Poesias de Patativa Do Assaré

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Poesia do poeta cearense Patativa do Assaré

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  • Eu sou de uma terra que o povo padeceMas no esmorece e procura vencer.Da terra querida, que a linda caboclaDe riso na boca zomba no sofrerNo nego meu sangue, no nego meu nomeOlho para a fome, pergunto o que h?Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,Sou cabra da Peste, sou do Cear.Patativa do Assar*******************************

    Serto, argem te cant,Eu sempre tenho cantadoE ainda cantando t,Pruqu, meu torro amado,Munto te prezo, te queroE vejo qui os teus mistroNingum sabe decifr.A tua beleza tanta,Qui o poeta canta, canta,E inda fica o qui cant.********************************

    Poeta, cant da rua,Que na cidade nasceu,Cante a cidade que sua,Que eu canto o serto que meu.Se a voc teve estudo,Aqui, Deus me ensinou tudo,Sem de livro precisaPor fav, no mxa aqui,Que eu tambm no mexo a,Cante l, que eu canto c.Voc teve inducao,Aprendeu munta ciena,Mas das coisa do sertoNo tem boa esperiena.Nunca fez uma boa paioa,Nunca trabaiou na roa,No pode conhece bem,Pois nesta penosa vida,S quem provou da comidaSabe o gosto que ela tem.Pra gente cant o serto,Precisa nele mora,Te armoo de fejoE a janta de mucunz, Vive pobre, sem dinhro,Trabaiando o dia intero,Socado dentro do mato,De apragata currelepe, Pisando inriba do estrepe,Brocando a unha-de-gato.Voc munto ditoso,Sabe l, sabe escreve,Pois v cantando o seu gozo, Que eu canto meu padece.Inquanto a felicidadeVoc canta na cidade,C no serto eu infrento

  • A fome, a d e a misera. Pra s poeta divera,Precisa t sofrimento.Sua rima, inda que sejaBordada de prata e de oro, Para a gente sertaneja perdido este tesro.Com o seu verso bem feito,No canta o serto dereitoPorque voc no conheceNossa vida aperreada.E a d s bem cantada,Cantada por quem padece.

    S canta o serto dereito,Com tudo quanto ele tem,Quem sempre correu estreito,Sem proteo de ningum,Coberto de precisoSuportando a privaoCom paciena de J,Puxando o cabo da inxada,Na quebrada e na chapada, Moiadinho de su.Amigo, no tenha quxa,Veja que eu tenho razoEm lhe dize que no mexaNas coisa do meu serto.Pois, se no sabe o colegaDe qu manra se pegaNum ferro pra trabai,Por fav, no mexa aqui,Que eu tambm no mexo a, Cante l que eu canto c.Repare que a minha vida deferente da sua.A sua rima pulidaNasceu no salo da rua.J eu sou bem deferente,Meu verso como a simenteQue nasce inriba do cho;No tenho estudo nem arte,A minha rima faz parteDas obra da criao.Mas porm, eu no invejoO grande tesro seu,Os livro do seu colejo,Onde voc aprendeu.Pra gente aqui s poetaE faz rima compreta,No precisa profess;Basta v no ms de maio,Um poema em cada gaioE um verso em cada fulSeu verso uma mistura um ta sarapat,Que quem tem pca leitura,L, mais no sabe o que .Tem tanta coisa incantada,Tanta deusa, tanta fada,

  • Tanto mistro e condoE tros negoo impossive.Eu canto as coisa visiveDo meu querido serto.Canto as ful e os abrioCom toda coisas daqui:Pra toda parte que eu ioVejo um verso se buli.Se as vez andando no vale Atrs de cura meus malesQuero repar pra serra,Assim que eu io pra cima, Vejo um diluve de rimaCaindo inriba da terra.

    Mas tudo rima rastraDe fruita de jatob,De fia de gamelraE ful de trapi,De canto de passarinhoE da pora do caminho, Quando a ventania vem,Pois voc j t ciente:Nossa vida deferenteE nosso verso tambm.Repare que deferenaIziste na vida nossa:Inquanto eu t na sentena,Trabaiando em minha roaVoc l no seu descanso,Fuma o seu cigarro manso,Bem perfumado e sadio;J eu, aqui tive a sorteDe fum cigarro forteFeito de paia de mio.Voc, vaidoso e facro,Toda vez que qu fum,Tira do brso um isquroDo mais bonito meta.Eu que no posso com isso,Puxo por meu artifioArranjado por aqui,Feito de chifre de gado,Cheio de argodo queimado,Boa pedra e bom fuz.Sua vida divertidaE a minha grande pena.S numa parte de vidaNis dois samo bem igu no dereito sagrado,Por Jesus abenoadoPra consol nosso pranto,Conheo e no me confundoDa coisa mio do mundoNis goza do mesmo tanto.Eu no posso lhe invejaNem voc invej euO que Deus lhe deu por l,Aqui Deus tambm me deu.Pois minha boa mui,

  • Me estima com munta f,Me abraa, beja e qu bemE ningum pode negQue das coisa naturTem ela o que a sua tem.Aqui findo esta verdade.Toda cheia de razo:Fique na sua cidadeQue eu fico no meu serto.J lhe mostrei um ispeio,J lhe dei grande conseioQue voc deve toma.Por fav, no mxa aqui,Que eu tambm no mexo a,Cante l que eu canto c.