Polémica Estructural (Con a. Candido y R. Schwarz)

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 Textos de Antonio Candido, Affonso Romano de Sant’Anna e Roberto Schwarz em torno de O cortiço   Ânge l a Maria Rubel Fa ni ni Doutora em Te or ia da Li te ratura, UFSC. Pr of. da UTFPR. E-mail: rubel@utf pr .edu.br  Resumo: Neste estudo, faremos um resumo interpretativo de cinco artigos em torno da obra O cortiço do escritor Aluísio Azevedo. Aná l i se estrutura l d a na rrativa de Afonso Romano de Sant’Anna em que ocorre uma perspectiva estruturalista. Passagem do dois ao três: contribuição para o estudo das mediações na análise literáriade Antonio Candido que polemiza diretamente com Afonso Romano, opondo-se ao método estruturalista. Curtição: o cortiço do mestre Candido e o meu de Afonso Romano  em que se refutam as críticas de Candido. De cortiço a cortiço, vinculado à perspectiva marxista-economicista, porém, amenizada e, nalmente,  Adeq uação naci onal e originalidade crítica de Roberto Schwarz em que se exaltam as leituras de Candido sobre O co rti ço e combate-se certa crítica literária culturalista. Palavras-chave: Crítica literária brasileira. Antonio Candido. Aonso Romano de Sant’Anna. Roberto Schwarz  Resumo interpretativo dos textos críticos em tela  Enfatizamos que o resumo que faremos é interpretativo pois acreditamos que o dito sempre desloca o já di to. O nos so resumo é um ato de comunicação e este é uma tradução e uma leitura a partir de um novo quadro de referência. Nosso resumo constitui-se em uma leitura possível dos textos citados.  Em torno de “Análise estrutural de romances brasileiros: O cortiço Nesse texto ARS [i]  analisa o romance O cortiço a partir de uma perspectiva estruturalista. O professor parte do pressuposto de que o romance se estrutura a partir do discurso cientí co, sendo teleguiado em todos os níveis arquitetônicos e composicionais por princípios da termodinâmica. Desse modo, o ro mance é tão somente um transplante de modelos cientí cos que regem a totalidade das situações narrativas. ARS trabalha essencialmente com pares binários que se tornam signi cativos na relação de oposição que mantêm entre si. O romance é dividido em dois conjuntos antitéticos: conjunto I (universo do cortiço) e conjunto II (universo do sobrado). Esse modelo binário funciona como uma redução estrutural que se aplica a várias situações narrativas. Tanto o modelo binário quanto a sua aplicação universal às situações narrativas demonstram claramente que ARS está dialogando com uma perspectiva formalista da língua embasada em Saussure cujas idéias vão estar presentes no estruturalismo da década de setenta. Para Saussure, o signo lingüístico se torna signi cativo na relação com outro signo lingüístico no interior do sistema da língua. Este é entendido como uma instituição social que se impõe para o usuário da língua. O contexto social mais amplo (a tradição cultural), a situação (o contexto

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A. Candido y R. Schwarz

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  • Textos de Antonio Candido, Affonso Romano de SantAnna e RobertoSchwarz em torno de O cortio

    ngela Maria Rubel Fanini

    Doutora em Teoria da Literatura, UFSC. Prof. da UTFPR.E-mail: [email protected]

    Resumo: Neste estudo, faremos um resumo interpretativo de cinco artigos em tornoda obra O cortio do escritor Alusio Azevedo. Anlise estrutural da narrativa de AfonsoRomano de SantAnna em que ocorre uma perspectiva estruturalista. Passagem dodois ao trs: contribuio para o estudo das mediaes na anlise literriade AntonioCandido que polemiza diretamente com Afonso Romano, opondo-se ao mtodoestruturalista. Curtio: o cortio do mestre Candido e o meu de Afonso Romano emque se refutam as crticas de Candido. De cortio a cortio, vinculado perspectivamarxista-economicista, porm, amenizada e, nalmente, Adequao nacional eoriginalidade crtica de Roberto Schwarz em que se exaltam as leituras de Candidosobre O cortio e combate-se certa crtica literria culturalista.Palavras-chave: Crtica literria brasileira. Antonio Candido. Aonso Romano deSantAnna. Roberto Schwarz

    Resumo interpretativo dos textos crticos em tela

    Enfatizamos que o resumo que faremos interpretativo pois acreditamos que odito sempre desloca o j dito. O nosso resumo um ato de comunicao e este umatraduo e uma leitura a partir de um novo quadro de referncia. Nosso resumoconstitui-se em uma leitura possvel dos textos citados.

    Em torno de Anlise estrutural de romances brasileiros: O cortio

    Nesse texto ARS[i] analisa o romance O cortio a partir de uma perspectivaestruturalista. O professor parte do pressuposto de que o romance se estrutura apartir do discurso cientco, sendo teleguiado em todos os nveis arquitetnicos ecomposicionais por princpios da termodinmica. Desse modo, o romance tosomente um transplante de modelos cientcos que regem a totalidade das situaesnarrativas. ARS trabalha essencialmente com pares binrios que se tornamsignicativos na relao de oposio que mantm entre si. O romance dividido emdois conjuntos antitticos: conjunto I (universo do cortio) e conjunto II (universo dosobrado). Esse modelo binrio funciona como uma reduo estrutural que se aplica avrias situaes narrativas. Tanto o modelo binrio quanto a sua aplicao universal ssituaes narrativas demonstram claramente que ARS est dialogando com umaperspectiva formalista da lngua embasada em Saussure cujas idias vo estarpresentes no estruturalismo da dcada de setenta. Para Saussure, o signo lingsticose torna signicativo na relao com outro signo lingstico no interior do sistema dalngua. Este entendido como uma instituio social que se impe para o usurio dalngua. O contexto social mais amplo (a tradio cultural), a situao (o contexto

  • imediato do ato comunicativo), o local de onde se fala (academia, ambiente familiar,conversa de bar) e para quem se fala (academia, jornal, algum ntimo) no determinamo valor signicativo do signo. Dialogando com essa corrente formalista, ARS vai, ento,denir a especicidade dos conjuntos constituintes do romance. O regime de trocasinternas aos conjuntos vai ser diferenciado na oposio entre eles: no Conjunto I, elasocorrem de modo instintivo, irracional e violento. A temos a horizontalidade, ahomogeneizao, a impessoalidade. Esse conjunto simboliza uma ordenao natural. Jno conjunto II, em oposio, as trocas ocorrem a partir de estratgias racionais,instaurando-se o reino da cultura. Esse modelo, no entanto, maniquesta e no leva em considerao a situaoliterria mais ampla, o contexto brasileiro e o papel do intelectual, elementos intrnsecosao texto. Da no d conta de vrias situaes do romance, reduzindo-o a umesquema, a uma modelagem.

    Em torno de Passagem do dois ao trs (contribuio para o estudo dasmediaes na anlise literria)

    Antonio Candido nesse texto polemiza diretamente com ARS, armando que o

    mtodo estruturalista binrio insuciente visto que a a signicao do discursoliterrio ocorre de modo imanente, desprezando-se o contexto social (o terceiroelemento) em que est inserido. AC[ii] vai explicitar as bases marxistas de sua anlised e O cortio, em oposio frontal s bases estruturalistas do texto de ARS. AC seutiliza da mesma idia de ARS, ou seja, o romance conta a histria da passagem danatureza para a cultura. Essa passagem, no entanto, no investigada na oposiobinria, funcionando como decalque de modelos cientcos j citados, mas mediadapelo contexto scio-econmico extraverbal, recriando a luta de classes e o trabalhoalienado nos primrdios do capitalismo brasileiro. Para AC, o romance conta a histria da acumulao primitiva de capital. Issoocorre, no entanto, de modo inconsciente para Alusio, mas o crtico, munido de umarsenal terico marxista, consegue captar na forma esttica essa mediao econmica. como se houvesse um texto manifesto, de leitura mais imediata em que Alusio,determinado por uma cultura nacionalista xenfoba e por discursos cienticistasracistas e eurocntricos, formalizasse uma narrativa em que o conito entreportugueses e brasileiros dominasse a cena. Porm, o nvel mais profundo da narrativaespelha no um conito tnico-nacionalista, mas um conito entre pobres e ricos,recriando a estratificao scio-econmica brasileira. Para exemplicar como ocorre em nvel formal essa mediao econmica, ACvai destacar a animalizao das personagens. A animalizao no ocorre de modoindiferenciado como se Alusio rezasse pela cartilha determinista que nega o livrearbtrio para qualquer homem (independente de classe social), colocando-o como presade seus instintos. A animalizao que incide sobre as personagens de O cortio diferenciada e mediada pela categoria trabalho. Os pobres que trabalham em condies

  • brutais e desumanas (Bertoleza, Jernimo, Joo Romo, este antes de ascendersocialmente) so formalizados de modo muito mais animalesco. A realidade econmicabrasileira oitocentista, de um capitalismo primitivo, brutal e violento para os pobres setorna uma categoria interna ao texto, animalizando as personagens de modo diferente.Nesse sentido, o romance funciona como um discurso crtico do real, e o internoesclarece o externo. Por que acontece essa intromisso do contexto em O cortio? Segundo AC,Alusio, sendo um intelectual brasileiro, no escapa de um quase determinismo culturalda literatura brasileira, ou seja, o seu carter interessado e empenhado. Esse carternorteia a produo dos escritores. O desejo de dizer, denir e diferenciar a realidadelocal uma prtica cultural e discursiva que se impe ao escritor, mesmo que ele no oqueira. como se isso ocorresse quase que revelia deles.

    Em torno de Curtio: o cortio do mestre Candido e o meu

    ARS continua a polmica com AC, mantendo basicamente a mesma interpretaodo romance O cortio que zera no artigo anterior. Vai criticar o mtodo esttico-sociolgico de AC, chamando-o de redutor ao simplicar o romance, vendo-o pela ticaeconmica. Entre pobres e ricos, h, segundo ARS, a formao de um terceiroelemento, as camadas mdias da populao (aristocratizao do cortio), que noforam contempladas na anlise de AC. ARS dialoga diretamente agora com Derrida, falando em descontinuidade,principalmente para atacar a tese de AC quando este v no discurso de Alusio umacontinuidade e um reforo da literatura empenhada em dizer o local. Aponta para anecessidade de investigar o universo feminino, a contraposio entre trabalho e cio euma tipologia do trabalho a partir de bases tericas eclticas, fugindo-se doeconomicismo. Nesse sentido, o texto de ARS se amplia visto que no mais reduz oromance a um decalque dos modelos da termodinmica.

    Em torno de De cortio a cortio

    Nesse texto, AC, retoma em parte a anlise anterior de O cortio, mas introduzmodicaes. O texto parece menos explicitamente vinculado a bases marxistas queinsistem na relao infra-estrutura e superestrutura. Entretanto, embora amenize odiscurso, no abandona o critrio econmico, enfatizando que o romance formalizaesteticamente, sobretudo, a acumulao primitiva de capital no Brasil oitocentista (issoocorre por intermdio da personagem Joo Romo que, na realidade, funciona comoum alegoria dessa passagem).

    AC destaca que Alusio, embora usando uma forma importada, adaptou-a, e essereordenamento dirigido por uma tradio literria brasileira empenhada e interessada,em que o literato tambm um historiador, um socilogo. Alusio, mesmo dependendode Zola, pois h semelhanas entre a escritura francesa e a brasileira, conseguiu

  • estruturar uma linguagem prpria, brasileira, local. H liberdade e no s dependnciaem relao ao manejo da forma importada. Esse posicionamento de AC vai de encontroa ele mesmo quando escreveu sobre o naturalismo em A formao da literaturabrasileira momentos decisivos)[iii]. A, AC entende o naturalismo brasileiro como puracpia dos modelos estrangeiros (Zola e Ea), criticando essa esttica por no darcontinuidade tradio interna ( no h dilogo com os antecedentes locais e somentearremedo dos europeus). O naturalismo brasileiro seria como um ponto cego em que abrasilidade no discurso estaria ausente. Essa postura contrariada em De cortio acortio, pois a forma importada sofre um deslocamento nas mos de Alusio, emvirtude desse empenho em dizer o Brasil que perpassa a tradio literria brasileira.Zola no recria toda a Frana em uma obra particular, por exemplo, mas Alusio em Ocortio faz uma alegoria do Brasil. O cortio o Brasil em miniatura. Temos portantoaqui novamente o terceiro elemento a dar signicao e especicidade para a formaromanesca. A forma importada de Zola reacentuada, reordenada e ltrada porAlusio. Isso ocorre, no por obra e mrito individual do escritor, mas porque ocontexto social, literrio e econmico, como elementos externos, se tornam internos,reorientando a forma literria. A especicidade, a signicao no provm da imannciatextual, de seu material verbal desvinculado do social, mas esse material verbal seinstitui como forma social de um contedo extraverbal.

    A ttulo de exemplicao, transcrevemos da Formao da literatura brasileira(momentos decisivos) a perspectiva negativista e de pura cpia com que AC via onaturalismo brasileiro:

    Este realismo[da co brasileira], que foi virtude e obedeceu ao programa nacionalista, foitambm fator de limitao, visto como a objetividade amarrou o escritor representao de ummeio pouco estimulante. Macedo o caso mais tpico neste sentido, tendo passado a vida a girarem torno de quatro ou cinco situaes no mesmo e acanhado ambiente da burguesia carioca.Bem claro se torna pois o papel da histria, do indianismo e do exotismo regionalista, comoampliao de um limitado ecmeno literrio. Igualmente claro o apelo constante ao padroeuropeu, que sugeria situaes inspiradas por um meio socialmente mais rico, e frmulasamadurecidas por uma tradio literria mais renada. Da a dupla delidade dos nossosromancistas - atentos por um lado realidade local, por outro moda francesa e portuguesa.Fidelidade dilacerada, por isso mesmo difcil, que poderia ter prejudicado a constituio de umaverdadeira continuidade literria entre ns, j que cada escritor e cada gerao tendiam arecomear a experincia por conta prpria, sob o inuxo da ltima novidade ultramarina, como seviu principalmente no caso do Naturalismo.Signicativa, com efeito, a circunstncia do romance post-romntico haver renegado o trabalhoadmirvel de Alencar, no falando nas duas excelentes realizaes isoladas que foram Memriasde um Sargento de Milcias e Inocncia, para inspirar-se em Zola e Ea de Queirs. A conseqnciafoi que os nossos naturalistas, com a exceo de Raul Pompia e Adolfo Caminha, caram nosmesmos erros dos romnticos ( sobretudo Alusio Azevedo) sem aproveitar a sua lio.[iv]

    AC tambm se contrape a Lukcs que em seu ensaio, Narrar ou descrever[v],

    critica os escritores realistas e naturalistas (sobretudo Zola), denunciando-lhes a poucaparticipao poltica via literatura. Segundo o lsofo marxista, a escrita realista-naturalista, por intermdio da descrio, revela uma viso social contemplativa,reacionria, esttica. Em vez de auxiliar a modicar um estado social injusto, acaba pordescrev-lo como um presente atemporal, natural e imutvel. A descrio no

  • apreende a totalidade, mas d apenas a perspectiva da classe burguesa cujo interesse naturalizar o que fruto de condies histricas. J Balzac, Tolsti e Walter Scottformulam um realismo crtico, participativo em que as descries esto vinculadas narrao, participao, luta. H a uma viso paticipativa e histrica que impele paraa mudana e no para a contemplao. Aqui a luta, a revoluo; l a reao.

    AC diz que Alusio, embora descreva, utilizando-se de uma forma composicionalque leva contemplao, na realidade faz realismo alegrico, pintando o Brasil em suatotalidade e no apenas ficcionalizando-o em uma de suas partes (aqui, novamente, ACreedita a contradio interna do texto: o nvel mais elementar de leitura [conito tnico]e o mais complexo[conito de classes]). AC v a luta tnica em nvel de descrio e aluta de classes, gerada pelo capitalismo primitivo na narrao, no universo pico doromance. A reside a poro mais crtica do romance de Alusio. O professor JooHernesto Weber em Caminhos do romance brasileiro[vi], dialogando tambm comLukcs, tem um posicionamento diferente de AC. Weber, resumidamente, tambm seutiliza do par narrao e descrio, destacando, porm, que o contexto social de umcapitalismo incipiente faz com que haja um deslocamento da narrao em O cortio. Afbula, a narrao e o lado pico, centrados em Joo Romo, que ficcionaliza oprocesso de instaurao de um capitalismo primitivo no Brasil, so jogados para aperiferia do texto. J o centro o palco das descries da sociedade e do povobrasileiro vazadas a partir de teorias cientificistas e racistas correntes na poca. Acreditamos que em De cortio a cortio, AC ajustou o seu discurso a umaperspectiva marxista mais cultural e menos econmica, pois destaca o dilogo detextos, ou seja, como Alusio reorienta o discurso literrio naturalista francs (Zola).Obviamente que sem perder a referncia, pois a partir desta que se d oreordenamento do discurso importado. Essa adaptao mais cultural do marxismotalvez espelhe um momento histrico de menos luta poltica que o momento da dcadade setenta. A esse respeito consultar Consideraes sobre o marxismo ocidental[vii]de Perry Anderson em que o se destaca a guinada do marxismo para os estudosculturais (isso denota um enfraquecimento da luta revolucionria, ocorrendo aapropriao do marxismo por parte dos intelectuais e um afastamento destes emrelao s massas).

    Em torno de Adequao nacional e originalidade crtica

    Nesse texto, RS[viii] faz uma leitura, sobretudo, do texto De cortio a cortio,enfatizando-lhe a perspectiva sociolgico-esttica. Em AC, RS encontra o seuantecedente, reforando-se, assim, uma linhagem crtica de bases marxistas.

    O texto de RS refuta vrios pressupostos bsicos pertinentes a uma perspectivaps-estruturalista, inuenciada, sobretudo, por Derrida. Esse lsofo francs tem feitoescola no Brasil, e notamos que RS se dirige tambm a essa audincia social local,bastante apegada ao centro francs. RS fala a partir de outra perspectiva, ou seja, de

  • um mirante marxista, que se contrape frontal e irremediavelmente em relao aoiderio vinculado ao ps-moderno de bases culturalistas. Aqui, em termos bemreduzidos, conclamam-se a morte da referncia, do centro, da histria, da totalidade,da utopia, da teleologia e do autor. RS no admite que j no haja mais centro, pois oBrasil um pas perifrico e dependente nos mbitos cultural, econmico e tecnolgico,sofrendo a sua insero no sistema capitalista internacional. Essa insero temespecicidades que inuem na produo cultural. O Brasil, nesse jogo internacionaleconmico-nanceiro, antes jogado que jogador. Para RS, o escritor ps-moderno,embora, pense que escreve para o mundo de um lugar no situado, determinadotambm pelo contexto social, econmico e cultural em que se orienta. As condies deproduo, o pblico leitor, a realidade cultural, o contexto imediato e o mais amplo, aclasse social do escritor denem internamente a produo literria. H sim umaterritorializao da escritura. H tambm uma memria e uma historicidade locais queimpregnam o discurso literrio, que nossa tradio empenhada, termo creditado aAC.

    Os crticos literrios, por sua vez, a quem se dirige a crtica de RS, no enrazama atividade crtica, desconsiderando a realidade local. Segundo RS, demonstram umapostura alienada, reduplicando as modas tericas importadas, sem ajust-las oureorden-las ou situ-las em relao realidade local. No retomam uma tradio crticalocal para refut-la ou endoss-la, simplesmente a desconhecem. No o caso de RS,que, sendo um crtico de tradio sociolgico-esttica, v em AC seu precursor,contribuindo para criar uma tradio historiogrfica crtica nacional.

    Referncia BibliogrficaAZEVEDO, Alusio. O cortio. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1979.ANDERSON, Perry. Consideraes sobre o marxismo ocidental. So Paulo: Brasiliense,1989.CANDIDO, Antonio. A passagem do dois ao trs (contribuio para o estudo dasmediaes na anlise literria). In: Revista de Histria. Ano 25, tomo 3, volume 50, n.100, So Paulo, out/dez.1974, p.787-799._________. De cortio a cortio. In:_________. O discurso e a cidade. So Paulo: DuasCidades, 1993.HULL, L. W. H. Histria y filosofia de la ciencia. Barcelona: Ediciones Ariel, 1961, p. 328.LUKCS, Georg. Narrar ou Descrever? (contribuio para uma discusso sobre onaturalismo e o formalismo). In:_______. Ensaios sobre Literatura. 2.ed. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira, 1968.SANTANNA, Afonso Romano de. O cortio. In: __________.Anlise estrutural deromances brasileiros. Petrpolis: Editora Vozes, 1973.___________.Curtio: o cortio do mestre Candido e o meu. In:________. Por umconceito de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Eldorado, 1977.SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetculo das raas (cientistas, instituies e questoracial no Brasil-1870-1930). So Paulo: Companhia das Letras, 1993.SCHWARZ, Roberto. Adequao nacional e originalidade crtica. In:__________.Seqncias brasileiras. So Paulo: Companhia das Letras, 1999.WEBER, Joo Hernesto. Caminhos do romance brasileiro (De a Moreninha a OsGuaians). Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.WOOD, Ellen Meiksins e FOSTER, John Bellamy( org.) Em defesa da histria (marxismo

  • e ps-moderno). Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

    [i][i] ARS indica abreviatura para Afonso Romano de SantAnna.[ii] AC indica abreviatura para Antonio Candido.[iii] CANDIDO, Antonio. Formao da literatura brasileira (momentos decisivos). 6. ed.v.2. Belo Horizonte:Itatiaia, 1981.[iv] Ibid., p.117.[v] LUKCS , Georg. Narrar ou Descrever? (contribuio para uma discusso sobre o naturalismo eoformalismo). In:_______.Ensaios sobre Literatura. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1968.[vi] WEBER, Joo Hernesto. Caminhos do romance brasileiro (De a Moreninha a Os Guaians). Porto Alegre:Mercado Aberto, 1990.[vii] ANDERSON, Perry. Consideraes sobre o marxismo ocidental . So Paulo: Brasiliense, 1989.[viii] RS indica Roberto Schwarz.

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    Referncia Bibliogrfica