Polígrafo Química Orgânica Básica

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    CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

    DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

    CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

    Professor: Dr. Luciano Dornelles

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     1. ESTRUTURA DAS FUNÇÕES ORGÂNICAS

    1. Introdução

    1.1. Importância da Química Orgânica

    A química orgânica é a química dos compostos do carbono. Os compostos de carbonosão os constituintes químicos fundamentais de todos os seres vivos do planeta. Entre os

    compostos químicos estão os ácidos desoxirribonucleicos (DNA), moléculas gigantes que

    encerram a informação genética de todas as espécies vivas, Figura 1. Os compostos de carbono

    constituem as proteínas do sangue, dos músculos e da pele. Juntamente com o oxigênio do ar que

    respiramos, os compostos de carbono da nossa alimentação fornecem a energia que sustenta a

    nossa vida.

    Figura 1. Segmento hipotético de cadeia de um só DNA, mostrando como os gruposfosfoestéricos ligam os grupos -OH em 3`e 5`das unidades desoxirribose.

    Inumeráveis observações sugerem que, há muitos bilhões de anos no passado, a maior

     parte dos átomos de carbono presentes na Terra estava sob a forma de um gás, o CH4, chamado

    metano. Este composto orgânico simples, juntamente com a água, a amônia e o hidrogênio eram

    os constituintes da atmosfera primitiva. Mostrou-se, experimentalmente, que descargas elétricas,

    ou outras formas de radiação com muita energia, ao passarem através de uma destas atmosferas

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     provocam a fragmentação desses compostos simples em pedaços de muitos reativos. Estes

     pedaços combinam-se em compostos mais complicados. Desta maneira, podem-se formar

    compostos que denominamos aminoácidos, formaldeídos, cianeto de hidrogênio, purinas e

     pirimidinas. Acredita-se que estes e outros compostos que se formaram de maneira idêntica,

    foram arrastados para o mar, pela ação da chuva, até que o mar se tenha convertido num vasto

    depósito com todos os compostos necessários à emergência de vida. Os aminoácidos,

    aparentemente, reagiram uns com os outros e formaram as primeiras proteínas. As moléculas de

    formaldeído reagiram umas com as outras e formaram açúcares e estes açúcares, juntamente com

    fosfatos inorgânicos, combinaram-se com as purinas e as pirimidinas a fim de constituírem

    moléculas simples de ácidos ribonucleicos (RNA) e de DNA.

     Não somos somente constituídos, em grande parte, por compostos orgânicos, não apenas

    somos descendentes destes compostos e somos por eles alimentados, mas também vivemos naidade da química orgânica. A roupa que vestimos, de fibra natural, como a lã ou o algodão, ou de

    fibra sintética, como o náilon ou um poliéster, é constituída por compostos do carbono. São

    orgânicos muitos materiais que compõem a casa que nos abriga. São orgânicos a gasolina que

    impulsiona os nossos automóveis, a borracha dos pneus e o plástico do revestimento interior dos

    carros. A maior parte dos remédios que nos ajudam a curar doenças, ou a aliviar sofrimentos, é

    de natureza orgânica. Os pesticidas orgânicos ajudam-nos a eliminar muitos agentes que

    disseminam doenças entre os animais e os vegetais.

    Os compostos químicos orgânicos são também fonte de alguns dos nossos mais sérios

     problemas. Muito destes compostos, introduzidos no ambiente, provocam consequências

     bastante diversas das que eram visadas. Vários inseticidas, que se usaram durante anos, foram

     proibidos, são prejudiciais a muitas espécies, além dos insetos daninhos, e são perigosos para os

    homens. Os compostos orgânicos usados como propelentes de aerossóis foram proibidos pois

    ameçavam destruir a camada de ozônio da alta atmosfera, camada que nos protege de radiação

    muito nociva.

    Assim, para o bem ou para o mal, a química orgânica está associada a quase todos os

    aspectos das nossas vidas. Teremos a sabedoria se tentarmos entendê-la o melhor possível.

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    1.2. O Desenvolvimento da Ciência da Química Orgânica

    Durante milhares de anos os homens usaram os compostos orgânicos e as reações

    orgânicas. A primeira experiência deliberada com uma reação orgânica data, possivelmente, da

    descoberta do fogo. Os antigos egípcios usaram compostos orgânicos (anil ou alizarina) para

    tingir tecidos. A famosa “púrpura real” dos fenícios era também uma substância orgânica obtida

    de molúsculos. A fermentação de uvas, para a produção de álcool etílico e das qualidades

    amargas do vinagre (“vinho ácido”), está descrito na Bíblia e possivelmente já era há muito

    conhecida. Como ciência, no entanto, a química orgânica tem menos de 200 anos de idade. A

    maioria dos historiadores de ciência localiza a sua origem no início do século XIX, época em que

    se dispersou uma concepção errônea.

    As bases da química orgânica foram lançadas em meados do século XVIII, quando a

    química evoluía da arte do alquimista a uma ciência moderna. Naquela época, observavam-sediferenças inexplicáveis entre as substâncias obtidas a partir de fontes vivas e as extraídas de

    minerais. Compostos extraídos de plantas e animais eram geralmente difíceis de isolar e

     purificar. Mesmo quando puros, eles eram muitas vezes difíceis de serem manipulados e tendiam

    a se decompor mais facilmente do que os compostos de origem mineral. O químico sueco

    Torbern Bergman foi o primeiro a expressar esta diferença entre substâncias "orgânicas" e

    "inorgânicas", em 1770, e o termo química orgânica  logo passou a denominar a química dos

    compostos oriundos de organismos vivos. A química inorgânica  era a química dos compostos

    que provinham de fontes inanimadas. Juntamente com esta distinção, desenvolveu-se a

    concepção denominada “vitalismo”. De acordo com esta idéia, era necessária a intervenção de

    uma “força vital” para a síntese de um composto orgânico. Esta síntese, diziam então os

    químicos, só poderia ocorrer nos organismos vivos. Não poderia se realizar num balão de

    laboratório de química.

    Muito embora a teoria da força vital tivesse muitos seguidores, a sua aceitação não era, de

    forma alguma, universal, e é duvidoso que tivesse atrasado muito o desenvolvimento da química

    orgânica. Já em 1816, a teoria da força vital foi abalada quando o químico francês Michel

    Chevreul descobriu que o sabão preparado através da reação de álcali com gordura animal

     poderia ser decomposto em diversos compostos orgânicos puros, que ele denominou "ácidos

    graxos". Assim, pela primeira vez, uma substância orgânica (a gordura) havia sido convertida em

    outras (ácidos graxos e glicerina) sem a intervenção de uma força vital externa, figura 2.

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    H3O+

      sabão ácidos graxos

     NaOH  H2O

    gordura animal sabão + glicerina

    Figura 2. Obtenção dos ácidos graxos através do sabão.

    Entre 1828 e 1850, porém, muitos compostos que eram, com toda a certeza, “orgânicos”

    foram sintetizados a partir de fontes que eram claramente “inorgânicas”. A primeira entre estas

    sínteses foi conseguida por Friedrich Wöhler, em 1828. Wöhler descobriu que era possível

    conseguir o composto orgânico uréia (constituinte da urina) pela evaporação de uma solução

    aquosa do composto inorgânico cianato de amônio, figura 3:

    Figura 3. Obtenção da uréia através do cianato de amônio.

    Embora o “vitalismo” tenha desaparecido lentamente nas comunidades ciêntíficas, depois

    da síntese de Wöhler, a sua presença propiciou o crescimento da ciência da química orgânica que

    ocorreu a partir de 1850.

    Embora existam argumentos sólidos contra o uso de alimento contaminado por certos

     pesticidas, apesar de serem possíveis muitos benefícios ambientais propiciados por uma

    agricultura natural, e embora seja possível que as vitaminas “naturais” possam ter substâncias

     benéficas que não estejam presentes nas vitaminas sintéticas, é impossível dizer, por exemplo,

    que a vitamina C “sintética pura” (Figura 4), pois as duas substâncias são absolutamente

    idênticas, em todos os aspectos. Na ciência da atualidade, a investigação dos compostos

    orgânicos vivos é a química dos produtos naturais.

    Figura 4. Molécula de Vitamina C ou ácido ascórbico.

     NH4+ NCO - calor  C

    O

    Cianato de amônio Uréia NH2H2 N

    C OC

    C

    C

    OH

    OHO

    H

    C HHO

    CH2OH

    Vitamina C

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    1.3. Química e Meio Ambiente

     Novas interfaces vêm cada vez mais sendo estudadas na Química Orgânica,

     principalmente voltadas ao estabelecimento de novos processos. Dentre as áreas que têm

    recebido contribuições importantes da Química Ambiental para seu avanço estão a catálise,

     biotecnologia, ciência dos materiais, genética química, química farmacêutica, química ambiental,

    nanotecnologia, biologia, genômica e conhecimento molecular, etc. Entretanto, em paralelo a

    todo este desenvolvimento científico, a maioria dos processos são antigos e/ou pouco

    econômicos. Do ponto de vista ambiental, muitos desses processos produzem uma grande

    quantidade de lixo químico. Esse aspecto traz uma visão bastante negativa para a Química

     perante a sociedade. As agressões ao meio ambiente são uma realidade que não se pode

    esconder. 

    Devido a esta face negativa da Química Orgânica, esta tem sido rotulada pelosambientalistas, e pela parte menos esclarecida da população, como a principal causadora dos

    grandes problemas ambientais. De fato, em algumas ocasiões as indústrias químicas,

     principalmente a de produtos farmacêuticos, produzem uma quantidade considerável de

    subprodutos não aproveitáveis. Só, recentemente, muitas dessas empresas passaram a se

     preocupar com os rejeitos gerados durante os processos de produção. A Tabela 1 mostra

    claramente que a indústria farmacêutica, baseada fundamentalmente em síntese orgânica gera

    cerca de 25-100 kg de lixo químico para cada kg de produto final.

    Tabela 1. Relação entre segmento industrial e produção de lixo químico

    Segmento Industrial Produção Bruta (ton) kg lixo/kg de produto

    Refinamento de óleos 10 -10   ~0 0,1

    Ind. Química Pesada 10 -10    1-5

    Especialidade Química 10 -10 5-50

    Ind. Farmacêutica 10 -10 25-100

    Como para o público em geral a Química é sinônimo de chaminés fumegantes e rios

    envenenados, pesquisas devem ser desenvolvidas no sentido de minimizar não só os riscos dos

     processos e efluentes, como também melhorar a qualidade de vida da população e garantir a

    qualidade dos produtos químicos para o consumidor. Neste caso, há necessidade de mudança

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     para um novo paradigma, onde a eficiência do processo químico deve estar baseada também em

    valores ambientais. 

    1.4. Compostos de carbono

    Compostos orgânicos: compostos que apresentam o carbono em sua estrutura.Compostos inorgânicos: compostos que não apresentam carbono em sua estrutura e alguns que

    apresentam carbono.

     Mas é bom que se diga que por razões históricas a denominação Química Orgânica continua

    ate hoje. Então para estudarmos Química Orgânica precisamos saber um pouco mais sobre o

    elemento carbono.

    1

    o

     O carbono é TETRAVALENTE

     

    O carbono é um elemento ametálico pertencente à família 14 (antiga 4A) da Classificação

    Periódica dos elementos químicos. Possui configuração eletrônica: 1s2 2s2 2p2, tendo 2 elétrons

    na camada K e 4 na camada L, sua camada de valência (apresentando quatro elétrons na camada

    de valência).

    2o O carbono pode formar ligações simples, duplas ou triplas.

     Nos compostos orgânicos o carbono sempre apresenta valência 4 e pode ligar entre si de

    três formas diferentes, formando cadeias carbônicas:

    Cee

    e

    e

    e

    e22p

    22s

    21s

    6C

    C

    CCCC

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    3o O carbono pode formar cadeias carbônicas.

    O carbono como poucos elementos químicos tem a incrível capacidade de formar cadeias

    carbônicas. Na Tabela 2 são apresentados os elementos que juntamente com o carbono formam

    os compostos orgânicos.

    Tabela 2. Valência de alguns elementos e suas representações.

    Elementos Família Valência Representações

    Carbono 14 ou 4A Tetravalente

    Nitrogênio 15 ou 5A Trivalente  N N N

     

    Fósforo 15 ou 5A Trivalente P P P 

    Oxigênio 16 ou 6A Bivalente OO  

    Enxôfre 16 ou 6A Bivalente S S  

    Flúor 17 ou 7A Monovalente F  

    Cloro 17 ou 7A Monovalente Cl  

    Bromo 17 ou 7A Monovalente Br   

    Iodo 17 ou 7A Monovalente I 

    Hidrogênio 1 ou 1A Monovalente H  

     Cadeias carbônicas são conjuntos de átomos de carbonos ligados entre si ou intercalados por

    um heteroátomo.

    O que é um heteroátomo: átomo diferente do carbono que juntamente com ele formam

    as cadeia carbônicas.

    PNS O

     

    CCCC

    C   C CCC

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    Outros exemplos de cadeia carbônicas:

    OOC CCC

    C C CCC

     

    CLASSIFICAÇÃO DOS CARBONOS NUMA CADEIA 

    Carbono Primário: aquele que se liga a apenas 1 átomo de carbono.

     Carbono Secundário: aquele que se liga a 2 átomos de carbono.

     Carbono Terciário: aquele que se liga a 3 átomos de carbono.

     Carbono Quaternário: aquele que se liga a 4 átomos de carbono.

    Obs.:  Os hidrogênios ligados a carbonos primários são denominados também de primários, a

    carbonos secundários de hidrogênios secundários e assim por diante.

    C C CC

    CC CC

    ts p

    p

    p

    p

    p

    q

     

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    Condensada

    Isolada

    Polinuclear

    Mononuclear

    Saturadas ou Insaturadas

    Homocíclica ou Heterocíclica

    Normal ou Ramificada

    Aromáticas

    Alicíclicas

    Fechadas  ouCíclicas

    O

    Saturadas ou Insaturadas

    O

    Homogêneas ou Heterogênea

    Alifáticas

    Acíclicas

    Normal ou Ramificada

    Abertas

    Classificação das cadeias carbônicas

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    2.  Estrutura Eletrônica, Ligações Químicas e Hibridização

    Um átomo é descrito pelo seu número atômico (Z), que corresponde ao número de

     prótons existentes no núcleo do átomo, e pelo seu número de massa (A), que é igual à soma do

    número de prótons e do número de nêutrons (Figura 5). Todos os átomos de um dado elemento

    têm o mesmo número atômico - 1 para o hidrogênio, 6 para o carbono, 17 para o cloro, e assim

     por diante - mas eles podem Ter diferentes números de massa, dependendo do número de

    nêutrons que seus núcleos contêm. O número de massa médio de uma grande quantidade de

    átomos de um elemento é denominado peso atômico (massa atômica relativa)  do elemento.

    Como é uma média, o peso atômico, em geral, não é um número inteiro: 1,008 para o

    hidrogênio, 35,453 para o cloro, e assim por diante.

    Figura 5. Visão esquemática de um átomo. O núcleo, denso e carregado positivamente, contém a

    maior parte da massa do átomo e está rodeado por elétrons carregados negativamente.

    2.1. Ligações Químicas

    Os químicos Walther Kossel (1888-1956) e G.N. Lewis (1875-1946) foram os primeiros a

    desenvolver um modelo eletrônico para as forças, chamadas ligações, que mantêm os átomos

    unidos. O primeiro concentrou-se nas substâncias iônicas e o segundo, nas moleculares.

    1) Ligação iônica (ou eletrovalente): a ligação iônica envolve a completa transferência

    de elétrons entre dois átomos cujos valores de eletronegatividade são bastante distintos. O átomo

    menos eletronegativo perde um elétron (ou mais de um), tornando-se um íon positivo (cátion). Já

    o átomo mais eletronegativo ganha um ou mais elétrons, tornando-se um íon carregado

    negativamente (ânion). A ligação iônica resulta, portanto, da atração eletrostática entre os íons de

    cargas opostas, figura 6. Nesse caso, os elementos ganham ou perdem elétrons, de forma que se

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    obtenha uma configuração mais estável na camada de valência, o que, na maioria dos casos,

    significa conter oito elétrons nessa camada.

    Figura 6. Ligação iônica.

    2)  Ligação covalente (ou molecular):  quando dois átomos compartilham um ou mais

     pares de elétrons praticamente da mesma maneira, produz-se entre os dois uma ligação

    covalente. Normalmente, a diferença de eletronegatividade entre os átomos que formam uma

    ligação covalente não é muito grande. Essa união, que se verifica entre átomos de natureza

    semelhante, é a mais comum nos compostos orgânicos. Também formam ligação covalente as

    moléculas diatômicas de grande estabilidade do oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, flúor e cloro. O

     par de elétrons que participa da ligação pode ficar mais próximo do átomo que exerça sobre ele

    maior força de atração. Essa ligação, chamada covalente polar, forma um pequeno dipoloelétrico, embora a molécula, no conjunto, seja neutra, figura 7. A água e o amoníaco são

    exemplos de compostos desse tipo. As substâncias polares que contêm hidrogênio podem

    apresentar ocasionalmente em sua estrutura molecular as chamadas pontes de hidrogênio.

    Figura 7. Ligação covalente.

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    Os elementos, segundo Lewis, tendem a adquirir elétrons até possuir oito no nível mais

    externo. Este número coincide com os elétrons externos dos gases nobres (estáveis e bastante

    inertes), com exceção do hélio. Diferentes formas de adquirir elétrons originam as diversas

    classes de ligação. Os átomos sem a configuração eletrônica de um gás nobre geralmente

    reagem para produzir tal configuração, que passou a ser chamada de Regra do Octeto.

    - Ligação metálica: do ponto de vista químico, os metais se caracterizam por possuir poucos

    elétrons na camada exterior do átomo. Segundo a teoria da ligação metálica, esses elétrons

    formam uma "nuvem eletrônica", que ocupa faixas limitadas no interior do metal, as chamadas

    zonas de Brillain, e podem passar facilmente de uma para outra, o que justifica a relativa

    liberdade de que desfrutam dentro da rede. O sólido metálico seria assim formado pelos núcleos

    dos átomos mergulhados nessa nuvem eletrônica, que pertence ao conjunto.

    - Ligação por ponte de hidrogênio. Nas moléculas formadas por átomos de hidrogênio unidos a

    elementos com forte afinidade por elétrons, os átomos de hidrogênio são atraídos

    simultaneamente por vários outros átomos e formam pontes de hidrogênio. Esse tipo de ligação

    explica a estrutura e o comportamento de vários hidretos, ou combinações de hidrogênio com

    átomos de alta afinidade eletrônica, como o flúor (de que resulta o hidreto de flúor), o oxigênio

    (na molécula de água) e o nitrogênio (que dá origem ao amoníaco). Devido a essa associação,

    tais hidretos possuem pontos de fusão e de ebulição mais altos do que o esperado. A ligação por

     ponte de hidrogênio também pode explicar por que o gelo flutua na água: sua densidade é menor

     porque as pontes de hidrogênio formam espaços vazios na estrutura reticular do gelo que não

    existem no líquido.

    - Ligações Covalentes Polares

    Os hidrocarbonetos possuem apenas ligações C-C e C-H, isto é, ligações com pouca ou

    nenhuma diferença de eletronegatividade entre os átomos ligados. Logo veremos o grupo de

    átomos chamados grupos funcionais. Muitos grupos funcionais contêm átomos de

    eletronegatividade diferentes. Quando dois átomos de eletronegatividade diferentes formam uma

    ligação covalente, os elétrons não são divididos igualmente entre eles. O átomo com maior

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    eletronegatividade (figura 8), puxa o par de elétrons para si, resultando em uma ligação

    covalente polar .

    Grupo  1  2  3  4  5  6  7  8  9  10  11  12  13  14  15  16  17  18 

    Período 

    1 H 2,1

    He 

    2 Li 1,0

    Be 1,5

    B 2,0

    C 2,5

     N 3,0

    O 3,5

    F 4,0

     Ne 

    3  Na 0,9

    M1,2

    Al 1,5

    Si 1,8

    P 2,1

    S 2,5

    Cl 3,0

    Ar  

    4 K  0,8

    Ca 1,0

    Sc 1,3

    Ti 1,5

    V 1,6

    Cr  1,6

    Mn1,5

    Fe 1,8

    Co 1,9

     Ni 1,8

    Cu 1,9

    Zn 1,6

    Ga 1,6

    Ge 1,8

    As 2,0

    Se 2,4

    Br  3,0

    Kr  

    5 Rb 0,8

    Sr  1,0

    Y 1,2

    Zr  1,4

     Nb 1,6

    Mo1,8

    Tc 1,9

    Ru 2,2

    Rh 2,2

    Pd 2,2

    Ag 1,9

    Cd 1,7

    In 1,7

    Sn 1,8

    Sb 1,9

    Te 2,1

    I 2,5

    Xe 

    6 Cs 0,7

    Ba 0,9 *

    Hf  1,3

    Ta 1,5

    W 1,7

    Re 1,9

    Os 2,2

    Ir  2,2

    Pt 2,2

    Au 2,4

    Hg 1,9

    Tl 1,8

    Pb 1,9

    Bi 1,9

    Po 2,0

    At 2,2

    Rn 

    7 Fr  0,7

    Ra 0,9

    ** Rf   Db Sg  Bh Hs  Mt Ds  Rg Uu 

    Uu 

    Uu 

    Uu 

    Uu 

    Uu 

    Uu 

    Figura 8. Tabela de eletronegatividade dos átomos (Escala de eletronegatividade de Pauling).

    Exemplo:

    Como o átomo de cloro possui uma eletronegatividade maior, puxa os elétrons para si.

    Isso torna o átomo de hidrogênio deficiente de elétrons e dá a ele uma carga positiva e uma carga

    negativa ao cloro.

    A molécula com extremidades com cargas é uma molécula com dipolo e que possui um

    momento de dipolo (   ).

    De maneira geral:

    - As ligações entre átomos com valores de eletronegatividade próximos são ligações

    covalentes apolares.

    - Ligações entre átomos cujos valores de eletronegatividade diferem menos de duas

    unidades são ligações covalentes polares.

    - Ligações entre átomos cujos valores diferem de duas ou mais unidades são iônicas.

    H Cl

    -+

    Cl = 3,0H = 2,1

    0,8

    Cl = 3,0H = 2,1

    0,8

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    - Moléculas Polares e Apolares 

    Quando observamos moléculas diatômicas simples é fácil verificarmos a polaridade da

    molécula. Para moléculas orgânicas com mais átomos podem se avaliar da mesma forma, porém

    considerando todas as ligações entre os átomos, figura 9.

    Figura 9. Polaridade da molécula avaliando a eletronegatividade de cada átomo.

    Esse deslocamento do par de elétrons para o átomo mais eletronegativo e freqüentemente

    chamado de Efeito indutivo. Esses efeitos indutivos têm uma importância grande na reatividade

    química, influenciando as ligações químicas e propriedades físicas.

    A polaridade das moléculas é um resultado do somatório vetorial das polaridades

    individuais das ligações e das contribuições dos elétrons isolados na molécula.

    A polaridade resultante é chamada de momento de dipolo, .  que é calculado

    considerando as cargas resultantes produzidas pelos efeitos indutivos.O momento dipolo é uma propriedade física que pode ser medida experimentalmente. É

    definida como o produto da magnitude da carga em unidades eletrostáticas (ue) e a distância que

    as separa em centímetros (cm)

    Momento de dipolo = carga (ue) x distância (cm)

     = Q x r  

    As cargas estão tipicamente na ordem de 10-10 ue e as distâncias estão na ordem de 10-8 

    cm. Conseqüentemente, os momentos de dipolo estão tipicamente na ordem de 10-18 ue cm. Por

    conveniência, esta unidade, 1 × 10-18 ue cm, é definida como um debye e é abreviada como D,

    figura 10.

    Cl = 3,0C = 2,5

    0,5

    Cl = 3,0C = 2,5

    0,5

    Li = 1,0C = 2,5

    1,5

    Li = 1,0C = 2,5

    1,5

    -

    +

    C

    Cl

    HHH

    -

    +

    C

    Cl

    HHH

    +

    -

    C

    Li

    HHH

    +

    -

    C

    Li

    HHH

    C = 2,5H = 2,2

    0,3

    C = 2,5H = 2,2

    0,3

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      15

    -

    +

    C

    Cl

    HHH C

    Cl

    ClClCl

    = 1,87 D   = 0 D 

    Figura 10. Momento de dipolo das moléculas de clorofórmio e tetracloreto de carbono.

    2.2. Estrutura Atômica: Orbitais

    Existem quatro diferentes formas de orbitais, designadas pelas letras  s,  p, d   e  f . Destes

    quatro, usaremos, principalmente, os orbitais s e p, pois são eles que desempenham o papel mais

    importante na química orgânica. Os orbitais  s são esféricos, estando o núcleo situado no centro,

    os orbitais p têm a forma de halteres, e quatro dos cinco orbitais d  têm a forma de uma folha detrevo, como mostra a figura 11 (o quinto orbital d  tem a forma de uma pulseira colocada no meio

    de um haltere alongado).

    Figura 11. Representações dos orbitais s, p e d . Os orbitais s são esféricos, os orbitais  p têm a forma de

    halteres, e quatro dos cinco orbitais d  têm a forma de uma folha de trevo.

    2.3. Estrutura Atômica: Configurações Eletrônicas

    A configuração de mais baixa energia ou configuração eletrônica do estado

    fundamental  de um átomo é uma descrição dos orbitais ocupados pelos elétrons do átomo.

    Podemos prever essa configuração seguindo três regras:

    1.  Os orbitais de energia mais baixa são preenchidos em primeiro lugar, de acordo com a

    ordem

    1 s  2 s  2 p  3 s  3 p  4 s  3d .

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      16

    2.  Dois elétrons, apenas, podem ocupar um mesmo orbital, e eles devem ter spins opostos (esta

    regra é conhecida como o princípio de exclusão de Pauli).

    3.  Dois ou mais orbitais vazios de mesma energia são preenchidos por elétrons de mesmo spin,

    um por orbital, até que todos os orbitais estejam meio cheios (este enunciado é chamado

    regra de Hund).

    Alguns exemplos de aplicação destas regras aparecem na Tabela 3. O hidrogênio possui

    apenas um elétron, que deve ocupar o orbital de energia mais baixa. Desse modo, o hidrogênio

    tem configuração 1 s no estado fundamental. O carbono tem seis elétrons e sua configuração no

    estado fundamental é 1 s2 2 s2 2 p x 2 p y.

    2.4. Hibridização

    Como o carbono apresenta na sua configuração mais externa apenas dois orbitais com

    elétrons desemparelhados, a teoria aceita para a sua tetravalência é a teoria de hibridização,

    figura 12.

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      17

     

    Estado fundamental do Carbono

    1s2

    2s2

    2p22s2 px py  pz  px

     py

     

    Figura 12. Configuração eletrônica do carbono.

    Carbono Hibridizado sp3

    -  Compostos em que o carbono apresenta somente ligações simples, figura 13.

    Ex.: Metano (CH4)

    1090 28'

    sp3sp3sp3

    sp3

    sp3 sp3 sp3sp3

     pz py px2p2

    2s2

    1s2

     

    Figura 13. Configuração eletrônica do carbono - hibridização sp3.

    Cee

    e

    e

    e

    e22p

    22s

    21s

    6C

    C

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      18

    Quando os quatro orbitais idênticos de um átomo de carbono com hibridização  sp3  se

    superpõem aos orbitais 1 s  de quatro átomos de hidrogênio, quatro ligações CH idênticas se

    formam, dando como resultado o metano. Cada ligação CH do metano tem energia de 438

    kJ/mol (105 kcal/mol) e comprimento de 1,10Å

    . Como as quatro ligações têm geometriadeterminada, nós podemos também definir uma propriedade chamada ângulo de ligação. O

    ângulo em cada HCH é exatamente 109,5o, o chamado ângulo tetraédrico. O metano possui,

     portanto, a estrutura mostrada na figura 14.

    CH H

    H

    H Comprimentoda ligação 1,10 A

    oÂngulo da

    ligação

    109,5o

     Figura 14. Estrutura do metano.

    Carbono Hibridizado sp2

    -Compostos em que o carbono forma uma única ligação dupla, figura 15.

    1s2

    2s2

    2p2

     px py  pz  psp2 sp2sp2

    C

    1200

     p

    sp2

    sp2

    sp2

     

    Figura 15. Configuração eletrônica do carbono - hibridização sp2.

    Muito embora a hibridização  sp3

      seja o estado eletrônico mais comum do carbono, elanão é a única possibilidade. O etileno, C2H4, por exemplo, há mais de 100 anos sabia-se que os

    átomos de carbono do etileno só podiam ser tetravalentes se os dois átomos de carbono

    compartilhassem quatro elétrons e estivessem ligados por uma ligação dupla. Além disso, hoje se

    sabe que a molécula do etileno é planar (achatada) e tem ângulos de ligação de aproximadamente

    120o.

    Vista de cima Vista lateral

    H

    H H

    H.

    .

    .....

    .C C

    H

    H

    H

    H H H

    HH

    Etileno

    . .. .C C C C

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      19

    Carbono Hibridizado sp 

    -Compostos em que o Carbono apresenta uma ligação tripla ou duas ligações duplas, figura 16.

    1s2

    2s2

    2p2 px py  pz  p

     p

     p

    sp sp

     p

    spsp

    1800

    C ou C 

    Figura 16. Configuração eletrônica do carbono - hibridização sp.Além de ser capaz de formar ligações simples e duplas através do compartilhamento de

    dois e de quatro elétrons, o carbono também pode formar uma ligação tripla através do

    compartilhamento de seis elétrons. Para explicar a ligação tripla de uma molécula como o

    acetileno, C2H2, precisamos de um terceiro tipo de orbital híbrido, um híbrido sp.

    2.5. Propriedades Físicas e Estrutura Molecular

    A primeira observação que certamente fazemos em qualquer trabalho experimental é seuma certa substância é um sólido, um líquido ou um gás. A solubilidade de um composto e as

    temperaturas nas quais ocorrem transições entre fase, isto é, pontos de fusão (p.f.) e pontos de

    ebulição (p.e.) também estão entre as propriedades físicas mais facilmente medidas.

    Essas propriedades físicas simples, podem nos ajudar a identificar ou até mesmo isolar

    diversos compostos orgânicos. Um exemplo é a destilação do álcool, em que o etanol (ponto de

    ebulição de 78 ºC) pode ser separado de uma solução aquosa através de um aquecimento

    controlado (destilação).

    As constantes físicas, que ajudam a separar e caracterizar os inúmeros compostos

    orgânicos, pode ser encontrado facilmente na literatura.

    Quando uma substância é desconhecida, iniciamos os estudos realizando estimativas

    destas propriedades físicas macroscópicas podemos estimar qual será a estrutura mais provável

    das substâncias e nas forças que atuam entre as moléculas e os íons. Podemos citar algumas

    Acetileno. . .. . .H:C C:H C C HH

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    forças que influenciam estas propriedades físicas como a força íon-íon, forças de dipolo-dipolo,

    ligações de hidrogênio, forças de Van der Waals (ou forças de London) .

    Força Íon-Íon: São atrações eletrostáticas entre os íons, sendo bem organizado no estado sólido.

    Uma grande quantidade de energia térmica é necessária para quebrar a estrutura organizada do

    sólido e levá-la para a estrutura líquida. Conseqüentemente, o ponto de fusão dos compostos

    orgânicos iônicos, apresentam um ponto de ebulição bastante alto e a maioria dos compostos se

    decompõem antes de atingirem o ponto de ebulição.

    Exemplo: Acetato de sódio (CH3CO2 Na), ponto de fusão: 324 ºC, ponto de ebulição:

    decomposição antes da evaporação.

    Forças dipolo-dipolo: A maioria das moléculas orgânicas não é plenamente iônica, mas possuium momento dipolo permanente que resulta em moléculas polares. Acetona e o acetaldeído são

    exemplos de moléculas com dipolos permanentes pois o grupo carbonila que contêm é altamente

     polarizado. As atrações dipolo-dipolo forçam as moléculas a se orientarem de modo que a

    extremidade positiva de uma molécula se direcione para a extremidade negativa da outra.

     Ligações de hidrogênio: São ligações dipolo-dipolo muito fortes que ocorrem entre os átomos

    de hidrogênio ligados a átomos pequenos e fortemente eletronegativos (O, N ou F) e pares de

    elétrons não ligantes de outros desses átomos. Esse tipo de força intermolecular é chamada

    ligação hidrogênio. A ligação hidrogênio é mais fraca que uma ligação covalente comum, porém

    muito mais forte do que as interações dipolo-dipolo que ocorrem na acetona.

    A ligação de hidrogênio é responsável pelo fato de o álcool etílico ter um ponto de

    ebulição muito mais elevado (+78,5 ºC) que o do éter dimetílico (-24,9 ºC), apesar de ambos

    C

    H3C

    H3C

    O -+ C

    H3C

    H3C

    O -+ C

    H3C

    H3C

    O   -+

    - +

    Z H- +

    Z H Z = O, F, N

    Ligação hidrogênio

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      21

     possuírem o mesmo peso molecular. As moléculas do álcool etílico podem formar ligações

    hidrogênio muito fortes entre si, já que apresentam um átomo de hidrogênio ligado

    covalentemente a um átomo de oxigênio.

    As moléculas do éter dimetílico, por não terem átomo de hidrogênio ligado a um átomo

    fortemente eletronegativo, não podem formar ligação hidrogênio uma com as outras. No éter

    dimetílico as forças intermoleculares são interaçõe dipolo-dipolo mais fracas.

    Outro fator (além da polaridade e ligação de hidrogênio) que afeta o ponto de fusão de

    muitos compostos orgânicos é a compactação e a rigidez de suas moléculas individuais.

    Moléculas simétricas geralmente possuem pontos de fusão anormalmente elevados, figura 17.

    C OH

    CH3

    CH3

    CH3

    CH3CH2CH2CH2OH CH3CHCH2OH

    CH3

    CH3CH2CHOH

    CH3

    Álcool terc-butílico Álcool butílico Álcool isobutílico Álcool sec-butílico  p.f.= +25oC p.f.= -90oC p.f.= -108oC p.f.= -114oC  Figura 17. Ponto de fusão de alguns alcoóis.

    Forças de Van der Waals ou forças de London:  Se considerarmos uma substância como o

    metano, cujas partículas são moléculas apolares, veremos que o ponto de fusão e ebulição são

    muito baixos: -182,6 ºC e -162 ºC, respectivamente. Em vez de perguntar “ porque o metano

     funde ou evapora a temperaturas tão baixas” a pergunta mais apropriada seria “ por que o

    metano, uma substância não iônica e apolar, pode tornar-se um líquido ou um sólido?” A

    resposta é porque existem forças intermoleculares atrativas chamadas forças de Van der Waals

    (ou London).

    Devido à movimentação dos elétrons estes podem gerar um pequeno dipolo temporário

    que podem induzir dipolos opostos em moléculas vizinhas. Tais dipolos temporários alteram-se

    constantemente, mas o resultado final de sua existência é produzir forças atrativas entre

    moléculas apolares e assim tornar possível a existência nos estados líquidos e sólidos.

    CH3 CH2 O

    H

    CH3 O CH3

    Éter dimetílico Etanol

    CH3 CH2 O

    H

    CH3CH2O

    H

    Ligação hidrogênio

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      23

    1)  compostos com 1 a 3 átomos de carbono são solúveis;

    2)  compostos com 4 a 5 átomos de carbono estão no limite da solubilidade;

    3)  Compostos com mais de 6 átomos são insolúveis.

    Essas regras não se aplicam quando um composto contém mais de um grupo hidrofílico.

    Os polissacarídeos, as proteínas e os ácidos nucléicos contêm milhares de átomos de carbono e

    são todos solúveis. Porque eles possuem também milhares de grupos hidrofílicos.

    3.  Funções e Nomenclatura dos Compostos Orgânicos

    A capacidade de o carbono formar ligações covalentes fortes com outros átomos de

    carbono é a propriedade do átomo de carbono que – mais que qualquer outra – explica a própria

    existência de um campo de estudos denominados química orgânica. É esta propriedade que

    explica também, pelo menos em parte, o fato de o carbono ser o elemento em torno do qual se

    organiza a maioria das moléculas dos organismos vivos. A capacidade de o carbono formar até

    quatro ligações fortes com outros átomos de carbono e também a de formar ligações fortes com o

    hidrogênio, o oxigênio, o enxofre e o nitrogênio, proporcionam a versatilidade de estruturas que

     possibilita a existência do grande número de moléculas diferentes, indispensáveis aos

    organismos vivos complicados.

    Os compostos orgânicos podem ser divididos em uma série de categorias diferentes, de

    acordo com suas propriedades. Eles podem ser agrupados em várias categorias, conforme pode

    ser demonstrado na Tabela 4.

    Função Orgânica: é um conjunto de substâncias com propriedades químicas semelhantes

    (propriedades funcionais)

    Grupo funcional: é o átomo ou grupo de átomos responsável(eis) pelas propriedades químicas

    dos compostos pertencentes a uma determinada função química.

    HIDROCARBONETOS – função básica de C e H.

    Obs. A presença de um halogênio substituindo H na cadeia de um hidrocarboneto dá origem a

    um haleto orgânico. FUNÇÕES OXIGENADAS: álcoois, enóis, fenóis, éteres, aldeídos, cetonas, ácidos

    carboxílicos, ésteres, sais de ácidos carboxílicos, anidridos de ácidos e cloretos de ácidos.

    FUNÇÕES NITROGENADAS: aminas, iminas, amidas, imidas, nitrilas, isonitrilas e

    nitrocompostos.

    OUTRAS: tiocompostos, sulfonatos, organometálicos, etc..

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      24

    Tabela 4. Estruturas de alguns grupos funcionais comuns.

    Nomeda família

    Estrutura do grupofuncional

     Exemplos simples Terminação donome

    Alcano (Contendo somente ligações

    simples C _ 

    H e C _ 

    C)

    CH3CH3-ano

    EtanoAlqueno

    C C H2C CH2 -enoEteno (etileno)

    AlquinoC C CH C H

    -inoEtino (acetileno)

    Areno

    C

    C

    C C

    C

    C C

    C

    C C

    C

    C

    HH

    HH

    H HNenhumaterminaçãoBenzeno

    Halogeneto

    C X:....

    (X= F, Cl, Br, I)

    H3C O H

    NenhumaterminaçãoCloro-metano(clorofórmio)

    Álcool

    ..

    ..C O H

    H3C Cl

    -ol Metanol

    Éter

    C O C

    ..

    .. H3C O CH3

     Éter 

    Dimetil-éter

    Amina

    C N H

    H

    .. ..C N H, ,

    C N..

    H3C NH2-aminaMetilamina

    Nitrila

    C C N: H3C C N-nitrilaEtanonitrila(acetonitrila)

    Nitro-compostos

    C N

    O:

    :O:

    ..+

    .. _   _ 

    +

     O

    O

    H3C NNenhumaterminaçãoNitro-metano

    SulfetosulfetoDimetil-sulfeto

    H3C S CH3....

    C S C

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      25

     

    Nomeda família

    Estrutura do grupofuncional

     Exemplos simples Terminação donome

    Sulfóxido sulfóxidoDimetil-sulfóxido

    SulfonasulfonaDimetil-sulfona

    H3C S H

    Tiol

    ..

    ..C S H

    -tiol Metanotiol

    C S C

    O::.. _ 

    ..

    + +

     _ 

    C S CH3

    O

    C S CH3

    O

    O

     _ 

    2+

     _ ..:

    C S C

    O:

    O::.. _ 

    2+

     _ 

    Carbonila

    CO:

    Aldeído

    C H

    O:

    C C H

    O

    H3C

    -al Etanal(acetaldeído)

    :

    :

    Cetona :

    C C

    O:

    C C CH3

    O

    H3C

    -onaPropanona(acetona)

    Ácidocarboxílico

    : -ácido-óicoÁcido etanóico(ácido acético)

    C OH

    O

    H3CC OH

    O:

    C....

    Éster

    ..

    ..C O

    O:

    C C C O

    O

    H3C CH3

    -oatoEtanoato de metila(acetato de metila)

    :

    : -amida

    Etanamida(acetamida)

    C NH2

    O

    H3CC NH2

    O:

    C ..

    Amida

    ..C N

    O:

    C H

    :

    ,

    :

    C N

    O:

    C..

    ,

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      26

    3.1. Nomenclatura e Estrutura dos Hidrocarbonetos

    Os hidrocarbonetos correspondem à mais simples das classes de compostos estudados em

    química orgânica. Os hidrocarbonetos, conforme diz a denominação, são compostos cujas

    moléculas só contém átomos de carbono e de hidrogênio, portanto possuem fórmula geral:

    CxHy. Os hidrocarbonetos são muito importantes porque formam o "esqueleto" das demais

    funções orgânicas. O metano (CH4) e o etano (C2H6) são dois membros de uma grande família

    dos hidrocarbonetos e pertencem a um subgrupo de hidrocarbonetos conhecidos como os

    alcanos, cujos membros não têm ligações múltiplas entre os átomos de carbono. Os

    hidrocarbonetos cujas moléculas têm uma dupla ligação carbono-carbono são denominados

    alcenos (alquenos), e os que têm uma ligação tripla são os alcinos (alquinos). Os

    hidrocarbonetos com um anel especial, são os hidrocarbonetos aromáticos.

    Em geral, os compostos como os alcanos, que só contém ligações simples, são

    conhecidos como compostos saturados pois contêm o número máximo de átomos de hidrogênio

    que um composto de carbono pode possuir. Os compostos como os alcenos, os alcinos e os

    hidrocarbonetos aromáticos são compostos insaturados, pois possuem átomo de hidrogênio em

    número menor que o máximo e são capazes de reagir com o hidrogênio em condições

    apropriadas.

    Os hidrocarbonetos são divididos em subgrupos, conforme mostra a Tabela 5:

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      27

    Tabela 5: Hidrocarbonetos.

    PREFIXO INFIXO SUFIXON de Carbonos Tipo de Ligações FUNÇÃO1 MET2 ET SIMPLES an

    C C H

    HH

    H H

    H

     

    OAlcano

    3 PROP1 DUPLA en

    OALCENO

    4 BUT2 DUPLAS dien

    OALCADIENO

    5 PENT1 TRIPLA in

    OALCINO

    6 HEX2 TRIPLAS diin

    OALCADIINO

    7 HEP 1 DUPLA 1 TRIPLA

    enin

    OALCENINO

    8 OCT CICLO an Ciclanos

    9 NON Ciclo en Ciclenos

    10 DEC11 UNDEC12 DODEC13 TRIDEC14 TETRADEC15 PENTADEC

    20 EICOS

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      28

    3.1.1.  Alcanos: Propriedades Físicas e Químicas, Nomenclatura e Principais Métodos de

    Obtenção

    A orientação tetraédrica dos grupos - e portanto a hibrização em  sp3  - é a regra para os

    átomos de carbono dos alcanos e dos ciclanos.

    O ponto de ebulição (p.e.) de uma substância é a temperatura em que sua forma líquida se

    torna gás (vaporiza). Para que uma substância vaporize, as forças que mantêm as moléculas

    individuais umas às outras precisam ser superadas. Isso significa que o ponto de ebulição de uma

    substância depende da força atrativa entre as moléculas individuais. Se as moléculas são

    mantidas unidas por forças fortes, muita energia será necessária para manter as moléculas

    separadas umas das outras e a substância terá um ponto de ebulição alto. Por outro lado, se as

    moléculas são mantidas unidas por forças fracas, apenas uma pequena quantidade de energia será

    necessária para separar as moléculas uma das outras e a substância terá um ponto de ebulição baixo.

    Forças relativamente fracas mantêm as moléculas de alcano unidas. Os alcanos contêm

    apenas átomos de carbono e de hidrogênio. Como a eletronegatividade do carbono e do

    hidrogênio são semelhantes, as ligações em alcanos são apolares. Consequentemente, não há

    cargas parciais significativas em nenhum dos átomos em um alcano.

    Entretanto, é apenas a distribuição de carga média sobre os alcanos que é neutra. Os

    elétrons estão em movimento contínuo, sendo que em algum instante a densidade eletrônica em

    um lado da molécula pode ser ligeiramente maior que no outro lado, dando à molécula um dipolo

    temporário.

    Um dipolo temporário em uma molécula pode induzir um dipolo temporário em uma

    molécula próxima. Como resultado, o lado negativo de uma molécula termina adjacente ao lado

     positivo de outra molécula, como mostrado na figura 20.

    Figura 20. Forças de Van der Waals são interações de dipolo-dipolo induzidos.

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      29

      Como os dipolos nas moléculas são induzidos, as interações entre as moléculas são

    chamadas  interações dipolo-dipolo induzido. As moléculas de um alcano são mantidas unidas

     pelas interações dipolo-dipolo induzido, que são conhecidas como forças de Van der Waals.

    Forças de Van der Waals são as atrações intermoleculares mais fracas de todas.

    Para que um alcano atinja seu ponto de ebulição, as forças de Van der Waals precisam ser

    superadas. A magnitude de uma força de Van der Waals que mantém moléculas de alcanos

    unidas depende da área de contato entre as moléculas. Quanto maior a área de contato, mais

    fortes as forças de Van der Waals e maior a quantidade de energia necessária para superar tais

    forças. Na Tabela 6 são apresentados as propriedades físicas dos alcanos lineares, onde observa-

    se que os pontos de ebulição dos alcanos aumentam com o aumento dos respectivos tamanhos. A

    relação é sustentada porque cada grupo metileno adicional aumenta a área de contato entre as

    moléculas. Os quatro alcanos menores têm pontos de ebulição abaixo da temperatura ambiente(25oC), eles existem como gases a temperatura ambiente. O pentano (p.e. = 36,1oC) é o menor

    alcano – que é um líquido – à temperatura ambiente.

    Tabela 6. Propriedades físicas de alguns alcanos.Nome Fórmula

    molecularPonto de

    fusão (ºC)Ponto deebulição

    (ºC)

    Densidade (g ml-1)

    a 20oC

    metano CH4 -182,5 -167,7

    etano CH3CH3 -183,3 -88,6 propano CH3CH2CH3  -187,7 -42,1

     butano CH3CH2CH2CH3  -138,3 -0,5

     pentano CH3CH2CH2CH2CH3  -129,8 36,1 0,5572

    hexano CH3(CH2)4CH3  -95,3  68,7 0,6603

    heptano CH3(CH2)5CH3  -90,6 98,4 0,6837

    octano CH3(CH2)6CH3  -56,8 127,7 0,7026 

    nonano CH3(CH2)7CH3  -53,5 150,8 0,7177

    decano CH3(CH2)8CH3  -29,7 174,0 0,7299

    triacontano CH3(CH2)28CH3  65,8 449,7 0,8097

    Como a força de Van der Waals depende da área de contato entre as moléculas, as ramificações

    nas substâncias diminuem os respectivos pontos de ebulição porque elas reduzem a superfície de contato.

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    Se pensarmos no pentano sem ramificações como um cigarro e neopentano ramificado como uma bola de

    tênis, podemos ver que as ramificações diminuem a área de contato entre as moléculas: os cigarros fazem

    contato sobre uma área maior que as duas bolas de tênis. Assim, se dois alcanos têm o mesmo peso

    molecular, o alcano mais ramificado terá menor ponto de ebulição, figura 21.

    CH3CH2CH2CH2CH3 CH3CHCH2CH3

    CH3

    CH3CCH3

    CH3

    CH3pentano isopentano neopentano

      p.e.= 36,1oC p.e.= 27,9oC p.e.= 9,5oC

    Figura 21. Pontos de ebulição de alguns alcanos.

    Os pontos de ebulição de substâncias em qualquer série homóloga aumentam com o peso

    molecular por causa do aumento nas forças de Van de Waals. Os pontos de ebulição de

    substâncias em uma série homóloga de éteres, haletos de alquila e aminas aumentam com o

    aumento do peso molecular.

    Os pontos de ebulição de tais substâncias, entretanto, também são afetados pelo caráter

     polar da ligação C-Z  (onde Z denota N, O, F, Cl ou Br) porque o nitrogênio, o oxigênio e os

    halogênios são mais eletronegativos que o carbono ao qual estão ligados, figura 22.

    R C Z+

     _ 

    Z = N, O, F, Cl ou Br 

    Figura 22. Caráter polar da ligação C-Z. 

    A magnitude da carga diferencial entre dois átomos ligados é indicada pelo momento de

    dipolo da ligação, figura 23.

    H3C NH2 H3C O CH3 H3C I H3C OH

    H3C F H3C Br H3C Cl

    0,2 D 0,7 D 1,2 D 0,7 D

    1,6 D 1,4 D 1,5 D 

    Figura 23. Momento de dipolo de alguns compostos orgânicos. O momento de dipolo de uma

    ligação é igual à magnitude da carga em um dos átomos ligados vezes a distância entre os átomos

    ligados.

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      31

    Moléculas com momentos de dipolo são atraídas umas pelas outras porque podem se

    alinhar de maneira que o final positivo de um dipolo fique adjacente ao dipolo negativo do outro.

    Essas forças eletrostáticas atrativas, chamadas interações dipolo-dipolo, são mais fortes que as

    forças de Van der Waals, porém não tão fortes quanto as ligações iônica ou covalente, figura 24.

    Figura 24. Interações dipolo-dipolo.

    Éteres geralmente têm pontos de ebulição mais altos do que os alcanos de peso molecular

    comparável, uma vez que as interações de Van de Waals e de dipolo-dipolo precisam ser

    superadas para um éter atingir seu ponto de ebulição, tabela 7.

    Tabela 7. Pontos de ebulição comparativos (oC).

    Como a tabela mostra, alcoóis têm pontos de ebulição bem maiores que alcanos ou éteres

    de peso molecular comparável, pois em adição às forças de Van der Waals e interações dipolo-

    dipolo da ligação CO, eles podem formar ligações hidrogênio. Uma ligação de hidrogênio é

    um tipo especial de interação dipolo-dipolo que ocorre entre um hidrogênio ligado a um

    oxigênio, um nitrogênio ou flúor e um par de elétrons livres de um oxigênio, um nitrogênio ou

    um flúor de outra molécula, figura 25.

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      32

     

    Figura 25. Ligação de hidrogênio em água.

    O ponto de ebulição da água ilustra o efeito dramático que a ligação de hidrogênio tem

    em pontos de ebulição. A água tem peso molecular 18 e o ponto de ebulição de 100ºC. O alcano

    que se aproxima mais em tamanho é o metano, com peso molecular 16. O metano atinge o ponto

    de ebulição a 167,7ºC.

    As forças que mantêm unidas as moléculas apolares (forças de Van der Waals) são fracas

    e de curto alcance. Agem apenas entre as partes de moléculas vizinhas que se encontram em

    contato, ou seja, entre a superfície das moléculas. Portanto, dentro de cada família, quanto maior

    for a molécula (> área superficial), maiores serão as forças intermoleculares.

    Os pontos de fusão e de ebulição aumentam com o aumento da intensidade das forças

    intermoleculares. Para conseguir-se a ebulição ou a fusão, torna-se necessário vencer as forças

    intermoleculares no líquido ou no sólido.

    Os alcanos são substâncias apolares, o que justifica sua baixa solubilidade em água.

    Considerando estruturas não-ramificadas (lineares), os alcanos contendo de 1  a 4 átomos de

    carbonos são gases; com 5 a 17 carbonos são líquidos e com 18 ou mais carbonos são sólidos

    graxos de baixo ponto de fusãoOs alcanos são solúveis em solventes apolares como benzeno, éter e clorofórmio e

    insolúveis em água e outros solventes pronunciadamente polares.

    Considerados como solventes, os alcanos líquidos dissolvem compostos de baixa

     polaridade, mas não os de alta.

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    A densidade dos alcanos aumenta inicialmente com o peso molecular, mas tende depois

     para um limite (cerca de 0,8). Os alcanos são, portanto, menos densos que a água.

    Energia das ligações nos Alcanos

    Existe uma variedade de moléculas orgânicas que ocorrem frequentemente não como

    compostos estáveis, mas como intermediários em reações orgânicas.

    Os quatro tipos mais comuns de intermediários com menos de quatro ligações covalentes

    no carbono, relacionados com o metano.

    - Íon carbônio, carbocátion, íon carbeno ou cátion metila:   CH3 

    - Carbânion ou ânion metila:  :CH3 

    - Radical metila:  CH3. 

    - Carbeno ou metileno: :CH2 

    - Homólise e Heterólise das Ligações Covalentes

    As reações dos compostos orgânicos sempre envolvem a formação e rompimento de

    ligações covalentes. Uma ligação covalente pode romper-se de duas maneiras fundamentalmente

    diferentes.

    a)  Clivagem ou cisão (quebra) heterolítica 

    A ligação pode romper-se de modo que um fragmento fique com os dois elétrons daligação, e o outro fragmento fique com um orbital vazio. Este tipo de clivagem, a heterólise

     produz fragmentos carregados ou íons. A ligação foi rompida heterolíticamente, figura 26. 

    Figura 26. Clivagem heterolítica

    íon _ (ânion)

    íon +(cátion)

    íons

    A : B A+  + :B

    Exs:

    H3C : H H3C+  :H

     _ 

    cátionmetila

    (carbocátion)

    íonhidreto

    prótonânionmetila

    (carbânion)

     _ H3C: H+H3C : H

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      34

    b)  Clivagem ou cisão (quebra) homolítica

    A outra possibilidade é a de a ligação romper-se de modo que cada fragmento fica com

    um dos elétrons da ligação. Este processo, a homólise produz fragmentos com elétrons

    desemparelhados, denominados radicais. A separação dos dois elétrons da ligação é simbolizada

     por meias-setas (anzóis) que se dirigem para cada átomo, figura 27

    Figura 27. Clivagem homolítica.

    As quebras homolíticas podem ser observadas em solventes apolares ou em fase gasosa.

    As quebras heterolíticas normalmente ocorrem em solventes polares, capazes de estabilizar os

    íons.

    A Tabela 8 lista a energia de vários alcanos. Observe que as energias geralmente

    diminuem quando se passa do metano para carbonos primários, secundários e terciários. A

    ligação CH do metano, por exemplo, tem  H o  =  DH o  (energia de dissocição ou de ligação)

    igual a 105 kcal.mol-1, um valor elevado. No etano, a energia é menor, e  DH o  é igual a 101

    kcal.mol-1. Este é um valor típico das ligações CH de carbono primário, como se pode ver no

     propano. A energia de uma ligação CH de carbonos secundários é ainda menor, com DH o igual

    a 98,5 kcal.mol-1. A energia de ligação de um átomo de carbono terciário com hidrogênio é

    apenas 96,5 kcal.mol-1, figura 28.

    CH3 H

    R  H

    CH3 . + H .

    R . + .H

    R primário  DH o = 101 kcal.mol-1

      secundário  DH o = 98,5 kcal.mol-1

      terciário  DH o = 96,5 kcal.mol-1

     DH o = 105 kcal.mol-1

    A ligação Cé mais fraca ese quebra mais

    facilmente

    O radicalformadoé maisestável

     

    Figura 28. Estabilidade do radical.

    radicais livres

    ..A : B A  + B

    Exs.:

    H3C : H H3C H. .

    radicalmetila

    metano(clivagem)

    H3C CH3 . .H3C CH3

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      35

    Tabela 8. Energia de dissociação de ligação de alguns alcanos.

    CH3 H 105

     DH o (kcal.mol-1)Compostos

    ()

    )

    (C2H5 H 101C3H7 H 101()

    )((CH3)2CHCH2 H 101

    )((CH3)3C H 96,5

    (CH3)2CH H 98,5()

    Compostos  DH o (kcal.mol-1)

    )(CH3 CH3  90

    C2H5 CH3  89()

    C2H5 C2H5  88()

    )((CH3)2CH CH3  88

    (CH3)3C CH3  87()

    (CH3)2CH CHCH3  85,5()

    )((CH3)3C C(CH3)3  78,5 

    Observa-se comportamento semelhante nas ligações CC. os casos extremos são a

    ligação central do etano ( DH o  = 90 kcal.mol-1) e a do 2,2,3,3-tetrametil-butano ( DH o  = 78,5

    kcal.mol-1).

     Radicais Livres:

    Os radicais de carbono mais simples, como os radicais metila e t -butila, são espécies

    muito reativas. Mesmo quando colocadas fora de contato com outras substâncias, não podem ser

    obtidas em concentrações apreciáveis porque reagem entre si por dimerização

    e desproporcionação

    Sob condições normais, as reações são quase instantâneas, irreversíveis e completas. Para

    que um radical exista como tal, em solução, por um período de tempo indefinido, parece ser

    necessário que a estabilidade do radical seja, pelo menos, comparável à do composto covalenteque se formaria por dimerização.

    A ordem crescente de estabilidade de radicais alquila é:

    CH3.    CH3CH2.    (CH3)2CH.    (CH3)3C. 

    CH3CH2 . + .CH3CH2 CH3CH2CH2CH3

    CH3CH2 . + .CH3CH2 CH3CH3 + CH2 CH2

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      36

      Um fato que pode ser atribuído à hiperconjugação (do mesmo modo que nos

    carbocátions, correspondentes).

    Radicais benzila e alila são mais estáveis do que os radicais alquila simples.

    Entretanto, eles se dimerizam quase que instantaneamente. O radical trifenil-metila, por

    outro lado, consegue sobreviver se for mantido em solução diluída. A concentração mais

    elevadas ele é essencialmente dimérico, mas a dimerização é reversível.

     Por que, o radical trifenil-metila é tão estável?

    Há duas razões importantes. A 1a é a ressonância:

    Muitas formas de ressonância podem ser escritas com o elétron não compartilhado

    deslocado do átomo de carbono central para os grupos fenila. O alto grau de deslocalização torna

    o radical muito estável. A 2a razão é que o dímero é relativamente instável. Os grupos fenila são

    muito volumosos e qualquer que fosse o dímero dentre os discutidos a estrutura seria

    2 (C6H5)3C . (C6H5)3C C(C6H5)3

    C . C

    .

    etc.

    etc.H. C

    H

    C CH3

    CH3

    HH

    CH

    H

    C CH3

    CH3

    ..C

    H

    H

    H

    C CH3

    CH3

    .CH2 CH CH2

    .CH2 CH CH2

    .

    CH2. CH2

    .CH2

    .CH2

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      37

    relativamente pouco estável. O hexaciclo-hexil-etano não se dissocia em radicais, de modo que a

    ressonância no radical trifenila é um aspecto essencial para sua estabilidade. A interferência

    estérica no dímero sem dúvida contribui para sua fácil dissociação, mas não se sabe exatamente

    quanto.

    -  Energias de Dissociação Homolítica de Ligações

    As energias de dissociação de ligação podem ser usadas para calcular a variação de

    entalpia (Ho) de uma reação.

    Ho + : rompimento de uma ligação.

    Ho: formação de ligação.

    Quando átomos se combinam em moléculas, há desprendimento de energia ao se

    formarem ligações covalentes. As moléculas dos produtos têm entalpias mais baixas que os

    átomos separados. Quando átomos de hidrogênio se combinam para formar moléculas de

    hidrogênio, por ex., a reação é exotérmica; há a evolução de 104 kcal de calor para cada

    molécula de hidrogênio que se forma. Analogamente, quando átomos de cloro se combinam para

    formar moléculas de cloro, a reação desprende 58 kcal.mol-1 de cloro produzido.

    H.  + H.    HH Ho = -104 kcal.mol-1

    Cl.  + Cl.    ClCl Ho = - 58 kcal.mol-1

    A fim de romper ligações covalentes, é necessário a injeção de energia. As reações em

    que só ocorrem rompimentos de ligações covalentes são sempre endotérmicas. A energia

    necessária para romper homoliticamente as ligações covalentes do hidrogênio e do cloro é

    exatamente igual à energia desprendida quando átomos separados se combinam para formar as

    moléculas. Na reação de clivagem da ligação, porém, Ho é positiva.

    HH   H.  + H.  Ho = +104 kcal.mol-1

    ClCl   Cl.  + Cl

    .  Ho = + 58 kcal.mol-1

     Nas reações em que ligações CH se rompem homoliticamente, os valores de Ho são os

    seguintes:

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    CH3CH2CH2 H CH3CH2CH2 . + H .   Ho = +101 kcal.mol-1

    (radical propila, rad. 1o)()

     

    CH3CHCH3

    H

    CH3CHCH3. + H.   Ho = +98,5 kcal.mol-1

    (radical isopropila, rad. 2o)

    ~  

    Estas reações são semelhantes, uma à outra, em dois aspectos: ambas principiam com o

    mesmo alcano (o propano) e ambas levam a um radical alquila e um átomo de hidrogênio. São

    diferentes, porém, na quantidade de energia que envolvem e no tipo de radical alquila que se

    forma. Estas duas diferenças estão relacionadas, uma com a outra.

     Carbocátion:

    O carbocátion têm deficiência de elétrons, têm somente 6 elétrons na camada de valência

    e, por causa disto, são ácidos de Lewis. Ocorrem como intermediários em algumas reações

    orgânicas. Os carbocátions reagem rapidamente com as bases de Lewis - com moléculas ou íons

    que podem doar o par de elétrons que necessitam para atingir o octeto estável de elétrons.

    Os carbocátions são reagentes que buscam elétrons, eletrófilos (reagentes que, nas

    respectivas reações, buscam elétrons extras para atingir uma configuração estável na camada de

    valência dos elétrons). Todos os ácidos de Lewis inclusive os prótons, são eletrófilos.

    -  Estabilidade

    cresce a acidez

    cresce a estabilidade

    C

    H

    H

    H C

    CH3

    CH3

    H C

    H

    CH3

    H C

    H

    H

    CH3 C

    CH3

    CH3

     

    Ácido de Lewis (eletrófilo) aceptor de elétrons

    CarbocátionCH3 C

    CH3

    CH3

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      39

     

     Carbânion: 

    Os carbânions são bases de Lewis. Nas respectivas reações, buscam um próton ou outro

    centro positivo, ao qual possam doar o par de elétrons que possuem e assim neutralizar a carga

    negativa que suportam. Os reagentes que, como os carbânions, buscam um próton ou um outro

    centro positivo, são denominados nucleófilos.

    Acidez

    Estabilidade

    CH3Carbocátion: 3o  2o  1o

    cresce a acidez

    cresce a estabilidade

    H C

    Cl

    Cl

    H C

    H

    Cl

    H C

    H

    H

    Cl C

    Cl

    Cl

    +....C + :O H

    H

    C : O H

    H

    (Ác. de Lewis) (Base de Lewis)Carbocátion Ânion

    C : B _ 

    :B+C

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      40

     

    A principal fonte dos alcanos é o petróleo, sua composição química apresenta uma

    mistura complexa de alcanos, hidrocarbonetos aromáticos e compostos de oxigênio, enxofre e

    nitrogênio, que aparecem em menor quantidade. O petróleo é um líquido viscoso e geralmente de

    coloração escura. Os combustíveis utilizados diariamente pela sociedade são misturas de

    hidrocarbonetos derivados do petróleo, como a gasolina, gás de cozinha, querosene, óleo diesel,

    etc. Os derivados do petróleo são obtidos em refinaria de petróleo através da destilação

    fracionada, neste processo é utilizado uma torre de fracionamento, também chamada de coluna

    de destilação que tem o objetivo de separar os componentes químicos do petróleo pelo ponto de

    ebulição. Os componentes químicos que possuem o mesmo ponto de ebulição, ou ponto de

    ebulição próximos, aparecem como uma mistura, portanto, é possível a obtenção de misturas de

    alcanos de pontos de ebulição semelhantes. O destilado pode apresentar mais de 500 compostos

    Cl C:

    Cl

    Cl

    H C:

    H

    H

    H C:

    H

    Cl

    H C:

    Cl

    Cl

    cresce a estabilidade

    cresce a basicidade

    Estabilidade

    :CH3  Carbânion: 1o  2o  3o

    Carbânion Ácido de Lewis

    C : C+C: _ 

    C L

    L

    H A _ 

    C: + C : H

    Carbânion Ácido de Lewis

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      41

    diferentes com pontos de ebulição abaixo de 200°C e muitos têm praticamente os mesmos

     pontos de ebulição.

    A quantidade de carro que trafega em nosso planeta, aumenta a cada década. Para atender

    ao grande consumo de gasolina, as refinarias processam muito petróleo. As mistura de alcanos,

    denominadas de gasóleo (alcanos que possuem a quantidade de carbono maior ou igual a 12) são

    submetidas ao craqueamento catalítico, que consiste no aquecimento desta mistura, em

    temperatura elevada, cerca de 500oC na presença de catalisador. Este processo favorece a quebra

    e rearranjo das moléculas de alcanos, desta forma, se obtém alcanos menores e ramificados. O

     produto mais importante obtido da destilação do petróleo é a gasolina, que apresenta estruturas

    C7 e C8, como hidrocarboneto predominantes em sua composição. O craqueamento pode ser

    também realizado na ausência do catalisador e recebe a denominação de craqueamento térmico.

    A ausência do catalisador favorece a obtenção de alcanos de cadeia normal, este tipo de alcanonão é favorável para a composição de uma boa gasolina. A melhor gasolina é aquela que possui

    em sua composição alcano ramificado como 2,2,4-trimetilpentano. O composto 2,2,4-

    trimetilpentano (chamado de “isoctano” na indústria do petróleo) altamente ramificado, queima

    muito suavemente (sem bater pino) nos motores de combustão interna e é usado como um dos

     padrões pelos quais a octanagem de gasolina é estabelecida, pelo fato de favorecer melhor

    desempenho ao motor dos carros. De acordo com a escala, 2,2,4-trimetilpentano tem octanagem

    100.

    H3C CH3 H CH3

     

    O heptano CH3(CH2)5CH3, um composto que produz muita batida quando é queimado em

    um motor de combustão interna, e, portanto fornece o pior desempenho ao motor do automóvel

    tem octanagem de zero.

    A mistura 2,2,4-trimetilpentano e heptano são usadas como padrões de octanagem de 0 a100. A gasolina que tem as mesmas características em um motor com a mistura de 87% de 2,2,4-

    trimetilpentano e 13% de heptano seria cotada como gasolina de 87 octanas. Gasolina com índice

    de octanas igual a 70% apresenta a composição da mistura com 70% de 2,2,4-trimetilpentano e

    30% de heptano.

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      42

     

    Os nomes de diversos alcanos de cadeia linear ou alcanos normais (não ramificados)

    estão na Tabela 9. As raízes da maioria dos alcanos (acima de C 4) têm origem grega ou latina. A

    aprendizagem destas raízes corresponde a aprender a contar em química orgânica. Assim, um,

    dois, três, quatro, cinco, transformam-se em met, et, prop, but, pent.

    Tabela 9. Nomenclatura dos alcanos não ramificados.

    Nome

    Número

    de átomos

    de carbono Estrutura Nome

    Número

    de átomos

    de carbono Estrutura

    Metano 1 CH4 Heptadecano 17 CH3(CH2)15CH3 

    Etano 2 CH3CH3 Octadecano 18 CH3(CH2)16CH3 

    Propano 3 CH3CH2CH3  Nonadecano 19 CH3(CH2)17CH3 Butano 4 CH3(CH2)2CH3 Icosano 20 CH3(CH2)18CH3 

    Pentano 5 CH3(CH2)3CH3  Heneicosano 21 CH3(CH2)19CH3 

    Hexano 6 CH3(CH2)4CH3  Docosano 22 CH3(CH2)20CH3 

    Heptano 7 CH3(CH2)5CH3  Tricosano 23 CH3(CH2)21CH3 

    Octano 8 CH3(CH2)6CH3  Triacontano 30 CH3(CH2)28CH3 

     Nonano 9 CH3(CH2)7CH3  Hentriacontano 31 CH3(CH2)29CH3 

    Decano 10 CH3(CH2)8CH3  Tetracontano 40 CH3(CH2)38CH3 Undecano 11 CH3(CH2)9CH3  Pentacontano 50 CH3(CH2)48CH3 

    Dodecano 12 CH3(CH2)10CH3  Hexacontano 60 CH3(CH2)58CH3 

    Tridecano 13 CH3(CH2)11CH3  Heptacontano 70 CH3(CH2)68CH3 

    Tetradecano 14 CH3(CH2)12CH3  Octacontano 80 CH3(CH2)78CH3 

    Pentadecano 15 CH3(CH2)13CH3  Nonacontano 90 CH3(CH2)88CH3 

    Hexadecano 16 CH3(CH2)14CH3  Hectano 100 CH3(CH2)98CH3 

    Compostos como o 2-metil-propano (isobutano), 2-metil-butano (isopentano) e 2,2-

    Dimetil-propano (neopentano), cujas cadeias carbônicas formam ramificações, são chamados de

    alcanos de cadeia ramificada. A diferença entre os alcanos de cadeia linear e os de cadeia

    ramificada está em se poder traçar uma linha ligando todos os carbonos de um alcano de cadeia

    linear, sem alterar o curso da mão ou erguer o lápis do papel. Para um alcano de cadeia

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      43

    ramificada, isto não é possível: ou você muda a trajetória da mão ou levanta o lápis do papel,

    figura 29.

    Figura 29. Alcanos de cadeia ramificada.

    -  Grupos Alquila 

    Se um átomo de hidrogênio é removido de um alcano, a estrutura parcial resultante é

    chamada de grupo alquila. Os grupos alquila são nomeados substituindo-se a terminação -ano 

    do nome do alcano de origem pela terminação -ila. A remoção de um hidrogênio do metano,

    CH4, gera um grupo metila, -CH3, e a remoção de um hidrogênio do etano, CH3CH3, gera um

    grupo etila, -CH2CH3. A remoção de um átomo de hidrogênio do carbono da extremidade da

    cadeia de qualquer n-alcano (alcano normal) fornece a série de grupos n-alquila de cadeia linear,

    apresentada na Tabela 10. Combinando-se um grupo alquila com qualquer um dos grupos

    funcionais listados anteriormente, é possível gerar e nomear milhares de compostos. Por

    exemplo, figura 30:

    Metano Um grupo metila Metilamina Álcool metílico

    C

    H

    NH2HH

    C

    H

    H

    H

    C

    H

    OHHH

    C

    H

    HH

    H

     

    Figura 30. Compostos orgânicos com um carbono.

    Tabela 10. Alguns grupos alquila de cadeia linear.

    Alcano Nome Grupo alquila Nome (abreviatura)

    CH4 Metano CH3 Metila (Me)CH3CH3 Etano CH2CH3 Etila (Et)

    CH3CH2CH3 Propano CH2CH2CH3 Propila (Pr)

    CH3CH2CH2CH3 Butano CH2CH2CH2CH3 Butila (Bu)

    CH3CH2CH2CH2CH3  Pentano CH2CH2CH2CH2CH3  Pentila

    CH3 CH CH3

    CH3

    CH3 CH CH2

    CH3

    CH3 CH3 C CH3

    CH3

    CH3

    Isobutano Isopentano Neopentano

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      44

      Da mesma forma que grupos n-alquila são gerados pela remoção de um hidrogênio de um

    carbono terminal , grupos alquila ramificados são gerados pela remoção de um átomo de

    hidrogênio de um carbono interno. Dois grupos alquila com 3 carbonos e quatro grupos alquila

    com 4 carbonos são viáveis, figura 31.

    Isobutano Isobutila terc-Butila

    e CH3

    C

    CH3

    CH3CH3CHCH2

    CH3

    CH3CHCH3

    CH3C4

    CH3CH2CH2CH3  CH3CH2CH2CH2 e CH3CH2CHCH3Butano Butila sec-Butila

    Propano Propila Isopropila

    e CH3CHCH3CH3CH2CH3  CH3CH2CH2C3

     

    Figura 31. Geração de grupos alquila de cadeias lineares e ramificadas a partir de n-alcanos.

    Os prefixos  sec  (para secundários) e terc  (para terciários), usados na figura 27 para os

    grupos alquila com quatro carbonos (C4), referem-se ao grau de ramificação possíveis para o

    carbono, ditos 1ário (primário), 2ário (secundário), 3ário (terciário) e 4ário (quaternário), figura 32:

    Figura 32. Classificação dos carbonos numa cadeia.

    Antigamente, quando poucos compostos orgânicos puros eram conhecidos, cada

    composto novo recebia um nome escolhido pelo seu descobridor. Assim, a uréia (CH 4 N2O) é

    uma substância cristalina isolada a partir da urina; a morfina (C17H19 NO3) é um analgésico cujo

    nome se relaciona a Morfeu, o deus grego dos sonhos, e o ácido barbitúrico é um agente

    tranquilizante cujo nome é uma homenagem de seu descobridor a uma amiga chamada Bárbara.

    Carbono primário Carbono secundário Carbono terciário Carbono quaternário está ligado a um está ligado a dois está ligado a três está ligado a quatro  outro carbono outros carbonos outros carbonos outros carbonos

    C

    HR 

    C

    H

    HR 

    C

    R R 

    C

    H

    HR 

    H

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      45

     Com o crescimento da ciência da química orgânica no século XIX, aumentou

     progressivamente o número dos compostos conhecidos, e passou a ser necessa´rio um método

    sistemático para nomeá-los. O sistema formal de nomenclatura adotado hoje em dia é o proposto

     pela União Internacional de Química Pura e Aplicada, IUPAC (International Union of Pure and

    A pplied Chemistry). Este sistema, foi desenvolvido pela primeira vez, em 1892 e revisto em

    intervalos irregulares a fim de manter-se atualizado. Na base do sistema de nomenclatura dos

    compostos orgânicos da IUPAC está o princípio fundamental cada composto diferente tem um

    nome diferente. Assim, mediante um conjunto sistemático de regras, o sistema IUPAC atribui

    nomes a mais de 7 milhões de compostos orgânicos conhecidos e também dispõe de nomes para

    quaisquer milhões de outros compostos ainda não sintetizados. Além disso, o sistema IUPAC é

    suficientemente simples para que qualquer químico que saiba as regras (ou que tenha as regras à

    mão) escreva o nome de qualquer composto que possa ser encontrado. Da mesma forma,qualquer pessoa pode deduzir a estrutura de um dado composto a partir do seu nome no sistema

    IUPAC.

     No sistema IUPAC, o nome de um composto químico é constituído de três partes:

    prefixo, infixo e um sufixo. O prefixo, a parte inicial, indica o número de átomos de carbonos

    na molécula. O infixo  indica o tipo de ligação entre os átomos de carbono. E o sufixo, a parte

    final, indica o grupo de substâncias orgânicas a que o composto pertence   (identifica a função

    química a que a molécula pertence),

    PrefixoInfixoSufixo

    Número de átomos de carbono Tipo de ligação Função química

    Prefixo: indica o número de átomos de carbono pertencentes a cadeia principal.

    1C = met; 2C = et; 3C = prop; 4C = but; 5C = pent; 6C = hex; 7C = hept; 8C = oct;

    9C = non; 10C = dec; 11C = undec; 12C = dodec; 13C = tridec; 15C = pentadec; 20 C = eicos

    Afixo ou infixo: indica o tipo de ligação entre os carbonos:

    Todas simples = an; Uma dupla = en; Uma tripla = in;

    Duas duplas = dien; Três duplas = trien; Duas triplas = diin

    Sufixo: indica a função química do composto orgânico:

    hidrocarboneto= no; álcool= ol; aldeído= al; cetona= ona 

    ácido carboxílico= óico; amina= amina; éter= óxi

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      46

    Os alcanos de cadeia ramificada, com exceção dos mais complexos, podem ser nomeados

    seguindo-se quatro passos. Para alguns poucos compostos, um quinto passo faz-se necessário.

    1.  Identifique o hidrocarboneto principal (cadeia principal):

    (a) Encontre a cadeia contínua de átomos de carbono mais longa da molécula e use o nome

    do hidrocarboneto que tem esta cadeia como o nome principal. A cadeia mais longa nem

    sempre está aparente na representação usada da molécula, talvez você tenha de seguir um

    caminho mais complexo.

    Nomeado como um heptano substituídoCH3 CHCH

    CH2

    CH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    Nomeado como um hexano substituídoCH3CH2CH2CH

    CH2CH3

    CH3

     

    (b)  No caso de existirem duas cadeias de mesmo tamanho, escolha como principal a que tiver

    o maior número de ramificações:

    como um hexano comum substituinte

     E NÃO CH3CH

    CH3

    CHCH2CH2CH3

    CH2CH3

    Nomeado como um hexanocom dois substituintes

    CH3CHCHCH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

     

    2.   Numere os átomos da cadeia principal:

    (a) Comece pela extremidade mais próxima da primeira ramificação:

    (b) Se existirem ramificações situadas à mesma distância das extremidades da cadeia

     principal, comece a numerar pela extremidade mais próxima da segunda ramificação:

    CH3 CHCH

    CH2

    CH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    7

    6

    3  2  1

    45 E NÃO

    3 4

    5  6  7

    2

    1

    CH3 CHCH

    CH2

    CH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    3  4  5  6  7  8  9CH3 CHCH2CH2CH CHCH2CH3

    CH3CH2 CH3 CH2CH3

    7  6  5  4  3  2  1

    9 8 21

    CH2CH3CH3CH3CH2

    CH3 CHCH2CH2CH CHCH2CH3 E NÃO

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      47

    3.  Identifique e numere os substituintes:

    (a) Atribua um número a cada substituinte, de acordo com seu ponto de ligação à cadeia

     principal:

    (b) Caso existam dois substituintes no mesmo carbono, atribua a ambos o mesmo número.

    Devem haver tantos números no nome quantos forem os substituintes.

    4.  Escreva o nome como uma única palavra, usando hífens para separar os diferentes prefixos e

    vírgulas para separar os números. Os substituintes são citados na ordem alfabética de seus

    nomes. Se dois ou mais substituintes idênticos estão presentes, use os prefixos di-, tri-, tetra-,

    etc. Estes prefixos numéricos não são considerados para fins de ordem alfabética.

    CH3 CHCH2CH2CH CHCH2CH3

    CH3CH2 CH3 CH2CH3

    7  6  5  4  3  2  1

    9 8

    Nomeado como um nonano

    Substituintes: No C3, CH2CH3  (3-etila)  No C4, CH3  (4-metila)  No C7, CH3  (7-metila)

    6  5  4  3  2  1 CH3CH2 C

    CH3

    CH2

    CH2CHCH3

    CH3

    CH3

    89

    7  6  5  4  3  2  1

    CH2CH3CH3CH3CH2

    CH3 CHCH2CH2CH CHCH2CH3

    CH3CH2CH2CH

    CH2CH3

    CH3

    CH3CHCH2CH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    CH3 CHCH

    CH2

    CH2CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    6  5  4  3 

    2 1 1

    2

    5  6  7

    43

    1  2  3  4  5  6 

    3-Metil-hexano

    3-Etil-2-metil-hexano

    4-Etil-3-metil-heptano

    4-Etil-2,4-dimetil-hexano3-Etil-4,7-dimetil-nonano

    CH3CH2 C

    CH3

    CH2

    CH2CHCH3

    CH3

    CH3

    Substituintes: No C2, CH3  (2-metila)  No C4, CH3  (4-metila)  No C4, CH2CH3  (4-etila)

    Nomeado como um hexano6  5  4  3  2  1

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      Em alguns casos particularmente complexos, um quinto passo se faz necessário. Por

    vezes, ocorre que um substituinte da cadeia principal apresenta sub-ramificações:

     Neste caso, o substituinte no carbono 6 (C6) é uma unidade com quatro átomos de carbono com

    uma sub-ramificação. Para dar o nome do composto como um todo, é preciso primeiro dar um

    nome para o substituinte sub-ramificado.

    5.   Nomeia-se um substituinte complexo aplicando-se os primeiros quatro passos que

    descrevemos, como se o substituinte fosse, por si só, um composto. No composto mostrado,

    o substituinte complexo é um grupo propila substituído:

    A numeração do substituinte complexo começa no ponto de ligação com a cadeia principal.

    2,3-Dimetil-6-(2-metil-propil)-decano

    CH3CH

    CH3

    CHCH2CH2CH

    CH3

    CH2CH

    CH2CH2CH2CH3

    CH3

    CH31  2  3  4  5  6

    7  8  9  10

     

    Assim, identificamos o substituinte complexo como sendo um grupo 2-metil-propila.

    Para evitar confusão, o nome deste substituinte é destacado entre parênteses no nome completo

    da molécula:

    Outro exemplo é:

    9  8  7  6

      3  2  12-Metil-5-(1,2-dimetil-propil)-nonano

    CH3CH2CH2CH2CH CH

    CH2

    CH3

    CHCH3

    CH2 CH

    CH3

    CH3

    CH3

    54

    CH

    CH3

    CHCH3

    CH3

    5-(1,2-dimetil-propil)

    1  2  3

     

    Por razões históricas, alguns dos grupos alquila simples de cadeia ramificada possuem

    também nomes não-sistemáticos ou comuns.

    CH2 CH CH3

    CH3Molécula

    1  2  3

    Nomeado como um

    decano 2,3,6-trissubstituído

    CH3CH

    CH3

    CHCH2CH2CH

    CH3

    CH2CH

    CH2CH2CH2CH3

    CH3

    CH31  2  3  4  5  6

    7  8  9  10

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    a)  Grupo alquila com três átomos de carbono:

     b)  Grupos alquila com quatro átomos de carbono:

    c)  Grupos alquila com cinco átomos de carbono:

    Os nomes comuns desses grupos alquila simples estão tão enraizados na litetura química

    que as regras da IUPAC permitem a sua utilização. Assim, é correto nomear o composto seguinte

    como 4-(1-metil-etil-)heptano ou 4-isopropil-heptano.

    Ao se escrever o nome de um alcano, o prefixo iso- é considerado parte do nome do

    grupo alquila para fins de ordem alfabética. Isto não é válido para os prefixos hifenados:  sec- e

    terc-. Assim, ao se colocar os grupos em ordem alfabética, isopropila e isobutila são listados naletra i, e sec-butil e terc-butil na letra b.

    CH3CH2CH2CHCH2CH2CH3

    CH3CHCH3

    4-(1-Metil-etil)-heptano ou 4-Isopropil-heptano

    Isopropila (i -Pr)CH3CHCH3

    CH3CH2CHCH3  CH3CHCH2

    CH3

    ec-butila (sec-Bu) Isobutila terc-butila(t -Butil ou t -Bu)

    CH3 C

    CH3

    CH3

    CH3CHCH2CH2

    CH3

    CH3CH2 C

    CH3

    CH3

    CH3 C

    CH3

    CH3

    CH2

      Isopentila Neopentila terc-pentilatambém denominado também denominado  isoamil (i -amil) terc-amil (t -amil)

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      50

    6. Utilize as regras anteriores para outros tipos de substituintes. 

    2-bromo-3-nitrobutano1  2  3  4 

    CH3 CH CH

    Br NO2

    CH3

    CH2 CH2 CH

    NO2

    CH3

    Br

    1  2  3  4 

    1-bromo-3-nitrobutano

    Nome de grupos substituintes comuns

    Grupo funcional Nome

    NH2  Amino

    F Flúor(o)

    I Iodo

    Br Bromo

    NO2  Nitro

    CH CH2  Vinila 

    -  Ciclo-alcanos ou Ciclanos

    Os ciclo-alcanos ou compostos alicíclicos (alifáticos cíclicos) com apenas um anel são

    denominados pela afixação do prefixo ciclo aos nomes dos alcanos que possuem o mesmo

    número de átomos de carbono. Como são formados por anéis de unidades -CH2-, os ciclo-

    alcanos possuem fórmula geral (CH2)n ou CnH2n e são representados por polígonos, nas fórmulas

    em linha, figura 33:

    Ciclo-propano ciclo-butano ciclo-pentano ciclo-hexano ciclo-heptano  

    Figura 33. Exemplos de ciclanos.

    Os nomes dos ciclo-alcanos substituídos seguem regras às dos alcanos de cadeia aberta.

     Normalmente, bastam apenas duas regras:

    1.  Verifique o número de átomos de carbono do anel e do maior substituinte. Se o número de

    átomos de carbono do anel é igual ou superior ao do maior substituinte, o composto é

    nomeado como um ciclo-alcano substituído com um grupo alquila. Se ocorrer o inverso, ocomposto é nomeado como um alcano substituído com um grupo ciclo-alquila. Por exemplo:

    3 carbonos 4 carbonos

    Metil-ciclo-pentano 1-Ciclo-propil-butano

    CH2CH2CH2CH3 MasCH3

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      51

    2.  Para ciclo-alcanos substituídos com grupos alquila, numere os substituintes do anel nos

     pontos de substituição, de forma a obter a menor soma de números:

    (a) Quando dois ou mais grupos alquila diferentes estão presentes em posições equivalentes,

    numere-os levando em conta a ordem alfabética:

    (b) Halogênios são tratados exatamente como grupos alquila:

    A seguir temos mais alguns exemplos:

    CH3

    CH3

     E NÃO

    1

    2

    3

    4

    5

    6 2

    3

    4

    5

    6

    1

    CH3

    CH3

    1,3-Dimetil-ciclo-hexano 1,5-Dimetil-ciclo-hexano

      (Soma: 1 + 3 = 4) (Soma: 1 + 5 = 6)

     E NÃO1

    2

    1-Bromo-2-metil-ciclo-butano 2-Bromo-1-metil-ciclo-butano

    CH3

    Br

    CH3

    Br

    1

    2

    2

    1

    5

    4 3

    CH3

    CH2CH3

    CH3

    CH2CH3

    1-Etil-2-metil-ciclo-pentano 2-Etil-1-metil-ciclo-pentano

    54

    3

    2

    1 E NÃO

    Br

    CH3CH3CH2

    1

    5

    4 3

    2

    6

    5

    4

    3

    2

    1CHCH2CH3

    CH3

    1  2  3

    Cl

    CH3

    CH2CH3

    1-Bromo-3-etil-5-metil-ciclo-hexano (1-Metil-propil)-ciclo-butano(ou