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1 Política de Desenvolvimento da Indústria Brasileira de Semicondutores: a Visão Relacional do Programa CI-Brasil Autoria: Kadígia Faccin, Ingridi Vargas Bortolaso, Alsones Balestrin Resumo O presente estudo visa ao entendimento sobre como os governos utilizam a visão relacional para desenvolver com maior eficácia suas políticas públicas de desenvolvimento industrial. O objeto empírico do estudo é o Programa Governamental CI Brasil que foi criado com o objetivo de desenvolver a indústria de semicondutores no Brasil. A operacionalização do programa se dá através do estabelecimento de uma estratégia colaborativa entre governo, universidade e empresa. Ao longo do estudo, foram identificados os antecedentes e os principais resultados do Programa CI Brasil, bem como a dinâmica de colaboração entre os seus três atores institucionais.

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Política de Desenvolvimento da Indústria Brasileira de Semicondutores: a Visão Relacional do Programa CI-Brasil

Autoria: Kadígia Faccin, Ingridi Vargas Bortolaso, Alsones Balestrin

Resumo O presente estudo visa ao entendimento sobre como os governos utilizam a visão relacional para desenvolver com maior eficácia suas políticas públicas de desenvolvimento industrial. O objeto empírico do estudo é o Programa Governamental CI Brasil que foi criado com o objetivo de desenvolver a indústria de semicondutores no Brasil. A operacionalização do programa se dá através do estabelecimento de uma estratégia colaborativa entre governo, universidade e empresa. Ao longo do estudo, foram identificados os antecedentes e os principais resultados do Programa CI Brasil, bem como a dinâmica de colaboração entre os seus três atores institucionais.

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1 INTRODUÇÃO  

A literatura sobre cooperação interorganizacional tem trazido ao debate acadêmico, especialmente das últimas duas décadas, uma reflexão sobre os resultados da atuação conjunta de diversos atores para alcançar fins comuns. Essa forma de pensar os meios para alcançar os fins pretendidos foi denominada por Dyer e Singh (1998) de “visão relacional” da estratégia. De acordo com a visão relacional, a estratégia coletiva cria uma fonte inimitável de recursos através de uma rede com acesso valioso a informações, compartilhamento de conhecimento, complementaridade de recursos e governança efetiva. A visão relacional da estratégia tem tido como preocupação empírica, em sua maior parte dos trabalhos, a busca do entendimento dos ganhos relacionais percebidos pela atuação conjunta de empresas em diversos tipos de indústrias.

Nesse contexto, uma possibilidade de estudo visa ao entendimento de como os governos utilizam a visão relacional para desenvolver com maior eficácia suas políticas públicas de desenvolvimento industrial. A ação conjunta entre Universidade, Indústria e Governo–U-I-G, por exemplo, tem se tornado uma real possibilidade de ganhar sinergia e complementaridade para que políticas públicas obtenham melhores resultados (KLIJN, 2008; ETKOWITZ; LEYDESDORFF, 1998, SANDFORT; MILWARD, 2008).

Em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a colaboração entre esses atores torna-se ainda mais imperativa, pois a sinergia em uma ação coletiva articulada poderá atenuar os recursos escassos. Dentro de um conjunto de políticas públicas no Brasil que busca uma ação colaborativa entre U-I-G está o esforço de desenvolvimento da indústria brasileira de semicondutores. Para buscar o desenvolvimento da indústria de semicondutores, o governo brasileiro implantou, em 2004, uma política pública denominada de Programa CI Brasil, que visa ao desenvolvimento de um ecossistema sustentável para a indústria de semicondutores. Assim, de forma colaborativa, U-I-G, atuam para a implementação da política pública proposta para o setor e compartilham o objetivo de fazer com que o Brasil tenha uma indústria consolidada para o setor.

Diante desse contexto teórico-empírico, a presente pesquisa tem como objetivo descrever os antecedentes e os resultados alcançados pelo Programa CI Brasil, bem como a dinâmica relacional de colaboração entre os seus três atores institucionais – U-I-G. Para atingir esse objetivo, foi conduzida uma pesquisa documental e de campo. A pesquisa de campo contou com entrevistas em profundidade com especialistas, profissionais e pesquisadores vinculados ao Programa CI Brasil, dadas as suas experiências na indústria de semicondutores e potencial de contribuição para o atingimento dos objetivos deste trabalho.

Com vista a alcançar o objetivo proposto, o artigo está estruturado da seguinte forma. Na primeira parte, apresenta-se o referencial teórico que embasou a pesquisa; na segunda parte, será apresentado o método de pesquisa e análise dos dados, bem como se destaca a história de desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil; na sequência, apresenta-se a análise dos dados; e, por fim, as considerações finais. 2 VISÃO RELACIONAL DA ESTRATÉGIA  

O conceito de estratégias coletivas, assim como a maior parte dos estudos sobre cooperação interorganizacional na administração, surgiu com maior vigor a partir da década de 1980, fundamentalmente pelos estudos desenvolvidos por Astley (1984) e Astley e Fombrun (1983) ao mostrarem que as estratégias não precisam se limitar a comportamentos concorrenciais.

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Desde então, as escolas que estudam estratégia tem procurado definir as fontes de vantagens competitivas e de retornos diferenciais de performance. De acordo com Dyer e Singh (1998), durante essa busca, duas perspectivas emergentes têm se tornado proeminentes na definição das fontes de vantagens competitivas.

A primeira fonte está associada aos estudos de Porter (1980) sobre a estrutura da indústria. Esses estudos enfatizam que retornos superiores são auferidos por empresas que estão situadas em indústrias com características estruturais favoráveis. Por outro lado, pesquisadores recentemente têm se concentrado na visão baseada em recursos (BARNEY, 1991), enfatizando que os diferenciais de performance advêm da heterogeneidade da empresa, mais do que da estrutura da indústria. De acordo com os teóricos desta corrente (BARNEY, 1991; WERNERFELT, 1984), as firmas que são habilidosas no acúmulo de recursos e capacidades que são raros, inimitáveis, valoráveis e insubstituíveis, apresentam uma vantagem competitiva.

Mesmo assim, apesar de reconhecer que essas duas proeminentes visões da estratégia tenham contribuído de forma incomensurável para o entendimento de como as empresas alcançam retornos acima do normal, Dyer e Singh (1998) apontam que elas negligenciaram um importante fato: a rede de relações em que a firma está imbricada. Para Dyer e Singh (1998), os recursos críticos de uma firma podem se estender para além das fronteiras da firma, concentrando-se na relação, ou seja, entre as firmas.

A grande mudança apontada pela nova corrente de estudos da estratégia se concentra de forma mais determinante na mudança da unidade de análise, que deixa de ser o mercado e a firma e passa a se concentrar na rede. Essa nova abordagem não exclui e nem se encontra em contexto de oposição às outras duas, mas sim, é complementar e, por sua vez, apresenta-se como uma nova alternativa à perspectiva estratégica adotada por uma organização.

Neste sentido, Nalebuff e Bradenburger (1995) indicam que as organizações devem sempre procurar conhecer as consequências de suas estratégias individuais e coletivas, tomando decisões, levando em conta o ambiente em que estão inseridas, bem como as empresas com as quais estabelecem relacionamentos de negócios. Ao propor o modelo que relaciona a importância da atividade com a existência de competências por parte da empresa, Child, Faulkner E Tallman (2005) destacam que as organizações de uma maneira geral não possuem todas as competências necessárias para a execução de grande parte das atividades de média e alta importância estratégicas. Logo, a melhor opção é recorrer à colaboração entre parceiros que possam, com os conhecimentos que possuem, ajudá-las a complementar suas competências.

A fim de dar maior ênfase ao uso de estratégias, Ebers e Jarillo (1998) destacam que, ao adotar a visão relacional, uma empresa consegue alcançar e sustentar diferenciais competitivos a partir das seguintes vantagens: a) aprendizado mútuo; b) co-especialidade; c) melhor fluxo de informações; e d) economias de escala. Assim, a visão relacional aponta que o foco deixa de ser apenas as estratégias individuais em “ataque” aos concorrentes, mas em contraposição a isto, assumindo que a unidade de análise é o relacionamento entre os atores e que a propriedade e controle das ações são atos coletivos, indica que são justamente os investimentos específicos nesse tipo de relacionamento que garantirão um retorno diferenciado à organização. Nessa visão, emerge a necessidade de formulação conjunta de políticas e implementação de ações pelos membros de coletividades interorganizacionais. As estratégias coletivas não são importantes apenas para a competitividade empresarial, mas também para o desenvolvimento de regiões e nações.  

 

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3 VISÃO RELACIONAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS  

A fim de resolver os complexos problemas de política encarados por governos, parece ser cada vez mais necessário envolver vários atores nos processos de elaboração e implementação de políticas. Dito de outro modo, evidencia-se ser iminente a adoção da visão relacional da estratégia por parte dos formuladores de políticas públicas. Atores privados, alinhamentos sociais e cidadãos possuem recursos importantes ou o poder para realizar intervenções políticas. Portanto, através de esforços conjuntos e da ação colaborativa, é que os problemas de políticas em uma sociedade moderna podem ser resolvidos (KLIJN, 2008; ETKOWITZ; LEYDESDORFF, 1998). Ou seja, uma estratégia para o desenvolvimento deve estar baseada em relações interorganizacionais, as quais, para Crooper et al. (2008), são relações entre duas ou mais organizações que compartilham objetivos. Logo, parece possível dizer que, para resolver os complexos problemas de política encarados pelo governo, que incluem gerar territórios dinâmicos e manter setores baseados em conhecimento, cada vez mais, estes estão optando pelo estabelecimento de ações colaborativas (ASTLEY; FOMBRUM, 1983).

Para Klijn (2008), a ideia de que a formação e implementação de política ou entrega de serviços aos cidadãos ocorre em uma rede de organizações, baseada em relacionamentos interorganizacionais, certamente não é novidade. Teóricos organizacionais como Emerson (1962), Litwak e Hylton (1962), Saad, Zawdie E Malairaja (2008) e Natário, Couto E Almeida, (2012) ressaltaram as interdependências de organizações na efetivação de resultados positivos no desenvolvimento de territórios.

Importante ressaltar que, quanto mais vinculados a conhecimentos e tecnologias as atividades estiverem, quanto mais fusão existir entre ciência e inovação, novos arranjos e interfaces passam a ser necessários para o desenvolvimento (BELL, 1968). No que se refere às interações, depois de um extenso estudo quantitativo de interações sobre atores em domínios de política nacional nos EUA, Laumann e Knoke (1987) concluíram que, apesar de sua falta de autoridade formal na tomada de decisões, muitos participantes privados possuem em suas mãos uma parte da política suficiente para assegurar que seus interesses serão levados em conta. Esse reconhecimento mútuo cria e sustenta a legitimidade de atores centrais e seu envolvimento em ações e eventos em que existe um sistema denso de interação interorganizacional.

Para Hans Klijn (2008), a formulação de políticas públicas e implementação das mesmas parece estar “cheia” de relações interorganizacionais, situações em que os atores visam colocar em ação uma estratégia de cooperação entre dois ou mais atores. As evidencias empíricas indicam que os governos de todo o mundo estão enxergando novas formas de governar, e a principal delas é a interação entre atores. Nesse sentido, os governos podem apoiar a inovação empresarial através do financiamento de pesquisa ou do fornecimento de infraestrutura através de parcerias público-privadas (SANDFORT; MILWARD, 2008).

A colaboração entre atores tem sido apontada como elemento relevante para a produção sistemática de inovações e o desenvolvimento de territórios, setores e nações. Freeman (1995) destaca que, na metade do século XIX, existiam pesquisadores que se detinham ao estudo da relação entre desenvolvimento econômico e a necessidade de articulação entre atores, enfocando principalmente a necessidade de interação entre indústria, ciência e ensino. Isso porque as redes têm sido vistas como uma solução adequada para administrar políticas públicas (FLEURY; OUVERNEY, 2007; DIAS, 2011).  

 

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4 ESQUEMA CONCEITUAL DA PESQUISA  

De forma resumida, a visão relacional proporciona o embasamento teórico para a compreensão do fenômeno analisado, enquanto que o Programa CI Brasil configura-se no caso estudado. A Figura 1 ajuda a ilustrar o modelo teórico-empírico que norteia a metodologia e análise empregada neste estudo para atingir o objetivo proposto.

 

 

 

 

Figura 1: Desenho Teórico-Conceitual da Pesquisa Fonte: Elaborada pelos autores

Assim, o estudo do caso do Programa CI Brasil foi dividido em três grandes focos de

análise: a) antecedentes do Programa CI Brasil; b) dinâmica da colaboração entre universidade, governo e indústria do Programa CI Brasil; e, por fim c) os principais resultados que já podem ser observados.

O primeiro foco de análise do estudo buscou destacar os objetivos do Programa CI Brasil, os principais atores, bem como fez um resgate das características relevantes do mesmo. Já, num segundo momento, preocupou-se em investigar o funcionamento do programa, as suas principais ações e as formas de imbricamento entre os atores responsáveis pela implementação da estratégia governamental, demonstrando a sistemática de trabalho adotada pelos agentes sob a lente da visão relacional para a implementação da política pública. E, de forma a evidenciar como o imbricamento na rede de relações tem garantido resultados expressivos e diferenciados para o Brasil, apresentar-se-ão os principais resultados da estratégia colaborativa. A fim de melhor entender o método utilizado para atender a problemática da pesquisa, na seção seguinte, apresenta-se o método utilizado na condução da coleta de dados. 5 METODOLOGIA  

A estratégia de pesquisa utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi o estudo de caso. Essa estratégia é indicada para estágios iniciais e etapas exploratórias de um dado fenômeno (MEREDITH, 1998; YIN, 1994), em que as experiências de profissionais da área são fundamentais para a relevância prática dos resultados (FISHER, 2007). Além disso, o estudo de caso pode fornecer uma descrição rica do fenômeno estudado (SIGGELKOW, 2007). A unidade de análise desse trabalho é o Programa CI Brasil. Essa unidade de análise justifica-se pelo problema de pesquisa proposto, que busca entender os antecedentes, a dinâmica da colaboração e os principais resultados do programa.

Ainda é relevante destacar que esse trabalho se propõe a fazer uma primeira exploração sobre o Programa CI Brasil, assim os principais norteadores gerais: i) quais são os

Antecedentes do Programa CI Brasil

A Dinâmica da Colaboração entre Universidade, Governo

e Indústria

Resultados do Programa

CI Brasil

Visão relacional - Universidade, Indústria e

Governo

Programa CI - Brasil

Política Pública 

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antecedentes do Programa CI Brasil; ii) como ocorre a dinâmica da colaboração entre as três esferas universidade, governos e indústrias; e iii) quais são os principais resultados do Programa CI Brasil. Esse primeiro levantamento permite entender o cenário das relações colaborativas entre o governo, indústria e empresas.

Para a coleta de dados, foram utilizadas três fontes de dados. Primeiramente, buscou-se referências bibliográficas sobre a visão relacional. Essa primeira etapa foi fundamental para proporcionar aos autores deste trabalho conhecimento prévio sobre a temática em questão. Em um segundo momento, foram utilizados documentos como relatórios do governo e de órgãos vinculados à indústria de semicondutores, bem como ao Programa CI Brasil. A visita a esses documentos permitiu identificar dados e informações sobre as características do programa ao longo dos últimos anos.

Finalmente, foram conduzidas entrevistas em profundidade com especialistas, profissionais e pesquisadores vinculados ao Programa CI Brasil. As entrevistas foram conduzidas a partir de um roteiro contendo questões semiestruturadas que serviram de guia para que os autores pudessem dirigir a entrevista de acordo com os objetivos da pesquisa. Esse roteiro foi pré-testado com a ajuda de três experts conhecedores da indústria de semicondutores e do Programa CI Brasil. A seleção dos entrevistados ocorreu com base em dois critérios: experiência na indústria de semicondutores e potencial de contribuição para o atingimento dos objetivos deste trabalho. Algumas entrevistas ocorreram nos locais de trabalho desses entrevistados de forma a deixá-los bastante confortáveis para responder as questões semiestruturadas. O Quadro 1, mostrado a seguir, apresenta alguns dados dos entrevistados.

Quadro 1: Fonte de Dados da Pesquisa Fonte: Elaborado pelos autores

A fim de permitir um melhor entendimento sobre a dimensão e importância estratégica

do desenvolvimento da indústria de semicondutores para o Brasil, apresenta-se, na seção seguinte, uma breve explanação sobre a trajetória do setor no mundo e no Brasil, bem como o estudo do caso do Programa CI Brasil, de acordo com as etapas teórico-conceituais, descrevendo primeiramente os antecedentes, os principais processos sistemáticos e, por fim, os seus resultados mais expressivos. Para fins de confidencialidade, os entrevistados serão denominados E1, E2, E3,E4, E5 e E6.  

 

 

Fonte de Dados

Vínculo do entrevistado Cargo do Entrevistado

A Pesquisador na Área de Microeletrônica Doutor E1

B Programa CI- Brasil Gerente Nacional do Programa CI Brasil

E2

C Secretaria de Política de Informática –

SEPIN do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação

Coordenador Geral de Microeletrônica

E3

D Representante Desing House Diretor de Tecnologia E4

E ABINEE – Associação Brasileira da

Indústria Elétrica e Eletrônica Analista

E5

F Consórcio de Universidades Brazil –IP Coordenadora do Consórcio

de Universidades E6

G Relatórios Oficiais, Apresentações em

Slides, Extratos de Conferências e Editais

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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta parte, serão apresentados o Programa CI Brasil, um resgate histórico do referido programa, bem como a dinâmica de colaboração existente e os principais resultados do programa em estudo.  

6.1 O PROGRAMA CI BRASIL  

A indústria brasileira de semicondutores tem sido abastecida por diversas iniciativas públicas para o seu desenvolvimento. Dentre essas iniciativas, pode-se destacar a implantação do Programa CI Brasil e a criação de leis que forneçam incentivos fiscais às empresas aqui instaladas. No que tange ao Programa CI Brasil, pode-se dizer que ele está alicerçado em três eixos: a) incentivar a atividade econômica na área de projetos de Circuitos Integrados (CIs); b) expandir a formação de projetistas de Circuitos Integrados (CIs); e c) promover a criação de uma indústria nacional de semicondutores (ABDI, 2011).

Cabe esclarecer que o CI Brasil tem por objetivo maior a organização de ações de interesse comum, para o desenvolvimento do setor. Logo, na organização das atividades do CI Brasil, participam órgãos do governo (MDIC, ABDI), agências de fomento (FINEP, CNPq e BNDES), sociedades científicas (SBMicro e SBC) e sociedades empresariais (ABINEE e CEITEC S.A.), além do consórcio Brazil-IP, que conta com a participação de 18 universidades nacionais. Para o entrevistado E2, Gerente Nacional do Programa CI Brasil,“[...] o CI é uma ação conjunta entre o governo federal, empresas e o setor acadêmico, com o objetivo desenvolver um ecossistema em microeletrônica”.

Percebe-se, pelo número de organizações pertencentes as três esferas avaliadas, a importância da cultura setorial ou sistemas de significado compartilhados, que, segundo Klijn (2008), são importantes para o sucesso das interações já que os atores dentro de políticas setoriais compartilham percepções da importância do setor ou de normas ou crenças profissionais. Na próxima seção, serão apresentados os principais antecedentes do Programa CI Brasil.  

6.2 ANTECEDENTES DO PROGRAMA CI BRASIL  

No início dos anos 2000, era latente a preocupação governamental com o desenvolvimento tecnológico do país. Para se entender qual a indústria seria foco de incentivos prioritários, foram realizados diversos debates e encontros com representantes de várias indústrias. Após a análise das possibilidades, percebeu-se que uma atividade capaz de contribuir para o desenvolvimento nacional seria a indústria de semicondutores. Essa indústria já havia sido alvo de fomento no início da década de 60, mas, após a abertura do mercado na década de 90, ela sofreu com a livre concorrência e praticamente foi exterminada no país (BORTOLASO, et al., 2013). Após a identificação da indústria que receberia foco de incentivos, era agora necessário entender quais ações seriam necessárias para desenvolver a área de semicondutores. Assim, buscando identificar caminhos que levassem o país a se desenvolver nesse campo, um dos atores voltados ao desenvolvimento do país, o Banco Nacional Desenvolvimento Nacional -BNDES, em 2002, contratou um estudo internacional visando à implantação da indústria de circuitos integrados (CI), os populares chips no país. De acordo com o entrevistado E1, pesquisador na Área de Microeletrônica, o estudo contratado pelo BNDES foi de extrema importância para que se entendesse a complexidade dessa indústria no país.

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O documento final entregue ao BNDES concluiu que a etapa de projeto, primeira etapa da cadeia produtiva de semicondutores, seria o alvo imprescindível na construção de um ecossistema voltado para a microeletrônica no país (GUTIERREZ; LEAL, 2004). Segundo o entrevistado E1, uma possível justificativa para a escolha da etapa de projeto pode estar associada ao fato de que essa etapa é uma das mais acessíveis em termos de investimento, “[...] a etapa de front-end é uma parte muito cara e a etapa de back-end também demanda investimentos expressivos”. Outro ponto também ressaltado pelo entrevistado reside no fato de o estudo apontar o governo como o principal ator de fomento. E1 destaca ainda que “[...] a cadeia de semicondutores é uma cadeia muito complexa, muito complicada, depende muito de estratégia e fomento público, de apoio do governo”.

Utilizando o estudo realizado em 2002 como base de informações e de ações para desenvolver a indústria de semicondutores brasileira, o governo adotou uma série de ações para o desenvolvimento da indústria de semicondutores. Dentre estas ações, a principal estratégia centrou-se na implantação do programa denominado CI Brasil. O CI Brasil é um programa vinculado à Secretaria de Política de Informática (SEPIN) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Essa iniciativa foi possível devido a uma ação conjunta e articulada entre universidade, governo federal e indústrias, o que pode ser entendida como ação colaborativa (ASTLEY; FOMBRUM, 1983). Assim, parece possível afirmar que o governo brasileiro segue em direção a parcerias e redes para atingir resultados mais expressivos no desenvolvimento da indústria de semicondutores. A ação nacional mostra-se similar à destacada por Klijn (2008) em seu estudo. Klijn (2008) enfatizou que as redes funcionam como veículos para atingir os produtos de políticas e organizar a entrega de serviços, conectando diversos atores.

Ainda segundo o mesmo entrevistado, a necessidade da intervenção do governo como articulador dessa cadeia não é uma prerrogativa somente brasileira, conforme pode ser evidenciado na fala desse entrevistado: “[...] não é só aqui... é em todo o lugar no mundo, o governo geralmente atua como fomentador, então o Brasil está caminhando pra isso, está fazendo ações isso”. De acordo com artigos recentes, muitos países têm utilizado estratégias colaborativas para alavancar o desenvolvimento da indústria de semicondutores. O Quadro 2 apresenta os principais elementos envolvidos na relação de criação do Programa CI Brasil.

Evidências Empíricas sobre as

características e motivações do

Programa CI Brasil

O estudo contratado pelo BNDES foi de extrema importância para se entender a complexidade dessa indústria no país E1.

A etapa de front-end é uma parte muito cara e a etapa de back-end também demanda investimentos expressivos E1.

Cadeia de semicondutores é uma cadeia muito complexa, muito complicada, depende muito de estratégia e fomento público, de apoio do governo.

Não é só aqui... é em todo o lugar no mundo, o governo geralmente atua como fomentador, então o Brasil está caminhando pra isso, está fazendo ações isso E1.

Quadro 2: Evidências Empíricas Fonte: Elaborado pelos autores

Após o entendimento das necessidades que promulgaram a criação do Programa CI

Brasil e das características da indústria, faz-se necessário entender a dinâmica de colaboração entre universidade, governo e indústria.

 

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6.3 DINÂMICA DA COLABORAÇÃO UNIVERSIDADE, GOVERNO E INDÚSTRIA  

O Programa CI Brasil opera via ação conjunta de universidades, governo federal e indústrias para desenvolver a indústria de microeletrônica no país. São disponibilizados pelo Programa CI Brasil: a) bolsas de estudo-pesquisa via o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ, que variam de R$ 2.000,00 a R$ 8.000,00; b) infraestrutura como servidores e software EDA, via disponibilização de licenças; c) treinamento nas ferramentas de projeto viabilizado via Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e os produtos gerados pelas design house podem ser financiadas pela FINEP e Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES.

O programa funciona por meio de editais, chamadas públicas; assim, uma das suas primeiras ações foi a seleção pública de propostas para a ampliação do número de centros de projetos de Circuitos Integrados (Design Houses - DHs), de acordo com o edital MCT/CNPQ/CI Brasil nº 59/2008. As propostas aprovadas foram financiadas com valores oriundos de fundos setoriais, liberados conforme a disponibilidade orçamentária durante os anos de 2008 e 2009. Até o momento, a maior parte das ações tem dependido de financiamento do governo federal, sendo que já foram feitos investimentos superiores a 100 milhões de reais, desde 2005, na estruturação do sistema de microeletrônica.

Após o apoio do governo federal, operam no Brasil 22 design houses, as quais são participantes do Projeto CI Brasil (MCTI, 2011). Destas, sete nasceram na primeira fase do programa. Segundo o entrevistado E1, “[...] treze são apoiadas parcialmente pelo programa e não possuem fins lucrativos, 5 recebem apoio do governo mas possuem fins lucrativos e 4 são design houses independentes”. As informações fornecidas pelo entrevistado foram confirmadas pelos relatórios oficiais do programa. Em sua maioria, são spin-offs, que surgiram ou estão conectadas a universidades ou a instituições públicas de pesquisa. Essa proximidade com a universidade lhe confere uma nova função: produzir conhecimento associado aos problemas do setor empresarial (LEYDESDORF; ETZKOWITZ, 1996, 1998, 2000). Além disso, destaca-se que as DHs foram, na sua maioria, criadas a partir de 2005, depois da concepção do programa.

Quando o foco de análise volta-se para as esferas vinculadas ao Programa CI Brasil, pode-se utilizar o depoimento do entrevistado para o entendimento das relações entre as três esferas. Ao ser questionado a respeito do papel da universidade, o entrevistado E2 informa:“[...] o papel da universidade é formar recursos humanos e realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento, somando-se às atividades das instituições e centros de P&D”. No que tange ao papel da indústria, o mesmo entrevistado E2, gerente nacional do Programa CI Brasil, explica que “[...] a indústria tem o papel de destino dos profissionais de alto nível formados e, além da importância econômica, há ainda a demanda cada vez maior por desenvolver e incorporar nos produtos tecnologia e inovação, como forma de ampliar a produtividade e competitividade. E a inovação é introduzida nos produtos pelos componentes e software”.

E, quando é detalhado o papel do governo, novamente é ressaltado o papel de fomentador já destacado anteriormente pelo entrevistado E1 e pelo estudo realizado em 2002. Para o entrevistado E3, coordenador geral de microeletrônica, “O Governo está preocupado com o fortalecimento do setor produtivo, formação de recursos humanos e incremento das atividades de P&D. Claro que o déficit da balança comercial preocupa, mas a evolução e o impacto das TIC na economia moderna ainda está longe de ser avaliado. E mais, como há um elevado risco na atividade, o apoio do Governo é fundamental”. A Figura 2 busca sistematizar o processo de trabalho do Programa CI Brasil.

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Figura 2: Dinâmica da Colaboração do Programa CI Brasil Fonte: Elaborado pelos autores

Parece possível afirmar que o governo nacional vem utilizando uma estratégia baseada

em relações interorganizacionais devido à existência de dependências mútuas que emergem porque atores não possuem por si próprios recursos suficientes para a sobrevivência ou para o atingimento de metas a serem cumpridas. Portanto, eles devem interagir com outras organizações a fim de trocar recursos. Os recursos podem ser recursos financeiros, legitimação de autoridade ou conhecimento. Redes se desenvolvem porque essas trocas de recursos continuam através do tempo (KLIJN, 2008; RHODES, 1988).

Juntamente com o fomento ao nascimento e manutenção das Design Houses, o Programa também pensa no desenvolvimento de recursos humanos para serem absorvidos pelas DHs. Isso porque a principal exigência de uma empresa de circuitos integrados, seja qual for sua forma de atuação ou tipo de negócio, prende-se à disponibilidade de mão-de-obra qualificada (ABDI, 2011; MCTI, 2011). Assim, no que se refere à formação de mão-de-obra qualificada, foi criado, em 2008, o Programa Nacional de Formação de Projetistas de Circuitos Integrados (PNF-PCI). O PNF – PCI foi constituído em parceria com a Cadence Design Systems, uma das líderes mundiais no segmento, sendo seu objetivo oferecer ao país profissionais especializados em projetar circuitos integrados. Cabe observar que, ao PNF-CI, estão vinculados dois centros de treinamento.

O objetivo dos centros de treinamento de projetistas em CIs é o estabelecimento de um ciclo contínuo de capacitação e implantação, desenvolvimento e consolidação da área de microeletrônica no país. Essa medida visa ofertar recursos humanos qualificados e em condições equivalentes às oferecidas por países como a Índia, China, Rússia e países do leste europeu. Podem participar dos processos seletivos graduados em curso superior, em áreas como Engenharia Elétrica, Eletrônica, de Telecomunicações, da Computação, Física etc e, estes têm como benefícios uma bolsa mensal de 2.000,00 do CNPQ e a participação no programa de Trainees nas DHs vinculadas ao CI Brasil. Atualmente, o programa mantém dois centros de treinamento nacionais, um deles em Porto Alegre/RS e o outro em Campinas / SP. O centro de treinamento 1 foi estruturado em março de 2008 e utilizou como base a estrutura física do instituto de informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A operação e a montagem da infraestrutura do centro foram feitas por meio de um financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A cidade de Campinas abriga o centro de treinamento 2, que está sediado no centro de Tecnologia da Informação Renato Archer.

Na próxima seção, serão apresentados os principais resultados do Programa CI Brasil alinhando com a sua trajetória.

 

Governo  Universidade 

Indústria 

Programa CI Brasil

Universidades e Centros de pesquisa

CNPQ FINEP BNDES

Design House - DH Front End Back End

Chamada Pública

A DH apresenta projetos

O CI – Brasil Seleciona as DHs

Concede Bolsas via CNPQ

Usualmente DH está em uma incubadora

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6.4 RESULTADOS DO PROGRAMA CI BRASIL  

Desde sua implantação no ano de 2005, o Programa CI Brasil apresenta resultados expressivos, como o desenvolvimento de projetos em geral de forma cooperativa entre as design houses, formação de mão-de-obra qualificada e disponibilização de treinamento no que tange à gestão das design houses. É importante ressaltar que esses resultados estão vinculados a oito anos de programa e à apenas duas chamadas públicas para seleção e apoio à design house. Também cabe destacar que, apesar dos vários profissionais qualificados pelos centros de treinamento, eles só iniciaram os treinamentos em 2008.

No que tange aos projetos de forma geral, pode-se citar “Chip do Boi”, desenvolvido pela Ceitec S/A, que é um componente básico dos brincos eletrônicos usados na identificação e rastreabilidade do gado bovino. As vendas desse CI devem ter chegado a 1,5 milhões em 2012. Outro projeto que merece destaque é o projeto da Floripa DH que vem desenvolvendo um circuito integrado para dispositivos de auxílio a deficientes auditivos em parceria com as empresas LSI-TEC, de São Paulo, e Amplivox, de Pelotas/RS (REVISTA AMANHÃ, 2012). Também, a SMDH desenvolveu, em parceria com a Chipus, um microcontrolador utilizado em equipamentos de segurança, batizado de ZR16. Segundo o entrevistado E4, “[...] esses projetos são financiados a fundo perdido”.

Ainda, em novembro de 2007, foi instituído o SIBRATEC, uma rede de centros de inovação em microeletrônica, operado pela FINEP. Entre suas atribuições, está o encaminhamento de projetos cooperativos que serão desenvolvidos para atender demandas específicas de empresas. Os primeiros projetos cooperativos apoiados pela rede estão disponibilizados no Quadro 3 e se referem à seleção feita em maio de 2011, com uma demanda total de recursos de 41,5 milhões.

Projeto Empresa Proponente Parceiro Plataforma de Ips CHIPUS UFSM

R FID Tag passivo para medicina INOVACODE CTI Renato Archer CODEC-PQ - compressão e descompressão de sinaise informações de qualidade da energia elétrica.

Embrasul UFRGS

Sensor EE: sinalizador de falhas em sistema de distribuição elétrica

Expertec LSTI-Tec

EM-Hard "energyharvesting" carregador solar de bateria.

SiliconReef Cesar e CTI Renato Archer

IDTV: chip de recepção para TVD Idea Eldorado e CTI Renato Archer

Sistema de Semáforos Verdes SeriTel Cetene Quadro 3: Empresas Contempladas com Financiamento FINEP e Parceiras

Fonte: MCTI (2011)

No que se refere à formação de mão de obra qualificada, o Programa CI Brasil, por meio dos centros de treinamento, já formou de 2008 até 2011 mais de 500 projetistas de circuitos integrados entre sistemas digitais, Mixed-Signal e Radiofrequências. Em média, formam-se 140 projetistas a cada ano no país. Em média, 50% dos formandos anuais dos centros de treinamento são absorvidos pelas DHs vinculadas ao Programa CI Brasil.

Para Geddes (2008), ao se estabelecer uma parceria, reúnem-se todas as chaves e interesses das organizações envolvidas no desenvolvimento urbano e regional. De muitas formas, a competência da parceria é multidimensional, na qual um dos principais propósitos dos arranjos é unir setorialmente atividades específicas as quais não são tão bem sucedidas quando realizadas isoladamente – cada uma por si. No que tange ao financiamento das ações colaborativas, as parcerias podem apresentar uma base de recursos diferenciados em termos de não só quantidade de recursos disponíveis, como também suas fontes e sua natureza.

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Muitas parcerias dependem dos recursos (pelo menos inicialmente) dos financiamentos governamentais, e, em alguns casos, são constituídos especificamente para administrar uma locação de fundo particular.

Outro resultado do programa centra-se na qualificação da gestão das design houses. O CI Brasil fornece acesso ao “Programa de Capacitação das DHs Brasileiras”, que visa capacitar as design houses em gestão empresarial. Segundo a analista responsável pelo acompanhamento dos eventos ligados ao Programa CI Brasil, são desenvolvidas ações de sensibilização, citando como exemplo o Workshop realizado em setembro de 2012, que teve uma oficina de sensibilização sobre o caso da DHs portuguesas. Ainda, foram selecionados gestores de 10 DHs para que fizessem o Empretec (é uma metodologia desenvolvida pela Organização das Nações Unidas – ONU – para desenvolver o empreendedorismo).

Além das ações já destacadas, a estratégia de desenvolvimento do setor de semicondutores nacional conta ainda como apoio do consórcio Brazil –IP. O Brazil IP (Brazil Intelectual Property) é um consórcio de laboratórios e universidades brasileiras que visa à formação de recursos humanos em projeto de circuitos integrados. O consórcio surgiu em 2003 e era composto de oito universidades brasileiras, sendo financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Hoje, o programa está em sua segunda edição, sendo composto de 18 instituições, em 15 estados diferentes, dentre as principais estão UFPE, UFCG, UFPA, UFC, UFRN, UFPB, UFMS, UFS, UNIFEI, UNICAMP, UNESP, UFSC, UNIPAMPA, UNIVALI e UFSM. O objetivo central do consórcio Brazil-IP é a formação de recursos humanos no projeto de circuitos integrados de qualidade através do estabelecimento de um programa de treinamento que inclui uso de ferramentas comerciais, cursos de capacitação e projetos de circuitos usados largamente na indústria. As atividades têm como foco alunos de graduação.

A ideia básica consiste em iniciar o treinamento dos futuros projetistas durante o ensino da graduação através de projetos de módulos eletrônicos de propriedade intelectual – IP-cores. Como resultado dessa iniciativa, tem-se a formação de engenheiros graduados com conhecimento em metodologias de projetos, ferramentas de EDA comerciais, e que tenham sido confrontados com projetos reais prototipados em FPGA e Silício. Segundo dados fornecidos pela coordenação do projeto Brazil-IP, no período de julho de 2008 a novembro de 2012, foram projetados cerca de 18 IP-cores segundo padrões industriais de qualidade. Ainda, foi formado neste período um grupo de, aproximadamente, 120 alunos capacitados para o projeto de IP-cores de qualidade industrial. As informações da coordenação disponibilizadas ao pesquisador ainda destacam que esse grupo apresenta um alto fator multiplicativo: “Se considerarmos o fator multiplicativo deste grupo nas instituições, podemos ter mais de 120 profissionais treinados”. Esse fator multiplicativo ao qual a coordenação do programa se refere é um dos benefícios da pesquisa que está se espalhando pela comunidade como um todo de forma dinâmica. Todling, Lehner e Kaufmann (2009) encontraram resultados semelhantes em seus estudos.

Dentre os principais motivos para a saída dos acadêmicos do projeto Brazil-IP, apenas 5% do total de egressos tiveram suas bolsas canceladas por mau desempenho durante o curso de graduação. E, dos concluintes, apenas 8% não estão atuando na área de microeletrônica. Contudo, a grande maioria dos egressos (90% do total) concluiu seus cursos e está atuando na área de microeletrônica. Uma grande parte dos egressos está atuando em uma das atividades do CI Brasil (28% em alguma DH do CI Brasil e 23% em um dos Centros de Treinamento do CI Brasil). Pode-se concluir que, com relação à atração de alunos para a área de microeletrônica, o Brazil-IP tem tido um papel de destaque, uma vez que 90% dos egressos continuaram atuando na área de microeletrônica após a participação no programa Brazil-IP e tiveram uma rápida absorção pelo mercado de trabalho nacional. Pode-se ainda complementar dizendo que as universidades do consórcio apresentam a função empreendedora. A Universidade empreendedora é aquela que incorpora na sua missão o desenvolvimento do

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Antecedentes do Programa CI Brasil

A Dinâmica da Colaboração entre Universidade, Governo

e Indústria

Resultados do Programa

CI Brasil

empreendedorismo (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995; 1997; 2000). Nesse sentido, as Universidades passam a atuar fortemente em conjunto com as empresas e o governo, transferindo tecnologia efetiva por meio da capitalização do conhecimento para a sociedade (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995). A capitalização do conhecimento que vai gerar inovações no setor de semicondutores foi entendida, pelos responsáveis pelas ações do Programa CI Brasil, como um processo que envolve mecanismos de feedback e relações interativas entre a ciência, a tecnologia, o aprendizado, a produção e a política.

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Associação Brasileira de Private Equitye Venture Capital (ABVCAP) firmaram convênio de cooperação, com o apoio da FINEP, detentora de larga experiência em Venture Capital e promoveram um Venture Fórum específico para as empresas vinculadas ao setor de microeletrônica e também Tecnologia da Informação. Devido a uma metodologia específica de corte, apenas uma DH do programa participou da etapa de qualificação, onde recebeu capacitação durante 23 dias sobre atração, utilização e gestão de capitais de risco. Ao ser questionada sobre as empresas, fundos ou angels, a analista informou que essas informações não poderiam ser divulgadas em virtude da existência de um acordo de confidencialidade entre as empresas participantes. Contudo, revelou que participaram investidores nacionais e internacionais.

Dessa forma, a partir da descrição das ações e dos principais resultados do Programa CI Brasil, parece possível concluir que o governo nacional está utilizando uma estratégia coletiva para fomento da polícia pública e desenvolvimento do setor de semicondutores nacional. A figura 3 apresenta a síntese dos antecedentes, dinâmica de cooperação e resultados.

Figura 3: Antecedentes, Dinâmica da Colaboração e Resultados do Programa CI Brasil Fonte: Elaborado pelos autores

Percebe-se uma grande participação, tanto na questão financeira, como na gestão por

parte do governo e ampla interação entre universidade e indústria. Etzkowitz (2009) destacou que as espirais raramente são iguais: uma geralmente serve como força motivadora, a organizadora da inovação, em torno da qual as outras giram como é o caso do governo no Programa CI Brasil. Embora mantenha ações colaborativas com a universidade e a indústria, é ele quem serve como força motivadora, estando na posição de “gestor de rede”. Mesmo estando na posição de gestor, as suas decisões não são unilaterais (KLIJN, 2008), visto que elas são tomadas de forma compartilhada entre os atores que se demonstram altamente interdependentes no processo de desenvolvimento da indústria de semicondutores.

 

 

- Preocupação governamental com o desenvolvimento do país - Necessidade de desenvolvimento tecnológico - A indústria de semicondutores já ter sido fomentada no país - A etapa da Design é considerada a mais acessível em termos de investimentos financeiros

Interação entre Universidade, Indústria e Governo

- Chamada Pública - Seleção das DH’s - Implementação de bolsas e licença

- Desenvolvimento de Produtos (Por Exemplo: chip do Boi) - Desenvolvimento de 8 Projetos em Conjunto (Por Exemplo: chip para dispositivo auditivo) - Capacitação de 500 projetistas

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dessa perspectiva interorganizacional, a elaboração e implementação de

política pública parece ter se tornado um processo complexo, e passou a envolver uma infinidade de relações entre universidade, governo e indústria no desenvolvimento da indústria nacional de semicondutores. Pode-se notar com base na análise dos dados que resultados não surgem imediatamente, mas precisam ser geridos e coordenados cuidadosamente de forma processual por cada ator imbricado no processo. Isso está em contraste com a administração pública convencional, que fortemente enfatiza a tomada de decisões políticas e o estabelecimento de metas como fatores importantes. Essa mudança parece então indicar que a gestão ou implementação de políticas públicas para o setor de semicondutores está embasada na adoção de estratégias relacionais.

A visão relacional da estratégia na implementação de políticas públicas foca na relação entre os que tomam decisões políticas e como os demais atores são organizados na operacionalização da estratégia. Em suma, o papel do gestor, do governo, a partir de uma perspectiva de rede interorganizacional no setor de semicondutores, é equivalente ao de um mediador, um gestor de processo ou um facilitador. Parece possível dizer que o Programa CI Brasil, organizado com a finalidade de que universidade, governo e indústria nacional estivessem engajados num mesmo objetivo, está cumprindo com alguns objetivos principais, dentre os quais, pode-se evidenciar o nascimentos da indústria de semicondutores a partir das suas inter-relações, que destacam um modelo não linear de implementação de política pública.

A estratégia de ações colaborativas, identificada na descrição do programa e dos seus resultados, está apresentando importantes efeitos, incentivando a atividade econômica na área de projetos de circuitos integrados. Outrossim, espera-se nos próximos anos que ocorra um aumento do PIB gerado pela indústria eletrônica, que hoje não passa de 2% no Brasil. Além disso, está expandindo a formação de projetistas de CI´s e, em consequência, trazendo o adensamento do complexo eletrônico nacional, atraindo inclusive investidores e empresas multinacionais. Muitos projetos estão em andamento e ainda neste ano o primeiro microcontrolador projetado 100% pela colaboração de duas design houses brasileiras do Programa CI Brasil ganhará escala comercial. Embora tenham sido projetados no Brasil, esses e outros circuitos ainda têm de ser fabricados e encapsulados no exterior. Isso porque não há no Brasil, ainda, uma fábrica capaz de forjar toda a gama de silícios projetada pelas design houses. Logo, cabe destacar a necessidade de incentivar o desenvolvimento de outras etapas da cadeia de fabricação de CI, fábricas de Wafers, encapsulamento e teste.

Assim sendo, pode-se concluir este estudo enfatizando que o desenvolvimento da indústria de semicondutores dá mostras de estar especialmente dependente da cooperação e interação e que os primeiros resultados já podem ser observados e são considerados satisfatórios. Existem indícios de relações colaborativas e não tradicionais na condução da política pública de desenvolvimento do setor de semicondutores. Por conseguinte, dado que esta pesquisa teve caráter apenas exploratório para o fenômeno, a estratégia baseada em ações colaborativas para desenvolver um setor baseado na dinâmica do conhecimento e da inovação deve ser foco de estudos futuros mais aprofundados. REFERÊNCIAS ABDI. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. As Design Houses (DHs) Brasileiras. Relatório Analítico, Brasília, nov. / 2011. ASTLEY, Graham W.. Toward an appreciation of collective strategy. Academy of Management Review, [s.l.], v. 9, n. 3, p. 526-535, 1984. ASTLEY, W.G; FOMBRUN, C. J. Collective Strategy: Social Ecology of Organizational Environments. The Academy of Management Review, v. 8, n. 4, p.576, 1983. BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management,

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