Política Nacional de Humanização e a Enfermagem

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    Cincia, Cuidado e Sade Maring, v. 5, n. 3, p. 398-406, set./dez. 2006

    REFLEXES SOBRE A POLTICA NACIONAL DE HUMANIZAO E SUASINTERFACES NO TRABALHO DA ENFERMAGEM EM INSTITUIO

    HOSPITALAR

    Patrcia Klock * Jeani Wechi **

    Gisele Vieira Comicholi *** Josiane de Jesus Martins ****

    Alacoque Lorenzini Erdmann *****

    RESUMO O presente artigo teve como objetivo refletir sobre a Poltica Nacional de Humanizao de Assistncia Hospitalar e a relaoda mesma com o trabalhador / trabalho da Enfermagem. Aponta com base em vivncias prticas e respaldo da literatura o quepode ser vivel, (re)construdo ou (re)criado, para que a Poltica Nacional de Humanizao se concretize e, que o trabalhadorde sade, aqui especificamente da enfermagem, seja valorizado, potencializado e reconhecido nestas prticas. A atuao

    profissional dos sujeitos trabalhadores da enfermagem fundamental para a concretizao do processo de humanizao naateno em sade. A efetivao da Poltica de Humanizao requer que o trabalhador seja acolhido, cuidado e educado emcondies de trabalho compatveis com a filosofia desta Poltica. A humanizao no pode estar vinculada apenas qualidade do cuidado prestado, devendo reconhecer a subjetividade do trabalhador criando possibilidades para a expressode todas as potencialidades do mesmo.

    Palavras-chave: Humanismo. Enfermagem. Poltica de sade.

    * Enfermeira assistencial da UTI neonatal do Hospital Universitrio da Universidade Federal de Santa Catarina(HU/UFSC), Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administrao de Enfermagem e Sade GEPADES.

    ** Enfermeira assistencial da CMIII do HU/UFSC.*** Enfermeira assistencial da CMIII do HU/UFSC e Professora substituta do departamento de enfermagem da UFSC.****Enfermeira do HU/UFSC, Doutoranda em Enfermagem PEN UFSC. Docente do Curso de Graduao em enfermagem

    da UNISUL.*****Enfermeira, Doutora em Filosofia da Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da UFSC. Coordenadora

    do GEPADES.

    INTRODUO

    A escolha por este tema, Humanizaohospitalar e sua inter-relao com otrabalhador de Enfermagem, emergiram denossa vivncia como enfermeiras assistenciaisde um hospital de ensino pblico e docentesem curso de Graduao e Ps Graduao.Percebemos em nossa prtica que otrabalhador de enfermagem poderia recebercuidados mais adequados para que possa entoser cuidado e cuidar de si, na tentativa deevitar comprometimentos em sua qualidade devida e da assistncia que presta aos usuriosdos servios de sade.

    Parece que quando o trabalhador deenfermagem no recebe cuidados adequados,esta situao colabora para que suas aes

    quase sempre sejam desprovidas desentimentos e emoes, tornando-se mecanizadas,o que leva realizao de um trabalho em que asubjetividade e a potencialidade do trabalhadorso inexpressivas. Pois, este trabalhadorpertence a uma equipe de trabalho sendo:

    que muitas vezes, propicia odesenvolvimento do processo dedespersonalizao e despojamentodesses pacientes, e estas situaesprecisam ser repensadas no sentidode se buscar mecanismos que possammodific-las (NASCIMENTO; MARTINS,2003, p. 16).

    O cuidado desumanizado ao trabalhador mais percebvel quando o usurio externo visto como um nmero, uma patologia, um

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    rgo, quando deveria ser visualizado ecuidado como ser humano. A humanizao ento compreendida como um processo deSER HUMANO. Neste sentido, o fomento aautonomia e a cristalizao do protagonismodos sujeitos envolvidos no processo de cuidare ser cuidado pode ser compreendido tambmcomo humanizao

    Nestes termos, o que significa, ento, ahumanizao do cuidado em sade? Se ocuidado, na sua essncia humano, necessitaele ser novamente humanizado? Os programase/ou polticas de humanizao seriam capazesde humanizar o ser humano que na suaessncia cuidado e este, por sua vez, serhumano? A temtica da humanizao, todavia,no se esgota na dimenso do cuidado, mesmo

    que aqui se pretende traar um olhar crticosobre sua amplitude. Cada vez queaprofundamos nossa anlise, sobre asinterfaces da humanizao e o trabalho daenfermagem, mais claro fica a idia de que sonecessrias alteraes no mundo do trabalho eno modo de produzir sade.

    Deslandes (2004), afirma que o conceito dehumanizao da assistncia precisa ser maiselaborado e deve estar atrelado s diretrizes dotrabalho em sade e que envolva ostrabalhadores, gestores e usurios. Ahumanizao no pode estar vinculada apenas qualidade do cuidado prestado, devendoreconhecer a subjetividade do trabalhadorcriando possibilidades para a expresso daspotencialidades do mesmo.

    Se ainda no possvel identificar compreciso o conceito de humanizao, os artigosproduzidos, de forma mais intensa, na ltimadcada, tm em comum a reflexo sobre aHumanizao do Cuidado em Sade,demonstrando a fora propulsora, dinamizadora erevolucionadora docuidado no processo desade, mesmo que carregado de vieses e

    contradies.Entende-se como humanizao,a valorizao dos diferentes sujeitosimplicados no processo de produode sade: usurios, trabalhadores egestores. Os valores que norteiamesta poltica so a autonomia e oprotagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o

    estabelecimento de vnculos solidrios ea participao coletiva no processo degesto (BRASIL, 2004, p. 05).

    A humanizao pode tambm sercompreendida como a democratizao dasrelaes entre os trabalhadores, usurios,gestores. Um modelo de produo do cuidadomais resolutivo, centrado na comunicao,troca de informaes e saberes, dilogo,escuta, partilha das decises centradas nostrabalhadores, gestores e usurios. Humanizarvisa o processo de subjetivao para produzircuidados em sade combatendo adespersonalizao, e reconhecimento erespeito ao outro com distino cultural. Ahumanizao depende, portanto, doaperfeioamento do sistema de gestocompartilhada e das relaes cotidianas, demudanas nas estruturas das organizaes emudanas comportamentais dos envolvidos noprocesso de produo de sade e de cuidado.

    A humanizao impe o enfrentamento dedois desafios, isto , o desafio conceitual e odesafio metodolgico. Para tanto, sernecessrio redefinir o conceito a partir doreencantamento do concreto a fim de que ahumanizao possa ser percebida comoestratgia de interveno nas prticas locaismobilizadoras, transformando realidades,primeiramente transformando a si (sujeitoenvolvido). Humanizar sugere alteraes nomodo de fazer, de trabalhar e produzir sade.Humanizar exige sintonia com o modo defazer e o como se deve fazer. Necessita dainseparabilidade da produo dos processos emudanas dos sujeitos envolvidos com aproduo da sade (BARROS; PASSOS, 2005).

    Quanto se valoriza estas questes,favorecemos a horizontalizao de nossasaes, incluindo trabalhadores, usurios egestores em todo o processo de produo dos

    servios de sade. Assim, favorecemos osdiferentes saberes e a valorizao do outro.Para conciliar a humanizao da assistncia no

    trabalho em sade, foi implantada em 2000 aPoltica Nacional de Humanizao daAssistncia Hospitalar (PNHAH), cujosprincpios norteadores enfocam uma prticahumanizada, incluindo o trabalhador como

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    usurio do sistema e participante ativo domesmo.

    Para Leopardi, Gelbcke e Ramos (2001, p.35), a enfermagem:

    um trabalho complexo que combinatrs aes bsicas no dissociadas, ouseja, a educao em sade, o cuidadoe a gerncia dos sistemas deenfermagem.

    Salientamos que estas aes devem estaratreladas ao processo de trabalho para que serealize o atendimento humanizado tanto para ousurio dos nossos servios de sade(enfermagem), como para os trabalhadores deenfermagem.

    A enfermagem se mostra como umtrabalho complexo por envolver mltiplasaes em ambiente de mltiplas relaes,compartilhadas por diversos atores sociais.Alm de educao, cuidado e gerncia, outrasdimenses configuram estruturas diversassendo mais reconhecida a de cuidarinvestigando, educando e gerenciando e a demediar o pensar e fazer integrando diferentesmodos de cuidar: cuidado solidrio, cuidadopresena, cuidado relacional, cuidado amoroso,cuidado transdimensional, cuidado holstico,cuidado complexo, cuidado compartilhado,cuidado sensvel, dentre outros.

    O sistema de cuidado, segundo Erdmann(1996, p. 96),se configura por movimentos/ ondulaes de relaes, interaes eassociaes em estruturas e propriedadesde processos auto-eco-organizadoresde dimenses variadas de cuidado.Estas so desde o cuidar de si, de si junto com o outro, de sentir o sistemapessoal processar o cuidado do corpopor si prprio, de ser/estar no sistemade relaes mltiplas de cuidado at adimenso de cuidado com a naturezaintegrando-se com os demais sistemassociais/naturais, fortalecendo osentimento de pertena, aproximandoos seres na busca de melhorsobrevivncia/vida/civilidade humana.O cuidado uma atividade humanacriativa e sensvel frente o estar como outro, um ato de familiarizao,de compreenso, de demonstrao dehabilidades tcnicas e de sentimentosprprios de cada profissional

    cuidador que vivencia emoes esensaes, agradveis e confortveis,e s vezes, dolorosas e angustiantes. a partir do Ser Humano, com ele,nele e para ele que o cuidado humano

    acontece e se mostra significativo parao viver a vida.

    Diante destas concepes de enfermagem ede cuidado vislumbra-se a prtica daenfermagem como profisso centrada nasrelaes humanas, nas relaes de cuidadohumano, cuidado este realizado por aesintersubjetivas medial nos seres humanos.

    Portanto, humanizar um verbo queprecisa ser conjugado cotidianamente econtinuadamente. Tornam-se vitais ashabilidades humanas de cuidado mtuo paraque o trabalhador da enfermagem incorporeem sua prtica diria, em suas aes decuidado, o ato de humanizar tornando-seconsciente de sua importncia no processo deproduo do trabalho em sade. Urge da anecessidade de se estabelecer uma novarelao entre trabalhador de enfermagem,gestores e usurios para que o ambientehospitalar seja mais acolhedor, propiciando acriao de vnculos e a resolutividade. Nestesentido com a participao dos trabalhadores ecom cuidados direcionados aos mesmos,

    teremos a possibilidade da realizao deservios em sade de forma integral e dequalidade para todos.

    Este artigo teve como objetivo refletirsobre a Poltica Nacional de Humanizao deAssistncia Hospitalar e a relao da mesmacom o trabalhador / trabalho da Enfermagem.Aponta com base em vivncias prticas erespaldo da literatura o que pode ser vivel,(re)construdo ou (re)criado, para que aPoltica Nacional de Humanizao (PNH) seconcretize, e que o trabalhador de sade, aquiespecificamente da enfermagem, sejavalorizado, potencializado e reconhecidonestas prticas.

    A seguir, destacaremos alguns aspectos daPNHAH refletindo sobre a realidade quevivemos cotidianamente, apresentandoquestionamentos como possibilidades deavanar nas perspectivas de Humanizar oTrabalho e o Trabalhador da Enfermagemcomo sujeitos tambm responsveis por esta

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    Poltica. Assim, acreditamos que discutir umpouco as interfaces do trabalho da enfermageme a PNH pode configurar em possibilidades demudanas no setor da sade.

    Poltica Nacional de Humanizao daAssistncia Hospitalar PNHAH

    Instituda em 2000, a Poltica Nacional deHumanizao da Assistncia Hospitalar -PNHAH- (BRASIL, 2001) tem como objetivo apromoo de uma cultura de atendimentohumanizado na rea da sade, bem como,reduzir dificuldades encontradas durante otratamento dos usurios e favorecer arecuperao da comunicao entre a equipe deprofissionais de sade, o doente e a famlia -

    diante do momento de fragilidade do paciente -atravs da melhoria na qualidade daassistncia e reduo dos custos.

    Destaca-se que a Poltica busca absorver osavanos derivados das novas tcnicas deadministrao hospitalar que podem advir daadoo de uma tica universalista deatendimento humanizado, fundada no respeito singularidade das necessidades dos usuriose dos profissionais.

    Nesta perspectiva integradora, o conceitode humanizao adquire um carter transversale vincula-se a um conjunto de condies erelaes que se estabelecem no processo detrabalho e atendimento hospitalar (BRASIL,2001).

    Entre as principais aes promovidas pelaPoltica, incluem-se:

    Formao de grupos para aelaborao de polticas de atendimentohumanizado;

    Capacitao de profissionais com umnovo conceito de assistncia, para a elaboraode projetos locais de humanizao;

    Catalogao de experincias de

    humanizao que vm sendo implementadasem diferentes regies do pas; Realizao de pesquisas para avaliar

    as condies de humanizao do atendimentonos hospitais da redeSUS;

    Criao do Portal Humaniza, quesistematiza todas as informaes relativas Rede de Humanizao implementada pelaPNHAH.

    A PNHAHpretende que os profissionais dasade cuidem do ser humano na sua totalidade,exercendo uma ao preferencial em relao asua dor e ao seu sofrimento, nas dimensesfsica, psquica, social e espiritual, comcompetncia tecno-cientfica e humana.Enfoca como seu objetivo fundamentalaprimorar as relaes entre profissional desade e usurio, dos profissionais entre si, e dohospital com a comunidade.

    Ao valorizar a dimenso humana esubjetiva, presente em todo ato de assistncia sade, a PNHAH aponta para uma re-qualificao dos hospitais pblicos, quepodero tornar-se organizaes maismodernas, dinmicas e solidrias, emcondies de atender s expectativas de seus

    gestores e da comunidade (BRASIL, 2000).Nosso olhar para a realidade vivenciada

    pelo trabalhador da enfermagem em umainstituio hospitalar

    Todo cidado brasileiro tem direito eacesso ao Sistema nico de Sade (SUS),entretanto, na prtica observamos certosentraves que dificultam a assistncia comopreconizado pelas diretrizes sendo:Universalidade, Equidade e Integralidade. Nonvel hospitalar, responsvel por atendimentossimples aos de alta complexidade, observamosque a crescente demanda por busca de serviosde sade especializados gera problemas como:morosidade para o agendamento das consultascom especialistas (mdicos), demora pararealizao de exames diagnsticos(Ultrassonografia, Endoscopia, Tomografia,etc.), filas de espera. Estes fatos acarretamtambm em demora para a definio dediagnstico(s) mdico(s) e conseqentementepara o tratamento necessrio.

    Casate e Corra (2005, p. 107), afirmam

    que: a falha no atendimento, como longasesperas para consultas, exames,deficincias nas instalaes eequipamentos, bem como falha naestrutura fsica so apontadas desde adcada de 50 at os dias atuais comosituaes desumanizantes no ambientehospitalar. Tais situaes socontraditrias com os princpios da

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    poltica Nacional de Humanizao eocasiona tambm, aos trabalhadores,incluindo os da enfermagem, certodesgaste psquico.

    Algumas vezes a precariedade ouinexistncia de servios na rede bsica,influencia os usurios a procurarem o hospitalpara solucionar seus problemas de sade. Abusca constante pelos servios hospitalarespode gerar lotao das emergncias emorosidade no atendimento.

    Afinal, a crescente demanda ou a falta deestrutura que ocasiona tal situao? Estaestrutura somente de rea fsica ou humana?

    Discute-se muito atualmente a humanizaoda assistncia, porm acreditamos que oshospitais esto pouco estruturados para esta

    nova poltica de sade. necessrio investirno apenas nos trabalhadores, realizandocapacitao, tendo o nmero adequado destes,como tambm repensar e redimensionar a reafsica que muitas vezes no comporta ademanda atual, mesmo que se constatemindicadores de ociosidade de leitos hospitalares.

    Os trabalhadores da rea da sade, pelabaixa remunerao salarial, na tentativa de teruma vida mais digna financeiramente,normalmente tm dupla e s vezes at tripla jornada de trabalho. Esta situao pode geraralteraes no convvio familiar ocasionandosituaes de tenso e tambm de baixaprodutividade. Casate e Corra (2005)enfatizam a importncia de se investir emambiente adequado, recursos humanos,remunerao digna e conseqentementemotivao para o trabalho, promovendoatividades educativas que permitam odesenvolvimento de competncias para cuidar.Ainda, segundo estes autores anteriormentecitados, a humanizao se confronta ao longodos anos com o desenvolvimento tecnolgico.

    Backes, Lunardi Filho e Lunardi (2005),

    destacam o surgimento da tecnologia comoponto que compromete a humanizaohospitalar, pois o cuidado passa a assumircaractersticas cada vez mais especializadas ecomplexas e menos caritativas, caractersticado trabalho realizado durante muitos anos porreligiosos e voluntrios. Reforam que ahumanizao parece no acompanhar o avanotecnolgico assim como a complexidade e

    satisfao da assistncia. A humanizao vaialm de um ambiente hospitalar adequado,passando pela sociedade, instncias polticas,econmicas, tecnolgicas e pela organizaodo trabalho.

    O tratamento humanizado requer mudanade atitudes e comportamentos e articulaoentre conhecimento tcnico cientfico easpectos afetivos.

    Portanto, conforme o manual daPNHAH,este processo nos coloca frente a uma duplatarefa, que refletir sobre a realidade dosistema de sade e a particularidade de cadainstituio, criando solues criativas paraenfrentar os desafios e otimizar asoportunidades.

    Se preconizarmos um cuidado humanizado

    se torna primordial a ateno tambm comfamiliar/acompanhante que disponibiliza seutempo para acompanhar o tratamento de seufamiliar ou ente querido. Para isso se fazemnecessrias condies humanizantes para oacolhimento desses acompanhantes, comolocal adequado para realizar sua higiene econforto, refeies, assistncia social epsicolgica. Necessrio tambm, propiciarcondies ao trabalhador para o exerccio desuas funes, sendo estas de carter educativo,financeiro e valorizao profissional.

    Diante do que foi exposto pode-se afirmarque o trabalhador fundamental para aconcretizao do processo de humanizao naateno em sade. Somente poderemos ter aconcretizao desta Poltica de Humanizaose o trabalhador for acolhido, cuidado eeducado em condies de trabalho dignas,ticas e humanas.

    Como Humanizar o Trabalho daEnfermagem Hospitalar reconhecendo os

    Trabalhadores como sujeitos humanoscompetentes para um trabalho humano?

    a) Sensibilizao das equipes - A PNHAHsugere uma sensibilizao da altaadministrao dos hospitais para implantar umprograma permanente de humanizao doatendimento sade do usurio e do trabalhodos profissionais de sade, porm no deixaclaro de que forma isto poder ser aplicado naprtica, e como esta sensibilizao pode

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    acometer os demais profissionais da instituio,visto que a instituio hospitalar permeada

    principalmente pelo modelo biomdico.Considerando-se ento em uma grandemudana estrutural, como abrir espao para tal?

    Um grande desafio hoje encontrado estimular e incentivar, de modo realmenteprodutivo e claro, o trabalhador da sade,dentro da esfera hospitalar, no sentido decapacit-lo para o uso de suas potencialidadescomo tambm, para que utilizem na prtica asaes preconizadas pelaPNHAH.

    De que forma estas propostas dehumanizao so incorporadas as regras,hierarquias, negociaes das instituies desade? (DESLANDES, 2004).

    Deslandes (2004, p. 9) ressalta ainda que,a construo de organizaes queestimulem os trabalhadores avalorizar todos os usurios durantetodo o seu processo de trabalho, eque estas pessoas (usurios externos),como eles prprios (usuriosinternos), tm interesses e desejoscom os quais se devem compor umcaminho forte para se construir umnovo modo de convivncia, assimperpetuando as aes humanizantes.

    b) Gesto participativa - Os gestoresprecisam se fortalecer e buscar um modo decompartilhar o espao de poder e autonomia,para que a gesto participativa se dissemineainda mais entre os profissionais,proporcionando prioritariamente boascondies de trabalho e o modo de comoestabelecer tais condies.

    Atualmente temos um modelo de gestoparticipativa, porm precisamos evoluir aindamais, bem como, desenvolver a conscinciados nossos profissionais nesta ao participativa.

    A gesto participativa d o nortepara o comportamento de todos naorganizao, sendo um guia da formaem que se d a soluo de problemas

    pelos administradores e como essesreferenciais so demonstrados pelocomportamento de todos naorganizao. Este atua, ento, comoexemplo do comportamento que esperado de todos (PEREIRA;GALVO; CHANES, 2005, p. 73).

    A PNHAH permite que as instituies,gestores, trabalhadores e usurios busquem

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    formas, modelos, estratgias para a realizaode cuidados em sade humanizados. Para aefetivao destas estratgias faz-se necessrio(re) construrem alternativas; mudarcomportamentos; fortalecer e articulariniciativas que estimulem as parcerias einovaes no processo de trabalho em sade.A sensibilizao dos gestores, trabalhadores eusurios parece ser o ponto de partida.

    Possibilitar ao trabalhador da sadeexteriorizar suas potencialidades seria permitirao mesmo expressar a criatividade e a arte nomomento em que desenha sua histria nomundo do trabalho (MARTINS; FARIA, 2002).Assim, a prtica transcenderia o simples ato defazer pois o cuidado permeia suas aes naconstruo da enfermagem humanizada.

    c) Incentivo e valorizao ao trabalhador -Segundo Deslandes (2004, p. 10), um doseixos discursivos daPNHAHtraz a idia dehumanizao como melhoria das condies detrabalho do cuidador. E de forma paralelamenciona desenvolvimento de aes para amelhoria de infra-estrutura hospitalar. Porm,um aspecto no bem definido no programa em que situao de trabalho est submetidoeste profissional de sade, mal remunerado,com nmero insuficiente de pessoal, poucoincentivado e submetido a uma carga detrabalho desgastante.

    Criar meios e mtodos de valorizar oresponsvel pela produo da assistnciaemergem como um grande desafio, necessriopara uma humanizao assistencial. Desafioeste ainda pouco incentivado e viabilizadodentro das instituies hospitalares pblicas.

    d) Acolhimento - Acolher significaoferecer ou obter refgio, proteo, ouconforto fsico; proteger(-se), abrigar(-se),amparar(-se) (HENNINGTON, 2005, p. 259).

    Para acolher necessrio ser acolhido,reorganizando o prprio processo de trabalhoem sade cujas aes ainda so centradas nomodelo biomdico. O trabalhador precisasentir-se seguro, confortvel e amparado pelainstituio na qual trabalha, pois possibilitarque o mesmo mantenha sua autonomia/ cidadania e oportunidade de expresso.

    O acolhimento uma ao tcnica-assistencial que pressupe a mudanada relao profissional/usurio e sua

    rede social atravs de parmetrostcnicos, ticos, humanitrios e desolidariedade, reconhecendo ousurio como sujeito e participanteativo no processo de produo da

    sade (BRASIL, 2004, p. 24) importante reconhecer o trabalhador

    como um sujeito que necessita expressar/ ampliar seu potencial criativo continuadamentepara que este perceba seu trabalho como partede si e produto de sua ao. No entanto, paraacolher o trabalhador:

    preciso compreender odesenvolvimento humano comoresultante de um contexto histrico,cultural e inter-pessoal, com inter-relaes complexas entre os sujeitos

    em desenvolvimento e os contextosque esto inseridos (MOTTA; LUZ,2003, p. 26).

    Reconhecer as diferenas pessoais dotrabalhador um ato de acolhimento.

    e) Dilogo:

    O dilogo genuno comea quandocada pessoa considerar a outra comoser nico que , consciente de que um ser diferente do outro, que temuma forma nica de ser que lhe peculiar (BUBER, 1974, p. 53).

    Utilizando-se desta definio de dilogologo se pensa e se age de forma nica comcada um, pois todos tm facilidades edificuldades diferentes e quando estas sorespeitadas a comunicao e o vinculo so criados.

    H um encontro entre pessoas, ondeh uma demanda e uma resposta; huma relao que pode apresentar-secomo relao sujeito-objeto ousujeito-sujeito, tipos de relaoimportantes na vida humana genuna(LEOPARDI, 1999, p. 135).

    No momento nico entre duas pessoastemos a oportunidade de conhecer e deixar-nosconhecer com palavras, gestos e atitudes,demonstradas por ambos. Com a oportunidadede estar acolhendo, tanto o trabalhador quantoo usurio, fazendo uso de nossa empatia erealizando o cuidado diferenciado.

    Nosso desafio maior o de superar asdificuldades:

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    inventar e reinventar maneiras novase cada vez melhores, mais criativas,mais capazes de dar conta deproduzir sade e cidadania econtribuir na construo de um pas

    mais justo e solidrio(HENNINGTON, 2005, p. 263).

    Torna-se difcil pensarmos em umamudana nas formas de relacionamento emuma prtica hospitalar sem que sejaproporcionado e ampliado o grau decomunicao, de conectividade e deintercesso entre os profissionais de sade,gestores ou tcnicos e usurios.

    CONSIDERAES FINAIS

    Humanizar a assistncia hospitalarhumanizando o trabalho da enfermagem...

    sujeitos humanos do cuidado humano...

    Movidas por nosso anseio de modificar esomar de forma positiva em uma melhoria decomo o trabalhador de sade cuidado nombito hospitalar que procuramos refletirsobre as perspectivas de avanos nas polticasde humanizao da assistncia prestada aousurio.

    Pensar na humanizao da assistnciahospitalar sem pensar no seu alvo principal, otrabalhador de enfermagem e sade seriacontraditrio e ineficaz. O trabalhador deveparticipar de todo o processo para s assimpoder cuidar com qualidade e dentro dasdiretrizes propostas pelo programa nacional dehumanizao.

    A atuao profissional dos sujeitostrabalhadores da enfermagem fundamentalpara a concretizao do processo dehumanizao na ateno em sade. Aefetivao da Poltica de Humanizao requerque tambm o trabalhador seja acolhido,cuidado e educado em condies de trabalho

    compatveis com a filosofia desta Poltica.Evidenciado o fato de que o trabalhador participante na assistncia no trabalho emsade, de que forma podemos potencializarseus conhecimentos e anseios para uma prticapermeada por humanizao?

    De que forma podem os trabalhadores daenfermagem conciliar a grande demanda de

    atendimento a nvel hospitalar, hoje umdesafio que nasce j na baixa resolutividade daateno primria, com um atendimento dequalidade, valorizando a vida humana e acidadania?

    O termo humanizao de tal amplitudeque remete a necessidade de ser discutido eincorporado em nossas prticas cotidianas.Sabemos que tarefa difcil, no entanto, o queseria do ser humano se sua histria no fossepermeada de desafios, de obstculos?Humanizar na dimenso social e poltica dedomnio das verdades e necessidades humanascomo sujeitos protagonistas da solidariedadehumana requerem viso crtica e construtiva dacidadania dos sujeitos que cuidam e que socuidados.

    A Enfermagem a profisso que semprebusca realizar um cuidado humano genuno eautntico, sendo que para poder cuidar de si necessrio tambm ser cuidado pelo outro. Epara poder cuidar melhor do outro necessita docuidado de e para si... convivendo nas relaesmltiplas do cuidado. Ser que aPNHAHtraralguma contribuio para o melhor cuidar daEnfermagem?

    Entendemos que nossa profisso j seoriginou de um fazer comprometido com ohumano, com a vida humana e com aconstruo da civilidade humana, o que nosfavorece positivamente no reconhecer o nossopotencial para o exerccio de um cuidarhumano. Todavia, ser que os gestores dasade, os demais profissionais da sade, emesmo o cidado reconhece a nossanecessidade de sermos valorizados tambmcomo humanos? Ser solidrio com o outroimplica em ser reconhecida a cumplicidadedesta relao. Como chegar a isto quandovivemos numa sociedade carente de relaessolidrias?

    So muitas as indagaes ou incertezas

    diante do desafio de avanar e contribuir paraum viver mais humano no tocante a ateno sade humana. Com certeza, a Enfermagempode continuar sendo a porta voz desta prticade tornar a vida humana mais solidria! Temospossibilidade de avanar!

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    406 KLOCK, P.; WECHI, J.; COMICHOLI, G.V.; MARTINS, J.J.; ERDMANN, A.L.

    Cincia, Cuidado e Sade Maring, v. 5, n. 3, p. 398-406, set./dez. 2006

    REFLECTIONS ON THE NATIONAL HUMANIZATION POLICY AND ITS INTERFACES IN NURSINGWITHIN A HOSPITAL SETTINGABSTRACT The present article had as objective to reflect on the National Hospital Assistance Humanization Policy and itsrelation to the Nursing worker and profession. It points out, based on practical experience and backed byliterature, what is viable and can be (re)constructed or (re)created so that the policy is materialized and, thehealth worker in this case, the nurse is valued and certified in these practices. A professional attitude bynursing workers is essential for the materialization of the humanization process in health care. Theimplementation of the Humanization Policy requires that the worker be received, cared for and educated in workconditions compatible with the philosophy of this Policy. Humanization cannot be linked only to the quality of caregiven, but also recognizing the subjectivity of the worker and creating possibilities for the expression of all ofhis/her potentialities.Key words: Humanism. Nursing. Health policy.

    REFLEXIONES SOBRE LA POLTICA NACIONAL DE HUMANIZACIN Y SUS INTERFACES ENEL TRABAJO DE ENFERMERA EN INSTITUCIN HOSPITALARIARESUMEN El presente artculo tuvo como objetivo reflexionar acerca de la Poltica Nacional de Humanizacin de Asistencia

    Hospitalaria y su relacin con el trabajador / trabajo de enfermera. Seala, con base en las vivencias prcticas yrespaldo de la literatura, lo que es viable y puede ser (re)construido o (re)creado, para que la Poltica Nacionalde Humanizacin se concretice y, que el trabajador de la salud, aqu especficamente el de enfermera, seavalorado, potenciado y reconocido en estas prcticas. La actuacin profesional de los sujetos trabajadores deenfermera es fundamental para la concretizacin del proceso de humanizacin en atencin a la salud. Laefectivacin de la Poltica de Humanizacin requiere que el trabajador sea acogido, cuidado y educado encondiciones de trabajo compatibles a la filosofa de esta Poltica. La humanizacin no puede estar vinculadaslo a la calidad del cuidado ofrecido, habiendo que reconocer la subjetividad del trabajador creandoposibilidades para la expresin de todas sus potencialidades.

    Palabras Clave : Humanismo. Enfermera. Poltica de salud.

    REFERNCIASBACKES, Dirce Stein; LUNARDI FILHO, Wilson D.;LUNARDI, Valria Lerch. Humanizao no ambientehospitalar luz da poltica da humanizao.Enferm. Bras.,Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, p. 227-231, 2005.BARROS, Regina Benevides; PASSOS, Eduardo. Ahumanizao como dimenso pblica das polticas desade.Cienc. Saude Colet., Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p.561-571, 2005.BRASIL. Ministrio da Sade.Poltica Nacional deHumanizao (PNH). Braslia, DF, 2000.BRASIL. Ministrio da Sade.Programa Nacional deHumanizao da Assistncia Hospitalar (PNHAH). Braslia, DF, 2001.BRASIL. Ministrio da Sade.Poltica Nacional deHumanizao. 2004. Disponvel em:.Acesso em: 24 ago. 2005.BUBER, Martin.Eu e tu. So Paulo: Moraes, 1974.CASATE, Juliana Cristina; CORRA, Adriana Katia.Humanizao do atendimento em sade: conhecimentovinculado na literatura brasileira de enfermagem.Rev. Lat.Am. Enfermagem, Ribeiro Preto, v. 13, n. 1, p. 105-111,fev. 2005.DESLANDES, Suely Ferreira. Anlise do discurso oficialsobre a humanizao da assistncia hospitalar.Cienc.Saude Colet., Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 7-14, 2004.

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    Cincia, Cuidado e Sade Maring, v. 5, n. 3, p. 398-406, set./dez. 2006

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    Endereo para correspondncia: Patricia Klock. Rua Matias Kalbuch, 174. Barreiros So Jos SC. CEP:88.117-450. E-mail: [email protected]

    Recebido em: 03/08/2006Aprovado em: 04/12/2006