte das políticas pelo governo local

3 Obtenção de subsídios financeiros nacionais

Macro ambiente

4 Participação em projetos nacionais

5 Influência dos consumidores

6 Influência dos fornecedores

7 Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

8 Desenvolvimento tecnológico do setor

9 Estratégia dos concorrentes

Ambiente Externo

Ambiente do setor

10 Foco em informação competitiva

11 Experiência da alta direção em projetos tecnológicos

Administração Superior

Background tecnológico da alta direção

12 Experiência da alta direção em gerenciamento tecnológico

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126

13 Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento

14 Visão da alta direção em explorar mercados através da tecnologia

Preferência tecnológica da alta direção 15

Foco da alta direção no status tecnológico da empresa

16 Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na alta direção

17 Participação em atividades específicas de P&D

Participação da alta direção e influência nas atividades tecnológicas

18 Comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

19 Estilo de trabalho da alta direção

20 Background profissional da equipe da alta direção

Diversificação no time da alta direção

21 Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

22 Comunicação tecnológica interna Recursos

internos 23 Capacidade interna de P&D

24 Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

25 Compra de patentes tecnológicas externas

Aquisição de Recursos Tecnológicos

Recursos externos

26 Comunicação tecnológica entre o setor

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27 Cooperação tecnológica com outras empresas

28 Nível salarial do pessoal de P&D

29 Voz do pessoal de P&D

Status do pessoal de P&D

30 Status do departamento de P&D na empresa

31 Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

32 Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

33 Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia de negócio

34 Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

35 Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Habilidade de Convergência Organizacional

Comunicação e cooperação entre os departamentos

36 Comunicação entre os gerentes dos departamentos

37 Posição tecnológica no setor Atitude

tecnológica 38 Status da tecnologia na empresa

39 Velocidade de entrada em novos mercados

Grau de Alinhamento

Desenvolvimento de novos produtos

40 Velocidade de lançamento de novos produtos

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41 Quantidade de novos produtos

42 Automação dos equipamentos de produção

43 Avanço tecnológico do processo

Inovação em processos

44 Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

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129

APÊNDICE E – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – DOCUMENTOS INTERNOS

Análise individual dos documentos internos Fator Dimensão Indicador

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Análise global

1 Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

2 Suporte das políticas pelo governo local

3 Obtenção de subsídios financeiros nacionais

Macro ambiente

4 Participação em projetos nacionais

5 Influência dos consumidores

6 Influência dos fornecedores

7 Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

8 Desenvolvimento tecnológico do setor

9 Estratégia dos concorrentes

Ambiente Externo

Ambiente do setor

10 Foco em informação competitiva

11 Experiência da alta direção em projetos tecnológicos

Administração Superior

Background tecnológico da alta direção

12 Experiência da alta direção em gerenciamento tecnológico

Page 159: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

130

13 Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento

14 Visão da alta direção em explorar mercados através da tecnologia

Preferência tecnológica da alta direção 15

Foco da alta direção no status tecnológico da empresa

16 Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na alta direção

17 Participação em atividades específicas de P&D

Participação da alta direção e influência nas atividades tecnológicas

18 Comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

19 Estilo de trabalho da alta direção

20 Background profissional da equipe da alta direção

Diversificação no time da alta direção

21 Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

22 Comunicação tecnológica interna Recursos

internos 23 Capacidade interna de P&D

24 Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

25 Compra de patentes tecnológicas externas

Aquisição de Recursos Tecnológicos

Recursos externos

26 Comunicação tecnológica entre o setor

Page 160: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

131

27 Cooperação tecnológica com outras empresas

28 Nível salarial do pessoal de P&D

29 Voz do pessoal de P&D

Status do pessoal de P&D

30 Status do departamento de P&D na empresa

31 Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

32 Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

33 Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia de negócio

34 Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

35 Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Habilidade de Convergência Organizacional

Comunicação e cooperação entre os departamentos

36 Comunicação entre os gerentes dos departamentos

37 Posição tecnológica no setor Atitude

tecnológica 38 Status da tecnologia na empresa

39 Velocidade de entrada em novos mercados

Grau de Alinhamento

Desenvolvimento de novos produtos

40 Velocidade de lançamento de novos produtos

Page 161: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

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41 Quantidade de novos produtos

42 Automação dos equipamentos de produção

43 Avanço tecnológico do processo

Inovação em processos

44 Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

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APÊNDICE F – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – DOCUMENTOS EXTERNOS

Análise individual dos documentos externos Fator Dimensão Indicador

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Análise global

1 Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

2 Suporte das políticas pelo governo local

3 Obtenção de subsídios financeiros nacionais

Macro ambiente

4 Participação em projetos nacionais

5 Influência dos consumidores

6 Influência dos fornecedores

7 Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

8 Desenvolvimento tecnológico do setor

9 Estratégia dos concorrentes

Ambiente Externo

Ambiente do setor

10 Foco em informação competitiva

11 Experiência da alta direção em projetos tecnológicos

Administração Superior

Background tecnológico da alta direção

12 Experiência da alta direção em gerenciamento tecnológico

Page 163: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

134

13 Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento

14 Visão da alta direção em explorar mercados através da tecnologia

Preferência tecnológica da alta direção 15

Foco da alta direção no status tecnológico da empresa

16 Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na alta direção

17 Participação em atividades específicas de P&D

Participação da alta direção e influência nas atividades tecnológicas

18 Comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

19 Estilo de trabalho da alta direção

20 Background profissional da equipe da alta direção

Diversificação no time da alta direção

21 Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

22 Comunicação tecnológica interna Recursos

internos 23 Capacidade interna de P&D

24 Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

25 Compra de patentes tecnológicas externas

Aquisição de Recursos Tecnológicos

Recursos externos

26 Comunicação tecnológica entre o setor

Page 164: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

135

27 Cooperação tecnológica com outras empresas

28 Nível salarial do pessoal de P&D

29 Voz do pessoal de P&D

Status do pessoal de P&D

30 Status do departamento de P&D na empresa

31 Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

32 Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

33 Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia de negócio

34 Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

35 Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Habilidade de Convergência Organizacional

Comunicação e cooperação entre os departamentos

36 Comunicação entre os gerentes dos departamentos

37 Posição tecnológica no setor Atitude

tecnológica 38 Status da tecnologia na empresa

39 Velocidade de entrada em novos mercados

Grau de Alinhamento

Desenvolvimento de novos produtos

40 Velocidade de lançamento de novos produtos

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41 Quantidade de novos produtos

42 Automação dos equipamentos de produção

43 Avanço tecnológico do processo

Inovação em processos

44 Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção

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137

APÊNDICE G – MATRIZ ANÁLISE DOS DADOS – TRIANGULAÇÃ O

Fator Dimensão Indicador Entrevistas Documentos internos

Documentos externos Observações Análise global

1 Políticas nacionais de incentivo à inovação tecnológica

2 Suporte das políticas pelo governo local

3 Obtenção de subsídios financeiros nacionais

Macro ambiente

4 Participação em projetos nacionais

5 Influência dos consumidores

6 Influência dos fornecedores

7 Prospecção tecnológica do setor

Ambiente tarefa

8 Desenvolvimento tecnológico do setor

9 Estratégia dos concorrentes

Ambiente Externo

Ambiente do setor

10 Foco em informação competitiva

11 Experiência da alta direção em projetos tecnológicos

Administração Superior

Background tecnológico da alta direção

12 Experiência da alta direção em gerenciamento tecnológico

Page 167: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · modelo de Chen, He e Jin (2008), e, dessa forma, contribuir para a compreensão do fenômeno de alinhamento entre estratégia

138

13 Status do executivo tecnológico no time de gerenciamento

14 Visão da alta direção em explorar mercados através da tecnologia

Preferência tecnológica da alta direção 15

Foco da alta direção no status tecnológico da empresa

16 Pessoa chave responsável pela implementação da estratégia tecnológica na alta direção

17 Participação em atividades específicas de P&D

Participação da alta direção e influência nas atividades tecnológicas

18 Comunicação periódica entre a alta direção e a equipe de P&D

19 Estilo de trabalho da alta direção

20 Background profissional da equipe da alta direção

Diversificação no time da alta direção

21 Discordância no estabelecimento da estratégia tecnológica

22 Comunicação tecnológica interna Recursos

internos 23 Capacidade interna de P&D

24 Cooperação com universidades e institutos de pesquisa

25 Compra de patentes tecnológicas externas

Aquisição de Recursos Tecnológicos

Recursos externos

26 Comunicação tecnológica entre o setor

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27 Cooperação tecnológica com outras empresas

28 Nível salarial do pessoal de P&D

29 Voz do pessoal de P&D

Status do pessoal de P&D

30 Status do departamento de P&D na empresa

31 Entendimento da estratégia tecnológica pelo pessoal de P&D

32 Entendimento da estratégia de negócio pelo pessoal de P&D

Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia

33 Participação do pessoal de P&D no estabelecimento da estratégia de negócio

34 Comunicação entre o pessoal de marketing e P&D

35 Encorajamento da comunicação entre os departamentos

Habilidade de Convergência Organizacional

Comunicação e cooperação entre os departamentos

36 Comunicação entre os gerentes dos departamentos

37 Posição tecnológica no setor Atitude

tecnológica 38 Status da tecnologia na empresa

39 Velocidade de entrada em novos mercados

Grau de Alinhamento

Desenvolvimento de novos produtos

40 Velocidade de lançamento de novos produtos

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140

41 Quantidade de novos produtos

42 Automação dos equipamentos de produção

43 Avanço tecnológico do processo

Inovação em processos

44 Investimento de capital em aperfeiçoamento de equipamentos de produção