Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 199610 1761 T/EBAP G633p 11111111111111111111111111111 1000076653 Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no Brasil: seus discursos e práticas na Reforma Administrativa do Plano "Brasil Novo". DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Luciana de Oliveira Miranda Gomes Rio de Janeiro 1996

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

199610 1761

T/EBAP G633p

11111111111111111111111111111 1000076653

Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no Brasil: seus discursos e práticas na Reforma Administrativa do Plano "Brasil Novo".

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Luciana de Oliveira Miranda Gomes

Rio de Janeiro

1996

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no Brasil: seus discursos e práticas na Reforma

Administrativa do Plano "Brasil Novo" .

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR Luciana de Oliveira Miranda Gomes

E APROV ADA EM 26/08/96 PELA COMISSÃO EXAMINADORA

VALÉRIA DE SOUZA ( MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

uns CÉSAR ~AL VES DE ARAÚJO DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO

PAULdROBERTOMOTTA DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, PhD

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AGRADECIMENTOS

Nada como finalizar um trabalho de pesquisa e olhar ao seu redor, observando

quantos que precisamos, antes de mais nada, pedir perdão pela ausência

necessária: aos meus pais, irmã e cunhado, que souberam compreender o

nervosismo dos últimos temos; aos colegas do Mestrado, sempre dispostos a

discutir temas que muitas vezes , pouco ou nada se interessavam; aos amigos da

vida, que se resignaram em ficar observando, de longe, por três longos anos.

Gostaria de agradecer também a gentileza da professora Valéria de Souza, por

me acolher no seu imenso rol de orientandos, sempre com o carinho e a firmeza

necessários, e aos membros da banca, professores Luis César Gonçalves de

Araújo e Paulo Roberto Motta, mestres para toda a vida.

Mas esta fase a vida acadêmica não teria graça sem o meu maior companheiro:

Ricardo - amigo de mestrado e amor para a vida inteira. A todos, meu muito

obrigada.

3

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RESUMO

Este trabalho busca avaliar o impacto de uma política pública, no caso,

a política de desenvolvimento de recursos humanos da reforma administrativa

promovida pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992)

em seu público-alvo - os funcionários públicos civis da União.

Para tanto, resgatamos as experiências de reforma que o setor federal

atravessou desde a proclamação da República, descrevendo suas estratégias e

limitações, e utilizamos dois instrumentos de análise próprios das Ciências

Sociais, a Análise de Conteúdo e a Análise do Discurso, a fim de exercitar uma

metodologia qualitativa de pesquisa para a ciência da Administração.

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ABSTRACT

This text evaluates the impact of public policy on the development of

human resources, promoted by the administrative reform of the Fernando

Collor de Mello short govemment (1990-1992). Brazilian public

administration experiences are also studied since 1889 (Republic Proclamation)

describing its strategies and results. Furthermore, two Social Sciences

instruments are used: Content Analysis and Speech Analysis.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................. 3

RESUMO ..................................................................................................................... 4

ABSTRACT ................................................................................................................. 5

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 8

INTRODUÇAO ............................................................................................................ 9

1. Análise de Conteúdo .................................................................................................................................. 12

2. Análise do Discurso .................................................................................................................................... 15

3. Dificuldades e Limitações da Pesquisa ..................................................................................................... 20

CAPITULO I

POLlTICAS PÚBLICAS, REFORMA ADMINISTRATIVA E RECURSOS HUMANOS: ALGUMAS ASSERTIVAS TEÓRICAS ................................................ 21

1. Conceituação de Políticas Públicas ........................................................................................................... 22

1.1 Fonnulação de Políticas Públicas ......................................................................................................... 24 1.2 Gerência de Políticas Públicas .............................................................................................................. 25

2. Reforma Administrativa ............................................................................................................................ 29

3. Polfticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos .............................................................................. 40

CAPíTULO 11

EVOlUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NO BRASIL ..................................................................................................................... 45

1. Antecedentes Históricos ............................................................................................................................. 46

2.Processos de Reforma Administrativa no Brasil, e suas implicações para os Recursos Humanos do Setor Público ................................................................................................................................................... 51

2.1 Dos Primórdios a 11 República .............................................................................................................. 52 2.2 Da 111 República à Nova República ...................................................................................................... 58 2.3 O Governo Collor de Mello .................................................................................................................. 69

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CAPíTULO IV

ANÁLISE DA pOlíTICA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS NA REFORMA ADMINISTRATIVA DO GOVERNO COllOR DE MEllO ............. 77

1. Decomposição da Política ............•.•...........................................................................••..•........................... 78

2. O Discurso Elaborado ........................•...........................•..................................................................•........ 79

3. Avaliação da Política de Desenvolvimento de Recursos Humanos na Reforma Collor .................. 88

CAPíTULO V

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 92

1. A Dimensão Estratégica do Desenvolvimento de Recursos Humanos no Setor Público .•.•......•.•••..•.•.• 93

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 96

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APRESENTAÇÃO

o estudo em questão é o resultado de reflexões acerca da administração

pública brasileira, ao longo de dois anos de mestrado. Durante este período,

três temas relevantes foram estimulando nosso interesse: Reforma

Administrativa, Políticas Públicas e Administração de Recursos Humanos.

Meses antes da data final da apresentação do projeto de dissertação,

utilizávamos horas preciosas de estudo com o objetivo de optar por um desses

temas, sem sucesso. Então, resolvemos propor um tema de dissertação que

abarcasse os três interesses, sendo o projeto aprovado em outubro de 1994.

Desta forma, apresentamos o resultado de nossas conclusões que,

menos preocupadas em propor soluções de curto prazo, tem como finalidade

somar esforços para contribuir para o desenvolvimento da administração

pública no Brasil.

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INTRODUÇÃO

Podemos sugerir que o estudo proposto é revestido de dois níveis de

relevância: uma histórica e outra metodológica.

A relevância metodológica deve-se ao exercício apresentado. Longe de

pretender uma inovação de grande porte, pensamos que, a partir de

instrumentos próprios das Ciências Sociais, também é possível refletir a cerca

de reformas administrativas, principalmente no que concerne à administração

de recursos humanos no setor público, através de análise qualitativa de uma

política pública.

A relevância histórica é demonstrada quando o objeto de estudo é

produto de acontecimentos históricos muito recentes, e ao mesmo tempo,

importantes para o cenário que hoje temos, onde o presidente eleito em

outubro de 1994 enfrenta problemas na Administração Pública Federal" que

também são reflexos e conseqüências do movimento de reforma da gestão de

Fernando Collor de Mello.

I Num artigo de 09 de fevereiro de 1995, publicado no Jornal do Brasil, intitulado "Estabilidade dos Funcionários", Luiz Pinguelli Rosa alerta para o equívoco que será se a proposta do Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, de acabar com a estabilidade dos funcionários públicos federais, for a frente. O autor defende a idéia de que não é a estabilidade que provoca a ineficiência, mas sim a falta de uma carreira planejada, de um plano de cargos e salários, de critérios de avaliação mais democráticos e eficazes. Adicionaremos a este discurso de Pinguelli a falta de um plano para treinamento e desenvolvimento realmente relacionado com outros instrumentos próprios da administração de recursos humanos.

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A partir de algumas tentativas de reforma administrativa analisadas na

nossa história, podemos inferir que "investir em recursos humanos" na - e para

a - administração pública jamais foi uma preocupação relevante.

o governo de Fernando Collor de Mello foi caracterizado pela busca de

um caminho neoliberal de administração que, segundo seus dirigentes, seria a

saída para a crise que o país atravessava, naquele momento. Com isto, paralelo

ao plano econômico denominado "Brasil Novo", foi instituída uma reforma

administrativa que, não precedida de estudos e análises de experiências

anteriores, foi concebida e detalhada por um grupo restrito de assessores da

equipe do governo, e implementada através de medidas provisórias e atos

administrativos internos2• Temos então como objetivo, a modernização do

Estado e a melhoria da eficiência da máquina governamental.3 Uma das

políticas propostas para alcançar este intento é particularmente interessante

para o presente estudo: a Política de Administração de Recursos Humanos.

Esta política pode ser caracterizada como tendente a um exclusivo

"enxugamento da máquina" administrativa. Com este propósito, o governo

dedicou-se principalmente a demissões e disponibilidades de funcionários

públicos, com uma total falta de seletividade quanto aos setores prioritários que

2 Citado em CASTANHAR, José Cezar. Cem Dias de Governo Collor: Avaliação da Reforma Administrativa. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 25(1): 35-81, novo 1990/jan. 1991. 3 idem.

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deveriam ser preservados, e, ainda, pela desconsideração pela questão do

mérito.

Apenas em agosto de 1992, através de três decretos 4, é que percebemos

uma preocupação com o funcionário público, em relação a treinamento e

desenvolvimento. Nesta data, foi instituído: o Programa Nacional de

Treinamento do Servidor Público (PNTS); a Comissão lnterministerial para

realização de diagnóstico de Recursos Humanos; e a Comissão Especial para

revisar e propor alteração em instrumentos legais, normativos e organizacionais

relativos à administração de pessoal. Com estes fatos, o objetivo do estudo está

na seguinte indagação: até que ponto houve uma correspondência entre o

discurso e a prática das políticas de desenvolvimento de recursos humanos

aplicadas ao longo da reforma administrativa do governo Col/or?

A proposta de pesquisa feita por ocasião da aprovação deste projeto

demonstrou nossa predileção pela pesquisa qualitativa. Desta forma,

apresentaremos agora os dois métodos eleitos como instrumentos principais

para a interpretação dos dados coletados ao longo da pesquisa bibliográfica e

documental.

4Decretos de 18 de agosto de 1992. Ver: Coleção de Leis da República Federativa do Brasil 184(8):2422-2428, Brasília, agosto de 1992.

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1. ANÁLISE DE CONTEÚDO

Do processo da Comunicação fazem parte, necessariamente, o emissor,

a mensagem e o receptor. Instrumento de análise originário desta ciência, a

análise de conteúdo tem como objeto exclusivo as mensagens5, e

particularmente a descrição objetiva e sistemática do conteúdo manifesto da

comunicação6. No entanto, este método também pode ser exercitado em outros

campos das Ciências Sociais, como a Ciência Política, a Psicologia, a Literatura

e a Sociologia.

Assim, a análise do discurso político; a investigação de personalidade

dos autores através de seus textos; a pesquisa de traços característicos do estilo

de autores; e o estudo da evolução das idéias e a melhor compreensão da

diversidade das mentalidades nacionais, comportamentos e atividades são

exemplos de aplicação deste instrumento.

Existem várias formas de exercitá-lo, a partir das seguintes focos de

análise: tratamento dos materiais de emissão; análise, através da mensagem, do

emissor desta; análise do discurso e do conteúdo da mensagem; percepção e

análise dos gostos do receptor.

S Ver KIENTZ, Albert. Comunicação de massa - análise de conteúdo. Trad. de Álvaro Cabral, de Pour analyser les media - l'analyse de contenu. Rio de Janeiro, Eldorado, 1973. 6 Ver BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Trad. de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro, de L'analyse de contenu. Lisboa, Edições 70, 1979.

12

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Para que a análise de conteúdo propriamente dita se inicie, seguiremos

descrevendo suas principais características: a legibilidade e as estruturas.

A legibilidade de um conteúdo pode ser explicitado através do seguinte

questionamento: "(..) Quais são os fatores concretos que fazem com que um

texto seja mais ou menos fácil de ler e compreender? (..) ,,7.

Já as estruturas vão identificar, "( . .) sob a diversidade dos conteúdos

particulares, as características constantes, para fazer surgir a estrutura que as

especifica" 8.

Encontramos então um duplo aspecto da comunicação. Ela é ao mesmo

tempo "representacional", pois exprime a personalidade, os estados afetivos e a

ideologia do seu autor; e "instrumental", já que serve de instrumento para agir

sobre o receptor, revelando as estratégias empregadas para esse objetivo ser

alcançad09•

Segundo Kientz lO, algumas regras para construção da análise de

conteúdo devem ser observadas: ser objetivo, ou seja, definir sempre com

clareza e precisão os critérios a serem adotados; ser sistemático, já que a

análise deve levar em consideração tudo o que, no conteúdo, decorre do

problema estudado e analisá-lo em função de todas as categorias retidas para

7 KIENTZ, Albert. op. cit. 8 idem. 9 ibidem. 10 ibidem.

13

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fins de pesqUIsa; abordar apenas o conteúdo manifesto, sendo que as

extrapolações em direção dos conteúdos latentes devem apOIar-se nos

conteúdos efetivamente observados; e quantificar.

o exercício de quantificar os dados na análise de conteúdo se diferencia

da reflexão qualitativa nos seguintes aspectos: na análise quantitativa, o que

extraímos como "informação" é a freqüência com que surgem certas

características do conteúdo. Já na reflexão qualitativa, é a presença ou a

ausência de uma dada característica de conteúdo (ou de um conjunto de

características num determinado fragmento de mensagem), que é tomado em

'd ~ 11 consl eraçao .

Resta-nos, então, descrever as etapas principais deste exercício

metodológico. São elas:

• definir os objetivos da pesqUIsa, descrevendo o tipo de material a ser

analisado, e o que se visa através dessa análise;

• constituir um corpus, ou seja, reunir o material sobre o qual vai incidir a

análise;

• decompor o corpus em unidades ou itens, como por exemplo, palavras,

símbolos, temas, personagens, unidades espaço-temporais;

11 BARDIN, Laurence. op. cit.

14

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• reagrupar as unidades e categorias, observando que estas devem ter

classificação exaustiva, serem mutuamente exclusivas, e terem sido definidas

através de critérios precisos, e serem pertinentes com os objetivos da

pesqUIsa;

• tratar quantitativamente os dados, através da análise de freqüência e a análise

associativa, também denominada análise de contingênciaI2•

Assim, definiremos a análise de conteúdo como um instrumento de

pesquisa que visa "( . .)estabelecer uma correspondência entre as estruturas

semânticas ou lingüísticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas(..)"13,

como por exemplo condutas, ideologias e atitudes, dos enunciados eleitos como

objeto de reflexão.

2. ANÁLISE DO DISCURSO

A análise do discurso entende que as palavras classificadas como

"chave", são portadores de uma história e uma ideologia. Desta forma, faz-se

necessário situar sempre o texto no seu contexto presente e passado. Este

método de trabalho e pesquisa é originário da Biblioteconomia e Arquivologia,

12 A análise de freqüência baseia-se no cálculo de percentagens de que uma dada categoria ou unidade aparece no corpus, elaborando medidas de intensidade e de importância. A análise associativa, ou análise de contingência, consiste em comparar as associações efetivamente observadas com aquelas que um cálculo elementar de probabilidades deixa prever. Além disto, somente as associações cuja freqüência observada é sensivelmente superior ou inferior à freqüência previsível são entendidas como significativas. Veja KIENTZ, Albert. op. cito 13 idem.

15

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onde as variáveis discurso, linguagem e ideologia participam do processo de

análise e obtenção do produto, ou seja, o texto classificado.

A análise do discurso também é um instrumento de entendimento do

discurso científico. Mas como definir o discurso científico em ciências

humanas? A proposta da análise do discurso é identificar a cientificidade do

discurso através de alguns procedimentos próprios, ou seja, refletir como

procedeu o autor para isolar o seu objeto; como passou de um conjunto de

observações dadas à sua interpretação; se contribuiu ou não para a ciência em

discussão no dado documento/texto.

Evidentemente, a interpretação de um dado texto não é neutra. A

ideologia do analista influenciará decisivamente a interpretação do

documento/texto. Além disso, é importante salientar que a própria ideologia

do texto reflete o pensamento da sociedade em que se integra, principalmente

da classe dominante. Esta tende a conferir

"(...) ao signo ideológico, um caráter intangível e acima das diferenças de classe, a fim de abafar ou ocultar a luta dos índices sociais de valor que ai se trava, a fim de tornar o signo monovalente". 14

Assim, o documento/texto impõe o discurso como verdade, e este acaba

sendo percebido como verdade universal.

14 Ver CUNHA, Isabel Maria Ribeiro Ferin. Do mito à análise documentária. São Paulo, EDUSP, 1990.

16

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o método da análise do discurso impõe também algumas questões

relevantes 15 que auxiliam o desenvolvimento da nossa reflexão. Por exemplo:

até que ponto a ideologia que permeia um dado discurso é reflexo de uma

linguagem de classe ou grupo? Como identificar, através da análise do

discurso, a ideologia do Estado e de seus aparelhos? Em que grau a função

descritiva se impõe em detrimento da função informativa, e quais as suas

conseqüências para a informação?

Estas dúvidas serão, na medida do possível, respondidas através das

conclusões obtidas pela pesquisa em andamento. As etapas deste método são

descritas a seguir:

1. identificação da organização metodológica do discurso do autor através da

segmentação do texto;

2. isolamento de conceitos/palavras-chaves tradutoras do conteúdo desses

segmentos;

3. elaboração de cortes no corpus do autor, delimitando-o, analisando, desta

forma, não a obra como um todo, mas partes consideradas pelo analista

significativas, através de critérios determinados em função dos sistemas em

que é realizada a análise.

15 idem.

17

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A segmentação discurso citada no item 1 (um) acima subdivide-se em

quatro fases, a saber:

1 a fase: identificação dos traços descritivos que servem de arcabouço

ao discurso, descartando argumentos e referências diretas a

conhecimentos do autor do texto analisado. O objetivo nessa fase é

pinçar segmentos do texto detectados como premissas apresentadas pelo

autor, a partir das quais desenvolve seu raciocínio. A esses traços

atribui-se conceitos-síntese dessas informações;

2a fase: separação e identificação dos argumentos em função dos traços

descritos isolados. Atribui-se a cada um código de referência como,

História, Política, Religião, Direito, e outros;

3a fase: esquematização e ordenação dos traços descritivos e

respectivos argumentos;

4a fase: identificação das organizações lógico-semânticas, como forma

de desmontar o discurso e chegar a algumas hipóteses de leitura.

Os dois instrumentos de pesqUIsa apresentados aCIma têm

aparentemente, o mesmo objeto: a linguagem. Na verdade, existem diferenças

sutis de objetivo e percepção, que enriquecem a pesquisa, quando exercitados

paralelamente, para um mesmo corpus elaborado.

18

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Enquanto a intenção da análise do discurso é a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção ou, maIS recentemente,

também da recepção do texto, inferência esta que recorre a indicadores

quantitativos e/ou qualitativos, a análise do conteúdo tem um objetivo quase

que puramente lingüístico, onde há a formulação de regras de encadeamento

das frases ou textos eleitos como objetos de pesquisa, que procuram descrever

as unidades e a sua distribuição16•

16 Descrito originalmente em BARDIN, Laurence. op. cit.

19

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3. DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Ao longo do projeto original foi proposto que o universo da pesquisa

abarcaria a Administração Direta Federal, a partir de uma amostra intencional

não aleatória, sublinhando assim, nossa opção por uma metodologia de

pesquisa qualitativa.

Infelizmente, por dificuldade de deslocamento, não foi possível

investigar órgãos federais em Brasília. Desta forma, a pesquisa concentrou-se

nos seguintes órgãos federais com sede no Rio de Janeiro:

• Legião Brasileira de Assistência (LBA);

• Instituto de Proteção do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN).

A seleção de sujeitos enumerados no projeto como importantes para o bom

desenvolvimento da pesquisa sofreu uma reformulação ao longo do seu

desenvolvimento, a partir da seguinte razão: as duas Comissões acima citadas

funcionaram em apenas três ocasiões, sendo que foram dissolvidas quando o

então presidente Fernando Collor sofreu um processo de impeachment e

renunciou ao cargo, em setembro de 1992.

Desta forma, os sujeitos entrevistados são os servidores que chefiaram

ou assessoravam o departamento de Recursos Humanos de seus respectivos

órgãos, durante a Reforma Administrativa do Governo Collor.

20

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CAPITULO I

POLITICAS PÚBLICAS, REFORMA ADMINISTRATIVA E RECURSOS HUMANOS:

ALGUMAS ASSERTIVAS TEÓRICAS

21

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1. CONCEITUAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A palavra política refere-se comumente, à descrição de uma ação -

existente ou pretendida - concebida e selecionada após uma análise de possíveis

alternativas, já adotadas ou não, onde são incluídos valores e práticas do Estado

e da Sociedade.

Ao associar-se ao conceito de pública, observamos que estas atividades

são caracterizadas de formas específicas, mas de variadas dimensões, como:

área substantiva (isto é, social, urbana, saúde); tipo de parâmetro manipulado

pelos policy-maker17 (monetária, cambial, fiscal); jurisdição político-

administrativa (federal, regional, estadual, municipal); e clientela (assalariados,

exportadores de café, aposentados, servidores públicos). Estas são apenas

dimensões arbitrárias, que não podem ser consideradas como um conteúdo

analítico, apenas maIS uma visão "impressionística" 18. A dicotomia

Estado/Sociedade privilegia, entre outros assuntos, o estudo da formação,

análise e gerência das políticas públicas.

Assim, desenvolver um estudo de política pública não é tarefa fácil,

dado o imenso rol de transações de poder e informação que cerca este tema.

Em primeiro lugar, faz-se necessário um exercício de conceituação do que é

política pública, para que, num segundo momento, podermos nos concentrar na

17 ° policy-maker é o agente por excelência da ação exercida pelo Estado (política pública) na Sociedade. 18 ConfIra MONTEIRO, Jorge Vianna. Fundamentos da Política Pública. Rio de Janeiro, IPENINPES, 1982.

22

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análise de uma certa política pública. Definimos então, que política pública

refere-se à ação do Estado, intervindo na Sociedade, a partir de uma demanda

identificada, ou ainda, como uma resposta a demandas sociais, sendo que esta

resposta deve ter uma continuidade planejada. Pedone19 apresenta uma

questionamento interessante a esse respeito:

"(..) por que as questões entre indivíduos e grupos podem ultrapassar a esfera privada de resolução de conflitos para tornarem-se questões que mereçam tratamento na esfera do público?"

Quando estas questões alcançam um nível tal de conflito, faz-se

necessário elaborar políticas que, interferindo na sociedade, os ajustam e

auxiliam a manutenção do controle das diferentes forças políticas.

As diferentes formas de entrada de uma questão na agenda política

podem ser descritas assim:20

• Políticas de cunho imediatista, ou seja, respostas do governo estruturadas em

"ações de emergência", caracterizadas por aspectos administrativo-

financeiros conhecidos como "tapa-buraco" .

• Através do processo político, onde grupos de interesse21 "tomam a iniciativa

de levantar questões nas quais podem visualizar algum ganho político(..) ".

19 PEDONE, Luiz. Formulação, implementação e avaliação de políticas públicas. Brasília, FUNCEP, 1986. 20 idem, p. 13 a 16. 21 grupos de interesse, ou ainda , grupos de pressão, podem ser definidos como "qualquer agrupamento de pessoas, unido por objetivos e atitudes comuns, que tenta por todos os meios à sua disposição, mas sobretudo mediante o acesso à máquina governamental, obter decisões favoráveis aos seus interesses." (ver Dicionário de Ciências Sociais, Fundação Getulio Vargas, MEC, 23 edição, 1987).

23

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• Políticas desenvolvidas pelo processo de eventos seqüenciados em algum

dos Poderes constituídos, nos três níveis de administração pública. Pode-se

observar aí, a ocorrência de acontecimentos que vão formulando um "clima

de necessidade de intervenção e de formulação de políticas que tratem das

demandas Ir.

• Através da antecipação de problemas e conflitos latentes percebidos na

sociedade22•

Desta forma, os assuntos políticos influenciam a formulação de

políticas públicas com características pró-ativas e antecipatórias, e não apenas

como resposta a crises surgidas na sociedade. Descreveremos agora dois

momentos distintos da política pública: a formulação e a gerência.

1.1 Formulação de Políticas Públicas

A formulação de políticas públicas é um processo muito complexo e

dinâmico, com vários componentes contribuindo de maneiras diferentes.

Implica, inicialmente, na tomada de decisão a respeito do problema a

ser resolvido, ou como descrito antes, na prevenção de alguma situação latente.

Com a determinação do problema de forma clara e precisa, existirão

alternativas a serem pesquisadas e avaliadas, a partir da análise de custo versus

beneficio. Nesta fase, também serão eleitas as prioridades das políticas.

22 Infelizmente, em países considerados subdesenvolvidos, não existe a prática de mapeamento de demandas, com vistas a prevenção.

24

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Com a escolha de alguma alternativa, ou seja, com a decisão política23

feita, o processo de formulação de políticas públicas inicia-se. Atrelado à

decisão política, temos a escolha da forma jurídici4 que será adotada para a

implementação da política. Esta fase de decisão política e ordenamento

jurídico engloba, dentre outros fatores

• autorização orçamentária,

• pessoal capacitado,

• material a ser utilizado,

• divisão de responsabilidades.

1.2 Gerência de Políticas Públicas

Com estes fatores descritos plenamente definidos, entramos na fase da

gerência (acompanhamento) das políticas públicas. Para efeitos de

simplificação, esta fase pode ser subdividida em três: implementação, execução

e avaliação.

o processo de implementação de políticas públicas definirá os planos,

projetos, programas e atividades, além dos cronogramas fisico e financeiro.

Monteir025, analisando este processo, propõe uma hierarquia de ações deste,

23 Por decisão política podemos considerar aquela que, feita pelos detentores do poder, não estará sujeita a quaisquer limitações além daquelas derivadas de considerações tais como prudência ou moral. (ver Dicionário de Ciências Sociais, Fundação Getulio Vargas, MEC, 23 edição, 1987). 24 Defmimos "fonna jurídica" como o fonnato de apresentação da política pública em questão: decreto; lei; decreto-lei; ato nonnativo; etc. Este fonnato definirá o impulso que a política pública terá, assim como a maneira pela qual serão cumpridos seus objetivos. 25 MONTEIRO, Jorge Vianna. op. cito

25

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que, a partir de sua decomposição, será maiS facilmente interpretado. O

modelo sugerido pode ser apresentado da seguinte forma: missão; objetivos;

políticas; estratégias; programas; sendo que cada um desses termos são

caracterizados assim:

• missão é o propósito da política, a razão de sua existência;

• objetivos são resultados a alcançar, são desdobramentos da missão;

• políticas são grandes linhas de ação para viabilização dos objetivos;

• estratégias são mecanismos específicos para viabilização das políticas;

• programas são o conjunto de ações que operacionalizam as estratégias.

Este modelo compreende ainda: identificação da rede organizacional; as

vinculações específicas de cada organização aos objetivos, às estratégias e aos

programas que permitem ou permitirão o cumprimento da missão da política;

as articulações da rede, segundo indicadores definidos.

Esta rede deve ser entendida como a totalidade de organizações que

estejam conectadas por algum tipo de relacionamento com a política em

questão.

Devemos observar que, uma vez estabelecida uma política, nem sempre

esta será implementada, a despeito de suas formulações e estudos. A premissa

equivocada de que toda e qualquer política estabelecida terá uma conclusão

positiva é responsável pela negligência do processo de implementação de

26

Page 27: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

políticas nos modelos construídos, a fim de explicar o seu desenvolvimento ou

para instruir seus formuladores em como melhor desenvolvê-los.

Quando as políticas públicas são estabelecidas para induzir mudanças

em uma sociedade subdesenvolvida, as discrepâncias desta fase podem perfazer

estilos de "comunicação" política com instituições, que serão catalisadores

para novas e poderosas tensões, as quais podem ser de apoio (ou não) aos

novos padrões de relações. Estes padrões podem ainda, causar modificações

adicionais em suas estruturas ou processos. Desta forma, observamos que os

países denominados de "Primeiro Mundo", utilizam-se freqüentemente

políticas de natureza incrementaf6, não enfrentando os problemas decorrentes

da interação dentro e entre os componentes do sistema que envolve certa

política pública.

A fase de execução de políticas públicas propriamente dita é

caracterizada pelo processo de concretização do ideário elaborado na fase

anterior (implementação). Deverá a política, nesta ocasião, ultrapassar a

burocracia existente na organização responsável, e contar também, com o

pessoal capacitado para sua formalização. É necessário o acompanhamento

constante deste processo, com vias de verificação (e se for o caso restruturação)

26 A política incrementai pode ser entendida como uma continuação das atividades do governo anterior, com apenas algumas modificações, de características de atualização, apenas. É o modelo aconselhável do ponto de vista político, pois não provoca tantos conflitos na sociedade. Por outro lado, sua essência é basicamente conservadora, pois aceita a legitimidade das políticas anteriores, devido à incerteza com relação às conseqüências de políticas completamente novas ou diferentes.

27

Page 28: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

do movimento em questão, adequando a política às novas circunstâncias que

não estavam presentes no movimento de sua elaboração.

A avaliação de políticas públicas pode ser definida como: a

mensuração do impacto da política pública na sociedade ( ou no setor elegido

para tanto, se for ocaso); e a gerência propriamente dita da política, através de

ajustes resultantes de cada avaliação. Desta forma, alguns itens deverão ser

observados, em primeiro lugar:

• adequação da política pública à realidade que se apresenta;

• a sucessão de políticas públicas semelhantes e/ou com a mesma missão

anteriormente implementadas, e com sucesso duvidoso;

• possíveis influências de políticas externas, onde o relacionamento com

outros países poderia provocar mudanças de enfoque e/ou intensidade de

uma ou mais características da política.

28

Page 29: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

2. REFORMA ADMINISTRATIVA

Os problemas da América Latina e particularmente do Brasil, não

devem ser encarados apenas como conjunturais, mas também como um

problema estrutural grave, que estará destinada a estender-se por um longo

tempo, caso não se adotem políticas adequadas27• Ao longo dessas crises

observamos o crescimento acelerado de demandas por uma administração

pública eficiente. O instrumento a ser utilizado como estratégia de inovação de

técnicas para a administração pública é o que denominou-se reforma

administrativa.

Garcia28, em artigo de 1978, já demonstrava os equívocos dos

elaboradores de nossas reformas. Para o autor, a grande questão da

Administração Pública brasileira reside no fato de se separar a dita

administração do Estado brasileiro, de se promulgar uma reforma

administrativa que, em última análise, não responde às demandas de um Estado

que se burocratiza em passos largos. O Estado e a administração pública não

são fenômenos estanques, mas que se entrelaçam e se harmonizam na

formulação de seus objetivos.

27 Ver KILKSBERG, Bernardo. A Gerência na década de 90. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 22(1 ):59-85, jan./mar., 1988. 28 Ver GARCIA, Fernando Coutinho. Modernização e Reforma Administrativa no Brasil: uma interpretação dos impasses e um projeto alternativo. In: Modernização administrativa: coletânea de monografias. Brasília, IPEAlSEMOR, 1978.

29

Page 30: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Na busca de instrumentos de inovação da administração pública, a

reforma administrativa apresenta-se como estratégia de mudança,

principalmente após a Segunda Guerra Mundiae9• Nesta época, privilegiou-se

a denominada reforma dos meios, onde as premissas se caracterizavam pela

neutralidade do sistema burocrático e o desenvolvimento de uma competência

"neutra" dos administradores públicos.

Segundo Motta30,

"As inequações reais das teorias de mudança em Administração Pública decorrem da própria maneira como são formulados, uma vez que procuram criar uma teoria de racionalidade administrativa, independente da formulação de objetivos e valores da Administração Pública"

Ou seja, o desafio ainda presente de mudança na esfera pública tem

aparência tanto técnica como relevante na questão de objetivos e valores

percebidos. Estes valores são revelados no indivíduo, na organização e na

sociedade.

Desta forma, enquanto continuarmos a apresentar um modelo de

intervenção para mudança na Administração Pública, através de agentes

externos (com ênfase no controle dos meios e formais na comunicação) nos

processos de reforma administrativa levados a cabo no país, estaremos alijando

29 Ver em MOTTA, Paulo Roberto. Doutrina de Inovação em Administração Pública: a questão dos valores. In: Inovação em Administração Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1974.

30 'd " 01 1 em, pagma .

30

Page 31: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

os valores característicos da nossa sociedade de forma equivocada, e não nos

beneficiando desta particular motivação para uma verdadeira mudança.

Ao historicizarmos alguns paradigmas3l de reforma da administração

pública formulados pelo pensamento administrativo brasileiro, corroboramos

esta idéia:

* Administração Pública como Ciência Jurídica (1900-1929):

Nesta fase, observamos um linha bastante tênue que separava o Direito

Administrativo da Administração Pública, como se esta última, na verdade,

fosse uma "especialidade" jurídica. Esta fase mostra um apego muito grande ao

legalismo, priorizando, assim, todos os precedentes da jurisprudência no país.

Até hoje, podemos observar uma grande influência exercida pelo enfoque

jurídico, principalmente na praticidade do serviço público, (seu dia-a-dia), onde

acaba criando barreiras para inovações gerenciais e/ou operacionais.

* Administração Pública como Ciência Administratiya (1930-1979)

Este paradigma teve forte influência dos chamados "princípios

de administração científica", que, apesar de não serem mais novidade

no primeiro mundo, fizeram o furor da academia brasileira dos anos

30/40, e foram recebidos como a grande reviravolta das ciências

SOCIaIS. Assim, a idéia de neutralidade científica e a fácil adequação

31 Descritos originalmente em KEINERT, Tania. Os paradigmas da Administração Pública no Brasil (1900-1992). Revista de Administração de Empresas, São Paulo, Fundação Getulio Vargas, V.34, n. 3, p.41-48, mai./jun., 1994.

31

Page 32: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

de princípios "importados" foram aceitos naturalmente, resultando em

equiparações " 32 - erroneas entre a Administração Pública e a

Administração de Empresas. Keinert33 sugere que dividamos este

período por três, a fim de termos um melhor entendimento dos

acontecimentos:

1) Estado Administrativo (1930-45): a revolução de 1930 lançou

as bases do "Estado Administrativo" no Brasil, com a

estruturação e expansão estatal. De caráter prescritivo,

ignorando componentes políticos e culturais da sociedade

brasileira, esta fase é marcada grandemente pelo componente

racionalização.

2) Administração para o Desenvolvimento (1946-64): A partir

de 1946, temos um período marcado pela ideologia

desenvolvimentista, onde a idéia era fortalecer a administração

pública para que esta fosse capaz de implementar o

"desenvolvimento planejado". Para alcançar o intento, foram

criados, nas décadas de 40 e 50, os primeiros cursos de

32 A diferença primoridial da Administração Pública para a Adminsitração de Empresas são os objetivos: da primeira, é a manutenção do Estado, através de de suas fontes: impostos, taxas, a flm de proporcionar o bem estar daqueles de quem representa: a sociedade. Já a segunda, oferece instrumental para que a empresa privada alcançe o lucro, obtido, em última instância, através da venda de seus produtos para os seus clientes (aqueles que aceitam trocar dinheiro pelo bem ou serviço prestado). E quem é o cliente da Administração Pública? Somos todos nós, cidadãos. Aí está a sutil diferença .... 33 KEINERT, Tania, op. cit.

32

Page 33: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Administração no país, além de convênios para treinamento de

professores nos Estados Unidos.

3) Intervencionismo Estatal (1965-79): fase caracterizada pelo

grande crescimento da máquina governamental, com o objetivo

de aumentar sua capacidade de intervenção, centralização e

controle.

* Administração Pública como Ciência Política_{ 1980-89)

Com o país articulado em diferentes mobilizações político-sociais, o

modelo desenvolvimentista-exportador, demonstra suas limitações

tanto no campo econômico quanto no social. Buscando novas

soluções para este Impasse, os estudiosos e profissionais de

Administração Pública buscam novos instrumentais para melhor se

entenderem, e a seu objeto maior de estudo. Exilando o antigo

domínio do tecnicismo, temos agora "(. . .) um politicismo que reedita a

velha e criticada proposição taylorista da separação entre os que

concebem e os que executam." Este modelo de pensar a Administração

Pública no Brasil resignava-se à supremacia da política, em

detrimento das possibilidades legais e as atuais técnicas de gestão.

33

Page 34: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

* Administração Pública de 1990 a 1992 :

A Constituição de 1988 manteve o presidencialismo como forma de

governo e Fernando Collor de Mello, assume com enorme disposição

de exercer plenamente estes poderes. Ao longo de sua campanha,

estabelece a legenda "vencer ou vencer,,34 o inimigo da modernização,

e para tanto,

"( .. .)Em menos de 24 horas, editou 23 medidas provisórias, 7 decretos, 72 atos de nomeação, aos quais se seguiram inúmeras portarias ministeriais e instruções normativas autárquicas. Com o objetivo de reduzir a intervenção do Estado na vida social, criou uma série de restrições e regulamentos temporários para que, aos poucos, os cidadãos perdessem a memória inflacionária e pudessem usufruir mais os benefícios decorrentes do exercício das novas liberdades(. . .) ,,35.

A concepção de Reforma Administrativa apresentada neste governo

segue a filosofia de que a modernização do aparelho institucional

permitiria que a economia se dinamize, e que a sociedade se

democratize, oferecendo a população a renda, o padrão de consumo e

qualidade de vida equivalente aos povos de Primeiro Mundo. Uma

reforma levada nestes termos requer um modelo de Estado neoliberal,

mas com nuânces sociais-democratas. Esta contradição é o fulcro da

34 CAVALCANTI, Bianor & COSTA, Frederico Lustosa. Mudança Organizacional no Setor Público. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 25(1 ):82-1 06, nov.1990/jan. 1991. (página 82) 3S idem.

34

Page 35: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

nossa análise. Como desenvolver uma reforma nestes termos? Por um

lado, medidas liberalizantes com relação a preços, comércio exterior,

regulações em geral, e ao mesmo tempo, aumento na taxação de ativos

financeiros e dirigismo exacerbado em vários segmentos da política

econômica do país? Este era o desafio do governo Collor de Mello em

relação à reforma administrativa.

35

Page 36: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Períodos

1900-29

1930-79

1980-89

1990-92

QUADRO I: resumo dos períodos

Contexto

Estado regulador liberal

1.Estado Adminis­trativo

Paradigmas

Administração Pública como Ciência Jurídica

Administração

Fases

1930-45

2.Adminis- Pública como 1946-64 tração para Ciência o desenvol- Administrativa vimento

3.Estado Interven­cionista

• Mobili­zação Social

• Conflito de interesses

• Recursos escassos

• Eleições Diretas após 30 anos

• Proposta de um Estado neoliberal

Administração Pública como Ciência Política

Administração Pública eficiente como base de um "Estado neoliberal"

1965-79

Campo da Administração

Pública Legalismo

Racionalização

Desenvolvimen­tismo

Racionalidade e competência técnica

Democratização como alavanca e ao mesmo tempo objetivo da Reforma Administrati va

• Desestatização • enxugamento

da máquina administrati va

As reformas administrativas implementadas no Brasil possuem alguns

aspectos positivos, a saber36: sensibilização crescente da opinião pública sobre

36 KLIKSBERG, Bernardo, 1988, op. cit.

36

Page 37: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

o tema; estabelecimento de organizações voltadas para o ensino e a pesquisa de

Administração Pública; e criação de uma elite respeitável de administradores.

Mesmo assim os objetivos finais destas reformas jamais foram alcançados37.

Segundo Kilksberg38 algumas questões devem ser reexaminadas:

1. Natureza da mudança administrativa proposta: observar se o paradigma de

reforma administrativa foi sempre coerente com as práticas apresentadas; e

avançar na discussão acerca da modernização da máquina estatal, que não se

basta em apenas reformular as suas estruturas formais;

2. dicotomia política versus administração: esta dicotomia permela os

paradigmas apresentados, pOIS pressupõe que o problema sena que a

máquina burocrática é falha porque não supre a classe política de seu apoio

técnico, então, transformemos a máquina! (sem perceber que o problema

pode ser antes de tudo de orientação política, e não somente gerencial);

3. Modelos obsoletos de percepção da especificidade da máquina burocrática: o

reconhecimento de uma cultura organizacional específica na esfera

burocrática é ainda, superficial ou praticamente nula;

4. Pobreza do pensamento estratégico: o esforço reformista se concentra ora em

propostas grandiosas, abarcando a totalidade da administração pública, ora

37 o próximo capítulo apresentará detalhes históricos das reformas, para melhor entendimento desta aflrmação. 38 KLIKSBERG, Bernardo, 1988, op. cito

37

Page 38: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

em questões factuais que pouco ou nada contribuem para a transformação

que se espera;

5. Política de Recursos Humanos meramente logística: preocupação exagerada

em definição de rotinas para o controle, alijando a contemplação de temas

primordiais como motivação, participação, relação entre mercado de trabalho

público e privado, treinamento e desenvolvimento;

6. Tendência ao consumismo de "novidades" tecnológicas: a especificidade da

administração pública brasileira não é levada em conta, o que importa é

adaptar nossa realidade aos novos modismos gerenciais estrangeiros, não

dando espaço para pesquisa no País;

7. Pouca clareza das estratégias a serem cumpridas: não existe base político­

social sólida que sustente estes processos, logo, não podem ser considerados

como transformadores e democráticos;

8. Insistência no mito da neutralidade tecnológica nas ciências administrativas.

Para o autor, os anos 90 trariam um novo paradigma de intervenção

para inovação da administração pública. Este modelo deveria desenvolver as

seguintes linhas básicas:

1. substituição da abordagem prescritiva pela heurística, ou seja, ao invés de

ditar normas e procedimentos, elaborar pesquisas, com as conseqüentes

ações de experimentação e busca;

38

Page 39: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

2. promoção de mudança de concepção das fontes de eficiência: a análise das

fontes de eficiências gerencias no país e no exterior, a fim de que as boas

experiências e conclusões não se percam na história;

3. preocupação com a constante inovação para acompanhamento das

transformações no mundo atual;

4. desenvolvimento de um modelo organizacional desejável para a nossa

realidade;

5. estímulo na produção de tecnologias inovadoras e realistas de intervenção

organizacional;

6. busca de organizações com características predominantemente flexíveis;

7. gerência (acompanhamento) constante das políticas públicas;

8. preocupação com a administração de valores internos e externos da

administração pública.

O modelo acima descrito por Kliksberg acerca de uma reforma

administrativa para os anos 90 privilegia, a gestão democrática dos valores

organizacionais e dos recursos humanos dos setor público, além de se

preocupar em acompanhar as mudanças globais que acontecem no país e no

mundo, através de processo de inovação constante. Veremos no capítulo lI, ao

longo da história das reformas administrativas no Brasil, não observamos a

opção por este paradigma.

39

Page 40: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

3. POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS

HUMANOS

o exercício de administrar recursos humanos demanda o entendimento

de sua especificidade, onde convivem seu caráter multivariado, que envolve

necessariamente conceitos de diversas áreas do conhecimento humano; e seu

caráter contingencial, já que depende da situação organizacional para definição

de suas políticas. Também não é um fim em si mesmo, mas sim

"(..) um meio de alcançar a eficácia e a eficiência das organizações através de pessoas, permitindo condições favoráveis para que estas alcancem seus objetivos pessoais ,,39.

A Administração de Recursos Humanos é constituída de subsistemas

interdependentes e inter-relacionados assim indicados:

Quadro 11: Sistemas de administração de recursos humanos

AQUINO LOBOS CHIAVENATO TOLEDO (1979) (1979) (1989) (1989) Procura Planejamento Suprimento Atração

Desenvolvimento Execução Aplicação Manutenção Manutenção Controle Manutenção Motivação

Pesquisa Correção Desenvolvimento Treinamento e Controle Desenvolvimento

.. -Fonte: GIL, AntOnIO Carlos. Admmlstraçao de Recursos Humanos - um enfoque profissional. São Paulo, Atlas, 1994.

Estes subsistemas são denominados políticas de recursos humanos.

As políticas de recursos humanos surgem em função da racionalidade,

da filosofia e cultura organizacional. Estas políticas são definidas como

normas estabelecidas para governar funções e assegurar que elas sejam

39 Ver CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos na Empresa. (05 volumes), São Paulo, Atlas, 1989.

40

Page 41: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

desempenhadas de acordo com os objetivos desejados. Também referem-se às

maneiras pelas quais a organização pretende lidar com seus membros e, por

intermédio deles, atingir os objetivos organizacionais, permitindo condições

para o alcance de objetivos individuais. Além disso, variam conforme a

organização, devido aos seguintes fatores: antecedentes históricos; fatores

econômicos, políticos, SOCIaIS, culturais, tecnológicos e outros; localização

geográfica; relação com sindicatos; e políticas e restrições governamentais. As

políticas situam o código de valores éticos da organização que, através delas,

governa suas relações com os funcionários, consumidores e fornecedores. As

políticas relacionadas com a administração de recursos humanos devem possuir

características estáveis, serem consistentes, flexíveis, claras e simples40•

Desta forma, exemplificaremos cada política acima mencionada41• O

suprimento de recursos humanos abarca o trabalho de pesquisa de mercado de

recursos humanos, o recrutamento, seleção e integração do novo funcionário.

A aplicação de recursos humanos é caracterizada pelas funções de

análise e descrição de cargos, planejamento e alocação, plano de carreira, e

avaliação de desempenho.

A manutenção de recursos humanos significa administração de salários,

plano de beneficios sociais e segurança no trabalho.

40 ibidem.

41 utilizaremos para isso a classificação de CHIA VENA TO (1989).

41

Page 42: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Finalmente, o desenvolvimento de recursos humanos refere-se o

treinamento, o próprio desenvolvimento e o auxílio à estratégia de

desenvolvimento organizacional.

Os gestores responsáveis pela área de desenvolvimento de recursos

humanos buscam adequar métodos e procedimentos que maximizem o

desempenho no trabalho e a satisfação com o mesmo, através do treinamento e

do desenvolvimento. O treinamento é, essencialmente, o preparo da pessoa para

o cargo, feito no próprio ambiente de trabalho, seja pelo chefe ou por um

instrutor especialmente preparado42, enquanto o desenvolvimento visa

promover a atualização do potencial intrínseco dos recursos humanos, através

de modificações de cunho comportamental e cultural, na busca de sua

realização pessoal.

Logo, uma política de desenvolvimento de recursos humanos VIsa

construir critérios de diagnóstico e programação de preparação e reciclagem

constantes da força de trabalho para o desempenho de suas tarefas e atribuições

dentro da organização. Além disto, preocupa-se com a criação e

desenvolvimento de condições capazes de garantir a saúde e excelência

organizacional, através da mudança do comportamento dos participantes do

processo. Através de treinamento e desenvolvimento a médio e longo prazos

42 Veja em BERGAMINI, Cecília Whitaker. Desenvolvimento de Recursos Humanos: uma estratégia de Desenvolvimento Organizacional. São Paulo, Atlas, 1980, página 39.

42

Page 43: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

adequados, também se é capaz de planejar uma contínua realização do

potencial humano em posições gradativamente elevadas.

o papel dicotômico dos gestores de Recursos Humanos pode ser

exemplificado na função administrar o conflito existente entre os interesses da

organização e dos funcionários.

Sabemos que a idéia de desenvolver recursos humanos não é apenas ter

ações periódicas de aprimoramento do desempenho de uma certa função, mas

sim um processo - tanto individual, como grupal e organizacional - permanente

de autocrítica, descoberta e atualização do potencial de criatividade e realização

humana em seus diversos níveis de manifestaçã043•

Utilizando-nos da visão sistêmica, podemos entender o processo de

desenvolvimento de recursos humanos numa organização a partir da idéia de

um desenvolvimento de pessoal como um sistema social, ou seja, um sistema

nh . I - b· I 44 que mante a uma constante mterre açao com o am lente que o envo ve .

Na realidade, concordamos com Matos45 quando diz que o

desenvolvimento de recursos humanos, numa visão ampla, deveria dar o

suporte para o planejamento estratégico da organização e sua contínua

modernização institucional.

43 Ver MATOS, Ruy de Alencar. O Desenvolvimento de Recursos Humanos na Administração Pública - do modelo tecnocrático ao modelo democrático. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 16(3):4-24, jul./set., 1982. 44 VIEIRA, Wallace de Souza. Desenvolvimento de Recursos Humanos - Textos. EBAP/CIPAD, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1979. 45 MA TOS, Ruy de Alencar. op.cit.

43

Page 44: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Sabemos que o desenvolvimento de recursos humanos é uma atividade

cuja responsabilidade pela execução permeia todos os cargos e funções, com

ênfase sobre a função gerencial. Desenvolver recursos humanos, no setor

público, implica também em buscar a solução dos problemas na própria

administração pública, descentralizando estas atividades, como forma de

responsabilizá-los também pela condução do seu processo de

desenvolvimento.

o processo de desenvolvimento de recursos humanos, sendo

administrado de forma compartilhada e democrática, teria a vantagem de

compensar as lacunas e disfunções deixadas pela tecnoburocracia 46 exarcebada,

que seriam substituídas pela percepção subjetiva dos elementos da própria

organização.

46 A tecnoburocracia pode ser entendida como um sistema organizacional onde os técnicos, já incorporados nos meandros da burocracia formal - autoridade a partir de normas legais, hierarquia, competência técnica e dedicação ao cargo - participam tendenciosamente dos processos decisórios manifestados na Administração Pública. Ou seja, a responsabilidade é diluída, e o objetivo fmal, relegado a segundo plano.

44

Page 45: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

CAPÍTULO II

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NO BRASIL

45

Page 46: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A herança histórica que recebemos das relações de trabalho do

colonizador português foi a forma escravocrata de produção. Seguiu-se a

"importação" de imigrantes europeus, com promessas de prosperidade material

e fácil acesso ao trabalho e a posse de terras no Brasil. Mas, nos conta a

história, este tipo de relação trabalhista, que vigorou até o início dos anos 30,

não cumpriu as promessas, fazendo que a formação da nossa classe

trabalhadora fosse marcada por greves e protestos desde o final do século

XI~7. A constituição da classe trabalhadora no Brasil sofreu grandes

influências destes imigrantes, que, geralmente com grau de instrução e

organização bem maior, estes foram, em grande parte, responsáveis pela

politização dos trabalhadores, incutindo-lhes um experiência sindical

praticamente inexistente no país anteriormente.

Na primeira metade do século XX já observamos uma evolução em

termos de legislação trabalhista no país. Em 1919, o Brasil assinava o Tratado

de Versalhes, que instituiria a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Por esse tratado, ficava o país comprometido com determinadas questões

trabalhistas, como por exemplo, o direito de associação ( empregado e

empregador); pagamento de um salário digno; jornada de oito horas diárias (ou

47 Veja FAUSTO, Bóris. Trabalho Urbano e Conflito Social (1890-1920). São PauIolRio de Janeiro, DifeI, 1976.

46

Page 47: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

semana de 48 horas); adoção de período de repouso semanal de 24 horas, no

mínimo, preferencialmente aos domingos; supressão do trabalho das crianças e,

para jovens, a garantia de desenvolvimento educacional e fisico paralelo ao

trabalho; estabelecimento do salário igual para igual trabalho, sem distinção de

sexo. Neste ano, também é publicada a Lei de Proteção contra Acidentes.

Quatro anos depois, temos a Lei Elói Chaves (Caixa de Aposentadoria e

Pensões - antigos CAPS - decreto-lei 4.682, de 24/01123) e a Lei da

Estabilidade e Aposentadoria dos Ferroviários, seguida, em 1926, da mesma

política para os portuários. Em 1925 temos a Lei de Férias (que só entraria

em vigor realmente na década de 30), e, no ano seguinte, a Lei de

Regulamentação do Trabalho do Menor. Até o ano de 1920, observamos a

supremacia de sindicatos anarquistas apartidários na liderança de greves e

protestos, e na formação das chamadas Ligas Operárias. A partir de 1923, e até

a Revolução de 1930, é forte a influência da filosofia comunista nos sindicatos,

atrelando estes ao Partido.

Com a elevação de Getulio Vargas ao poder pela primeira vez, em 30,

temos a chamada "febre de legislação" trabalhista, onde já percebemos a grande

influência da Abordagem Científica da Administração, onde Taylor e Fayol e

Weber são os maiores destaques. Um exemplo cabal disto é a criação do

Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), em 1934. Com a

47

Page 48: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

necessidade crescente de trabalhadores especializados na indústria e no

comércio, o Estado criaria órgãos autônomos de educação específica para o

trabalho. É o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942,

e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Logo após,

foram criados o Serviço Social da Indústria (SESI), e o Serviço Social do

Comércio (SESC) em 1946, que são responsáveis pela socialização e lazer

destes trabalhadores. A conjuntura da Segunda Grande Guerra nos trouxe, em

1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Apesar disto, os direitos

trabalhistas e os dissídios coletivos não vigoraram até 1947, sendo que a

realização de assembléias sindicais só seriam possíveis, nesta época, com a

presença de representantes da Delegacia da Ordem Política e Social (DOPS).

Ao longo da década de 50, observamos uma mudança no perfil da

classe operária, que manifestava seu descontentamento em greves que

chegaram a mobilizar 1,6 milhões de pessoas, em 1954. Após 1956 houve um

crescimento do parque industrial, do volume do capital externo aplicado no

país e da indústria automobilística. Paralelo a isto, uma classe trabalhadora

com um grau de aspiração maior, além de um crescimento do nível de

instrução, seja ele formal ou operacional. Foi neste período que surgiram as

faculdades de administração no país, formando gerentes com visão de relações

industriais e administração de pessoal um pouco mais avançada.

48

Page 49: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Com o golpe militar de 1964, acontece o efetivo controle político­

econômico da classe trabalhadora. O movimento sindical, que se firmara já na

década de 40, teve uma relativa inatividade detectada até 1968, onde temos as

"greves de laboratório", nas cidades de Osasco (SP), e Contagem (MG).

Utilizaram-se, para tanto, das chamadas "operação-padrão", e "operação­

tartaruga", que viriam a ser a tônica das greves das décadas de 70 e 80.

Paralelo ao processo lento e gradual de abertura política promovido

pelo então presidente Ernesto Geisel, a partir de 1974, cresceu o estímulo dos

trabalhadores em reivindicar maiores salários e melhores condições de

trabalho. Em 1978 percebemos a reativação sindical, com a greve dos

metalúrgicos, onde esta se caracterizou pela parada total, de homens e

máquinas. V ários movimentos se seguiram, com a abertura política, na busca

de melhores condições de trabalho e níveis salariais, principalmente

procurando recuperar as perdas de percentuais de salário, resultantes dos vários

planos econômicos que o Brasil passou, a partir da década de 80.

Notamos também, que a partir dos anos 80 iniciou-se a idéia de unificar

o movimento trabalhista. Foram criadas as centrais sindicais: CUT - Central

Única dos Trabalhadores, em 1983, e a CGT - Confederação Geral dos

Trabalhadores, em 1986, que, conseguiram, ao menos parcialmente, fazer-se

ouvir pelo Governo e pelos empregadores. A crescente democratização do

49

Page 50: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

país, ao longo da década passada, fez as negociações entre trabalhadores,

governantes e empresários tomaram-se cada vez mais urgentes. Silva48, em

texto elaborado ao longo das discussões da última Assembléia Nacional

Constituinte, comenta que

"(..) o processo de definição de referenciais de natureza institucional para orientação do ordenamento jurídico dos servidores públicos civis precedeu o relativo aos trabalhadores em geral, no Brasil. Mesmo assim, a institucionalização dos avanços tem sido muito mais expressiva para os trabalhadores do que para os funcionários (públicos)." (grifo meu)

De fato, a Lei nO 284, de 28 de outubro de 1936, definiu o sistema de

mérito para a entrada no serviço público, idéia que perdurou até meados de

1945, quando perdeu grande parte de sua força. Além disto, provocou uma

modesta modernização da máquina administrativa do Estado, estruturou os

quadros de pessoal, bases uniformes de classificação de cargos e remuneração,

instituiu o sistema de carreiras e, finalmente, criou o Conselho Federal do

Serviço Público, responsável pelos concursos. Apesar da antecedência em

relação aos demais trabalhadores, os funcionários públicos têm tido grandes

dificuldades para implantar a garantia de seus direitos, o que será explicitado a

segUIr.

48 Veja SILVA, Paulo Vieira da. O Servidor Público nas Constituições Federais Brasileiras e no Projeto da Assembléia Nacional Constituinte. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 22(2): 106-116, abr./jun., 1988.

50

Page 51: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

2.PROCESSOS DE REFORMA ADMINISTRATIVA NO

BRASIL, E SUAS IMPLICAÇÕES PARA OS RECURSOS

HUMANOS DO SETOR PÚBLICO

A história da administração pública brasileira é caracterizada por

diversas tentativas de estruturação e reestruturação que frustou quem dela fez

parte, diretamente ou não ( funcionários, dirigentes e público em geral). Isto

porque, em várias ocasiões, o que se tentou, entre outros assuntos, foi

"consertar um erro", e não formular planos a médio e longo prazos para que

estes mesmos erros acontecessem cada vez mais raramente.

A administração pública federal j á sofreu 35 reestruturações desde 1822

(treze somente de 1979 até hoje)49. Mesmo assim, seu objetivo maior - a

dinamização da máquina burocrática - não foi alcançado.

Guerreiro Ramos50 já alertara para a ignorância da administração

pública brasileira, que manifesta um engajamento exagerado a uma dada

estrutura teórica, tomando os intelectuais insensíveis à singularidade de

situações específicas, que não se enquadram em precedentes já analisados.

Para o autor, nos falta uma "ignorância consciente", onde teríamos a /1(..)

percepção do hiato que existe entre o que sabemos e o que precisamos saber

49 Em reportagem do Jornal do Brasil de 31/07/94, Ricardo Miranda expõe toda a problemática de reformas mal planejadas e gerenciadas. Veja: MIRANDA, Ricardo: De reforma em reforma, o país para. Jornal do Brasil, 31 de julho de 1994, 10 Caderno (Brasil). 50 Veja GUERREIRO RAMOS, Alberto. A nova ignorância e o futuro da administração pública na América Latina. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 17(1):32-65, jan.lmar., 1985.

51

Page 52: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

para cumprir os deveres especificas de nossa profissão li, de analistas da

administração pública. Ao obtermos esta percepção, teremos nos engajado com

os três itens que Guerreiro Ramos cita como imprescíndiveis para libertar nosso

raciocínio das ambigüidades conceituais: o mundo, o crescimento humano, e a

legitimidade.

2.1 Dos Primórdios a /I República

Nos nossos primórdios de colonização, já encontramos tentativas de

racionalizar a administração pública. Observamos modos de governar através

das capitanias hereditárias, na centralização imposta pelo governo-geral, e a

"liberalização" da Abertura dos Portos. É o chamado início do "Brasil-

burocracia"sl. Apesar disto, a administração da res publica não passava de

esforços isolados, onde percebemos a ação no sentido de "administração por

necessidades" .

Em 30 de outubro de 1891, ocorreu o primeiro esforço de mudança a

nível global, no qual acontece a restruturação do primeiro escalão do Poder

Executivo, é a chamada Lei nO 23. Esta lei foi responsável pela reorganização

da Administração Pública após a mudança da forma de governo, ocorrida com a

51 ConflTa ARAÚJO, Luis César Gonçalves de. Mudança Organizacional na Administração Pública Federal Brasileira. São Paulo, EAESPIFGV, tese, 1982.

52

Page 53: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Proclamação da República, em 1889. Também nota-se a primeira preocupação

com a estabilidade do funcionário público (Artigo 11 i 2.

Mas, apenas após a Revolução de 1930 é que temos a difusão de idéias

modernizadoras da administração nos executores das reformas elaboradas nesta

época53• Notamos também a introdução da noção de eficiência, a preocupação

com o sistema do mérito, e com o treinamento e aperfeiçoamento de

funcionários públicos, entre outras idéias.

Muitas das reformas da administração pública realizadas no governo

provisório de Getulio Vargas (03/11/30-15/07/34), estavam moderadamente

delineadas na plataforma da Aliança Liberal (03/01/30i4•

o governo provisório teve uma grande atuação nos assuntos de

"atividades comuns" a todos os órgãos da administração pública, chegando, às

vezes, a um " ... grau de ambição perfeccionista incompatível com o nível do

desenvolvimento econômico e administrativo da época. ,,55. Mas, infelizmente,

não alcançou os objetivos esperados.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1934, observa-se um

prenúncio da reforma administrativa, que consagrou o sistema de mérito no seu

52 Veja MARCELINO, Gileno. Evolução do Estado e Reforma Adminsitrativa. Texto extraído da palestra

pronunciada na FUNCEP por ocasião do seminário da ALAP - Associação Latino-Americana de Administração Pública, Brasília, 1987. 53 Ver W AHRLICH, Beatriz. Reforma Administrativa brasileira: passado e presente. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 27-75, abr./jun, 1974. 54 Ver WAHRLICH, Beatriz. Reforma Administrativa na era de Vargas. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1983. 55 WAHRLICH, Beatriz. (1974) op. cito

53

Page 54: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

próprio texto56. A Lei nO 284, de 28 de outubro de 1936 - conhecida como Lei

d R . 57 o eajustamento ,

" ... resultou de um estudo que visava, inicialmente, apenas a uma melhoria geral de salários, mas que evoluiu num sentido muito mais amplo, efetuou o reajustamento almejado, e, ainda, criou um órgão central inter ministerial para a administração de pessoal e estudos d . - , d ,,58 e orgamzaçao e meto os. .

Este órgão denominava-se Conselho Federal do Serviço Público Civil, e

tinha como objetivos centralizar os concursos para todos os órgãos de carreira,

desenvolver a base do sistema de promoções, e, criou, em cada Ministério, uma

"comissão de eficiência", que destinava-se a proceder uma reorganização de

serviços e coordenar os trabalhos de promoções, de forma a descentralizar as

decisões e agilizar o sistema.

A Lei nO 284 marcou, desta forma, o início da reforma administrativa

federal. Observamos que esta tem duas características marcantes:

• pnmeIra tentativa sistematizada de organização dos servIços

públicos;

• o início de uma administração de recursos humanos, sob a

orientação do sistema de mérito.

56 WAHRLICH, Beatriz. Administração de Pessoal: princípios e técnicas. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1964. 57 Segundo MARCELINO (1987 ; op. cit), a Lei que criou o Conselho Federal do Serviço Público foi responsável por buscar disciplinar (reajustar) a Administração Pública, além de todas as atividades-meio do Estado (orçamento, materiais, comunicações, organização e coordenação interna). Daí ser conhecida simplesmente como "Lei do Reajustamento". 58 Conflra em WHARLICH, Beatriz, op. cit. (1964)

54

Page 55: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

o Conselho Federal de Serviço Público Civil transformou-se59 em

Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), pelo decreto-lei

n° 579 de 30 de julho de 1938, confirmando o disposto no artigo 67 da

Constituição de 1937, que dizia que haveria junto à Presidência da República

um Departamento Administrativo com as atribuições de analisar as repartições,

departamentos e estabelecimentos públicos, com o objetivo de determinar, do

ponto de vista da economia e eficiência, as modificações a serem feitas na

organização dos serviços públicos.

A criação do DASP pode ser considerada como o reconhecimento

concreto da necessidade do estudo e sistematização da administração de

pessoal a nível federal. O DASP tomou-se, com a legislação após a

Constituição de 1937, um órgão central de orçamento, administração de

pessoal, administração de material e de organização e métodos. Vale a pena

salientar que esta ampliação não era de todo necessária, pois j á existia um

órgão central de pessoal, o Conselho Federal do Serviço Público Civil, criado

em 1936.

As características da administração de pessoal posta em prática pelo

DASP deveriam obedecer o sistema de mérito, combatendo o nepotismo no

ingresso de recursos humanos na administração pública. Esta atitude inicial do

59 Veja em MARCELINO, Gileno, op. cit. (1987), página 18.

55

Page 56: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

DASP relativa à fiscalização da administração de pessoal acarretou prejuízos

consideráveis no conceito que dele formaram tanto funcionários como as

autoridades e o público em geral, visivelmente contrariados com este culto a

"eficiência e eficácia", típicos às correntes da "administração científica", ainda

estranhos na nossa sociedade da época. No setor de treinamento e

aperfeiçoamento de pessoal, observamos uma tênue preocupação com o

desenvolvimento de recursos humanos, a partir da criação da Escola do Serviço

Público, órgão do DASP, onde eram promovidos cursos de administração para

os funcionários, e mantinha-se um fomento para que funcionários mais

graduados fizessem cursos fora do país60•

o sistema de mérito foi a função que maiS chamou a atenção da

opinião pública a respeito do DASP, seja de forma negativa ou positiva. Este,

na verdade, não conseguiu atingir seus objetivos, já que o número de

candidatos habilitados em concurso (a partir de 1937) nunca atendeu às

necessidades do servIço público, dando chance ao recurso de nomeações

interinas e ao número extra de funcionários não concursados61.

Talvez a estratégia utilizada pelo DASP seja a responsável por esta

falha. Ao escolher ser globalista - submetendo todos os cargos de carreira ao

60 Conflra em WHARLICH, Beatriz, op. cit. (1964) 61 Em 1945, após a deposição de Getulio Vargas, durante o governo provisório de José Linhares (ministro do Supremo Tribunal Federal) foram nomeados os primeiros extranumerários do serviço público, dando início as 104 tabelas especiais que persistiram até 1985. Veja em MARCELINO, Gileno (1987), op. cit, página 18.

56

Page 57: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

sistema de mérito, com o objetivo de estruturá-los e aSSIm, desenvolver a

burocracia brasileira - e buscando os resultados de forma imediata, seus

dirigentes não perceberam as particularidades da administração pública

brasileira.

o DASP foi uma adaptação de organização concebida a partir de

modelos norte-americanos, pelas seguintes razões:

• o artigo 67 da Constituição Federal de 1937 lembra claramente as seções 207

e 209 da Lei do Orçamento e Contabilidade de 1921 (Estados Unidos);

• não havia, na tradição brasileira até àquela data (1937) qualquer

departamento central de orçamento - a proposta orçamentária era função do

Ministério da Fazenda, que, a partir desta data, combateu a execução do

disposto neste mesmo artigo 62.

O diretor do DASP de então, Luiz Simões Lopes, propôs a criação de

uma instituição dedicada ao aprimoramento da administração brasileira, que

viria a ser a Fundação Getulio Vargas (FGVt3• Simões Lopes teve a percepção

de que o DASP alcançara um patamar-limite de realizações, sob o regime da

administração direta. Para compreendermos as origens e os objetivos da FGV,

é relevante estabelecermos um encadeamento de situações que vem desde o

Conselho Federal do Serviço Público Civil, ganhando substância, sendo

62 ibidem. 63 Decreto n° 7.170, de 19/12/44.

57

Page 58: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

submetido a um primeiro teste de eficácia com o DASP, concluindo-se na sua

criação, na década de 40, como um instituto de direito privado, sem fins

lucrativos e desvinculado da administração pública, voltado para a eficiência da

administração.

Atrelada à FGV, observamos a criação, em 1952, da Escola Brasileira

de Administração Pública (EBAP), motivo condutor da própria Fundação,

explicitada no parágrafo anterior. A esperança de que o sistema de mérito se

consolidaria no Brasil, sob a batuta do DASP - inclusive expandindo-se para as

administrações estaduais e municipais - aumentou a motivação de criar a

Escola, que assim supriria os governos, em todos os níveis, de profissionais

capacitados, aptos para reforçar o próprio sistema do mérito.

Ao observarmos a evolução do DASP, desde a sua criação, em julho de

1938, até a deposição de Getulio Vargas, em outubro de 1945, nota-se a

tendência governamental de o fortalecer institucionalmente, tendência esta

interrompida com a reforma de 1945, quando as funções do órgão foram

restringidas e sua organização interna compactada.

2.2 Da 111 República à Nova República

No segundo governo de Getulio Vargas (1950-1954), temos uma

retomada dos esforços reformistas, onde podemos perceber as seguintes

d· . 64 lretnzes :

64 WAHRLICH, Beatriz. (1983), op. cit.

58

Page 59: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

1. centralização da orientação superior no Presidente da República;

2. descentralização da gestão em todos os níveis;

3. planejamento e coordenação;

4. reforma de base da Administração Federal, onde senam privilegiados os

princípios da homogeneidade do alcance do controle.

Na realidade, a idéia de cunho mais inovador do projeto não foi

concretizada. A comissão interpartidária convocada por Vargas não acatou a

criação do Conselho de Planejamento e Coordenaçã065, já que, segundo a

mentalidade da época, "planejamento", cabia muito bem na órbita do Conselho

de Economia, não se fazendo necessário sua criação.

Por esta decisão, pode-se concluir que o "planejamento", aí também

inseridas as políticas públicas, eram delineadas por profissionais de formação

estritamente especializada, sem uma visão global dos problemas estruturais da

nação. Se ao planejamento era dedicado este ponto de vista teoria econômica,

observa-se a pouca preocupação com a restruturação das formas de administrar,

incluindo as formas de administração de seus recursos humanos.

A partir da segunda metade da década de 50 configurou-se um projeto

nacional de desenvolvimento, com "(..)a constatação de uma profunda

6S idem.

59

Page 60: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

ineficiência do instrumental administrativo que pretendia respaldar a ação

centralizadora do Estado brasileiro. ,,66

Estas medidas tinham como objetivo a reorganização geral dos

servIços públicos, para o cumprimento de metas ambiciosas em termos de

prazos e resultados. Esta "consciência" de desenvolvimento surge com a

denominada Década do Desenvolvimento - anos 50, proposta pela ONU e

representada no Brasil pelo governo de Juscelino Kubitscheck e seu Plano de

Metas.

Em 1956 a Comissão de Simplificação Burocrática - COSB iniciou a

era das reformas globais propondo-se, entre outros objetivos, a estudar os

meios de descentralização dos serviços mediante delegação de competência,

fixação de responsabilidade e prestação de contas da autoridade. Segundo

M 1· 67 arce mo , "( . .) embora sem atingir seus objetivos, a COSE representou,

(..), a saída da pré-história no que se refere a conceitos, diretrizes e objetivos

da reformulação da Administração Pública brasileira ".

Neste mesmo ano foi criada a Comissão de Estudos e Projetos

Administrativos - CEPA - para assessorar a Presidência da República nas

questões relacionadas aos projetos de reforma administrativa. Os objetivos

pretendidos pela CEPA implicavam principalmente em mudanças nos

66 Veja MARCELINO, Gileno. (1987) op. cit., páginas 19 e seguintes. 67 MARCELINO, Gileno (1987) op. cit, páginas 20-21.

60

Page 61: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

processos administrativos e não apenas mudanças de estruturas, a tônica de até

então, na história da administração pública no Brasil. Na conclusão de seus

trabalhos, a CEPA" (..) publicou quatro volumes com profundas reflexões

sobre a Reforma Administrativa, mas apenas duas das suas medidas foram

implementadas: a criação dos Ministérios das Minas e Energia e da Indústria

C ' . ,,68 e omerclO .

Assim observamos a realização de estudos e projetos não

implementados, mas que servIram de fundamentação para as reformas

posteriores, especialmente a do Decreto-lei nO 200.

Com a instalação da ditadura militar (31/03/64), aconteceram outras

importantes tentativas de reestruturação da administração pública brasileira. O

Decreto-Lei nO 200 (25/02/67), ainda estava, de certa forma, filiado à teoria da

administração científica, mas avançou muito menos do que outros projetos

anteriores, no que se refere à sua preocupação doutrinária, concentrando-se

num enfoque mais pragmático 69. O título XI deste decreto é especifico aos

funcionários civis do Estado, também dispondo sobre o DASP. Este, mesmo

mantendo sua sigla, passou a denominar-se Departamento Administrativo do

Pessoal Civil, e teve suas funções concentradas exclusivamente para a

administração de pessoal.

68 idem.

69 W AHRLICH, Beatriz. op. cit.

61

Page 62: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

o Decreto-Lei nO 200 apresenta-se como uma "carta de intenções" que

estabeleceu conceitos e princípios 70, e não apenas uma norma determinística de

comportamento para a administração pública. Estes princípios são:

• descentralização institucional (criação de empresas públicas e fundações);

• recomendação, dentro do contexto de descentralização, da transferência de

atividades também para o setor privado;

• estabelecimento do conceito de sistemas administrativos para as funções

comuns a todos os órgãos, o que, em princípio, facilitou a descentralização

da gestão de recursos (pessoal, material, finanças).

Com este posicionamento, o Decreto partiu da premissa de que havia

um Estado incompetente e sem solução, e que deveria então basear-se no setor

privado, mais eficaz e barato. Obviamente, existiu algo em comum entre a

orientação privatista deste decreto e a proliferação de empresas e fundações

estatais que ocorreram no país nos anos que se seguiram. Ao invés de tentar

transformar o Estado "incompetente", a solução apresentava propunha a

instalação da denominada "Administração Indireta" , que faria o papel do

Estado mais de forma mais ágil e "eficaz". Nesta época, observamos que um

grande número de empresas privadas foram criadas com a função quase que

exclusiva de atender os contratos do setor público. É o que Castor71 denomina

70 Veja MARCELINO, Gileno (1987) op. cit., páginas 22-23. 71 Ver CASTOR, Belmiro Valverde Jobim e outros. Estado e Administração Pública: reflexões. Brasília, Fundação Centro de Fonnação do Servidor Público - FUNCEP, 1987.

62

Page 63: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

de "um novo tipo de clientelismo ", caracterizado pelos interesses particulares

desenvolvidos à sombra do serviço público.

Em 1969 teve início a revisão da legislação relativa aos funcionários de

que trata a Reforma Administrativa de 1967. No dia 10 de dezembro de 1970

foi promulgada a Lei nO 5.645, que estabeleceu diretrizes para a Classificação

de Cargos do Serviço Civil da União e das autarquias federais.

Esta Lei teve como principais características o plano de classificação de

cargos em aberto, estabelecimento de grupos amplos e o estudo quantitativo e

qualitativo da respectiva lotação e na existência de recursos orçamentários para

fazer face às despesas. Observamos que esta Lei baseou-se nos critérios de

gradualismo, de seletivismo, e da qualificação profissional, representando um

rompimento com a tradição de critérios gerais e uniformes para a classificação

de cargos e a administração salarial, em vigor no país desde a reforma dos anos

3072•

Além disto, vale a pena salientar que esta Lei introduziu o regime de 40

horas semanais, com oito horas diárias de trabalho. O serviço público passaria

assim, gradualmente, a ser uma ocupação que absorvesse o período normal de

trabalho diário do indivíduo, deixando de ser uma atividade, muitas vezes,

complementar.

72 idem.

63

Page 64: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

No dia 18 de julho de 1979, através do Decreto nO 83.740, foi instituído

o Programa Nacional de Desburocratização73, com o objetivo de simplificar e

dinamizar o funcionamento da administração federal, além de reduzir a

interferência do Governo na atividade privada e facilitar o atendimento dos

usuários do serviço público. Foi nomeado, na época, o Ministro extraordinário

- integrante da estrutura da Presidência da República, Hélio Beltrão - para

orientar e coordenar a execução do programa.

como Beltrão considerava a problemática da reforma administrativa não

"(. . .) problema técnico, a ser resolvido apenas através de medidas de reorganização ou racionalização administrativa(. .. ), na verdade, a grande alteração a fazer transcende o campo técnico e o antecede, situando-se no plano cultural e institucional, onde estão enraizadas as causas fundamentais do emperramento e da ineficiência" 74

o Programa Nacional de Desburocratização adotou a filosofia de que

"desburocratizar não é racionalizar,,75 - a proposta era eliminar os vícios de

centralização burocrática, formalismo e desconfiança 76 que a Administração

73 Confira W AHRLICH, Beatriz. Desburocratização e Desestatização: novas considerações sobre as prioridades brasileiras de reforma administrativa na década de 80. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 18(4):72-87, out./dez. 1984b 74 BEL TRÃO, Hélio. Programa Nacional de Desburocratização .. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 15(3):92-119, jul.!set., 1981. 75 idem, página 94. 76 o Programa entendia centralização como a concentração do poder decisório e pouca delegação; formalismo como a idéia de que o documento era mais importante que o fato; e desconfiança como a idéia de que a população deveria provar que não era desonesta, principalmente através de certificados, atestados, certidões e etc.

64

Page 65: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Pública desenvolvera. Esta idéia instrumentalizou-se na ditadura militar

(governo João Figueiredo), através de decretos-lei.

Beltrão coordenou o Programa até fins de 1983, quando, numa

. 77 ·d I d I d b·· entrevIsta , apresentou resumI amente a guns e seus resu ta os o ~etIvos:

"cerca de 300 leis, decretos-lei, decretos, etc, haviam sido expedidos,

acarretando a supressão de 600 milhões de formalidades por ano, na área

78 federar' .

Apesar dos ganhos quantitativos para o contribuinte, esta proposta não

se preocupou em implementar a mudança no plano cultural e institucional, ou

seja, os recursos humanos não tiveram preparação específica para entendimento

do Programa.

o advento da Nova República, inaugurada através de um período de

transição "pactada", ou seja, com ajustes políticos dos detentores do poder e os

representantes dos diversos setores da sociedade, demonstrou uma

continuidade acentuada do regime autoritário em toda a Nova República79•

A Reforma Administrativa do governo de José Sarney fez parte das

demais estratégias de mudanças propostas, como: o Plano Nacional de

Desenvolvimento, a Assembléia Nacional Constituinte, entre outras. O desafio

77 citado em WHARLICH, Beatriz (1 984b). 78 'd " 76 1 em, pagma . 79 Ver MARCELINO, Gileno Fernandes & SOUZA, Eda Castro Lucas de. A proposta de Reforma Administrativa na "Nova República". Algumas reflexões. Anais do xv ENANPAD, volume 6, Salvador, 1991.

65

Page 66: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

dos anos 80, no nosso país, era a instalação de sistemas administrativos que

pudessem acelerar o desenvolvimento e possibilitar ao Brasil o uso efetivo de

seus recursos.

As diretrizes básicas desta reforma eram:

• racionalização e contenção de gastos públicos;

• formulação de novas políticas de recursos humanos;

• racionalização da estrutura da Administração Federal.

A tônica do período Sarney pode ser caracterizada pela reestruturação

do serviço público, com extinção ou fusão de órgãos, e modificações em suas

estruturas, inclusive as relativas a administração direta, além de algumas

medidas com o objetivo de racionalizar gastos governamentais. Em 1986, foi

criada a Secretaria da Administração Pública - SEDAP - e extinto o DASP

(Decreto nO 93.211).

Observamos algumas restrições acerca desta reforma: o fato de ter sido

executada num momento (frágil politicamente) de transição democrática, além

de estarmos atravessando um período de conflito entre o Executivo e o

Legislativo e em processo pré-constituinte. Esta reforma adotou uma estratégia

gradualista e processual: desenvolveu instrumentos que permitissem um melhor

conhecimento ou gestão dos sistemas j á existentes, como os cadastros de

66

Page 67: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

estrutura e do servidor público, bancos de dados eSSenCIaIS a qualquer

propósito futuro de "intervenção cirúrgica" no aparelho estatal80.

Macedo81 expõe, numa publicação da Fundação Centro de Formação

do Servidor Público (FUNCEP) de 1986, a proposta de inovação das políticas

de recursos humanos, aliada às políticas públicas propostas pelo governo da

Nova República. Nesta proposta, temos a preocupação da valorização da visão

sistêmica dos recursos humanos da administração pública, divididos em três

níveis: operacional, técnico, político ou estratégico.

Observamos as seguintes idéias acerca da valorização do

recrutamento; seleção e treinamento: a nível operacional, a volta de uma

educação geral e qualificação profissional mais adequada; no nível técnico,

formação global por especialidade; e a nível político ou estratégico, a criação

do "Programa de formação de dirigentes públicos permanentes", que abarcaria

um curso de mestrado em Administração Pública e um curso (a nível de pós-

graduação) e Estudos Superiores de Administração Pública, dividido nas

seguintes sub-áreas: Finanças, Recursos Humanos e Organização. A

responsabilidade na aplicação e coordenação destes cursos ficaria a cargo da

Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), criada em 19/09/86

80 Ver MARCELINO, Gileno Fernandes. A Reforma do Estado: um novo modelo de reforma administrativa. Anais do XII ENANPAD, volume 2, Belo Horizonte, 1988. 81 Ver MACEDO, Leonidas. Políticas de Recursos Humanos na Administração Pública. Brasília, Fundação Centro de Formação do Servidor Público - FUNCEP, Brasília, 1986.

67

Page 68: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

(Decreto 93.277), com o objetivo de incrementar o treinamento e formação do

funcionário público para execução de tarefas de alta gerência no Governo

Federal82.

Segundo Marcelino, o objetivo pnmeiro da ENAP era preparar o

"Especialista em Política Pública e Gestão Governamental,,83. O processo de

seleção para a primeira turma foi desenvolvido de janeiro a julho de 1988, com

69.989 candidatos inscritos para as 120 vagas disponíveis. Como pré-

condição, os candidatos deveriam ser cidadãos brasileiros, com formação

completa de nível superior, sendo 50% das vagas privativas para os oriundos da

Administração Pública.

Este curso foi estruturado em três etapas que se desenvolveram ao

longo de 18 meses: embasamento, estágio e complementação. Ao se depararem

no decorrer do curso com a falta de uma carreira estruturada (a carreira de

Especialista em Políticas Públicas foi criada em outubro de 1989, através da

Lei nO 7.834/89, e extinta no início do governo Collor, que a transformou em

Analistas de Orçamento - Lei nO 8.126/91) e com a descontinuidade

administrativa - extinção da SEDAP, incorporada à Secretaria de Planejamento

(SEPLAN) e quatro mudanças de diretoria na ENAP - os alunos egressos desta

82 Veja em MARCELINO, Gileno & SOUZA, Eda Castro Lucas de: Escola Nacional de Administração Pública: concepção e avaliação. Revista de Administração, São Paulo, USP, v. 29, n.3, p. 76-83, julho/setembro de 1994. 83 idem, página 80 e seguintes.

68

Page 69: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

turma e da seguinte foram desestimulados, e acabaram desistinto. Somente 76

. d - I d . 84 am a estao ota os na carreIra .

2.3 O Governo Collor de Mello

Podemos caracterizar esta reforma como uma busca de

"(...) modernização do Estado e melhoria da eficiência da máquina governamental; através principalmente de uma política de administração de recursos humanos mais austera,,s5.

As idéias apresentadas concluem que esta reforma segUIrIa uma

orientação para mudanças de cunho quantitativo na máquina governamental,

promovendo o seu "enxugamento".

Marcelin086 afirma que a crise administrativa latino-americana teria

sua origem na debilidade por setores com interesses corporativos. A

construção do "mito do Estado todo-poderoso" nos países da América Latina é

de viés falso e está associada aos regimes militares característicos da história

desta região. Assim, existiriam "disfunções" do "Estado atual", que seriam:

• rigidez do aparato central do governo;

• baixo nível de articulações governamentais;

• problemas de formulação e execução de políticas públicas;

84 dados de 1994. 85 CAST ANHAR, José Cezar. op. cit. 86 MARCELINO, Gileno, 1991, op. cit.

69

Page 70: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

• desentrosamento entre o aparato governamental, e a sociedade e os

cidadãos.

Para Marcelino,

/1(..) não existe uma política de pessoal desde a década de 70, quando o DASP perdeu status. A questão de pessoal é decisiva para o aumento da produtividade, eficiência e eficácia do setor público e se tornou um projeto prioritário do atual esforço de reforma administrativa /I.

Entre as propostas deste autor a respeito de uma estratégia de reforma

maIs eficiente, está o incentivo à participação e motivação dos servidores

públicos, instigando-lhes a idéia de responsabilidade da "coisa pública" .

De fato, a reforma administrativa de Collor tem características muito

maIs "modernizantes" em seu componente de 'desestatização' do que no de

'racionalização'. Cavalcanti & CostaS7, comentam que

/1(..) enquanto o primeiro (desestatização) é respaldado por compromisso ideológico neoliberal mais determinado, o segundo (racionalização) ainda parece estar condicionado aos elementos de uma cultura administrativa burocrático-mecanicista /I.

Segundo os autores, esta estrutura burocrático-mecanicista teria, como

indícios mais visíveis,

/1(..) o uso da hierarquia como 'mecanismo-chave' de coordenação e interdependência, o compromisso com a padronização de estruturas ministeriais e o fortalecimento da chamada 'administração-meio', através da criação das secretarias de administração geral em cada

87 Em CA V ALCANTI, Bianor & COSTA, Frederico. Mudança Organizacional no Setor Público. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 25(1):82-106, nov.1990/jan.l991.

70

Page 71: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

ministério, em detrimento de atribuição de maior auto-suficiência para os órgãos-jim, na gerência dos meios. ,~8

Logo no início de 1990, o novo governo assume uma postura diversa do

governo Sarney, que adotou uma estratégia centralizadora para a administração,

influenciando, inclusive, na elaboração da Constituição de 1988. Esta carta

consolidara - legalmente - a intenção de se fortalecer a administração direta,

através de suas propostas de reforma administrativa. O governo Collor de

Mello propôs uma administração descentralizada e autônoma, que seria

buscada através de uma redução drástica do tamanho do Estado, condensando

Ministérios, e extinguindo órgãos e empresas públicas. Neste caminho, o

presidente tentou fazer cumprir suas idéias de campanha, que prometiam guiar

o Brasil para o neo-liberalismo.

Em março de 1990 foi criada a Secretaria de Administração Federal

(SAF), que tinha como funções, segundo a Medida Provisória 309, de 16 de

outubro de 1992, o

''planejamento, coordenação, supervlsao e controle de assuntos referentes ao pessoal civil da Administração Pública Federal, direta, indireta, autárquica e fundacional, bem assim os referentes aos serviços gerais, à modernização e organização administrativa e aos sistemas e serviços de processamento de dados dessas entidades."

A SAF é um órgão central composto de quatro sistemas: Sistema de

Pessoal Civil (SIPEC); Sistema de Modernização Administrativa (SIDEMOR);

88 idem.

71

Page 72: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Sistema de Serviços Gerais (SISG); Sistema de Administração de Recursos da

Informação e Informática (SISP). Cada um desses sistemas tem como órgão

central e normatizador, um Departamento da SAF. Estes são, respectivamente:

Departamento de Recursos Humanos (DRH); Departamento de Organização e

Modernização Administrativa (DEMOR); Departamento de Serviços Gerais

(DSG); Departamento de Administração dos Recursos de Informação e

Informática (DINFOR).

Esses sistemas acima citados são estruturados através da existência de

uma coordenação geral respectiva em cada Ministério; são os órgãos setoriais.

Nas autarquias e fundações também existem unidades organizacionais

subordinadas a cada um dos sistemas; são os órgãos seccionais. Apesar de

toda esta estrutura, não era raro os órgãos descentralizados se desvirtuarem das

disposições da SAF, por diferentes motivos89. Por isso, foi criada, através do

Decreto nO 223 de 25 de setembro de 1991, a Inspetoria-Geral da SAF,

justamente para fiscalizar o cumprimento das suas ordens. Até o governo

Sarney, a tônica da Administração Pública estava voltada para o

desenvolvimento da administração indireta, já que a administração direta,

segundo seus governantes, não estava preparada para responder às demandas

89 Ver PIMENTA, Carlos César. Aspectos recentes da Organização e das Políticas de Modernização da Função Administrativa Pública Federa/. São Paulo, mimeo., 1993, página 8.

72

Page 73: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

geradas por um Estado que se decidira ser desenvolvimentista (principalmente,

no governo militar).

Desde então, houve um crescimento rápido e desordenado do setor

descentralizado, caracterizado pela empresa pública, e principalmente, pelas

sociedades de economia mista. A situação chegou a tal ponto que, em 1987, a

proporção de funcionários públicos federais estatutários era de 6%, contra 94%

de celetistas90• Já a nova Constituição Federal de 1988 teve características

claramente centralizadoras, como já citado acima. Indicou, inclusive, a

obrigação da implantação do Regime Jurídico Único e planos de carreira para

os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações

públicas. Este Regime foi implementado ainda em 1990, através da Lei nO

8112. Numa tentativa clara de centralização, o governo Collor se contradiz,

quando tenta cumprir esta determinação da nova Constituição. Em 30 de

janeiro de 1991, sanciona a Lei nO 8173, que dispunha sobre o Plano Plurianual

para o qüinqüênio 1991/1995, estabelecendo as metas, diretrizes e objetivos da

Administração Pública Federal para as despesas de capital e outras decorrentes,

além das relativas aos programas de duração continuada. Em paralelo à busca

de uma reestruturação do gasto público federal, o Plano previa um possível

reajustamento das suas condições e limites no contexto social, econômico e

90 PIMENTA, Carlos César. op. cit..

73

Page 74: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

financeiro, através da elevação do nível de eficiência do gasto público,

mediante melhor discriminação e maior articulação dos dispêndios efetivados

para União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Para tanto, o Poder Executivo poderia adotar, entre outras medidas, a

redução da participação dos gastos com pessoal, além de fazer cumprir mais

rapidamente, o Programa Nacional de Desestatização. Apenas em agosto de

1992, através de três decretos91, é que percebemos uma preocupação com o

funcionário público, no que diz respeito a treinamento e desenvolvimento.

Nesta data, foi instituído:

• o Programa Nacional de Treinamento do Servidor Público (PNTS);

• a Comissão Interministerial para realização de diagnóstico de Recursos Humanos;

• a Comissão Especial para revisar e propor alteração em instrumentos legais, normativos e organizacionais relativos à administração de pessoal.

o PNTS tinha como objetivo a promoção de ações voltadas para a

qualificação e a profissionalização dos servidores, da Administração Federal

direta, autárquica e fundacional, além da melhoria da gestão do setor público

federal. Seria aplicado de forma descentralizada, e abrangeria ações de:

a) treinamento de executivos em funções de direção e assessoramento superior;

b) desenvolvimento de pessoal técnico e administrativo, inclusive de nível gerencial;

91 Ver BRASIL, Coleção de Leis e Decretos da República Federal. Brasil, Brasília, 184(8):2422-2426, ago. 1992.

74

Page 75: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

c) qualificação técnica setorial especifica, inclusive de nível gerencial;

d) desenvolvimento de novos métodos e sistemas de gestão pública. 92

o órgão responsável por este programa era o Ministério do Trabalho e

da Administração, através da SAF. Estas ações seriam implementadas de

forma descentralizada, ou seja, não através de unidades próprias de dentro da

administração pública, mas sim através de uma rede de instituições acadêmicas

e de formação profissional já existente.

A Comissão Interministerial tinha como diretrizes a responsabilidade de

elaborar uma levantamento e diagnóstico, num prazo de sessenta dias a contar

de sua instalação, da situação dos recursos humanos da Administração Pública

F ederal direta, autárquica e fundacional. Já a Comissão Especial cumpriria o

objetivo de identificar, analisar e propor alterações em instrumentos legais,

normativos e organizacionais relativos à Administração Pública Federal direta,

autárquica e fundacional. Apesar do decreto, estas Comissões acima descritas

jamais alcançaram seus objetivos, já que, como foi comentado, um mês após

sua criação, aconteceu o impeachment do então presidente Fernando Collor.

Finalizando, o quadro In apresenta um resumo dos movimentos de

reforma administrativa elaborados ao longo da história brasileira.

92 idem, página 2422.

75

Page 76: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

QUADRO IH - Processos de Reforma Administrativa no Brasil

Período Leis/Características Estratégias Séc. XVI-XVIII Início do "Brasil- • Administração por necessidades

burocracia" outubro de 1891 Lei nO 23 - organização • Reacomodação das forças políticas,

da Administração Pública sem mudanças estruturais profundas federal com o novo governo

1936-37 Lei nO 284 - criação do • Primeira grande tentativa de Conselho Federal do sistematização e organização dos Serviço Público Civil serviços públicos

1938-45 Decreto-lei nO 579 - criação • Globalista doDASP • Busca de resultados imediatos

1967-78 Decreto-lei nO 200 - • Fortalecimento da Administração institucionalização do indireta! delegação ' . de maxlma planejamento poderes aos órgãos de linha

1979-82 Programa Nacional de • A burocracia era problema de Desburocratização política, não apenas técnico

• Descentralização das decisões, sem levar em conta o componente comportamental

1985-89 Decreto nO 91501 - • GraduaVprocesso: Comissão Geral de • Racionalização e contenção de Reforma Administrativa - gastos públicos/estrutura da Criação da SEDAP e administração federal extinção do DASP • Formulação de uma nova política de

Recursos Humanos 1990-92 • decretos de 18 de agosto • F ortalecimento das "administrações-

de 1992, instituindo o melO, em detrimento de maior PNTS, a Comissão atribuição de auto-suficiência para Interministerial de os órgãos-fim, na gerência dos Diagnóstico de Recursos melOS Humanos e a Comissão • ser "modernÍzante" na Especial para alterações racionalização e retógrada na em instrumentos desestatização normativos utilizou-se de ' . medidas e • vanas organizacionais relativos provisórias e atos administrativos à Administração de Pessoal

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Page 77: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO

DE RECURSOS HUMANOS NA REFORMA

ADMINISTRA TIV A DO GOVERNO

COLLOR DE MELLO

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Page 78: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

1. DECOMPOSIÇÃO DA POLÍTICA

A política pública analisada apresentou características de cunho

imediatista, ou seja, não foi detectado na nossa pesquisa, nenhum processo

político estruturado, ou eventos seqüenciados de ação. Para exemplificar a

afirmação, descreveremos o processo de formulação de uma política pública,

segundo o modelo de Monteiro93, comparando com o que a realidade nos

apresentou:

FORMULAÇÃO Custo versus beneficio

Forma jurídica Autorização Orçamentária

Agente(s)

GERENCIA IMPLEMENTAÇAO

(1990) MISSAO

OBJETIVOS

POLITICAS (somente para o 0 3)

ESTRA TEGIAS (somente para a P 3)

PROGRAMAS (somente para EI e E2)

EXECUÇAOE AVALIAÇÃO

(1990-1992)

Foi analisado somente a necessidade de implantação de filosofias "neo-liberais" no bojo da prática administrativa. Não houve preocupação com o prejuízo institucional nem moral das demissões dos funcionários, nem com o desmonte indiscriminado da máquina administrativa. Decretos Inexistente Ministério do Trabalho e da Administração, através da SAF

MI : Implementação do denominado "Estado neo-liberal",através da modernização da máquina burocrática OI :Descentralização gestão da Administração Federal O2 : Promoção da autonomia da Administração Direta 0 3: Redução do tamanho do Estado PI: Política Nacional de Desestatização e Privatização P2 : Política de Demissão: 30% de funcionários por órgão P3: Política de Recursos Humanos ( em 1992) EI: Descentralização do Treinamento E2 : Diagnóstico de RH e de suas normas e regulamentos Pr l : Programa Nacional de Treinamento do Servidor Público (PNTS)

Estas duas subfases foram prejudicadas pelas denúncias de corrupção, que culminou no processo de impeachment ocorrido durante o ano de 1993 e na renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello.

93 Confira na página 22 e seguintes do texto.

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Page 79: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

2. O DISCURSO ELABORADO

A partir dos instrumentos fornecidos pela Análise de Conteúdo e

Análise do Discurso, delineamos os seguintes indicativos:

• Corpus trabalhado : três decretos de 18 de agosto de 1992, onde

são observadas as diretrizes do governo federal, a respeito da

política de desenvolvimento de recursos humanos a ser adotada

em paralelo à reforma administrativa, já em andamento (o

corpus será descrito a seguir);

"( .. ) (41) Decreto de 18 de AGOSTO DE 1992:

Institui o Programa Nacional de Treinamento do Servidor Público (PNTS) e dá outras providências

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, incisos IV a VI, da Constituição,

DECRETA: Art. 1 ° Fica instituído o Programa Nacional de Treinamento do Servidor

Público (PNTS), com o objetivo de promover ações voltadas para a qualificação e a profissionalização dos servidores da Administração Federal direta, autárquica e fundacional, assim como para a melhoria da gestão do setor público federal.

Parágrafo único. O PNTS será implantado de forma descentralizada e abrangerá ações de: a) treinamento de executivos em funções de direção e assessoramento superior; b) desenvolvimento de pessoal técnico e administrativo, inclusive de nível

gerencial; c) qualificação técnica setorial específica, inclusive de nível gerencial; d) desenvolvimento de novos métodos e sistemas de gestão pública.

Art. 2° Os recursos para execução do PNTS não serão inferiores a um por cento do valor total das despesas de pessoal civil da União e constarão da dotação orçamentária do Ministério do Trabalho e da Administração.

Art. 3° O Ministério do Trabalho e da Administração, por intermédio da Secretaria da Administração Federal, é o órgão responsável pela implantação, desenvolvimento, coordenação e supervisão do PNTS.

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Page 80: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Art. 4° As ações de treinamento e desenvolvimento de recursos humanos serão implementadas de forma descentralizada, utilizando-se a rede de instituições acadêmicas e de formação profissional já existente.

Art. 5° As ações destinadas à melhoria de gestão da Administração Federal propostas pelos diversos órgãos e entidades ao Ministério do Trabalho e da Administração, verificada a sua importância e viabilidade técnica, poderão ser financiadas com recursos existentes no PNTS.

Art. 6° O Ministro do Trabalho e da Administração constituirá Conselho Consultivo, para auxiliá-lo na formulação das diretrizes e na definição de instrumentos de implantação e acompanhamento do PNTS, ao qual caberá acompanhar e avaliar a execução do programa.

Art. 7° A participação dos servidores na ações do PNTS, de que trata o parágrafo único do art. 1 ~ será computada para efeito de progressão funcional.

Art. 8° Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de agosto de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR Marcílio Marques Moreira João Mellão Neto

(42) Decreto de 18 de AGOSTO de 1992

Cria Comissão Interministerial para realizar diagnóstico de Recursos Humanos e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, art. 84, incisos IV, da Constituição,

no uso da atribuição que lhe confere o

DECRETA: Art. 1 ° Fica criada Comissão Interministerial para realizar, no prazo de

sessenta dias, contados a partir de sua instalação, diagnóstico detalhado da situação dos recursos humanos da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional.

Parágrafo único. A Comissão Interministerial será presidida pelo Secretário da Administração Federal que será substituído, em seus impedimentos eventuais, por integrante da comissão, por ele determinado.

Art. 2° A Comissão Interministerial será composta por um representante de cada Ministério e Secretaria da Presidência da República, indicado pelos

80

Page 81: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

respectivos titulares e designados pelo Ministro de Estado do Trabalho e da Adminis tração.

Art. 3° Haverá em cada Ministério, órgão da Presidência da República, autarquias e fundações, Subcomissão Setorial ou Seccional, diretamente subordinada ao respectivo titular.

Parágrafo único. A coordenação dos trabalhos das Subcomissões fica a cargo do representante designado naforma do art. 2° deste decreto.

Art. 4° As Subcomissões receberão, no prazo de cinco dias após a instalação da Comissão Interministerial, modelo de diagnóstico e a orientação necessários ao efetivo desempenho de suas atividades.

Parágrafo único. As Subcomissões contarão com o apoio técnico e administrativo dos órgãos setoriais ou seccionais de recursos humanos, onde o diagnóstico estiver sendo realizado.

Art. 5° Cabe à Secretaria da Administração Federal (SAF), órgão central do Sistema de Pessoal Civil (SIPEC), a consolidação dos diagnósticos das Subcomissões em Diagnóstico Geral dos Recursos Humanos da Administração Pública Federal.

Art. 6° Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de agosto de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR João Mellão Neto

(43) Decreto de 18 de AGOSTO de 1992

Cria Comissão Especial para revisar e propor alteração em instrumentos legais, normativos e organizacionais relativos à

administração de pessoal e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, art. 84, incisos IV, da Constituição,

no uso da atribuição que lhe confere o

DECRETA: Art. 1 ° Fica criada Comissão Especial com o objetivo de identificar,

analisar e propor alterações em instrumentos legais, normativos e organizacionais relativos à administração de pessoal da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, apresentando conclusões no prazo de noventa dias, contado a partir de sua instalação.

Art. 2° À Comissão Especial compete:

81

Page 82: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

I - identificar instrumentos de natureza legal e organizacional, que dificultem a implantação de modernas técnicas gestão na administração de recursos humanos;

II - definir novos mecanismos de gestão de recursos humanos, principalmente, os que venham incentivar o servidor;

III - elaborar e propor alternativas de instrumentos legais que venham favorecer o efetivo desenvolvimento, a qualificação e o desempenho do servidor.

Art. 3° A Comissão Especial reunir-se-á na sede do Ministério do Trabalho e da Administração.

Parágrafo único. A Secretaria da Administração Federal (SAF) prestará o apoio técnico e administrativo necessários à execução dos trabalhos da comissão.

Art. 4° A Comissão Especial será composta pelos seguintes membros: I - o Secretario da Administração Federal, que a presidirá; II - o Diretor do Departamento de Recursos Humanos da SAF; II - o Diretor do Departamento de Organização e Modernização

Administrativa da SAF; IV - o Presidente da Fundação Escola Nacional de Administração

Pública; V - quatro representantes de notória especialização na área de recursos

humanos do setor público; VI - quatro representantes de notária especialização na área de recursos

humanos do setor privado. Art. 5° Os representantes previstos nos inciso Ve VI do artigo anterior do

artigo anterior serão designados pelo Ministro de Estado do Trabalho e da Administração.

Art. 6° Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de agosto de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR João Mellão Neto ( .. )"

• premissas percebidas no corpus:

a) instituição do PNTS; b) descentralização do treinamento; c) criação das duas Comissões.

82

Page 83: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Assim foram percebidas as seguintes características no corpus:

• O discurso oferecido ao grupo-meta em questão, os servidores públicos

federais, pregava a descentralização no processo do treinamento do

funcionário, sem a preocupação primeira de pesquisar a demanda específica

do servidor, ou seja, que tipo de 'treinamento' e 'desenvolvimento' era

requerido com maior urgência na administração pública federal;

• Utiliza as palavras 'treinamento' e 'desenvolvimento' como sinônimos,

marcando, aSSIm, um dos maIOres equívocos existentes quando

desenvolvemos políticas de recursos humanos94;

• Não é oferecido base sólida orçamentária no decreto, encontramos citações

como 'poderão ser financiadas' (Artigo 5°).

Quando confrontamos o discurso feito com a prática percebida, através

de pesquisa sobre percepção dos gostos do receptor, no caso, os servidores

públicos federais, observamos que nada oferecido a eles se concretizou.

Nas palavras de uma entrevistada, " (..) a única coisa que ele fez foi a

Lei 8.112, que rege o serviço público. É de 11 de dezembro de 90, e não houve

nada de treinamento, até hoje(..) ,,95

A pesquisa sobre a percepção dos funcionários públicos civis da União

acerca do Programa Nacional de Treinamento do Servidor Público (PNTS),

94 vide página 40 do texto (e seguintes) 95 Depoimento a autora, em agosto de 1995 (órgão: IPHAN)

83

Page 84: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

baseou-se em entrevistas, nas quaIs foi solicitado responder as seguintes

questões:

1. Existia alguma entidade representativa dos servidores, à época da reestruturação ou extinção do órgão?

2. Qual foi o destino dos funcionários da sua instituição? (remanej amento/ disponibilidade/permanência! demissão)

3. Houve alguma readmissão após? De quantos funcionários?

4. Você teve conhecimento da proposta do governo Collor, em relação à Política de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos? Algum ato foi concretizado?

5. Os decretos de 19/08/92, que criavam o PNTS e as Comissões (Interministerial para diagnóstico de RH e Especial para revisar e propor alterações em instrumentos relativos à administração de recursos humanos) tiveram alguma repercussão em sua organização?

6. Algum fator externo ou interno contribuiu para o sucesso ou fracasso da implantação do PNTS naquela ocasião?

7. Quais as experiências que você tem conhecimento em relação a Política de Recursos Humanos, durante as reformas administrativas que sua instituição foi submetida?

O objetivo das questões acima era avaliar até que ponto a resistência

dos funcionários era organizada ou localizada nos diferentes órgão do setor

federal, além de conhecer o impacto causado pelo PNTS. Como observamos

nas entrevistas que realizamos, os funcionários pesquisados se reuniram em

"castas" (suas associações), ao longo do processo de implantação do Plano

"Brasil Novo" - no qual o PNTS incluiu-se - e perpetuaram a condição de

agentes passivos do processo de reforma administrativa, por conta do trauma

84

Page 85: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

que se instalou na administração federal ao longo processo de desenvolvimento

da Política de Desestatização e Privatização, aliada à Política de Demissão de

30% de funcionários em cada órgão, no ano de 1990.

Suponhamos que, mesmo que o PNTS tivesse sido concretizado,

inspiraria resistência natural face aos problemas anteriores tidos. Isto é, tudo

que o governo federal propusesse, estaria terminantemente fadado ao fracasso,

por absoluta falta de interesse dos próprios funcionários.

Uma funcionária descreveu o descaso com o investimento96 dado a ela

mesma, em mais de quinze anos de trabalho: (..) era dinheiro que investiam em

cima de mim, e de repente, me abandonam, jogam assim pra ' nada, quer dizer,

d · h . 'd ,?" 97 o governo gastou melro, pra na a ..

Nenhum funcionário de carreira da LBA foi demitido, somente os que

ocupavam cargos comissionados. Estes foram sendo oferecidos à pessoas de

confiança da então presidente, a ex primeira-dama Rosane Malta Collor. Já no

IPHAN, a ordem de 30% de demissão foi cumprida, e dos 70% restantes, 20%

foram postos em disponibilidade e 50% redistribuídos em outros órgãos98• Por

que esta diferença de tratamento? A resposta é simples. A LBA era o órgão

por excelência que incorporava as políticas sociais do governo federal, e muito

96 ao longo de 15 anos na LBA, esta funcionária fez dois cursos de pós-graduação Lato Sensu, um curso de extensão com instrutores de Cuba e outros de pequena duração, todos financiados pelo órgão. 97 depoimento a autora, em julho de 1995 (órgão: LBA) 98 Em dezembro de 1994, 150 funcionários do IPHAN conseguiram na justiça sua reintegração aos quadros, assim como outros, em vários órgão do setor civil federal.

85

Page 86: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

conhecida pela população. Nada mais simples para o governo Collor do que

mediar sua política "liberal-modernizadora" com o controle total do

assistencialismo praticado, manifestando sua veia populista. Assim, em pontos

chaves do órgão, técnicos com anos de experiência foram substituídos por

"( .. )dondocas de perfumefrancês( .. ) " 99.

o PNTS não teve nenhuma repercussão nos órgãos pesquisados. A

LBA já tinha um planejamento de treinamento e desenvolvimento estruturado

para funcionários e para a própria comunidade que ela atendia. O IPHAN não

tinha este planejamento. "( .. ) Aqui aprende-se as coisas na intuição( .. )" ,

citou a funcionária entrevistada. Ao longo da implantação do plano "Brasil

Novo", a formulação de políticas de Recursos Humanos foi retirada da

responsabilidade de cada órgão e concentrada em Brasília, onde o

conhecimento acerca das necessidades de cada funcionário e as particularidades

de cada órgão eram nulos.

A representante da LBA resumIU muito bem a situação da

administração pública federal após o governo Collor: "( .. ) eu acho que, nem

no tempo da ditadura, agente passou tanto sufoco como no tempo do Cal/ar

( .. )". 100

99 depoimento a autora, em julho de 1995 (órgão: LBA) 100 idem.

86

Page 87: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

A seguir apresentamos dois quadros com o resumo das observações

feitas utilizando-se os instrumentos de análise qualitativa, descritos

anteriormente.

Quadro IV: Resumo das Fases da Análise de Conteúdo

FASES DESCruÇAO Descrição Discurso legal Inferência Causa: dar suporte psicológico ao programa de demissão

Antecedentes: sem qualquer preocupação de resgate aos projetos anteriores Conseqüências: frustração em observar mais um projeto não ser concretizado

Interpretação Características: Foi projetado para responder a críticas, mas sem nenhuma planejamento coerente. É a denominada política de cunho imediatista

Quadro V - Resumo das Fases da Análise do Discurso

FASES DESCruÇAO Identificação Organização metodológica confusa, pois utiliza negativas para afrnnar idéias Isolamento Treinamento/Desenvolvimento

Análise Discurso pobre e sem entusiasmo, que se repete utilizando-se de sinônimos usuais ao longo dos três decretos.

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Page 88: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

3. AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DE

RECURSOS HUMANOS NA REFORMA COLLOR

Até hoje, as reformas elaboradas na esfera federal ainda têm como

objetivo a busca da eficiência através do sistema de mérito e da preocupação

excessiva com as atividades-meio, ou seja, caso fosse concretizada a

racionalização, necessariamente teríamos como resultado o aperfeiçoamento

da Administração Pública.

A política desenvolvimento de recursos humanos aplicada durante o

plano "Brasil Novo", pode ser descrita como uma "importação de filosofias de

modernidade", sem a preocupação com estudos aprofundados sobre a situação

real do grupo-meta em questão; além disto, o levantamento e pesquisa

elaborado pela governo anterior foi praticamente ignorado na nova gestão.

Numa publicação de 1989101, Marcelino já demonstrava a urgência em

transformar todo o discurso de mudança em prática, a partir da opção pelos

recursos humanos:

"Reforma do Estado no âmbito do futuro governo, a se ImClar em março de 1990, terá, de fato, apenas duas áreas de interesse: os problemas de administração do pessoal civil e os demais problemas, sendo que o êxito de uma futura reforma vai depender, fundamentalmente, do teor e da profundidade das soluções reformistas que se mostrarem política e tecnicamente viáveis para a administração de pessoal".

101 Confira MARCELINO, Gileno. Administração Pública Brasileira: evolução, situação atual e perspectivas futuras. Revista do Serviço Público. Brasília, 117(2): 105-116, set./dez., 1989.

88

Page 89: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Infelizmente, a proposta em questão não foi considerada, e, somente em

1992 é proposto uma política de desenvolvimento de recursos humanos, a ser

implementado pela SAF.

O PNTS não conseguiu cumprir sua função, pois, com o impeachment

do presidente, um mês após sua aprovação, todo o processo, ainda em fase

inicial, foi abortado, assim como os trabalhos das duas Comissões já citadas.

As entrevistas concretizadas nos mostrou o quanto ainda é dificil

promover políticas coerentes com a realidade que se apresenta hoje. Nos dois

órgãos visitados, as depoentes citaram as dificuldades de estruturar, elas

próprias, seus projetos sobre o desenvolvimento de recursos humanos, já que

não existe mais a expectativa de cumprir a orientação de Brasília.

Preocupadas em administrar as frustrações decorrentes do processo de

demissão imposto em 1990, os profissionais de recursos humanos da esfera

pública federal pouco puderam avançar daquele ano até hoje. No caso do

Treinamento e Desenvolvimento de pessoal, então, não existe absolutamente

nenhuma concretização. Segundo as entrevistadas, guardadas as

particularidades de cada órgão, o único treinamento visto nos últimos cinco

anos aconteceu, nas suas próprias palavras, "( . .) aprendendo as coisas na

intuição ".

89

Page 90: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

o processo de demissão também causou danos irreparáveis nos órgão

visitados. Em cada um deles, profissionais experimentados eram treinados por

longos anos, desenvolvendo-se para participar ativamente da missão da sua

organização, que tinha objetivos específicos e primordiais para a sociedade

brasileira.

A área de Recursos Humanos em ambas as organizações apresentaram

uma diminuição de pessoal especializado e de responsabilidades. Com a

reforma do governo Collor em andamento, a responsabilidade pelas políticas de

Recursos Humanos foi se concentrara na capital do país. Com isso, o

conhecimento específico de cada órgão, suas dificuldades, limitações e

necessidades foram ignorados.

Após um longo caminho de várias reformas administrativas na nossa

história, chegamos à conclusão que esta só poderá concretizar-se se estiver

associada a uma formulação sobre o papel do Estado que se quer reformar. O

governo Collor não concretizou estas idéias, o que ocasionou uma paralisação e

desmonte de várias funções públicas, além de uma concentração de poder nas

mãos de poucos decisores.

Em relação à política de recursos humanos exercida ao longo desta

reforma, podemos caracterizá-la como tendente a uma quase exclusivo

"enxugamento da máquina" administrativa.

90

Page 91: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

Somente em fevereiro de 1993, já no governo Itamar Franco, é

instituído o FUNDASE (Fundo para o Desenvolvimento do Servidor Público),

que garantiria os recursos para a execução do PNTS, a ser implementado pela

ENAp I02• Porém a regulamentação do FUNDASE, não foi suficiente para por

programa em prática. O ano de 1994 não acusou nenhuma grande mudança no

quadro apresentado, a não ser pela aprovação do Código de Ética Profissional

do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, no dia 22 de junho,

através do Decreto nO 1171; e a tramitação do Projeto de Lei nO 4407, que

reformula a Carreira do Servidor Público Federal. Sendo um ano de eleições

presidenciais, observamos que o governo Itamar Franco optou por "administrar

o existente", não se aventurando por reformas grandiosas ou propostas de longa

duração.

102 Veja em CARVALHO, Maria do Socorro M.V. Questões Fundamentais de Recursos Humanos, na Administração Pública. Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Administração. Brasília, 1994 (mimeo.)

91

Page 92: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

92

Page 93: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

1. A DIMENSÃO ESTRATÉGICA DO DESENVOLVIMENTO

DE RECURSOS HUMANOS NO SETOR PÚBLICO

A experiência de treinamento e desenvolvimento de recursos humanos

na Administração direta pública federal apresentou falhas sérias ao longo da

História. Se observarmos alguns aspectos, perceberemos as limitações

existentes. Por exemplo, considerando a Administração Pública federal como

um sistema sócio-técnico que objetiva gerar bens e serviços de forma eficiente,

eficaz , efetiva e democrática e criar um clima organizacional que motive os

funcionários públicos, qual será então a importância da administração de

recursos humanos, principalmente do treinamento e desenvolvimento?

Os responsáveis pela área de recursos humanos devem se preocupar em

serem agentes internos ativos em qualquer processo de mudança a ser

implementado. Através de:

• treinamento e do desenvolvimento adequado a situação vigente;

• democratização das informações; e

• participação ativa dos servidores;

será possível concretizar reformas sem os fracassos anteriores.

A dimensão estratégica do treinamento e do desenvolvimento na

Administração Pública está exatamente na busca de vinculação de seus recursos

humanos aos processos de reforma administrativa, através da idéia de

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Page 94: Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos no …

apresentá-los seu "(..)duplo papel de agentes e beneficiários(..) ,,103 do bom

atendimento às demandas da sociedade. Esta vinculação será responsável pelo

aperfeiçoamento constante das organizações públicas, através do crescimento

humano, profissional e político dos seus recursos humanos.

Então, uma reforma administrativa orientada somente pelos valores

internos da organização (seus padrões de racionalização), ou então,

exclusivamente pelos externos (controle e ênfase nos meios) estará fadada ao

fracasso. Este processo não deve se limitar ao equilíbrio destes valores, mas

também em estabelecer as condições organizacionais mais adequadas ao

atendimento das demandas do ambiente sobre a Administração Pública.

Para que se faça uma reforma voltada para a excelência dos recursos

humanos e voltada para o crescimento do país, deverão acontecer exercícios de

percepção estratégica do treinamento e do desenvolvimento de servidores

públicos. Ou seja, urge assumir a proposta de uma política de Treinamento e

Desenvolvimento estratégica para a inovação do setor público, através de

processos de reforma administrativas coerentes com a particularidade da nossa

cultura burocrática brasileira.

O quadro VI oferece um resumo ilustrativo dos enfoques de

treinamento e desenvolvimento analisados ao longo deste trabalho.

103 Ver MENDONÇA, José Raymundo Andrade. O Treinamento e a Função Estratégica do Desenvolvimento de Recursos Humanos nas Reformas Administrativas. Rio de Janeiro, Revista de Administração Pública, Fundação Getulio Vargas, 21(2):130-141, abr.ljun.,1987.

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Quadro VI: Resumos dos enfoques de Treinamento & Desenvolvimento

ORGAO PERIODO MODELO ASPECTOS ASPECTOS CONDUTOR POSITIVOS NEGATIVOS Departamento de 1938-45 Taylorista; normatização; estilo autoritário;

Administração Fayolista; Planos de apologia da do Serviço Weberiano Cargos e técnica

Público Salários; princípios gerais (DASP) Sistema do da Administração

Mérito aplicáveis a qualquer contexto

Escritório da 1967-69 treinamento Programa concepção Reforma estruturado Intensivo de mecanicista;

Administrativa Decreto-lei Treinamento massificação do (ERA) 200 para a Reforma comportamento

Administrativa Coordenação de 1969-73 integração orientação inexistência de

Assistência reforma seletiva; uma política Técnica da Decreto-lei administrativa e programas com compartilhada e Reforma 200 planejamento e caráter participativa

Administrativa orçamento substantivo (CATRA)

Secretaria da 1973-79 descentralização treinamento aplicação de Modernização da elaboração e centrado no instrumentos sem Administrativa execução e comportamento considerar a

(SEMOR) centralização do realidade acompanhament brasileira, e com

o e avaliação caráter prescritivo ênfase em processos

interativos, invertendo fins e

meIOS privilegiou estrato

superior dos Recursos Humanos

Secretaria da 1985-89 gradualístico e desenvolviment executada em Administração processual o de momento político

Pública instrumentos de difícil de (SEDAP) gestão dos transição política

sistemas de RH Secretaria da 1990-91 enxugamento da Proposta de PNTSe

Administração máquina criação do Comissões Federal (SAF) e administrativa PNTS e das suspensas após o

ENAP Comissões impeachment

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