Política Ética e Cultura - Coletânea de Artigos

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1 JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO POLÍTICA, ÉTICA E CULTURA Coletânea de artigos publicados no Jornal “Diário de Manhuaçu” Conceição de Ipanema – MG 2010

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GAMITO, José Aristides da Silva. Política, Ética e Cultura. Coletânea de Artigos publicados no jornal “Diário de Manhuaçu”. Conceição de Ipanema, 2010.

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JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

POLÍTICA, ÉTICA E CULTURA

Coletânea de artigos

publicados no Jornal “Diário de Manhuaçu”

Conceição de Ipanema – MG

2010

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Dados para Citação Bibliográfica

GAMITO, José Aristides da Silva. Política, Ética e Cultura. Coletânea de Artigos publicados

no jornal “Diário de Manhuaçu”. Conceição de Ipanema, 2010.

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SUMÁRIO

1. SEGUNDO TURNO: MOTIVAÇÕES RELIGIOSAS .......................................................... 4

2. AS ELEIÇÕES 2010 E OS NOVOS POLÍTICOS ................................................................ 5

3. O NOSSO JEITINHO BRASILEIRO DE CONCORRER .................................................... 6

4. OS IMPASSES DA EDUCAÇÃO ......................................................................................... 7

5 A DEMOCRACIA E AS MULHERES NO PODER ............................................................. 8

6. A FORÇA DO ESTADO PARALELO ................................................................................. 9

7. AS ORIGENS E AS FACES DO MAL ............................................................................... 10

8. O PODER LOCAL E A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA ......................................... 12

9. REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO POLÍTICO ....................................................... 13

10. ENTÃO É NATAL ............................................................................................................. 15

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1. SEGUNDO TURNO: MOTIVAÇÕES RELIGIOSAS EM CAMPANHA

ELEITORAL DENTRO DE UM ESTADO LAICO

José Aristides da Silva Gamito*

O segundo turno das Eleições 2010 à presidência do país ganhou um tom de polêmica.

As campanhas eleitorais dos dois candidatos, Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB),

desviaram o foco dos planos de governo e reduziram o debate a questões religiosas. Essa

postura representa um retrocesso na vida política brasileira. Os políticos se esqueceram de que

o Brasil é um país laico e democrático. Os discursos dos candidatos parecem sair de uma

época em que havia perseguição religiosa e impossibilidade de debater democraticamente

questões éticas.

Quem acompanhou o horário eleitoral pôde observar o uso constante das expressões

“respeito à vida”, “a favor da vida”, “dom da vida” e “família brasileira”. O apelo passou a ser

dirigido à família. A linguagem ficou apelativa. Percebia-se claramente que a intenção era

atacar supostas posturas ideológicas do adversário. Os demais direitos, deveres e melhorias

que deveriam ser contemplados pelos planos de governo passaram para segundo plano.

Os dois candidatos abriram seus programas para a TV nesta campanha usando a

palavra “Deus”. No fundo, o que transparece é a polêmica do aborto. Este é um assunto sério

e que exige maturidade, mas foi posto na hora errada. A questão está sendo banalizada ao se

tornar matéria de chantagem “eleitoreira” para o segundo turno. Com isso, certamente os dois

candidatos perderão votos significativos.

Desde a campanha para o primeiro turno, já havia boatos a respeito das posições

morais dos candidatos. Havia na internet, católicos e evangélicos, fazendo campanhas, ora

para um, ora para outro, baseadas em princípios morais e religiosos. Aliás, no Brasil política e

religião voltaram a andar juntas. Existem deputados que declaram que estão na política para

defender a bandeira dos evangélicos ou a bandeira dos católicos.

Quando se trata de uma campanha eleitoral dentro de um país laico e democrático, era

de se esperar também planos de governos apresentados de maneira limpa, sem agressividade,

sem apelar à fé ou à consciência das pessoas. O segundo turno deveria ser aproveitado para

esclarecer melhor os programas de governo para que os eleitores tivessem oportunidade de

avaliar bem e tomar decisões livres de pressões moralistas.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

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2. AS ELEIÇÕES 2010 MOSTRAM OS NOVOS POLÍTICOS E OS NOVOS

ELEITORES

José Aristides da Silva Gamito

Quase na reta final para a realização do segundo turno, e Dilma Roussef (PT) e José

Serra (PSDB) não baixam o tom. A disputa prossegue descortês e agressiva. Os assuntos

como aborto e afirmações contraditórias continuaram a fazer da campanha eleitoral. Os

programas veiculados no rádio foram mais diretos ainda que os da TV. Apareceu até a velha

dicotomia de definir quem é “do bem” e quem é “do mal”. Em passeata, candidato chegou a

chamar militantes do partido adversário de “fascistas”.

Talvez as eleições deste ano nos tenham mostrado o perfil dos novos políticos e dos

novos eleitores. .Em se tratando de segurança do sigilo do voto, rigor da legislação eleitoral, o

país deu um grande passo. Mas parece que a mentalidade dos políticos não evoluiu na mesma

proporção. Uma tendência desta vez foi propor motivações religiosas e éticas para a escolha

dos candidatos à presidência. Atualmente, no Brasil, tem crescido, por parte de alguns grupos

religiosos, um desejo de construção de uma teocracia. Muitos ministros religiosos se

candidatam para defender as ideias de suas Igrejas. Em troca, os membros/eleitores apoiam e

fazem correntes em favor deles. O pior é que os adversários são tidos como inimigos de Deus.

Um candidato a deputado federal, bispo evangélico, chegou a aconselhar para não votar nos

adversários porque faziam parte de uma conspiração do mal para atacar “a Igreja de Jesus

Cristo”.

Outro aspecto importante é o aparecimento de candidatos que são celebridades do

mundo artístico ou desportivo. São humoristas, atletas, ex-BBBs. Entre eles, apareceram o

Tiririca, o Romário, o Bebeto, assim como antes Frank Aguiar e Clodovil vieram para o meio

político. Para o eleitor, seria uma boa alternativa ou seria sinal de que a política está

caminhando para a pior? Essas pessoas com novas experiências podem mudar a política, mas

podem entrar simplesmente porque é mais uma profissão de destaque. E se todo mundo entra,

eu também posso, porque “pior que tá num fica”, podem pensar alguns. Os novos eleitores,

decepcionados com a política brasileira, preferiram dar um voto de protesto. Mas parece que

outros caíram naquele comodismo de votar em fichas-sujas porque “isso não muda mesmo”.

É importante deixar aqui bem claro que não é uma discriminação de classes,

democraticamente, todo cidadão pode se candidatar. O que se pergunta são as motivações que

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levam a essa procura da vida política num país de corrupção e impunidade. Dentre esses

aspectos analisados das Eleições 2010, nem é necessário comentar a lista dos fichas-sujas que

foram eleitos.

3. O NOSSO JEITINHO BRASILEIRO DE CONCORRER

José Aristides da Silva Gamito*

Existem algumas situações que nos levam necessariamente à reflexão. Refletir não é

uma tarefa difícil para ninguém! Eu diria que é algo rotineiro. É muito fácil analisar e criticar

as ações dos outros. Porém, o desafio que aparece diante de nós é a autocrítica. Quais os

critérios que nos garantem a objetividade em nossas avaliações? Nós tendemos a ver aquilo

que nos beneficia e aquilo que confirma nosso ponto de vista como verdade. Nesta discussão

filosófica sobre conhecimento e verdade, não podemos nos esquecer que a nossa vontade, os

nossos desejos, as nossas emoções, tudo participa de nossa decisão racional.

As disputas partidárias, os confrontos entre diferentes religiões e, até mesmo, nossas

diferenças de ideias do dia-a-dia nos levam a esse desafio. A ciência quis durante o auge do

positivismo se construir como um julgamento impessoal, imparcial e objetivo. Mas todo

mundo que parte para conhecer algo, sempre age motivado por determinadas intenções e

interesses.

O filósofo Nietzsche dizia que toda ação é “interessante e interesseira”. É claro que

não podemos chegar ao cúmulo de pensar que tudo reside na base da troca! O capitalismo se

baseia nisso. Mas quando observamos como os candidatos concorrem a uma eleição, como os

membros e simpatizantes de um partido analisam os planos de governo, observamos o quanto

é difícil ser justo e ficar isento de particularidades egoístas. É justamente essa habilidade que

falta no nosso jeitinho brasileiro de pensar a democracia. Muitas pessoas veem isso

diariamente acontecer nas prefeituras. Essas são instâncias mais vulneráveis à vingança e à

perseguição político-partidária.

A corrupção das bases é o fundamento da corrupção e dos maus hábitos da

superestrutura. Muitas vezes, prefeitos, vereadores e pessoas influentes nas pequenas cidades

subornam, usam a “camaradagem” para obter vantagens. E quando analisamos a mesma

situação em uma macroestrutura como o país, ficamos assustados!

Do mesmo modo, nossas convicções morais particularistas cedem constantemente

lugar aos interesses da comunidade e da nação. Se você observar bem, perceberá que o Brasil

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tem uma carga moral e cristã muito rigorosa. Mas na prática não consegue reduzir a

desigualdade social, não consegue praticar a justiça. Afinal, somos coniventes com o mal que

acontece todo dia. Simplesmente porque não queremos nos opor, nos indignar. E acabamos

fingindo que somos cidadãos, que somos cristãos, que somos irmãos. Na verdade o nosso

jeitinho brasileiro de concorrer não nos deixar distinguir o pessoal do comunitário. E

continuamos sendo coniventes com mal! Que o resultado dessas eleições possa nos indicar

um caminho contrário. Tomara mesmo!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

4. OS IMPASSES DA EDUCAÇÃO EM NOSSO PAÍS

José Aristides da Silva Gamito*

Depois de uma semana de comentários embaraçosos em torno do Enem (Exame

Nacional do Ensino Médio), veio o momento oportuno para se falar sobre educação.

Atualmente existem muitos ponteiros a serem acertados no relógio de nosso sistema

educacional! Este ano foi marcado por debates na área da educação. Depois de 12 anos de

existência, com os escândalos de 2009 e 2010, o Enem está prestes a perder sua credibilidade.

Este ano os professores da rede pública estadual de Minas Gerais fizeram uma greve de 48

dias, os resultados obtidos ficaram aquém do desejado. Enquanto isso, os mesmos enfrentam

desinteresses em sala de aula e uma crescente onda de violência nas escolas. Apesar do

otimismo veiculado pelas propagandas do Estado, a educação não parece estar tão bem assim.

Segundo os últimos resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação Comparada), o

Brasil ocupa 53ª posição em matemática (entre 57 países) e a 48ª em leitura.

Outro problema que está gerando discussão neste semestre é a negação por parte do

Estado de Minas Gerais de incluir as disciplinas de Filosofia, Sociologia e Educação

Religiosa no próximo concurso de professores. Quando as duas primeiras disciplinas citadas

se tornaram obrigatórias no Ensino Médio, surgiu uma situação extremamente prejudicial à

educação. Apenas 23% dos professores de filosofia e 12,3% de sociologia eram formados na

área, segundo dados do governo federal.

Em se tratando especificamente de filosofia, muitos estudantes acabam criando

preconceitos em relação à disciplina porque o próprio professor a desvaloriza por desconhecê-

la. As aulas se tornam fragmentadas e reduzidas a interpretações de textos aleatórios. Em

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nosso país existe um bom número de filósofos oriundos de seminários católicos. Porém, o

Estado, por meio das superintendências de ensino, nega o espaço devido a esses. E, em seus

lugares, estão lecionando filosofia pessoas sem qualificação na área apenas por questão de

extensão de cargos. O sistema educacional continua preferindo prejudicar a qualidade da

educação a abrir mão de uma questão meramente burocrática.

O número de professores formados em sociologia é bem menor. Aliás, os filósofos e

sociólogos se concentram mais no Ensino Superior. É um sinal claro de que o Ensino Médio

tem pouco incentivo do Estado.

A Educação Religiosa se encontra em uma situação mais complexa. Nem existe uma

unificação de currículo, em muitas escolas continua sendo um instrumento de proselitismo. O

professor não consegue tratar as religiões com igualdade, perde-se o senso acadêmico em

razão de sua fé particular. Mais uma vez o ideal do Estado laico fica em desvantagem.

Enquanto o nosso sistema educacional não reagir a esses impasses, muitos outros

atrasos na educação virão se somar aos atuais. A esperança que nos resta é olhar para trás e

ver que muita coisa, mesmo de um modo lento, já mudou!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

5. A DEMOCRACIA E AS MULHERES NO PODER

José Aristides da Silva Gamito*

A eleição da primeira presidente do Brasil nos sugere uma conversa sobre as mulheres

e o poder. Segundo o relatório da ONU intitulado The Word’s Women 2010, as mulheres

ocupam 10% dos cargos máximos de direção de governo: Chefia de governo e chefia de

Estado. A participação em parlamentos nacionais é de 17%. A abertura para a participação

feminina na política avança de um modo muito lento, mas aos poucos algumas

transformações estão ocorrendo. Há alguns anos seria impensável no Brasil um presidente

índio, negro ou mulher. O direito de voto da mulher só foi reconhecido no país na década de

30. As recentes candidaturas de Heloísa Helena, Marina Silva e Dilma Rousseff nos levam a

perceber uma mudança na mentalidade brasileira. O direito de participação reconhecido

democraticamente e a confiança na capacidade da mulher governar.

Esse desafio de aceitação enfrentado pelas mulheres fez parte de longos períodos da

história ocidental. Somente a partir do século XIX, que o movimento feminista e a sugestão

de antigos matriarcados na pré-história feriram o orgulho dos homens, pois, até então se

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pensava que a situação da mulher sempre foi de submissão. Isso era visto como uma condição

natural. E o que se chamou de antropocentrismo foi na verdade um androcentrismo, ou seja,

uma “ditadura cultural do macho”.

As antigas culturas adoravam deusas e honravam heroínas. A principal responsável

pela masculinização do poder no ocidente parece ter sido a civilização judaico-cristã. Alguns

estudos chegaram até demonstrar que o Deus bíblico originalmente era cultuado como uma

deusa pelas antigas culturas do Oriente Médio. O ponto de partida parece ser esta visão de um

Deus masculino. A máxima representação do poder tornou-se masculina. Portanto, se o poder

político era pensado como de direito divino, somente homens poderiam representá-lo

legitimamente. Essa ideia pode ser observada no impedimento de mulheres serem sacerdotisas

no cristianismo. Em síntese, uma cadeia de percepções e raciocínios deixou de enxergar a

igualdade de direito da mulher.

Para a nossa época parece sem sentido discutir o espaço da mulher na democracia. Em

se tratando de teoria, e das atitudes de parte da sociedade, não haveria necessidade mesmo!.

Porém, ainda na cabeça de muitos homens e, também de mulheres, o feminino é inferior. Se

não fosse assim, não haveria necessidade de uma lei como a Lei Maria da Penha no alvorecer

do século XXI!

A eleição de Dilma é um fato histórico importante sem dúvidas. A sociedade brasileira

não pode é fazer deste feito mais um erro em relação à mulher. O próximo governo que se

espera é de continuidade, mas tem de ser um governo com cabeça feminina. E isso vai exigir

um pouco de compreensão dos lulistas que veem a Dilma como Lula II.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

6. A FORÇA DO ESTADO PARALELO E O DESAFIO À SEGURANÇA PÚBLICA

José Aristides da Silva Gamito*

As ondas de ataques acontecidos durante esta semana no Rio de Janeiro reforçam a

ideia de que o Estado Paralelo tem muita força. Quando um poder clandestino começa a

competir com o poder oficial, as vias de solução e de combate são bastante drásticas. Porque

estão em conflito dentro de um mesmo território um regime democrático e um regime

anárquico. A população inocente acaba sendo vítima das investidas contra o Estado. E nem o

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Estado pode responder sem antes separar inocentes e culpados. Os bandidos mascaram e

infiltram no meio de pessoas que não devem nada à justiça.

A violência que muitas capitais brasileiras sofrem é resultado de décadas de descuidos

no planejamento urbano, no investimento em políticas sociais e da ausência do Estado. A

força de controle ideológico e financeiro de traficantes substituiu essa falta do Estado. Por

isso, muitas vezes a população acaba sendo conivente com os bandidos. Isso agrava mais

ainda quando a polícia tem de tomar medidas drásticas e acaba matando inocentes. As “balas

perdidas” são um ponto negativo nesta luta. A polícia perde parte do apoio dos civis

inocentes. Além disso, há abordagens inadequadas e efetuadas por policiais despreparados

que acabam por ceifar vidas inocentes.

As capitais durante muito tempo não souberam acomodar a população que já tinham e

aquela que receberam através do êxodo rural. Os grandes centros cresceram e empurraram as

pessoas para as periferias. O Estado era apenas visível nesse centro. Atualmente, os bandidos

que surgiram nas periferias fazem o movimento contrário. Eles comprimem os grandes

centros através de arrastões, incêndios de ônibus e perturbação da ordem pública. Além de

dominarem as favelas, estendem seus tentáculos até as áreas elitizadas. Se o Estado não reagir

vai se tornar refém do medo e do caos gerados por quem quer ordem em seu território e

anarquia no território alheio.

Em parte, o investimento lento e estratégico que deveria manter a população em

segurança foi parar nos bolsos de muitos políticos bandidos. Temos de ter cuidado para não

estigmatizar a população das favelas. Pois se alguém lá tem culpa pelo terror, os outros lá da

política têm também a culpa pelo descaso e pela corrupção. Sempre existiram “bandidos de

centros” e “bandidos de periferias”. Não podemos deixar a culpa só para um lado.

A gente sempre torce para ser verdade a expressão “O Rio de Janeiro continua lindo”.

Um país que pretende sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo teve a sua imagem bastante

prejudicada esta semana. E muito mais grave, a paz e muitas vidas inocentes foram retiradas.

Na internet, um usuário chegou a se perguntar qual situação seria mais complexa a do Rio ou

da Faixa de Gaza.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

7. A ORIGEM E AS FACES DO MAL: O DILEMA DE EPICURO PER MANECE

ABERTO

José Aristides da Silva Gamito*

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Diante de tanta violência e sofrimento, que acompanhamos pelos noticiários nos

últimos dias, retornamos a uma antiga questão do ser humano: Qual a origem do mal? Por que

há o sofrimento? Muitas respostas já foram dadas a este problema quase insolúvel. Há muitas

teorias sensatas, mas todas incompletas. O primeiro a se deparar formalmente com este

questionamento foi Epicuro (341-270 a. C.). O filósofo se perguntava se era compatível a

existência de um deus bom com a presença do mal no mundo. Então, ele lança o famoso

dilema: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele é capaz, mas

não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o mal?”

A partir de então, vários pensadores tentaram resolver este beco sem saída. Agostinho

(354-430 d. C.) defendeu que o mal é resultado da liberdade humana e não da vontade de

Deus. A primeira fase de preocupação com o problema foi religiosa. Séculos mais tarde, os

marxistas descobriram os aspectos sócio-econômicos como fatores decisivos nas escolhas

morais. Freud trouxe consigo a ideia de que muitas de nossas ações são inconscientes. Com a

descoberta da genética, muitas tendências tidas como más são atribuídas a genes.

O dilema de Epicuro, apesar de ter atualmente um foco mais humano e histórico,

continua sem solução. Seriam forças inconscientes, seriam os genes ou seriam o ambiente e o

tipo de educação que nos fazem agir de uma forma ou de outra? A única afirmação que

podemos fazer é que o mal é multifacetário e não tem raízes no Além, está aí dentro e entre

nós. O que nos parece mais sensato é partir do pressuposto de que não devemos buscar teorias

mirabolantes sobre o mal, antes devemos é ganhar tempo combatendo-o e amenizando o

sofrimento das pessoas.

O filme Tropa de Elite 2 nos sugere uma presença bilateral do mal em nosso país. A

corrupção está dentro da sociedade, tanto no meio dos traficantes, quanto no meio dos

representantes do Estado: A polícia e os políticos. Uma primeira habilidade exigida é separar

o “joio” do “trigo”. Uma tarefa nada fácil. Alguns dizem que as pessoas se corrompem porque

são pobres; mas e aqueles que se corrompem por que são ricos? No meio de tanta incerteza, a

educação e a atuação eficiente e responsável do Estado, sem dúvida, são elementos

indispensáveis.

O que nos preocupa tanto é o Brasil sendo um país de maioria cristã, possui tantos

problemas sociais, visto que o discurso cristão comporta valores de uma sociedade ideal. Mas,

a conivência com o mal e a corrupção estão presentes desde as prefeituras até o alto escalão

do governo federal. A fórmula parece ser esta: Onde há poder, há possibilidade de corrupção.

Nem mesmo as instituições religiosas com seus discursos moralizantes arrojados não escapam

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à corrupção. Existe uma conivência com o mal muito forte, o discurso não corresponde à

prática.

Ao problema do mal temos poucas respostas convincentes, mas nos resta a esperança

de apostar numa educação para a liberdade e a responsabilidade, que seja bem regada de amor

e bens necessários à vida digna, dentro das famílias e das escolas. Para que assim, a pessoas

sejam menos seduzidas pelo mal e estejam mais comprometidas com a vida de modo integral.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

8. O PODER LOCAL E A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA BRASILE IRA

José Aristides da Silva Gamito*

O Brasil, em termos legais, é uma democracia desde 1988. Porém, ao compararmos os

ideais vislumbrados na nossa constituição com os crimes de abuso de poder acontecidos nos

últimos anos, ficamos em dúvida quanto à efetivação desses princípios. Assim como ficamos

estarrecidos, este ano, com a ausência do Estado no Complexo do Alemão, podemos também

descobrir a fragilidade do Estado em tantas outras regiões do país.

O assassinato do prefeito de Jandira (SP), Walderi Braz Paschoalin (PSDB), nos faz

retomar a discussão sobre se no Brasil a democracia se consolidou de forma real em todo

território nacional, ou se é apenas um documento respeitado em algumas instituições ou

grandes centros. Temos outros exemplos de violência pública que desafiam os direitos civis e

humanos. Em 2005, Doroty Stang foi assassinada em Anapu (PA) por defender o meio

ambiente e as pessoas dependentes da terra. Em 2007, em Pingo D’Água (MG), foi

assassinado o sindicalista João Alves Calazans por causa de irregularidades na aquisição de

lotes. Uma demonstração de que a segurança e os ideais democráticos não conseguem conter

totalmente o poder autoritário local.

A grande mídia exerce um poder de vigilância nos grandes centros, apesar dos

escândalos políticos e administrativos, a democracia parece ser respeitada nessas áreas.

Porém, quando nos detemos em regiões menos vigiadas pela mídia, os crimes de abusos da

democracia passam despercebidos.

Em nossa região, ouvimos inúmeros casos de desmando dentro das prefeituras.

Quando alguém que detém o poder principal é denunciado, sempre há um deputado ou outra

autoridade que acaba silenciando o caso. Há muitos reclames, mas pouco poder para a

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população reagir e denunciar essas irregularidades. Em se tratando da aplicação dos ideais

democráticos, o poder local é mais fraco. Os concursos públicos municipais, aberturas de

editais, são feitos de modo meio velado, meio controlado, e muitas prefeituras manipulam o

resultado desses processos seletivos. A intenção é fazer valer todos os interesses do partido

dominante.

Em muitos municípios, em época de eleições, a gente ouve a expressão “a política vai

virar!”. A política é confundida com interesses partidários. Todos os funcionários ficam

inseguros. Quem tem competência técnica para exercer determinado serviço é trocado por

alguém sem o mínimo conhecimento. Isso simplesmente porque há um interesse em conseguir

votos na próxima eleição. De um modo exagerado, poderíamos dizer que o prefeito é, de certa

forma, a continuidade do “coronel”.

Há muitas denúncias que são caladas por ameaças de destituição de cargos, ou de obstrução

da possibilidade de alguém realizar seus projetos, de desempenhar legalmente sua função.

Essas situações nos levam a pensar que os ideais democráticos são mais frágeis, e menos

respeitados no poder local, faltam mais vigilância do Estado e mais esclarecimento e

autonomia do cidadão.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

9. MANIFESTO PELA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO POLÍTICO

José Aristides da Silva Gamito*

Desta vez vamos conversar um pouco sobre a urgente reforma política do Brasil. O

tema específico é a regulamentação da profissão político. Segunda a atual constituição (artigo

37), de 1988, os cargos públicos devem ser conquistados mediante concursos. A exceção são

os cargos legislativos e executivos que são obtidos através de votos merecidos ou comprados.

Isto quer dizer que para ser vereador, prefeito, deputado, governador, senador e presidente não

é necessário mostrar competência, mas apenas atrair a simpatia do povo. Na verdade estes

cargos deveriam passar por um processo seletivo, antes de serem levados à votação popular.

Muitas pessoas habituadas a velhos hábitos políticos acham que a exigência de um

concurso público para os cargos políticos seria prejudicial à democracia. Se todos os demais

cargos públicos exigem a demonstração do domínio de conhecimentos gerais e específicos

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para merecê-los, a atividade política exigiria isso e muito mais por se tratar de uma função de

grande poder de decisão dentro de um país.

Os candidatos a cargos políticos deveriam passar por um concurso que medisse a

competência técnica deles através de provas de conhecimentos gerais e específicos, depois

seguida da análise de antecedentes criminais e da apresentação de um currículo que

demonstrasse previamente o interesse deles por questões sociais e políticas. Principalmente, o

envolvimento em trabalhos voluntários. Sem medir o perfil ético do candidato o concurso não

seria também muito útil! E claro, durante o mandato o máximo de transparência por parte do

político e a vigilância dos cidadãos. Isso não seria a fórmula para o fim da corrupção, mas

seria um grande passo para uma democracia de verdade!

Os cargos municipais deveriam exigir o Ensino Médio concluído, acrescido de um curso

técnico profissionalizante em Administração Pública, Ciências Políticas ou outra área afim. Já

para os cargos estaduais e federais deveriam ser exigido Curso Superior nas áreas do

conhecimento referentes à administração, leis e política. Como pode uma função legislativa

ser desempenhada por alguém que não entende de leis? O gasto com assessoria diminuiria

bastante. Seria o fim de privilégios como direitos a assessores, cargos de confiança,

nepotismo, imunidade parlamentar, salários colossais e tantos outros abusos.

Mas essa medida não elitizaria a entrada do cidadão para a vida política? Não. Estamos numa

época em que o acesso à educação gratuita tem melhorado muito e todo cidadão de bom

senso, ao se interessar pela vida pública, espontaneamente procuraria se especializar para

servir melhor seu país. O problema cultural que impede a aceitação do fim deste privilégio é a

tentação de se chegar ao poder pela simpatia, pelo poder aquisitivo ou pela influência social.

Tudo isso é resquício do coronelismo, saudosismo dos hábitos monárquicos, apego ao

domínio de uma aristocracia. E tais leis não mudam porque quem as faz são políticos eleitos

dentro do sistema atual e eles não querem perder privilégios. Por meio de concursos, muitos

deles nunca mais voltariam à vida pública.

E quando aparece um caso como o do Tiririca, percebe-se que o interesse é meramente

ridicularizar a figura do “popular”, não há interesse sincero em regulamentar a entrada do

cidadão para a carreira política. É uma hipocrisia total! Muitos vereadores votam em projetos

que eles não sabem explicar o seu teor e aplicabilidade, votam apenas por interesses alertados

pelo partido. Há deputados que não dão conta sequer do jargão empregado nas discussões

rotineiras da câmara. E tentam de modo desajeitado casar “Vossa excelência” com “canalha”,

em seus debates dizem, despudoradamente: “Vossa excelência é um canalha!”.

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Esta questão precisaria ganhar o gosto popular para que um dia venha a ser realidade. Nós não

ignoramos aqui os casos de políticos, com pouca formação, que foram ótimos

administradores. Mas se a pessoa tem carisma, tem aptidão e competência, ao procurar a

carreira política, deveria usar o bom senso e procurar uma formação técnica para que suas

aptidões estejam ainda mais bem preparadas para fazer da ação política um serviço em favor

do bem comum. Técnica e ética, carisma e competência têm de andar juntos em todo tipo de

profissão! Parece ousado esta reivindicação, mas a profissão político precisa ser urgentemente

regulamentada dentro dos moldes democráticos assim como todas as demais profissões no

nosso país!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

10. ENTÃO É NATAL E O QUE VOCÊ FEZ?

José Aristides da Silva Gamito*

“Então é Natal e o que você fez?” Esses versos da canção nos fazem pensar sobre o

sentido das festividades de fim de ano. A cada Natal esta antiga festa cristã se torna mais

capitalista. No sistema capitalista, tudo se torna produto comercializável, inclusive a

solidariedade do Natal. Nessa ocasião, as pessoas se sentem obrigadas a gastar, a dar

presentes. Porém, o ato de presentear não se harmoniza com o genuíno espírito da ocasião. A

gratuidade se perde em meio a tantas trocas, compensações.

Ao chegar o fim do ano, nós nos perguntamos se temos motivos para celebrar um

Natal de comidas, bebidas e guloseimas. Nesses dias, tudo se torna muito poético. As músicas

inspiram ternura e aconchego. Mas precisamos nos lembrar de que a fome, a miséria e o

desrespeito aos direitos humanos continuam acontecendo em muitas partes do mundo. E

muitos atentados contra a vida acontecem na nossa vizinhança. Mas conciliar o direito de

celebrar estas festividades com nosso compromisso com a solidariedade é um grande desafio.

Muitas associações e empresas passam o ano todo sem realizar uma ação solidária e somente

nessas ocasiões são impelidas pelo hábito a fazer alguma ação social. E a consciência dessas

pessoas fica confortada, com a sensação de dever cumprido.

No mundo contemporâneo, anda esquecida uma qualidade humana muito importante

que é a gratuidade. O capitalismo se apossou do desejo de retribuição, da mercantilidade do

espírito humano para sustentar seu mecanismo de sobrevivência. O voluntariado é tão pregado

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hoje, justamente pelo fato de a sociedade pender para o lado da necessidade de recompensa

em tudo. Cotidianamente, nós ouvimos alguém dizendo “eu não vou me envolver nisso, eu

não vou ganhar nada com isso”.

A existência humana parece estar marcada por essas duas dimensões: A gratuidade e a

mercantilidade. As pessoas que se deixam guiar pela gratuidade são mais generosas, abertas

às novidades, às surpresas da vida. Elas não buscam uma recompensa absoluta e necessária

para as suas ações. Sobressaem-se bem até diante das tragédias. E nem adiam tal premiação

para a vida pós-morte. Ao contrário, quem se guia pela mercantilidade age somente

estimulado pela recompensa, seu processo de humanização ainda está muito dependente de

instintos naturais de sobrevivência.

A religiosidade presente nessas pessoas busca uma recompensa na vida futura. Elas fazem o

bem para merecerem o céu e não porque se sentem sensibilizadas pela condição de vida de

seu semelhante. Essa idéia é bastante presente no cristianismo. As pessoas de fé transferem

todo significado da vida para a eternidade e vivem uma forte dicotomia entre o bem e o mal, o

céu e o inferno, a graça e a recompensa. Na Idade Média, isso foi forte na religiosidade

popular.

O capitalismo adorou essa tendência de premiação. Mas como bons cidadãos, pessoas críticas,

precisamos saber dosar as coisas. Salvo o direito se confraternizar com os familiares e os

amigos, que não nos esqueçamos do espírito de solidariedade que o Natal promete. Mas que

essas ações não sejam de um dia só. Desejo a todos os leitores do “Diário de Manhuaçu” um

Feliz Natal!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

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IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

José Aristides da Silva Gamito

Filosofia e pós-graduado em Docência Básica e

Universitária, licenciando em Filosofia (2010). É natural

de Vermelho Velho, Raul Soares, MG. Sendo filho de

Aristides Antônio da Silva

Leandra da Silva (in memoriam).

professora de Biologia Joana Regina Gamito.

Atualmente reside em Conceição de Ipanema, MG.

IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

José Aristides da Silva Gamito é bacharel em

graduado em Docência Básica e

, licenciando em Filosofia (2010). É natural

de Vermelho Velho, Raul Soares, MG. Sendo filho de

Aristides Antônio da Silva (in memoriam) e Lourdes

(in memoriam). É casado com a

professora de Biologia Joana Regina Gamito.

Atualmente reside em Conceição de Ipanema, MG.

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