Poesia Quase, Mário de Sá-Carneiro
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Quase
Mário de Sá Carneiro, Dispersão
Plural 9
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Um pouco mais de sol - eu era brasa,Um pouco mais de azul - eu era além.Para atingir, faltou-me um golpe de asa...Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaídoNum grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,Quase o princípio e o fim - quase a expansão...Mas na minh'alma tudo se derrama...Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,Asa que se elançou mas não voou...
Quase
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Momentos de alma que desbaratei...Templos aonde nunca pus um altar...Rios que perdi sem os levar ao mar...Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;E mãos de herói, sem fé, acobardadas,Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,Tudo encetei e nada possuí...Hoje, de mim, só resta o desencantoDas coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,Um pouco mais de azul - e fora além.Para atingir faltou-me um golpe de asa...Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá-Carneiro
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Assunto do poema: o sujeito poético faz um balanço de vida negativo, centrado na ideia da frustração de tudo o que foi sonhado, iniciado e não concluído, ou vivido apenas pela metade. Nenhum projeto ou sonho foi realizado, nenhuma meta foi alcançada, sendo que várias vezes esteve lá perto (“quase”).
Leitura do texto
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1. Caracterização do estado de alma do sujeito poético.
1.1. frustração – “Eu falhei-me entre os mais, falhei em
mim”; “Tudo encetei e nada possuí...”; “Tudo esvaído/Num grande mar enganador de espuma”; “grande sonho despertado em bruma”; “Entanto nada foi só ilusão!”; “Asa que se elançou mas não voou...”
1.2. incapacidade de lutar pelos sonhos – “faltou-me um golpe de asa...”; “Asa que
se elançou mas não voou...”1.3. sofrimento – “O grande sonho - ó dor! - quase vivido...”;
“- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...”
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1.4. O sujeito poético assume a responsabilidade do incumprimento dos projetos e sonhos, por exemplo em
“Momentos de alma que desbaratei”,ou na metáfora “Rios que perdi sem os levar ao
mar”, caracterizadora da atitude de desistência a meio do caminho, como o rio que se perde sem chegar à foz, ou ainda a afirmação autoculpabilizadora
“Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim”.
2. A incapacidade e a frustração do passado têm continuidade no presente:
“Se me vagueio, encontro só indícios...” “Ogivas para o sol - vejo-as cerradas”; “Hoje, de mim, só resta o desencanto”.
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3. Metáforas: “faltou-me um golpe de asa” (v. 3)
“Tudo esvaído / num grande mar enganador de espuma” (vv. 5-6)
“o grande sonho despertado em bruma” ( v. 7)
“Asa que se elançou mas não voou” (v. 16)
“Rios que perdi sem os levar ao mar” ( v. 19)
“grades sobre os precipícios” (v. 24)
4. Comenta a expressividade das reticências.
As reticências sublinham o estado de desilusão, frustração e abatimento que o balanço de vida provoca no sujeito poético.
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Gramática1. eu era brasa /eu fora brasa – 1ª estrofe /última estrofe eu era além / eu fora além – 1ª estrofe /última mudança de tempo verbal
O pretérito imperfeito (era) é usado com valor de condicional (seria), sugerindo a possibilidade de concretização em relação ao momento presente.
Já no final do poema, a utilização do pretérito mais-que-perfeito do indicativo (“ fora”) acentua a impossibilidade, a distância, evidencia a total desilusão e desistência do sonho, conferindo ao poema um tom pessimista.
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2. Identifica os três predicativos do sujeito na 1ªestrofe.
brasa; além; aquém
3. Indica a classe e subclasse das palavras além e aquém.
Advérbios de predicado, com valor locativo (de lugar)
4. Identifica o tempo e o modo da forma verbal presente no verso “Se ao menos eu permanecesse aquém…”
Pretérito imperfeito do conjuntivo
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5. Coloca-a no pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo.
tivesse permanecido
6. Faz a análise sintática dos constituintes da expressão “faltou-me um golpe de asa”.
faltou-me – predicado; me- complemento indireto; um golpe de asa- sujeito simples