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espaço aberto Polos de Educação Permanente em Saúde: uma análise da vivência dos atores sociais no norte do Paraná Sônia Cristina Stefano Nicoletto 1 Fernanda de Freitas Mendonça 2 Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho Bueno 3 Eliane Cristina Lopes Brevilheri 4 Daniel Carlos da Silva e Almeida 5 Lázara Regina de Rezende 6 Gisele dos Santos Carvalho 7 Alberto Durán González 8 v.13, n.30, p.209-19, jul./set. 2009 209 COMUNICAÇÃO SAÚDE EDUCAÇÃO Introdução Em 2004, por meio da Portaria GM nº 198/2004, foi instituída a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS) como uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor (Brasil, 2004). A política de EPS objetiva a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tomando, como referência, as necessidades de saúde das populações e a organização da gestão setorial (Brasil, 2007a). Para a condução desta política, foram implantados os Polos de Educação Permanente em Saúde (Peps), instâncias de gestão com uma composição embasada no “quadrilátero” configurado por: gestores estaduais e municipais de saúde; formadores contemplando instituições com cursos para os trabalhadores da saúde; serviços de saúde representados pelos trabalhadores da área, e pelo controle social ou movimentos sociais de participação no sistema de saúde (Brasil, 2004). Para Ceccim (2005a), a EPS pode ser definida como a ação pedagógica que enfoca o cotidiano do trabalho em saúde e o leva à autoanálise e à reflexão de processo. A EPS avança no sentido multiprofissional e na construção coletiva por meio das experiências vivenciadas de novos conhecimentos, que podem gerar novas práticas. Assim, “a política de educação permanente em saúde congrega, articula e coloca em roda/em rede diferentes atores, destinando a todos um lugar de protagonismo na condução dos sistemas locais de saúde” (Ceccim, 2005b, p.977). No Paraná, para uma maior descentralização da política de EPS, foram implantados vinte e dois Polos Regionais de Educação Permanente em Saúde (Preps), correspondentes às regiões abrangidas pelas Regionais de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde. Após essa implantação, cada região - norte, noroeste, oeste, centro sul, campos gerais e leste - articulou a formação de um Polo Ampliado de Educação Permanente (Paeps), expandindo as rodas de discussões e as ações de EPS (Paraná, 2006). Conquistados os espaços de discussão, tornou-se prioritário qualificar os sujeitos envolvidos com a proposta da EPS. Nesse sentido, a partir do 1 Enfermeira. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, 18ª Regional de Saúde de Cornélio Procópio, Seção de Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria. Rua Justino Marques Bonfim, 27, Conjunto Vitor Dantas. Cornélio Procópio, PR, Brasil. 86.300-000 [email protected] sesa.pr.gov.br 2 Enfermeira. Departamento de Enfermagem, Faculdade Integrada de Campo Mourão. 3 Cirurgiã-dentista. 4 Assistente social. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. 5 Fisioterapeuta. 6 Cirurgiã-dentista. Secretaria Municipal de Saúde de Londrina. 7 Farmacêutica- bioquímica. Secretaria Municipal de Saúde de Londrina. 8 Farmacêutico- bioquímico. Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina (CCS/UEL). 9 Marcio José de Almeida. Médico. Departamento de Saúde Coletiva, CCS/UEL.

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ertoPolos de Educao Permanente em Sade:

uma anlise da vivncia dos atores sociais no norte do Paran

Snia Cristina Stefano Nicoletto1

Fernanda de Freitas Mendona2

Vera Lcia Ribeiro de Carvalho Bueno3

Eliane Cristina Lopes Brevilheri4

Daniel Carlos da Silva e Almeida5

Lzara Regina de Rezende6

Gisele dos Santos Carvalho7

Alberto Durn Gonzlez8

v.13, n.30, p.209-19, jul./set. 2009 209COMUNICAO SADE EDUCAO

Introduo

Em 2004, por meio da Portaria GM n 198/2004, foi instituda a Poltica Nacional de Educao Permanente em Sade (EPS) como uma estratgia do Sistema nico de Sade (SUS) para a formao e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor (Brasil, 2004). A poltica de EPS objetiva a transformao das prticas profissionais e da prpria organizao do trabalho, tomando, como referncia, as necessidades de sade das populaes e a organizao da gesto setorial (Brasil, 2007a).

Para a conduo desta poltica, foram implantados os Polos de Educao Permanente em Sade (Peps), instncias de gesto com uma composio embasada no quadriltero configurado por: gestores estaduais e municipais de sade; formadores contemplando instituies com cursos para os trabalhadores da sade; servios de sade representados pelos trabalhadores da rea, e pelo controle social ou movimentos sociais de participao no sistema de sade (Brasil, 2004).

Para Ceccim (2005a), a EPS pode ser definida como a ao pedaggica que enfoca o cotidiano do trabalho em sade e o leva autoanlise e reflexo de processo. A EPS avana no sentido multiprofissional e na construo coletiva por meio das experincias vivenciadas de novos conhecimentos, que podem gerar novas prticas. Assim, a poltica de educao permanente em sade congrega, articula e coloca em roda/em rede diferentes atores, destinando a todos um lugar de protagonismo na conduo dos sistemas locais de sade (Ceccim, 2005b, p.977).

No Paran, para uma maior descentralizao da poltica de EPS, foram implantados vinte e dois Polos Regionais de Educao Permanente em Sade (Preps), correspondentes s regies abrangidas pelas Regionais de Sade da Secretaria Estadual de Sade. Aps essa implantao, cada regio - norte, noroeste, oeste, centro sul, campos gerais e leste - articulou a formao de um Polo Ampliado de Educao Permanente (Paeps), expandindo as rodas de discusses e as aes de EPS (Paran, 2006).

Conquistados os espaos de discusso, tornou-se prioritrio qualificar os sujeitos envolvidos com a proposta da EPS. Nesse sentido, a partir do

1 Enfermeira. Secretaria de Estado da Sade

do Paran, 18 Regional de Sade de

Cornlio Procpio, Seo de Regulao,

Controle, Avaliao e Auditoria. Rua Justino Marques Bonfim, 27,

Conjunto Vitor Dantas. Cornlio Procpio, PR,

Brasil. 86.300-000 [email protected]

sesa.pr.gov.br2 Enfermeira.

Departamento de Enfermagem, Faculdade

Integrada de Campo Mouro.

3 Cirurgi-dentista. 4 Assistente social.

Secretaria de Estado da Sade do Paran.

5 Fisioterapeuta. 6 Cirurgi-dentista.

Secretaria Municipal de Sade de Londrina.

7 Farmacutica-bioqumica. Secretaria

Municipal de Sade de Londrina.

8 Farmacutico-bioqumico.

Departamento de Sade Coletiva, Centro de Cincias da Sade,

Universidade Estadual de Londrina (CCS/UEL).

9 Marcio Jos de Almeida. Mdico.

Departamento de Sade Coletiva, CCS/UEL.

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segundo semestre de 2004, o Ministrio da Sade (MS), em parceria com a Escola Nacional de Sade Pblica (Ensp), iniciou um processo de formao de facilitadores de EPS em todo o pas (Ceccim, 2005c).

Aps trs anos da implantao da poltica de EPS no Paran - considerando todas as articulaes e aes j desenvolvidas nas rodas de discusso at o primeiro semestre de 2006 - tornou-se relevante conhecer este processo, especialmente no momento em que se iniciava a reviso da Portaria GM n 198/2004, processo este que culminou na publicao da Portaria GM/MS no 1.996, em 20 de agosto de 2007 - atuais diretrizes para a implementao da Poltica Nacional de Educao Permanente em Sade (Brasil, 2007b).

Com o objetivo de analisar o processo de implantao e desenvolvimento da poltica de EPS no Paran, foi proposta e encontra-se em desenvolvimento uma pesquisa10 que, em sua primeira dimenso, abrange as seis regies do estado - norte, noroeste, oeste, centro sul, campos gerais e leste - e a segunda, o municpio de Londrina. A finalizao da pesquisa - duas dimenses - est planejada para maro de 2009. o presente artigo apresenta dados da regio norte, considerando que o incio da pesquisa deu-se nessa rea, e cujos dados se encontram sistematizados e analisados.

Trajetria metodolgica

A pesquisa utiliza uma abordagem qualitativa. Segundo Minayo (2006), a abordagem qualitativa se preocupa com um nvel de realidade que no pode ser quantificado, e aprofunda-se no mundo dos significados das aes e das relaes humanas.

Como mtodo de coleta de dados, foram utilizados grupos focais e, para moder-los, construiu-se, previamente, um roteiro, validado por uma especialista, com questes que estimulassem a reflexo coletiva e permitissem a sua utilizao em rodas de conversa. Essa tcnica de coleta foi selecionada por favorecer a construo coletiva do conhecimento (Aschidamini, Saupe, 2004).

As questes norteadoras foram desenvolvidas de forma a instigar uma discusso ampla, abordando temas como: o processo de implantao dos polos, a compreenso da poltica de EPS, as aes implementadas, e as perspectivas quanto ao futuro da poltica de EPS.

Como o presente artigo diz respeito regio Norte, a seleo dos participantes foi realizada pelos coordenadores dos cinco Preps (16, 17, 18, 19 e 22) que compem o Paeps norte. os pesquisadores solicitaram que os sujeitos tivessem participado dos polos desde a sua implantao, sendo quatro pessoas por Preps, buscando contemplar os distintos segmentos do quadriltero. Esse processo resultou na participao dos seguintes sujeitos: seis gestores estaduais, trs gestores municipais, trs docentes representando as instituies formadoras de trabalhadores para a sade, cinco trabalhadores de sade representando os servios de sade, e dois representantes do controle social.

A coleta de dados foi realizada em Cornlio Procpio, sede da 18 Regional de Sade da Secretaria Estadual de Sade, em dezembro de 2006, por meio de dois grupos focais. Cada grupo contemplou a representao dos cinco Preps e dos distintos segmentos representados nos polos. Esta opo no buscou obter e analisar as falas por segmentos e, sim, permitir a expresso das partes para o entendimento do todo em uma roda de EPS.

o material proveniente dos dois grupos foi transcrito e analisado por meio da anlise temtica. Segundo Bardin (1979, p.105), o tema a unidade de

10 A pesquisa est sendo financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e tecnolgico (CNPq), Edital MCt- CNPq/ MS-SCtIE- DECIt N 23/2006,Coordenadora: Elisabete de Ftima Plo de Almeida Nunes.

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significao que se liberta naturalmente de um texto analisado, segundo critrios relativos teoria que serve de guia leitura.

Seguindo as orientaes de Goldim (2000), os participantes foram identificados por cdigos a fim de se assegurar o sigilo de sua identidade. Nesse sentido, cada grupo focal foi identificado com as letras A e B, cujos respectivos participantes foram numerados (A1, A2, ... B1 etc.), conforme a ordem em que se apresentaram nos grupos.

A anlise foi desenvolvida em trs momentos. No primeiro, o material foi organizado e se definiram: as unidades de registro, as unidades de contexto e as categorias. No segundo momento, aprofundou-se a anlise do material reunido e, no terceiro, consolidou-se por completo a anlise.

Deste processo emergiram seis categorias, originando um relatrio preliminar. As categorias aproximaes com a EPS e formatao dos polos e articulaes descreveram o processo de implantao dos cinco Preps e do Paeps norte. Na categoria vivenciando a EPS encontram-se os distintos sentimentos nas primeiras aproximaes com a poltica, a compreenso sobre EPS e a vivncia nos polos. Na categoria atividades desenvolvidas nos polos, foram descritas as aes de EPS realizadas e o desenvolvimento do curso de formao de facilitadores em EPS na regio. Nas categorias percepes acerca do processo de EPS e futuro da poltica de EPS, encontram-se expressas: dificuldades, necessidades, contribuies e percepes a respeito do futuro poltica de EPS.

o presente artigo enfoca a categoria vivenciando a EPS, opo considerada relevante para se iniciar a divulgao dos resultados da pesquisa. os dados das demais categorias esto sendo analisados novamente, em conjunto com as outras cinco regies do Paran, com inteno de torn-los pblicos posteriormente. A pesquisa respeitou os princpios ticos definidos na Resoluo 196/96 (Brasil, 1996), sendo o projeto aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina.

Resultados e discusso

Na categoria vivenciando a EPS, o discurso coletivo dos sujeitos revelou: distintos sentimentos nas primeiras aproximaes com a poltica, a compreenso sobre EPS, e a vivncia nos polos. Esses fenmenos so apresentados nas subcategorias a seguir, para as quais destacamos falas representativas.

Sentimentos despertados nas primeiras aproximaes com a EPS

Na proposta da poltica da EPS, quando se trabalha em rodas no h um comando vertical e obrigatrio. todos podem participar das discusses. Nas rodas, todos os atores podem levantar as necessidades e elaborar estratgias coletivamente que se destinem a intervir na formao e no desenvolvimento dos trabalhadores de sade (Brasil, 2005a). Como as prticas hegemnicas no processo de trabalho em sade so individuais e fragmentadas, esta forma de construo coletiva de aes, para solucionar os problemas levantados no cotidiano, parece algo complexo.

Em suas primeiras aproximaes com a EPS, tendo, ainda, pouco conhecimento sobre a proposta da poltica, os sujeitos relatam que tiveram sentimentos de desconfiana e, at, descrdito em relao ao processo, seguido de resistncia diante do novo, conforme as falas:

No houve um entendimento da construo coletiva [...] no existiu o entendimento que esta construo devesse acontecer. mais fcil receber pronto, do que fazer esta construo (B3);

Essa resistncia que muitas pessoas tm aos Plos e Educao Permanente em Sade, eu acho que [...] medo da mudana [...]. Eu acho que [...] medo do desconhecido [...] (A7).

Rosa (2003) afirma que o novo representa, quase sempre, uma ameaa ordem, ao estabelecido, ao j absorvido e acomodado, portanto, muitas vezes, recebido com reservas. Acrescenta, ainda, que a resistncia no est relacionada com a mudana em si, mas com o trabalho que toda mudana

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desencadeia, o qual consiste em rever-se. tambm, Morin (2002) salienta que o novo pode despertar rejeio em sujeitos, uma vez que, presos s teorias, ficam incapazes de aceitar as novidades.

No campo da EPS, o novo se apresenta. No h passos e receitas prontas para seguir e, assim, sempre se estar lidando com o desconhecido (Matumoto, Fortuna, Santos, 2006). Mas, apesar dos riscos que possam significar este encontro com o desconhecido, fundamental estar receptivo ao novo (Freire, 2006).

Essa recepo ao novo foi sendo possvel medida que foram vivenciando a EPS. Por meio da participao nas rodas de discusso, os sujeitos da pesquisa relataram que, paulatinamente, esses sentimentos e atitudes foram se modificando, e mudanas, ainda que tmidas, aconteceram nos diferentes espaos de trabalho. Pode-se enfatizar:

[...] sentimos que algumas Regionais de Sade reclamam muito que os PREPS s vieram para atrapalhar e no seria isto. Ele veio para a gente estar trabalhando coletivamente, para a gente sair daquelas caixinhas que a gente trabalhava e foi onde ns conseguimos trabalhar realmente com demandas, hoje ns sentimos o trabalho/servio com melhor qualidade [...]. (B2)

A percepo, a vivncia e a admisso, pelos sujeitos, dos desconfortos existentes relacionados s suas prticas de sade que podem, efetivamente, promover mudanas no processo de trabalho (Ceccim, 2005a).

A compreenso da EPS e a vivncia nos polos/rodas

A partir da instituio da poltica de EPS, foram realizados eventos, no mbito do Paran, com o objetivo de disseminar e esclarecer a proposta. Apesar do destaque dos sujeitos da pesquisa em relao importncia destes eventos que contriburam para a compreenso de que a EPS era algo que no vinha pronto, mas deveria ser construdo coletivamente, a partir das demandas locais persistiram dificuldades para se entender a EPS, no somente como instrumento de realizao de projetos e cursos, mas como um processo relacionado mudana de prticas:

Eu achava que era uma instncia que ns amos ter esses parceiros, a formao, o gestor municipal, o gestor estadual para discutir projetos e aprovar projetos. Minha primeira idia foi essa (A2);

A dificuldade maior pensar que Educao Permanente no s projeto, curso [...] tem que ter uma mudana de prtica (A5).

Estas dificuldades podem ser decorrentes das experincias dos sujeitos com as tradicionais ofertas de cursos, comuns nas diversas reas programticas ou de polticas de ateno e vigilncia sade. Este tipo de formao acrescenta aos indivduos conhecimentos para prticas renovadas, aprimora suas competncias e atualiza-os para o desempenho de suas atribuies com responsabilidade, podendo ser, inclusive, utilizada para apreender a EPS. Este processo faz parte do contexto dos trabalhadores de sade. Entretanto a EPS traz um novo enfoque.

A Educao Permanente em Sade (EPS) aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao quotidiano das organizaes e ao trabalho. Prope-se que os processos de capacitao dos trabalhadores da sade tomem como referncia as necessidades de sade das pessoas e das populaes, da gesto setorial e do controle social em sade, tenham como objetivos a transformao das prticas profissionais e da prpria organizao do trabalho e sejam estruturados a partir da problematizao do processo de trabalho (Brasil, 2004, p.5).

A no apreenso dos objetivos da EPS pelos diversos atores envolvidos na sade fez com que os polos espao operacional da poltica fossem, inicialmente, compreendidos como estruturas burocrticas criadas pelo governo para a transferncia de recursos financeiros.

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Este entendimento levou instituies a se envolverem nos polos motivadas pela inteno de atender a seus interesses imediatos, e pela expectativa de que este espao permitiria viabilizar recursos financeiros para seus projetos:

[...] eu no entendia o que estava acontecendo, mas eu entendia que existia um grande interesse financeiro por parte dos segmentos que vinham participar (B7); todo mundo estava focado no financeiro (A9);

[...] o que despertou o interesse do municpio nesse processo de formao foi o incentivo financeiro [...] foi um dos pontos que fez o municpio participar [...] (B5).

o aspecto financiamento, tambm, foi uma das motivaes para a participao de representantes de segmentos. Contudo, no decorrer do processo, medida que os segmentos tinham os interesses viabilizados, seus representantes afastavam-se dos polos, acarretando desmotivao para a participao de outros segmentos. Segue, aqui, um discurso relacionado ao afastamento do segmento das instituies de ensino:

[...] h um distanciamento dos polos porque as instituies formadoras viabilizaram diversos cursos a partir do polo e a alegao deles que eles esto administrando esses cursos e no tem mais tempo para participar do polo [...]. que j comeram seu pedao de bolo e alguns outros setores acabaram, principalmente os municpios, [...] meio que se distanciando. (B1)

Isso no ocorreu somente nos polos aqui estudados. Campos et al. (2006) referiram que a falta de processos sistematizados de acompanhamento das atividades fez com que os polos fossem vistos como fonte de captao de recursos para o financiamento de projetos. os mesmos autores expressam a necessidade de existir uma descentralizao dos recursos financeiros, isto , de repasse fundo-a-fundo - do Fundo Nacional de Sade para os Fundos Estaduais ou Municipais de Sade. Esta sistemtica facilitaria o financiamento de projetos, contudo, no garantiria o acompanhamento das atividades implementadas o que deveria estar previsto nos projetos por meio de indicadores de avaliao de processo e de resultado e, sua anlise, constar no relatrio final das atividades.

Alm do aspecto financeiro, houve outros interesses que motivaram a participao nos polos.

Eu acho que so diversos interesses que convergiram para a composio do polo. Por exemplo: o municpio queria formar seus profissionais sem ter essa viso de formao de servio, as instituies formadoras queriam viabilizar a venda dos seus cursos e viabilizar projetos [...], o controle social queria sua formao [...], junto com os discentes que queriam mais uma participao ativa, mas tambm queriam a formao [...]. (B1)

Merhy (1997) argumentou que, quando se chega a um lugar como um Centro de Sade, que possui trinta trabalhadores, por exemplo, necessariamente encontra-se uma dinmica profundamente complexa, se considerarmos o conjunto de autogovernos em operao e o jogo de interesses organizados como foras sociais. No espao dos polos, isso, tambm, no era diferente. Existiam interesses diversos e, muitas vezes, contrrios entre si, refletindo a diversidade de intenes e caractersticas que envolvem um trabalho coletivo.

Essa diversidade de interesses e a pouca capacidade de negociaes entre os sujeitos fez com que, nas rodas, surgissem atitudes autoritrias em um espao democrtico, como evidenciado:

Como se a gente tivesse num processo de ditadura e democracia [...]. Eu fao um discurso todo democrtico, mas, na hora de efetivar tem que ser assim! A gente se sente um pouco que usado neste processo, onde voc convidado para discutir, onde voc convidado para propor e depois convidado para legitimar. olha, vocs tomaram conhecimento de tudo, mas tem que ser assim [...]. (B9)

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o conjunto de atores com interesses individuais e coletivos divergentes, no mbito dos polos, afetado e afeta a proposta de mudana de prticas feita pela poltica de EPS. Conforme Giovanella (1989), os sujeitos sociais, quando incorporados ao Estado, transformam-se em atores sociais, e, se ligados sade, constituem-se em atores de sade. Em suas aes, esses atores pem em movimento suas capacidades, seu poder, tornando-se foras sociais. No desenvolvimento de aes de sade, cria-se uma relao entre os atores, um campo de foras, que representa a tenso gerada entre os distintos atores ante uma ao proposta por algum deles. A combinao desses campos de fora conforma o espao onde ocorrem as decises, os conflitos e as prprias aes de sade.

os conflitos de interesses presentes nas rodas de discusso, segundo os sujeitos do estudo, em geral, no foram encarados como parte do processo de implantao da poltica e, por isso, foram combatidos. Muitas vezes, o conflito repudiado por causar inquietaes e contrariedade nos sujeitos; porm, por meio desses que se evidenciam diferenas numa sociedade que se empenha em produzir homogeneizao.

Campos (2007) observa que os processos conflituosos fazem parte do cotidiano das pessoas, e aprender a enfrent-los uma forma de ampliar a capacidade de anlise sobre si mesmo, os outros e o contexto, aumentando, por consequncia, a possibilidade de agir sobre estas situaes. Assim, os conflitos, medida que so encarados, trazem consigo a possibilidade de incluso e produo da mudana, movendo as pessoas do lugar da conservao para o lugar da transformao (Brasil, 2005b, p.100).

Compartilhar e refletir sobre as aes coletivamente possibilita a troca de experincias positivas e a amenizao das frustraes. Assim, medida que participantes foram compreendendo a proposta de EPS, no decorrer dos vrios encontros organizados nos espaos dos polos, passaram a participar, a escutar, a conversar, a respeitar as ideias dos outros.

Eu lembro que no comeo o pessoal no vinha. A a partir do momento que eles foram ouvindo [...], fui sentindo que realmente eles comearam a participar, a discutir mais, a trazer realmente os reais problemas [...]. (A9)

Lembro uma certa hora na reunio, j estava todo mundo perdendo a pacincia, ningum tinha o hbito de conversar. Ah! Vamos dividir o oramento [...]. E no fundo, eu acho, que cada um de ns estava querendo aquilo. Vamos cada um cuidar da sua vida [...]. E agora no final desses quatro anos [...] ns conversamos (A1).

Ao lidarem com os problemas do cotidiano, passaram a interessar-se mais pelo processo das rodas. Vasconcellos (1995) afirma que, para aprender, preciso que o objeto de conhecimento tenha algum significado para o sujeito e que, portanto, esse faa parte de sua realidade. Cavalcanti (1999) acrescenta que os adultos esto mais propensos a aprenderem algo que contribua para suas atividades profissionais ou para resolver problemas reais, ou seja, as motivaes mais fortes para o aprendizado de adultos so as internas, aquelas que esto relacionadas com: a satisfao por trabalhos realizados, melhora na qualidade de vida, e elevao da autoestima. Dentro desse raciocnio, a poltica de EPS pode ser considerada como um dos instrumentos impulsionadores da construo de espaos de aprendizagem, para os quais os participantes trazem: suas vivncias, os entraves dos processos de trabalho e as reais necessidades de sade da populao, construindo coletivamente os conhecimentos.

Com a existncia de dilogo, surgiram afirmaes positivas relacionando o comprometimento com o trabalho e com a EPS, assim expresso:

Quem comprometido com o trabalho, com certeza [...] se identifica com a educao permanente em sade (A8);

[...] quando se fala em polo eu no penso em curso, penso em momentos de reflexo (B9).

Para Freire (2001), comprometer-se ser capaz de refletir, agir e refletir. o compromisso favorece

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que o sujeito exponha sua maneira de ser e pensar politicamente, evidenciando seu engajamento com a realidade. Ao experienci-lo, o homem deixa a neutralidade, que apenas reflete o medo do compromisso (Freire, 2006), posio bastante prxima ao que Merhy (2005) chamou de pedagogia da implicao.

os sujeitos da pesquisa relataram que os polos proporcionaram experincias de processos de trabalho em equipe:

[...] foi o trabalhado em equipe, o que eu achei interessante, o que mais me motivou. Ns do controle social, gestor estadual, gestor municipal, todos juntos tentando, ningum sabia nada, [...] todo mundo com dificuldade em entender, foi crescendo, tinha desde servios gerais at o mdico que tambm ouviu a mesma coisa [...] (B5).

Embora, nesses movimentos, possam surgir algumas dificuldades, uma vez que, em uma equipe, so despertadas diversas relaes de afeto, poder, trabalho, sociais e culturais, as quais produzem diferentes formas de pensar e agir (Brasil, 2005b), preciso insistir, porque na medida em que ocorre um trabalho horizontal, em equipe, pode-se romper com conceitos hegemnicos (Almeida, Mishima, 2001).

o trabalho em equipe permite que sujeitos, com habilidades e conhecimentos complementares, se comprometam para atingir um objetivo comum, definido a partir de negociaes e pactuaes entre as pessoas envolvidas (Ribeiro, Pires, Blank, 2004; Almeida, Mishima, 2001; Piancastelli, Faria, Silveira, 2005). Isto permite a elaborao de projetos pedaggicos, teraputicos e sociais que se destinem a atender as reais necessidades de sade de uma pessoa/famlia/grupo/populao no mbito do SUS (Brasil, 2005b).

o estudo de Farah (2006), realizado com profissionais da equipe sade da famlia e profissionais das esferas federal, estadual, municipal e regional, tambm reconheceu na EPS uma oportunidade para fortalecer o SUS.

o resultado deste estudo e as experincias vivenciadas e relatadas pelos sujeitos da pesquisa corroboram com a afirmao de Ceccim (2005b), ao reconhecer a capacidade da poltica de EPS para articular e mobilizar diferentes atores, destinando a todos o papel de protagonistas/sujeitos na conduo dos sistemas de sade no mbito do SUS. Este mesmo autor, em parceria com Merhy e Feuerwerker, valoriza o aspecto poltico da EPS, ao afirmarem que sua implementao indispensvel para a consolidao do SUS (Merhy, Feuerwerker, Ceccim, 2006).

Consideraes finais

Houve um esforo, na comunicao escrita deste artigo, para apresentar a dinmica do processo de vivncia dos atores sociais dos polos de EPS da regio norte do Paran. Contudo, dada a multiplicidade de informaes geradas nesse processo, no seria possvel registrar a totalidade dos acontecimentos.

Nos Polos/Rodas, os sujeitos experimentaram desconfortos, evidenciaram conflitos e vivenciaram experincias que proporcionaram condies para a superao da compreenso desses espaos como mera fonte de captao de recursos para financiamento de projetos; e para a percepo da EPS como um processo que est relacionado mudana de prtica, possvel a partir da problematizao do processo de trabalho.

tais experincias tambm permitiram o reconhecimento e o respeito s diferenas, ao proporcionarem espaos de escuta, de conversa - de dilogo.

Houve, sobretudo, o reconhecimento da capacidade da EPS em articular e mobilizar atores - gestores, formadores, trabalhadores de sade e sujeitos envolvidos em movimentos sociais e no controle social - que, trazendo, para os espaos dos polos, suas vivncias, fizeram com que essa estratgia ganhasse significado como uma possibilidade ou construo coletiva do conhecimento.

indispensvel registrar que, no decorrer da realizao da pesquisa nos polos do Paran, e, posteriormente, na coleta dos dados na regio Norte, importantes acontecimentos envolveram a poltica de EPS.

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Colaboradores

os autores Snia Cristina Stefano Nicoletto, Fernanda Freitas Mendona, Vera Lcia Ribeiro de Carvalho Bueno, Eliane Cristina Lopes Brevilheri, Daniel Carlos da Silva e Almeida, Lzara Regina de Rezende participaram desde a elaborao do projeto at a redao final do artigo. os autores Gisele dos Santos Carvalho e Alberto Durn Gonzlez participaram a partir da fase de coleta de dados at a redao final do artigo. o autor Marcio Jos de Almeida acompanhou desde a elaborao do projeto at a redao final do artigo, como coordenador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento de Recursos Humanos em Sade (GPDRHS/CNPq), do qual todos os autores deste artigo so membros.

Referncias

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Com o Pacto pela Sade em 2006, gestores, representados pelo Conselho Nacional de Secretrios de Sade (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade (Conasems), debateram acerca da importncia de os polos serem consolidados no mbito do SUS. Esse movimento, somado s recomendaes da 3a Conferncia Nacional de Gesto do trabalho e Educao na Sade (3a Conagetes), resultaram no contedo da Portaria GM no 1.996, de 20 de agosto de 2007, que substituiu a designao Polos pelas Comisses Permanentes de Integrao Ensino-Servio em Sade (Cies), tal como prev a Lei Federal n 8.080/90 (art. 14), vinculadas aos Colegiados de Gesto Regional em Sade (CGRS). Isso foi um modo de dar forma designao da regionalizao e hierarquizao no SUS, em rede nica, sistmica, orientada pela integralidade, descentralizao e participao popular.

As modificaes promovidas indicam perspectivas positivas para fazer avanar a Poltica Nacional de Educao Permanente em Sade - uma das grandes estratgias para o fortalecimento do SUS.

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A poltica de Educao Permanente em Sade (EPS) destina-se ao desenvolvimento dos trabalhadores da sade. Pretendendo analisar o processo de implantao e desenvolvimento da poltica no Paran, uma pesquisa qualitativa, envolvendo as seis regies do estado, est sendo concluda. Este artigo refere-se aos primeiros resultados da regio norte, focalizando a categoria vivenciando a EPS. Em dezembro de 2006 realizaram-se dois grupos focais, envolvendo representantes da gesto, formao, ateno e participao. os dados foram submetidos a anlise temtica de contedo. Nas primeiras aproximaes com EPS surgiram sentimentos de desconfiana e resistncia e o polo foi compreendido como meio de viabilizar cursos e fonte de financiamento. observaram-se diversidade de interesses e pouca capacidade de negociao. No transcorrer do processo, os integrantes do estudo comearam a conversar, refletir e participar. Experimentaram positivamente o trabalho em equipe. Esta vivncia permitiu reconhecer a potencialidade da EPS em articular e mobilizar diferentes atores.

Palavras-chave: Educao permanente em sade. Poltica de sade. trabalho em sade. Educao continuada.

Centers for Permanent Healthcare Education: an analysis on the experience of social players in the north of the State of Paran

the policy of continuing healthcare education (CHE) aims to develop healthcare workers. With the objective of analyzing the process of implementing and developing the policy in Paran, a qualitative study involving the six regions of this state is being concluded. this paper relates to the results from the northern region, focusing on the experiencing CHE category. In December 2006, two focus groups were conducted involving representatives from management, training, attendance and participation. the data underwent thematic content analysis. the first CHE encounters aroused feelings of mistrust and resistance, and the center was understood as a means of enabling courses and funding sources. there was a diversity of interests and little negotiating capacity. During the process, the study participants began to talk, reflect and participate. their teamwork was a positive experience. this experience allowed them to recognize the power of CHE for linking and mobilizing different players.

Keywords: Continuing healthcare education. Healthcare policy. Healthcare work. Continuing education.

Polos de Educacin Permanente en Salud: un anlisis de la vivencia de los actores sociales en le norte del estado brasileo de Paran

La poltica de Educacin Permanente en Salud (EPS) busca el desarrollo de los trabajadores de la salud. tratando de analizar el proceso de implantacin y desarrollo de la poltica en Paran, una pesquisa cualitativa comprendiendo las seis regiones del estado se est concluyendo. Este artculo se refiere a los primeros resultados de la regin norte enfocando la categora viviendo la EPS. En diciembre de 2006 se realizaron dos grupos focales, abarcando representantes de la gestin, formacin, atencin y participacin. Los datos se sometieron a anlisis temtico de contenido. En las primeras aproximaciones con EPS surgieron sentimientos de desconfianza y resistencia. El polo se comprendi como medio de viabilizar cursos y fuente de financiacin. Se observ diversidad de intereses y poca capacidad de negociacin. En el transcurso del proceso los integrantes que participaron del estudio empezaron a conversar, reflexionar y participar. Experimentaron positivamente el trabajo en equipo. Esta vivencia permiti reconocer la potencialidad de la EPS en articular y mobilizar diferentes actores.

Palabras clave: Educacin permanente en salud. Poltica de salud. trabajo en salud. Educacin continua.

Recebido em 06/11/07. Aprovado em 03/08/08.