POESIAS DO AMOR PAGÃO · 2018. 9. 6. · Copyright ÍNDICE AMOR DOS FRACOS ..... 4 17/08 ..... 6

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Copyright POESIAS DO AMOR PAGÃO Poesias 1987 1988 1989 José M. da Silva © José Manuel da Silva, 1989 Rio de Janeiro, R.J., Brasil

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    POESIASDO

    AMOR PAGÃO

    Poesias 1987 1988 1989

    José M. da Silva

    © José Manuel da Silva, 1989Rio de Janeiro, R.J., Brasil

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    ÍNDICE

    AMOR DOS FRACOS ................................................................................... 417/08 ............................................................................................................ 6SEM TTULO I .............................................................................................. 7SEM TTULO II ............................................................................................. 7OUVI UMA CANO .................................................................................... 8MENINA DO CABELO CASTANHO .............................................................. 9CAMINHANDO ................................................................................................. 10DO BBADO .................................................................................................... 11AU .............................................................................................................. 12O POETA DA LUZ FRACA .......................................................................... 13DO SER ..................................................................................................... 14DAS MOAS .............................................................................................. 15A TUA AUSNCIA ...................................................................................... 16LOUCO VARRIDO ...................................................................................... 17TU .............................................................................................................. 18A TUA IMAGEM .......................................................................................... 19AMOR PAGO ........................................................................................... 20O CORAO .............................................................................................. 21ESSAS LETRAS ......................................................................................... 22UMA PARTE DE MIM ................................................................................. 24ALGUM .................................................................................................... 25ORA... ........................................................................................................ 26VEJA BEM .................................................................................................. 27VOC ME PERGUNTA ............................................................................... 28EPIFANIA I ................................................................................................. 30DEPOIS DO JANTAR ................................................................................. 31O DILVIO ................................................................................................. 32O RELGIO ............................................................................................... 33EM VENDO A NOITE .................................................................................. 34CANO DO ESQUECIMENTO ................................................................. 35COM O CORRER DO DIA .......................................................................... 36DVIDA ...................................................................................................... 37ISABEL ...................................................................................................... 38TENTANDO ENTENDER O OLHAR ENIGMTICO DO GATO... .................. 39MUDANA ................................................................................................. 40CLUBE ....................................................................................................... 41FRAGMENTOS .......................................................................................... 42DIZE-ME QUEM S... ................................................................................. 43SONIA ........................................................................................................ 44SEM PRETENSO ..................................................................................... 45DESEJO QUALQUER ─ MAL-ME-QUER .................................................... 46DIVISANDO O SOL POENTE ..................................................................... 49DEPOIS ...................................................................................................... 50PERGUNTA ............................................................................................... 51POEMA DO EU .......................................................................................... 52JOE ............................................................................................................ 54CHEIRO DE VOC ..................................................................................... 55A CLARINETA ............................................................................................ 56ACHO ......................................................................................................... 58AINDA ........................................................................................................ 59POEMA DO FIM ......................................................................................... 60UM QUERER .............................................................................................. 61PARA VINCIUS OUTRA VEZ ..................................................................... 62POESIA INACABADA ................................................................................. 64POESIA INACABADA I ............................................................................... 64POESIA INACABADA II .............................................................................. 64POESIA INACABADA III ............................................................................. 64POESIA INACABADA IV ............................................................................. 64EM TEMPO ................................................................................................ 65*** .............................................................................................................. 66

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    To Bob Dylan

    Sex is a temporary thing; sex isn’t love. You can get sex anywhere. If you’re looking for someone to loveyou, now that’s different. I guess you have to stay in college for that.

    Bob Dylan

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    4

    AMOR DOS FRACOS

    Só os fracos podem amarpois só um fraco pode perdoarum ultraje tamanho ao paladarsó um fraco pode olhar nos olhosde alguém que o trai sem pretexto.

    Só os fracos podem amarpois só um fraco vê certa belezaem tirar do antro o perdidoem cavar a própria sepulturae abdicar da culturaem prol da perda de tempoque é o momentode rir pra não chorar.

    Só os fracos podem amarpois só um fraco escreve poemasem nome de um amor impossívele só a fraqueza explicariaum poema de tabacariaenfim só um fraco é sensívela ponto de chorar na ruapelo brilho marcante da lua.

    Pois os fortes tentam amarmas resistem a tais maus tratose não choram sem motivose não morrem estando vivosnem tampouco têm coragemde entrar pela garagemse a decência fecha a porta.

    Pois moral, respeito e briosó existem se ligadosao que todo fraco almejao amor quente de alguém friopasseando de mãos dadasseja lá que dia seja.

    Só os fracos podem amarpois só um fraco tem doçurapra adoçar esse teu fel.E se a vida vale a penaseja oca ou seja belaeu sou fraco e digo nãoa viver sem coração.

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    5

    Só os fracos podem amarpois amar é a fortalezaque fraqueja a solidão.

    Rio, 1987.

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    17/08

    O verso agora ficou mudofoi-se a estrofe que era tudo.É,José,aí está a tua respostanão há muito o que dizerneste agosto já sombriofoi-se do mundo a inspiraçãocom a tua expiraçãonão há muito o que fazerpois a chuva já secou.Que alguém bom te ampare e guardeao teu gosto sem alardee vai, poeta, ser eternodeixa o mundo, esse doentese ocupar em ser moderno.

    Rio, 1987.

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    SEM TÍTULO I

    Da rua em diantenão há o que fazerdo mundo pra baixosó te querer.

    Pois tua casa é no céue o mundo uma ilusãoquando penso nos teus olhose tudo então vira prazer.

    Do vício de querer um copochego a ficar bêbadode tanto ter fome de te olharfecho os olhos e não paro de te ver.

    Terezópolis, 1987.

    SEM TÍTULO II

    Sou quem te atenta o juízoporque sou quem te ama;e em muitas horas do dianão consigo sair dessa lama.

    Gosto de gostar gostandoe sem querer querer ficarfazendo amor e divagandoporque é divertido te gostar.

    Rio, 1987.

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    OUVI UMA CANÇÃO

    Ouvi uma cançãoque me lembrou do teu sorrisocomo se o amorfosse apenas um aviso.

    E o brilho dos teus olhosse me chegou em pensamentocomo se a saudadedesfalecesse esse momento.

    E então filosofeieu cá comigo e meus botõesimaginando o casamentodesses nossos corações.

    E ainda agora distraídoo frio duro, a luz tardiasurpreso olhando para o tetopois que te amava e não sabia.

    Rio, 1987.

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    MENINA DO CABELO CASTANHO

    Você que senta na janelaAbre o caderno e faz não sei o quêE me deixa pensandoEm ficar com vocêCadê a razão que me faz perceberSeu cabelo castanhoE jeito largado?Não são pra mim e talvez pra ninguémQue não deviaNão devoPensar em vocêPor quê? Se o solContinua a brilharNum dia tão lindoSem ter de pensarEm largar de vocêO se me perguntaOnde ponho meus olhosE em qual dimensãoDescobri-me em vocêEntrée para o diaVisão tão felizE um susto me agarraSua presença sumiuDa janela e do mundoE um rapaz sonhadorJá ganhou a manhãA fingir que teu nomeÉ minha bela DésiréeVocê VocêCadê VocêPor quê? VocêSe vocêEntrée Désirée.

    Rio, 1987.

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    CAMINHANDO

    Não se fazem mais amoresassim aconchegantesem que esquecer o mundoé lembrança embriagante.

    Olhem só onde chegueisem dinheiro andando a pépelas ruas da cidadesem destino mas com fé.

    Enredado em pensamentosa cabeça latejandomas a dor é mais profundauma espécie de ar nefando.

    Onde é mesmo que eu parei?...Ah!... Não se fazem mais amores...Bem, anyway agora é tardeVou dormir sem meus pudores.

    Um favode melprocurado anelna faltado alguémme durmopensandoem qualquerIsabel.

    Rio, 1987.

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    DO BÊBADO

    No fundo a vidaé a sensaçãode se estar constantementebêbado. Olhar por cima. Estar em baixo.Sentir não pensando.Pensar não querendo.Querendo não vendo.No caso o estudocom o sexo e o trabalhoa vidahistória das três fugas.Pois a fuga do bêbadonão traz a consciência material da fugae sim a abstrata intuiçãode algo prazerosoembora doloroso.Dá um sono...Maldito mal-estar!Esse questionamento do desejoum eterno investigarentre o abraço e o beijo.Embate ferrenho...Duro chegar à conclusãose tudo é dádiva ou maldição.

    Rio, 1987.

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    12

    AU

    Como ousas me dizer que nãovivo como tupenso como tucomo te atreves a negarque sintoque reflitoé público e notóriomeu existirmeu serfaz com que me julguediferente de vocêque não viveque não senteque não refleteque não existecomo euque não penso em ticomo pensas em mimque começo a pensarpor que pensas assimpois eu vejo vocêmas você não me vê.

    Rio, 1987.

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    13

    O POETA DA LUZ FRACA

    O poeta é um ser marginale muito gosta de o ser talcomeça pelo meioe não termina no final.

    Que ser é esse que chora a saudadedo que ainda não chegoue que pinta a imagemdo que alguém nunca falou?

    O poeta é o lugarda rima rica e do desterroda loucura onde o fatose engrandece com o detalheonde tudo faz sentidoe onde brilha uma luz fracaonde chego sem ter idovomito a letra e como a faca.

    Rio, 1987.

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    14

    DO SER

    Há um pensamento estranho em minha menteComo um algoz de minha vozE enquanto pensoNão descansoHá agora uma verdade em minha vidaComo o amor que não tem corE enquanto vivoSó me esquivoHá do ser a grande dúvida enfimComo o espelho que reflete atrás de mimE enquanto estudo as dimensões do não-saberVem a vontade tão imensa de escrever.

    Rio, 1987.

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    15

    DAS MOÇAS

    Vi uma perna bonitae perguntei teu nome, Anita.Vi uma face sombriae acreditei em você, Maria.Beijei uma boca sincerae me entreguei a você, Vera.Senti um desejo de mortee você, Marta, foi a minha sorte.Te deixei no ardor da primíciae até hoje me lembro, Patrícia.A felicidade era tua caríciae te amava com amor, Letícia.Disse gozei e mentiae chorei por nós dois, Sofia.E andei de esquina em esquinavagando de Cristina em Regina.Decidi me casar com alguéme na hora, Lígia, esqueci do amém.Ainda vago com esperança e agoniapesquisando esse teu coração, Bia.Deixarei a poesia incompletacomo falta uma parte ao poeta;e no eterno trocar de lugarsó espero a solidão enganarou um grande amor encontrar.

    Rio, 1987.

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    16

    A TUA AUSÊNCIA

    Sou um mero teorizador da vidaUm transgressor do pensamentoValete de um baralho apócrifoFixador idólatra de um momento.

    Pois poesia é ser ninguémEnquanto ser não é verdadeHá que ter o ser em siFazer do todo uma metade.

    Sou feliz na infelicidadeA do amor incoerênciaDe saber o que é saudadeDe temer a tua ausência.

    Rio, 1987.

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    LOUCO VARRIDO

    Tenho ainda muito que aprenderOu então sou louco varridoMas é tão gostoso me envolverCom alguém de sabor ardido!...

    Não sei bem se a inspiraçãoÉ porta-voz fiel do coraçãoMas o temor de não saberMe faz do teu veneno beber.

    Viver é conhecer o doce e o amargoÉ temer as angústias de um amorEvitando que a doçura passe ao largo;Como disse, é rimar sorriso e dor.

    ***Não é ser um pessimistaUm alguém que antecipa a dor do desconhecidoBom é ser um analistaPra sofrer com a alegria e se rir quando sofrido.

    Alô adeus meu bem-quererVocê me ama com prazerMas é que eu sou um louco atorQue te ama só com amor.

    Rio, 1988.

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    18

    TU

    És o pincel com que traçoNo espaço o meu sonho floridoÉs um detalhe do ventoQue lento me beija o calorSe todo dia me acordoE te recordo como um sonho perdidoDe noite me enrosco pequenoE obsceno me embriago de amor.

    Rio, 1988.

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    19

    A TUA IMAGEM

    Não sei bem o que me dáQuando o amargo me dominaÉ uma estranha sensaçãoQue me assusta e me fascina.

    Vou pedir à inspiraçãoQue do pouco me enfastieE ao tempo só imploroQue sem frestas me espie.

    Vou ali e não demoroSó, de novo, e sem coragemPra dizer que sinto faltaDe não ser a tua imagem.

    Em algum lugar distanteEstá um brilho de prazerQue coloca em todo amanteA semente e faz crescer.

    Rio, 1988.

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    20

    AMOR PAGÃO

    Não sei mais o que fazer com vocêAmor pagãoQue desafia toda lei que eu crieiContra a paixãoVocê, que é minha sinaMe alucina e me fascinaMe acende com um sorrisoE me fere sem avisoVocê é o perdão do meu excessoE o amanhã que eu sempre peçoNão é bem que eu te adoreOu que esteja em teu poderMas é que essa minha vidaNão respira sem te ver.

    Rio, 1988.

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    21

    O CORAÇÃO

    O coração tem pouco pra dizerEnquanto a razão não entenderQue não se pode dizer nada ao coraçãoCom medo de se entender sua razãoE pra dizer pouco ao coraçãoÉ preciso não entender toda a razãoQue pouco diz ao coraçãoQue muito espera da razão.

    Rio, 1988.

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    22

    ESSAS LETRAS

    O que fazer com essas letras?Letras de dor, letras de amor.Torná-las em rimas ricasOu empobrecê-las por solidariedadeAo país infeliz?O que fazer com essas letras?Letras de cor, de vapor.Poderia filosofá-las em ininteligíveisQue foram, que sãoOu empunhá-las movido de paixão.E letras tão belasE letras confusasE letras esquecidasLetras que buscamO sentido do inexplicávelTentando, lembrandoTirando, botandoDoá-las à praça públicaAlimentá-las de mendigosVesti-las da sujeira das ruasSão letras em poesia futuristaPorque de um passado em revista.Ou então entregá-las a vocêCom um beijo, no ensejoDeixando de lado o pudorSem que falassem em pavor.Mas são letras profundasDa mente oriundasOnde o mundo vagueia sem rumoNum eterno trocar de lugarOnde o pensar ganha e perde seu prumoSem no entanto parar e afundar.O que pensar dessas letras? Que falam de sexo e se arrependem no amor;

    que se apaixonam insaciáveis. Ah, se o caos finalmente decidisse pôr ordem nas linhas tortas e retas das deusas letras...!

    Afinal são letras fortesDe farta impressãoQue às vezes não falam de mortesE nem sempre de comiseração.Outras mais à toaAfoitas se exibem em discussãoE algumas se desvirtuamPara um brinde aos perdõesEnquanto uma perdida se moralizaE inventa as viciações.

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    O que dizer a essas letras?Se não que a letra é vã, anãEco poderoso que não vibra no ar?Pois a letra é um desenho do amanhã da memória,É o desprendimento da sensação da certeza de nada saber, e a esperança de

    poder brincar com Golias sem cegar Davi.Como explicar a essas letrasQue jamais farão sentidoNem a um simples pedido?A quem confiar essas letrasQue querem a qualquer custoDizer que carecem e conhecem o justo?Que têm raiva e que choramE que de vergonha se coram.A quem se não a mimQue as conheço e entendoE que no meu coraçãoLogo as tranco correndo?

    Rio, 1988.

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    24

    UMA PARTE DE MIM

    Alguma parte de mim morreuLonge daqui.Pois sinto um sono profundoE o terror de ficar s.Deve ser minh’alma gmeaOu um medo que pariMas sei que foi a mortePois do mundo tenho d.

    ***Alguma parte de mim empenou a tintaE assinala a passagemDe um lampejo de sentirAh! tu, doce voragemQue do verso faz surgirUm mistrio j contadoE um rimar desajeitado.

    ***E, no entanto,Alguma coisa fez morrer dentro de mimComo em encantoA preguia de gostar de ser assim.

    Rio, 1988.

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    25

    ALGUÉM

    Alguém me pediu um poemaQue falasse de amor ou de uma coisa boaMas é realmente uma penaQue não me lembre de quem no pensamento ressoa.

    Fosse uma bela mulherFalaria com admiraçãoE perguntaria me querPra desejar tua paixão?

    Fosse uma pessoa prudenteOu de cultura marcanteDiria ainda bem, felizmente,Que de ti jamais fico distante.

    Fosse ainda alguém de quem eu gostasseCujo amor por mim fosse algo de certoTalvez um beijo só, então, não bastasseQue dirá um poema, para tê-la por perto.

    Rio, 1988.

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    26

    ORA...

    Gostaria muito hoje deescrever uma poesia.Por isso escrevo este conto.Ora, dir-me-á o atletadas palavras; um louco.

    Em que pese vinte vezesa raiz das coisas,as estrelas não têm fim.Ora, então que o amorjamais seja só um pouco.

    Invasão, um olhar me perscruta.Que estranho essa palavra aqui,num conto sem rima.Ora, que seja então poesiapois eu falo até que fique rouco.

    métrica, tétricapeste do oestesul tão azulmorte sem porte

    Foi uma sombraque me desejou boa tardecom o tesouro de meus olhosdesprocuro o porquê;ora, então essa voz dentro de mimnão é se não o ecode um prometeu vagabundo...

    E em caso de não sabero que dizerhaverá sempre o não-falaro contemplar;ora, pois se o verso é a contemplação do infinito...

    Rio, 1988.

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    27

    VEJA BEM

    Um sestércioÉ quanto valeNo vão comércioO que quero dar-lhe.

    Mas um milhãoJá em transe profundoÉ a sensaçãoDe ter você no mundo.

    Perdoe a poesia insossaOu seja lá o que forSó veja bem, essa moça,O tamanho do meu amor.

    Rio, 1988.

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    28

    VOCÊ ME PERGUNTA

    Voc me perguntaCoisas profundasQue bem se escondem dentro de mimMe amuo num rpidoNum desmomento de raivaSe de mim ningum sabeNem euSe to bom s sentirEntendeu?E voc ainda exigeQue me abra de todoSua voz me investigaSeu amor um engodo.Ah, se eu lhe pudesse dizerSe voc pudesse, que fosse, entenderNo que desmanche um prazerNem que o amor possa serSei l...O que aflige que voc me pergunta.A paixo quer de tudo pra siO amor do adultrio se ri.So palavras perdidas na noiteEm solido de um quarto mais frioSo pedidos mudos, sombrios,E o cansao de imparar de pensar.Que diabo voc quer saberSer que preciso dizer?Me desculpeNo se ofenda de novo.O meu ser foi escritoDecifrado e revistoMinha alma estudadaMinha mente abordadaDe maneira discretaNuma ilha ─ ou creta.E meu corpo olhadoMeu pensar desnudadoE ainda vem me dizerQue no sabe vocQue tanto lComo rolam as pedrasNas encostas do mim!?

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    29

    Se é tão simples...Eu estou nas palavrasE nas rimas tambémNos assuntos quaisquerNo sentido insentidoNo feliz bem-me-querOuNo azul desprovidoDe algum poeta ferido.

    Rio, 1988.

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    EPIFANIA I

    Que alguém mais capazInteligente e sagazQuem maior do que euNesse mundo ateu?

    Que vivi e morriE as ruas varriQue passei de partidaPela corja da vida?

    Que deixei que me olhassemE desafio malvadoNão deixei que entrassemNo meu mais dentro lado?

    Rio, 1988.

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    DEPOIS DO JANTAR

    O ar está pesadoTem estadoNo mundo lá fora há fomeNão se comeNo mundo cá dentro há cansaçoSem mais espaçoHá um medo grandeUma coisa de sustoComo se fosse acontecerNão chorar nunca maisO ar continua fugindoComo findoNa boca o gosto de sangueNa mão o poeta do mangue.

    Rio, 1988.

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    32

    O DILÚVIO

    Il y a des choses à dire.Yeah. E o dilúvio continua.A chover e a choverNa alma dos incautosO sono me perturbaO sexo me derrubaE tudo que eu queriaEra pensar na MariaComo fuga para o mundoComo atalho para o fundoE eis que me surge uma ideiaUm simples pensamentoDe julgar a humanidadePelo status do momento.Dá-me os louros da vitóriaOu a sorte aleatóriaE por vezes vem me verSem te dares a conhecer.

    Rio, 1988.

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    33

    O RELÓGIO

    Quem ainda não se sentiu traídoPelos enganos do relógioQue em certas horas corre demaisE em outras não corresponde a nossa expectativaTemporal?Imoral.É estúpido pensar no relógioE então é sofrível se pensar no tempoPois o que é o tempoSe não uma abstraçãoCriada pela necessidadeDe consolidar burocraticamente as mudançasPor que passamos?Os fatos.O tempo não tem fatos.É um surrealismoUm abstrato antropomorfismoUm substratoDo contatoDa Terra com o nadaDo nada com o cada.O tempo foi criado, sem dúvida,Por uma mente por certo lúcidaPreocupada em registrarEm cronologar, em fixar.O tempo, digo eu, não existe.Pra que então viver assim?Mas e o relógio?Bem, o relógio é o relógio...

    Rio, 1988.

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    34

    EM VENDO A NOITE

    O frio aqui em cima me faz chorarE o pensamento voa almDos reflexos nos vidrinhosNo so orgasmos de velocidadeNem modismos adolescentes um profundo desgosto do mundoE um acervo de coisas no feitas.E por isso corroCorro em duas rodas como se em quatroA geografia pouco significaE o pensamento no sossega um instanteAs vises so assustadorasBatidas, mortes ou uma queda que seja tudo o que a conscincia lampeja.O chegar ser ainda montonoComo a repetio da milsima vezO deitar uma imitao do acordarCom a inverso da minha insensatez.Pois afinal no tenho nada a perderS a vida ─ que insiste em arder.E amanh quando a razo acordarE essa dor de no entender me voltarEspero ter de mais velho alguns dias.E visto que a vida um eterno sofrerAinda que pouco se nos faam saberResta ento a solido destas noites to frias.

    Rio, 1988.

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    35

    CANÇÃO DO ESQUECIMENTO

    No sou nadaVeramente nadaNo sobressa nas letras de meu pasNo fui doutor como mame sempre quisTampouco morri em acidente marcanteOu sobrevivi a um ataque fulminanteJamais olhei de dentro da televisoDo rdio no me ouviram um s refroNo inspirei novela, livro ou pagodeDe mim o jornal no fala ─ nem podeNada descobri para curar doenaNem matei autoridade por desavenaNunca fui heri, muito menos bandidoNem deportado por motivo sofridoS amei por prazer e por paixoSem jamais ter feito pblica minha emooNas ruas meu andar no to nobrePara que me reconhea o rico ou o pobreEnfim nem mesmo sei se homem sereiPois na mediocridade sempre me apagueiNem sequer responderei perguntas sobre a vidaDe algum cantor num programa de sortidaE das artes s me gabo de escreverO que nunca ao povo vou dizer.

    Rio, 1989.

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    36

    COM O CORRER DO DIA

    Dia maldito que me trouxe a noiteNoite abrasada que não dorme em breuDe um perfume só me cheiro a matoSob um poder que não me valeu.

    A tarde enclítica o poema assouEm braços magros de ternura friaO céu de azul se aboliu do morroE a chuva disse que amanhã estia.

    Adeus meu dia que me foi tão bomAdeus e vai se enfurnar no escuroQue hoje em dia já sonhar não valeA pena asmática por sobre o muro.

    Rio, 1989.

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    37

    DÚVIDA

    E se o tempo me faltasse de repente?E se a fresta em nosso amor de dor frementeNão sufizer pra vislumbrar a soluçãoComo é então que vai ficar minha razão?

    Pois que se morro e não te vejo ao cortejoNão me faria muito bem à outra vidaE se não vou nem dou vazão ao meu desejoTerei pavor só de pensar em a partida.

    E se de nós só restar mesmo a solidãoDe um amor então vivente e outro não?Me faltaria ao sexo forte a coragemDe te perder por tão pequenina bobagem.

    Pois que a vida só se tira a quem a temE o amor a quem não espera sempre vemDe mal com a sorte nenhum forte há que se poupeE sem amor não há mortal que se enroupe.

    E se do vinho desse amor eu não beberPois que sequer cheguei eu a te conhecer?Ou descobrir que nem a casca eu venciPara comer do amor a polpa, Deus, e se...?

    Rio, 1989.

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    38

    ISABEL

    Te amo nas linhas negras do papelTe amo nos garranchos sem jeitoTe amo na rima pobre de whisky com bordelTe amo num olhar perdido em teu peito.

    E se amar for pensarTe penso tanto que não seiMas se amar for viverJá são mil anos que terei.

    Te amo nas manchas deixadas no lençolE nas marcas das unhas em meu braçoComo um peixe pendurado no anzolTe amo em versos bêbados que traço.

    Porque o amor é um atalhoPelo abismo da loucuraÉ a vida em sal e alhoQue se converte em doçura.

    Enfim te amo sem saberMuito bem o que dizerSão confissões em um diárioEm um filme sem cenárioFrases mudas sem retornoNaufragadas e sem véuVento frio nesse fornoQue é a visão de Isabel.

    Rio, 1989.

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    39

    TENTANDO ENTENDER O OLHAR ENIGMÁTICO DO GATO...

    Por isso, sempre d comida a um gato.Ele pode ser o seu retrato.De Sidarta e de Govinda,No, espera, cedo ainda.Uns buscando as nuvens do o saltoEt les autres veem a vida coisa linda...

    Por isso no renegue o lado baixo.Quantos h dentro do fachoDentro d’alma ou fora delaCoisa feia ou coisa belaA alguns importa pouco o que eu achoE h outros que veem o mundo de uma sela.

    Mas tambm no brinque tanto com to pouco.Se acaba por ficar ficando rouco.E de tudo que se diz ou que se fazA vida o muito leva, a morte o traz.E por isso no exija tanto o trocoMuitos h cujo apetite voraz.

    O troco do socoA bela capelaQue traz mas no fazE que ainda lindaO retrato do gatoVoraz e fugazPor baixo do fachoNo salto do arauto...Pega! ─ o leitor incauto.

    Rio, 1989.

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    40

    MUDANÇA

    Muda tudo, de momento a momentoMudas de roupa, mudo de alentoMuda o dinheiro, mudando o tormentoE muda o amor, de cego a ciumento.

    O em verdade vos digo também já mudouO valor mudará, se é que prestouAté o humano é mutante, se tu vens eu já vouE o infante, por que não está onde estou?

    Fica, porém, a mudança, já realizadaFicou a semente, árvore potencializadaToda uma ideia, que será desmembradaO amorfo da forma a ser cristalizada.

    Passou o homem, a mulher e a criançaO auxílio já é fruta, o cansaço é andançaA quem chega, a esperança da trocaDe quem parte, a memória se evoca.

    Rio, 1989.

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    41

    CLUBE

    a bola que sobeE a gua que splashaA palavra de invejaE o olhar sensual.

    a criana chorandoE o homem-cervejaA mulher descansandoE a menina que beija.

    No h muito a dizerDo lugar em siPorm muito a fazerEm d, r e mi.

    So pessoas e sonhos e lutas e armadilhasEm meio a olhares e toques e fugas e rdios de pilha.Desafio velhice, escola da juventudeSem a ordem dos fatores ─ valor de brancos e de negritude.

    Enquanto l so brigas e risadasConforme o ponto, a marca e as pisadas;Porm no l, entre o corao e a maldade, uma coisa assim, inexplicvel bem perto da saudade.

    Rio, 1989.

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    FRAGMENTOS

    Aqui me quedo escrevendo de novoVersos tolos ─ em os lendo me caloSo bobagens, como noite sem luaSo paisagens, com carroas na ruaCerta vez me fui levado a pensarQue a poesia vem e vai como o diaMas na noite que sem versos caiuA inspirao em meu colo dormiuDiz o msico com as migalhas no barDiz a puta com o cansao no olharDiz o mestre com o bolso vazioDiz o pobre com a vida no estioDizem todos que nem podem sofrerO que os tolos procuram sem verOu seja, no olhar, nos gestos e vozesQue est a vida em suas mortes atrozesE o poeta qual cavaleiro andanteO responsvel por esta misso humilhante ─A de trazer para hoje o amanhE de levar para longe o passadoDe tragar por vocs todo o felDe vomitar todo o gosto do nojoDe adorar, sem gostar, a paixoE criar de uma tripa, coraoMas se a vida no fosse sozinhaOnde todos s achassem razoAh, se a vida fosse entendidaSe a chegada no trouxesse a partidaAqui me quedo escrevendo de novo...

    Rio, 1989.

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    DIZE-ME QUEM ÉS...

    É que a hora já é tardeE a solidão da noite em mim já ardeNo pensamento um pedaço de pãoNo corpo um desejo anãoPois em tudo há o corte de uma sorte consorteE no espírito o dedo azedo do medo arremedoSeguramente o sonho não vemNem com a monotonia de um sono de tremE não que a vida tenha um gosto de felÉ que já se esqueceu do aroma do melPois que posto está o que foi dispostoE na estupidez do poeta o sabor sem gostoQue me venham de graça as novenas de SamariaSe é que existe algum conserto à maniaMas depressa como depressa é o vooDa andorinha que não vomita o enjooE se casa com o João-de-barro molhadoPra fazer verão no subterrâneo aladoDepois recito em muda voz a poesiaE não sei se me chamo João ou MariaE de novo recito já bem trôpego de sonoTorcendo que a rima ache logo seu dono

    De tudo um pouco Por tudo e maisO conhecimento A sangue-mornoDe douto e louco Que não se fazE arrebatamento. Amor suborno.

    E lá se vai a noite com o barco da luaSem que se materialize a loura de saia nuaA vida inelutavelmente sem fé continuaA poesia irremediavelmente a pé se evacua.

    Rio, 1989.

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    44

    SONIA

    Sabia tudo desde o inícioOntem o hoje faz comícioNunca esperes que não seja eu que te vejaInvento o sonho e o amanhãA te conter em meu afã.

    Rio, 1989.

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    SEM PRETENSÃO

    Sem pretensão um soneto se me veioFigurante desleixado a se rir de meu anseioE as horas têm conchavo com a trevaDe querer e não poder de não saber se traz ou leva.

    Assim não dá, que coisa loucaEscrever tão coisa poucaNo fim se esvai, a esperançaDe temer tua tardança.

    Que se mude, que me altereQue se faça, que se espereImbricado em fina teia

    Foi o novo. E o conselhoFoi o frio em que me espelhoA incerteza me chateia.

    Rio, 1989.

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    DESEJO QUALQUER ─ MAL-ME-QUER

    Quero ser teu para sempreSem nunca o serQuero ser teu dependenteSem quererQuero ser tudo na abrangênciaDo nada absoluto que extasiaSem pensar no amanhãVivendo o agora em doce agoniaDisparar por teus cabelosEm beijos loucos e perdidosEscutar o teu amorEm batidas sem compassoFortes e pesadas, um peito arfanteE o outro repousanteQuero que o tempo se entedieEm esperar nosso cansaçoE que a vida se atrofieNuma antessala com mormaçoEm teus braços o infinitoEm teus lábios eu perdidoVer a morte em vida aflitoE te dizer que sou bandidoPois não sabes quem sou eu?Cavalheiro quando possoApaixonado em destroçosQuero embotar-me para o mundoSem perder minha vontadeIr à lua num sorrisoE sorrir com você nuaLembrar teu nome nos mercadosE compor em noite quenteOs romances que não digoPor temer um mau repentePor sobre a mesa o recadoDe mim pra mimDe ti pra tiPois ti é mim e mim sou tiEm se isto for corretoJá não sei o que é o sonhoE o sono é um pesadelo medonhoDe não querer me repetirDe não saber como pedirDe adiar o aproximarE de ser pobre no rimarQuero sentir ao ser sentidoE ler o desejo de querer ser desejada

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    47

    Em teus olhos de bonecaEm teu ser toda mulherQue no importe o labutarO pensar e o comerQue se amargurem os pensadoresQue no tenhamos o que fazerQue fazer? Um po com melUm raciocnio ─ vem do cuQuero ento me agacharE te ver desesperadaSem saber,Sem querer,Sem poder,Toda amarrada no poder do meu olharAprisionada em minha posseSem que um dedo s a toqueE revezar nesta prisoA cela fria a me esperarO cheiro quente a me fritarEm tua mo um meu desejoEm teu teso o amor perfeitoEm minha espera ─ insatisfeitoEm tua chegada o meu s beijoPois quero ser teu de novo e sempreEm um momento sem tormentoEm vinte anos de um segundoAo descobrir que no h mundoQuero de azul me pintarNo teu olharE de verde te atiarMas sem perder a cor do meu desejoSem te ver quando te vejoDiz o sbio, diz o padreDizem todos os que dizemS no digo pois no seiSe te vi ou te penseiEsta cartaDe to longaDe to ufanaDe palavrasDe amantesCom saborCom voz pedanteVez em quandoEsquecimentoVou levandoAfobamento

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    48

    É que é difícil ser amorE consciência ao mesmo tempoPensar no tempo é dissaborQuando a vida é um momentoEm se te tendo não há olhosPara querer seja o que forE a noite já se vaiVai dormir com meu torporTudo enfim é o dizerQue não quero te quererE que viver sem ser assimSeria então o morrer sem fimO fim de mimQuero ser teu sem bem o serQuero te dar o meu viverQuero ser mais que tua morteQuero vagar em tua sorteNão consigoNão consigoEscrever é um castigoParar é te insultarNão dormir é me assaltarPor um amor que não conhecesUm sabotar que não merecesE no entanto...

    Rio, 1989.

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    49

    DIVISANDO O SOL POENTE

    Diviso ao longe um portal sem fimDe ouro e prata e de marfimQue se aenorma e vem a mimEm se negando de carmim.

    Percebo ao lado um suspiro rotoAndar sombrio amor esgotoQue se avoluma em névoa e portoQue faz o certo ficar torto.

    Me acerco do som que me dominaÉ um que pensa outro que assinaA vida segue e o país me azucrinaAté o banho me maltrata e me afina.

    Apor o nomeO saboneteVagar sem roupaCoisa loucaDiviso o claroE o escuroCair da noiteDia no açoiteSó esperar que a própria noiteEm dia torne e não se afoite.

    Rio, 1989.

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    50

    DEPOIS

    Você, é, vocêQue se me excita de emoçõesEstranho ser a me fitarParece ter dois coraçõesUm deles me examinaO outro me alucinaUm dilacera o meu peitoOutro me acena lá do leitoDivide comigo a imensidãoDe uma lágrima em perdãoMe dá de teus dois um coraçãoConfere sem mim a situaçãoSem te marcar de torpe açãoE se compreender-me não puderesQue se faça do nada um alferesPra te dizer alô em vãoE fugir a pé tirado o chãoE depois...Bem, depois...

    Rio, 1989.

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    PERGUNTA

    Iago que souNo me posso desculparHomem de brioS me quero humilharEm te pensando escrevo istoPois do amor eu no desistoAboletado em refletirAgoniado em pensamentosPois para que serve o amor?Pra torturar? Pra se deitar?Ou envolver alguns momentos?Amar, alar vooSonhar, por isso dooSe a vida fosse um reto agirE se querer um no sentirOh! ─ um imenso questionarUm de contrastes se abalarE enturmado em antteseSinto fremir dentro da epfiseOu hipfise, sei lPorque a sorte no mE ainda absorto em recordarMe no mais quero perguntarO que te fiz, meu coraoQue do meu sim fizeste no.

    Rio, 1989.

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    POEMA DO EU

    Enquanto vocs discutem o candidato presidnciaEu me embriagoDe prazerDe bebidaDe poderSer quem eu souEu escuto o noticirioEu sou euEu me acomodo ao pensar masoquistaEu ─ eu ─ euEu repito o maldito euE depois me durmo com o pensamento a matutarAlgo de negrume a me agitarS falo em mim porque s a mim conheoS quero a mim porque s em mim me esqueoE se pobre ─ digo em mais um poema ─ minha rima e poesia como se a noite abraasse o diaEm calmariaVersos fundosE sem plexoCom alturasE um convexoAltar de almas cegasQue se esvaem na periferiaDo amanhecer acovardado de estuporEnquanto o menor abandonado se extingueNa esfinge do medo dos adultos cidadosE o bar se enriqueceE se me jorra em plumas de sangueUma catarse alcolica com dois sPorque mais no pode terEscuto os sons dos gatos noturnosQue se me do os gritos divinosDe um amanhecer que no vereiPois dormireiE ─ e sempre e ─A lembrana de tudo o que no fizA incompletude do meu serA mulher que no ameiPorque a mulher que no me amouE a vontade de urinarSou sincero com vocsE me arremedo em pesarPois que s sei que de pensarEm me morrer me arruinarSe me dariam ─ adoro esta construo ─

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    53

    E j se quebrou todo este eloDe um versculo em poesiaE de antemo me admiroDe tanto ver de tanto serUma cachola de falaresUm alquebrado almoxarifeO que isso deus do cu?Que so palavras a cairDo cu, do inferno do saberDe ser quem quer que eu queira serDesculpe amiga se no fuiDesculpe amigo tolum suiE segue o verso segue o astralEm uma nuvem coqueiralLembrando Mozart em sonho fnixA presepada em jogo cnixH quanto tempo se me no vemA frase solta o p tambmE alm do mais se no te importasQue p no saco ─ tu me cortasUm asco azedo um s momentoA nau posseira o vento alentoA professora o idealO sol mar alto e borealDe um lado a sede inconstanteDe outro o esprito incessante.

    Rio, 1989.

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    54

    JOE

    Hey Joe, se você for pra São Paulo mesmoVocê tem que saber, você tem que entenderQue uma parte fica aqui.

    Hey Joe, a turma aqui tem te conhecidoE se você pensar, não se assuste de verAlguém pensando te encontrar.

    A gente tem mais é que viverTem que fazer e acontecerE se um vai um fica pra trásMas só que ir é começar a voltarDizer adeus é como um copo de chopeE olha, Joe, não pensa demais.

    Hey Joe, além do mais Sampa é logo aliE a gente fica por aqui, saudade é festaJoe, goodbye.

    Rio, 1989.

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    55

    CHEIRO DE VOCÊ

    Quando de um sobressalto apareceuUm faz-de-conta, uma alegriaUm devaneio em mentografia de vocêA acalentar minha lembrançaNessa saudade um quero-mais feito criançaPois tudo aqui tem cheiro de você...

    E se a paz que são teus olhosA me verA me quererMorrer de amorÉ te imaginarAqui.

    Rio, 1989.

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    56

    A CLARINETA(para Mozart)

    E a msica pra mim tem cor de roxoSo amorfismos lindos que aumentam e diminuemNo crescer e morrer da orquestraE eu quase choro com o miado pungente da clarinetaUm arrepio sobe com o trinar do violinoPara depois tudo acabarEm gozo orgsmico de final de sinfoniaA cama pouca pra meu cansao esgotadoAs sensaes continuam e o roxo ainda existeUm roxo belssimoDe tons maiores e menoresDe alegrias e tristezasMas acima de tudo a pazA paz que conseguir ouvirConseguir entenderEntrar de corpo e alma na msica de outremA linguagem musical se aprendeGradualmente, ou no! ─O entender como impulsos de entendimentoVises abreviadas porm cheias, plenas de conhecerMusicar a vida, compassar as emoesEssa a misso desses brasesE depois escrevoComo sempreEscrevo desesperadamenteComo uma vontade irreverentePorque fremente, prementeArdente ─ dirias tu amante da arte que se alucinaCom o amarrotar das impresses ─ uma vacinaContra a dor de no poder ouvirContra o ardor de no saber pedirComo difcil em palavras dizerO que as notas acabaram de fazerNo ar minha voltaNo vibrar de linhas tortas

    ***

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    57

    A clarineta soa já um solo longeE o meu corpo ainda se queda inabrandadoPorém em muito satisfeitoA plenitude é um constante adicionar de novos fatosJá que à noite nem são pardos nossos gatosO entender independe da vontadeÉ uma dádiva, uma inesperada súbita realidadeE se mais ponho as conjunções a trabalharMenos esqueço a clarineta a se chorar...

    (inspirado no concerto para clarinetae orquestra em lá maior, de W. A. Mozart)

    Rio, 1989.

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    58

    ACHO

    Que perdi a capacidade de amarE também há coisas mais importantes a fazerDe igual prazerPois como amar num mundo sem amor?Como ser alguém em meio ao estupor?Dividendos militantesHipocrisias flagrantes

    Demais DemaisUm na frenteOutro atrás

    Além do mais, o que é o amor?Ninguém sabe ninguém viuQuando chega já partiu...

    Por maisTenazUm fracoAudaz

    E por isso achoPor tudo que é praxeUm quadro pastelPintado a guacheEm só se amando se senteA dor de ser semente

    Depois do arrozAlguém descrenteUm passo em falsoO forteA morte

    Por isso achoQue é tudo engodoE se a luz balir com um latido profundoAinda assim suponhoQue nada se sabe das coisas férteis do mundo.

    Rio, 1989.

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    59

    AINDA

    Ainda há muito a fazerAlma minhaE muito a dizer.

    Quanto mais não sejaUma palavra de amorMesmo que jamais se vejaA causa primeira da dor.

    Se rimar é traduzirO voltar enquanto irAi de nós, deserto ecoQue insiste em te molhar

    enquanto seco.

    Rio, 1989.

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    60

    POEMA DO FIM

    Miserável albatrozQue trouxe o medo até nósVoando um voo de mau gostoFazendo o posto ser disposto.

    Condenável quebra-nozQue a quebrar nos fez de vósAlusão de ver no tudoO canto escuro ficar mudo.

    Insuperável essa vozQue adormece o mais ferozE a vida corre nauseabundaDe mitos vários oriunda.

    Admirável ser atrozQue não desfez todos os nósUma vontade de pairarSó, no da morte limiar.

    Rio, 1989.

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    UM QUERER

    Então digo outra vezEm bom e claro portuguêsParece que quando falo caloVocê não entendeNão compreendeQuero te namorarSem precisar te beijarQuer dizerIsso não impedeEntendeu?É um querer que não quer serSó quer poderSer sem saberEu sei que é difícilQue é talvez inútilQue é um sentimento fútilQuerer ser abandonadoNum abraço apertadoDesperdiçar um tempo hábilAmando, vezes louco, ora imóvelMas é que quero ser teu namoradoSem precisar ficar grudadoEstando sempre do teu ladoOu não.Que importa o risoSe escondido nasce o siso?

    Rio, 1989.

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    PARA VINÍCIUS OUTRA VEZ

    J pensei no ditoNo no ditoE no que queria dizer.E no entanto ainda no sei o que fazer.Dado que o amor no se explica. como a flor que na teoria no se aplica.

    J revisitei o mitoO malditoO aflito e o viver.E ainda no sei bem como morrer.Enquanto paira no meu ar um jeito estranhoDe um vapor meio-sem-graa de antanho.

    J fiz amorE muita dorNum mausolu de esperana.E aqui confesso a impacincia com a tardana.Mujer de hoy, esperando estoy.Ou qualquer coisa que parea e que no foi.

    Contra o verso e o no-versoO anverso e o adversoContra mim e o no-mimO jasmim e o curumimContra o tudo do absurdoContra o nada da esplanada.

    J lutei, desespereiSorri muitoE chorei.E como todos no fiz nada que preguei.N’algum alm devem estar tuas respostas.J que te esvais num nado seco e de costas.

    J vi a surraE a curraNum afago vi carinho.E entretanto no h pombos em teu ninho.Ah, poesia, que te repetes tanto em mimFaze algo urgente, no maltrata o mundo assim.Pois que h vida na poesiaE h cura j na prpria amarga azia.

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    63

    A favor de um amorInfinito enquanto forA favor de toda dorDo sorriso e do torporA favor de tudo pôrNum elogio sem favor.

    Já.

    Rio, 1989.

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    64

    POESIA INACABADA

    Poesias e mais poesiasPoesias daqui e de l

    Poesias que falam de mimPoesias de um sonho sem fim

    POESIA INACABADA I

    Poesias demais poesiasPoesias poesias e poesias

    Poesias que so s poesiasPoesias que nem so poesias

    POESIA INACABADA II

    Poesias que em tempo voPoesias que ao amor se do

    Poesias a matraquearPoesias que vo torturar

    POESIA INACABADA III

    Poesias e mais poesiasPoesias de tirar o ar

    Poesias de preenchimentoPoesias so o pensamento

    POESIA INACABADA IV

    Poesias por demais poesiasPoesias que do ser se evadem

    Poesias que no tm poesiaPoesias ─ que jamais se acabem.

    Rio, 1989.

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    65

    EM TEMPO

    Você que afaga a esperançaDe uma sorte ingrata e belaQue se esmera na andançaE vê o mundo da janela.Você que a mente tem espessa,Esqueça.

    Rio, 1989.

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    66

    ...Já que pode estar o fimA dois segundos só de mim...

    Rio, 1989.