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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP RODRIGO PAIVA Contribuições da Análise do Comportamento à superação de desafios que se interpõem ao desenvolvimento do esporte educacional MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RODRIGO PAIVA

Contribuições da Análise do Comportamento à superação de desafios que se interpõem ao desenvolvimento do esporte educacional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO

2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

RODRIGO PAIVA

Contribuições da Análise do Comportamento à superação de desafios que se interpõem ao desenvolvimento do esporte educacional

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação do Prof. Doutor Sérgio Vasconcelos de Luna.

SÃO PAULO

2011

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Banca Examinadora

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha querida e amada filha, Bruna Pojar Paiva, por todos os momentos em que me ausentei para a concretização deste estudo, deste sonho. Cada palavra escrita neste texto representou uma brincadeira a qual eu não participei ao lado dela.

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AGRADECIMENTOS

Sem dúvida alguma o primeiro agradecimento pertence ao professor, amigo e que,

coincidentemente, muitas vezes cumpriu também o papel de orientador, Sérgio

Luna. Provavelmente uma das pessoas mais competentes que já conheci. Dono de

uma simplicidade única, em todos os momentos se mostrou experiente, respeitoso e

humilde. Obrigado por tudo que me ensinou. Há de chegar o dia em que poderei

descansar tranqüilo por ter cumprido meu papel social de educador, neste dia me

lembrarei que me esforcei muitos e muitos anos para ser aos meus alunos um pouco

daquilo que você foi para mim.

Agradeço aos meus amigos de jornada no Programa de Mestrado em Educação:

Psicologia da Educação. Vocês foram grandes companheiros durante este percurso.

De forma especial deixo meus agradecimentos aos queridíssimos amigos Franklin

Felix, Luciana Franceschini, Guillermina Garcia e Marcela Ronca. Um grupo de

pessoas maravilhosas, cheias de boas intenções e divertidíssimas. Adorei tê-los

conhecido.

Aos meus amigos pessoais por compreenderem os momentos difíceis pelos quais

eu passei neste período e apesar de minha ausência física, mantiveram acesa a

chama de nossa amizade. Foi mesmo uma longa e difícil jornada, mas sem a

amizade de vocês certamente eu teria desistido. Beijos especiais aos amigos

Leandro, Dinho, Marcos, Allan.

Agradeço aos coordenadores do Instituto Esporte e Educação pela oportunidade

que me deram. Se não fosse pelos horários concedidos isso não seria possível.

Reafirmo que ampliar o olhar sobre a educação foi uma prática que eu aprendi com

vocês. Agradeço ao Fábio e ao Caio (ouviu-me pacientemente durante nossas

viagens) pelos inúmeros ensinamentos, ao Alexandre pela simplicidade como me

conduziu e por manter-me sempre atento ao “mundo fora da academia”, ao Abel

pelo modo extrovertido e inteligente que me coordena, à Bethania (me faltam

palavras para descrever meu carinho e admiração) por acreditar e investir em mim

mesmo quando todos apostavam ao contrário, você sem dúvida me deu

oportunidades inimagináveis, ao Adriano pela amizade e por servir de referência

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pessoal e profissional (hoje e sempre), pelas constantes inquietações que me

provocava, pela forma profissional e divertida como me ensina a cada dia ser uma

pessoa e um professor melhor. Adriano é meu ídolo. Por fim, agradeço

carinhosamente à Ana Moser. Seu caráter, sua dignidade, sua boa disposição para

fazer o melhor possível ao mundo me permitiram concluir este mestrado.

OBRIGADO ANA, MESMO.

Agradeço a Tathiana por todo apoio que me foi dado. Muitos momentos me

afastaram da Bruna e se não fosse por você eu não teria conseguido administrar os

estudos e a família. Obrigado pela ajuda na reta final.

Aos meus queridos e adorados familiares que tive de deixar de visitar durante dois

anos. Ao meu pai Beto, minha mãe Sandra, meus irmãos Alex, Lígia e Alessandra

(sem você e sua ajuda ninguém teria oportunidade de ler estas linhas). Como a

família é grande, agradeço ao Alemão e a Mariana, minhas avós Rachel e Arari, ao

queridíssimo primo Bruno por ter ouvido minhas conversas com um carinho

inigualável, ao Le e a Dri e por fim, mas não menos importante, ao vovô Binho e a

vovó Sô por cuidarem da Bruna durante estes dois anos, e dos outros dois também.

Aos meus adoráveis cunhados Maurício e Roberta e minha amada afilhada/sobrinha

Luiza.

Ao TIO MANÉ, que serviu sempre de inspiração.

Aos professores Roberto Gimenez e Melania Moroz. Tive a honra e oportunidade de

aprender com vocês conteúdos que nenhum planejamento daria conta. Além de

pessoas maravilhosas vocês são, também, professores invejáveis. Fiz questão de

anexar (ANEXO 1) as cartas que lhes escrevi como forma de eterno registro do

carinho e admiração que sinto por vocês. O mundo seria melhor com mais

professores como vocês.

À Professora Drª Maria Eliza Mazzili do. A experiência durante 6 meses no PEXP foi

maravilhosa e grande parte disso eu devo a você.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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EPÍGRAFE

“Não podemos estar entregues a ignorantes em pedagogia.”

Manoel Sérgio

“Já passou o tempo em que se podia esperar a melhoria do ensino pela simples aplicação da teoria do bom senso.”

B.F.Skinner

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RESUMO

O esporte é um dos mais importantes e complexos fenômenos internacionais dos

últimos séculos. A associação do sucesso esportivo de uma nação ao seu sistema

político/financeiro/ideológico resultou em manifestos internacionais para uma

ressignificação da prática esportiva. Surgem, neste contexto, as chamadas

dimensões do esporte em que este fenômeno passa a ser compreendido como

rendimento, lazer e educação. Por esporte educacional (EE) compreende-se aquele

voltado para a formação integral dos alunos, para o exercício da cidadania. Desde o

surgimento deste conceito houve pouco avanço no desenvolvimento de metodologias

eficazes que possibilitem a universalização do direito à prática esportiva. Há diversos

desafios que se interpõem ao desenvolvimento do EE, no entanto, a hipótese

levantada nesta pesquisa é de que as inúmeras contribuições oferecidas à educação

pela Análise Experimental do Comportamento (AEC) podem contribuir para a

superação destes desafios e a construção de pressupostos metodológicos que

orientem a formação e atuação de professores na dimensão educacional do esporte.

O objetivos deste estudo foram:1. Identificar se/como tem ocorrido a intersecção dos

temas Psicologia do esporte (PE), EE e AEC; 2. Identificar/apresentar as

contribuições da AEC para a constituição de orientações pedagógicas que sirvam

como referencial para instituições e profissionais do esporte e da educação que

pretendam atuar na dimensão educacional do esporte. Foram analisados 2266

artigos e resumos publicados, entre os anos 2000 e 2010, em periódicos de

Educação Física, PE e AEC. Os resultados demonstraram que menos de 5% desta

produção diz respeito à PE e menos de 0,5% ao EE. Nenhuma publicação promoveu

discussões conjuntas referentes às contribuições da AEC à PE e EE. O livro

Tecnologia de Ensino, de BF SKINNER (1968/1972), serviu de referencial teórico

básico para a proposição de metodologias que possibilitem a aplicação dos

conhecimentos produzidos em AEC, no âmbito da educação, para a superação dos

desafios que se interpõem ao desenvolvimento do EE. A constituição do que se

pretende chamar de Psicologia do Esporte Educacional advinda da Análise

Experimental do Comportamento é uma história que ainda não foi, mas deve ser

escrita.

Palavras-chave: Esporte Educacional, Análise do Comportamento, Psicologia do

esporte.

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ABSTRACT

The sport is one of the most important and complex international phenomenon of the last

centuries. A nation´s success in sports altogether with its own political, ideological and

financial system resulted in international manifestos for a reinterpretation of the sport. In

this context, the so called dimensions of the sport gave rise to an understanding of ii

asboth as income, education and leisure. The educational sport (ES) must be understood

as the educational practice of the sports aiming a person´s whole development and the

exercise of citizenship However, since the emergence of this concept there has been little

progress in developing effective methodologies that insert the practice of the sport into a

person´s universal rights.. The development of ES copes with several challenges ;

however, it is the assumption of this research that numbers of contributions made to

education by the Experimental Analysis of Behavior (EAB) may also contribute to

overcoming these challenges and build methodological assumptions that guide the

capacitation and action of teachers in the educational dimension of sport. The objectives

of this study were: 1. To trace down the of the themes Sport Psychology (SP), and EAB -

SE. To spot possible EAB´s contributions for the construction of pedagogical guidelines to

serve as reference for institutions and professional acting in sport and education and who

wish to work in the educational dimension of sport. To do so, 2.266 articles and abstracts

published between 2000 and 2010 in journals of physical education, SP and EAB were

analyzed. The results showed that less than 5% of the articles´content were related to the

SP and less than 0.5%, to SP. No publication promoted discussions regarding EAB´s

contributions to both ACS SE and SP. The book Technology of Teaching, by BF Skinner

(1968/1972), served as a reference for methodologies leading to the application of the

knowledge produced by EAB, in educational settings, to overcome the challenges that

stand to development of SE. The constitution of what is intended to be called as

Educational Sport Psychology based on the Experimental Analysis of Behavior is a story

yet to be told.

Keywords: Educational Sports, Behaviors Analysis, Sport of Psychology.

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SUMÁRIO

1. Introdução.........................................................................................................11

1.1 Justificativa..................................................................................................14

2. Percursos do Esporte Moderno........................................................................16

2.1 A dimensão educacional do esporte...........................................................24

2.2 Desafios do esporte educacional................................................................32

3. Em busca de soluções......................................................................................41

4. Método..............................................................................................................45

5. Resultados e Discussão ..................................................................................48

5.1. Por uma pedagogia do esporte educacional..............................................48

5.2. Sobre os periódicos de Educação Física...................................................50

5.3. Percursos da Psicologia do esporte...........................................................58

5.4. Evolução da Psicologia do esporte como ciência: seis períodos.....................................................................................................60

5.5. Sobre os periódicos de Psicologia do esporte...........................................68

5.6. Análise Experimental do comportamento e psicologia do esporte: o encontro.....................................................................................................73

5.7. Análise Experimental do comportamento e psicologia do esporte: o desencontro................................................................................................75

5.8. Análise Experimental do Comportamento (AEC): conceitos básicos, contribuições à educação e possibilidades de aplicação na dimensão educacional do esporte: o reencontro........................................................77

5.9. Análise Experimental do Comportamento e esporte educacional: implicações práticas...................................................................................90

5.10Sobre os periódicos de Análise Experimental do Comportamento.........101

6. Considerações Finais....................................................................................105

Referências Bibliográficas...................................................................................107

Anexos.................................................................................................................112

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INTRODUÇÃO

Quase nenhum fenômeno transnacional de nosso tempo

merece um esclarecimento sociológico e psicológico como o

esporte (Scheler).

Diversos sociólogos que se debruçaram sobre a compreensão do

fenômeno esporte no cotidiano social o consideram como um dos mais

importantes fenômenos do Século XX (BOURDIE, 1983; KORSAKAS E DE ROSE

JR., 2002).

Pode-se dizer que o esporte “é parte da história” uma vez que esteve

presente em/ acompanhou fatos e acontecimentos históricos, econômicos e

políticos em todo o mundo. Exemplo disso são as modificações feitas nas regras

do voleibol, ocorridas nas décadas de 1980 e 1990, para que a modalidade

pudesse ser televisionada e, com isso, aumentar a captação de recursos e

patrocinadores. Da mesma forma, é possível afirmar que o esporte “tem uma

história”. Afinal, no decorrer de aproximadamente dois séculos do chamado

esporte moderno, é possível identificar um desenvolvimento relativamente

autônomo dos próprios eventos que acompanhou guerras, mudanças sócio-

políticas, econômicas, tecnológicas. Segundo Proni e Lucena (2002), o esporte

foi, provavelmente, o primeiro fenômeno que se universalizou/globalizou antes

mesmo da modernização dos processos de telecomunicações e dos grandes

avanços tecnológicos ocorridos na segunda metade do século XX.

Ainda sobre o desenvolvimento do esporte, Bourdie (1983, p. 137) afirma

que:

[...] a história do esporte é uma história relativamente

autônoma que, mesmo estando articulada com os grandes

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acontecimentos da história econômica e política, tem seu

próprio tempo, suas próprias leis de evolução, suas próprias

crises, em suma, sua cronologia específica.

Embora esta citação contribua para o leitor compreender a maneira como o

esporte se desvinculou de uma cultura, de um país, de um modelo econômico,

social e político específicos, e isso contribuiu enormemente para sua

universalização, é necessário atentar ao fato que, também, o esporte fez parte de

todas estas especificidades e, assim, torna-se um fenômeno indissociável de

todos os demais. Sua cronologia e seus rumos podem ser analisados

independentemente, sua compreensão enquanto fenômeno social, não.

Esta discussão é aqui iniciada para aproximar o leitor de idéias amplas que

norteiam este trabalho, como as de Sérgio (1982), que afirma que o esporte

passou a fazer parte da história da sociedade moderna e contemporânea de tal

forma que hoje é praticamente impossível imaginar tais sociedades sem ele.

No primeiro tópico deste texto, o leitor encontrará um breve, mas

imprescindível, resgate histórico do esporte que irá situá-lo em relação a “de qual

esporte se está falando”. O texto começa com esta apresentação, justamente, por

ser neste tópico que serão discutidos os aspectos históricos/políticos do esporte –

conforme mencionados no parágrafo acima - e os impactos deste fenômeno nas

sociedades moderna e contemporânea. Ainda neste tópico, serão discutidos os

movimentos mundiais para uma ressignificação do esporte e uma ampliação do

olhar sobre este fenômeno para além da dimensão de rendimento (a saber:

dimensões de participação /lazer; educacional e rendimento/performance). Na

seqüência, focar-se-á a dimensão educacional do esporte, conceito que – espera-

se - ficará bastante claro no decorrer da leitura. O terceiro tópico apresenta alguns

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dos principais desafios para a formação e atuação de professores na dimensão

educacional do esporte. Estes desafios são resultados de pesquisas em literatura

específica e da experiência profissional deste pesquisador nos últimos anos, tanto

no trabalho cotidiano com crianças e jovens, quanto em programas nacionais de

formação de professores para atuarem com esporte educacional. Apenas para

situar o leitor sobre o que será abordado na sessão de desafios, serão

considerados os desafios pedagógicos/metodológicos que dizem respeito a

formação do professor de Educação Física, sua dificuldade em planejar e intervir

adequadamente na dimensão educacional do esporte, entre outros; desafios

filosóficos/ideológicos que dizem respeito ao conjunto de pressupostos sociais em

relação as possibilidades educacionais do esporte, como a de que são

necessários certos dons para a prática esportiva ou de que basta criar

oportunidades de prática esportiva para que se constitua um projeto educacional

e; desafios estruturais, diretamente relacionados aos equipamentos/recursos

físicos e materiais. A partir do quarto tópico o leitor entrará no mundo das

chamadas ciências do esporte, de forma mais específica na Psicologia do

esporte. Nesta mesma sessão, serão apresentadas a evolução histórica da

Psicologia do esporte, tendências de pesquisa em Psicologia do esporte e as

“Psicologias” da Psicologia do esporte. Ao encerrar a leitura deste quarto tópico, o

leitor estará bastante próximo de/familiarizado com o tema deste trabalho, uma

vez que, ao discutir as tendências em pesquisa e intervenção em Psicologia do

esporte e suas “Psicologias” (e, neste ponto, o leitor já terá compreendido um

pouco mais sobre o esporte moderno e suas dimensões, tal como sobre a

Psicologia do esporte). O texto continua realizando uma discussão sobre a

Análise Experimental do Comportamento, enquanto área da Psicologia que passa

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compor o quadro de tendências ou abordagens em Psicologia do esporte, e as

contribuições desta ciência à educação e, por fim, de que forma estas

contribuições se aproximam do contexto esportivo. Neste ponto, abre-se espaço

para a discussão central, para os objetivos deste estudo: 1. Identificar se/como

tem ocorrido a intersecção dos temas Psicologia do esporte, Esporte Educacional

e Análise Experimental do Comportamento na literatura nacional; 2.

Identificar/apresentar as contribuições da Análise Experimental do

Comportamento (AEC), apropriada tanto pelo esporte quanto pela educação –

entre outras, para a constituição de orientações pedagógicas amplas, de

pressupostos metodológicos que sirvam como referencial para profissionais do

esporte e da educação que pretendam atuar na dimensão educacional do

esporte.

JUSTIFICATIVA

Próximo do fim da 1ª década do século XXI, o número de instituições que

atuam na dimensão educacional do esporte é crescente. Há de se considerar,

também, que algumas delas, como a Fundação Gol de Letra1, Projeto Esporte

Talento2 e Instituto Esporte e Educação3, já se consolidaram neste segmento e

servem, atualmente, como referência aos iniciantes no esporte educacional.

1 www.goldeletra.or.br - A Fundação Gol de Letra é uma organização sem fins lucrativos de caráter público, instituída em 1998 pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo 2 www.educacaopeloesporte.org.br – O Projeto Esporte Talento - É um parceiro do Instituo Ayrton Senna que atende, desde 1995, crianças em atividades esportivas complementares a escola 3 www.esporteeducacao.org.br - O Instituto Esporte & Educação é uma Organização Civil de Interesse Público, que tem como visão liderar a implementação de metodologias e universalização do esporte educacional no país, norteada pelos princípios do esporte educacional: inclusão de todos, respeito à diversidade, construção coletiva, educação integral e o rumo à autonomia, desenvolvendo a cultura esportiva e com a missão de contribuir para a formação do cidadão

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O cenário do esporte no Brasil é promissor para a próxima década. Dois

dos principais megaeventos esportivos internacionais (Copa do Mundo de

Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016) ocorrerão no país e os

investimentos em projetos esportivos sócio-educativos sinalizam um novo olhar

dos setores público e privado para o esporte “educacional (?)”. Esta interrogação

diz respeito às incertezas que rondam o esporte educacional e às instituições a

ele relacionadas, já que o Brasil será palco de importantes megaeventos

esportivos, relacionados à dimensão esportiva do rendimento, a

chance/probabilidade de os investimentos serem centralizados apenas nesta

dimensão é eminente.

Mais adiante o leitor encontrará explicações mais detalhadas que, espera-

se, deixarão mais claros estes conceitos de esporte de rendimento e esporte

educacional, citados nos parágrafos acima. Por hora, é suficiente dizer que o

esporte de rendimento é aquele orientado pelos princípios da hiperseletividade e

hipercompetitividade, portanto, reservado a poucos atletas, e que tem como

objetivos a busca por medalhas, a quebra de recordes e a espetacularização do

fenômeno esportivo pelos meios de comunicação. Por esporte educacional

entenderemos aquele que tem como princípios a criação de oportunidades de

prática esportiva a todos, indiferentemente de habilidades ou “pré-disposições”,

“dons”, e como objetivo a transmissão de conhecimentos/repertórios úteis para o

bem-estar individual e social, que não se limitem ao aperfeiçoamento do ato motor

ou da performance esportiva.

crítico, criativo e protagonista. O Instituto Esporte e Educação será citado em vários trechos do trabalho e melhor apresentado em sessão específica (ANEXO II).

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Discussões como essa [apoio institucional às dimensões rendimento x

educacional] seriam mais pertinentes ao “comportamento do sistema4” em relação

às dimensões esportivas apoiadas no cenário atual e fogem ao escopo deste

trabalho; no entanto, diante das novas possibilidades do esporte que se anunciam

no Brasil, torna-se imprescindível identificar, criar e disseminar meios de orientar

professores/instituições que pretendam atuar na dimensão educacional do

esporte. Este trabalho pretendeu contribuir para esta demanda social

evidenciando de que forma a ciência Psicologia (do esporte e da educação) pode

contribuir para esse objetivo.

PERCURSOS DO ESPORTE MODERNO

Freqüentemente, retraçar a origem do esporte remete o pensamento às

sociedades primitivas, mais precisamente à grega, em que tais práticas

compunham o cotidiano social com forte cunho religioso. De certa forma, pode-se

dizer que há certa coerência nesta ligação por pelo menos dois motivos: 1. a

associação entre a história do esporte e a prática dos Jogos Olímpicos na antiga

Grécia e; 2.por fazer parte da educação na Grécia antiga um olhar para o homem

integral que, por isso, compreendia uma formação intelectual/filosófica, moral,

4 Comportamento do Sistema: Termo utilizado por Skinner (1972) para designar as interrelações existentes no estabelecimento de políticas educacionais, considerando os que aprendem os que ensinam, os que se empenham na pesquisa educacional, os que administram estabelecimentos educacionais, os que estabelecem as políticas publicas e os que mantêm a educação. Embora o autor refira-se explicitamente à educação, sua concepção de sistema aplica-se igualmente ao contexto em que se discute o esporte. Ou seja, a concepção cabe aos que aprendem e aos que ensinam esportes; os que pesquisam esportes e suas relações com a educação; os que administram estabelecimentos esportivos, aos que estabelecem as políticas nacionais esportivas e aos que mantêm o esporte.

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artística, religiosa e física/esportiva, que os gregos chamavam de Paidéia (ASSIS,

2005; RUBIO, 2002).

Conforme Bracht (1989), retornar à Grécia antiga para compreender o

esporte que se conhece atualmente é uma forma muito linear que, muitas vezes,

não permite a identificação de uma importante e fundamental ruptura: o motivo

pelo qual a prática esportiva fez/faz parte do cotidiano social. Se, na antiga

Grécia, se reverenciavam os “Deuses”5, se promoviam a confraternização entre

os povos e a paz durante as práticas esportivas, na contemporaneidade

reverenciam-se a quebra de recordes, a espetacularização, o automatismo, a

submissão a regras universais, a especialização e hipertreinabilidade, entre

outros motivos (GOELLNER, 2004).

Bracht (1989) e Goellner (2004) sugerem que há uma ruptura na história do

esporte e que, portanto, é possível falar-se em pelo menos dois momentos do

esporte6: o esporte clássico e o esporte moderno.

O esporte que as sociedades contemporâneas conhecem, reverenciam e

praticam é o mesmo que se consolidou entre meados do século XIX e

início do século XX e que traduz o significado de uma sociedade

(inglesa/capitalista) que enaltece os desafios, as conquistas, as vitórias e

o esforço individual como forma de ascensão social. (GOELLNER, 2004

pg 3).

Parece indiscutível que a passagem do jogo ao esporte propriamente

dito tenha se realizado nas grandes escolas reservadas às “elites” da

sociedade burguesa, nas public schools inglesas, onde os filhos das

famílias da aristocracia ou da grande burguesia retomaram alguns jogos

populares, isto é, vulgares, impondo-lhes uma mudança de significado e

função [...] (BOURDIE, 1983 pg. 139)

5 Ou como sugere Valente (1997), prática esportiva “ecumênica”,

6 Marques, Gutierrez e Almeida (2008), entre outros, falam em três momentos na história do esporte e incluem o esporte contemporâneo nesta linha de tempo. Utilizam uma perspectiva mercadológica para justificarem tal argumentação, a qual ultrapassa os objetivos deste trabalho.

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Conforme o que foi visto, o esporte moderno surge na transição dos

séculos XIX para o XX, da transformação de antigos jogos populares que

aconteciam nas escolas inglesas, durante os quais os filhos das famílias da

aristocracia realizavam práticas corporais ressignificadas, que se

separavam/distanciavam das ocasiões e funções sociais (festividades agrárias,

religiosas, comunitárias) às quais os jogos camponeses estavam diretamente

ligados.

Obviamente, os jogos que os camponeses praticavam tinham significados/

representações distintas das que lhes foram atribuídas com o advento do esporte

moderno;, no entanto, isso não equivale a uma compreensão ingênua em relação

aos jogos. A essência da prática dos jogos era a mesma da prática do esporte:

disputar (inclusive disputas físicas com risco de morte), vencer (a busca pela

vitória e sobrepujança ao adversário é inerente a todo jogo), celebrar (certificar e

notificar a capacidade de superação). Se as ocasiões eram outras, os motivos,

aparentemente, não.

O que se observa nesta perspectiva é uma nova atribuição de significados.

O esporte, que fora “inventado” nas escolas inglesas, ganha popularidade e, em

pouco tempo, se espalha por toda a Europa e pelo mundo, tornando-se, num

curto período de tempo, a principal expressão da cultura corporal de movimentos

e ocupação de lazer humanos. O desporto/esporte, com origem nos jogos

ancestrais/ populares teve, dentre outros, o objetivo de contribuir para o

autocontrole físico/corporal, reduzir a agressividade e promover certos valores de

não violência ou, em alguns casos, de regrar/controlar a violência e inerente a

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certos tipos de jogos corporais praticados, especialmente, pelos jovens7 (ASSIS,

2005).

Nas palavras de Sigoli e De Rose Júnior (2004, p4), durante a transição da

cultura do jogo para a cultura esportiva “[...] foram implementadas diversas

campanhas e leis contra os jogos populares, que também eram acusados de

incitar a violência e ocasionar faltas ao trabalho [...]”.

No decorrer do século XX, o esporte foi empregado como importante

ferramenta político-ideológica. É possível tomar como exemplo disso os Jogos

Olímpicos de Berlim (1936) em que todos os atletas foram obrigados a saudar

Hitler antes do início das competições e, a bandeira do nazismo foi ostentada

mais alto que a bandeira de qualquer confederação. Vale lembrar que foi nesta

olimpíada que um negro, americano, venceu pela primeira vez a prova mais

conceituada do atletismo mundial, os 100 metros rasos. Jesse Owens tornou-se,

na Alemanha, o homem mais rápido do mundo, mas o anfitrião (Hitler) recusou-se

a entregar-lhe a medalha.

Em 1968, nos Jogos Olímpicos realizados no México, 68 atletas

americanos negros protestaram contra o racismo e as discriminações que sofriam

na prática esportiva. Perderam suas medalhas e foram deixados no México.

Durante os Jogos Olímpicos de Munich, em 1972, 17 atletas judeus foram

seqüestrados e mortos.

Ao longo da história da humanidade, exemplos como estes se repetiram e

o uso do esporte como ferramenta de manipulação ideológica/social passou a ser

cada vez mais conspícuo no século XX (SIGOLI e DE ROSE JÚNIOR, 2004).

7 Este aspecto relaciona-se diretamente aos jogos camponeses. A violência presente nestes jogos ancestrais encontrou, na prática do esporte, limites até então desconhecidos: as regras rígidas.

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20

A associação do rendimento esportivo a regimes políticos, econômicos e a

disseminação de ideologias não inerentes ao esporte geraram um cenário de

reações internacionais contra o uso negativo do esporte (TUBINO, 2010) e, na

segunda metade do século XX, mais precisamente após a Segunda Guerra

Mundial e o fim da Guerra Fria, surgem movimentos de reinterpretação das

práticas esportivas que promovem o direito/acesso ao esporte e as atividades

físicas a todas as pessoas como uma forma de desenvolvimento humano. Este

movimento fica conhecido como Manifesto Esporte para Todos (1964). Pouco

mais de uma década depois, a UNESCO publica a Carta da Educação Física e

Esportes (1978). Estes manifestos realizados pelos organismos internacionais

que reagiam às exacerbações do esporte de alto rendimento foram fundamentais

para as reflexões sobre o sentido do esporte na sociedade e, pela primeira vez,

consideram os interesses e as possibilidades dos agentes envolvidos – os

praticantes – compreendendo o esporte em dimensões sociais, a saber: esporte

de rendimento/performance, esporte de participação/lazer e esporte de

educação/educacional (TUBINO, 2010).

Diversos autores retrataram estes movimentos:

Desde a década de 1960, foram várias as manifestações de

intelectuais e organismos internacionais que aprofundaram

o seu entendimento, a exemplo do Movimento Esporte para

Todos e da Carta Internacional de Educação Física e

Esportes, editada pela UNESCO, em que o esporte passou

a ser reconhecido como um direito humano, e seu conceito

foi renovado, incorporando as dimensões do lazer e da

educação, e definindo-as como práticas diversas do

rendimento (TUBINO, 1996 ; p. 18)

A partir dessas discussões, nas décadas de sessenta e

setenta (séc. XX), o conceito de esporte foi ampliado com o

Movimento Esporte para Todos e a Carta Internacional de

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21

Educação Física e Esportes (UNESCO, 1974)[sic]. O

conceito plural de esporte significou compreendê-lo não

somente na dimensão do alto rendimento, mas também

como esporte lazer e esporte educacional, passando a

prática esportiva ser reconhecida, no Brasil, como direto de

todos pela Constituição Federal do Brasil, art. 217 e ECA,

cap.II, art. 16 (ROSSETTO JR. e ARENA, 2008 p2).

Ao observar a proposta de emancipação do fenômeno esportivo em

relação a quaisquer outras ideologias a ele não inerentes, o leitor pode,

ingenuamente, acreditar que o problema estaria resolvido. Na verdade, os

movimentos internacionais pela universalização da prática esportiva e

ressignificação dos objetivos do esporte de rendimento foram importantes, mas

insuficientes para dar conta do problema.

Ao retomar o contexto histórico destes movimentos, é possível observar

que tiveram início em 1964, portanto, antes dos Jogos Olímpicos do México e de

Munich. Mesmo a Carta Internacional de Educação Física e Esportes (1978)

antecedeu às comparações feitas entre comunismo/capitalismo e o rendimento

esportivo que, de certa forma, sugeriam analogias de superioridade de um regime

político-econômico em relação ao outro: o boicote do EUA realizado nos Jogos

Olímpicos de Moscou (1980) e o revide da União Soviética nos Jogos Olímpicos

de Los Angeles (1984) são exemplos claros da ineficiência destes movimentos no

que diz respeito ao fim do uso do esporte como ferramenta de manipulação

social/política/ideológica/étnica/econômica .

Provavelmente, a maior contribuição destes movimentos tenha sido a

reatribuição de significados à prática esportiva. Os documentos ampliaram a visão

em relação ao esporte e diante dessa nova forma de se enxergar o esporte e da

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possibilidade de este manifestar-se em quaisquer dessas dimensões: o esporte

de rendimento, de lazer e de educação passaram a ser considerados práticas

esportivas como direito legal a todos os cidadãos e, juntos, compõem as

chamadas dimensões sociais do esporte.

Uma vez que a dimensão social do esporte que será discutida neste

trabalho é a educacional, serão feitos, apenas, breves esclarecimentos sobre as

dimensões do rendimento e de participação.

Esporte de rendimento é reservado a pequena parcela da população e visa

o automatismo, a quebra de recordes e a mercantilização do espetáculo

esportivo. Tem como forte característica a padronização dos gestos técnicos. Esta

dimensão esportiva é aquela enfatizada pela mídia, que recebe patrocínios e

investimentos para a produção do espetáculo esportivo, como os jogos de futebol

da copa do mundo e os jogos olímpicos. Nesse contexto, o esportista é

compromissado com alguma instituição financiadora.

Esporte de participação – ou de lazer - pressupõe a atividade em tempo

livre, desregrada e descompromissada, geralmente sem orientação profissional e

a necessidade de superação. Esse é o esporte pelo qual as pessoas buscam a

socialização, a prática de atividade física prazerosa como a “pelada do fim de

semana”, o vôlei/frescobol/futebol à beira mar, ou seja, a prática esportiva

descompromissada de rendimento. Uma das principais características do esporte

de participação/lazer é a ausência de sistematização e padronização.8

8 Assim como a dimensão educacional, a dimensão do lazer/participação é derivada da dimensão de rendimento e, freqüentemente, é possível verificar influências. As atividades que deveriam ser, predominantemente, desregradas, desinstitucionalizadas, sem compromisso com quebra de recordes etc, reproduzem os valores do esporte de rendimento e fazem dos campos de várzea, das atividades à beira mar, das “peladas” nos parques nos finais de semana verdadeiros campos de batalha.

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O leitor atento pode ter se perguntado: sendo o esporte de

participação/lazer aquele que as pessoas praticam por bem estar social,

satisfação, prazer, sem compromisso com quebra de recordes etc., por que

motivo, freqüentemente,9 reproduz os valores do esporte de rendimento e faz dos

campos de várzea, das atividades à beira mar, das “peladas” nos parques nos

finais de semana, verdadeiros campos de batalha?

Sérgio (2003) alerta que considerar a divisão das dimensões sociais do

esporte como compartimentos desconectados põe em risco alguns pressupostos

presentes na Carta da Educação Física e Esportes como, por exemplo, os

interesses dos praticantes. Neste sentido, o autor considera a representação que

o praticante atribui à sua prática esportiva e vê como perfeitamente possível, o

sujeito participar de equipes de treinamentos intensos, com compromisso

profissional e cobranças inerentes ao esporte de rendimento e, ainda assim,

considerar sua prática uma atividade de lazer (princípio do prazer e bem estar) ou

de educação (compreensão das regras, respeito aos horários, ao técnico, ao

adversário, alimentação regrada etc.).

Da mesma forma, considera possível, também, que ao participar de

atividades recreativas no âmbito esportivo o sujeito atribua-lhes valores de

superação, busca exacerbada pela vitória, competição e seriedade,

características do esporte de rendimento.

De maneira geral, o que Sérgio (2003) sugere, é que a caracterização da

dimensão do esporte deve, em algum momento, levar em consideração os

significados atribuídos pelos praticantes.

9 Nem sempre.

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Sem desconsiderar tais aspectos, este trabalho terá como orientação,

dentre outras características, a intenção de quem promove a prática esportiva.

Sendo o esporte, em geral, meio para o alcance de determinados objetivos (em

quaisquer de suas dimensões), e vale lembrar que o esporte sempre esteve a

serviço de alguma instituição/ filosofia/ regime/etc., faz-se necessário considerar

então quais objetivos se pretende alcançar ao promover esporte, de maneira

específica, em sua dimensão educacional.

A DIMENSÃO EDUCACIONAL DO ESPORTE

Neste tópico, será apresentada ao leitor, inicialmente, a caracterização da

dimensão educacional do esporte, seguida por uma reflexão acerca das

metodologias utilizadas para o ensino de esportes no país. Serão discutidos,

também, os principais desafios para a formação e atuação de

professores/instituições nesta dimensão do esporte. O capítulo é encerrado com a

apresentação dos princípios pedagógicos que orientam a prática educativa no

esporte educacional.

O conceito de esporte educacional10, como já salientado, surge no fim da

década de 1970.

Desenvolvido dentro ou fora das instituições de ensino formal de maneira

desinstitucionalizada11, adaptando regras, recursos físicos/materiais/pedagógicos

e gestos motores de acordo com as condições sociais e pessoais dos praticantes,

com objetivos voltados para a formação do indivíduo e sua prática norteada por 10 Também referenciado como esporte - educação; esporte educativo; esporte sócio educativo 11 O esporte educacional não segue padrões das federações internacionais das modalidades esportivas. Esta é, inclusive, uma característica fundamental da dimensão de rendimento do esporte: a universalização de regras rígidas e pré-determinadas.

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princípios sócio-educativos, o esporte educacional busca democratizar

/proporcionar o acesso de todos à prática esportiva, preparar seus praticantes

para o exercício da cidadania e para o lazer. Diferentemente do que ocorre em

relação às outras duas dimensões, aqui o praticante é denominado aluno, e não

atleta. Esta dimensão do esporte é, assim como a dimensão do rendimento,

caracterizada pela sistematização, intencionalidade e compromisso com alguns

resultados; neste caso, no campo educacional.

De forma sucinta, o que caracteriza o esporte educacional e confere

especificidade a ele é orientação filosófica e metodológica: ensinar BEM e MAIS

que ESPORTE PARA TODOS (FREIRE, 2003; ROSSETTO JR, COSTA E

D’ANGELO, 2008).

Para uma melhor compreensão do que se diz, quando se fala desta

orientação, serão apresentados ao leitor os pressupostos de trabalho em esporte

educacional que fornecem subsídios para a atuação convergente com tal

orientação.

O ponto de partida é, sem dúvida alguma, a busca pela universalização do

direito à prática esportiva. Como pensar em atingir qualquer objetivo a que o

esporte educacional se proponha, caso não seja garantido acesso à prática

esportiva para todas as crianças e jovens? Neste sentido, faz-se necessária uma

metodologia orientada para ensinar esporte para todos. Obviamente, o fulcro dos

trabalhos pedagógicos realizados no âmbito do esporte educacional não é a

performance motora, a habilidade técnica, a plasticidade do movimento realizado.

Isso não significa, em hipótese alguma, que pensar em esporte educacional seja

o mesmo que considerar a prática apenas como elemento de educação e que

este seja apenas uma ferramenta. Ora, o esporte é um dos mais importantes

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fenômenos sociais dos últimos séculos, patrimônio da cultura corporal do

movimento e a prática da cidadania deve considerar a oportunidade de desfrutar

da cultura produzida no contexto em que se está inserido. Deste ponto de vista,

tão importante quanto ensinar esporte para todos, é ensinar bem o esporte para

todos. Embora, inicialmente, sejam feitas todas as adaptações necessárias de

materiais/estruturas/gestos/regras para que, indiferentemente de suas

habilidades/ de seus repertórios iniciais, as crianças e jovens consigam

desempenhar bem o seu “modo de praticar esportes”, assim que possível,

deverão ser feitos os ajustes metodológicos necessários para que os alunos

avancem, adquiram competências para jogar cada vez melhor12. Por fim, como o

objetivo do esporte educacional é a formação integral para o exercício da

cidadania, se fazem necessárias intervenções pedagógicas que vão além do

campo da motricidade, das habilidades técnicas e táticas. O ensinar mais que

esporte para todos é o pressuposto final. Deve, portanto, fazer parte do

planejamento e da intervenção pedagógica na dimensão educacional do esporte a

consideração de conteúdos relacionados à cidadania, como, por exemplo,

convivência em grupo, ética, moralidade, análise crítica do contexto de prática,

entre outros (FREIRE, 2003; ROSSETTO JR, COSTA E D’ANGELO, 2008).

Diante do que foi exposto, o conceito de esporte educacional orienta a

atuação profissional daqueles que pretendem, por meio do ensino de esportes,

oferecer condições para o desenvolvimento da cidadania.

12 Vale lembrar que ao procurar um programa de ensino de esportes, em geral, os alunos esperam/ tem a expectativa de jogar bem o esporte. Ninguém procura um programa de ensino de esportes para tornar-se um cidadão melhor, e nem tampouco permanece caso não perceba que suas habilidades do âmbito esportivo estão melhorando.

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Quando a busca pelo conceito de esporte educacional é legal, e não

conceitual, surgem certas ambigüidades que, freqüentemente, confundem ou

esclarecem pouco o assunto.

De acordo com a constituição brasileira, a Lei nº 9.615/98 caracteriza esta

dimensão social do esporte como aquela que ocorre:

[...] nos sistemas de ensino e em outras formas

assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a

hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade

de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua

formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer

(BRASIL, 1998).

Este conceito, causa certas ambigüidades interpretativas, em primeiro

lugar, pelos próprios termos que utiliza. De início, o primeiro equívoco que se

comete é considerar, de acordo com o texto da lei, que o esporte que é praticado

na escola é educacional. O fato de ser realizado dentro do sistema formal de

ensino não caracteriza o esporte da escola como educacional. Ao contrário,

geralmente, o que se observa é ou uma prática de rendimento dentro das aulas

de educação física escolar, ou, simplesmente13, lazer. O termo “evitando” a

hipercompetitividade e seletividade pode favorecer a compreensão que estas são

condizentes com o esporte educacional. Por fim, mas não menos importante,

“com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua

formação para o exercício da cidadania” diz pouco ou quase nada em relação ao

que realmente é o objetivo do esporte educacional. Ou seja, como a própria

definição legal e conceitual do que venha a ser o esporte educacional é pouco

esclarecedora, persiste a idéia de que toda prática esportiva pode ser – é

13 Este termo não tem a intenção de minimizar esta dimensão do esporte em relação as demais

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educativa e por isso é que, freqüentemente, ouve-se dizer que o esporte contribui

para a formação integral das crianças e jovens14 e que sua prática é

“boa/importante/fundamental” para educação de um povo.

Na abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, esta concepção

foi reforçada pelo então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (C.O.B.), Carlos

Nuzmam, que afirmou em rede mundial:

[...] esporte e educação formam o binômio fundamental para

a construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e

saudável. É, também, um caminho de esperança e de novas

oportunidades para as nossas crianças e jovens e para

todos aqueles que acreditam e constroem um mundo

melhor [...]. (NUZMAN, 2007)

Diante de afirmações como esta, é possível perceber a importância

atribuída ao esporte na formação das sociedades do futuro. Tem-se, nitidamente,

expectativas altíssimas de que o esporte componha, ao lado da educação, o

binômio utópico de projeção social de um país, de uma sociedade.

Há que se questionar, no entanto, a expectativa de que basta colocar as

crianças e jovens para praticarem esporte para que, naturalmente, este binômio

forme uma sociedade verdadeiramente mais justa – com igualdade de

oportunidades a todos, equilibrada etc.

Crianças do mundo todo são “educadas” e praticam esportes sem que

obrigatoriamente vivam em sociedades equilibradas e justas. Há, inclusive,

exemplos inversos de sociedades que se utilizaram (e ainda o fazem) do esporte

justamente como formas de controle social, de manutenção da desigualdade, de

reprodução de ideologias (conforme ilustrado pelo comentário acima sobre o uso

14 Embora este texto apresente com certa freqüência o papel do esporte para a formação de crianças e jovens, nada impede que os conceitos e procedimentos aqui demonstrados sejam aplicados e considerados na formação de adultos.

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político – ideológico do esporte). Como sugere Bracht (1986), o ensino do esporte

nas sociedades moderna e contemporânea enfatiza o respeito incondicional e

irrefletido às regras de tal forma que em nada contribui para a formação de

sujeitos questionadores, transformadores. Tais práticas, para este autor,

contribuem apenas para a reprodução de uma sociedade estática, hierárquica e

injusta.

Comparando-se as impressões de Bracht (1986) com o exemplo dado no

discurso de abertura dos Jogos Pan-Americanos supracitado, deve-se concluir

que o esporte pode contribuir tanto para a formação de sociedades justas e

equilibradas, quanto para a formação de sociedades opressoras, injustas,

hipercompetitivas e excludentes. É indispensável, neste momento, recorrer a

Freire (2003) e a Sérgio (2007) que alertam para ilusões de que o esporte venha

a ser a panacéia para os males sociais e para os problemas da educação, e que

baste colocar as crianças e jovens para praticarem esportes para que,

naturalmente, se tornem cidadãos integralmente desenvolvidos como preconizado

pela Lei 9.615/98.

A questão imediata que emerge dessas reflexões é: afinal, o esporte pode

“contribuir” para a formação integral e para o exercício da cidadania? Se sim,

como?

Para responder a esta questão, inicialmente, deve-se atentar à participação

do esporte como “uma das” instâncias de formação das crianças e jovens.

Cerceando as expectativas de que o esporte, sozinho, forme uma sociedade,

cabe retomar as reflexões de Freire (2003) e Sérgio (2007).

Após serem feitas as devidas ressalvas, e respondendo à questão

anteriormente levantada, é possível dizer que sim, o esporte pode contribuir para

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a formação integral e para o exercício da cidadania e que tudo é questão de

objetivos e métodos. De acordo com Rossetto Jr, Costa e D’Angelo (2008), o que

se presencia é, no entanto, uma certa confusão de técnicas e procedimentos de

ensino, uma vez que aqueles utilizados para formar atletas, para extrair

rendimento de adultos, são, freqüentemente, empregados para o ensino de

esportes para crianças e jovens, com a expectativa de formar integralmente

pessoas para o exercício da cidadania. Nesse sentido, mais uma vez, a prática

esportiva acaba sendo interpretada erroneamente como forma natural de

educação para a cidadania. É como se bastasse, simplesmente, criar

oportunidades para a prática esportiva e a formação adequada das novas

gerações estaria, naturalmente, garantida.

No entanto, como sugerem Rossetto Jr, Costa e D’Angelo (2008), não é

isso o que acontece. Os autores apresentam uma indicação do que se tem

evidenciado nos procedimentos de ensino de esporte no país. Embora seja uma

citação um tanto extensa, ela é bastante útil para o leitor compreender o quão

conspícuas são tais confusões metodológicas:

Atualmente, parece haver unanimidade no discurso do

esporte vinculado a valores e atitudes como paz, justiça,

liberdade, respeito, cidadania, cooperação,

responsabilidade, disciplina, etc. Trata-se de discurso,

porque o que observamos, muitas vezes, é dicotomia e

abismo entre o que se fala e a ação, ou seja, a prática

pedagógica ainda parece estar longe de possibilitar a

educação integral das crianças e dos jovens que praticam

esporte. Nos espaços sistemáticos de aprendizagem do

esporte, como escolas, clubes e projetos sociais, o que

ainda predomina é a confusão dos princípios sugeridos pelo

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esporte educacional15 e uma prática que, muitas vezes,

reproduz as características e a visão do esporte de alto

rendimento, em que o que vale é a performance, a quebra

de recorde, a seleção dos mais habilidosos, a

marginalização e a exclusão dos que não atendem aos

padrões esportivos divulgados e valorizados pela mídia [...]

Os métodos de ensino são pautados pela repetição,

mecanização, alienação e seleção dos mais habilidosos ou

dos biótipos para a prática esportiva. (p 15-16)

De forma mais sucinta, mas não menos clara e assertiva, Paes e Balbino

(2009) corroboram tais idéias ao afirmarem que:

[...] a falta de claras definições quanto a alguns aspectos

pedagógicos, sobretudo quanto aos objetivos, poderá

resultar em equívocos, sendo o mais comum deles a

cobrança inerente ao esporte profissional16, ou seja, a busca

por uma performance atlética em práticas esportivas com

outros significados [como o lazer e o educacional 17] (p 74).

Pelo que foi apresentado, é possível identificar que existem diversas

expectativas em relação à criação de oportunidade de prática esportiva e uma

suposição, quase utópica, que essa oportunidade de prática contribua para a

formação integral de crianças e jovens e a constituição de sociedades melhores.

Para que o esporte se constitua em uma prática verdadeiramente

educacional, há ainda um longo caminho a ser percorrido. A clareza em relação

ao se conceito, objetivos e métodos coerentes, dentre outros desafios, é

fundamental. Com o intuito de situar o leitor em relação a outros grandes desafios

a serem enfrentados por professores/instituições que pretendam atuar na

15 Apenas para situar o leitor em relação aos princípios do esporte educacional eles serão aqui apresentados, no entanto, a discussão mais aprofundada destes princípios ocorrerá mais adiante no texto: Inclusão de todos; Construção Coletiva; Respeito à diversidade; Educação Integral e Rumo à autonomia

16 Aqui os autores referem-se ao esporte de rendimento. 17 Inclusão do autor

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dimensão educacional do fenômeno esportivo, o próximo tópico tratará com maior

profundidade desta questão.

DESAFIOS DO ESPORTE EDUCACIONAL

Neste tópico serão apresentados ao leitor alguns dos principais desafios

que circundam a formação e atuação profissional em esporte na sua dimensão

educacional, desafios encontrados na experiência prática do autor desta pesquisa

em conjunto com apontamentos existentes na literatura específica.

É cada vez mais conspícuo, no cenário do esporte nacional, o surgimento

de programas de implantação de atividades esportivas com objetivos

educacionais, simultaneamente à implantação/implementação de programas de

formação de professores18 para atuarem nesta dimensão do esporte.

Alguns desses programas são gerenciados pelo Instituto Esporte Educação

(I.E.E.): por exemplo, “Caravana do Esporte”19, “Inspiração Internacional20 e

“Programa Método”21, e constituíram parte das fontes de informação sobre a

18 O termo utilizado designa, ao mesmo tempo, professores/técnicos/monitores/educadores e foi uma opção deste pesquisador por considerar as diferentes realidades encontradas no cenário nacional de formação de professores. Em diversos municípios do país não há um único professor de Educação Física. O ensino de esportes, quando ocorre, é feito por voluntários, educadores sociais, ex-atletas, técnicos do esporte de rendimento que dedicam um pouco de tempo para o atendimento das crianças. Em alguns casos, os programas formam agentes comunitários, os chamados monitores.

19 Programa mensal de televisão da ESPN (Brasil) em parceria com o UNICEF (Fundo das Nações Unidas pela Infância) e o Instituto Esporte e Educação que visita cidades (com os menores índices de desenvolvimento humano) do semi-árido do país em eventos de atendimento a crianças das comunidades locais e formação concomitante de agentes/monitores esportivos para atuarem na dimensão educacional do esporte. 20 Programa que dá continuidade ao “Legado de Londres” que busca criar oportunidades de prática esportiva a milhões de pessoas em todo mundo. Este programa é resultado de uma parceria entre o UNICEF; British Concil (Conselho Britânico) e UK SPORTS (Ministério dos esportes do Reino Unido) e que no Brasil é realizado pelo Instituto Esporte e Educação 21 Programa de formação de professores de Educação Física para atuarem na dimensão educacional do esporte. O programa Método tem duração de 200 horas e é realizado em aproximadamente um ano. O programa é viabilizado por Prefeituras que estabelecem parceria

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realidade do cenário nacional do esporte para a presente pesquisa. A seguir, são

indicados alguns dos principais desafios encontrados nestes programas de

formação de professores associados à atuação cotidiana e aos apontamentos da

literatura.

Como critério inicial de organização, e para facilitar a compreensão e

discussão destes desafios, os mesmos foram classificados em três grandes

categorias: desafios metodológicos, desafios ideológicos e desafios estruturais.

Desafios metodológicos são aqueles diretamente relacionados à prática

pedagógica/estrutura das aulas, aspectos gerais referentes a como os objetivos

estabelecidos em uma prática pedagógica esportiva, que se diz educativa, tem

sido planejados, executados e avaliados; desafios ideológicos, relacionados não

às práticas pedagógicas, mas às concepções individuais/pessoais sobre o

fenômeno esporte e suas possibilidades educacionais; desafios estruturais são os

que dizem respeito aos recursos materiais/físicos.

Considerando que alguns destes desafios são, simultaneamente,

ideológicos, metodológicos e estruturais, optou-se por agrupá-los e descrevê-los

em pequenos tópicos.

• O primeiro grande desafio diz respeito à formação dos professores. A

formação universitária em Educação Física, de maneira geral,

desconsidera ou trata muito superficialmente a dimensão educacional do

esporte. Um dos fatores que pode contribuir para esta forma de abordar

este fenômeno é, conforme já foi mencionada, a idéia - mesmo dentro da

área específica da Educação Física - de que basta criar oportunidades de

com o Instituto Esporte Educação para capacitar a “rede” de professores do município. Em casos específicos, o Programa Método é patrocinado por empresas privadas, como por exemplo a Petrobrás, que viabilizam a formação de professores em localidades em que os governos municipais não teriam condições de subsidiar o programa.

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prática esportiva para que se garanta um projeto educacional.

Simultaneamente, a experiência profissional deste pesquisador indica que

faz parte do perfil profissional dos professores de Educação Física a idéia

de que o conhecimento necessário para atuarem no campo esportivo

(nesse sentido, em qualquer dimensão do esporte) será adquirido dentro

das paredes da universidade, durante os anos de graduação (de uma

maneira geral) ou já foi conquistado durante os anos de experiência como

atleta (de forma mais específica aos que optam pela profissão como

extensão de sua formação de atleta). Ou seja, tudo indica que o professor

ainda não compreende que seu processo de formação é

constante/contínuo. A estrutura de formação profissional nesta área

deveria ser considerada como uma inter-relação entre o aprender a fazer e

o aprender a ensinar, no entanto, na maioria das vezes, o aprender a

ensinar acaba sendo subordinado ao aprender a fazer. Durante os anos de

formação básica em Educação Física, o futuro professor é, em geral,

ensinado a executar as habilidades técnicas que ensinará quando na

condição de docente. É, igualmente, avaliado pelas habilidades “de

realizar” aprendidas, mesmo que seu contexto profissional seja,

predominantemente ensinar, e não fazer. Ademais, a experiência deste

pesquisador em programas de formação de professores tem mostrado que,

freqüentemente, mantém-se a crença de que o conhecimento tácito, a

experiência como professor, os anos de trabalho darão conta da formação

continuada do professorado. O pressuposto aparente é que “dar aulas, se

aprende dando aulas”.

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• Planejar adequadamente os objetivos do esporte educacional, atuar em

direção à sua consecução e avaliar estes resultados. Uma vez que a

dimensão educacional do esporte, para ter seus objetivos alcançados,

necessita de uma prática pedagógica que exige que se vá além (ensinar

mais que esporte para todos) do ato motor e da performance habilidosa

(sem desconsiderá-la como foi discutido em ensinar bem esporte para

todos), a formação de professores que atuam nessa dimensão é carente

de conhecimentos da pedagogia, da Psicologia e da educação em geral,

havendo uma associação entre esporte e educação como fenômenos

quase sincréticos. Neste sentido, o que se busca aqui explicitar é que

planejar o ensino do saque, ou de qualquer outra habilidade motora, é, ou

deveria ser, razoavelmente fácil para professores de Educação

Física/técnicos do esporte. No entanto, os professores de Educação Física,

em geral têm pouca, ou nenhuma, experiência/competência para propor

adequadamente e avaliar objetivos que extrapolem o movimento humano.

Avaliar se o saque está evoluindo pode ser feito por análise de resultados,

chamada de conhecimento de resultado (nº de saques corretos, em

quadra, nº de aces etc.) ou por meio da observação da execução dos

padrões de movimento, chamada de conhecimento de performance

(braços estendidos, joelhos semi-flexionados etc). O desafio se encontra

em planejar, intervir e avaliar adequadamente se o aluno passa a ser,

como resultado das intervenções planejadas para a aula, mais ou menos

ético, respeita mais ou menos regras, participa mais ou menos ativamente,

é mais ou menos cooperativo etc. Vale lembrar que estas dificuldades são,

entre outras coisas, resultantes de uma formação básica que não prepara

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os professores de Educação Física para tais demandas (GIMENEZ, 2004).

Estes últimos aspectos assumem ainda maior importância e relevância

quando se pensa no esporte educacional, em que os alunos não se

encaminharão necessariamente, ou pouco provavelmente, para o esporte

de rendimento. Trata-se do que se costuma chamar de “aprender para a

vida”. De certa forma, o que se pode inferir é que esses professores foram

preparados para “instruir” e não para “educar”.

• Diretamente relacionada ao desafio supracitado está a dificuldade no

estabelecimento do que realmente se pretende ensinar, do que se está

falando em “aprender/ensinar para a vida”. É freqüente, na literatura

específica referente ao esporte educacional, o uso de termos como estes:

“educar é ensinar a viver” (FREIRE, 2005 apud REVERDITO E

SCAGLIA,2009); “desenvolvimento integral (PAES E BALBINO, 2005);

“formação para a cidadania crítica e participativa22” (ROSSETTO JR,

COSTA E D’ANGELO, 2008); “o esporte para a criança e o jovem deverá

ser compreendido como um meio para levá-los a um ser melhor”

(REVERDITO e SCAGLIA, 2009) entre outros. O que se pretende aqui não

é, de forma alguma, negar o valor de tais objetivos, mas questionar o que

verdadeiramente eles significam e, principalmente, de que forma os futuros

professores que entram em contato com termos como estes devem

planejar suas ações pedagógicas para atingir os objetivos que eles

parecem explicitar. Ou seja, por onde começar quando o que se pretende é

“ensinar a viver” e como avaliar se o aluno “aprendeu a viver”?

22 Note o leitor que a participação e a criticidade são indissociáveis da cidadania.

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37

• Desvincular a pedagogia do esporte educacional dos modelos de

treinamento da dimensão esportiva de alto rendimento. Esta associação

não aparece sem razão. Os modelos de ensino de esporte, conforme já

comentado, enfatizam a performance técnica, exigem níveis de proficiência

que a maior parte das crianças e jovens jamais alcançará;

conseqüentemente, desconsideram o ritmo individual de aprendizagem dos

alunos. Além de não levarem em consideração a heterogeneidade de

repertório das crianças e jovens e seus diferentes ritmos de aprendizagem,

tal como é comumente realizado, enfatiza a transmissão/o aperfeiçoamento

das habilidades técnicas, a performance motora, em detrimento da

inserção do aluno, com competência, nas atividades esportivas. Sobre

esse assunto, Paes e Balbino (2005) lançam críticas diretas ao modelo de

ensino, que tem como padrão de desempenho o do atleta de alto

rendimento e que ao colocá-lo como critério de avaliação, torna-se

exclusivista e elitista:

[...] Em particular penso [sic], que a maior parte das crianças

não atenderá as exigentes metas e aos padrões de

desempenhos estabelecidos por uma pedagogia que se

preocupa exclusivamente com o cumprimento de etapas de

treinamento, que estabelece um padrão de atleta a ser

seguido e que estabelece a priori um ponto de chegada

comum [...] Oponho-me veementemente à idéia de que as

crianças fracassam por não atingirem o desejado e

preestabelecido por um tipo de sistema elitista como o

esportivo. Não seria a pedagogia, por conta de estabelecer

metas similares para todos, a fracassada? (PAES E

BALBINO, 2005, p.9)

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38

Neste ponto, vale chamar a atenção para um ponto específico da citação. Se,

por um lado, a crítica do autor é cabível por questionar o uso do esporte de

rendimento como modelo/padrão para o ensino de esporte para crianças e jovens,

ainda mais numa perspectiva educacional, por outro lado, é falível ao sugerir que

o estabelecimento de metas para todos seja o motivo da pedagogia fracassar.

Desde que, entre outras coisas, considere os repertórios individuais dos

alunos e permita que os alunos caminhem em seus próprios ritmos de

aprendizagem, quaisquer que sejam os objetivos de uma proposta educacional, o

estabelecimento de metas para todos é condição de existência e sucesso de tal

proposta pedagógica.

Considerações semelhantes às de Paes e Balbino (2005) são realizadas por

Kunz:

Os movimentos realizados nas modalidades esportivas mais

praticadas no nosso meio, inclusive por não-atletas, como

voleibol, basquete, handebol, atletismo, futebol, natação etc.

e que são práticas hegemônicas na Educação Física, têm

um nível de exigência do praticante extremamente alto [...]

diferenças na forma na realização dos movimentos

caracterizam as diferentes modalidades esportivas, embora

os movimentos continuem sendo rigidamente

predeterminados e regulamentados para cada

modalidade.[...] Essa rigidez na execução do gesto ou do

movimento esportivo, juntamente com a padronização dos

locais onde este movimento é realizado, permite o controle

e a organização das atividades pelo princípio máximo que

orienta este tipo de movimento: melhoria de rendimentos e

habilidades para a concorrência e a competição.

É discutível, portanto, se o ensino do movimento, seguindo

os princípios do esporte normatizado e de competição, pode

servir para finalidades pedagógicas com intencionalidade

educacional [...] (KUNZ, 2006, p 82-84).

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39

Enquanto autores como Rossetto JR, Costa e D’Angelo, (2008) lançam

críticas ao contraste entre objetivos do esporte de rendimento x esporte

educacional, como se pôde notar, Paes e Balbino (2005) e Kunz (2006),

nestas citações, direcionam suas críticas ao método, aos modelos de ensino

de esporte orientados pelo padrão de rendimento, mas que se dizem

partícipes de uma proposta educacional.

• Tornar o esporte acessível a todos, independentemente de seus repertórios

e de seus níveis de habilidades. O desafio em questão é romper com o

imaginário social que persiste na idéia de que a prática de atividades

esportivas requer “certos dons”, como se esses “dons” fossem habilidades

inatas.

• Romper com a noção de que o esporte, por si só, educa. Não há dúvidas

de que toda atividade social humana está repleta de valores; no entanto,

há de se questionar que tipo de educação, quais valores se pretende

transmitir às novas gerações por meio da prática esportiva. Nas palavras

de Kunz:

[...] o esporte sempre que for encenado em algum lugar por

algum motivo tem um caráter educacional. O problema é

descobrir que compromisso educacional a encenação

pedagógica do esporte deve assumir quando da presença

de um educador [...] (KUNZ, 2006, p 73)

• Transpor a idéia de que a grande/principal/única contribuição que o esporte

pode oferecer à formação das crianças e jovens é a

oportunidade/possibilidade de ascender socialmente chegando à dimensão

esportiva de rendimento, tornando-se um atleta profissional. Este desafio já

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40

foi identificado por Paes e Balbino (2005), que questionam o que restará de

aprendizagem às crianças que não conseguirem chegar ao esporte de

rendimento, que nunca serão atletas profissionais, que são a maioria

esmagadora em todo mundo.

• Romper com institucionalização do esporte educacional como resultado de

associações errôneas entre as dimensões do esporte. O que se observa na

constituição das classes de Educação Física escolar ou em programas de

atendimento fora da escola é uma grande quantidade de crianças,

classes/turmas com 30, às vezes até mais alunos, de ambos os sexos, e

que relutam em praticar determinadas atividades que estejam,

aparentemente, desconfiguradas do modelo esportivo (por exemplo, times

mistos, com meninos e meninas, divisões desequilibradas de equipes - 13

contra 12 -, entre outros), ou seja, que não apresentem as características

de institucionalização e universalização de regras do esporte de

rendimento.

• Inadequação dos equipamentos/ das instalações esportivas à dimensão

educacional do esporte. Se já é tarefa árdua desvincular o pensamento da

criança – e dos professores - do modelo de rendimento imposto pela mídia

e os exemplos que ela vivencia em geral, adicione-se a isso a reprodução

dos equipamentos/das instalações esportivas da dimensão de rendimento

do esporte. O que se observa, em praticamente todos os espaços de

prática esportiva, são equipamentos e materiais idênticos para crianças e

adultos, atletas e alunos. A mesma bola utilizada pelos jogadores da liga

de basquetebol é, freqüentemente, utilizada nas aulas de Educação Física

escolar, em escolinhas de esporte ou em projetos esportivos sócio-

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educativos. A altura da tabela de basquete é a mesma da equipe

profissional e fica inacessível às crianças menores, desconsiderando a

força necessária para o lançamento da bola, aspecto que torna a prática

esportiva uma atividade em que as possibilidades de sucesso são

escassas. Como exemplo disso, basta que se façam analogias às outras

modalidades esportivas: no futebol, a trave é muito alta e os pequenos não

têm possibilidade de sucesso ao jogar no gol; no basquete, a bola é

pesada; no vôlei, a rede é alta e a linha de saque fica muito distante; no

handebol, não se pode andar com a bola (exige uma combinação de

movimentos fundamentais que, de acordo com a abordagem

desenvolvimentista, só ocorrerá, dependendo de interações com tarefas

específicas em ambientes propícios, aos 6 anos); na natação, a piscina é

funda etc.

É possível/provável, ainda, que outros desafios, tais como dificuldades

regionais e falta de apoio do sistema, façam parte do cotidiano de professores e

instituições que atuam na dimensão educacional do esporte. Com o conjunto de

tópicos acima objetivou-se apenas levantar grandes questões que podem

interferir na implantação/implementação de programas de formação/atuação de

professores na dimensão educacional do esporte.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES.

Diante desse grande número de desafios a serem enfrentados, no

cotidiano das aulas com as crianças e jovens e nos programas de formação de

professores, e certo de que as principais contribuições para a “solução” destas

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situações não seriam encontradas no âmbito específico da ciência do esporte23,

mas provavelmente de áreas correlatas como a Pedagogia e a Psicologia, este

pesquisador ingressou no ano de 2009 no programa de mestrado em Psicologia

da Educação (PED).

Inicialmente tomou contato com disciplinas relacionadas diretamente ao

núcleo, ou a linha de pesquisa, de formação de professores.

No curso das disciplinas básicas do PED, aprofundou estudos anteriores

sobre as contribuições de diferentes pensadores no âmbito da educação, como

por exemplo, Jean Piaget e Lev S. Vygostky. Ainda no primeiro semestre do

curso, entrou em contato, pela primeira vez, com fundamentos básicos da ciência

Análise do Comportamento e algumas de suas contribuições à educação. Um dos

fatos que mais chamaram a atenção foi a grande quantidade de dados produzidos

por esta ciência no âmbito da educação, com grandes princípios claramente

delimitados, técnicas bastante testadas em diversas áreas, inclusive na esportiva,

resultados amplamente replicados e, ainda assim, uma refutação social

inexplicável e infundada.

Diante deste paradoxo entre dados comprovados e contribuições inegáveis

da Análise do Comportamento à educação, de um lado, e um afastamento/uma

tendência a negar estas contribuições por diversas outras correntes da Psicologia

e da Pedagogia, de outro, este pesquisador optou por obter suas próprias

conclusões aprofundando seus conhecimentos na ciência Análise do

Comportamento. Foi neste contexto que recebeu a indicação da obra intitulada

Tecnologia de Ensino, escrita por Skinner em 1968, traduzida no Brasil, em 1972

23 No âmbito que trata de aspectos específicos da performance da motricidade humana, pois em outros âmbitos como a pedagogia do esporte o pesquisador tem encontrado suporte razoável para modelos mais eficientes de metodologias de ensino de esportes.

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43

– pela EPU - e que serviu como primeiro referencial de pesquisa para este

trabalho. Nesta obra, este pesquisador identificou elementos básicos, porém

suficientes, para que se fizessem as primeiras analogias entre as propostas de

Skinner à educação escolar e as possibilidades destas propostas serem utilizadas

na atuação cotidiana da prática pedagógica esportiva com intenções

educacionais, com as crianças e os jovens, e nos programas de formação de

professores para atuarem posteriormente dentro desta perspectiva educacional

do esporte.

Com o aprofundamento em diversos outros estudos, cada vez mais as

aproximações entre a produção da Análise do Comportamento direcionada à

educação e a constituição de princípios orientadores tanto para a atuação quanto

para a formação de professores dentro de uma perspectiva educacional de

esporte parecem, não apenas possíveis, mas extremamente promissoras para a

implantação e implementação do que se pretende chamar de pedagogia de

esporte educacional, ou até Psicologia do esporte educacional.

No momento posterior ao da leitura do livro Tecnologia de Ensino, este

pesquisador, animado com as novas possibilidades que se anunciavam à

pedagogia do esporte, buscou publicações que pudessem demonstrar,

efetivamente, que a Análise do Comportamento poderia contribuir com o cotidiano

pedagógico dos professores de Educação Física e esportes.

Em um dos primeiros artigos encontrados, Peres (2000) apresenta uma

interpretação bastante equivocada dos princípios da Análise do Comportamento;

estabelecia relações teóricas infundadas entre o behaviorismo de Skinner e

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Watson24; não continha uma única referência bibliográfica específica da área e

propunha analogias bastante rudimentares entre Análise do Comportamento e

Educação Física.

Diante deste segundo paradoxo, de um lado uma ciência clara e

promissora em termos de dados/resultados com inegáveis contribuições às

diversas áreas, entre elas a educação, do outro lado publicações que

apresentavam de forma equivocada os conteúdos/conceitos desta ciência, este

pesquisador resolveu aprofundar seus estudos, na literatura nacional, em busca

de novas contribuições para a formação e atuação de professores na dimensão

educacional do esporte

24 Neste artigo o autor utiliza o nome de Skinner para designar Watson, realizando grande confusão entre os nomes Burrhus Frederick Skinner e John B Watson, apresentando como o “primeiro psicólogo behaviorista B.F.WATSON”

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MÉTODO

Considerando que houve certa divergência entre os estudos iniciais deste

pesquisador no âmbito específico da Análise do Comportamento e as publicações

encontradas relacionando esta ciência à Educação Física e esportes, foram feitos,

inicialmente, levantamentos bibliográficos que pudessem indicar se/ e de que

forma a Análise do Comportamento havia se aproximado da grande área

Educação Física, de forma mais precisa do ensino de esportes e,

especificamente, do esporte educacional.

Sem perder de vista que o contato, deste pesquisador, com a Análise do

Comportamento se deu no programa de mestrado em Psicologia da Educação, a

hipótese que emergiu foi que uma das possíveis portas de acesso da Análise do

Comportamento ao esporte seria pela Psicologia do Esporte. Neste sentido,

definiram-se como pontos de convergência deste estudo o esporte educacional,

Psicologia do esporte e Análise do Comportamento.

Um ponto de partida para o levantamento bibliográfico foi a busca em sites

de pesquisa como GOOGLE, GOOGLE ACADÊMICO, SCIELO, CEV (CENTRO

Esportivo Virtual), entre outros. Nestes sites foram procurados artigos publicados

dentro das temáticas:

• Esporte educacional e Psicologia do esporte;

• Análise Experimental do Comportamento e Esporte;

• Psicologia do esporte e Análise Experimental do Comportamento;

• Análise Experimental do Comportamento e educação.

A pesquisa realizada a partir destas palavras-chave orientou a

continuidade do trabalho que se seguiu com uma varredura das

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publicações relacionadas aos termos dentro dos periódicos de três grandes

áreas: Educação Física, Psicologia do esporte e Análise Experimental do

Comportamento.

Periódicos de Educação Física

• Revista Paulista de Educação Física;

• Revista Brasileira de Educação Física e Esportes;

• Revista Mackenzie de Educação Física e Esportes;

• Revista Movimento;

• Revista Brasileira de Ciências do Movimento;

• Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Periódicos da Psicologia do esporte

• Revista da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte;

• Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte. Periódicos da Análise Experimental do Comportamento(AEC):

• Revista Perspectivas em Análise do Comportamento;

• Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva;

• Revista Brasileira de Análise do Comportamento;

• Revista Behaviors;

• Revista Paradigma.

Todos os periódicos analisados são nacionais.

O período analisado compreendeu a produção dos periódicos do decênio

2000 – 2010 por compreender o período em que deveriam se concentrar as

publicações sobre esporte educacional, considerando que a definição legal deu-

se, apenas, sob a Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998.

Alguns periódicos pesquisados iniciaram suas edições após o ano de 2000.

Foram avaliados, apenas, os periódicos disponíveis on-line, considerando que

algumas revistas são editadas fora da cidade de São Paulo e que nem todas

poderiam ser encontradas com facilidade por este pesquisador, com exceção das

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Revistas Brasileira de Educação Física e Esportes e Paulista de Educação Física,

encontradas na biblioteca da Universidade de São Paulo.

O terceiro momento de coleta de informações consistiu no

levantamento de propostas da Análise do Comportamento para a educação em

geral e para o ensino em particular. O ponto de partida para esse trabalho foram

as indicações de Skinner contidas no livro Tecnologia do Ensino (197225), sua

obra mais diretamente voltada para as questões educacionais. O objetivo, neste

momento, foi identificar princípios / procedimentos para o planejamento e

execução do ensino.

As análises realizadas entre os diferentes conjuntos de informações

obtidos visaram a identificação de se, e em que condições, as propostas analítico-

comportamentais poderiam contribuir para o estabelecimento de uma pedagogia

do esporte eficaz, para a formação e atuação de professores, segundo os

princípios: rumo à autonomia, construção coletiva, respeito à diversidade,

educação integral e inclusão de todos.

Os resultados obtidos da leitura dos trabalhos publicados nos periódicos

supracitados serão discutidos a seguir.

25 Originalmente publicada em inglês, em 1968.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o levantamento do material bibliográfico, uma primeira opção foi

categorizar os artigos encontrados dentro das temáticas: Esporte Educacional,

Psicologia do esporte e Análise Experimental do Comportamento (AEC).

A primeira parte dos resultados será apresentada a seguir e terá como foco

o que foi encontrado sobre esporte educacional.

POR UMA PEDAGOGIA DO ESPORTE EDUCACIONAL.

Rossetto Jr., Costa e D’Angelo (2008) sugerem que uma pedagogia do

esporte educacional que busque a formação integral das crianças e jovens e

contribua para o exercício da cidadania deve diferenciar-se drasticamente dos

modelos de formação de atletas, vigentes na dimensão de rendimento do esporte

e deve, também, orientar-se por princípios pedagógicos que permitam tal

diferenciação.

Segundo Barbieri, Oliveira e Moraes (1996) e Korsakas e De Rose Jr.

(2002), entre outros, para que o esporte se constitua numa prática social

educacional, este deve alicerçar-se nos seguintes princípios: totalidade,

emancipação, co-educação, regionalismo, cooperação e participação.

Pouco mais de uma década depois destes autores sugerirem estes

princípios para o esporte educacional, pouca coisa mudou. Há muita ambigüidade

na compreensão do que eles podem significar e nenhuma indicação prática de

como operacionalizá-los.

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Embora estes princípios tenham sido amplamente divulgados, o referencial

utilizado neste texto foi encontrado em Rossetto Jr., Costa e D’Angelo (2008) e

Paiva e Rossetto Jr. (2009) que ressignificaram os princípios pedagógicos do

esporte educacional26 e os divulgam em programas de formações de professores

de Educação Física e esportes em todo território nacional. Abaixo, são listados os

princípios e a concepção dada a eles por esses autores:

1. INCLUSÃO DE TODOS – criação de condições e oportunidades para que

todas as crianças e jovens tenham acesso à prática esportiva.

2. CONSTRUÇÃO COLETIVA – possibilitar aos alunos o envolvimento na

construção/planejamento de seus programas de aprendizagem esportiva,

considerando seus interesses, suas expectativas e necessidades.

3. RESPEITO À DIVERSIDADE – reconhecer e respeitar a heterogeneidade dos

alunos em relação à etnia, ao sexo, ao biótipo assim como de repertórios e

habilidades (motoras ou não).

4. EDUCAÇÃO INTEGRAL – possibilitar aprendizagens que ultrapassem a

dimensão psicomotora da prática esportiva como, por exemplo, as cognitivas,

sociais e afetivas.

5. RUMO À AUTONOMIA – compreender a prática esportiva como ação

emancipatória, baseada no conhecimento, esclarecimento e na possibilidade

de, no futuro, o aluno autogerenciar sua prática de atividade física e esportiva.

Criar condições para que os alunos se tornem ativos nos processos de

26 A opção por esta terminologia em detrimento da utilizada por Barbieri, Oliveira e Moraes (1996) foi feita, principalmente, pelo fato de o autor desta pesquisa trabalhar em instituição de esporte educacional (Instituto Esporte e Educação) que divulga nacionalmente os princípios e métodos pedagógicos do esporte educacional.

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aprendizagem, no âmbito esportivo - ou não ,- identificando suas

possibilidades de avanço, avaliando seu nível de aprendizagem, indicando

aspectos relacionados ao seu desempenho que precisam ser novamente

considerados no plano de aprendizagem.

Considerado o que foi discutido até aqui sobre novas possibilidades à

pedagogia do esporte educacional (EE), o passo seguinte foi verificar de que

forma estes princípios foram abordados na literatura nacional nos periódicos de

Educação Física. Simultaneamente foram verificadas possíveis intersecções do

EE com temas como Psicologia do esporte (PE) e Análise Experimental do

Comportamento (AEC) nestes periódicos.

SOBRE OS PERIÓDICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES

O primeiro periódico pesquisado foi a Revista Paulista de Educação Física

(RPEF). Esta revista é editada pela Universidade de São Paulo e foi,

provavelmente, uma das mais importantes no cenário acadêmico da área.

Os resultados mostrados na Figura 1 indicam que esta revista foi palco de

discussões referentes à Psicologia do esporte (PE). Dos 180 artigos publicados

entre os anos 2000 e 2006, 7 (4%) fizeram referência a algum aspecto da PE.

Sem dúvida alguma, o que mais aparece é a discussão referente a estresse em

situações competitivas, durante a iniciação esportiva e no jogo. Também

apareceram assuntos como psicossociologia no âmbito esportivo, perfil de

liderança de técnicos e treinamento psicológico em atletas.

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51

Figura 1 Publicações da Revista Paulista de Educação Física (2000 – 2006), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte (PE) e

Análise do Comportamento (AC).

No ano de 2006, a Revista Paulista de Educação Física passou a ser

chamada de Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE). Num

período relativamente curto, este periódico publicou 129 artigos de diversas

áreas, dentre os quais 4 (3,1%) foram publicações da PE, discutindo

concentração, liderança e perfil de liderança.

É possível verificar, na Figura 2, que a produção em PE neste periódico foi,

também, pouco expressiva.

4%

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52

Figura 2 - Publicações da Revista Brasileira de Educação Física e Esportes (2006 – 2010), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte

(PE) e Análise do Comportamento (AC).

A Revista Brasileira de Ciências do Movimento (RBCM) é uma publicação

da Universidade de Brasília, em boa parte, editada pelo grupo de profissionais do

CELAFISCS27 e, conforme evidenciado na, Figura 3, agrupa o maior número de

publicações de todos os periódicos dentro do período avaliado (2000 – 2009)28.

Foram registrados 458 artigos publicados. Destes, apenas 18 (3,9%) foram

referentes à PE. Estresse e motivação representam a maior parte dos estudos,

que abordaram, também, história da PE, personalidade, depressão, auto-estima e

satisfação pessoal.

27 Centro de Estudos e Laboratório de Atividade Física e Saúde de São Caetano do Sul: centro de referência em pesquisas relacionadas à atividade física e saúde

28 As edições de 2010 ainda não estão disponíveis

3,1%

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53

Figura 3 Publicações da Revista Brasileira de Ciências do Movimento (2000 – 2009), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte

(PE) e Análise do Comportamento (AC).

O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte edita uma das mais antigas e

representativas publicações na área de Educação Física e Esportes do país, a

Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). Os dados coletados nesse

periódico encontram-se na Figura 4.

Esta revista diferencia-se das anteriores em pelo menos um aspecto: seus

volumes são temáticos, agrupando, na maioria das vezes, artigos em torno de um

único assunto. Curiosamente, PE e EE não foram temas destas publicações. Nos

10 anos pesquisados, foram encontrados 405 artigos, 3 (0,98%) deles sobre PE

e 1 (0,24%) sobre EE.

3,9%

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54

Figura 4 - Publicações da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (2000 – 2010), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte

(PE) e Análise do Comportamento (AC).

Especialmente nesta revista, há aspectos interessantes que vale a pena

serem trazidos ao leitor. A produção em PE em 10 anos analisados é inferior a

1% do total de artigos (TA); os resultados demonstraram uma lacuna de 9 anos

entre as publicações em PE. O 1º artigo encontrado foi no ano de 2000 e os 2º e

3º no ano de 2009. Em PE, foram abordados acompanhamento psicológico de

atletas, sentidos e significados e estados subjetivos.

Outro aspecto a ser discutido é o surgimento, pela primeira vez até aqui, de

uma publicação referente ao EE – abordagem pedagógica do jogo para séries

iniciais do ensino fundamental, também sem nenhuma expressão numérica.

(0,24%). O último ponto a ser destacado é a publicação de uma resenha de um

livro de Psicologia da Educação - A prática educativa, de Antoni Zabala.

0,98% 0,24%

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55

Sob a responsabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a

Revista Movimento (RMOV), cuja análise é mostrada na Figura 5, publicou 329

artigos no período. Apenas 1 (0,3%) sobre PE e 1 (0,3%) sobre EE.

Da mesma forma que a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, as

publicações referentes ao EE e a PE são ínfimas. Somando as duas publicações

na Revista Movimento obtém-se menos de 1% do TA e a questão do ano de

publicação também deve ser considerada, o artigo sobre EE, foi publicado em

2000, o de PE em 2002 e os últimos 8 anos desta revista não contribuíram para o

avanço das discussões acadêmicas nas áreas de PE e EE.

Figura 5 - Publicações da Revista Movimento (2000 – 2010), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte (PE) e Análise do

Comportamento (AC).

A Revista Mackenzie de Educação Física e Esportes (RMEFE), Figura 6,

foi idealizada por um dos principais contribuintes da Psicologia do Esporte no

cenário nacional, Dante de Rose Jr. Destarte, havia a expectativa de que nesta

0,3% 0,3

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56

revista o número de artigos relacionados à PE fosse maior que em outros

periódicos.

A primeira edição da revista foi em 2002. Já na primeira publicação, foi

possível encontrar publicações sobre EE. É notável a periodicidade com que os

artigos sobre PE figuram nesta revista. Praticamente em todos os números há

alguma publicação referente à PE.

Foram publicados 392 artigos e resumos nesta revista. Ao verificar a

periodicidade da publicação dos resumos, a partir de 2006, sempre no último

número da revista em cada ano, a hipótese levantada por este pesquisador para

explicar este fato é que os resumos são resultados dos trabalhos de conclusão de

curso dos alunos de graduação em Educação Física da Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

Quando considerados os valores absolutos supracitados, das 392

publicações, 23 (5,86%) se concentram em temas relacionados à PE. Estes

números confirmam a hipótese inicial de que, sendo o editor da Revista

Mackenzie grande partícipe da produção nacional em PE, e orientador de

diversos trabalhos relacionados a esta temática nesta universidade, a média de

publicações de artigos e resumos neste periódico foi mesmo a maior encontrada

dentre os periódicos de Educação Física.

Além de publicar um número maior de trabalhos relacionados à PE, a

diversidade de temas foi, também, uma característica encontrada neste periódico.

Assuntos como estresse, motivação – atletas/adolescentes/idosos, ansiedade,

estados de humor, intervenção psicológica, manifestações emocionais, burnout,

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57

psicanálise e desenvolvimento da moralidade no esporte foram abordados no

periódico.

Conforme é possível verificar abaixo, na Figura 6, foram publicados,

também, trabalhos relacionados ao EE.

Em relação aos 2 (0,5%) trabalhos relacionados ao EE, o 1º foi publicado

no volume 1 da revista, em 2002, e explicita os princípios pedagógicos do esporte

educacional e suas relações com a educação. O 2º, publicado em 2006, é um

estudo de caso sobre um programa de esportes, da Universidade de São Paulo,

orientado para o ensino de valores, atitudes e normas de convivência tendo como

referência o princípio de educação integral, oriundo do esporte educacional.

Figura 6 - Publicações da Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (2002 – 2010), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do

esporte (PE) e Análise do Comportamento (AC).

Considerando que o que se buscava não foi efetivamente encontrado nos

periódicos de Educação Física, e que, como já foi mencionado, sem perder de

vista que o contato, deste pesquisador, com a Análise do Comportamento se deu

0,5% 5,86%

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58

no programa de mestrado em Psicologia da Educação, a hipótese que emergiu foi

que uma das possíveis portas de acesso da Análise do Comportamento ao

esporte seria pela Psicologia do Esporte. O passo seguinte foi realizar uma

revisão da literatura referente à Psicologia do esporte em busca de contribuições

mais efetivas desta ciência ao esporte educacional.

PERCURSOS DA PSICOLOGIA DO ESPORTE

A principal razão da introdução deste tópico foi situar o leitor em relação às

possíveis contribuições da Psicologia ao esporte. Vale lembrar que, como alguns

autores citados defenderam a idéia de que a pedagogia do esporte educacional

deveria “alimentar-se” de áreas correlatas como a Pedagogia e a Psicologia, a

hipótese deste pesquisador é de que a Psicologia como grande área, de forma

específica a Psicologia da educação e do esporte, poderia contribuir para a

constituição daquilo que se pretende chamar de pedagogia do esporte

educacional, ou Psicologia do esporte educacional.

Neste tópico, serão apresentados alguns dos principais fatos históricos

relacionados à área da Psicologia do esporte no Brasil e no mundo, produzidos

pelo levantamento histórico realizado. As fontes utilizadas para esse

levantamento foram Becker Jr (2006), Moretti (2004), Rubio (1999; 2002) e

Weinberg e Gold (2008).Aqui o leitor encontrará acontecimentos, eventos,

encontros e publicações da área que se mostrem convergentes com o objetivo do

trabalho.

Para introduzir o leitor neste tópico, fazem-se necessárias, inicialmente,

algumas definições do que é a Psicologia do esporte. O tópico se encerra com a

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59

indicação de como diversas áreas da Psicologia se apropriaram do esporte como

tema/conteúdo de análise e estudos.

De acordo com a American Psychological Association (APA), Psicologia do

esporte “[...] é o estudo científico dos fatores psicológicos que estão associados

com a participação e desempenho no esporte, exercício e outras formas de

atividade física.” (MORETTI, 2004).

Para Weinberg & Gold (2008 p. 22), Psicologia do esporte e do exercício

“[...] consiste no estudo científico de pessoas e de seus comportamentos em

atividades esportivas e atividades físicas e na aplicação prática desse

conhecimento”.

Outras conceituações são apresentadas por De Rose Jr. (2000) ao definir a

Psicologia do esporte como:

� Estudo do comportamento dos atletas em situações esportivas;

� Estudo das influências do esporte ou de determinadas situações sobre

o comportamento dos atletas em situações esportivas competitivas;

� Estudo das relações entre características individuais dos atletas e

situações esportivas competitivas;

� Estudo das influências de fatores extra-competitivos e o comportamento

dos atletas.

É possível notar que, nesta última definição de Psicologia do esporte, o

foco de análise/observação e intervenção é muito mais restrito. Primeiramente,

pela ênfase dada ao comportamento dos indivíduos em situações esportivas e

competitivas29. Em segundo lugar, pela delimitação do sujeito de estudo e

29 Note também o leitor que nesta definição é possível observar que inclusive os chamados eventos/processos psicológicos como atenção, motivação, satisfação etc. são considerados comportamentos. .

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60

intervenção, denominado por De Rose Jr. (2000), de atleta, excluindo, portanto,

outros sujeitos praticantes de atividades físicas e esportes que não sejam atletas.

Finalmente, indicando, como momento de análise/estudo e intervenção, a

situação competitiva.

Diante de diferentes formas de conceituar e conceber a Psicologia do

esporte como ciência aplicada, de uma maneira geral, o que se pretende

demonstrar é que a Psicologia do esporte se relaciona com o estudo dos

processos psicológicos e das mudanças de comportamento decorrentes da

prática de qualquer atividade física/esportiva, assim como oferecer recursos

técnicos/científicos, princípios e diretrizes para que os profissionais que atuam na

dimensão da motricidade humana possam contribuir para que estes praticantes

se beneficiem dessas práticas durante sua ocorrência e, garantir, quando

possível, que estes benefícios se estendam para o cotidiano da vida futuras das

pessoas.

Evolução da Psicologia do Esporte como ciência: Seis períodos

Os primeiros estudos científicos estabelecendo alguma relação entre

esporte e Psicologia ocorreram no fim do século XIX, quando Normam Triplett30

investigou os motivos pelos quais o desempenho de ciclistas que praticavam a

modalidade coletivamente eram superiores aos que o faziam individualmente.

Fonseca (2001) menciona dois estudos anteriores aos de Triplett que avaliaram,

30 Normam Triplett - Psicólogo da Universidade de Indiana; entusiasta do ciclismo.

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61

respectivamente, os efeitos da hipnose sobre a resistência muscular e os efeitos

psicológicos da prática da calistenia31.

No início do século XX, outro psicólogo, desta vez russo, demonstrou

possíveis benefícios psicológicos em sujeitos praticantes de atividades esportivas.

De qualquer forma, foi somente na segunda década do século XX, mais

precisamente em 1925, com a fundação do primeiro laboratório de Psicologia do

esporte por Coleman Griffith32, considerado o “pai” da Psicologia do esporte e

autor dos dois primeiros livros da área, que se pode considerar o

nascimento/surgimento da Psicologia do esporte enquanto área acadêmica de

pesquisa e produção de conhecimento (RUBIO, 2000).

De acordo com Becker Júnior (2006), no período compreendido entre as

primeiras pesquisas americanas e russas sobre aspectos psicológicos da prática

esportiva e a criação dos laboratórios e institutos de pesquisa em Psicologia do

esporte, um importantíssimo evento ocorreu em 1913, organizado por Pierre de

Coubertin, sob o título de “Congresso Internacional de Psicologia e Fisiologia do

Esporte” e que deve ser considerado como primeiro encontro internacional da

área.

O que se percebe, de uma maneira geral, portanto, é que uma certa

divergência na literatura impossibilita a determinação exata/precisa do surgimento

da intersecção entre a Psicologia e o esporte. Assim, talvez seja mais coerente

recontar a história da Psicologia do esporte a partir de períodos e não de datas

31 Calistenia – sistema de ginástica oriundo da ginástica sueca e que apresenta, como características, a predominância de formas analíticas, a divisão dos exercícios em grupos coreográficos, a associação da música ao ritmo dos movimentos e a predominância de movimentos com pequenos aparelhos (halteres, bastões, maças, etc.). 32 Universidade de Illinois; Autor de Psicologia de Técnicos (1926) e Psicologia de Atletas (1928)

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62

específicas. Tal proposta é baseada em Weinberg & Gold (2008) que dividem o

percurso da Psicologia do esporte em seis períodos.

O 1º período, de 1895 a 1920, compreende os estudos supracitados de

Triplett e outros, caracterizados essencialmente pela investigação dos aspectos

relacionados ao controle motor e aprendizagem motora. Estudos como tempo de

reação, atenção e concentração na tarefa e tomada de decisão eram freqüentes

neste período.

Estudos desta natureza foram fundamentais para a compreensão do

controle do movimento humano. Tais estudos compõem, ainda hoje, um

importante arcabouço de informações que sustentam a atuação de diversos

profissionais do movimento33.

O 2º período34, de 1921 até 1938, compreende a criação dos laboratórios

russo e americano de Psicologia do esporte e a publicação dos dois livros35 de

Griffith. Este período teve como forte característica a investigação de atletas e

técnicos em situação competitiva.

A partir de 1938, tem início o 3º período. Pela primeira vez, a disciplina

Psicologia é ministrada no curso de Educação Física, na Universidade da

Califórnia, por Franklin Henry, que estabelece o “programa de graduação em

Psicologia da atividade física” (WEINBERG & GOLD, 2008 p. 28). O curso foi

fundamental para a formação de diversos pesquisadores que passaram a lecionar

em outras universidades, contribuindo de forma significativa para o

desenvolvimento da Psicologia do esporte. É também nesse momento que a

33O leitor interessado no assunto pode encontrar informações sobre aprendizagem motora (Magill, 2000; Schimidt & Wrisberg, 2001) e controle motor (Teixeira, 2008; Shumway-Cook & Woolacot, 2002;, entre outros) 34 Período conhecido como “A era Griffith” dada a importante contribuição deste autor ao desenvolvimento da Psicologia do esporte 35 Psychology of Coaching; Psychology of Athletics

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63

Psicologia do esporte passa a ser difundida no âmbito universitário na União

Soviética. O objetivo dos russos, nesse momento, era, notadamente, utilizar o

rendimento esportivo como forma de comparação das realizações entre os blocos

capitalista e comunista (RUBIO, 2000 p. 21).

Em 1949, é realizado o primeiro estudo sobre stress e esporte36, seguido

por outras investigações como a influência do stress no desempenho esportivo,

traços de personalidade de atletas, entre outras.

Analisando a produção do período, Landers (1983, apud Rubio, 2004)

comenta que:

[...] durante a década de 1950 até meados dos anos 1960

as pesquisas em Psicologia do esporte caracterizaram-se

pelo empirismo, e grande parte dos estudos voltaram-se

para a investigação da personalidade.

Vale ressaltar que a Psicologia nesse período vivia um

momento de afirmação como ciência, buscando formas de

demonstrar quantitativamente hipóteses analíticas,

contribuindo para o desenvolvimento de técnicas

psicométricas que registrassem e quantificassem dados

sobre o cliente que, até então, eram obtidos pela

observação e acompanhamento clínico fosse num enfoque

psicanalítico, fenomenológico ou comportamental. O furor

métrico vivido nessa época teve reflexos importantes na

Psicologia do esporte, representando as pesquisas mais

populares produzidas até então (RUBIO, 2004 p. 97).

É neste período que o Brasil se insere na Psicologia do esporte com os

estudos de João Carvalhães37 - publicados em 1954 – e com os livros publicados

36 W.R. Johnson 37 João Carvalhães: primeiro psicólogo a atuar num clube de futebol; psicólogo com experiência em psicometria; atuou no São Paulo Futebol Clube, no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol e na Seleção Brasileira de Futebol (campeã mundial pela primeira vez em 1958).

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por Athayde R. Silva e Emílio Mira38 (FREITAS, 2003; RUBIO, 2000, BECKER

JÚNIOR, 2006).

É interessante lembrar ao leitor (e fomentar uma discussão a respeito) que,

especialmente na situação do Brasil, um dos pontos que “pode ter contribuído”

para a arrancada da Psicologia do esporte foi o bi-campeonato mundial de futebol

conquistado pelo país. Nestas competições, a equipe brasileira contou, pela

primeira vez, com um “psicólogo do esporte” e, tendo vencido ambas, parece fácil

entender que se tenha estabelecido uma relação direta entre a vitória e a

participação do “psicólogo esportivo”. O 3º período se encerra em 1965, ano da

realização do Iº Congresso Mundial de Psicologia do esporte - em Roma39 - e da

criação da Sociedade Internacional de Psicologia do esporte – ISSP (CILLO,

2000; FONSECA, 2001; RUBIO, 2000; WEINBERG & GOLD, 2008).

No 4º período, compreendido entre 1966 e 1977, diversas outras

instituições internacionais relacionadas à Psicologia do esporte se consolidam

(Sociedade Americana para a Psicologia do Esporte e Atividade Física –

NASPSPA 1968; Sociedade Canadense de Aprendizagem Psicomotora e

Psicologia do esporte – CSPLSP 1969; Federação Européia de Psicologia do

esporte e das atividades Corporais – FEPSAC 1969) (RUBIO, 2000). Segundo

Fonseca (2001), muitos países da Europa também criaram suas associações

neste período, como, por exemplo, Inglaterra (1967), Suíça (1968), Alemanha

(1970), França (1973), Itália (1974), Suécia (1975), Finlândia (1976) e Espanha

(1977).

38Futebol e Psicologia (1962) e Psicologia Esportiva e a Preparação do Atleta (1965). 39Rever no início deste capítulo a discordância de Becker Júnior (2006) quanto a ser este o primeiro evento internacional da área.

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65

A ISSP (Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte) oferece uma

importante contribuição à área com o lançamento de seu periódico40 trimestral,

em 1970, em vigor ainda hoje.

Segundo Miranda (s/d) e Weinberg & Gold (2008), neste período a

Educação Física firma-se como disciplina acadêmica e a Psicologia do esporte

como um componente indispensável nessa disciplina, desta vez, separada da

aprendizagem motora. Esta separação causou, e continua causando, certos

estranhamentos em relação à Psicologia do esporte. De um lado, os especialistas

em aprendizagem motora interessaram-se pelas questões da aquisição de

habilidades motoras, efeitos do feedback, entre outros. Por outro lado, os

psicólogos do esporte interessaram-se pelos fatores “exclusivamente

psicológicos” como a ansiedade, o estresse, a constituição da personalidade do

esportista, auto-estima, motivação e em como a participação em atividades físicas

e esportes influenciavam o desenvolvimento psicológico.

Discussões semelhantes são realizadas por Rúbio (2004; 2000), que

aponta aproximações e distanciamentos na área, resultados de confusões de

interpretações da Psicologia do esporte como uma subárea das chamadas

ciências do esporte41, que se ocupa dos aspectos psicofisiológicos do esporte e

da atividade física, ou como uma especialidade da Psicologia, aplicada ao

contexto esportivo.

Das dissonâncias entre as interpretações supracitadas, surgem

interessantes discussões sobre a Psicologia do e no Esporte, que extrapolam o

40 International Journal of Sport Psychology

41 Ciências do Esporte - composta por sete campos distintos de produção: medicina esportiva, biomecânica do esporte, pedagogia do esporte, filosofia do esporte, história do esporte, sociologia do esporte e Psicologia do esporte.

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escopo deste trabalho, mas que são complementares ao entendimento do

assunto. Debates similares se estendem à área da Psicologia da ou na Educação

e do esporte da ou na escola/educação e que são mais pertinentes a este

trabalho.

O que Weinberg e Gold (2008) chamam de 5º período tem início em 1978 e

se estende até o fim do século XX – ano 2000. O que se evidencia é um

crescimento da Psicologia do esporte em todo o mundo, especialmente da área

aplicada, ganhando cada vez mais prestígio e respeito internacional. Há um

crescimento, tanto no número, quanto na qualidade das pesquisas, que passam a

ser, gradativamente, mais “qualitativas e interpretativas” contribuindo para uma

maior aceitação de seus métodos e resultados na área da Psicologia.

Como incontestável avanço, especial destaque deve ser dado à produção

de conhecimento científico:

[...] em 1987, a ISSP42 decidiu patrocinar uma outra revista

trimestral no campo da PD43, de natureza mais aplicada,

que designou de The Sport Psychologist. Antes, porém, em

1979, a NASPSPA havia começado a editar, também

trimestralmente, o Journal of Sport Psychology (Journal of

Sport & Exercise Psychology, a partir de 1988), atualmente

considerada a mais importante revista no domínio da PD.

Exclusivamente relacionadas com a PD, foram ainda

criadas ao longo dos tempos outras revistas como, por

exemplo, o Japanese Journal of Sport Psychology (1974), a

Movimento (1984), a Sportpsychologie (1987), o Journal of

Applied Sport Psychology (1989), ou a Revista de

Psicología del Deporte (1992), de uma forma geral

relacionadas com as associações científicas e/ou

42 Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte

43 Psicologia do Desporto (como em Portugal)

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profissionais dos respectivos países. Mais recentemente,

também a FEPSAC decidiu editar uma publicação regular

no domínio da PD. Assim, patrocinou, a partir de 1997 a

publicação anual do European Yearbook of Sport

Psychology, que a partir deste ano foi substituído pela sua

nova revista, intitulada de Psychology of Sport and Exercise,

[...] o Perceptual and Motor Skills, o Research Quarterly of

Sport and Exercise, o Journal of Sport Behavior, o Journal of

Sport Sciences, o Journal of Sport & Social Issues, o

JOPERD, a Quest, a Science et Motricité, ou a Appunts [...]

(FONSECA, 2001 p. 116).

Observa-se, também, neste período, o fenômeno da multidisciplinaridade

na produção de conhecimento e intervenção em Psicologia do esporte, o que

impulsionou/fomentou a necessidade de delimitação da atuação como consultor

clínico apenas ao psicólogo de formação especializado em Psicologia do esporte

e, aos demais profissionais, as áreas de ensino e da pesquisa.

Autores como Fonseca (2001), Miranda (s/d) e Moretti (2004) corroboram a

idéia de que um dos fatos mais importantes para a área da Psicologia do esporte,

nas últimas décadas, foi o reconhecimento pela American Psychological

Association (APA), em 1986, da Psicologia do esporte como uma especialidade

da Psicologia (nº47) e pela International Association of Applied Psychology

(IAAP), que criou a sua 12ª Divisão, orientada exclusivamente para a Psicologia

do esporte, em 1994.

O último (6º) período, contemporâneo, tem início no ano de 2000 vindo até

os dias de hoje (2011) e é, predominantemente, marcado pela multiplicidade de

abordagens/orientações psicológicas.

De certa forma, o que Weinberg & Gold (2008) chamam de 5º e 6º período

são, aparentemente, prolongamentos temporais do 4º período com ênfase na

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produção e multidisciplinaridade, uma vez que não há mudança ou implemento de

objetivos de estudo, aparentemente, o foco permaneceu o mesmo durante estes

três períodos.

Dentre as abordagens/orientações psicológicas que passaram a compor o

campo de conhecimentos da Psicologia do esporte, este texto despenderá

especial atenção à Análise Experimental do Comportamento.

O próximo passo foi, considerando o que os autores chamaram de

períodos de ampliações de publicações e multiplicidade de abordagens, verificar

se/ de que forma estas publicações ocorreram no Brasil e, em que medida

contribuíram para o esporte, educacional de maneira específica, tendo a Análise

Experimental do Comportamento como abordagem adotada.

SOBRE OS PERIÓDICOS DE PSICOLOGIA DO ESPORTE

Fazia parte da proposta original deste trabalho, verificar a produção

nacional de toda a história da Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia do

Esporte (RSBPE). A hipótese inicial era a de que se houvesse verdadeiramente

uma produção nacional referente às convergências entre esporte educacional,

Análise do Comportamento e Psicologia do esporte, esta produção deveria estar

concentrada neste periódico.

A hipótese foi imediatamente refutada por dois motivos: 1º. A produção da

RSBPE é ínfima, um único volume encontrado; 2º. Dos poucos artigos que foram

publicados neste periódico, nenhum estabelece relações com os temas desta

pesquisa (Esporte Educacional – EE; Análise do Comportamento – AC; Psicologia

do Esporte – PE).

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De um total (TA) de 8 artigos publicados neste número (único) do periódico,

todos enquadrados como relacionados à Psicologia do esporte (PE), nenhum

deles abordou a temática Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte e

Análise do Comportamento (PE & AC). Os temas abordados foram emoções,

estados de humor, liderança, orientação tarefa-ego, criatividade, conhecimento

técnico-tático e evolução histórica da PE. Os 8 artigos foram classificados em T.A.

e em P.E.

O próximo passo em busca de publicações que promovessem o encontro

entre PE & EE & AC foi verificar a produção da Revista da Associação Brasileira

de Psicologia do Esporte (RABPE), apresentada abaixo na Tabela 1. Lançada no

ano de 2007, com apenas 36 artigos publicados em 4 anos, a revista abordou,

dentre outros assuntos, desde doping em atletas, fenomenologia no esporte,

traços de personalidade, perfil psicológico de treinadores, influência familiar,

motivação, estresse, até conceitos como percepção de dor, existencialismo e

teoria bioecológica.

Tabela 1- Publicações da Revista da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte Paulista de Educação (2007 – 2010)

ANO VOL Nº T.A. PE PE & AC EE PE & EE

2007 1 1 11 11 0 0 0

2008 2 1 9 9 0 0 0

2009 2 2 8 8 0 0 0

2010 3 1 8 8 0 0 0

TOTAL 36 36 0 0 0

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Assim como no periódico anterior, os artigos se concentram na área de PE,

mas não promoveram aproximações com os temas AC.

Vale lembrar que nos periódicos de PE encontrados e pesquisados,

também não houve publicações referentes ao EE. O que se verifica é uma

concentração das publicações em torno, apenas, do esporte de rendimento. Há

uma pequena dispersão das pesquisas para a dimensão do lazer, conforme

alguns estudos como motivação à prática de esportes nos momentos livres, entre

outros poucos, mas a maioria é nitidamente voltada para o esporte de rendimento.

Estes dados certificam que a produção nacional em PE é, ainda, muito

incipiente, e permite o levantamento de uma hipótese um tanto assustadora: a de

que os psicólogos que se debruçaram sobre o fenômeno esportivo direcionaram-

se, quase exclusivamente, à dimensão de rendimento do esporte.

Ao se considerar as áreas de atuação em Psicologia do esporte

apresentadas por Rúbio (1999), Weinberg & Gold (2008), Souza Filho (2000)

entre outros, é possível identificar: área de estudos e pesquisas; área de ensino e;

área de intervenção/atuação.

A todos os profissionais de Psicologia e Educação Física estão disponíveis

as áreas de estudos e pesquisas e área de ensino. Neste sentido, produzir

conhecimento referente às mudanças comportamentais causadas nos sujeitos

durante ou após a prática esportiva pode ser feito, tanto por psicólogos como por

professores. Lecionar esta disciplina ou ministrar cursos sobre estes

conhecimentos produzidos, também. O marco divisor e que mais interessa neste

momento diz respeito à atuação. Somente psicólogos de formação podem exercer

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esta função. A questão que emerge é a seguinte: Seria o esporte educacional um

campo profissional atrativo aos psicólogos do esporte? Sendo esta a dimensão

social do fenômeno esportivo que menos envolve financiamentos, salários, lucros

e patrocínios, é possível esperar que algum dia haja aplicação prática, ou em

outras palavras, psicólogos atuarão na dimensão social do esporte? O esporte

educacional deixará de ser o patinho do feio da Psicologia do esporte?

Esta discussão foi aqui levantada, pois pode contribuir para o entendimento

dos resultados obtidos na pesquisa.

Se quem realiza a pesquisa aplicada é, em geral, mas não é regra, quem

intervém com o fenômeno, neste caso esporte educacional, isso justificaria a

ausência de produção de Psicologia do esporte educacional e, também, a

concentração das pesquisas em torno da dimensão de rendimento do esporte.

Uma das hipóteses que emergiram ao interpretar os dados e que não fazia,

de maneira alguma, parte do repertório de possibilidades elencadas no início

deste trabalho, é a de que o encontro entre Psicologia do esporte e esporte

educacional não havia, ainda, acontecido por uma questão de mercado, ou seja,

por qualquer outra questão de fundo mais profissional e financeiro, do que

conceitual. Em outras palavras, se a dimensão educacional do fenômeno

esportivo é a que menos recebe investimentos/patrocínios/apoios financeiros,

etc., não receberá também as contribuições da Psicologia do esporte?

O leitor atento deve se lembrar que um dos objetivos deste trabalho foi

identificar se/como tem ocorrido a intersecção dos temas Psicologia do esporte,

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Esporte Educacional e Análise Experimental do Comportamento na literatura

nacional.

Apenas para melhor situá-lo em relação ao que foi discutido até aqui,

observe a Figura 7.

Figura 7 - Resultados consolidados da produção nacional em Psicologia do esporte e Educação Física (2000-2010), segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional

(EE), Psicologia do esporte (PE) e Análise do Comportamento (AC).

Os resultados até aqui apresentados demonstram que dos 1937 trabalhos

pesquisados, 100 (5,1%) estabeleceram algum tipo de relação com a PE e 4

(0,02%) com EE. Quando se considera que dentre estes trabalhos, 44 são de

periódicos de PE, portanto, todos enquadrados neste tema (ainda que possa

haver discordâncias quanto à relevância destes temas em periódicos de PE),

pode-se notar que se estes trabalhos fossem descontados da consolidação os

resultados de trabalhos em PE do esporte (56 de um total 1893) representariam

2,9% do TA. Observe-se também que AC, PE e EE ainda não foram encontradas

na literatura.

0,02% 5,1%

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73

Retomando a busca pela intersecção entre esta três áreas citadas, a opção

seguinte foi verificar a produção de alguns periódicos de Análise do

Comportamento.

Análise Experimental do Comportamento e Psicologia Do Esporte: O encontro

As primeiras aproximações entre a Análise do Comportamento e o campo

esportivo/ atividade física datam do fim da década de 1960 quando o efeito de

diferentes contingências de reforçamento sobre a quantidade de nado em

membros de uma equipe de natação foram comparados (1969). No entanto, o

principal marco histórico deu-se no início da década de 1970, com a publicação

do livro “O desenvolvimento e controle do comportamento no esporte e Educação

Física44”, onde era possível se identificarem as primeiras propostas e estratégias

para a instalação – modelagem -, manutenção e generalização das habilidades

esportivas com base no conhecimento produzido pela análise do comportamento

(MARTIN e TKACHUK, 2001 apud CILLO, 2002; MOLA, 2007).

Ainda segundo Cillo (2000), a aproximação da Análise do Comportamento

e Psicologia do esporte foi facilitada e impulsionada por dois principais motivos.

A ênfase dada pela Análise do Comportamento sobre os registros

resultantes da observação do comportamento e dos resultados da intervenção

sobre ele estabelecia um paralelo com as folhas de registro e mensuração do

scout. Depreende-se que, por trás deste detalhe aparentemente técnico, estava o

foco na observação direta do comportamento do indivíduo e na sua topografia,

além da sua funcionalidade.

44The development and control of behavior in sport and physical education.(RUSHALL e SIEDENTOP, 1972).

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Da mesma forma, o avanço da própria Análise do Comportamento

possibilitou o desenvolvimento de tecnologias comportamentais para o manejo de

variáveis em outros ambientes além do laboratório. Como completa o autor:

O analista do comportamento, então, passou a aplicar os

princípios de laboratório em ambientes com um menor

isolamento de variáveis, porém, com uma maior relevância

social na medida em que se aproximava da solução de

problemas do cotidiano humano (CILLO, 2002 p. 3).

Com o aumento da validade ecológica, o esporte foi, nesse momento,

assim como a psicoterapia e a educação, um terreno fértil para a aplicação do

conhecimento produzido no laboratório do analista do comportamento.

No entanto, a transferência dos conhecimentos adquiridos no contexto

controlado do laboratório para o cotidiano, nesse caso, dos envolvidos com a

dimensão esportiva, não se dá de forma natural ou simples. Para que tais

transferências fossem possíveis, fez-se necessário o estabelecimento de

objetivos claros que orientassem a atuação do analista do comportamento quando

em terreno esportivo. De acordo com Cillo (2002 pg.90), este objetivo foi “[...]

melhorar a qualidade do desempenho, da interação entre os envolvidos,

propiciando à prática física um caráter mais reforçador”.

Para Scala (1997), há dois objetivos primordiais para a Psicologia do

esporte com enfoque comportamental: a) a promoção de saúde, e b) a melhora

de rendimento esportivo, num nível pessoal ou de competições, a partir do

trabalho baseado em aspectos como: planejamento, propriocepção e

concentração em atividades individuais, ou ainda, em esportes coletivos. Pelo que

se pode verificar da posição de Scala, os objetivos estabelecidos para o trabalho

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do analista do comportamento no campo esportivo estariam bastante restritos à

dimensão esportiva do rendimento.

Análise Experimental do Comportamento e Psicologia do esporte: O

Desencontro

Autores com Mola (2007), Cillo (2002) e Scala (2000) apresentam e

conceituam quatro campos/áreas de atuação do analista do comportamento no

âmbito esportivo: alto-rendimento, educacional, reabilitação e recreação ou tempo

livre.

Embora este pesquisador acredite que existam alguns equívocos na

interpretação das dimensões do esporte apresentadas por estes autores, por

hora45 o foco das discussões manter-se-á sobre o papel do analista do

comportamento em cada dimensão, especialmente na educacional.

Para Cillo (2002), esporte de rendimento é aquele que envolve

competição46 e tem como objetivos a superação de marcas ou índices e a

obtenção de títulos. Para este autor, o papel do analista do comportamento é

analisar o desempenho esportivo e as variáveis das quais ele é função e buscar a

melhoria deste desempenho.

Ao referirem-se ao esporte educacional, Cillo (2002) e Mola (2007)

sugerem que é aquele praticado nas escolas ou em projetos sociais em que o

esporte é utilizado como metodologia de ensino, demonstrando, neste sentido, 45 No decorrer do texto serão apresentados argumentos para sustentar a posição do pesquisador em relação a tais equívocos

46 Vale ressaltar aqui que TODO esporte envolve competição; indiferente de sua dimensão social, é característica de toda e qualquer atividade esportiva a competição, uma vez que sempre se busca um (ou mais) vencedor (es).

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que os autores ficaram sob controle das estratégias e não dos objetivos

educacionais. Mola (2007) sugere que, neste contexto, o analista do

comportamento deve ser organizador de atividades com maior reforçamento

positivo e menor controle aversivo.

Pelo que se apresentou até aqui, é possível notar que a intersecção entre

Análise do Comportamento e Psicologia do esporte ocorreu há praticamente

quatro décadas; no entanto, as aproximações buscadas nesta pesquisa entre

Análise do Comportamento e a dimensão educacional do esporte ou ainda não

ocorreram na literatura, ou ocorreram de forma equivocada e superficial, como o

fez Peres (2000).

O ditado popular “em casa de ferreiro, espeto é de pau” se fez valer nas

tentativas de aproximar Análise do Comportamento e esporte educacional. Se,

por um lado, analistas do comportamento são, freqüentemente, mal interpretados

por quem, freqüentemente, nem mesmo conhece a proposta Skinneriana - os

pressupostos teórico/filosóficos do behaviorismo radical por outro lado,

reproduzem tais práticas ao comentar superficialmente as dimensões sociais do

esporte47, de maneira geral, e a dimensão educacional, de maneira específica.

Aparentemente, as inúmeras contribuições que a Análise do

Comportamento tem oferecido à educação nas últimas décadas não se

estenderam à educação no âmbito esportivo.

O contato deste pesquisador – tanto da área da Educação Física e

esportes quanto da educação – com os conhecimentos produzidos em Psicologia

47Foram apresentados, neste texto, diversas vezes, conceitos, características, elementos que diferenciam as dimensões sociais do esporte e que fazem parte da literatura disponível ao leitor interessado.

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da educação, de maneira geral, e Análise do Comportamento, de maneira

específica, sinalizou uma nova possibilidade de intervenção pedagógica na

dimensão educacional do esporte, mas que exige uma aproximação,

aparentemente inédita, entre os conhecimentos produzidos pela Psicologia da

Educação, Psicologia do esporte e a Análise Experimental do Comportamento.

A busca e análise destas aproximações, bem como sua possível

transformação em propostas concretas serão apresentadas no próximo tópico

com o objetivo de oferecer subsídios para a formação/atuação de professores na

dimensão educacional do esporte, amparados pela produção de conhecimento da

Análise Experimental do Comportamento para a educação e que, espera-se,

sejam suficientes para a construção de uma sistematização que sirva de apoio

para os professores/instituições que se depararem com os desafios anteriormente

listados.

Análise Experimental do Comportamento (AEC): conceitos básicos,

contribuições à educação e possibilidades de aplicação na dimensão

educacional do esporte: o reencontro.

Neste tópico serão apresentados alguns dos principais conceitos da análise

do comportamento e demonstradas contribuições desta ciência do

comportamento humano no âmbito da educação e suas relações com o esporte

educacional.

Não é improvável que o leitor encontre termos específicos, utilizados por

behavioristas, que lhe causem certo estranhamento. Freqüentemente, muitas

críticas são direcionadas à Análise Experimental do Comportamento e ao

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Behaviorismo devido os termos empregados/utilizados dentro da comunidade

científica de analistas. Observe-se Carmo e Batista (2003, p. 500-501), ao

comentarem a linguagem hermética utilizada pelos analistas:

Essa linguagem é freqüentemente criticada por utilizar-se de

termos que são de difícil entendimento para o leigo, têm um

significado diferente do usual e/ou trazem um peso

ideológico muito forte.

Termos usados freqüentemente por behavioristas, como

controle, treino, condicionamento, punição (reforço positivo-

reforço negativo – modelagem – aversivo)48, estão

associados, no discurso leigo e no entendimento de

algumas comunidades acadêmicas e profissionais, a

autoritarismo e práticas abusivas de cerceio à liberdade de

ação e, por conseguinte, levantam inevitáveis e inesgotáveis

questões políticas, éticas e morais.

[...] Uma linguagem que, além disso e contrariamente ao

seu propósito, abre espaço para interpretações errôneas,

tem pouca chance de ser aceita fora da comunidade do

analista.

Com o objetivo de “familiarizar” o leitor com os termos utilizados e,

principalmente, encurtar distâncias entre o conhecimento produzido no campo

experimental e a aplicação prática destes conhecimentos, serão utilizados -

quando possíveis/necessários – sinônimos que não descaracterizem os

conceitos.

A Análise Experimental do Comportamento (AEC) é, freqüentemente,

definida mais pelo que não é do que pelo que é.

De acordo com Matos (2001), a Análise Experimental do Comportamento é

confundida tanto com o Behaviorismo quanto com a Psicologia Experimental.

Existe, sim, uma relação que pode ser estabelecida, mas não de igualdade. 48 Termos incluídos pelo autor.

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Por Análise Experimental do Comportamento compreende-se:

[...] um modo de trabalhar em ciência que se originou na

década de quarenta, a partir de uma postura em filosofia da

ciência denominada Behaviorismo Radical. Ela estuda o

comportamento operante, considerado como aquele que

afeta (atua sobre) o ambiente e, mais importante, que é

afetado pelas conseqüências desta atuação sobre o

ambiente (Matos, 2001 p.143).

A Análise Experimental do Comportamento, principalmente no Brasil, é

geralmente confundida com Psicologia Experimental e, em parte, isso é devido

ao fato de ter sido introduzida no país por Fred. S. Keller, na Universidade de São

Paulo, na cadeira de Psicologia Experimental.

O papel primordial de um analista do comportamento é compreender,

analisando funcionalmente49, a relação de interatividade entre o organismo –

comportamento-ambiente, tendo como referência mínima os seguintes três

elementos: ambiente/ condição antecedente, comportamento, conseqüentes50

(MATOS, 2001).

Em contraposição a uma visão reducionista que, na maioria das vezes, é

empregada a respeito da obra de Skinner, Hübner (2005) salienta a preocupação

deste autor com a aplicabilidade do conhecimento científico para o avanço social,

para a garantia de melhores condições da vida humana e manutenção da cultura.

Destaca, ainda, que embora seja comum se ouvir dizer que ele dedicou boa parte

de sua vida ao estudo de ratos em laboratório, o que poucos sabem é que uma

49 Busca pela compreensão: “em função de que um comportamento ocorre em determinadas condições”.

50 “Murray Sidman demonstrou que esta unidade pode ser ampliada, especialmente no caso do ser humano, para incluir não só antecedentes próximos ou de relação direta com o comportamento, mas também aqueles remotos, condicionais e contextuais” (MATOS, 2001 p.145)

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parcela significativa de sua obra foi direcionada a questões do cotidiano como

utopia, amor, linguagem, pensamento, humor, cultura e educação.

No que diz respeito à produção Skinneriana sobre educação, especial

destaque deve ser dado à obra Tecnologia de Ensino (1972). Neste livro, Skinner

compila diversos artigos já publicados sobre o tema e inclui novos capítulos sobre

as possibilidades de se produzir uma tecnologia de ensino apoiada em dados

científicos.

Dentre as críticas e propostas, Skinner (1972) deixa clara a importância de

se considerar a pedagogia como uma ciência e afirma que:

[...] já passou o tempo em que se podia esperar a melhoria

do ensino pela simples aplicação da teoria do bom senso

(p.215).

[...] Entregue a si mesmo, em dado ambiente, um estudante

aprenderá, mas nem por isso terá sido ensinado. A escola

da vida não é bem uma escola, não porque ninguém nela

aprende, mas porque ninguém ensina. Ensinar é o ato de

facilitar a aprendizagem; quem é ensinado aprende mais

rapidamente do que quem não é (p.4).

Quando se busca estabelecer uma relação entre esta afirmação de Skinner

(1972), a dimensão social e cultural que o fenômeno esportivo alcançou, na

contemporaneidade, e os modelos de ensino de esporte predominantes no

cotidiano é possível afirmar que a pedagogia do esporte educacional não poderá

continuar entregue ao bom senso, à intuição ou ao acaso.

De uma maneira geral, um importante aspecto que contribui para que este

ponto seja um desafio a ser suplantado pelos professores que atuam, ou atuarão,

na dimensão educacional do esporte é a sua formação básica/inicial/graduação e

as formas como aprendeu a lecionar.

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Foi apresentado, em tópico específico, que alguns desafios que se

apresentam ao professor estão relacionados à pedagogia, às metodologias e

também, à formação profissional. Neste aspecto específico, muitas contribuições

podem ser dadas pela AEC.

Nas palavras de Pereira, Marinotti e Luna (2004):

A repetição de velhos procedimentos, a reprodução acrítica

de maneiras de atuar apresentada por professores mais

experientes, a utilização de estratégias homogêneas para

todos os alunos, quando não todas as classes, refletem,

entre outros fatores, o seu despreparo [...]. (p.21)

Talvez o fulcro das questões relacionadas ao despreparo dos professores

e aos métodos por eles utilizados durante a aula seja, verdadeiramente, preparar

o professor para ensinar.

Skinner (1972 p.143) alerta para a forma de atuação dos professores

iniciantes: “a maioria dos professores que principiam [...] ensinam simplesmente

como foram ensinados”.

Especificamente no caso da formação em Educação Física, o aprendizado

de habilidades técnicas das modalidades esportivas durante a formação do futuro

professor é demasiadamente enfatizado.

Sobre este aspecto há um sem número de considerações feitas pela AEC.

Se, historicamente, era sempre um especialista em determinado conteúdo quem

se tornava professor, atualmente os especialistas/eruditos/cientistas já não

precisam mais ensinar e se ocupam de diferentes tarefas.

A pergunta que emerge e possibilita uma discussão crítica sobre este

modelo de formação de professores que enfatiza a aquisição das habilidades que

deverá ensinar é: o professor deve ser um especialista naquilo que ensina?

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Conforme Skinner (1972 p.146), uma tecnologia de ensino eficaz durante o

processo de formação dos professores, orientada para a instrução explícita de

como ensinar, permite ao professor ensinar mais do que sabe. O autor ainda

sugere que “Seria melhor, naturalmente, se todos os professores fossem

especialistas naquilo que ensinam, e quando está na vanguarda do conhecimento

o professor é necessariamente o primeiro a saber”; no entanto, seria

administrativamente impossível que todos os professores fossem os especialistas

que se deseja.

Obviamente que o que se sugere aqui não é, em hipótese alguma, que o

professor não deva conhecer de forma aprofundada o que ensinará, mas que não

necessariamente deva ser um exímio executor daquilo que se pretende ensinar.

Por si só, os parágrafos acima já oferecem argumentos para a continuidade

da discussão sobre a formação dos professores, de maneira específica em

Educação Física, à luz da AEC. Se não estão, os professores, sendo

explicitamente ensinados a ensinar, de onde virão as habilidades necessárias

para o ensino de esporte numa dimensão educacional?

Como aqui foi discutido que a formação básica em Educação Física aborda

de maneira muito superficial, quando o faz, a dimensão educacional do esporte,

foi dito também que, em geral, há uma forte tendência de se achar que tais

habilidades advirão ou da experiência prática, ou da história de vida como

praticante ou atleta.

Sobre o primeiro aspecto, aprender da experiência prática, Skinner (1972)

salienta a importância de efetivamente se desempenhar o comportamento

esperado; neste sentido, evidencia que dar aulas é fundamental para aprender a

dar aulas. No entanto, não se aprende simplesmente por emitir um

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comportamento. A execução é um passo fundamental para a aquisição de um

comportamento (dar aulas), mas não é suficiente para garantir que haja

aprendizagem.

Ainda em relação a este aspecto, questiona afirmações contrárias:

Não se ensina uma criança a chutar uma bola simplesmente

induzindo-a a chutá-la. Não é verdade, como afirmava

Aristóteles, que aprendemos a tocar harpa ao tocá-la e que

aprendemos a conduta ética ao agir eticamente. Se houver

aprendizagem nestas circunstâncias é porque outras

condições foram inadvertidamente arranjadas (Skinner,

1972 p.5).

Da mesma forma, só da experiência provavelmente nada se aprenda e

então se recorre ao modelo explicativo chamado de tentativa e erro, que nada

mais é que uma expressão da aprendizagem pelas conseqüências do

comportamento; neste caso, conseqüências que não foram previamente

planejadas/programadas. A aprendizagem por tentativa e erro é apenas, um

processo no qual algumas respostas evocadas/emitidas se mostram mais

eficazes numa dada situação. Quando o comportamento esperado, neste caso

específico, o de ensinar, é claramente definido e previamente programado, é

possível ensinar este comportamento sem que seja necessário cometer erros.

Se o objetivo de qualquer processo de ensino é estabelecer repertórios que

naturalmente não ocorreriam ou demorariam demais para ocorrer, ou em outras

palavras, facilitar e promover aprendizagem, considerando que quem é ensinado

aprende mais rápido do que quem não é, torna-se inadmissível na perspectiva da

AEC que os cursos de formação de professores não criem condições ótimas de

aprendizagem, intencionais e planejadas, sobre como ensinar relegando este

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aprendizado ao contexto prático durante a carreira docente, da mesma forma, é

imprescindível que no cotidiano das aulas os professores compreendam que os

seus alunos, também, não aprenderão da experiência.

Skinner (1983) analisa de forma crítica propostas para reverterem o quadro

daquilo que chamou de “vergonha americana”, caracterizada pelo descaso com a

pedagogia e a formação ineficaz de professores, como está sendo aqui

discutido:51

“We are said to need better teachers, and go get them we should pay

them more, possibly according to merit. They should be certified to teach

the subjects they teach. Scholarship standards should be raised to get

better students. The school day should be extended from six to seven

hours, more time should be spent on homework, and the school year

should be lengthened from 180 to 200 or even 220 days. We should

change what we are teaching. Social studies are very well, but they

should not take time away from basics, especially, mathematics (p.16)”.

Como o leitor pôde notar, as propostas se concentram em torno de

diversas questões como salários dos professores, tempo de permanência dos

alunos na escola, aumento da carga de trabalhos extraclasse e substituição de

matérias de âmbito sociais pelas matemáticas. O que não se observam nas

propostas, e faz parte da crítica de Skinner (1983), são ações para melhorar a

qualidade da formação dos professores e suas aulas. Não há uma única sugestão

de melhoria do ensino, o que o autor chamou de “conspiração do silêncio sobre

as habilidades de ensinar”. No mesmo texto, cita ainda um conjunto de

51 Diz-se que nós necessitamos de melhores professores e que, para obtê-los, deveríamos pagar-lhes mais, se possível, de acordo com seu mérito. Deveriam ser certificados para ensinar o conteúdo de sua disciplina. Padrões acadêmicos deveriam ser formulados para se conseguir melhores estudantes. O dia escolar deveria ser estendido de 6 para 7 horas e mais tempo deveria ser gasto com lições de casa, bem como se deveria ampliar o ano escolar de 180 para 220, ou mesmo 220 dias. Deveríamos mudar o que estamos ensinando. Tudo bem com o ensino de Ciências Sociais, mas isso não deveria tirar tempo dedicado Às disciplinas básicas, como a matemática. (Tradução do pesquisador).

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aproximadamente 70 artigos publicados pelo THE NEW YORK TIMES pondo em

discussão a educação. Destes, apenas 2 discutiam como os alunos aprendem e

como deveriam ser ensinados.

Os argumentos acima procuraram demonstrar a contradição existente nos

programas de formação de professores em geral, mas que se replicam

perfeitamente no âmbito específico da Educação Física: o processo de formação

de professores é ineficiente e pressupõe que a experiência prática servirá como

fonte de aperfeiçoamento da habilidade de ensinar com o passar do tempo; as

propostas para melhoria da educação desconsideram a pedagogia como fonte de

possibilidade.

Outros textos deste autor enfatizam o pouco valor dado à pedagogia.

Embora seja uma citação um tanto mais extensa é absolutamente pertinente para

situar o leitor em relação ao posicionamento de Skinneriano sobre o que se vê em

pedagogia:

Pedagogia não é uma palavra de prestígio. Seu baixo status

pode ser atribuído em parte ao fato de que, sob o fascínio

dos métodos científicos, que prometiam uma nova espécie

de rigor, os psicólogos educacionais passaram meio século

avaliando os resultados do ensino. Compararam diferentes

métodos de ensino em grupos homogeneizados e puderam,

freqüentemente, dizer que um método era nitidamente

superior ao outro, mas os métodos que comparavam não

foram, em geral, tirados de suas próprias pesquisas nem

mesmo de suas próprias teorias, e os resultados obtidos

raramente geraram novos métodos [...]. Por estas, e sem

dúvida, por outras razões, o que se tem ensinado como

pedagogia não tem sido uma verdadeira tecnologia de

ensino. O ensino, nas faculdades, com efeito, não tem sido

abordado. O professor principiante não recebe preparo

profissional (SKINNER, 1972 p.90).

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Naturalmente, é possível supor que se as propostas e os programas para

melhoria da educação não atentam para a formação dos professores, durante e

após sua formação básica, os professores estão mesmo entregues ao que sobrar

de aprendizagem de sua própria experiência, e sobre isso Skinner (1972 p.243)

alerta: “[...] é difícil aos professores aproveitarem-se da sua própria experiência.

Quase sempre não aprendem de seus sucessos e fracassos a longo prazo [...]. A

alternativa para a experiência de classe, direta ou indireta, é a instrução explícita

de como ensinar - em uma palavra, pedagogia”.

É possível vislumbrar melhorias neste cenário se a pedagogia, como

ciência de ensino, é desconsiderada? Difícil.

Em relação ao segundo aspecto levantado anteriormente, a experiência ou

a habilidade para ensinar advinda da história de vida do sujeito como praticante

de esportes ou como atleta, as observações de Skinner (1983) enfatizam a idéia

anteriormente discutida segundo as quais ensinar e executar são

comportamentos distintos. Da mesma forma que o saber ensinar não estabelece

nenhum vínculo de dependência com o saber fazer, o saber fazer também não se

configura, necessariamente, na habilidade de saber ensinar.

Novamente recorrendo à “vergonha americana”, segundo Skinner, uma das

propostas para melhorar o ensino foi a contratação de “grandes mentes” das

áreas exatas, como física, matemática e química para lecionarem nos colégios.

Não houve impacto algum.

Da mesma forma que o domínio de conhecimentos matemáticos, por parte

de quem ensina, não implicou melhoria alguma na educação americana, a história

de vida como praticante de esportes ou atleta não se traduz em melhores

competências de professores para atuarem com o fenômeno esportivo.

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Tomando como pontos de partida a proposição da pedagogia como uma

ciência e a importância de se considerar a habilidade de ensinar como um

comportamento a ser aprendido, o próximo passo é analisar, à luz da AEC, outro

desafio que se apresenta ao trabalho da dimensão educacional do esporte: a

idéia de que basta criar espaços/oportunidades de prática esportiva, basta que se

garanta a universalização do acesso para que se alcance uma pedagogia do

esporte educacional.

Sobre este aspecto, Skinner (1972) é enfático:

Nunca houve tanta gente no mundo e a maioria quer ser

educada. A procura não pode ser satisfeita com a mera

construção de mais escolas e com a formação de mais

professores. A própria educação deve tornar-se mais eficaz.

Com este propósito os currículos precisam ser revistos e

simplificados, os livros didáticos e as técnicas de ensino

melhorados (p.27).

É possível se fazer uma analogia direta dessa declaração com o que

ocorre em relação ao esporte. A simples construção de mais ginásios ou

equipamentos esportivos, a ampliação do acesso ao curso superior em Educação

Física, a disponibilização de mais recursos financeiros e/ou materiais, um maior

número de campos, de piscinas, entre outros, não serão suficientes para garantir

acesso à prática esportiva a todos e, pior que isso, não garantirão uma pedagogia

do esporte educacional. Se há um novo objetivo que se pretende alcançar,

inevitavelmente, o método terá de ser revisto.

Então, se mais recursos físicos/humanos/materiais/financeiros não são

suficientes para a universalização do esporte, para a garantia do direito à prática

esportiva a todos, o que poderá contribuir neste processo? Em outras palavras, é

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possível uma pedagogia do esporte educacional que respeite o princípio da

inclusão de todos?

Provavelmente, um dos aspectos mais importantes no processo de

universalização do esporte, numa perspectiva educacional, seja considerar os

diferentes repertórios das pessoas que se pretende ensinar. Dito de outra

maneira, considerar que as pessoas são diferentes e que a oferta de

oportunidades e atividades iguais pode não atender às necessidades e

possibilidades específicas de cada aluno. O que se pretende dizer aqui é que os

diferentes devem ser tratados como diferentes. É incoerente, numa perspectiva

educacional de esporte dentro dos pressupostos da AEC, oferecer estratégias

homogêneas para grupos heterogêneos.

Foi dito aqui que não há problema algum no estabelecimento de metas

comuns ao grupo de alunos. O que não é cabível é esperar que todos atinjam as

mesmas metas ao mesmo tempo e sejam submetidos às mesmas estratégias. Na

verdade, a questão concentra-se em torno do respeito ao repertório individual, da

história de vida e, principalmente, os diferentes ritmos de aprendizagem dos

alunos.

Sobre a diferença de ritmos de aprendizagem e de repertórios dos alunos,

Skinner (1972) afirma:

Mesmo numa classe pequena, o professor geralmente sabe

que está indo muito devagar para alguns alunos e muito

depressa para outros. Aqueles que poderiam ir mais

depressa sofrem, e aqueles que deveriam ir mais devagar

são mal ensinados e desnecessariamente castigados pelas

críticas e insucessos (p.29).

A desconsideração das diferenças entre os alunos é talvez

a maior fonte individual de ineficiência da educação. Apesar

das experiências heróicas com sistemas pluricurriculares e

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de promoção automática, a prática-padrão típica e a de

mover grandes grupos de estudantes com o mesmo ritmo,

cobrindo os mesmos assuntos e exigindo os mesmos níveis

para a promoção de uma séria para a outra. Adota-se o

ritmo apropriado para o aluno médio ou medíocre. Os que

poderiam ter ido mais depressa perdem o interesse ou

perdem tempo; os que teriam de ir mais devagar fiam para

trás e perdem o interesse por razões diferentes (p.231)

.

Se, no momento de planejar e aplicar sua aula de esporte educacional, o

professor considerar que seus alunos são heterogêneos e que isso exige a

elaboração de estratégias diversificadas para promover aprendizagem a todos, há

uma grande chance de que sejam efetivamente criadas oportunidades de prática

esportiva a todas as crianças e jovens, e ainda, que outros desafios de atuação

em esporte educacional sejam suplantados.

A errônea institucionalização do esporte educacional, um desses desafios

que aqui se comentam, é uma das maiores vilãs no que diz respeito ao acesso à

prática esportiva. Se esta for compreendida como a extrema rigidez das regras, a

impossibilidade de modificação das estruturas físicas e dos materiais para a

prática esportiva, além da normatização dos ritmos de aprendizagens, tem-se

imediatamente um conjunto de elementos que contradiz o que acabou de ser aqui

exposto/sugerido: tratar os diferentes de maneira diferente e considerar os

diferentes ritmos e repertórios dos alunos.

Um dos mais belos textos, na opinião deste pesquisador, sobre respeito

aos diferentes ritmos de aprendizagens produzidos dentro da AEC foi escrito por

Keller (1972). Neste texto, descreve o caminho percorrido em um curso onde o

ritmo da aprendizagem é gerenciado pelos próprios alunos. Estes recebiam uma

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agenda/um caderno de controle e registro de suas atividades e suas

aprendizagens, se auto-indicavam para avaliações e se, por qualquer motivo, não

obtivessem boas notas nestas avaliações, não recebiam nenhum tipo de punição;

ao contrário, recebiam ajuda extra dos colegas e dos professores. Todas as

expectativas de aprendizagem eram compartilhadas com os alunos na

apresentação do curso, diferentes estratégias eram disponibilizadas para que, os

que quisessem ir mais depressa não precisassem esperar pelos demais e, ao

mesmo tempo, os que não conseguissem acompanhar o ritmo proposto

pudessem realizar outras tarefas complementares que lhes dessem condições de

aprender antes que lhe fosse exigido avanço

Os alunos deveriam registrar todo o processo de suas aprendizagens,

incluindo as principais dificuldades e facilidades encontradas, em seu caderno/sua

agenda. Este caderno servia como fonte futura de reflexão e reelaboração do

trajeto a ser percorrido pelos alunos.

No âmbito específico da pedagogia do esporte educacional, estratégias

como estas contribuiriam para a solução de alguns desafios elencados.

Análise Experimental do Comportamento e esporte educacional:

implicações práticas.

A seguir, será apresentada uma proposta, análoga à de Keller, aplicável à

dimensão educacional do esporte.

Imagine o leitor, um grupo de alunos inscritos em um programa de

esportes, numa perspectiva educacional. No primeiro dia de aula, os professores

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91

compartilham com os alunos os objetivos do programa, as metas/expectativas de

aprendizagem previamente elaboradas pelo professor.

Os alunos recebem, igualmente, seus cadernos de registro e planejamento.

Os professores propõem diferentes atividades, todas, obviamente,

conducentes ao objetivo, adequadas aos diferentes repertórios dos alunos e que

respeitem seus ritmos de aprendizagem. Inicialmente, as atividades serão mais

fáceis, com extrema flexibilização das regras e atividades. No caso do vôlei, por

exemplo, neste nível de atividade o aluno pode segurar a bola ao invés de ter de

golpeá-la, com materiais diversificados (bolas maiores, mais leves), com

estruturas físicas reorganizadas (rede mais baixa, quadra maior), organização

variada dos times (times menores e com pessoas com níveis de

habilidades/repertórios semelhantes para que os alunos tenham maior

possibilidade de contatos com a bola), mas que ao mesmo tempo, apresentem

um desafio alcançável, para que todos os alunos obtenham sucesso.

Progressivamente, as atividades tornar-se-ão mais difíceis, nas quais a estrutura

das atividades se assemelhe ao esporte de rendimento, mas isso como uma

possibilidade e não como obrigação.

Se aqui foi dito que a pedagogia do esporte educacional parte de uma

orientação filosófico-metodológica de ensinar esporte para todos,

indiscutivelmente, ensinar bem esporte para todos, novamente é possível discutir

a questão de metas para todos. Faz parte da expectativa de aprendizagem que

todas as crianças e jovens adquiram repertórios para praticar esportes com

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competência. O que não precisa, necessariamente, fazer parte das estratégias é

a normatização dos tempos de aprendizagens52.

O leitor pode perguntar-se: Mas isso não oferece o risco de que em algum

tempo certos alunos avancem e outros não?

Outra contribuição da AEC em relação à educação, é que o critério de

avaliação das aprendizagens dos alunos deve ser, sempre, o repertorio inicial do

aluno, ou melhor, avaliar o aluno em relação a ele mesmo. Isso não significa que

não possam ser feitas avaliações para identificar o rendimento dos alunos em

relação ao grupo ou ao que se espera dele, mas que, antes de dizer que um

aluno é mais ou menos lento, aprende mais ou menos que os outros, é

fundamental ter clareza dos reais avanços de cada aluno em relação à sua

condição de chegada, seu repertório inicial.

Skinner (1972 p.54) defende a idéia da individualização do ensino: “Um

programa preparado para o mais lento dos alunos da escola não deterá

provavelmente o aluno rápido, que terá a liberdade de avançar na sua própria

velocidade”.

Se aos alunos for oferecida a possibilidade de gerenciar e avaliar suas

aprendizagens (e o caderno de autoregistro é apenas uma estratégia) e

encaminhar-se de acordo com sua percepção para atividades que estejam mais

próximas de sua condição real/atual de prática de esportes, além de proporcionar

melhoria na habilidade/ competência de praticar esportes, é possível supor que os

52 Entre as organizações que atuam no terceiro setor com esporte educacional, a forma de referir-se a normatização dos tempos de aprendizagem é “escolarização”, considerando que estas organizações não fazem parte do currículo escolar e podem administrar de maneira diferente as expectativas de aprendizagem e o tempo para alcançá-la.

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93

princípios de respeito à diversidade e rumo à autonomia, provavelmente, estarão

sendo respeitados.

Mas o que fazer com tais informações? De que servirão o registro dos

alunos, o encaminhamento autônomo para as atividades, a identificação dos

níveis de aprendizagens e dos insucessos?

O primeiro ponto a atentar é não confundir oportunidades de aprendizagem

autônoma com abandono do aluno, ou como nas palavras de Skinner (1972 p.

58): “[...] fazer com que o aluno seja responsável pela matéria a ser aprendia não

é ensinar [...]. É apenas um modo de fazer com que o aluno aprenda sem ser

ensinado”.

O que se pretende, no entanto, é aproveitar as contribuições dadas à

educação pela AEC e proporcionar aos alunos uma participação um tanto mais

ativa no planejamento e avaliação dos caminhos percorridos em suas próprias

aprendizagens.

Neste momento, torna-se imprescindível recorrer às palavras de Holand

(1960, p. 284, apud Matos, 2001 p.160): “Observe seu aluno e deixe que ele

elabore o programa de ensino”.

Na perspectiva da AEC, o professor deve estar sob controle53 do

comportamento/da aprendizagem dos alunos.

Cabe ao professor identificar o que os alunos são capazes de fazer no

início da programação (repertórios iniciais), suas predileções no que diz respeito a

métodos de aprendizagens, suas dificuldades momentâneas etc. O professor:

Deve ser capaz de analisar cuidadosamente o que revelam

as pausas, os erros, perguntas, omissões e pedidos de

53 No sentido que seu comportamento deve ser alterado por

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repetições de seus alunos. Deve ser sensível, deixar-se

afetar por essas descobertas, isto é, deixar que elas afetem

seu planejamento de ensino, bem como a implementação

desse planejamento (MATOS, 2001 p.160).

O que se pode apreender destas palavras é o quanto é fundamental que o

professor fique sob controle do que o aluno faz, no planejamento e

replanejamento de suas ações didáticas. Trata-se de envolver o aluno na

construção do plano de aprendizagem, no planejamento.

Dizer que o aluno deve elaborar o próprio programa de ensino, não é

delegar a ele a responsabilidade de traçar objetivos e estratégias que o conduzam

em segurança à consecução destes objetivos. Longe disso, o que se pretende é

“convidar” o aluno a tomar decisões conjuntas sobre os objetivos e as estratégias

elaboradas.

Quando um aluno encontra alguma dificuldade para realizar uma prática

proposta pelo professor, um jogo, por exemplo, há muito que se analisar antes de

dizer que o “aluno não consegue”. Cada pausa, cada erro ou cada pergunta

fornecem elementos para o professor identificar o que ficou faltando, onde sua

proposta desconsiderou o repertório atual dos alunos porque alguns se

desinteressaram rapidamente, entre outras dicas. O envolvimento do aluno em

suas aprendizagens e no planejamento envolve também ensiná-lo a descrever

suas dificuldades e erros. Isso aumentará a probabilidade de que ele próprio

trabalhe em direção à superação deles.

Especialmente no caso do ensino de esportes, e de maneira ainda mais

específica no cotidiano das aulas de Educação Física escolar, a desconsideração

destes aspectos supracitados reflete, atualmente, um total desinteresse pela

disciplina, pela prática esportiva. As atividades, em geral, ignoram as realizações

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dos alunos, proporcionam pouco sucesso à maioria e, no caso de alguns outros,

sob a proteção do difundido discurso da inclusão, não proporcionam desafio

algum aos alunos que demonstram um nível de competência esportiva

diferenciado, o habilidoso.

Já sob a ótica da AEC, o aluno deve, impreterivelmente, fazer parte da

programação de ensino. As respostas que dá, os comportamentos que emite, e

os que não emite, soam como ambigüidades que devem ser revistas num

processo de planejamento conjunto.

Quando o professor cria oportunidades para que os alunos participem

ativamente do processo de planejamento, intervenção e avaliação das propostas

de aprendizagem, dos programas de ensino, quando se utiliza dos registros feitos

pelos alunos, e por ele mesmo, para rever o andamento de seus programas,

quando dá voz para que os alunos proponham diferentes formas de

aprendizagem, respeita o repertório que cada aluno apresenta naquele momento

e elabora estratégia, junto com os alunos, para que todos avancem, estará,

certamente, o princípio da construção coletiva.

Mais do que isso, se à luz da AEC o professor considerar o que foi

proposto até aqui, respeitando os diferentes ritmos individuais, propondo

estratégias diferentes para atender a heterogeneidade dos alunos, adaptando

recursos físicos/materiais/humanos, criando oportunidades de prática esportiva e

garantindo aprendizagem a todos os seus alunos, estará também, eliminando de

sua prática pedagógica outro desafio, o de que são necessários “dons inatos”

para praticar esportes.

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A esta altura, sem dúvida, um dos maiores desafios ao professor que

atua/atuará no ensino de esportes, em sua dimensão educacional, e que ainda

não foi abordado, diz respeito ao planejamento adequado dos objetivos.

Para se ter uma idéia, Skinner (1972) e Matos (2001), entre outros,

abordaram este assunto:

O professor a quem foi dito que deve transmitir informações,

desenvolver o poder de raciocínio, ou melhorar o intelecto

do aluno, não sabe realmente o que fazer, e nunca saberá

se conseguiu ou não realizar a tarefa. A especificação de

um comportamento terminal conduz, de maneira mais direta

a práticas explicitas, e dá possibilidade de verificar se são

eficazes. Será mais difícil ao professor disfarçar seus

fracassos reivindicando vagos êxitos (SKINNER, 1972

p.244).

Objetivos educacionais, para serem uteis ao professor,

devem ser expressos em termos de comportamento do

aluno: do comportamento que ele deve apresentar ao fim e

ao cabo de sua aprendizagem, do comportamento que o

professor deve analisar [...] (MATOS, 2001 p.155).

No que tange ao estabelecimento de objetivos na dimensão educacional do

esporte, práticas vagas semelhantes às descritas acima podem ser encontradas.

Assim é que, freqüentemente, se diz que o esporte deve “educar para a vida”,

“formar para a cidadania crítica”, “preparar para a sociedade”, entre outros.

Sem delimitar clara e precisamente o que se pretende que o aluno seja

capaz ao término de um determinado programa, são grandes as possibilidades de

o professor não ter alcançado nenhum destes objetivos, e ainda assim, pressupor,

que ensinou, a despeito de ser capaz de avaliar se os alunos aprenderam.

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Atentar para esta indicação conduz o professor, com maior segurança, à

consecução de objetivos que ultrapassam a dimensão da motricidade em práticas

educativas no esporte.

Sendo a educação integral um princípio do esporte educacional e ensinar

mais que esportes para todos uma orientação filosófico-metodológica, faz-se

necessário o estabelecimento prévio e claro de objetivos que possibilitem o pleno

exercício da cidadania, preferencialmente, em termos de comportamento a ser

emitido pelo aluno. Por exemplo, o professor que pretende que seus alunos sejam

“cooperativos”, pode estabelecer como comportamento final “que contribuam com

os alunos que apresentarem maiores dificuldades/ menos habilidades facilitando a

participação destes nas atividades, readequando sua forma de jogar e emitindo

palavras de incentivo em detrimento das vexatórias”.

Obviamente que poderiam ser mais ainda especificado o que é contribuir

com que tem dificuldade, quais palavras se espera que ele não emita etc. De

preferência, quanto mais claro for o estabelecimento destes objetivos e a

descrição do comportamento esperado, melhor.

Especificamente, no que diz respeito à motricidade, às habilidades

técnicas, em geral o que se observa é que é esperado que o aluno “jogue bem”,

“melhore sua leitura do jogo”, “melhore seus movimentos”, entre outros. O

comportamento esperado poderia, neste caso, ser descrito em maior riqueza de

detalhes, como, por exemplo, “aumente sua capacidade de manter a bola no ar

quando estiver no fundo da quadra e receber o saque adversário”, ou,

”movimente-se para diferentes posições, minimizando os espaços vazios da

quadra em decorrência do posicionamento adversário”, ou, ainda, “realize sua

manchete com o máximo de extensão de cotovelos e mãos totalmente fechadas”.

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Este ponto é especialmente importante para o esporte educacional, e para

a educação de maneira mais ampliada.

Como faz parte dos pressupostos do esporte educacional ensinar BEM e

MAIS QUE ESPORTE a TODOS, na ausência de comportamentos esperados

claramente definidos, torna-se extremamente vago o sistema de avaliação. O que

efetivamente demonstra que os alunos estão aprendendo bem, e principalmente,

mais que esporte?

O planejamento de comportamentos deve orientar a atuação pedagógica

na dimensão educacional de esportes para possibilitar uma avaliação efetiva de

seus objetivos e métodos.

O que se está dizendo é que este modelo de planejamento orientado pela

descrição do comportamento final esperado é aplicável aos princípios do esporte

educacional, e como orientação para elaboração, tanto dos comportamentos,

quanto dos indicadores de aprendizagem, os professores podem se perguntar:

• O que me permite afirmar que ofereço esporte para todos, que respeito a

inclusão de todos? Crio condições adequadas para que meninos e

meninas, indiferente de suas habilidades e seus repertórios, consigam

inserir-se na atividade?

• Que elementos concretos eu tenho para dizer que respeito a diversidade?

Minhas atividades permitem que os alunos obtenham sucesso? Existe um

desafio proporcional aos diferentes repertórios? Permito que os alunos

avancem dentro de seus próprios ritmos? Realizo adaptações nos recursos

materiais/físicos/humanos, nas regras, com o intuito de permitir que todos

os alunos aprendam?

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• Ofereço a oportunidade dos alunos interferirem no planejamento,

permitindo a construção coletiva? Identifico as facilidades e dificuldades

apresentadas por todos os alunos como materiais para reflexão e

reconstrução do planejamento? Ouço propostas dos alunos e adéquo,

quando possível e necessário os objetivos e estratégias do planejamento?

• Valorizo atividades que conduzam os alunos rumo à autonomia? Crio

condições para que os alunos se responsabilizem por suas aprendizagens,

gerenciem suas possibilidades, estabeleçam seus desafios, proponham

atividades para o seu aprendizado, e dos outros colegas? Permito que os

alunos realizem avaliações freqüentes de suas aprendizagens?

• Realizo atividades que ultrapassam a dimensão da motricidade,

favorecendo a educação integral? Em minhas aulas existem objetivos

claros relacionados às habilidades sociais? Defino comportamentos finais e

elaboro estratégias para que os alunos desenvolvam suas habilidades

cognitivas, afetivas e de convívio social?

Estas e outras perguntas podem ser feitas no intuito de direcionar o olhar do

professor quando planejar os comportamentos esperados que os alunos

emitam/aprendam, para a elaboração de estratégias que permitam a consecução

destes objetivos e para o levantamento de indicadores de aprendizagem.

Até aqui, os estudos apoiados em AEC ofereceram recursos para a

superação de diversos desafios que se apresentam ao professor que atua/atuará

na dimensão educacional do esporte. Ofereceu, também, recursos para

instituições que pretendem atuar nesta dimensão do esporte e terão como desafio

a formação interna de seus professores colaboradores.

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Se o professor for capaz de responder a estas perguntas, se encontrar

respostas a todas elas em suas aulas estará, inevitavelmente, rompendo também

com a idéia de que o único aprendizado que restará aos alunos que participam de

um programa de esportes, em sua dimensão educacional, advém da técnica, e

que a contribuição do esporte à formação de crianças e jovens é a possibilidade

de tornar-se um atleta.

Por si só, estas respostas demonstram um aluno capaz de praticar

esportes, de inserir-se socialmente em diferentes grupos e respeitar as diferenças

existentes entre os membros do grupo, de gerenciar suas atividades e propor

soluções que permitam seu avanço, de elaborar estratégias que lhe possibilitem

desafios gradativos etc. Demonstram, também, se verdadeiramente respondidas,

a atenção do professor aos princípios do esporte educacional e as orientações

filosófico-metodológicas de ensinar BEM e MAIS QUE ESPORTE PARA TODOS,

como pressupõem (FREIRE, 2003; ROSSETTO JR, COSTA E D’ANGELO, 2008).

O passo final deste trabalho é identificar, na literatura nacional, se o que foi

discutido até aqui faz parte do cabedal de conhecimentos que orientam a prática

pedagógica em esporte educacional, se foram discutidos por psicólogos do

esporte ou pesquisadores interessados em Psicologia do esporte (PE), se as

contribuições advindas da Análise Experimental do Comportamento (AEC), que

acabaram de ser apresentadas, para a educação foram aproximadas da

pedagogia do Esporte Educacional (EE) e, finalmente, se houve, em algum

momento, a intersecção entre estes temas (PE, AEC e EE) nos periódicos

nacionais.

Restou verificar, portanto, se este encontro aconteceu em periódicos

específicos de AEC.

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SOBRE OS PERIÓDICOS DE ANÁLISE EXPERIMENTAL DO

COMPORTAMENTO.

O primeiro periódico pesquisado foi a Revista Behaviors do Programa de

Psicologia Experimental e Análise do Comportamento da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (RBEV)

Os volumes pesquisados, de 2004 a 2010, representados na Tabela 2,

demonstraram uma produção relativamente pequena num período de 6 anos.

Foram 58 artigos concentrados em diversas áreas como comportamento verbal,

princípios em Análise do Comportamento, tríplice contingência, entre outros.

Tabela 2 Publicações da Revista BEHAVIORS segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte (PE) e Análise do Comportamento

(AC).

ANO VOL Nº T.A. PE PE & AC EE PE & EE

2004 8 1 8 0 0 0 0

2005 9 1 8 0 0 0 0

2006 10 1 10 0 0 0 0

2007 11 1 8 0 0 0 0

2008 12 1 7 0 0 0 0

2009 13 1 11 0 0 0 0

2010 14 1 6 0 0 0 0

TOTAL 36 36 0 0 0

O mais importante de se observar, obviamente, é que também este

periódico não foi palco do encontro entre AC e PE, muito menos entre AC e EE.

Cenários idênticos foram encontrados nas Revistas Brasileira de Análise do

Comportamento (RBAC), conforme a Tabela 3, na qual foram publicados 79

artigos entre os anos 2005 e 2008, e Perspectivas em Análise do Comportamento

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(PAC) editada em um único volume no ano de 2010 com 13 apenas artigos

publicados.

Tabela 3 Publicações da Revista Brasileira de Análise do Comportamento (2005- 2008) segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia do esporte

(PE) e Análise do Comportamento (AC).

ANO VOL Nº T.A. PE PE & AC EE PE & EE

2005 1 1 11 0 0 0 0

2 12

2006 2 1 9 0 0 0 0

2 10

2007 3 1 9 0 0 0 0

2 10

2008 4 1 10 0 0 0 0

2 8

TOTAL 79 0 0 0 0

Até este ponto, 150 trabalhos foram analisados em periódicos específicos

de AC sem nenhum resultado que aproximasse a AC da PE ou do EE.

Os resultados decorrentes da análise da Revista Brasileira de Terapia

Comportamental e Cognitiva (RBTCC), mostrados na Figura 8, evidenciam que a

revista produziu um grande número de trabalhos entre os anos 2000 e 2008. Dos

161 artigos publicados neste periódico, 3 (1,86%) estavam direcionados à PE &

AC, abordando assuntos como estímulos discriminativos, auto-fala e orientações

práticas em Análise do Comportamento aplicada ao esporte.

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Figura 8 - Publicações da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva (2000- 2008) segundo agrupamento referente às temáticas Esporte Educacional (EE), Psicologia

do esporte (PE) e Análise do Comportamento (AC).

O último periódico analisado foi a revista Paradigma (PRDGM), editada por

um grupo de analistas do comportamento que, dentre outras coisas, coordenam e

ministram cursos de PE e AC.

Novamente, embora a expectativa em relação à produção desta revista

tivesse sido grande, ela não se confirmou. Dos volumes pesquisados, entre os

anos de 2006 e 2009, a revista publicou 18 artigos, mas nenhum deles

relacionados à PE ou EE.

À guisa de síntese, na Tabela 5 são apresentados os resultados finais,

consolidados, obtidos da análise dos periódicos mencionados.

1,6%

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Tabela 5 Resultados Consolidados da Análise dos Periódicos de Educação Física; Psicologia do Esporte e Análise do Comportamento entre os anos de 2000-2010

TA PE PE & AC E.E. PE & EE

RSBPE 8 8 0 0 0

RABPE 36 36 0 0 0

RPEF 180 7 0 0 0

RBEFE 129 4 0 0 0

RBCM 458 18 0 0 0

RBCE 405 3 0 1 0

RMOV 329 1 0 1 0

RMEFE 392 23 0 2 0

RBEV 58 0 0 0 0

RBAC 79 0 0 0 0

RPAC 13 0 0 0 0

RBTCC 161 0 3 0 0

PRDGM 18 0 0 0 0

Nº de trabalhos 2266 100 3 4 0

% relativa ao nº de trabalhos 95,28 4,41 0,13 0,18 0,00

De início, é preciso notar, observando os dados acima, que pouco se

produziu em Psicologia do esporte no país. Além disso, esta produção não se

originou da abordagem analítico comportamental e, finalmente, ela em nada

contribuiu com o avanço ou constituição de uma pedagogia do esporte

educacional.

Foi também discutido que a concentração das publicações em torno da

dimensão de rendimento do fenômeno esportivo pode ter, entre outros, um viés

comercial, mas isso é apenas uma hipótese levantada por este pesquisador.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dos mais de 2200 artigos e resumos analisados, menos de 5 % se referiam

à Psicologia do Esporte e menos de 0,5 % (somando as duas temáticas) diziam

respeito à Análise Experimental do Comportamento e ao Esporte Educacional.

Nenhum deles insinuou o encontro entre AEC, PE e EE.

A esperada Psicologia do Esporte Educacional advinda da Análise

Experimental do Comportamento (PEEAEC) não foi encontrada.

Poucos periódicos de Psicologia do esporte, poucos artigos, publicações

que não permitem identificar claramente o objeto de estudos/ foco de publicação

das revistas, uma vez que, aparentemente, tudo “cabe” em Psicologia do esporte,

dentre outras coisas, evidenciaram que a Psicologia do Esporte Educacional

ainda é um campo a ser desbravado, se não descoberto.

Aparentemente, a pedagogia do esporte tem se alicerçado em outras

teorias/abordagens psicológicas, mas não na AEC. As grandes contribuições que

esta ciência ofereceu ao campo da educação ainda não foram aplicadas na

dimensão educacional do fenômeno esportivo.

O que se pôde inferir destes resultados é que a Psicologia não se

configurou em uma área de estudos atraente aos pedagogos do esporte; o

esporte educacional não o foi, igualmente, aos psicólogos e analistas do

comportamento e; a abordagem analítico-comportamental não despertou igual

interesse aos psicólogos do esporte.

Ampliar o número de periódicos analisados seria uma nova estratégia na

busca de tal encontro, revisar publicações entre os anos de 1996 ou 1998 (anos

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em que se definem conceitual e legalmente, respectivamente, o esporte

educacional no Brasil) e 2000 seria também uma nova possibilidade, sugerir que

tais estudos sejam replicados ou analisar mais livros em detrimento dos artigos

são, também, novas formas de certificação que AEC, PE e EE não se

encontraram, realmente, em nenhuma publicação no território nacional.

Por outro lado, considerando a amplitude e os resultados dos dados

analisados, mais vale iniciar um novo processo: escrever o encontro efetivo

daquilo que poderá ser chamado de Psicologia do Esporte Educacional.

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ANEXO I

MELANIA – em primeiro lugar, pela ótima pessoa e excelente professora do curso de mestrado em Educação: Psicologia da Educação. Nos últimos dois anos tive a oportunidade de participar de algumas disciplinas ministradas por você e como já disse anteriormente, pessoalmente inclusive, admiro sua preocupação com o contexto da educação nacional em todos os níveis. Aprendi com você as primeiras “lições” sobre a Análise do Comportamento e sempre procurei fazer analogias ao meu contexto específico, o esporte. A forma como respeitou cada um de seus alunos – e os diferentes ritmos de aprendizagem - durante o curso, sua dedicação com os que precisavam de mais ajuda, seus estímulos aos que podiam seguir mais rápido, seu cuidado em garantir que os conteúdos ensinados fossem verdadeiramente aprendidos antes de prosseguir, o estabelecimento de ótimas relações pessoais, entre outros motivos.

Aprendi, também, que a ciência está a favor da sociedade, de maneira geral, e da educação, em específico. Aprendi a pesquisar melhor, a questionar com mais criticidade, discutir de forma mais acadêmica e principalmente a ser um professor um pouco melhor a cada dia.

Aprendi a ficar “sob controle” da aprendizagem de meus alunos, sejam eles crianças e jovens no projeto do IEE ou adultos nos programas de graduação e pós-graduação em que tenho trabalhado nos últimos anos.

Pensando bem, acho que o mais me ensinou foi a observar a educação como parte integrante de um sistema social complexo, ampliando minha visão crítica do mundo. Neste aspecto considero que suas aulas são inigualáveis, pois não há um único momento que suas reflexões não nos levam a olhar para fora dos muros da universidade ou para além das páginas dos artigos.

ROBERTO – me faltam mais palavras do que motivos/argumentos. Um amigo de muitos anos. Mostrou-me desde o primeiro semestre da graduação em 2002 que é possível pensar em uma Educação Física diferente/renovada/melhorada/qualificada.

Você sempre demonstrou uma série de valores que eu aprendi a admirar, a respeitar e adotar. Compromisso com sua formação acadêmica; com sua profissão; com a sociedade; com os alunos; com a ética profissional (sendo com companheiros de trabalho ou membros de sua classe profissional) e de maneira ímpar, com a aplicabilidade do conhecimento acadêmico no cotidiano do professor de Educação Física.

Lembro de nossas reuniões nos grupos de estudo e seu freqüente olhar para a pesquisa aplicada. Sua insistência em que a produção do conhecimento deveria ser “traduzida” para o grande público, que deveríamos investir nas publicações que chegam aos professores, obviamente sem descaracterizar a produção científica do meio acadêmico.

A quantidade de coisas que aprendi com você é também incontável. Sem a menor dúvida, posso dizer que aprendi a dar aulas para alunos de graduação com você. Se alguma coisa me impedisse de dizer que APRENDI ISSO com você, é possível dizer que suas aulas eram tão boas que até hoje me preocupo em deixar em meus alunos a sensação que eu tinha durante suas aulas, de que realmente estava aprendendo e que a próxima seria ainda melhor.

Foi com você e com o grupo de professores (amigos se me permite – Dalton; Erinaldo) daquele curso que tive a certeza que poderia ser um ótimo profissional se me dedicasse, investisse em minha formação e assumisse um compromisso social a profissional com a Educação Física. O que mais me faltaria? Oportunidades. Até aí você me ajudou. Convidou-me para o grupo de estudos de outra universidade, indicou-me para a USP e para alguns congressos, quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Uninove (o que não aconteceu por incongruências de horários) você foi um que me “indicou”, etc.

Alguns anos depois, no momento de escolher quem iria compor a banca examinadora do meu projeto de qualificação não me restaram dúvidas. Roberto Gimenez.

Neste momento, quero aproveitar para deixar ainda mais claro por que pensei em você.

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Em primeiro lugar por ser da área da Educação Física, com um comprometimento sem igual com a prática pedagógica dos profissionais da área.

Em segundo lugar, por ter a certeza que todas as contribuições vindas de você em relação ao meu trabalho, serão de uma lisura única. Indiferentes de pressupostos teóricos, abordagens, ou quaisquer outros motivos tenho certeza que seu olhar será extremamente ético e acadêmico.

Em terceiro lugar porque sua participação foi fundamental durante meu processo de formação. Na graduação, na especialização e agora no mestrado.

Em último lugar, mas não menos importante, porque considero você um amigo (um mestre) que eu quero ter sempre por perto.

Agradeço aos dois por tão importantes contribuições em minha vida.

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ANEXO II

INSTITUTO ESPORTE E EDUCAÇÃO (WWW.ESPORTEEDUCACAO.ORG.BR)

O esporte considerado constitui-se em forma de comunicação, expressão, emoção e fator de educação e emancipação para a transformação social.

O Instituto Esporte & Educação é uma Organização Civil de Interesse Público, que tem como objetivo implementar a metodologia do esporte educacional em comunidades de baixa renda, norteada pelos princípios do esporte educacional: inclusão de todos, respeito a diversidade, construção coletiva, educação integral e o rumo a autonomia, desenvolvendo a cultura esportiva com a finalidade de formar o cidadão crítico, criativo e protagonista.

Com intuito de fomentar a cultura esportiva nas comunidades, o Instituto Esporte & Educação criou os Núcleos Esportivos Sócio-educativos, para o atendimento direto a crianças e jovens e atentando-se para a formação e apoio aos profissionais de Educação Física que atuam nos núcleos, por meio da prática pedagógica reflexiva, gestão dos núcleos e da formação continuada em serviço.

A cidadania vai muito além do fato de querer fazer a diferença, e sim conseguir fazer essa diferença. Após estes anos de trabalho, o Instituto Esporte & Educação não só desenvolveu uma metodologia de ensino para formar os profissionais de Educação Física, com intuito de educar as crianças e jovens a tornarem-se cidadãos críticos, participativos e transformadores da sua realidade, como também avalia e reconstrói esta metodologia continuamente para atender as demandas, necessidades e interesses das comunidades atendidas.

Missão

Contribuir para a formação do cidadão crítico e participativo, por meio da educação física e esporte, favorecendo o desenvolvimento de comunidades de baixa renda.

O Instituto Esporte & Educação foi criado em março de 2001 e desde o início se caracterizou por atuar em duas frentes:

- atendimento direto a crianças e adolescentes em atividades esportivas e socioeducativas;

- formação de professores e estagiários e desenvolvimento de uma metodologia de esporte educacional.

Com este foco, o IEE implantou e coordena uma série de Núcleos em parceria com diversas entidades - escolas, associações comunitárias, prefeituras, SESI e SESC -, e inseridos em regiões e comunidades que apresentam baixo nível socioeconômico e alto índice de vulnerabilidade e falta de estrutura.

O funcionamento desses Núcleos se baseia, primeiramente, na Formação Continuada em Serviço de professores e estagiários, aplicando os conceitos do esporte educacional na prática do atendimento diário das crianças, adolescentes e comunidades.

As parcerias locais representam outro pilar importante para que os Núcleos atinjam a sua função social. No caso das prefeituras, as parcerias com as redes de ensino reforçam o papel das escolas perante a sociedade.

O IEE também realiza outros projetos, com destaque para a Caravana do Esporte, uma aliança com a ESPN/ Brasil e o UNICEF. Na Caravana do Esporte disseminamos um esporte possível e necessário para o desenvolvimento de municípios isolados do semi-árido, região amazônica, comunidades indígenas e quilombolas.

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Todas essas ações convergem para a estruturação de conceitos e práticas metodológicas que fundamentam um esporte que é para todos, base para Políticas Públicas que visam garantir os direitos constitucionais à educação, ao esporte e ao lazer.

HISTÓRIA DO IEE

Maio 2009

MAIO DE 2009

Início das atividades do Núcleo CCR de Embu/SP.

Início da implantação do Núcleo CCR de Ponta Grossa/PR.

Março 2009

Início da implantação de 06 Núcleos Jovem de Esporte nas cidades: Campos de Goytacazes/RJ, Nilópolis/RJ, Rio Grande/RS, Pelotas/RS, Bento Gonçalves/RS e Passo Fundo/RS.

Ano 5 da Caravana do Esporte.

Dezembro 2008

Finalizada a Captação de Recursos para o Projeto Rede de Núcleos Esportivos / Sócio / Educativos IEE, aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. As empresas financiadoras e parceiras para este Projeto em 2009: Gerdau, CCR, Visanet, Unilever e SulAmérica.Finalizada a Captação de Recursos para o Projeto Caravana do Esporte, aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. As empresas financiadoras e parceiras para este Projeto em 2009: Telefônica., CCR, Unibanco e IBM.

Finalizada a Captação de Recursos para o Projeto Núcleos Jovem de Esporte, aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. As empresas financiadoras e parceiras para este Projeto em 2009: Votorantim e BV Financeira.

Publicação, no Diário Oficial da União, do Projeto Núcleos Jovem de Esporte aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. Autorizado o período de captação de recursos para este projeto até 31/12/2009.

Encerramento do Ano 4 da Caravana do Esporte capacitando outros 3.500 professores e atendendo mais de 25.000 crianças e adolescentes.

Novembro 2008

Realização do II Seminário “A Função Social do Esporte - reflexões sobre experiências com o esporte educacional”, promovido pela Unilever, por meio do Programa Rexona/ Ades - Esporte Cidadão.

Início dos Encontros relacionados ao Projeto Inspiração Internacional nos quatro Pólos Brasileiros: Minas Gerais, Ceará, Alagoas e Pernambuco.

Outubro 2008

Início da primeira turma do Curso de Pós Graduação Esporte Sócio-Educativo: Método e Gestão, através da parceria entre o Instituto Esporte & Educação e a Faculdade Uirapuru de Sorocaba.

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Setembro 2008

Início das atividades do Laboratório de Práticas Pedagógicas do Instituto Esporte & Educação (LAPIEE).

Agosto 2008

Publicação, no Diário Oficial da União, do Projeto Caravana do Esporte aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. Autorizado o período de captação de recursos para este projeto até 31/12/2008.

Maio 2008

Publicação, no Diário Oficial da União, do Projeto Rede de Núcleos Esportivos / Sócio / Educativos IEE aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte. Autorizado o período de captação de recursos para este projeto até 31/12/2008.

Início do Programa Oficinas do Esporte em parceria com o estudioso João Batista Freire.

Abril 2008

Início das atividades de 2 Núcleos de esporte para Jovens, no bairro de São Miguel Paulista, em parceria com o Instituto Votorantim.

Capacitações para municípios e parceiros em 8 Estados, participantes do Selo UNICEF para o semi-árido, no eixo Esporte e Cidadania.

Março 2008

Início da 3ª. Turma do Método Sorocaba, capacitando outros 60 professores e estagiários do município.

Ampliação para 10 Núcleos em 20 escolas municipais e estaduais da cidade de Sorocaba/SP.

Total de 26 Núcleos IEE / Programa Rexona/ Ades - Esporte Cidadão.

Início de 2 Núcleos em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte de São Paulo, no Programa Clube Escola, nos bairros Interlagos e São Miguel Paulista. Ano 4 da Caravana do Esporte.

Dezembro 2007

Encerramento do Ano 3 da Caravana do Esporte com 2.500 professores capacitados e mais de 24.000 crianças e adolescentes atendidos nas oficinas esportivas. O Ministério do Esporte aprova a realização, em 2008, de quatro etapas da Caravana do Esporte através do Projeto aprovado no CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e financiamento da CCR. As cidades contempladas serão: Sorocaba/SP, Carapicuíba/SP, Pirituba/SP e Nova Iguaçu/RJ.

Novembro 2007

Realização do Seminário “A Função Social do Esporte - reflexões e perspectivas do esporte educacional”, promovido pela Unilever, por meio do Programa Rexona/ Ades - Esporte Cidadão.

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Parceria do Instituto Esporte&Educação com o UNICEF, para desenvolver, dentro do SELO UNICEF - 2007/2008 - Município aprovado do semi-árido brasileiro, o tema Esporte e Cidadania. 1128 municípios participarão desta etapa.

Outubro 2007

Ampliação dos convênios com o Programa São Paulo é uma Escola nas regiões de Campo Limpo e São Miguel Paulista, agora são 10 Núcleos.

Março 2007

Início do Ano 3 da Caravana do Esporte, na periferia de Salvador, primeira edição da Caravana em Grandes Centros Urbanos.

Ainda em 2007, foram realizadas outras 3 edições em na periferia de São Paulo.

Fevereiro 2007

Início da 2ª. Turma do Método Sorocaba, capacitando outros 60 professores e estagiários do município.

Início das atividades de 4 Núcleos em escolas municipais e estaduais de Sorocaba.

Dezembro 2006

Encerramento do Ano 2 da Caravana do Esporte, que visitou outros 8 municípios do semi-árido, região amazônica e centro-oeste, capacitando outros 2.000 professores e atendendo mais de 12.000 crianças e adolescentes.

O Instituto Esporte & Educação é um dos 10 finalistas do Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey.

Setembro 2006

Inauguram-se dois Núcleos em Sorocaba nas seguintes escolas: Prof. Irineu Leister e Profª Darlene Devasto, respectivamente, no bairro Jardim Ipiranga e Jardim Atílio Silvano. Atendimento de 240 crianças e jovens entre 7 e 14 anos.

Maio 2006

O programa Método amplia sua atuação no interior de São Paulo. A cidade de Sorocaba recebe o projeto para 120 professores de Educação Física.

Parceria com as Coordenadorias Municipais de Educação de Campo Limpo e São Miguel Paulista e implantação de 3 Núcleos Esportivos em CEUs, no Programa São Paulo É Uma Escola.

Início das atividades em 2 novos Núcleos Centro Rexona Ades de Voleibol na cidade de Itatiba. Atendimento de 240 crianças nas escolas EMEF Professora Albertina Marques e na EMEF Professora Eliete Aparecida Sanfins Fusussi.

Dezembro 2005

A Caravana do Esporte atravessou os dez municípios da região Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, escolhidos pelo UNICEF. O projeto atendeu mais de 9 mil crianças e adolescentes e

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mais de mil educadores da rede pública de ensino. Foram veiculados 10 documentários mensais pela ESPN/Brasil divulgando o Esporte Educacional na mídia televisiva.

Abril 2005

O IEE inicia outros dois Pólos do Programa Método: na cidade do Rio de Janeiro, em parceria com a secretaria de Esportes, e no Interior de São Paulo, na região de Campinas, em parceria com Prefeituras e com o SESI, atendendo, ao todo, 120 professores.

Março 2005

Primeira viagem da Caravana do Esporte.

Outubro 2004

São implantados 4 núcleos em São Sebastião.

Maio 2004

São abertos dois núcleos nas quadras dos conjuntos habitacionais CDHUs Marechal Tito e Jardim São Luís.

Março 2004

Início do projeto piloto do Programa Método de Capacitação para professores de Educação Física, em São Sebastião.

Setembro 2002

Início das atividades no Núcleo de Vinhedo.

Maio 2002

É inaugurado o primeiro núcleo do Programa Esporte Cidadão/IEE em parceria com a comunidade Heliópolis, atendendo 200 crianças e adolescentes.

Dezembro 2001

Começam as atividades do primeiro núcleo esportivo do IEE/ Programa Rexona/ Ades Esporte Cidadão, o Núcleo Indaiatuba, com 120 crianças e adolescentes.

Março 2001

É criado o Instituto Esporte e Educação, uma Organização Civil de Interesse Público, com o objetivo de desenvolver a cultura esportiva em comunidades de baixa renda a partir da educação física e dos valores físicos, morais e éticos do esporte educacional.

Dezembro 1999

Lançamento do projeto Ana Moser Sports - Voleibol Escolar em parceria com o Colégio Magno, em São Paulo. Este projeto piloto atendeu crianças de 7 a 12 anos. O objetivo do projeto era

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desenvolver uma metodologia de formação esportiva. Um grupo de professores começa a ser treinado, representando a primeira semente do IEE.

A tecnologia desenvolvida e empregada pelo Instituto Esporte & Educação nas suas ações está fundamentada na utilização do esporte como instrumento de educação.

Desenvolve valores como a solidariedade, respeito ao próximo e às regras, tolerância, sentido coletivo e cooperação. Cria oportunidades de o aluno desenvolver estratégias para resolver problemas e enfrentar situações da vida em sociedade. A metodologia proposta pelo IEE apresenta três princípios básicos:

ENSINAR ESPORTE PARA TODOS

Independente da habilidade técnica Ensinar o esporte com a premissa de inclusão e participação de todos, independentemente dos potenciais e das limitações individuais.

ENSINAR BEM ESPORTE PARA TODOS

Compreensão da técnica e tática Reflexão Co-gerenciamento Aprendizagem Ensinar o esporte de maneira que todos aprendam a jogá-lo com competência técnica e tática.

ENSINAR MAIS DO QUE ESPORTE PARA TODOS

Cultura Saúde Educação Protagonismo Profissionalismo Ensinar o esporte de forma que os alunos se apropriem de conhecimentos nas áreas de saúde, cultura, cidadania, protagonismo e comunidade.

A partir desses princípios, definimos nossa metodologia dentro dos conceitos de Esporte-Educacional.

PRINCÍPIOS DO ESPORTE EDUCACIONAL

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Em consideração à realidade brasileira, no que se refere à prática esportiva nas diferentes regiões e comunidades, sugerimos alguns princípios pedagógicos para o ensino e prática do esporte numa dimensão educacional.

Acreditamos que, para o esporte tornar-se fator de emancipação individual e conseqüentemente coletiva, alguns preceitos devem ser respeitados, como:

1. INCLUSÃO DE TODOS

Este princípio consiste em criar condições e oportunidades para a participação de todas as crianças e jovens no aprendizado do esporte, desenvolvendo habilidades e competências que possibilitem compreender, transformar, reconstruir e usufruir as diferentes práticas esportivas.

2. CONSTRUÇÃO COLETIVA

Este princípio define-se pela participação ativa de todos os envolvidos na estruturação do processo de ensino e aprendizagem do esporte. Sendo assim, é imprescindível que alunos, professores e comunidade sejam co-responsáveis e co-gestores do planejamento, execução, avaliação e continuidade dos programas e projetos.

3. RESPEITO À DIVERSIDADE

Este princípio consiste em perceber, reconhecer e valorizar as diferenças entre as pessoas no que se refere à raça, cor, religião, gênero, biótipo, níveis de habilidades. Entendendo a diversidade como uma oportunidade de aprender com as diferenças, é importante diversificar as metodologias de ensino, favorecendo a convivência e a aprendizagem compartilhada.

4. EDUCAÇÃO INTEGRAL

Este princípio se define pela compreensão do esporte como possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, psicomotor e socioafetivo As ações pedagógicas devem abordar os conteúdos em dimensões conceitual, atitudinal e procedimental.

5. RUMO À AUTONOMIA

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Este princípio consiste no entendimento e na transformação do esporte como meio para uma educação emancipatória que se baseia no conhecimento, no esclarecimento e na auto-reflexão crítica para superar o modelo de esporte, atualmente difundido, em que prevalece a exclusão, a violência, o sexismo, o elitismo e a influência e imposição de modelos pela mídia. Portanto, a autonomia constitui-se na capacidade dos atores sociais em analisar, avaliar, decidir, promover e organizar a sua participação e de outros nas diversas práticas esportivas.